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GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA AULA 3 Prof. Emílio Sarde Neto 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, abordaremos as práticas estatais e sociais na produção dos territórios, a Guerra Fria e suas consequências, o Estado enquanto estrutura de poder e seu papel na Nova Ordem Mundial. Ainda trabalharemos as disputas territoriais e a formação das fronteiras, a Globalização, as ações multilaterais, a centralização do poder e as contradições da atualidade. TEMA 1 – PRÁTICAS ESTATAIS E SOCIAIS NA PRODUÇÃO DOS TERRITÓRIOS As dinâmicas que produzem a apropriação dos territórios pelos vários povos estão nas maneiras como se apoderam dos recursos energéticos e naturais. As grandes potências tornaram-se grandes potências em consequência da apropriação dos recursos localizados em determinadas áreas. Historicamente, as primeiras civilizações em suas gêneses, ainda na época em que a dinâmica era tribal de comunismo primitivo, era necessário territórios de caça para garantir fontes de proteínas, o rio para a irrigação das grandes plantações comunitárias e para a pesca. Esse domínio territorial proporciona condições para o desenvolvimento comunitário e o crescimento populacional, consequentemente criando a necessidade da expansão territorial. A expansão das fronteiras territoriais mais cedo ou mais tarde se chocarão com outras fronteiras de outros povos que também buscam a ampliação das suas áreas de subsistências. Nessa perspectiva, as grandes potências, desde os períodos das comunidades ditas primitivas à modernidade contemporânea, necessariamente passaram por processos históricos repletos de relações de poder que envolvem os territórios e suas populações. Seguindo essa dinâmica, surge a necessidade de conquista de mais territórios e recursos naturais, aparecem novas tecnologias, as fronteiras se encontram e, em consequência, há guerras de expansão, bem como o domínio de uns povos sobre outros e as alianças. No mundo contemporâneo, o mais importante para que as grandes potências continuem exercendo suas condições hegemônicas é o domínio dos recursos energéticos, como o carvão mineral (hulha), petróleo, e outros explorados há mais tempo, com a madeira e o ferro, todos recursos utilizados de maneira estratégica. 3 As grandes guerras imperialistas que abalaram o século XX são o resultado da corrida pelo domínio desses recursos energéticos estratégicos e também pela hegemonia no comércio mundial. As grandes civilizações delinearam a configuração atual do planeta, em seu desenvolvimento histórico, em que suas grandes explosões desenvolvimentistas tecnológicas se iniciaram ainda no século XVIII com a Revolução Industrial, passaram pelo século XIX e adentraram o século XX em uma grande expansão territorial e exploração de terras e povos por todo o mundo. Na atualidade, as grandes potências exercem seu poder político, militar e econômico sobre povos mais fracos. Por exemplo, podemos destacar os atuais conflitos em andamento no Oriente Médio. A guerra que se arrasta na Síria por mais de duas décadas é financiada por potências ocidentais que precisam de recursos energéticos como o petróleo e o gás natural, estratégicos e fundamentais para a manutenção da hegemonia mundial. Acordos políticos são estabelecidos para a exploração e comercialização desses recursos pelas grandes potências. A negativa dos países mais fracos em ceder às exigências dos países mais fortes leva à aplicação da força e à imposição realizada por meio bélico, com o patrocínio de grupos rivais e até o uso de meios terroristas para derrubada de governos. O patrocínio dessas guerras objetiva especificamente a conquista política de territórios e, em consequência também a conquista econômica. É importante ressaltar que por trás dessas guerras existem como principais patrocinadores as empresas transnacionais, que de tão poderosas são capazes de derrubar e eleger governos, ultrapassando o poder dos Estados. Outro fator de suma importância utilizado como instrumento de apropriação e reprodução do território é a cultura. Em sua origem, a palavra cultura está relacionada com o cultivo, com a agricultura; com o passar do tempo, a palavra adquiriu o significado atual. Nesse sentido, podemos exemplificar a cultura católica: no interior de Roma, capital da Itália, está o Estado do Vaticano, que é governado pelo Papa, o qual representa simbolicamente a Igreja Católica Apostólica Romana; assim, historicamente durante a Idade Média, toda a Europa Ocidental tornou-se católica, incluindo as colônias fora da Europa. Essa religião exerceu um grande poder sobre os territórios, estabelecendo desse modo grande influência cultural sobre os povos das regiões sob domínio europeu. 4 Ainda na perspectiva cultural, a territorialidade como estratégia de controle e domínio de lugares está vinculada a questões diretamente relacionadas com os sentimentos. Por exemplo, podemos mencionar as sociedades tribais, em que sua relação com os territórios não é somente para o sustento e sobrevivência material, mas sim há um vínculo que é intrínseco à vida das pessoas, um apego emocional ao passado, com lugares dentro do território em que o apego é sentimental, em que os familiares mortos são enterrados. Assim, diferentemente da territorialidade dos animais, que depende do território somente para sobrevivência, os seres humanos, além das relações nutricionais, têm acima de tudo relações que são culturais e emotivas, são vínculos que estão amalgamados aos ideais coletivos. As territorialidades representam os ideais coletivos, logo, a maneira como se sente e se manifesta no território vai diferir de um grupo humano para outro, a relação se estabelece de diferentes maneiras, nas sociedades capitalistas, está acima de tudo vinculada ao capitalismo, ao que se pode retirar da terra para lucrar. Assim, as relações humanas estabelecidas com o território dependem dos juízos de valores e da sensibilidade dos grupos envolvidos na posse da terra. TEMA 2 – ESTADO ENQUANTO ESTRUTURA DE PODER E SEU PAPEL NA NOVA ORDEM MUNDIAL O Estado acima de tudo é uma estrutura de poder que reflete os grupos hegemônicos que detêm o poder político e econômico. Assim, o Estado aplica o poder sobre as pessoas que vivem dentro dele e sob sua tutela. Para Max Weber (2004), o Estado, enquanto instituição que detém o poder sobre a população, pode estabelecer a dominação direta de três maneiras distintas: a tradicional, a racional legal e a carismática. A dominação tradicional está vinculada ao poder consuetudinário, que envolve as questões culturais, com destaque para as monarquias, que são o resultado de outros monarcas anteriores, para a fundação de dinastias, normalmente amparadas pela religião, em que as famílias se perpetuam no poder por gerações alegando direitos divinos de governo. A forma de dominação cultural normalmente é finalizada por meio de golpes militares e guerras civis, momento em que são substituídas por outras dinastias. Na dominação cultural, está intrínseco à população a obediência ao monarca, ou seja, o súdito deve obedecer ao rei. 5 Outra maneira de dominação cultural pode ser exemplificada por meio das sociedades tribais de comunismo primitivo, que se diferenciam das monarquias, em que existe uma sucessão do poder de pais para filhos. Nas sociedades tribais, mesmo que não vivam em sociedades de Estado, são os núcleos embrionários dos Estados em suas trajetórias históricas até a atualidade dos Estados Modernos. Assim, o líder tribal ascende ao poder em razão de suas qualidades pessoais, como astúcia, inteligência, força e destreza, sendo reconhecido pela sua comunidade como o mais apto à liderança do coletivo. São exemplos de dominação cultural que se diferencia. Na primeira, a população deve obedecer seguindouma trajetória histórica de imposição de um grupo hegemônico minoritário sobre outro majoritário (a nobreza sobre os plebeus e servos); no outro caso, o reconhecimento da maioria autentica a dominação de um grupo sobre outro minoritário. A dominação racional legal está diretamente vinculada às leis do Estado; é racional porque existe um código, um conjunto de leis que deve ser obrigatoriamente obedecido por todos. Nas democracias em que vigora o Estado de Direito, a derrubada de governos legitimamente eleitos por maioria de votos configura a quebra institucional e os acordos coletivos. Essas quebras institucionais estão diretamente relacionadas aos grupos hegemônicos que fazem a política por meio da economia, usando o Estado e suas instituições para governar em benefício próprio, com a imposição das leis por intermédio dos aparatos repressivos do Estado. A dominação carismática se distingue das demais por constituir-se em dominação consentida pela imagem positiva de um político popular, que assume o poder do Estado exclusivamente pela aceitação majoritária do coletivo. Assim, o Estado administra a população por meio da figura de um líder político carismático, que mesmo sem condições intelectuais ou capacidade de articulação política administra com o consentimento da população ou das elites. Para o cientista Karl Marx (Marx; Engels, 1998; Marx, 2007), o sistema econômico hegemônico no planeta é o capitalismo, assim, as leis são construídas mais para beneficiar a burguesia, minoritária, em detrimento do proletariado, majoritário. Na perspectiva marxista, as leis são organizadas de maneira que o Estado possa exercer seu poder sobre as massas, sendo essa imposição exercida por intermédio dos órgãos repressivos do próprio Estado, que é dominado 6 politicamente pela burguesia. Assim, o Estado é um instrumento das elites econômicas para governar e manter o domínio dos trabalhadores e das massas excluídas. Para Émile Durkheim (1999), o Estado e as leis são criadas para atender aos interesses coletivos, porém, na prática, não é o que acontece; as elites detém o poder e legislam em causa própria, criando sanções sociais para manter a ordem social e o poder sobre as pessoas que não atendem às exigências do Estado. Se os ideais são coletivos, todos deveriam participar do governo e da formação do Estado, mas isso não acontece. Por exemplo, podemos destacar o exemplo da própria elaboração das leis, em que os legisladores na sua maioria não derivam das camadas populares; assim, o governo não beneficia toda a coletividade, mas uma minoria detentora do poder econômico. A Nova Ordem Mundial e os agrupamentos políticos e econômicos estão relacionados com os poderes transnacionais e a participação de vários Estados Nacionais na política internacional, materializados nas instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU). Esses Estados estabelecem acordos e alianças levando em consideração interesses em comum. Desse modo, muitas vezes é comum desentendimentos entre grupos nacionais no âmbito internacional, situações que muitas vezes redundam em conflitos. TEMA 3 – DISPUTAS TERRITORIAIS E FORMAÇÃO DAS FRONTEIRAS O território pode ser entendido como um espaço delimitado pelas pessoas para que estas utilizem aquele espaço para sua organização coletiva. Como mencionamos anteriormente, o território para os animais diverge do território para os seres humanos, pois sua exclusividade está na satisfação de necessidades orgânicas nutritivas, enquanto para os humanos está não somente nos aspectos orgânicos, mas também culturais. Assim, o território é a possibilidade de continuação ancestral que se converte no espaço necessário para a existência do coletivo. Na história da humanidade, os seres humanos sempre viveram em disputa, desde as sociedades tribais aos estados modernos. O território é marcado por conflitos, pois dentro deles estão os meios necessários para a sobrevivência, são os lugares em que se encontram os recursos naturais, os estratégicos e as pessoas. 7 As fronteiras dos territórios quase sempre são formadas de maneiras violentas. Por exemplo, podemos destacar a América Latina, no final do século XIX, na Guerra do Pacífico, um conflito armado entre três países sul-americanos por uma região rica em salitre e combustível animal, localizada entre os atuais Peru, Bolívia e Chile. Além do fator territorial e seus recursos, era fundamental à estratégia britânica, país que dominava os países da região, isolar a Bolívia, um país jovem com saída para o mar e que tinha planos próprios de autogestão, por ser riquíssimo em metais preciosos e estratégicos como antimônio, bismuto, ouro, chumbo, cobre, prata, estanho e volfrâmio. Dessa maneira, os ingleses financiaram economicamente e militarmente o Chile contra a Bolívia; o Peru ficou do lado dos bolivianos, mas ambos pereceram frente ao poderio inglês. O Chile, após vencer a guerra ocupou a parte do território boliviano com saída para o mar e parte do território peruano. Na atualidade, a Bolívia luta em tribunais internacionais pela devolução do seu território tomado pelos chilenos com a ajuda dos britânicos. Entre os exemplos de formação de fronteira que envolvem a Bolívia, podemos destacar a Guerra do Chaco com o Paraguai e a conhecida Questão do Acre, em que a Bolívia perdeu a parte do território que compreende o estado brasileiro do Acre. Importante ressaltar que os bolivianos nutrem revanchismo pela perda dos seus territórios, tudo está muito bem documentado e registrado nos livros de história da Bolívia. No caso brasileiro, as fronteiras do Brasil de fato só foram definitivamente estabelecidas no século XX. As fronteiras podem ser definidas em naturais e artificiais. As naturais são delimitadas por rios, montanhas, cânions, mares, entre outros, sendo a natureza usada como delimitador dos territórios; nas fronteiras artificiais, linhas imaginárias são criadas pelos seres humanos para definir onde terminam e onde iniciam territórios, sendo inúmeros os exemplos. Sobre o tamanho e a influência dos territórios, necessariamente seu tamanho não define o poder econômico de uma país. Em outros tempos, o tamanho era um fator fundamental; na atualidade, outros fatores passaram a definir o poderio de um Estado, como as riquezas artificiais e virtuais próprias do momento histórico atual, como os bancos, as ações em bolsas de valores, joias, empresas de tecnologia. 8 Nesse sentido, é importante ressaltar que, no caso dos bancos, parte dos seus investimentos são meramente valores virtualizados que circulam e não se constituem em benefício material, com lastro em ouro ou outros valores palpáveis, mas números emitidos pela casa da moeda com base em outros valores prováveis. TEMA 4 – GLOBALIZAÇÃO E NOVA ORDEM MUNDIAL Na contemporaneidade, é como se o mundo todo se encontrasse ligado pela globalização, porém, as contradições demonstram que somente alguns grupos realmente se beneficiaram e se beneficiam com a rede de interrelações criadas na modernidade. A globalização pressupõe a integração política, econômica, social e cultural entre os povos do mundo. Para os estudiosos, esses vínculos se iniciaram com as Grandes Navegações e as relações ocasionadas com a expansão do mercantilismo. O mercantilismo também é definido como pré-capitalismo, pois o capitalismo ainda não havia se estabelecido como sistema econômico hegemônico e ainda não tinha as dimensões nem as características adquiridas na atualidade. Dessa maneira, as Grandes Navegações se constituem como o início da globalização, pois acabou de alguma maneira estreitando as relações entre os povos dos continentes. O próprio conceito da “globalização” foi criado prevendo um mundo totalmente interligado, em que todos os povos viveriam em harmonia com grandeintercâmbio de culturas, tecnologias, saberes e comércio, em uma grande “aldeia global”. Para Santos (2000), até o momento, o que se percebe é que a previsão ainda não ocorreu. Muitos dos povos ainda não estão ligados pelas tecnologias de comunicação e transporte, e os que já estão ainda vivem as contradições do sistema hegemônico e não se beneficiam de fato dessa globalização. No período pós-guerra, o mundo estava polarizado entre países alinhados aos capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, e pelos países de modelo estalinista, liderados pela Rússia, representante da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, período conhecido como Guerra Fria, pois essas duas grandes potências nunca se enfrentaram diretamente, mas financiaram várias guerras e competições pelo mundo, uma polarização que ocorreu em vários âmbitos, tanto econômicos quanto tecnológicos, culturais e até desportivos. 9 A Guerra Fria se constituiu no apoio dessas grandes potências à intervenção política e militar, no patrocínio de guerras dos países aliados, nas conquistas de territórios, na derrubada e criação de governos, modificações de fronteiras, deslocamento de grupos étnicos e exploração. Um exemplo dessas intervenções é a criação das duas Coreias. Em fins do século XIX, o Japão iniciou sua corrida imperialista com investidas naquela região do Pacífico, expandindo seus territórios e construindo o Império Nipônico no Extremo Oriente. Ainda no final do século XIX, o Japão iniciou uma guerra com os chineses pelos territórios da Coreia, e depois, nos primeiros anos do século XX, travou uma guerra com a Rússia pelas regiões da Manchúria, no nordeste da China. O país conquistou a região derrotando a Rússia e subjugando a China, e conquistou a Coreia, iniciando sua ocupação definitiva em 1910. Na década de 1930, os japoneses ampliaram a intromissão na China, invadiram-na oficialmente e aumentaram a ocupação e exploração da Manchúria, iniciando uma guerra generalizada com os chineses que se estendeu na década seguinte; com a ajuda dos russos, foram expulsos pelos chineses durante a Segunda Guerra Mundial. Com o Japão enfraquecido, os coreanos, auxiliados por russos e chineses, iniciaram o processo de expulsão dos japoneses da Coreia, porém, os Estados Unidos, ao derrotarem definitivamente os nipônicos após jogarem duas bombas nucleares nas cidades de Hiroshima e Nagazaki, em seguida, passaram a ocupar várias regiões, entre elas o sul da península da Coreia. Os coreanos, auxiliados pela China e pela Rússia, buscavam o controle de toda a península e rumaram para o sul, em 1950. Os Estados Unidos, auxiliados por uma coalisão internacional, inclusive com colaboradores japoneses e locais, rechaçaram os coreanos vindos do Norte e estabeleceram uma fronteira separando o mesmo povo em dois países. Outro exemplo bastante relevante sobre a Guerra Fria foi a Revolução Cubana na América Latina, na década de 1950. Cuba, antes da revolução, era um país capitalista, repleto de hotéis e cassinos de uso exclusivo de burgueses estadunidenses, com grande desigualdade, exploração e injustiça social. Em meio a escândalos de corrupção e fraude, cubanos revoltados se uniram e iniciaram uma guerra civil para tomar o poder, confiscaram os bens dos grandes proprietários e os expulsaram os colaboradores deles. 10 Os Estados Unidos não aceitaram a tomada do poder pelos revolucionários e passaram a financiar militarmente os exilados, bem como a contratar mercenários, mas com a ajuda dos russos, os cubanos resistiram aos avanços estadunidenses e fundaram a primeira república socialista da América. Como estratégia para enfraquecer os cubanos, os Estados Unidos estabeleceram um bloqueio econômico sobre a ilha de Cuba que permanece até a atualidade, dificultando o desenvolvimento da população. A década de 1970 principiou o fim da Guerra Fria, com a “Distenção” momento em que as EUA e URSS concordaram em desacelerar a corrida armamentista. Nesse período, ainda algumas guerras apoiadas pelos dois lados perduraram, como a Guerra do Vietnã, guerras na África e também novos conflitos, como a Guerra no Afeganistão. Os países alinhados à URSS foram se desligando; o governo da Rússia criou e implantou políticas reformistas, como a Glasnost (“Transparência”), que buscava democratizar e socializar as decisões políticas, implantada juntamente com a Perestroika (“Reestruturação”), que buscou acabar com a centralização econômica e abrir o mercado soviético para o mundo. O fim da Guerra Fria desencadeou uma Nova Ordem Mundial, que está refletida no multilateralismo, situação em que várias são as ideologias. Surgem outras superpotências, novos blocos econômicos são formados e em várias partes do mundo alguns países têm mais autonomia em seu desenvolvimento econômico e tecnológico. A Rússia, como centro e capital da URSS, com a abertura entrou em depressão e foi ultrapassada por países menores da Europa. A China abriu seus mercados para o mundo e, em pouco tempo, tornou-se a segunda economia no Produto Interno Bruto (PIB), com crescimento acelerado em vias de ultrapassar os EUA, mas que em Paridade de Poder de Compra (PPC) já ultrapassou seu concorrente. Países menores, mas com grande desenvolvimento econômico, como Japão e Alemanha, são seguidos de perto por países com grande extensão territorial, como a Rússia e o Brasil, que disputam colocações em seus PIBs com países desenvolvidos membros da União Europeia (UE). Importante ressaltar que esses países, buscando a dinamização das suas economias, uniram-se formando “blocos econômicos”, como a União Europeia (UE), o Mercosul, na América do Sul, ou ainda, maiores e intercontinentais, como 11 o Brics, abreviação dos nomes dos países-membros (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul), cinco países com as economias consideradas as mais promissoras. Dessa maneira, constituíram-se como grande ameaça para a hegemonia econômica dos blocos do Nafta (América do Norte), e UE (países da Europa Ocidental). Assim, acompanhando a união em blocos econômicos, também são formadas alianças militares. Entre elas, as ativas e mais conhecidas são: Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), constituída em 1947 e na atualidade formada por trinta países, entre eles, EUA, Alemanha, França, Itália e Reino Unido; Organização para Cooperação de Xangai (OCX), criada, em 2001, por China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão; e União de Nações Sul-Americanas (Unasul), formada, em 2004, por 12 países, entre eles, Brasil, Argentina, Bolívia e Venezuela. TEMA 5 – AÇÕES MULTILATERAIS E CENTRALIZAÇÃO DO PODER As grandes potências influenciavam as dinâmicas mundiais e o fazem na atualidade. As relações de poder estabelecidas com nações mais fracas estão diretamente relacionadas a questões econômicas. Imaginemos, por exemplo, uma situação hipotética em que um país, mais fraco e com um regime democrático, em que sua elite intelectual se comprometeu a beneficiar toda a população; porém, para isso é necessário retirar privilégios dos mais ricos, diminuindo seus lucros. Como consequência, eles sofrem a ruptura do estado democrático de direito. A retirada dos privilégios afeta diretamente os interesses externos refletidos nas grandes empresas transnacionais. Historicamente podemos citar o caso do Chile, em que, em 1970, foi eleito Salvador Allende, líder popular fundador do Partido Socialista Chileno. A desigualdade social no Chile era muito grande, dessa maneira, ele iniciou um processo de reforma agrária, projetos sociais, controle do mercado interno, nacionalização dos recursos estratégicos e de serviços essenciais para a população. Essas atitudes levaram a burguesia internacional, principal beneficiada da exploração do Chile, juntamente com a extrema direita, a reivindicar a destruiçãode Allende e seus colaboradores. Assim, Richard Nixon, presidente do EUA, iniciou todo tipo de sabotagem econômica e ordenou que a Agência Central de Inteligência (CIA), estadunidense, articulasse um golpe militar para depor 12 Allende por meio da compra de generais, entre eles, Augusto Pinochet. Este organizou um ataque ao governo, bombardeou sua sede e assinou Allende e seus aliados. Esse fenômeno de intervenção na soberania dos países pelos EUA ocorreu em toda a América Latina, África e Ásia. Essas intromissões têm uma relação direta com os interesses do capital estrangeiro, refletidas nas elites locais, suas colaboradoras. Importante ressaltar que as grandes potências são as detentoras do poder dos órgãos internacionais, assim, interferem nas soberanias dos países com aval de outras nações; porém, muitas vezes mesmo com os votos contrários majoritários, “passam por cima”, e de maneira unilateral executam seus intentos. Um caso ilustrativo de imposição e desrespeito às normas e deliberações internacionais foi a invasão do Iraque, em 2003, pelos Estados Unidos. Com o discurso de levar democracia e acabar com a produção de armas de destruição em massa, os EUA lideraram um ataque que desestabilizou toda a região e abriu espaço para a ação de grupos extremistas islâmicos apoiados pelo próprio EUA. Tudo para maquiar o interesse pelos poços de petróleo da região e o escoamento de armas. Os conflitos gerados pela instabilidade originada por essas intervenções militares duram até a atualidade e já causaram a morte de milhões de pessoas, fora outros milhões de feridos, mutilados, refugiados e miseráveis, que não têm nem tinham relações com os grupos políticos da região. São vítimas de uma política militar e econômica internacional que refletem as contradições dom mundo que vivemos. As grandes potências têm condições de atuação multilateral graças ao seu poderio econômico e militar; já os países pobres, subdesenvolvidos ou em desenvolvimento não têm condições de atuar de maneira a contrapor os ímpetos das grandes potências. Assim, o fenômeno de deposição de presidentes que atuam no campo popular e o assassinato de líderes populares são consequências desses interesses. NA PRÁTICA Desenvolva uma pesquisa sobre os conflitos no mundo que estão em andamento, e com olhar crítico aponte os principais motivos para essas guerras, seus apoiadores e número de vítimas registradas pela imprensa e por 13 pesquisadores. Produza um quadro separando os grupos que estão em conflitos, os lugares onde ocorrem, as ideologias, os grupos financiadores, a estimativa de envolvidos e vítimas. FINALIZANDO Nesta aula, analisamos como as práticas desenvolvidas pelos Estados e a atuação social das populações influenciam a formação dos territórios, que o Estado nas mãos da classe dominante pode servir de instrumento das elites econômicas para governar e manter o domínio dos trabalhadores e de todas as massas excluídas; da mesma maneira, as massas também podem impor suas políticas sobre a minoria dominante. Estudamos a globalização, sua origem e a relação entre os Estados, as pessoas e suas contradições. Ainda, estudamos o período da Guerra Fria, suas consequências e intervenções, como também a Nova Ordem Mundial, com algumas das suas características, como autonomia e multilateralismo. Ainda, os blocos econômicos, as alianças militares, as organizações internacionais e os interesses econômicos. 14 REFERÊNCIAS DURKHEIM, É. Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo: Martins Fontes, 1999. MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Boitempo, 1998. _____. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007. WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. São Paulo: UNB, 2004. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.