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Considerações sobre os Impactos socioambientais Mariana Torres/2011 A problemática ambiental – a poluição e degradação do meio, a crise de recursos naturais, energéticos e de alimentos – surgiu nas últimas décadas do século XX como uma crise de civilização, questionando a racionalidade econômica e tecnológica dominantes. Esta crise tem sido explicada a partir de uma diversidade de perspectivas ideológicas. Por um lado, é percebida como resultado da pressão exercida pelo crescimento da população sobre os limitados recursos do planeta. Por outro, é interpretada como o efeito da acumulação de capital e da maximização da taxa de lucro em curto prazo, que induzem a padrões tecnológicos de uso e ritmos de exploração da natureza, bem como formas de consumo, que vêm esgotando as reservas de recursos naturais, degradando a fertilidade dos solos e afetando as condições de regeneração dos ecossistemas (LEFF, 2001). O fato é que o ambiental deve ser visto atrelado ao social, conforme informa Mendonça (2002), quando apresenta que a importância atribuída a dimensão social desses problemas ambientais possibilitou o emprego da terminologia socioambiental, e este termo não explicita somente a perspectiva de enfatizar o envolvimento da sociedade como elemento processual, mas é também decorrente da busca de cientistas naturais a preceitos filosóficos e da ciência social para compreender a realidade numa abordagem inovadora. A natureza não deve ser enfocada a partir de métodos específicos aos estudos da sociedade, assim como a sociedade não o deve ser a partir de métodos das ciências naturais, ainda que a abordagem da problemática ambiental parta de uma ótica social. O tratamento da temática ambiental é, por assim dizer, atividade bastante complexa do ponto de vista teórico e mais ainda do ponto de vista da práxis. Somente as ações desenvolvidas do ponto de vista da holisticidade da temática é que conseguem apresentar resultados satisfatórios no tocante às tentativas de recuperação e preservação de ambientes degradados locais, regionais e planetário – a biosfera (MEDONÇA, 2010). Desta forma, a problemática ambiental gerou mudanças globais em sistemas socioambientais complexos que afetam as condições de sustentabilidade do planeta, propondo a necessidade de internalizar as bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão democrática dos recursos naturais. Esses processos estão intimamente vinculados ao conhecimento das relações sociedade-natureza (LEFF, 2001), e estão cada vez mais atuantes em todos os setores da economia. O mundo atual clama por ações que adéqüem o meio ambiente de forma equilibrada à sociedade e a dinamização da economia. Porém temos que ter a consciência de que toda a atividade econômica gera impactos. Partindo da premissa de que toda a atividade econômica gera impactos, temos que considerar que os impactos são sociais, pois envolve diretamente o homem e, por sua vez, a sociedade, segundo afirma Mendonça (2010), falar de meio ambiente significa, antes de tudo, lutar para o equacionamento de graves problemas sociais que tão marcadamente caracterizam o espaço geográfico nacional. Desta forma, com as crises ambientais atuais, o termo “impacto”, efeito e conseqüência ganharam uma familiaridade a mais com a sociedade, podendo este impacto ser positivo ou negativo; social, econômico ou ambiental, lembrando que a natureza por si só não se “impacta”, para o impacto ocorrer necessita-se da influencia direta ou indireta do homem/sociedade. Desta maneira, o emprego do termo crise socioambiental ajuda a compreender que: primeiro, as causas geradoras dos problemas ambientais são sempre sociais; e segundo, que as conseqüências dos mesmos também recairão sobre a sociedade. (ALEDO et al 2001). Sendo assim, segundo Vasconcelos e Coriolano (2008), impactos sócio-ambientais são grandes mudanças que ocorrem na natureza e na sociedade (...); é a reação na sociedade ou no meio ambiente a uma ação humana. Por exemplo: se o homem muda o curso de um rio, provoca um impacto ligado mais a natureza com resultados para a sociedade. Se uma comunidade recebe turistas em maior proporção que o número de habitantes, causa impacto mais na sociedade, mas com rebatimentos na natureza. Vale salientar que a sociedade urbana, entretanto, ao vivenciar problemas de extrema gravidade para a maioria da população, manifestados em diversos processos de exclusão e injustiça social, passou a demandar uma abordagem mais complexa dos problemas ambientais ali presentes. Assim é que, ao se encontrarem expostas aos fenômenos naturais, tecnológicos ou sociais impactantes e de ordem eventual e/ou catastróficos, parcelas importantes da população passaram a evidenciar condições de risco e de vulnerabilidade socioambiental face aos perigos atinente ao sitio e à dinâmica dos ambientes urbanos (MENDONÇA, 2009). Como todos os impactos alteram uma sociedade e um meio, e os impactos são resultados de atividades antrópicas, cada referida atividade desta deve ser levada em consideração em sua implantação, para isso existem estudos que minimizam a ação destes impactos e os mitigam, a fim de restabelecer a sustentabilidade no meio, para isso existem normas que regulamentam os impactos socioambientais. A Constituição Brasileira de 1988 juntamente com o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) institui normas que regem a propagação de impactos sob o meio ambiente e estabelece ações acerca desses impactos a fim de minimizá-los. A Resolução CONAMA Nº 001 de 23 de janeiro de 1986, que define as situações e estabelece os requisitos e condições para desenvolvimento de Estudo de Impacto Ambiental – EIA e respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA apresenta impacto ambiental em seu Artigo 1º: Artigo 1º Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - A saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - As atividades sociais e econômicas; III - A biota; IV - As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - A qualidade dos recursos ambientais. Salienta-se como atividade de grande potencial de impacto os empreendimentos e construções, por isso a citada resolução do CONAMA 001/1986 aborda que dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, valendo também para construção de condomínios, hotéis, resorts, dentre outros empreendimentos, podendo apenas modificar os tipos dos estudos para Relatório de Controle Ambiental – RCA; Relatório de Avaliação Ambiental - RAA; Relatório de Impacto do Tráfego Urbano (RITUR), entre outros. Ainda de acordo com o CONAMA/1986, o estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais: “I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto; II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação da atividade ; III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza; lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.” E, incluem-setambém como diretrizes para elaboração do Estudo de Impacto Ambiental, um diagnóstico ambiental da área, considerando o meio físico, biológico e sócio-econômico e, na análise do impacto, fazer a identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais (CONAMA, 1986). Ainda assim, com todas as exigências legislativas, segundo Vasconcelos e Coriolano (2008) ocorre negligência na análise de impactos ambientais que tem diversas causas, entre elas a indicação de pessoas sem capacidade técnica para fazer este tipo de trabalho que exige conhecimento científico sobre a dinâmica da sociedade e da natureza, e outra causa maior, os interesses econômicos imediatistas daqueles que buscam vantagens econômicas a qualquer custo, sacrificando a natureza e causando prejuízos para a sociedade.