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Categorias e Conceitos da Geografia


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Prévia do material em texto

CATEGORIAS E CONCEITOS DA 
GEOGRAFIA 
APRESENTAÇÃO 
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes 
 
● Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 
● Especialista em “História da África e Cultura Afro-Brasileira, Práticas Docentes, 
Relações Raciais e a Aplicação da Lei 10.639/03” pela Universidade Estadual de Maringá 
(UEM). 
● Atuou como professora de Geografia pelo Processo Seletivo Simplificado do 
Paraná da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR). 
● Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/2751506907806550. 
 
Ampla experiência como docente na rede pública de Ensino Básico do Estado do Paraná, 
atuando em instituições como o Colégio Estadual João de Faria Pioli, Colégio Estadual 
Silvio Magalhães Barros, Instituto de Educação Estadual de Maringá, Colégio Estadual 
Antônio Francisco Lisboa e Colégio Estadual Jardim Independência, estes dois últimos, 
localizados no município de Sarandi-PR. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA 
 
Olá, seja muito bem vinda(o) à disciplina “Categorias e conceitos da Geografia”! 
 
Prezada(o) aluna(o), é com grande satisfação e apreço que lhe introduzo às 
temáticas e assuntos que compõem esta disciplina. Se você se interessou pelos 
conhecimentos apresentados e dinamizados aqui, o presente material será o início de 
uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Desde já te adianto que 
o desenvolvimento do conhecimento em Geografia se faz por meio de uma construção 
coletiva, ou seja, por relações conjuntas e recíprocas e nunca individuais ou unilaterais. 
Desta forma, é a partir do compartilhamento e socialização dos saberes 
geográficos, divididos em quatro unidades, que vamos estudar alguns dos princípios 
históricos, teóricos, metodológicos e epistemológicos da construção e consolidação da 
Geografia como ciência. 
Na unidade I vamos conhecer a disciplina de Geografia ao longo da História, com 
destaque ao seu desenvolvimento por meio das correntes do pensamento geográfico, 
das suas tendências mundiais e brasileiras e dos seus conceitos e categorias analíticas 
principais. 
Já na unidade II você irá saber mais sobre questões acerca da ação humana na 
natureza e as relações estabelecidas entre a sociedade e o meio ambiente, como 
também, sobre o impacto da sociedade na natureza e vice e versa, e algumas técnicas 
sustentáveis desenvolvidas para diminuir esse impacto. 
Na sequência, na unidade III falaremos a respeito das divisões da Geografia entre 
Geografia Humana e Geografia Física, das relações entre Geografia e 
interdisciplinaridade, dos princípios da Geografia Crítica enquanto uma corrente teórica 
presente nos estudos geográficos e dos diversos ramos da Geografia, como a 
Geomorfologia, Climatologia, Geografia Social e Geopolítica, entre outros. 
Em nossa unidade IV, vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina com estudos à 
respeito da leitura do espaço geográfico por meio das categorias geográficas de lugar e 
paisagem, do conceito de território e espaço geográfico de forma mais específica e 
aprofundada e, por último, da representação do espaço geográfico, em especial, através 
do ensino de Geografia nas escolas. 
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto comigo, percorrer esta jornada 
de conhecimento a fim de multiplica-los a partir de tantos assuntos tratados em nosso 
material. Almejamos que esta disciplina possa contribuir para seu crescimento pessoal, 
profissional e acadêmico. 
 
Muito obrigada pela companhia e bons estudos! Se puder, fique em casa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I 
 
CONCEITOS DA GEOGRAFIA 
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes 
 
 
Plano de Estudo: 
 
● A Geografia ao longo da História. 
● As correntes do pensamento geográfico. 
● As tendências da Geografia mundial e Brasileira. 
● Conceitos fundamentais na compreensão do espaço Geográfico 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
● Compreender o processo histórico de evolução do pensamento geográfico. 
● Analisar os pressupostos da geografia como ciência e sua relação com outras 
áreas do conhecimento, através do tempo histórico. 
● Estabelecer relações entre a sociedade humana e o ambiente natural. 
● Classificar as categorias geográficas e compreender como os fenômenos 
espaciais se manifesta através delas. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezada(o) Aluna(o), seja bem vinda(o) a disciplina “Categorias e conceitos 
da Geografia”. É com grande satisfação e estima que te convido a compartilhar 
conhecimentos acerca das bases teóricas do pensamento geográfico. 
O presente material foi desenvolvido para introduzi-la(o) ao horizonte das 
discussões à respeito da Geografia enquanto ciência, portanto, é destinado à 
estudantes e pesquisadores interessadas(os) em compreender o processo 
histórico de constituição da ciência geográfica, cujo o objetivo é pensar 
epistemologicamente o espaço que vivemos, suas condições naturais, 
modificações territoriais e relações com práticas e intervenções humanas. 
Durante a trajetória escolar, você certamente cursou Geografia e teve 
contato com diversos conceitos específicos dessa disciplina, como território, 
espaço, lugar e região. A apresentação que você tem em mãos (ou à vista por 
meio de arquivos digitais) pretende aprofundar esses conhecimentos, obtidos no 
seu percurso educacional no decorrer do Ensino Básico, à respeito da formação 
do pensamento geográfico e sua consolidação como ciência pertencente às 
Humanidades. 
A Unidade 1 “Conceitos da Geografia” é composta por quatro tópicos que 
correspondem à um plano de estudo estruturado para que você possa obter 
conhecimento sobre a Geografia ao longo da História, as correntes do 
pensamento geográfico, as tendências da Geografia mundial e brasileira e os 
conceitos fundamentais na compreensão do espaço geográfico. 
Almejamos que esta unidade possa contribuir com sua aprendizagem, com 
a expansão do seu pensamento crítico e com o aprimoramento de suas 
habilidades cognitivas e investigativas em Geografia. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
1 A GEOGRAFIA AO LONGO DA HISTÓRIA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-vintage-retro-compass-
on-ancient-1014403549 
 
Ao darmos início aos estudos acerca da Geografia enquanto uma disciplina 
essencial para compreendermos o espaço que vivemos, suas condições naturais, 
modificações territoriais e intervenções humanas, precisamos, a priori, identificar a 
etimologia da palavra a fim de contextualizá-la ao longo da história. Logo, o termo em 
destaque, tem sua origem na junção dos radicais gregos geo, cujo significado é terra, e 
grafia, que significa descrição, ou seja, o estudo da superfície da terra. 
Nascida no berço do pensamento filosófico grego, a base científica da Geografia 
é reconhecida como uma das mais longínquas da Grécia Antiga, sendo classificada 
enquanto uma filosofia natural ou história natural. Nesse período histórico, os objetivos 
e análises que envolviam a ciência geográfica estavam voltadas a entender a localização 
da Terra no universo, bem como, a dimensão de sua superfície por meio de cálculos 
matemáticos e representações cartográficas. 
Em virtude disso, podemos dizer que as origens dos estudos geográficos se dão 
a partir do surgimento da geografia geral e da geografia matemática. De acordo com 
Paulo R. Teixeira de Godoy (2010), a utilização do termo Geografia foi motivada pela 
necessidade de designar aportes do cotidiano da sociedade grega, como relatos de 
viagens, descrição de lugares, escritos literários, relatórios estatísticos, registros 
cosmológicos, entre outros. Por esta razão, pesquisas históricas e evidências 
arqueológicas e etnológicas apontam que o mapa é a mais antiga forma de comunicação 
gráfica realizada pela humanidade 
 
Nesse momento histórico na Grécia,havia um esforço intelectual voltado para a 
compreensão do mundo, do universo e da realidade, ou como era conhecido à 
época, o cosmos. Para os gregos, o cosmos era uma totalidade organizada 
racionalmente, que só poderia ser descrito pela razão, levando a visualização de 
uma ordem, uma unidade e uma harmonia, onde coexistem uma multiplicidade 
caótica das coisas e acontecimentos (GODOY, 2010, p. 13). 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-vintage-retro-compass-on-ancient-1014403549
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-vintage-retro-compass-on-ancient-1014403549
Contudo, embora a construção e formulação das bases científicas da Geografia 
remonte a Era Clássica (entre o século VIII a.C. e o século V d.C) a partir da perspectiva 
dos estudos sobre as dimensões, formas e o campo gravitacional da Terra, não havia 
uma unidade de análise compreendida como método, de modo que, até o final do século 
XVIII, não é possível falar de um conhecimento geográfico sistematizado que 
apresentasse as conexões metodológicas necessárias para ser categorizada como 
ciência. 
Com o fim da Idade Média, período histórico marcado por uma organização social 
definida pelas aristocracias feudais, pelas imposições eclesiásticas da Igreja Católica e 
por um sistema econômico baseado na troca e no escambo, surge a necessidade de 
legitimar a ciência a partir do método a fim de racionalizar os seus procedimentos e 
descobrimentos, antes, desacreditados e questionados pelo clero, poder religioso da 
estrutura medieval que operava diretamente nas decisões políticas da sociedade 
europeia. 
Neste sentido, o pensamento moderno, inaugurado com as mudanças históricas 
proporcionadas pelo Iluminismo, pelo capitalismo e pelo positivismo, estipulou o método 
(baseado exclusivamente em concepções empiristas e quantitativas da época Moderna) 
como uma condição imprescindível para se fazer ciência. 
 
O conhecimento da realidade em diversas sociedades e na maior parte da 
história da humanidade foi buscado nos signos religiosos, nas lendas, na poesia 
e na religião. Foi rompendo com estas formas, até então tradicionais de 
explicação da realidade, que o pensamento moderno tomou forma inaugurando 
um novo período na história da humanidade onde o conhecimento foi tomado 
como ação racional (LEITÃO, 2017, p.12). 
 
Figura 1: O Homem Vitruviano (1490), obra renascentista de Leonardo da Vinci (1452 - 
1519) que se tornou símbolo do Antropocentrismo (homem no centro), conceito característico 
da Modernidade. 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/homo-vitruviano-vitruvian-man-
leonardos-detailed-602705321 
 
Desta forma, foi a partir do século XIX que a ciência geográfica inicia os primeiros 
passos na sistematização de um método por meio dos estudos dos intelectuais alemães 
Carl Ritter (1779 - 1859) e Alexander Von Humboldt (1759 - 1859), que no mesmo 
período histórico, dedicaram-se a estudar as interações entre o homem e a natureza. 
Portanto, podemos afirmar que Humboldt e Ritter, são os percursores da geografia 
sistematizada e de metodologias para se pensar tal ciência. 
 
Carl Ritter (1779 – 1859), ao lado de Alexander Von Humboldt (1769 – 
1859), é apontado como um dos organizadores das bases da Geografia 
Moderna. Apesar de nenhum destes dois geógrafos ter sido pioneiro no 
estudo da Geografia na Modernidade, foram os primeiros a proporem 
uma ciência geográfica, cujo objetivo fosse compreender as leis que 
regem a relação entre a natureza e a sociedade (LEITÃO, 2017, p. 12). 
 
Ao analisarmos a contribuição dos autores para a sistematização da geografia e, 
por consequência, sua consolidação enquanto ciência racionalizada por uma 
metodologia testada, podemos perceber que o que os diferenciavam teoricamente era o 
método de análise que propunham para desenvolver seus estudos. Segundo Leitão 
(2017), Humboldt era um naturalista empirista que viajou por diversos locais do mundo 
enquanto Ritter compôs sua obra a partir de atividades de revisão bibliográfica, propondo 
um sentido para a relação homem-natureza. 
Ambos os autores se encontravam inseridos em um contexto de profundas 
transformações na história na Alemanha e, sobretudo, na história Ocidental. A ciência, 
nesse período, estava fundamentada em uma compreensão mecanicista do universo, ou 
seja, estava ancorada na razão exacerbada, herança do positivismo iluminista, como 
vimos anteriormente. “Efetivamente, a epistemologia dominante fundamenta-se em 
contextos culturais e políticos bem definidos: o mundo moderno cristão ocidental, o 
colonialismo e o capitalismo” (TAVARES, 2009, p. 183). 
O pensamento moderno baseado nas contribuições da física de Newton iniciou a 
modernidade enquanto corrente científica. A física Newtoniana, concretizou a forma 
mecânica de compreender a natureza, afirmando que nada poderia fugir das relações de 
causa e efeito, sendo assim, as explicações dos fenômenos seriam logicamente medidas 
e traduzidas em equações matemáticas adequadas a explicar todos os eventos que 
acontecem no espaço. 
Contudo, a inspiração científica de Ritter, não foi somente instigada pela corrente 
racionalista que permeou a Modernidade, sua geografia preocupava-se em dar respostas 
aos dilemas do seu tempo e as questões que preocupavam sua geração, afirmando que 
a geografia seria capaz de encontrar leis racionais e universais que gerissem a conexão 
entre a humanidade e a natureza quando compreendesse, que mesmo a razão, era 
detentora de contradições e complexidades inerentes ao agir e pensar humano. 
Ao analisar as mudanças políticas, sociais, econômicas, culturais e 
epistemológicas que ocorreram no continente europeu pós-Revolução Francesa, 
relacionando-as com a corrente científica racionalista, o autor aponta: 
 
Muitos daqueles que esperavam que a Revolução Francesa fosse capaz 
de inspirar em toda a Europa uma sociedade mais igualitária e livre, 
assistiram à queda do tradicional Antigo Regime sem que isso 
representasse mudanças significativas na vida da maior parte da 
população. O homem moderno continuava refém das fraquezas 
humanas, mas em contrapartida, havia perdido seu elo com a natureza, 
aberto mão de sua tradição e perdido o contato integral da vida 
comunitária (LEITÃO, 2017, p. 13). 
 
À vista disto, Carl Ritter preocupou-se em sistematizar o conhecimento geográfico 
ao elaborar uma interpretação científica e racional para entender a interação entre o 
homem e a natureza e encontrar um significado para a existência humana. O geógrafo 
acreditava que a vontade de Deus havia desenvolvido a ciência racional como condição 
da humanidade se reconectar com a natureza e, consequentemente, se reconectar com 
Deus através da contemplação da mesma. 
Corroboramos que, mesmo com o fim da Idade Média e a ocorrência da 
Modernidade, tais transformações históricas não ocorreram do dia para a noite, logo, 
vale ressaltar que a religião, como instituição que molda as ações e pensamentos 
humanos, continuou a exercer grandes influências nas práticas sociais modernas. Tal 
fato explicaria a crença e pertença religiosa manifestada por Carl Ritter em seus estudos 
a respeito da geografia. 
 
Para Ritter, as adversidades da natureza moldam o caráter e o espírito 
de um povo, da mesma maneira que o homem é capaz de alterar a 
natureza. É desta relação, que é por essência conflituosa, que são 
moldadas as regiões em suas particularidades. As regiões, a natureza e 
os homens são, portanto, portadores de história. É a partir da história que 
o geógrafo se torna capaz de compreender os meandros da relação 
homem-natureza (LEITÃO, 2017, p. 29). 
 
A fim de compreender de que forma os fenômenos apresentam-se na superfície da 
Terra por meio de uma razão universal, ainda que estivesse focado em entender as 
particularidades de cada região, o autor encontrou um método que relaciona a parte e o 
todo. Logo, a partir de suas contribuições epistemológicas,Carl Ritter é reconhecido como 
o percursor da Geografia Humana como método científico. 
 
Ainda que Ritter tenha vivido no século XVIII, em um momento em que a 
própria concepção de ciência era concebida de forma mais holística, seu 
interesse foi o de utilizar a Geografia como forma de superar a 
fragmentação imposta pelo avanço da razão em sua época (MOREIRA, 
2010 apud LEITÃO, 2017, p. 14). 
 
Por outro lado, Alexander von Humboldt buscou formular teorias sobre a Terra a 
partir do empirismo racionado e do método intuitivo, isto é, a compreensão dos 
conhecimentos relativos a terra se dará a partir da observação como suporte para a prática 
e assimilação direta da realidade para além da razão. 
Durante suas expedições, o autor observou que as características da flora e da 
fauna de uma região estão estreitamente relacionadas com as condições climáticas, 
latitudes e tipo de relevo existentes nesse ambiente. A partir dessa elaboração analítica, 
Humboldt desenvolveu o conceito de “meio ambiente geográfico”, sendo reconhecido 
como percursor da Geografia Física. 
As respostas encontradas por Ritter e Humboldt para os impasses de sua época 
e suas formas de pensar a Geografia podem não ser adequadas às nossas pretensões 
atuais, mas entendê-los é fundamental para que possamos revisar nosso passado 
encontrando elementos que possam auxiliar as respostas que buscamos dar em nosso 
próprio tempo. 
Ao longo do presente tópico, buscamos apresentar os primeiros passos da 
sistematização da ciência geográfica como uma importante ferramenta de compreensão 
da realidade, cuja formulação e desenvolvimento teórico-metodológico vem a contribuir 
para que a humanidade possa entender a natureza e sua relação com ela, que pode vir a 
ser, tanto saudável e respeitosa, quanto nefasta e destrutiva. 
 
 
 
2 AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aircraft-spotter-
searches-sky-binoculars-during-249573040 
 
Prezada (o) Aluna (o), estudamos no tópico anterior que as contribuições de Carl 
Ritter e Alexandre Von Humboldt, asseguraram caminhos abertos para as discussões 
teóricas acerca do pensamento geográfico, formulada por levantamentos experimentais 
e contagens esgotantes sobre distintos lugares da Terra. Vimos, também, a importância 
dos processos de sistematização do saber geográfico, de forma particular e autônoma, 
para que o mesmo fosse considerado uma ciência específica e com métodos próprios. 
Tendo em vista o conteúdo trabalhado anteriormente, neste tópico iremos dar 
continuidade aos estudos referentes a Geografia enquanto ciência e campo investigativo, 
focando nas correntes teóricas em que o pensamento geográfico foi construído, 
metodizado e elaborado cientificamente, pois para compreendermos as epistemologias 
da Geografia, precisamos conhecer o desenvolvimento das principais correntes que 
surgiram após a sua legitimação enquanto ciência sistematizada. 
Os primeiros princípios teóricos desenvolvidos para nortear as análises 
geográficas, presente em estudos até os dias atuais, foram realizados nos processos de 
sistematização metodológica que estudamos no tópico passado. Como afirma Antonio 
Carlos Robert Moraes (1994), fazem parte desse repertório o conhecimento acerca da 
extensão do planeta, o levantamento de informações a respeito da superfície terrestre, 
o desenvolvimento de técnicas cartográficas e o surgimento das teorias raciais do 
evolucionismo. 
Tais princípios, foram os primeiros passos rumo a consolidação da ciência 
geográfica, influenciando diretamente o surgimento de correntes teóricas cujo o objetivo 
é o de pensar a ciência em destaque e de servir como aporte teórico para investigações 
a respeito das problemáticas que envolvem a Geografia. Logo, as correntes do 
pensamento geográfico, com suas especificidades analíticas, semelhanças e cisões, 
podem ser identificadas em dois grandes grupos: a Tradicional, entendendo o 
agrupamento das correntes que não dialogam com as questões sociais, mas estudam a 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aircraft-spotter-searches-sky-binoculars-during-249573040
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aircraft-spotter-searches-sky-binoculars-during-249573040
relação entre a humanidade e a natureza amparada na percepção da Geografia como 
ciência descritiva e de observação dos fenômenos naturais, ou seja, positivista; e a 
Moderna, que questiona o tradicionalismo e o positivismo amparando a Geografia como 
ciência atenta às questões sociais e complexidades humanas. 
 
2.1 Geografia Tradicional 
 
 A corrente teórica da Geografia Tradicional têm seu desenvolvimento e 
consolidação possibilitada por três escolas distintas, sendo elas: 1- Determinismo, cujo 
o principal teórico é o alemão Friedrich Ratzel, que sustenta o argumento de que as 
circunstâncias naturais definem a relação com o homem e , por consequência, intervêm 
nas suas condições de evolução; 2- Possibilismo, estabelecido pelas ideias do francês 
Paul Vidal de La Blache, que defendia que a natureza oferece oportunidades para que o 
homem a transforme sem necessariamente indicar comportamentos; 3- Regionalismo, 
escola amparada pelo norte-americano Richard Hartshorne e, também, por Paul Vidal 
de La Blache, que afirmavam que o conhecimento das regiões geográficas e suas 
diferenças se davam por meio do detalhamento dos lugares e fragmentações territoriais. 
 
2.1.1 Determinismo Geográfico 
 
Teoria formulada no século XIX pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel, que aponta 
as influências que as condições naturais exercem sobre os seres humanos, a escola 
determinista sustenta a ideia de que o meio natural determina o homem, nesse sentido, 
os homens procurariam organizar o espaço para garantir a manutenção da vida. 
Segundo Moraes (1994), para Ratzel “A perda de território seria a maior prova de 
decadência de uma sociedade. Por outro lado, o progresso implicaria a necessidade de 
aumentar o território, logo, de conquistar novas áreas (p. 19)”. 
As análises de Ratzel estavam ligadas fortemente ao momento histórico que se 
encontrava inserido, compreendendo o período de unificação da Alemanha no século 
XIX. O expansionismo do império alemão, arquitetado pelo primeiro-ministro da Prússia 
Otto Von Bismarck (1815-1898), foi legitimado pelas duas principais correntes do 
pensamento Ratzeliano, o determinismo geográfico - que explicaria a superioridade de 
algumas raças, nesse caso a alemã, que naturalmente se desenvolveriam mais do que 
outras - e o espaço vital, que justificaria a conquista de novos territórios de formas 
violentas para suprir a maior demanda de recursos para seu desenvolvimento, ou seja, 
o expansionismo. 
 
Ratzel elabora o conceito de “espaço vital”; este representaria uma 
proporção de equilíbrio, entre a população de uma dada sociedade e os 
recursos disponíveis para suprir suas necessidades, definindo assim 
suas potencialidades de progredir e suas premências territoriais. É fácil 
observar a íntima vinculação entre estas formulações de Ratzel, sua 
época e o projeto imperial alemão. Esta ligação se expressa na 
justificativa do expansionismo como algo natural e inevitável, numa 
sociedade que progride, gerando uma teoria que legitima o imperialismo 
bismarckiano. Também sua visão do Estado como um protetor acima da 
sociedade, vem no sentido de legitimar o Estado prussiano, onipresente 
e militarizado. (MORAES, 1994, p. 19). 
 
Os discípulos da escola determinista foram além das proposições de Ratzel, 
chegando a afirmar que o homem seria um produto do meio ao defenderem que um 
ambiente mais hostil proporcionaria um maior nível de desenvolvimento ao exigir um alto 
grau de organização social para suportar todas as contrariedades impostas pelo meio. 
Ex: O inverno justificaria o desenvolvimento das sociedades europeias, que não tiveram 
grandes dificuldades em subjugaros povos tropicais, isto é, sociedades africanas e 
americanas, que segundo tal pensamento, seriam mais indolentes, incivilizados e 
atrasados. 
Essa ideia falaciosa serviu de justificativa para a colonização, a escravidão e o 
expansionismo neocolonial na África e na Ásia entre o fim do século XIX e o início do 
século XX. Pensamentos que, mais tarde, foram aproveitados pelos cientistas e políticos 
da Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial a fim de sustentar as 
atrocidades do Holocausto e o extermínio de populações consideradas racialmente 
inferiores, como judeus, negros, ciganos e pessoas com deficiência. 
Em acordo com Moraes (1994), a característica principal do Determinismo “[...] 
reside no fato de haver trazido, para o debate geográfico, os temas políticos e 
econômicos, colocando o homem no centro das análises. Mesmo que numa visão 
naturalizante, e para legitimar interesses contrários ao humanismo” (p. 21). 
 
2.1.2 Possibilismo Geográfico 
 
 A escola possibilista teve origem na França com Paul Vidal De La Blache, teórico 
que estava inserido no pensamento político dominante da sociedade francesa em um 
momento em que a nação tornou-se uma grande soberania. 
 
Para compreender o processo de eclosão do pensamento geográfico na 
França, e o tipo de reflexão que este engendrou, é necessário enfocar os 
traços gerais do desenvolvimento histórico francês no século XIX, e, em 
detalhe, a conjuntura da Terceira República e o conflito de interesses com 
a Alemanha (MORAES, 1994, p. 22). 
 
Paul Vidal De La Blache realizou estudos regionais procurando provar que a 
natureza exercia influências sobre o homem, mas que o homem tinha possibilidades de 
modificar e de melhorar o meio, ideia chave do Possibilismo. O autor delineou o enfoque 
da Geografia a partir da interação homem-natureza, na concepção da paisagem, 
inserindo o homem como um ser dinâmico, que sente a influência do meio, mas que 
opera sobre este, modificando-o. A partir dessa elaboração, constatou que as urgências 
humanas são influenciadas pela natureza, e que a humanidade procura recursos para 
satisfazê-las nos elementos e nas possibilidades ofertadas pelo meio. 
Conforme afirmado por Moraes (1994) a geografia vidalina tem como enfoque a 
população, o agrupamento social, e nunca a sociedade em si, isto é, tal escola aborda 
os estabelecimentos e feitos humanos a partir de técnicas e de instrumentos de trabalho, 
não as relações e dinamizações sociais ocorridas através de processos de produção e 
exploração. “Enfim, discute a relação homem-natureza, porém sem abordar as relações 
entre os homens. É por esta razão que a carga naturalista é mantida, apesar do apelo à 
História, contido em sua proposta” (MORAES, 1994, p. 26). 
Por fim, podemos dizer que o Possibilismo considera a natureza como 
fornecedora de possibilidades e o homem como o principal agente geográfico que atua 
e modifica a natureza. 
 
2.1.3 Regionalismo Geográfico 
 
 Essa corrente do pensamento geográfico tradicional, tem suas bases propostas 
pelo diálogo entre Paul Vidal de La Blache, que como já vimos é o teórico principal da 
escola possibilista, e Richard Hartshorne, norte-americano que afirma que os aspectos 
próprios da Geografia eram o espaço e os lugares. 
O método adotado por essa vertente compreendia em comparar regiões, sobre os 
critérios de semelhança e diferença, dedicando-se a coleta de informações descritiva 
sobre lugares ao dividir a Terra em regiões. Para Hartshorne, os espaços eram divididos 
em áreas nas quais os elementos mais homogêneos determinariam cada classe e, 
assim, as descontinuidades destes espaços trariam as divisões das áreas. 
 
Hartshorne argumentou que os fenômenos variam de lugar a lugar, que 
as suas inter-relações também variam, e que os elementos possuem 
relações internas e externas à área. O caráter de cada área seria dado 
pela integração de fenômenos inter-relacionados. Assim, a análise 
deveria buscar a integração do maior número possível de fenômenos 
inter-relacionados. (MORAES, 1994, p. 32). 
 
Logo, podemos afirmar que para o teórico em destaque, o pesquisador faria a 
análise de um só lugar, tentando compreender diversos elementos que levariam à 
construção de um importante e significativo conhecimento sobre determinado local. 
Buscamos visualizar e compreender tal método a partir dos exemplos expostos por 
Moraes: 
 
[...] o pesquisador seleciona dois ou mais fenômenos (p. ex. clima, 
produção agrícola, tecnologia disponível), observa-os na área escolhida, 
relaciona-os. Seleciona outros (p. ex. topografia, estrutura fundiária, 
relações de trabalho), observa-os, relaciona-os; repete várias vezes este 
procedimento, tentando abarcar o maior número de fenômenos (tipo de 
solo, destinação da produção, número de cidades, tamanho do mercado 
consumidor, hidrografia etc.); uma vez de posse de vários conjuntos de 
fenômenos agrupados e inter-relacionados, integra-os inter-relacionando 
os conjuntos; repete todo este procedimento, com novos fenômenos, ou 
novos agrupamentos dos mesmos fenômenos, em conjuntos diferentes; 
afinal, integram-se, entre si, os conjuntos já integrados separadamente 
(MORAES, 1994, p. 32). 
 
As propostas dessa corrente abriram inúmeras possibilidades para os estudos 
geográficos e foram amplamente discutidas, pois possibilitou análises locais, focadas na 
união de temas conectados, à exemplo de uma geografia dos recursos naturais e uma 
geografia dos transportes, relacionando e integrando uma diversidade de fenômenos 
relacionados a essas temáticas específicas. Tal pensamento geográfico definido como 
método regional, possibilitou um trabalho investigativo com uma quantidade diversa de 
elementos, relacionando interesses cada vez mais planejados e ágeis sobre determinada 
região. 
 A partir do exposto durante o presente tópico, a Geografia Tradicional contribuiu 
para a fundamentação de um campo amplo de investigações sistematizadas ao 
organizar uma continuidade de discussões estruturadas em conhecimentos 
metodológicos. 
 
Nesse processo, elaborou um temário válido, independente das teorias 
que desenvolveu; esse temário restou como a grande herança do 
pensamento geográfico tradicional. Assim, seu grande feito foi a 
identificação de problemas, o levantamento de questões válidas, às quais 
deu respostas insatisfatórias ou equivocadas (MORAES, 1994, p. 33). 
 
Concomitante à isso, a Geografia Tradicional contribuiu com uma quantidade 
vasta de informações e levantamento de diversas realidades, constituindo um material 
essencial para pesquisadores que vieram depois, beneficiados pelo caráter descritivo 
das informações levantadas e dados minuciosos sobre uma pluralidade de fenômenos, 
inclusive, para que tais teóricos subsequentes formulassem críticas e correntes 
divergentes às aqui explanadas. 
Para concluir, apesar de suas limitações generalistas e naturalistas, o 
pensamento geográfico tradicional contribuiu para a elaboração de alguns conceitos 
bases da Geografia atual como ambiente, território, região, habitat, etc. (reestruturados 
e ressignificados posteriormente). O cenário apresentado diz respeito às primeiras 
vertentes teórica-metodológicas da Geografia, as críticas levantadas a essa corrente, 
proporcionou avanços científicos na construção do pensamento geográfico e na 
produção epistemológica acerca dessa ciência. 
 
2.2 Geografia Moderna 
 
Por volta da década de 1950, com o fim da II Guerra Mundial (1939 e 1945) e a 
expansão do sistema capitalista, as correntes do pensamento geográfico tradicional 
foram questionadas, trazendo para as novas análises a defesa de fazer da Geografia 
uma ciência humana e social. Sobre a estruturação de novas formas e sentidos para 
pensar a disciplina nos anos seguintes, podemos apontar que 
 
A crise da Geografia Tradicional, e o movimento de renovação a ela 
associado, começam a se manifestar já em meadosda década de 
cinquenta e se desenvolvem aceleradamente nos anos posteriores. A 
década de sessenta encontra as incertezas e os questionamentos 
difundidos por vários pontos. A partir de 1970, a Geografia Tradicional 
está definitivamente enterrada; suas manifestações, dessa data em 
diante, vão soar como sobrevivências, resquícios de um passado já 
superado. Instala-se, de forma sólida, um tempo de críticas e de 
propostas no âmbito dessa disciplina. Os geógrafos vão abrir-se para 
novas discussões e buscar caminhos metodológicos até então não 
trilhados. Isto implica uma dispersão das perspectivas, na perda da 
unidade contida na Geografia Tradicional. Esta crise é benéfica, pois 
introduz um pensamento crítico, frente ao passado dessa disciplina e 
seus horizontes futuros. Introduz a possibilidade do novo, de uma 
Geografia mais generosa (MORAES, 1994, p. 34). 
 
Em virtude disso, o surgimento e consolidação da Geografia Moderna se deu a 
partir de duas grandes escolas teóricas: a Pragmática, que está ligada a Geografia 
aplicada e que acredita na tecnologia geográfica, mediada por dados estatísticos e 
diagnósticos que subsidiaram a estruturação das relações capitalistas ao incentivar 
tomadas de decisões de governos e empresas; e a Crítica, que apresenta propostas 
heterogêneas que se aproximam de análises acerca da realidade social, com suas 
desigualdades, assimetrias e contradições, apontando assim, a Geografia como uma 
ciência que vislumbra mudanças sociais em busca de uma coletividade mais justa e 
engajada politicamente junto ao meio ambiente. 
 
2.2.1 Geografia Pragmática (Nova Geografia, Geografia Teorética ou Quantitativa) 
 
 A Geografia Pragmática corresponde a um corrente do pensamento geográfico 
desenvolvida a partir da década de 50, emergente a partir da urgência da obtenção de 
dados exatos, calcados em conceitos teóricos, que fossem apoiados em análises 
estatísticas, matemáticas e exatas da realidade. A escola foi utilizada como forte 
ferramenta para a consolidação dos poderes do Estado através de soluções baseadas 
em dados quantitativos. 
 
Desta forma, seu intuito geral é o de uma “renovação metodológica”, o de 
buscar novas técnicas e uma nova linguagem, que dê conta das novas 
tarefas postas pelo planejamento. A finalidade explícita é criar uma 
tecnologia geográfica, um móvel utilitário. Daí sua denominação de 
pragmática (MORAES, 1994, p. 37). 
 
As características principais dessa corrente são de que todo o conhecimento está 
apoiado na experiência (empirismo) e que deve existir uma linguagem comum entre 
todas as ciências. Desse modo, tal interpretação recusa a ideia de um dualismo científico 
e forças complementares expressas entre as ciências naturais e as ciências sociais, 
exigindo assim, uma exatidão maior na aplicação da metodologia quantitativa e no uso 
de técnicas das ciências exatas. 
Portanto, os resultados das investigações científicas sob a alçada da Geografia 
Pragmática devem ser apresentados de forma lógica e apurada por meio do uso da 
linguagem matemática. Em razão disso, tais investigações ampliam a utilização da 
tecnologia na intervenção da realidade, pois se apresentam como uma artilharia de 
dominação para os interesses do Estado planejador que propõe suas ações balizadas 
em categorias técnicas, onde esconde os interesses de dominação almejadas, 
defendendo uma suposta neutralidade científica. 
 
A Geografia Pragmática é um instrumento da dominação burguesa, um 
aparato do Estado capitalista. Seus fundamentos, enquanto um saber de 
classe, estão indissoluvelmente ligados ao desenvolvimento do 
capitalismo monopolista. Assim, são interesses claros os que ela 
defende: a maximização dos lucros, a ampliação da acumulação de 
capital, enfim, a manutenção da exploração do trabalho. Nesse sentido, 
mascara as contradições sociais, legitima a ação do capital sobre o 
espaço terrestre. É uma arma prática de intervenção, mas também uma 
arma ideológica, no sentido de tentar fazer passar como “medidas 
técnicas”, logo, neutras e cientificamente recomendadas” a ação do 
Estado na defesa de interesses de classe (MORAES, 1994, p. 40). 
 
Enfim, essa corrente predominou nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, 
principalmente na década de 1960 e meados da década de 1970. Contudo, é a partir 
dos anos 60 que a Geografia Pragmática começa a sofrer diversas críticas, cuja principal 
delas está relacionada ao fato da escola não considerar as particularidades dos 
fenômenos ao reduzi-los a explicações estritamente exatas. 
Corroboramos que o método matemático não é eficiente para explicar sozinho os 
intervalos existentes entre diferentes momentos históricos, pois não alcança as 
especificidades das relações estabelecidas entre ação humana e espaço geográfico ao 
compreender o meio apenas de forma homogênea e quantificada em números. 
 
2.2.2 Geografia Crítica 
 
A Geografia Crítica surgiu na França, em 1970, e depois foi desenvolvida por 
pesquisas em diferentes realidades do mundo, como na Alemanha, Brasil, Itália, 
Espanha, México e outros países, ganhando força e se legitimando como um grande 
movimento de renovação da Geografia na década de 80. As primeiras referências à essa 
corrente do pensamento geográfico foram realizadas com ênfase na obra “A Geografia 
serve, antes de mais nada, para fazer a guerra” do Francês Yves Lacoste. 
 Ao estabelecer o rompimento da suposta neutralidade da Geografia Pragmática e 
propor maior engajamento e criticidade junto a toda a conjuntura social, econômica, 
política e cultural do mundo, a Geografia Crítica possibilita uma leitura honesta e 
coerente frente aos problemas e interesses que envolvem as relações de poder e os 
embates históricos por território, defendendo a diminuição das assimetrias sociais, 
econômicas e regionais presentes nas dinâmicas de cada sociedade. Propõe, ainda, 
uma mudança significativa no ensino de Geografia ao promover uma educação que 
estimule e pensamento crítico e interpretações contextualizadas historicamente que não 
reduzem e simplifiquem a Geografia por reducionismos, generalismos e preconceitos. 
 
O designativo de crítica diz respeito, principalmente, a uma postura frente 
à realidade, frente à ordem constituída. São os autores que se 
posicionam por uma transformação da realidade social, pensando o seu 
saber como uma arma desse processo. São, assim, os que assumem o 
conteúdo político de conhecimento científico, propondo uma Geografia 
militante, que lute por uma sociedade mais justa. São os que pensam a 
análise geográfica como um instrumento de libertação do homem 
(MORAES, 1994, p. 42). 
 
Nas ideias de Yves Lacoste (1988), o Estado possui uma visão estruturada do 
espaço, pois tem o poder de agir sobre todos os lugares, exercendo mais uma ferramenta 
de dominação. Logo, faz-se necessário construir uma visão integrada do espaço e da 
sociedade a partir de interpretações que socializem este saber, pois possuem estratégias 
fundamentais para momentos de disputas políticas e para uma organização social que 
pense o espaço de forma justa com as necessidades humanas de sobrevivência, não 
com ganâncias de consumo e esgotamento de terras, matérias-primas e recursos 
naturais. 
 
[...] a função ideológica essencial do discurso da geografia escolar e 
universitária foi sobretudo o de mascarar por procedimentos que não são 
evidentes a utilidade prática da análise do espaço, sobretudo para a 
condução da guerra, como ainda para a organização do Estado e prática 
do poder. É sobretudo quando ele parece “inútil” que o discurso 
geográfico exerce a função mistificadora mais eficaz, pois a crítica de 
seus objetivos “neutros” e “inocentes” parece supérflua. A sutileza foi a 
de ter passado um saber estratégico, militar e político como se fosse um 
discurso pedagógico ou científico perfeitamente inofensivo. Nós veremos 
que as consequências desta mistificação são graves (LACOSTE, 1988, 
p. 25).No Brasil, o grande nome da renovação da Geografia foi o teórico baiano Milton 
Santos, que publicou as primeiras contribuições dessa nova abordagem no país. O autor 
defende que toda manifestação produtiva do homem, implica em uma ação modificadora 
da superfície terrestre. 
 
Santos afirma que a organização do espaço é determinada pela 
tecnologia, pela cultura e pela organização social da sociedade, que a 
empreendem. Na sociedade capitalista, a organização espacial é imposta 
pelo ritmo de acumulação. Na verdade, esta representa uma dotação 
diferencial de instrumentos de trabalho, na superfície do planeta, uma 
fixação de capital no espaço, obedecendo a uma distribuição “desigual e 
combinada”. Diz que, desta forma, os lugares manifestam uma 
combinação de capital, trabalho, tecnologia e trabalho morto, expresso 
nas “rugosidades” (MORAES, 1994, p. 46). 
 
O pensamento crítico na Geografia significou principalmente uma aproximação 
com os movimentos sociais, na busca da ampliação dos direitos civis e humanos, 
expressa pelo acesso à educação gratuita e de qualidade, à moradia, à terra, combate à 
pobreza e à violência ambiental, como o desmatamento, poluição, extinção de 
organismos vivos pertencentes a fauna e a flora, entre outras temáticas. 
 
 
 
 
3 AS TENDÊNCIAS DA GEOGRAFIA MUNDIAL E BRASILEIRA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/national-flags-
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Cara (o) Aluna (o), nos tópicos anteriores estudamos os paradigmas que 
marcaram a evolução do pensamento geográfico e a estruturação dos métodos que 
fundamentaram cientificamente a Geografia ao longo dos séculos. Faz-se necessário 
historicizar o processo de evolução do pensamento geográfico a fim de analisarmos e 
entendermos os pressupostos da Geografia como ciência e sua relação com outras 
áreas do conhecimento através do contexto histórico de sua produção. 
No presente tópico, temos por objetivo dar continuidade aos estudos acerca da 
Geografia como ciência de referência ao nos debruçarmos pelas tendências da 
Geografia mundial e, em específico, da brasileira. Corroboramos que o processo de 
desenvolvimento do pensamento geográfico, ocorrido desde a Grécia Antiga, possibilitou 
o surgimento de vertentes teóricas das quais são imprescindíveis para compreendermos 
a ciência geográfica atualmente. Logo, a História torna-se importante para pensarmos 
nossos objetivos de estudo, pois nos auxilia a confluir passado e presente para que 
possamos almejar direcionamentos à respeito da Geografia no futuro. 
Há um consenso entre a comunidade científica que, atualmente, a Geografia é 
considerada uma ciência interativa e sistêmica. Interativa pois proporciona uma relação 
com diversos elementos presentes nos fenômenos estudados a partir de um caráter 
multidisciplinar, dialogando com outros saberes científicos e áreas do conhecimento, à 
exemplo da História (como já vimos anteriormente). Sistêmica devido à premissas 
teóricas que definem o objeto de pesquisa ao conjugar métodos necessários para sua 
formulação e identificar conexões complexas presentes no mundo globalizado. 
Nas últimas décadas, a Geografia distanciou-se da preocupação em descrever 
fenômenos e repassar informações decoradas e repetitivas, como exemplo, as capitais 
dos países e estados, a quantidade populacional de um determinado lugar, a extensão 
dos rios e etc. Por conseguinte, os estudos geográficos se fortaleceram por meio de 
novas metodologias de análise, priorizando uma investigação sistêmica dos processos 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/national-flags-different-countries-world-brazilian-453959620
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demográficos, econômicos, urbanos, sociais que dêem ênfase ao desenvolvimento das 
pesquisas a partir das necessidades da nova ordem mundial. 
 
Os estudos geográficos físicos, populacionais, econômicos e geopolíticos 
são, atualmente, abordados por metodologias científicas, produzindo 
conceitos e interpretações a partir de análises sobre as causas das 
realidades geográficas. A relação causa-efeito só produzirá resultado 
científico se for estabelecida a razão geográfica da realidade em 
determinadas escalas regionais e macrorregionais. A territorialidade e as 
interações sistêmicas com os ambientes naturais, os processos 
demográficos e as mudanças geopolíticas nas transterritorialidades 
constituem, pois, a razão da ruptura epistêmica ocorrida na Geografia nas 
últimas décadas (VIEIRA, 2013, p. 74 - 75). 
 
Uma das grandes inovações ocorridas na Geografia atual é a utilização de 
ferramentas de alta tecnologia que proporcionam uma melhor análise e identificação das 
ocorrências e fenômenos que modificam a superfície da Terra, usufruídas por geógrafos 
e geógrafas em seus estudos e pesquisas. Como afirma Euripedes Falcão Vieira (2013), 
“técnicas de geoprocessamento e imagens de satélites facilitam localizações, 
movimentos da hidrodinâmica fluvial, devastação de ambientes florestais, dinâmica 
marinha costeira e tantos outros” (p. 78). 
Desta forma, podemos afirmar que a tecnologia advinda do desenvolvimento e 
democratização da internet, dos satélites e de uma comunicação global em alta escala, 
configura-se como mudanças significativas e essenciais para a ciência geográfica e para 
suas produções epistemológicas nos dias de hoje. 
Outra tendência importante para os estudos atuais da Geografia diz respeito às 
migrações que acontecem em escala global, evidenciando dinâmicas sociais de forte 
impacto na geopolítica dos espaços que sofrem e recebem grandes deslocamentos 
populacionais. Para compreendermos essa complexa temática é preciso utilizar diversas 
categorias analíticas, pois tal fenômeno interfere ativamente na vida social, na estrutura 
econômica, nas condições culturais e na dinâmica entre territorialidades e população. 
As migrações humanas ocorrem desde o Período Mesolítico – (10.000 – 8.000 
a.C.), momento histórico de diversas modificações geológicas e climáticas na Terra, fato 
que caracterizou a transição de uma sociedade nômade para uma sociedade sedentária 
do homem pré-histórico. Podemos observar, também, migrações durante os processos 
de colonização europeia nas invasões de territórios africanos e americanos no século 
XVI. 
 
As migrações em larga escala estão muitas vezes ligadas a antigas 
relações de conquista e domínios coloniais. Mas é preciso considerar, 
também, as que ocorrem por força da nova ordem econômica mundial, 
que globalizou a produção e criou, consequentemente, uma nova divisão 
internacional do trabalho. Há, ainda, o fator da intelectualidade global, 
ativando a mobilidade da população mais jovem (VIEIRA, 2013, p. 79). 
 
Desta forma, apesar de não ser um fenômeno atual, ou seja, um fenômeno que 
tem uma longevidade histórica, as migrações humanas ganharam novos sentidos e 
significados devido à globalização. É necessário pensarmos nos motivos que levam uma 
quantidade significativa de pessoas a migrar do seu local de origem para uma análise 
geográfica precisa, sem preconceitos ou reducionismos das populações migrantes, e que 
interconecte as categorias de uma sociedade global. 
Já no Brasil, as tendências da Geografia perpassam as preocupações acerca da 
nossa realidade histórica e social, como por exemplo análises capazes de responder 
questões referentes à estrutura fundiária e o agronegócio, à pobreza e desigualdade, à 
segurança política e defesa, à ameaças globais e transnacionais, à matriz energética e 
meio ambiente, ao minério e indústria extrativa, à riqueza genética e biodiversidade, à 
população e diversidade social, étnica-racial e de gênero, entre outras. Tais temáticas 
tornam-se relacionadas à posição do Brasil frente ao mundo globalizado, apresentando-
se como novas linhas e tendências analíticas napesquisa geográfica. 
De acordo com Armen Mamigonian (1999), as tendências atuais da Geografia 
aspiram dar resposta à crise da sociedade, da civilização e da própria disciplina. O autor 
nos aponta que o desenvolvimento do modo de produção capitalista levou o Brasil a 
mundialização da economia, fato que forçou uma redefinição dos espaços nacionais, 
regionais e locais, seus papéis na divisão territorial e social do trabalho, intervenções 
mais incisivas do Estado e novas tendências à concorrência internacional que 
provocaram assimetrias na distribuição geográfica do nosso território. 
 
Além do processo de urbanização tão brutal como nós vivemos nas 
últimas décadas e intimamente acoplado a ele afloraram novas 
problemáticas, que estão estimulando linhas de pesquisa que já existiam, 
mas foram renovadas: 1) a preocupação por decifrar os processos 
espaciais no interior das cidades, aprofundando os conhecimentos de 
renda capitalista da terra (também na agricultura), sobre influência 
marxista; 2) a preocupação por combinar desenvolvimento econômico e 
preservação ambiental, como nas propostas de eco-desenvolvimento 
(Ignacy Sachs na França, Aziz Ab’Saber no Brasil, por exemplo), 
procurando soluções de crescimento, com vantagens sociais (por 
exemplo, códigos de empregos) e ambientais (controle dos gases da 
combustão nas cidades, por exemplo); 3) a preocupação por uma 
geografia da percepção, cuja raiz está na crescente alienação das 
pessoas, incapazes de realizar “mapas mentais”, mas também vinculada 
à psicologia comportamental, de potencial totalitário (Skinner, por 
exemplo) conforme seu uso (MAMIGONIAN, 1999, p. 177). 
 
Diante dessas novas realidades, podemos afirmar que as tendências em vigência 
na teoria e na prática da ciência geográfica perpassam as demandas da sociedade atual, 
se apresentando em quatro grandes eixos: 1) diversidade de correntes teóricas e 
premissas filosóficas; 2) interdisciplinaridade no diálogo e interação epistemológica entre 
as disciplinas no interior da Geografia e da própria Geografia em relação a outras áreas 
do conhecimento; 3) aumento e popularização de linhas de pesquisas destinadas à 
perspectivas que estabeleçam relações dinâmicas entre a sociedade humana e o 
ambiente natural, como a geopolítica por exemplo; 4) reconfigurações de saberes e 
conceitos concomitantes às mudanças advindas da urbanização, globalização e 
democratização das tecnologias. 
 
4 CONCEITOS FUNDAMENTAIS NA COMPREENSÃO DO ESPAÇO 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aerial-view-cars-
trains-intersection-junction-1457094053 www.shutterstock.com/ 
 
Estimada (o) Aluna (o), no presente tópico temos por objetivo conhecer conceitos 
fundamentais para a compreensão do espaço. A priori, devemos ter em vista que o 
conceito de espaço se apresenta como uma das mais importantes categorias analíticas 
para o estudo da Geografia. Tal estrutura conceitual é o início de inúmeras produções 
científicas de autores que dedicaram seus estudos à conceituação de espaço geográfico 
como uma categoria abrangente e democrática para as pesquisas referentes à ciência 
geográfica. 
Iniciaremos nossas análises acerca da categoria de espaço por meio da obra A 
natureza do espaço (1996) do geógrafo brasileiro Milton Santos, onde propõe que o 
espaço é “formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de 
sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o 
quadro único no qual a história se dá” (p. 63). Para o autor, a natureza é o início, ela 
provê a matéria-prima as quais são transformadas em objetos pela ação humana através 
da técnica, isto é, “a principal forma de relação entre o homem e a natureza”, definida 
como “um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua 
vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço” (1996, p. 29). 
Desta forma, para a ciência geográfica, o espaço pode ser conceituado como a 
parte da superfície da Terra onde ocorrem as interações entre o ser humano e o ambiente 
natural, ou seja, o espaço geográfico é interpretado e dinamizado a partir de ações e 
práticas humanas, que por sua vez, são impulsionadas pela natureza, se dando em uma 
relação recíproca de influências. 
Milton Santos (1996) nos oferece argumentos críticos para compreendermos que 
apesar de recíproca, essa relação se dá, muitas vezes, por meio de extremas assimetrias 
e desigualdades ao elaborar que 
 
No princípio, tudo eram coisas, enquanto hoje tudo tende a ser objeto, já 
que as próprias coisas, dádivas da natureza, quando utilizadas pelos 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aerial-view-cars-trains-intersection-junction-1457094053
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aerial-view-cars-trains-intersection-junction-1457094053
homens a partir de um conjunto de intenções sociais, passam, também, 
a ser objetos (SANTOS, 1996, p. 65). 
 
Em virtude disto, o estudo do espaço geográfico nos possibilita compreender a 
nossa organização social no presente, que se deu a partir de transformações históricas 
ocorridas durantes os séculos que, por consequência, permitiram a existência e 
continuidade da humanidade hoje e, quiçá, no futuro. Conforme o ser humano interfere 
na natureza de determinado lugar, ele gera e promove o espaço geográfico, categoria 
imprescindível para o estudo da Geografia. 
A partir da conceituação de espaço geográfico, buscamos dar ênfase a outras 
categorias conceituais e analíticas em Geografia, fundamentais para a compreensão de 
fenômenos espaciais que se manifestam através delas, são elas: região, lugar e território. 
Região é a categoria geográfica que busca estabelecer características comuns 
entre diferentes áreas espaciais, ou seja, há elementos pertencentes a determinada 
região que irão caracterizar todos as localidades que a integram, estabelecendo assim, 
critérios de qualidades e traços específicos compartilhados por essa região. Elas podem 
ser utilizadas para divisões e organizações administrativas, como bairros, municípios ou 
estados, um exemplo são as categorias designadas para agrupar a população brasileira 
em cinco grandes regiões geopolíticas: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. 
Em sua obra Região e Organização Espacial (2003), Roberto Lobato Corrêa 
discorre acerca do conceito de região a partir das diversas correntes do pensamento 
geográfico que, como já vimos no tópico 2, estão dispostas em: Geografia Tradicional 
(Determinismo, Possibilismo e Regionalismo) e Geografia Moderna (Pragmática e 
Crítica). Para o autor, os conceitos de região e organização espacial são essenciais para 
o entendimento do “[...] caráter distinto da geografia no âmbito das ciências sociais, 
indicando a via geográfica de conhecimento da sociedade, quer dizer, das relações entre 
natureza e história” (p.5). 
Apesar das divergências teóricas e metodológicas, todas as correntes 
compartilham do pressuposto que as raízes da Geografia estão na busca da 
compreensão e diferenciação de lugares, regiões, países e continentes, resultados das 
relações sociais entre homem e natureza. É a partir dessa premissa que o conceito de 
região torna-se importante para os estudos geográficos, pois possibilita que agrupemos 
lugares com características semelhantes ao amparar a contextualização do espaço no 
qual os territórios estão inseridos. 
Já o conceito de lugar consiste em uma área da superfície terrestre à qual são 
conferidas especificidades e significados particulares, pois para a formação e 
constituição de um lugar não basta apenas explicações descritivas a respeito da 
configuração espacial ocorrida, faz-se preciso que se tenha o entendimento de como se 
deu o processo da sua composição a partir das interações entre as pessoas que vivem 
e produzem esse espaço. De acordo com Ana Fani Alessandri Carlos (2007), 
 
A produção espacial realiza-se no plano do cotidianoe aparece nas 
formas de apropriação, utilização e ocupação de um determinado lugar, 
num momento específico e, revela-se pelo uso como produto da divisão 
social e técnica do trabalho que produz uma morfologia espacial 
fragmentada e hierarquizada. Uma vez que cada sujeito se situa num 
espaço, o lugar permite pensar o viver, o habitar, o trabalho, o lazer 
enquanto situações vividas, revelando, no nível do cotidiano, os conflitos 
do mundo moderno (CARLOS, 2007, p. 20). 
 
Desta maneira, visualiza-se que cada indivíduo é único e constituído por 
experiências no tempo e no espaço de formas muito específicas, apesar de partilhadas 
e com interligação entre si. Logo, um lugar terá significados diferentes para cada 
indivíduo que nele vive, interfere e experiencia acontecimentos de vida. 
Por fim, o significado do conceito de território se encontra ligado à demarcação de 
espaços delimitados, definidos, geralmente, a partir de fronteiras, visíveis ou não, 
formadas e motivadas por interesses sociais, políticos, econômicos, culturais, religiosos 
e geográficos, os quais podem ser transformados de acordo com dinâmicas sociais que 
produzem novos interesses e relações de poder. Tais demarcações ocorrem tanto 
naturalmente, promovidas pelo meio ambiente, quanto socialmente, desenvolvidas pela 
ação humana pelas razões citadas acima. 
 
O conceito de Território, tratamos o espaço geográfico a partir de uma 
concepção que privilegia o político ou a dominação-apropriação. 
Historicamente, o território da Geografia foi pensado, definido e 
delimitado a partir de relações de poder. Observa-se que, historicamente, 
a concepção de território associa-se à ideia de natureza e sociedade 
configuradas por um limite de extensão de poder. Territórios são no fundo 
relações sociais projetadas no espaço. Por consequência, estes espaços 
concretos podem formar-se e dissolver-se de modo muito rápido, 
podendo ter existência regular, porém periódica, podendo o substrato 
material permanecer o mesmo (SUERTEGARAY, 2001). 
 
A partir das contribuições da autora, corroboramos que a divisão de territórios, em 
especial, a partir da consolidação do Estado como instituição que normatiza formas de 
controle social, torna-se importante para a ocupação e distribuição humana, pois regula 
áreas administrativas de organização política, instituindo marcadores em determinada 
área por um determinado código cultura. Exemplos de território: o Estado, as fronteiras 
que limitam países, regiões, estados, cidades, bairros e favelas, o narcotráfico, as zonas 
de guerra, etc. 
Diante das conceituações atribuídas às categorias de espaço geográfico, região, 
lugar e território, buscamos apontar que a Geografia expressa uma identidade particular 
em seu arcabouço teórico, devido seu caráter de ciência social com interface a ciências 
naturais e exatas. Segundo Corrêa (2003), devemos compreender que as correntes do 
pensamento geográfico representam conceitos e categorias antagônicas que, apesar de 
convergirem ou se completarem em alguns aspectos teórico-metodológicos, tiveram sua 
emergência em um determinado espaço e tempo a partir de uma elaboração sócio-
histórica específica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Você sabia que o Geógrafo Brasileiro Milton Santos, é um dos intelectuais mais 
premiados da América Latina? Recebeu em 1994 o Prêmio Internacional Vautrin Lud, 
correspondente ao Nobel da Geografia. Pela primeira vez na história desse prêmio, ele 
era outorgado a um geógrafo que não era nem francês nem norte-americano. Para mais 
informações a respeito do professor Milton Santos, consulte o site oficial do mesmo, 
administrado por sua família. 
SANTOS, Nina. Site Milton Santos, 2011. Disponível em: 
http://miltonsantos.com.br/site/. Acesso em: 26/04/2021. 
 
REFLITA 
 
‘’O geógrafo é, antes de tudo, um filósofo, e os filósofos são otimistas, porque diante 
deles está a infinidade’’. Milton Santos. 
 
CONTEÚDOS de Geografia Geral e do Brasil. Horizonte Geográfico, 2016. Disponível 
em: https://horizontegeografico.wordpress.com/. Acesso em: 26/04/2021. 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Prezada (o) Aluna (o) Vimos no Tópico 1 que as contribuições de Carl Ritter e 
Alexandre Von Humboldt, asseguraram caminhos abertos para as discussões teóricas 
acerca do pensamento geográfico, formulada por levantamentos experimentais e 
contagens esgotantes sobre distintos lugares da Terra. Vimos, também, a importância 
dos processos de sistematização do saber geográfico, de forma particular e autônoma, 
para que o mesmo fosse considerado uma ciência específica e com métodos próprios. 
Buscamos apresentar os primeiros passos da sistematização da ciência geográfica como 
uma importante ferramenta de compreensão da realidade, cuja formulação e 
desenvolvimento teórico-metodológico vem a contribuir para que a humanidade possa 
entender a natureza e sua relação com ela, que pode vir a ser, tanto saudável e 
respeitosa, quanto nefasta e destrutiva. 
No tópico 2 demos continuidade aos estudos referentes a Geografia enquanto 
ciência e campo investigativo, focando nas correntes teóricas em que o pensamento 
geográfico foi construído, metodizado e elaborado cientificamente, pois para 
compreendermos as epistemologias da Geografia, conhecemos o desenvolvimento das 
principais correntes que surgiram após a sua legitimação enquanto ciência 
sistematizada. Vimos que o pensamento crítico na Geografia significou principalmente 
uma aproximação com os movimentos sociais, na busca da ampliação dos direitos civis 
e humanos, expressa pelo acesso à educação gratuita e de qualidade, à moradia, à terra, 
combate à pobreza e à violência ambiental, como o desmatamento, poluição, extinção 
de organismos vivos pertencentes a fauna e a flora, entre outras temáticas. 
Em seguida no Tópico 3 seguimos refletindo acerca da Geografia como ciência 
de referência ao nos debruçarmos pelas tendências da Geografia mundial e, em 
específico, da brasileira. Entendemos que o processo de desenvolvimento do 
pensamento geográfico, ocorrido desde a Grécia Antiga, possibilitou o surgimento de 
vertentes teóricas das quais são imprescindíveis para compreendermos a ciência 
geográfica atualmente. Logo, a História tornou-se importante para pensarmos nos 
nossos objetivos de estudo, pois nos auxilia a confluir passado e presente para que 
possamos almejar direcionamentos à respeito da Geografia no futuro. 
E por fim no tópico 4 conhecemos os conceitos fundamentais para a compreensão 
do espaço, tendo em vista que o conceito de espaço se apresenta como uma das mais 
importantes categorias analíticas para o estudo da Geografia. Tal estrutura conceitual é 
o início de inúmeras produções científicas de autores que dedicaram seus estudos à 
conceituação de espaço geográfico como uma categoria abrangente e democrática para 
as pesquisas referentes à ciência geográfica. Compreendemos que as correntes do 
pensamento geográfico representam conceitos e categorias antagônicas que, apesar de 
convergirem ou se completarem em alguns aspectos teórico-metodológicos, tiveram sua 
emergência em um determinado espaço e tempo a partir de uma elaboração sócio-
histórica específica. 
Desejo que o estudo dessa unidade seja de grande valia para sua jornada nessa 
disciplina. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.) Epistemologias do Sul. São 
Paulo; Editora Cortez. 2010. 637 páginas. 
 
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos vem desde o início dos anos 
noventa produzindo trabalhos significativos de análise sobre a estrutura e construção do 
conhecimento moderno. Podemos afirmar que inventariando as diversas raízes que 
organizaram e ainda sustentam as bases do conhecimento ocidental como culturalmente 
homogêneo, vem instigando a comunidade científica a debater sobre a eficácia da 
ciência na construçãoda realidade imediata das pessoas normais. O livro em questão, 
“Epistemologias do Sul” é um desdobramento desta jornada intelectual e uma busca de 
novas referências epistêmicas das ciências humanas. 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
 
 
• Título: Por uma Geografia Nova- Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica 
• Autor: Milton Santos 
• Editora: Edusp 
• Sinopse: Há cerca de vinte anos, quando foi publicada a primeira edição de Por Uma 
Geografia Nova, a geografia vivia uma crise interna no mundo todo, impondo à ciência 
a necessidade de discussões de ordem metodológica, conceitual e epistemológica. A 
publicação deste livro contribuiu para a renovação crítica da geografia: A verdade, 
porém, é que tudo está sujeito à lei do movimento e da renovação, inclusive as 
ciências. O novo não se inventa, descobre-se , propõe o autor na introdução deste que 
se tornou um livro clássico desde então. Milton Santos contribuiu com esta obra para a 
superação dos impasses que se apresentavam, propondo uma análise acurada do 
objeto da ciência: o espaço, mostrando a necessidade de torná-lo verdadeiramente 
humano, relacionando-o com outras disciplinas afins. 
 
 
 
 
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título: O Nome da Rosa 
• Ano: 1986 
• Sinopse: Em uma atuação impecável, o ator Sean Connery dá vida ao questionador 
monge franciscano Guilherme de Baskerville, chamado às pressas a um mosteiro italiano 
medieval para investigar vários casos de religiosos que tiveram mortes enigmáticas no 
lugar. A trama baseada no livro do escritor Umberto Eco se desenrola em 1327, época 
em que a Igreja Católica já exercia poderio absoluto em todo o continente europeu. As 
mortes, é claro, foram tidas desde o princípio como obra do demônio. Mas a investigação 
minuciosa conduzida por Guilherme acabou provando o óbvio: o mistério tinha uma 
explicação muito mais racional (e controversa) do que aparentava. Por embasar seus 
julgamentos em evidências e não em dogmas ou verdades reveladas, o frade é 
representado como uma espécie de precursor do cientista moderno. O filme também 
discute a relação de intolerância do pensamento religioso para com o científico. 
•disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=s0cdAv4ZODE.
 
REFERÊNCIAS 
 
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007. 
 
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. São Paulo: Editora Ática, 
2003. 7ª ed. Série Princípios. 
 
GODOY, Paulo R. Teixeira de. (Org.). História do pensamento geográfico e 
epistemologia em Geografia. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. Disponível em: 
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/109157/ISBN9788579831270.pdf?s
equence=2&isAllowed=y. Acesso em: 20/02/2021. 
 
LACOSTE, Yves. A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 
Campinas: Papirus, 1988. 
 
LEITÃO, Joyce Oliveira. O contexto histórico-filosófico da obra “Geografia 
Comparada” de Carl Ritter. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de 
Campinas, Instituto de Geociências. Campinas, SP: [s.n.], 2017. Disponível em: 
http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/325519/1/Leitao_JoyceOliveira_
M.pdf. Acesso em: 21//02/2021. 
 
MAMIGONIAN, Armen. Tendências atuais da Geografia. Geosul, Florianópolis, v. 14, 
n. 28, p. 171-178, jul./dez. 1999. Disponível em: 
https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/15325. Acesso em: 25/02/2021. 
 
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 20. ed. São 
Paulo: Anablume, 1994. Disponível em: 
http://files.geografia19.webnode.com/200000003-
02b9b04359/Antonio_Carlos_Robert_Moraes_-_Geografia_-
_Pequena_Histori%20a_Critica_TEXTO_1_DE_FTP_GEOG_3%C2%BA_ANO_MARCI
ANA_(3).pdf. Acesso em: 21/02/2021. 
 
SANTOS, Milton. A natureza do espaço – Técnica e tempo. Razão e emoção. São 
Paulo: Hucitec, 1996. 
 
SUERTEGARAY, Dirce Maria Antunes. Espaço Geográfico uno e múltiplo. Scripta 
Nova – Revista Electrónica de Geografía Y Ciencias Sociales, Barcelona, v. 5, n. 
93, 2001. Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/sn-93.htm. Acesso em: 25/02/2021. 
 
TAVARES, Manuel. Epistemologias do Sul. Rev. Lusófona de Educação, Lisboa, n. 
13, p. 183-189, 2009. Disponível em: 
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S164572502009000100012. 
Acesso em: 18/02/2021. 
 
VIEIRA, Euripedes Falcão. A Geografia atual. Revista IHGRGS – Instituto Histórico e 
Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, n. 148, p. 73-80. 2013. Disponível 
em: https://seer.ufrgs.br/revistaihgrgs/article/view/57546. Acesso em: 25/02/2021. 
 
UNIDADE II 
 
NATUREZA E RELAÇÃO HUMANA 
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes 
 
 
Plano de Estudo: 
 
• Ação humana na natureza 
• Impacto da sociedade sobre a natureza. 
• Impacto da natureza sobre a sociedade. 
• Técnicas sustentáveis. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
• Contextualizar a ação humana na natureza a partir das transformações históricas 
ao longo do tempo 
• Compreender os impactos da sociedade sobre a natureza e da natureza sobre a 
sociedade 
• Estabelecer a importância da adesão de técnicas sustentáveis para a preservação 
ambiental 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezada(o) Aluna(o), seja bem vinda(o) a disciplina “Categorias e conceitos 
da Geografia”. É com grande satisfação e estima que te convido a compartilhar 
conhecimentos acerca das bases teóricas do pensamento geográfico. 
O presente material foi desenvolvido para introduzi-la(o) ao horizonte das 
discussões à respeito da Geografia enquanto ciência, portanto, é destinado à 
estudantes e pesquisadores interessadas(os) em compreender o processo 
histórico de constituição da ciência geográfica, cujo o objetivo é pensar 
epistemologicamente o espaço que vivemos, suas condições naturais, 
modificações territoriais e relações com as práticas e intervenções humanas. 
Durante a trajetória escolar, você certamente cursou Geografia e teve 
contato com diversos conceitos específicos dessa disciplina, como território, 
espaço, lugar e região. A apresentação que você tem em mãos (ou à vista por 
meio de arquivos digitais) pretende aprofundar esses conhecimentos, obtidos no 
seu percurso educacional no decorrer do Ensino Básico, à respeito da formação 
do pensamento geográfico e sua consolidação como ciência pertencente às 
Humanidades. 
A Unidade 2 “Natureza e Relação Humana” é composta por quatro tópicos 
que correspondem a um plano de estudo estruturado para que você possa obter 
conhecimento acerca da ação humana na natureza, do impacto da sociedade 
sobre a natureza, do impacto da natureza sobre a sociedade e das técnicas 
sustentáveis. 
Almejamos que esta unidade possa contribuir com sua aprendizagem, com 
a expansão do seu pensamento crítico e com o aprimoramento de suas 
habilidades cognitivas e investigativas em Geografia. 
 
 
Bons estudos! 
 
1 AÇÃO HUMANA NA NATUREZA 
 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/silhouette-farmer-raking-
earth-hoe-philosophical-1721503573 
 
O ser humano (taxonomicamente nomeado como Homo Sapiens), assim como as 
demais espécies animais, atua sobre a natureza com o objetivo de satisfazer suas 
necessidades de sobrevivência, buscando abrigo, proteção e alimentos para si e seu 
grupo. Contudo, como a única espécie animal viva de primata bípede do gênero Homo 
cujo o cérebro altamente desenvolvido o torna um animal racional, consciente e sapiente, 
o ser humano é capaz de pensar, refletir sobre suas ações, inventar, planejar, construir 
pensamentos e ideologias e gerar resultados, com isso, criar conhecimento e 
desenvolver técnicas e cultura. 
No início, a humanidade pouco interferia na natureza, pois vivia da coleta, da caça 
e da pesca. Ainda que de forma nômade, era a natureza que determinava a obtenção de 
recursos para a manutenção e sobrevivência de grupos humanos. De acordo com Milton 
Santos (2014), “[...] em cada momento histórico os modos de fazer sãodiferentes, o 
trabalho humano vai se tornando cada vez mais complexo exigindo mudanças 
correspondentes às inovações" (p. 74). 
Neste sentido, é a partir do agir e pensar humano no tempo e no espaço, que se 
dão as transformações históricas. Deste modo, por volta de 12 mil anos atrás, no período 
intitulado por Neolítico, o ser humano começou a domesticar os animais e a cultivar a 
terra ao mesmo tempo que passou a utilizar instrumentos fabricados a partir da 
descoberta da técnica da pedra polida, marco que possibilitou grandes transformações 
sociais e culturais para a humanidade, como uma maior autonomia perante as alterações 
climáticas da natureza e uma vida sedentária. 
As novas técnicas de domesticação de animais e cultivo de sementes foram 
responsáveis pelo desenvolvimento da agricultura e da pecuária, melhorando a 
expectativa de vida dos homens pré-históricos e contribuindo para o crescimento das 
taxas populacionais. O homem deixa de ser nômade, assentando-se na terra, 
apropriando-se da natureza e utilizando-a para satisfazer seus interesses. 
 
 
A presença do homem na face da Terra muda o sistema do mundo. 
Torna-se, o homem, centro da Terra, do Universo, imprimindo-lhe uma 
nova realidade com sua simples presença. O homem é um dado da 
valorização dos elementos naturais, físicos, porque é capaz de ação. Usa 
suas forças intelectuais e físicas contra um conjunto de objetos naturais 
que seleciona como indispensável para se manter como grupo. Assim o 
homem é sujeito, enquanto a terra é objeto. É em torno do homem que o 
sistema da natureza conhece uma nova valorização e, por conseguinte, 
um novo significado. (SANTOS, 2014, p. 98) 
 
A partir de então a natureza tem sido cada vez mais transformada de suas 
condições naturais, pois através de suas ações humanas é que florestas são derrubadas 
para plantar lavouras, morros deslocados para abrir túneis e enseadas niveladas para 
construir cidades. 
A ação humana nesse processo, exige cada vez mais conhecimentos sobre os 
elementos que compõem a natureza e suas dinâmicas de funcionamento, nutrindo a 
ideia de domínio do homem sobre a natureza. Atualmente esse ponto de vista é 
legitimado por grande parte da humanidade, pois prevalece em nós a ideia de que 
homem e natureza são opostos um do outro, onde o homem detentor de inteligência, 
domina a natureza para retirar dela tudo o que necessita para sobrevivência, e a 
natureza, por sua vez, é reduzida como despretensiosa e inesgotável fonte de recursos 
naturais. 
De acordo com Igor Moreira (2004), podemos definir o conceito de recursos 
naturais como: 
 
[...] todos os bens oferecidos ao homem pela natureza. Eles podem ser 
dois tipos: renováveis e não renováveis. Os recursos naturais não 
renováveis são aqueles que se esgotam depois de aproveitados pelo 
homem, como o carvão, o petróleo, o ferro e os demais minerais. Os 
recursos naturais renováveis são aqueles que se multiplicam ou não se 
esgotam facilmente, como a água, o ar e o solo, chamados pela sua 
importância de recursos básicos (MOREIRA, 2004, p. 11). 
 
Neste panorama, a conexão do homem com a natureza é continuamente 
decorrente do trabalho, este entendido como a operação de transformar recursos 
naturais em produtos capazes de satisfazer e suprir as carências humanas. 
1.1. As transformações técnicas e científicas 
 
 
Entendemos como técnica o modo de fazer algo por meio de instrumentos de 
trabalho utilizados na ação, logo, as intervenções na natureza e, consequentemente, as 
modificações nela introduzidas são realizadas através de instrumentos e ferramentas 
criadas para esse fim. Para Milton Santos (1996), a técnica é “a principal forma de relação 
entre o homem e a natureza”, sendo definida como “um conjunto de meios instrumentais 
e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria 
espaço” (p. 29). 
Ao desenvolver novas técnicas, o ser humano cria novos instrumentos, visando 
aumentar o rendimento do seu trabalho, motivado por interesses ou por alguma 
necessidade apresentada pelo meio. Em geral, as inovações técnicas conduzem a novos 
problemas, desafios e necessidade de resolvê-los, resultando na evolução da técnica, 
ou seja, na continuidade de novas formas do fazer humano. Um exemplo disso se dá na 
invenção do pneu, que ocorreu logo após a criação do automóvel, em 1887, pois havia 
a necessidade de uma roda adaptável a esse novo modelo de transporte. 
Gradativamente, os instrumentos utilizados para o trabalho vão se tornando mais 
complexos, pois além de serem instrumentos manuais empregados para a 
transformação de elementos naturais em produtos, as técnicas de engenharia, por 
exemplo, podem se desenvolver em grandes empreendimentos impostos a natureza, 
como referência à técnica de represamento das águas de um rio que cria uma queda 
d'água artificial, utilizada para obter a força hidráulica necessária ao funcionamento de 
uma hidrelétrica. 
 
Figura 1: represamento das águas de um rio para geração de energia em hidrelétrica 
 
FOTO 
 
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hydroelectric-power-plant-on-river-
475746370 
 
Desta forma, o aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho e as inovações 
técnicas, fixam desenvolvimento das engrenagens de tomada da natureza, significando 
grandes modificações e controle intenso sobre o meio natural. 
 
A intensificação da dominação do homem na natureza, assim como a pressa em 
desenvolver e difundir inovações técnicas, é marcada pelo início do modo de produção 
capitalista nos séculos XV e XVI. Anterior a isso, as relações econômicas eram 
praticamente de subsistência, os produtos artesanais eram fabricados manualmente e 
destinavam-se a utilização direta do homem, não possuindo valor de troca, mas sim, de 
uso. Na produção artesanal um mesmo trabalhador tinha o domínio de operar todas as 
fases produtivas. 
 
O homem vai construindo novas maneiras de fazer coisas, novos modos 
de produção que reúnem sistemas de objetos e sistemas sociais. Cada 
período se caracteriza por um dado conjunto de técnicas. Em cada 
período histórico, temos um conjunto próprio de técnicas e de objetos 
correspondentes. (SANTOS, 2014, p. 74). 
 
O modo de produção capitalista, buscando aumentar paulatinamente a produção 
de bens, entendida agora como mercadoria, promoveu a divisão do trabalho, nesse 
sistema cada tarefa é realizada por um trabalhador que se torna especialista na etapa 
do processo que desenvolve, gerando assim, etapas produtivas e a invenção de 
ferramentas específicas e adaptadas a cada categoria de trabalho. 
No século XIX, com a expansão da Revolução Industrial e intensificação do modo 
de produção capitalista, novas ferramentas adquiriram funções industriais, mecanizando 
o trabalho e produzindo mercadorias em grandes escalas. Com o aumento da 
produtividade, aumenta, consequentemente, o uso de matérias primas retiradas da 
natureza, impulsionando a exploração dos recursos naturais. Ainda, sobre as 
consequências da Revolução Industrial, Igor Moreira (2004) aponta: 
 
Fomentada por uma verdadeira corrida tecnológica e objetivando a 
acumulação de riqueza, a produção diversifica-se extraordinariamente, e 
os bens produzidos, inclusive os instrumentos de trabalho, tornam-se 
obsoletos em prazo cada vez mais curto, impondo sua substituição por 
outros mais “modernos”, isso ocasiona um consumo maior de recursos 
naturais, reforçado pela visão cada vez mais aprofundada da natureza 
como manancial à disposição dos homens (MOREIRA, 2004, p. 22). 
 
Faz-se necessário ressaltar que a concepção de supervalorizar a inteligência 
humana a serviço da técnica e exploração do meio natural, contribui para estabelecer a 
 
ideia colonizadora de que o controle do homem sobre a natureza tem possibilidades 
ilimitadas e que os recursos não se esgotam, partindo de uma ideia de dominação, 
universalizada por valores ocidentais impostos

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