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Jornada para o inferno


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Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus 
é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor." Romanos 6:23
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Jaãa Bunyan
(Autor de O Peregrino)
PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS
Rua 24 de Maio, 116 - 3o andar - salas 14-17 
01041-000-São Pau lo -SP
Journey to Hell
Copyright © 1999 by Whitaker House 
Título original em inglês: The Life and Death of Air fíadman 
Traduzido com permissão de:
Whitaker House 
1030 Hunt Valley Circle 
New Kensington, PA 15068, USA
Ia Edição - 2010 
Ia Reimpressão - 03/21
Publicado no Brasil com a devida autorização 
e com todos os direitos reservados por 
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Tradução: ( )dayr C llivetti 
Cooperador: Silas Roberto Nogueira 
Capa: Wirley Corrêa dos Santos 
Paginacão e diagramacão: Editorial PressO o O o
D ados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Bunyan, John, 1628-1688
Jornada para o inferno / John Bunyan ; tradução de O dayr Olivetti — 
São Paulo : Publicações Ivvangélicas Selecionadas, 2010.
ISBN: 978-85-63905-00-0 
Título original: Journev to hell
1. Ficção cristã 2. Literatura inglesa 3. Vida cristã - Ficção I. Título 
10-09901 CD D -828
índices para catálogo sistemático:
1. Ficção cristã : Literatura inglesa 828
mailto:sheddpublicacoes@uol.com.br
http://www.sheddpublicacoes.com.br
Jornada para o Inferno
João Bunyan
(Autor de O Peregrino)
Publicações Evangélicas Selecionadas 
Caixa Postal 1287 - São Paulo, SP - 01059-970 
www.editorapes.com.br
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Joumey to Hell
Copyright © 1999 by Whitaker House
Todos os direitos reservados.
Traduzido com permissão de:
Whitaker House 
1030 Hunt Valley Circle 
New Kensington, PA 15068, USA
Título original:
The Life and Death of Mr Badman
Todos os direitos de tradução e edição para a língua portuguesa reservados à 
Publicações Evangélicas Selecionadas - Editora PES. Nenhuma parte deste 
livro pode ser reproduzida sob qualquer meio impresso, eletrônico e digital 
sem autorização expressa dos editores.
Primeira edição: 2010 
Tradução: Odayr Olivetti 
Cooperador: Silas Roberto Nogueira 
Capa: Wirley Corrêa dos Santos 
Consultoria Editorial: Editorial Press 
Impressão e Acabamento: Imprensa da Fé
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bunyan, John, 1628-1688.
Jornada para o inferno / John Bunyan ; 
[tradução Odayr Olivetti]. — São Paulo : 
Publicações Evangélicas Selecionadas, 2010.
T ítu lo original: Journey to hell.
ISBN 978-85-63905-00-0
1. Ficção cristã 2. Literatura inglesa 3. Vida 
cristã - Ficção I. Título.
10-09901 CDD - 828
índices para catálogo sistemático:
1. Ficção cristã : L iteratura inglesa 828
índice
Ditos de João Bunyan........................................................... 6
Sobre o Autor: A Vida de João Bunyan................................ 7
Prefácio: O Autor Fala ao Leitor........................................ 21
1. As Consequências da Morte de um Homem Mau..........35
2. Um Menino Mau............................................................ 43
3. Aprendizado do Homem Mau sob um Mestre Piedoso..73
4. O Novo Mestre do Homem Mau................................. 103
5. Os Truques de um Negociante Perverso......................111
6. O Homem Mau Engana uma Boa Mulher................... 117
7. É Tirado o Disfarce do Homem Mau...........................125
8. O Homem Mau Usa a Falência para Ganhar Dinheiro 151
9. Os Procedimentos Fraudulentos do Homem Mau......171
10. Visão Cristã da Extorsão............................................... 187
11. Instruções aos Cristãos sobre Negócios........................ 197
12. O Pecado do Orgulho....................................................203
13. O Juízo de Deus sobre o Alcoolismo............................223
14. Falso Arrependimento..................................................229
15. A Volta do Homem Mau ao Pecado..............................235
16. A Morte de um Cristão................................................. 241
17. O Homem Mau Recebe o Castigo que Ele Merece.......249
18. Morte em Segurança Pecaminosa.................................255
19. Morte Difícil, Mas Tranquila....................................... 271
20. O Juízo Final................................................................ 283
Pensamento Final............................................................... 290
Ditos de João Bunyan
“O inferno seria uma espécie de paraíso, se não fosse pior 
do que o que há de pior neste mundo.”
“Seria considerado estulto o homem que desconsiderasse 
um juiz a quem coubesse julgar tudo o que ele possui. O
julgamento que temos diante Deus é de outra classe de✓
importância. E concernente à nossa felicidade ou miséria 
eterna, e ainda vamos afrontá-10?”
“Muitas vezes penso que os melhores cristãos se encontram 
nos piores tempos. E também penso que um motivo pelo 
qual não somos melhores é que Deus não nos expurga mais. 
Noé e Ló: quem foi tão santo como eles no tempo das suas 
aflições? E, contudo, quem foi tão ocioso como eles, no 
tempo da sua prosperidade?”
“Geralmente, em tempos de aflição desfrutamos das mais 
doces experiências do amor de Deus.”
“A oração fará o homem parar de pecar, ou o pecado instigará 
o homem a parar de orar.”
“Não abandone o culto público a Deus, para não suceder 
que Deus o abandone, não somente em público, mas 
também em privado.”
6
Sobre o Autor
A Vida de João Bunyan
Íoão Bunyan, nome com o qual todos os ouvidos estão 
familiarizados, nasceu em 1628 no vilarejo de Elstow, 
glaterra, situado dentro de uma milha de distância de 
Bedford. Para empregar suas próprias palavras, ele nasceu “de 
uma geração que era objeto de humilhante desconsideração”, 
pois seu pai seguiu a carreira universalmente desprezada de 
latoeiro (consertava panelas e frigideiras). Ao que parece, essa 
ocupação era mal vista naquele tempo, provavelmente devido 
a que a confraria de latoeiros não seguia regras ou princípios 
e os latoeiros em geral eram itinerantes. Mas o pai de João 
tinha estabelecido residência em Elstow e desfrutava de boa 
reputação na vizinhança.
Além disso, ele providenciou para que João frequentasse 
uma escola numa época em que era muito menos comum do 
que, felizmente, agora, os pais pertencentes a uma condição 
social inferior, fazerem uso das bênçãos da educação para 
seus filhos. João aprendeu a ler e a escrever, embora mais 
tarde tenha dito que “logo perdeu o pouco [que ele tinha] 
aprendido”.
Contudo, os seus escritos mostram claramente que sua 
memória tinha extraordinário e tenaz poder de retenção,
7
JORNADA PARA O INFERNO
e que as outras faculdades da sua mente eram saudáveis/
e vigorosas. E provável que a sua avaliação do que se 
lembrava da escola só reflita o juízo que, em consequência 
da sua conduta na juventude, levou Bunyan a perder todo o 
encanto pelo saber humano. Ele achava que isso não tinha 
acrescentado nada a seu parco estoque de conhecimento, até 
quando deixou de dissipar preciosos anos num modo de viver 
mau e inútil. O leitor poderá ver uma vivida e fiel narrativa 
das suas atividades quando jovem, e da extrema angústia 
que sentiu em consequência delas, em sua autobiografia 
espiritual intitulada Grace Abounding to the Chief of Sinners 
(Graça Abundante para o Pior dos Pecadores).
A Graça de Deus em Ação
Durante a primeira parte da sua vida, várias vezes Bunyan 
escapou extraordinariamente de perigo iminente. Duas vezes 
ele escapou por pouco de afogamento. E quando servia no 
exército parlamentar, um soldado pediu que Bunyan trocasse 
de posição com ele, e aquele homem recebeu “um tiro de 
mosquete na cabeça e morreu”. Posteriormente, recordava os 
fatos com profunda gratidãoao Deus preservador e paciente, 
que não o exterminara quando vivia em constantes pecados, 
mas que havia fundido a misericórdia com o juízo. Entre os 
atos divinos de misericórdia, não menor que os outros foi o 
fato de, quando era ainda jovem adolescente, “conquistou uma 
esposa” que tinha sido educada religiosamente. O exemplo 
e a conversação dela persuadiram Bunyan a frequentar 
regularmente a igreja de boa vontade, e a preferir a compa­
nhia dela junto à sua própria lareira a ir ao bar à companhia 
dos seus companheiros de bebidas.
O jovem casal “uniu-se tão pobre quanto pobre se pode ser, 
não tendo nenhum utensílio mais que um prato e uma colher 
entre [eles] dois”. Sua esposa tinha dois livros que trouxera 
para o seu casamento: The Plain Man’s Pathway to Heaven (O
8
A Vida de João Bunyan
Caminho do Homem Comum para o Céu) e The Practice of 
Piety (A Prática da Piedade).1 Estes livros tiveram significativa 
influência sobre o desenvolvimento espiritual de Bunyan.
Bunyan era jovem, sadio, e manteve um comércio pelo 
qual sempre pôde ganhar o suficiente para uma vida decente. 
Sua esposa tinha hábitos frugais, era laboriosa e tinha bom 
temperamento. Que mais era necessário para iluminar 
sua cabana, enchendo-a de paz e contentamento, exceto a 
presença da religião verdadeira em ambos?
Mas João ainda era um estranho à verdadeira piedade 
cristã. Ele tinha adquirido certo gosto por ir à igreja e um 
grande respeito, como ele descreve, “pela alta posição, pelo 
gabinete clerical, pelas vestes, pelo culto e por todas as demais 
coisas relacionadas à igreja”. Sua imaginação forte e ativa 
muitas vezes era poderosamente incitada por circunstâncias 
que causariam fraca impressão na mente das pessoas comuns. 
Mas ele continuava alheio à religião real.
Suas devoções eram tão formais quanto se pode imaginar, e 
muitas vezes não conseguiam manter quieta a sua consciência, 
muito embora sentisse certo prazer em voltar a elas. Suas 
noções religiosas eram por demais confusas e contraditórias. 
Pareciam acompanhadas por uma forte tendência para o 
misticismo e também para atrevida especulação.
V
As vezes ele achava que lhe eram ditas palavras vindas 
do céu. Outras vezes achava que eram apresentados novos 
e misteriosos objetos a seus sentidos. Ele se entregava à 
oração e à leitura da Bíblia com um infantil desejo de ser 
ensinado. Depois abandonava o seu estudo da Palavra 
para perder-se completamente em meio a especulações, 
demasiado elevadas para ele, sobre o assunto das leis 
divinas.
1 Por Lewis Bayly. Em português, A Prática da Piedade, tradução de Odayr 
Olivetti para Publicações Evangélicas Selecionadas (PES), 2009.
9
JORNADA PARA O INFERNO
Tempos de Desespero
V
As vezes um raio de luz e de esperança cruzava as trevas 
de sua alma atribulada, e ele achava que podia perceber 
o que lhe era razoável e oportuno fazer a fim de estar em 
paz consigo e com seu Deus. Noutras ocasiões as trevas da 
mais densa noite do desespero pareciam baixar sobre sua 
alma, e nessa medonha atmosfera ele declarava insanamente: 
“O estado em que me encontro é miserável, miserável se 
abandono os meus pecados, miserável se continuo a segui-los. 
Só posso ser condenado, e, se é preciso que seja assim, tanto 
faz eu ser condenado por muitos pecados ou por poucos”. 
Nessas condições, certa ocasião ele disse:
Parei no meio do meu jogo, diante de todos os 
que se achavam presentes, mas não lhes disse 
nada; mas, tendo chegado a essa conclusão, voltei 
desesperadamente a meu esporte. E me lembro bem 
de que, de fato, esse tipo de desespero tomou posse 
da minha alma de tal maneira, que fui persuadido 
de que jamais chegaria a ter outro conforto além 
do que eu obtinha do pecado, pois o céu já se me 
fora, de modo que eu não deveria pensar mais nele.
Por isso senti dentro de mim um grande desejo de 
encher-me de pecado, estudando que pecado ainda 
havia para cometer para que eu pudesse saborear 
sua doçura, para não suceder que eu morresse antes 
de ver cumpridos os meus desejos.
Um Homem Transformado
Desse miserável curso de ação ele foi resgatado de maneira 
extraordinária. Aconteceu que uma mulher, ela própria uma 
pessoa de mau caráter, ralhou com ele por ter praguejado. Ela 
lhe disse que ele “era o homem mais ímpio que ela ouvira
10
A Vida de João Bunyan
em toda a sua vida” e capaz de corromper toda a juventude da 
cidade. A crítica chocou-o com tanta força que daquela hora 
em diante começou a descontinuar o pecado de praguejar. 
Também se comprometeu a voltar a ler a Bíblia. Sua conduta 
mudou tanto, que os seus vizinhos começaram a vê-lo como 
uma pessoa completamente transformada.
Antes ele tinha grande prazer em tocar os sinos da igreja. 
Com sua consciência tornando-se cada vez mais sensível, 
passou a achar que “essa prática era simplesmente vã”. 
Abandonou esse divertimento, e também deixou de dançar, 
considerando a dança uma recreação traiçoeira e frívola. Um 
espírito legalista tomou posse dele; ele começou a pensar 
que “nenhum homem da Inglaterra podia agradar a Deus 
melhor” do que ele. Não tinha consciência da necessidade de 
uma mudança mais profunda e mais poderosa do coração e 
da natureza do que a mudança que ele tinha experimentado. 
Contudo, sentia alguma desconfiança e certa intranquilidade 
quanto à sua real situação aos olhos de Deus. Como aconteceu 
que ouviu sem querer algumas mulheres piedosas falarem 
sobre a regeneração, afinal ficou convencido de que as suas 
idéias sobre a religião eram muito defeituosas - foi persuadido 
de que lhe “faltavam os genuínos sinais de um homem 
verdadeiramente piedoso”.
As mulheres a quem Bunyan ficou sendo devedor por 
sua nova luz eram membros de uma pequena congregação 
batista em Bedford, cujo pastor era John Gifford. Sobre esse 
bom homem, o Sr. Ivimey, disse em sua History ofthe English 
Baptists (História dos Batistas Ingleses):
Aparentemente, os seus trabalhos restringiam- 
-se a um estreito círculo, mas os seus efeitos se 
estenderam muito amplamente, e não deixarão de 
existir quando o tempo não mais existir. Aludimos 
ao fato de ele ter batizado e introduzido na igreja o 
ímpio latoeiro de Elstow. Gifford foi, sem dúvida,
11
JORNADA PARA O INFERNO
o honrado evangelista que encaminhou Bunyan 
para a “Wicketgate” (porta estreita) pela instrução 
que lhe deu no conhecimento do evangelho, 
conduzindo-o das trevas para a luz, e do poder de 
satanás para Deus. Mal podia imaginar que um 
tal vaso escolhido, fora enviado para a sua casa, 
quando abriu a porta para deixar entrar o pobre, 
depravado e desesperado Bunyan.
s
E um exagero afirmar que o Sr. Gifford foi o instrumento 
da conversão de Bunyan; todavia que a sua conversão e a 
sua pregação foram grandemente abençoadas para o outrora 
“ímpio latoeiro de Elstow”, temos a melhor autoridade para 
acreditar.
Bunyan suportou interiormente grande agitação de 
alma, não somente por causa da sua própria consciência 
de pecado, mas também por causa das conversas de alguns 
antinomianos (que ensinavam que o perdão de Cristo elimina 
a necessidade de leis), em cuja companhia ele andava. Mas 
Bunyan já tivera estudado as Escrituras diligentemente e 
com fervente oração e, com a bênção do Espírito de Deus, 
ele obteve um lugar de repouso para seu espírito atribulado 
na garantia bíblica de que “ninguém que confia em Deus 
será confundido”. (Ver Isaías 45:17 e Salmo 25:20).
Designado para pregar
Em 1655, Bunyan, então com vinte e sete anos de idade, 
foi admitido como membro na igreja do Sr. Gifford. Logo 
depois, a morte privou a igreja de seu pastor e o jovem 
irmão, tão recentemente admitido à sua comunhão, depois 
de algumas provas das suas qualificações, foi chamado para 
encarregar-se do ofício de pregador ou exortador ocasional 
entre eles. Acerca dessa incumbência, Bunyan escreveu:
12
A Vida de João Bunyan
Alguns dos santos mais capazes entre nós, isto é, os 
mais capazes de julgamento e de santidade no viver, 
como eles o concebiam, perceberam que Deus mehavia considerado digno de entender algo da Sua 
vontade em Sua santa e bendita Palavra, e me dera 
alguma capacidade de comunicação para expressar 
o que aprendi para edificação de outros. Por isso 
me quiseram, e com muita insistência, desejando 
que eu me dispusesse a incumbir-me de lhes 
dirigir, algumas vezes, uma palavra de exortação. 
Embora isso tenha causado, a princípio, muito 
temor e vergonha a meu espírito, em face do seu 
insistente desejo e pedido, atendi à sua solicitação.
Assim que Bunyan começou a pregar, vinham pessoas de 
toda parte da região para ouvi-lo. Tal foi o visível sucesso 
do seu ministério que dentro de pouco tempo, “após solene 
oração e jejum”, ele foi separado de maneira especial pela 
igreja para o exercício regular de um ministério itinerante 
em Bedford e vizinhança.
No início do seu ministério, ele tratou principalmente 
dos terrores da lei. Sobre esse aspecto da sua pregação, ele 
escreveu:
Esta parte do meu trabalho eu cumpri com viva 
consciência, pois eu pregava o que eu sentia 
vividamente, ao ponto de minha pobre alma gemer 
e tremer de espanto sob o seu peso. Eu mesmo ia 
preso pregar a ouvintes encarcerados, e levava 
em minha consciência aquele fogo do qual eu os 
persuadia a experimentar.
À medida que o seu horizonte espiritual foi se aclarando, 
sua pregação passou a ter melhor tom. Agora trabalhava, 
“ainda pregando o que via e sentia, para pregar Cristo, “o
13
JORNADA PARA O INFERNO
amigo do pecador, conquanto inimigo eterno do pecado”, e 
para persuadir os seus ouvintes a se apoiarem inteiramente na 
obra e nos ofícios de Cristo. Ele estabeleceu como o objetivo 
dominante dos seus sermões “remover os falsos suportes e 
escoras nos quais o mundo se apoia e devido aos quais cai e 
perece”.
Um Escritor Dedicado
Agora Bunyan tinha uma constante esfera de atividades 
e de abundante utilidade aberta para ele. Com sua energia 
característica, ele procurava preenchê-la, não somente 
com a pregação da Palavra, mas também com a publicação 
de breves tratados religiosos. Sua primeira publicação foi 
intitulada Some Gospel Truths Opened according to the Scriptures 
(Algumas Verdades do Evangelho Expostas de Acordo com 
as Escrituras). A esse tratado John Burton, sucessor do Sr. 
Gifford no ministério regular da igreja de Bedford, prefixou 
uma carta de recomendação. Burton escreveu:
Tenho, com muitos outros santos, experiência da 
firmeza na fé demonstrada por este homem, da 
sua conversação piedosa, e da sua capacidade para 
pregar o evangelho, não por arte humana, mas pelo 
Espírito de Cristo, e isso com muito sucesso na 
conversão de pecadores. Sim, e digo mais: tendo 
experimentado isso e considerando que este livro 
pode ser proveitoso para muitos outros como tem 
sido para mim, penso que é meu dever, em face 
disso, dar testemunho, com o meu irmão, seu autor, 
das claras e simples, e contudo gloriosas, verdades 
do nosso Senhor Jesus Cristo.
O que particularmente deu ocasião a esse tratado
14
A Vida de João Bunyan
parece que foi a oposição que Bunyan experimentou 
à sua pregação por parte de alguns quacres que lhe 
disseram que ele “fazia uso de magia e bruxaria”, e 
que ele “pregava um ídolo, porque dizia que o Filho 
de Maria estava no céu com o mesmo corpo que fora 
crucificado na cruz”. Contra essas acusações e em 
defesa das suas idéias sobre o ensino das Escrituras 
concernente à morte, ressurreição, ascensão e mediação 
de Cristo, Bunyan argumentou com grande vigor, como 
também com clareza de raciocínio e com muito menos 
aspereza e falta de polidez do que se poderia antecipar 
pelo temperamento e pela educação do homem, e pelo 
caráter dos tempos nos quais ele escreveu.
Sua linguagem é idiomática, mas pura em extraordinário 
grau, para o primeiro esforço de composição feito por um 
homem que não tivera a necessária escolaridade. Uma réplica 
ao panfleto de Bunyan foi publicada por um tal de Edward 
Burroughs com o título de The True Faith ofthe Gospel of Peace 
Contended For in the Spirit of Meekness (A Verdadeira Fé do 
Evangelho da Paz Defendida com Espírito de Mansidão). 
Foi uma produção declamatória e injuriosa, mas Bunyan 
deu-lhe resposta. Burroughs outra vez lhe replicou, e então 
a controvérsia acabou.
Sentenciado à Prisão
Em 1657, Bunyan foi indiciado por pregar em Eaton. 
Nada resultou disso, se bem que o Dr. Robert Southey, um 
biógrafo de Bunyan, labutou no sentido de provar a existência 
de um espírito extremamente perseguidor naquele tempo, na 
Commonwealth Britânica. Contudo, poucos meses depois da 
Restauração {da realeza}, foi emitido um mandado de prisão 
contra Bunyan, e ele foi preso em Samsell, Bedfordshire, e 
levado à presença do juiz Wingate. Quando Bunyan se recusou 
a abster-se de pregar, foi entregue à prisão de Bedford. Na
15
JORNADA PARA O INFERNO
quarta sessão do tribunal, a acusação contra ele dizia:
João Bunyan, da cidade de Bedford, trabalhador 
braçal, diabólica e perniciosamente deixara de vir 
à igreja para ouvir o culto divino e foi um comum 
mantenedor de diversas reuniões ilegais e de 
conventículos [reuniões religiosas secretas, não 
sancionadas por lei], causando grande perturbação 
e distração aos bons súditos deste reino, con­
trariamente às leis do nosso senhor soberano, o 
rei.
Com base nessa acusação ridícula, ele foi devolvido à 
prisão por três meses, e foi informado de que, se no fim desse 
período não se sujeitasse a frequentar a igreja e a deixar de 
pregar, seria banido do reino.
Uma Esposa Fiel
Nessa época Bunyan era pai de quatro crianças geradas 
de sua esposa. Maria, sua filha mais velha, tinha nascido 
cega. Um ano após a morte da sua primeira esposa, ele 
se casou novamente. Estava próximo o nascimento do 
primeiro filho do segundo casamento. A notícia da prisão 
de Bunyan e da perspectiva do seu iminente banimento 
afetou-a tanto que ela teve parto prematuro de um 
natimorto. Apesar disso, no meio dessa complicação toda, 
essa nobre mulher lutou arduamente para conseguir a 
libertação do marido. Com singeleza de coração, ela viajou 
para Londres, para fazer uma petição à Casa dos Lordes pela 
libertação do marido, mas foi orientada a fazer um apelo 
aos juizes na audiência judicial. Voltou então para casa e, 
com modéstia e com “o coração trêmulo”, apresentou sua 
solicitação aos juizes, na presença de muitos magistrados 
e de muitas pessoas da nobreza do condado. Um desses
16
A Vida de João Bunyan
nobres era Sir Matthew Hale, mas ele balançou a cabeça e 
se declarou incapaz de fazer alguma coisa pelo seu marido.
“Seu marido vai parar de pregar?”, perguntou o juiz 
Twisden. “Se for parar, pode mandar buscá-lo.”
“Meu senhor”, replicou a corajosa mulher, “ele não ousará 
parar de pregar enquanto puder falar.”
Sir Matthew ouviu-a com tristeza, mas Twisden zombou 
dela brutalmente e lhe disse que a pobreza era o seu manto.
“Sim”, observou ela, “e porque ele é um latoeiro, e pobre, 
por isso é desprezado e não lhe podem fazer justiça.” Elizabeth 
Bunyan concluiu sua narrativa dessa entrevista com estas 
palavras:
Embora eu estivesse um tanto temerosa logo que 
entrei no recinto, todavia, antes de sair não pude 
conter as lágrimas - não tanto porque eles foram 
tão duros de coração contra mim e contra o meu 
marido, mas porque não pudedeixar de pensar no 
triste relato que aquelas pobres criaturas terão que 
apresentar na Vinda do Senhor.
Um Confinamento Produtivo
Bunyan ficou doze anos na prisão, mas, ocasionalmente, 
durante esse período, com a conivência do carcereiro, 
foi-lhe permitido sair furtivamente de noite. Uma vez 
ele até pôde fazer uma visita aos cristãos de Londres. Foi 
durante esse longo encarceramento, período no qual, num 
sentido, desperdiçou a flor da sua idade no confinamento, 
e teve como únicos livros a Bíblia e Foxe’s Book of Martyrs 
(Livro dos Mártires de Foxe), que Bunyan escreveu a sua 
obra imortal, The Pilgrirrís Progress (O Peregrino), além de 
muitos outros tratados que têm dado muita instrução ao 
povo de Deus.17
JORNADA PARA O INFERNO
Livre da Prisão
Durante o último ano que passou no cárcere (1671), 
Bunyan foi eleito pastor da Igreja Batista de Bedford. Ao 
que parece, foi-lhe permitido frequentar as reuniões da 
igreja nos últimos quatro anos do seu aprisionamento. Sem 
dúvida, sua palavra era considerada garantia suficiente de 
que todas as noites voltaria para a prisão.
Finalmente, foi ordenada a sua soltura. Consta que Barlow, 
bispo de Lincoln, interferiu em favor de Bunyan. Logo depois 
que ele foi posto em liberdade, foi construída uma nova 
capela em Bedford, onde ele pregou a grandes auditórios 
durante o resto da sua vida.
Uma vez por ano ele visitava Londres, onde pregava 
com grande aceitação, geralmente na casa de reuniões de 
Southwark. Também costumava fazer extenso trabalho 
itinerante nos condados circunvizinhos. Dizem que o Dr. 
Owen sempre estava entre os seus ouvintes metropolitanos. 
Quando o rei Charles II perguntou a Owen como um 
homem culto como ele podia sentar-se para ouvir um 
latoeiro iletrado, o grande erudito e teólogo respondeu: 
“Queira Vossa Majestade saber que, se eu pudesse ter as 
habilidades para pregar que esse latoeiro tem, eu com todo 
o prazer renunciaria a todo o meu saber”.
O autor do primeiro esboço biográfico de Bunyan descreve 
o seu caráter e a sua aparência pessoal desta maneira:
Sua fisionomia dava a impressão de um 
temperamento severo e rude, mas em sua 
conversação, branda e afável, ele não era dado 
à loquacidade ou a discursar muito, quando em 
grupo, a não ser que alguma ocasião urgente 
o exigia. Nunca foi visto jactar-se de si ou dos 
de sua parte, mas, antes, ele se deixava ver de
18
A Vida de João Bunyan
baixa condição e submeter-se ao juízo de outros. 
Detestava mentir e jurar. Era justo em tudo sobre 
o que estava em seu poder pronunciar-se. Não se 
via Bunyan revidar ofensas. Gostava de conciliar 
divergências e de fazer com que todos fossem 
amigos uns dos outros. Tinha olhos penetrantes e 
ágeis, acompanhados de uma excelente capacidade 
de discernir pessoas, sendo dotado de bom critério 
de julgamento e de espírito arguto. Quanto à sua 
pessoa, era de alta estatura; tinha forte estrutura 
óssea, mas não era corpulento. O rosto era um 
tanto rude, e seus olhos rebrilhavam. Usava bigode 
à antiga moda britânica. Seu cabelo era um tanto 
ruivo, mas, nos últimos tempos da sua vida, eram 
salpicados de cinza. Seu nariz retilíneo indicava 
espírito resoluto. Sua boca era moderadamente 
grande, sua testa era larga. E seu hábito,2 sempre 
simples e modesto.
Sua Obra Continua Viva
Pouca coisa foi registrada sobre o resto da vida de Bunyan. 
Não se sabe se ele sofreu novamente por não violar sua 
consciência, quando o espírito de perseguição reviveu e se 
acalorou contra o povo do Senhor na última parte do reinado 
de Charles. João Bunyan morreu em Londres no dia doze de 
agosto de 1688, de febre que o acometeu por ter ficado exposto 
a chuva. Foi sepultado no cemetério da igreja de Bunhill 
Fields, Londres. Sua viúva viveu mais quatro anos. Os nomes 
de alguns dos seus descendentes aparecem nos livros da 
Igreja Batista de Bedford, mas o seu último descendente 
conhecido, uma mulher, Hannah Bunyan, sua bisneta, morreu 
em 1770, com setenta e seis anos de idade.
2 Sua roupa. Nota do tradutor.
19
JORNADA PARA O INFERNO
Em 1692, ano da morte de Elizabeth Bunyan, as obras 
do seu marido, coligidas, foram publicadas em dois volumes 
in-fólio por Ebenezer Chandler, seu sucessor no ministério 
de Bedford, e John Wilson, um colega de ministério. Esses 
volumes contêm cerca de sessenta peças de vários graus 
quanto a seus méritos, todas ricamente impregnadas da 
unção de uma profunda e fervorosa piedade.
(Escorço adaptado das notas introdutórias do Reverendo 
Thomas Scott do livro Bunyan’s Whole Allegorical Works [Obras 
Alegóricas Completas de Bunyan] Glasgow: Fullarton, 1840.)
20
Prefácio
O Autor Fala ao Leitor
Dileto Leitor,
Quando eu estava considerando o que escrevi em The 
Pilgrim’s Progress (O Peregrino) acerca da viagem de 
alguém que vai deste mundo para a glória, e considerando 
que esse livro tem sido útil para muitos, ocorreu-me escrever 
acerca da vida e morte do ímpio, e das suas idas e vindas em 
sua viagem deste mundo para o inferno. Como você verá, fiz 
isso neste livro intitulado Jornada para o Inferno (Journey to 
Hell), título muito apropriado para tal assunto. Escrevi esta 
alegoria como um diálogo para que me seja mais fácil contar 
a história e alimentar a esperança de que você goste dela. 
Embora eu tenha criado a conversa entre os dois personagens, 
procurei manter-me fiel à realidade. E um fato que o que estes 
personagens fictícios relatam tem sido apresentado no palco 
deste mundo muitas vezes - até diante dos meus olhos.
Apresento-lhe aqui, então, cortês leitor, a vida e a morte 
do Sr. Mau. Eu o sigo em sua vida, desde a sua meninice até 
sua morte, para que você observe com seus próprios olhos, 
como num espelho, os passos que levam ao inferno, e também 
para que você possa discernir, enquanto lê sobre a morte 
do Sr. Mau, se não se dá o caso de que você está seguindo o 
mesmo caminho.
21
JORNADA PARA O INFERNO
Permita-me implorar a você que se refreie e não ria nem 
zombe porque o Sr. Mau morreu. Em vez disso, pergunte 
seriamente a si mesmo se você não pertence à linhagem do 
Sr. Mau, pois ele deixou atrás muitos parentes. De fato, o
s
mundo está infestado de membros da sua família. E verdade 
que alguns dos seus parentes já partiram para seu domicílio 
eterno, como ele próprio, mas milhares de milhares foram 
deixados atrás, e estes incluem irmãos, irmãs, primos, 
sobrinhos e numerosos amigos e associados. Posso dizer, e é 
a pura verdade, que dificilmente haverá uma confraria, uma 
comunidade, uma família ou um clã neste mundo em que o 
Sr. Mau não tenha deixado um irmão, um sobrinho ou um 
amigo.
Portanto, o alvo que miro é amplo. Para este livro será tão 
impossível ir a várias famílias e não capturar alguns, como 
para oficiais do governo invadir um antro de traidores e só 
achar ali pessoas honestas. Só posso pensar que este livro 
atingirá muitos, visto que os nossos campos estão repletos 
deste tipo de caça. Quantos o tiro matará dos seguidores do 
Sr. Mau, e quantos despertará e sensibilizará para o progresso 
do peregrino, não posso determinar. Este segredo está 
unicamente com o Senhor nosso Deus, e somente Ele sabe 
a quem abençoará para que alcance um fim tão bom e tão 
favorável. Contudo, pus fogo na panela, e não tenho dúvida 
de que o estampido logo será ouvido.
Eu já lhe disse que o Sr. Mau deixou atrás, neste mundo, 
muitos dos seus amigos e parentes. Se eu sobreviver a eles, o 
que ainda está para se ver, também poderei escrever sobre as 
vidas deles. Todavia, seja a minha vida longa ou breve, esta é a 
minha oração no presente: queira Deus levantar testemunhas 
contra aqueles para que os convertem ou os destruam, pois 
onde quer que vivam e chafurdem em sua iniquidade, são 
uma peste e uma praga.
A Inglaterra já estremece e oscila sob o fardo que o 
Sr. Mau e os seus amigos impiamente lançaram sobre ela.
22
O Autor Fala ao Leitor
Sim, a nossa terra vacila e cambaleia para lá e para cá como 
um bêbado (Ver o Salmo 107:27) devido ao peso das suas 
transgressões.
Amável leitor, justo agora que paramos à porta desta casa, 
eu o aviso de que o Sr. Mau está morto lá dentro. Portanto, se 
você pode dispor de um tempo para isso, queira entrar e ver 
o estado em que ele está, entre o leito de morte e o túmulo. 
Ainda não foi enterrado, nem cheira mal, como certamente 
acontecerá antes de cair no esquecimento. Assim como outros 
tiveram os seus funerais celebrados de acordo com sua fama 
e grandeza no mundo, assim também o Sr. Mau vai ter os 
seus funerais de acordo com os seus feitos na terra. Nem ele 
merece ser enterrado em silêncio (Salmo 31:17).
Quatro práticas convencionais são comuns nos funerais 
dos grandes homens. Espero aludir a esses costumes nosfunerais do Sr. Mau, sem causar ofensa.
Primeiro, os mortos às vezes são apresentados aos seus 
amigos com suas imagens completamente adornadas, tão vivas 
como o podem fazer mãos hábeis. Esse ato é realizado para que 
a lembrança deles seja renovada para os seus sobreviventes - 
a lembrança deles e dos seus feitos. Esforcei-me para incluir 
uma descrição física em minhas memórias do Sr. Mau; por 
isso descrevi suas características e suas ações desde a sua 
infância até quando já era grisalho. Portanto, aqui você o tem 
retratado vividamente em estágios - infância, flor da juventude 
e maturidade, junto com aqueles feitos da sua vida que ele 
realizava costumeiramente em suas correntes circunstâncias 
de tempo, lugar, força e oportunidade.
Segundo, também é costume, nos funerais de grandes 
homens, exibir seus escudos e insígnias de honra, que re­
ceberam dos seus ancestrais ou dos quais eles são considerados 
merecedores pelos feitos e proezas que realizaram em suas 
vidas. O Sr. Mau tem sua coleção, porém suas laureas diferem 
das recebidas por homens de valor, pois o seu brasão ostenta 
falta de méritos em suas ações. Suas honras decaíram, e ele
23
JORNADA PARA O INFERNO
veio a ser “um renovo abominável” (Isaías 14:19) em sua árvore 
genealógica. Seus merecimentos são o prêmio do pecado. 
Então, o seu brasão rememora apenas que ele morreu sem 
honra, “e no seu fim (se fez) um insensato” (Jeremias 17:11). “Com 
eles (com os mortos honrados) não te reunirás na sepultura...: a 
descendência dos malignos não será nomeada para sempre” (Isaías 
14:20). Consequentemente, a pompa dos funerais do Sr. Mau 
constará tão somente das insígnias de uma vida desonrosa 
e iníqua, visto que os “seus ossos estão cheios do pecado da sua 
juventude, que com ele se deitará no pó” (Jó 20:11, tradução 
direta).
Tampouco fica bem que pessoas lhe deem assistência 
agora, em sua morte, exceto aquelas que conspiraram contra 
as suas próprias almas durante as suas vidas - pessoas cujas 
transgressões as tornaram infames aos olhos de todos os que 
sabem ou saberão o que elas fizeram. Indiquei para o leitor, 
aqui, neste pequeno discurso, os que foram os associados dele 
em sua vida, e seus assistentes em sua morte. Dei a entender 
algo da grande vilania cometida por eles, como também os 
juízos que os surpreenderam e que caíram sobre eles, da justa 
e vindicatória mão de Deus. Conheço todas estas, ou como 
testemunha ocular, ou porque recebi informação de fontes 
fidedignas, em cujos relatos tenho que acreditar.
Terceiro, os funerais de pessoas de destaque foram 
solenizados com sermões apropriados nas ocasiões e nos locais 
do seu sepultamento, mas ainda não cheguei a esse assunto 
em relação ao Sr. Mau; mencionei apenas a sua morte. Visto 
que tem que ser sepultado, depois de feder diante dos seus 
espectadores, não tenho dúvida de que alguns daqueles a 
respeito dos quais lemos que são designados para estar no 
enterro de Gogue farão esse trabalho em meu lugar. (Ver 
Ezequiel, capítulo 39.). Não deixarão nem pele nem ossos 
acima do solo, mas levantarão junto dele “um sinal, até que os 
enterradores o enterrem no vale da multidão de Gogue” (Ezequiel 
39:15).
24
O Autor Fala ao Leitor
Quarto, geralmente ouvimos lamentos nos funerais, 
mas outra vez o funeral do Sr. Mau é diferente dos demais. 
Seus amigos não podem lamentar sua partida, pois não se 
apercebem do seu estado condenável. Em vez disso, eles 
celebram com música e canto sua ida para o inferno no 
sono da morte. Os homens bons não o consideram perda 
para o mundo. Seu local de trabalho fica melhor sem ele.
s
Sua perda é somente dele próprio. E tarde demais para que 
ele se recupere do dano sofrido, ainda que derramando um 
mar de lágrimas sangrentas, mesmo que ele fosse capaz de 
derramá-las. Quem, então, o pranteará, dizendo: “Oh, meu 
irmão!”? Ele nada mais foi do que uma pútrida erva daninha 
em sua vida, e nada melhor que isso em sua morte. Os seus 
semelhantes poderiam muito bem ser lançados muro abaixo 
sem tristeza (Ver 2 Samuel 20:21,22; 2 Reis 9:30-33), uma 
vez que Deus, em Sua ira, os arrancou pelas raízes (Judas, 
versículo 12).
Leitor, se você é da raça, da linhagem, do tronco ou da 
irmandade do Sr. Mau, digo-lhe, antes de ler este livro, que 
você não vai tolerar nem o autor nem o que ele escreveu sobre 
o Sr. Mau. Porquanto aquele que condena os ímpios que 
morrem, também passa a sentença sobre os ímpios que vivem; 
por isso não espero seu crédito nem sua aprovação por esta 
narração da vida daquele com quem você tem tanta afinidade. 
Pois o seu velho amor por seu amigo, seus caminhos e 
seus atos despertarão em seu coração inimizade contra mim. 
Imagino que você vai ficar com raiva e vai rasgar, queimar 
ou atirar para longe este livro. Pode ser que você até queira 
que, por eu ter escrito uma verdade tão notória, eu tope com 
algum malefício em meu caminho. Só posso pensar que você 
acumule desdém, escárnio e desprezo contra mim; que você me 
faça mal e me calunie, dizendo que eu sou um difamador das 
vidas e mortes de homens honestos. Não espero outra coisa, 
porque o Sr. Mau, quando vivo, não tolerava ser chamado de 
vilão, apesar de seus atos dizerem a todo o mundo que ele o
25
JORNADA PARA O INFERNO
era. Como, então, seus amigos que lhe sobrevivem e que 
seguem em seus passos poderiam aprovar a sentença que 
por este livro é pronunciada contra ele? Certamente eles 
vão me censurar por condená-lo, e vão imitar os amigos de 
Coré, Datã e Abirão que acusaram falsamente Moisés de 
cometer injustiça. (Ver Números 16:1-33 {notar o versículo 
41».
Sei que é perigoso “pôr a mão na cova do basilisco 
[víbora]” (Isaías 11:8) e que é arriscado caçar porco 
selvagem. Igualmente, o homem que escreve sobre a 
vida do Sr. Mau precisa ser protegido com um escudo 
e com uma lança pontiaguda, para que os seus amigos 
que continuam vivos sejam menos capazes de causar 
dano ao escritor, mas eu me aventurei a contar a história 
sobre ele e desempenhar o meu papel, desta vez, na cova 
dessas áspides. Se morderem, que mordam; se picarem, 
que piquem. Cristo envia Suas ovelhas “ao meio de lobos” 
(Mateus 10:16), não para agirem como lobos, mas para 
sofrerem por meio deles, para darem claro testemunho 
contra suas más ações. Todavia, será que não precisamos 
andar custodiados por uma guarda e ter um posto de 
sentinela à porta para proteção? Na verdade, a carne se 
alegraria em ter tal ajuda, como foi com Paulo quando 
os judeus conspiraram para matá-lo e o comandante 
frustrou o complô. (Ver Atos, capítulo 23.) Entretanto 
eu me vejo despojado de suporte, e, contudo, tenho 
ordem de ser fiel em meu serviço pela causa de Cristo.
Bem está, pois. Falei o que falei, e agora “venha sobre mim/
o que vier” (Jó 13:13). E certo que as Escrituras dizem: 
“O que repreende o escamecedor, toma afronta para si; e o 
que censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o 
escamecedor, para que te não aborreça” (Provérbios 9:7,8). 
Mas, e então? “Melhor é a repreensão franca do que o amor 
encoberto” (Provérbios 27:5), e aquele que a recebe verá 
que é isso mesmo.
26
O Autor Fala ao Leitor
Assim, pois, se os amigos do Sr. Mau se enraivecerem ou 
rirem pelo que escrevi, eu sei que a vitória é minha. O meu 
esforço visa deter o curso infernal de alguma vida e “salvar 
da morte uma alma” (Tiago 5:20). E, se por agir assim eu me 
defrontar com maldade da parte daqueles dos quais seria 
razoável eu receber agradecimentos, devo lembrar-me do 
homem que, num sonho, abriu caminho em meio a seus 
inimigos armados, e assim entrou no belo palácio (referência 
a O Peregrino); devo, reitero, lembrar-me dele e fazer o que 
ele fez.
Contudo, ofereço quatro coisas aos amigos do Sr. Mau 
para que as considerem, antes de me despedir deles.
Suponhamos que existe realmente um inferno - não que eu 
ponha em dúvida sua existência; creio tanto em sua existência 
como creio no sol que nos ilumina. Mas digo isso como um 
modo de argumentar com os amigos do Sr. Mau.Digo, pois: 
suponhamos que existe um inferno, tal como as Escrituras 
falam dele, um inferno situado na mais remota distância de 
Deus e da vida eterna. Um inferno onde o verme de uma 
consciência culpada nunca morre e onde o fogo da ira de 
Deus nunca se apaga (Isaías 66:24). Suponhamos, digo, 
que o inferno é uma realidade - como de fato é - e que foi 
preparado por Deus para nele o corpo e a alma dos ímpios 
serem atormentados depois desta existência. Suponhamos 
que o inferno é real, e então me diga se ele foi preparado 
para você, se você é ímpio. Que sua consciência fale! Foi 
preparado para você? E você acha que, se estivesse lá agora, 
poderia brigar com o julgamento dado por Deus? Por que 
será, então, que os anjos caídos tremem lá? (Ver Isaías 
24:21,22.) Suas mãos não terão forças, nem seu coração 
resistirá naquele dia em que Deus der a você o devido 
tratamento (Ezequiel 22:14).
Suponhamos que a um pecador que agora é uma alma no 
inferno fosse permitido vir à terra para ter uma nova vida, 
e que ele tivesse a garantia de que, tendo corrigido o seu
27
JORNADA PARA O INFERNO
modo de viver, na próxima vez que morresse poderia trocar 
seu terrível lugar pelo céu e pela glória. Que é que você diz, ó 
ímpio? Você acha que alguém seguiria o mesmo curso de vida 
que seguia anteriormente e se arriscaria a ser condenado de 
novo pelos mesmos pecados nos quais se havia envolvido 
antes? Acha que ele escolhería seguir o curso de vida que 
acendería novamente as chamas do inferno para ele, e que 
imporia sobre ele a pesada ira de Deus? Ele não faria isso. 
Não faria mesmo! As Escrituras dão a entender isso (Ver 
Lucas 16:19-31). A própria razão tremería e repudiaria tal 
pensamento.
Suponhamos também que você, que vive e tem prazer em 
seu pecado, ainda não experimentou nada, senão os prazeres 
do pecado. Imagine que um anjo o levasse a um lugar de 
onde pudesse ver facilmente os gozos do céu e os tormentos 
do inferno. Suponhamos que dessa posição você tivesse uma 
visão que o convencesse plenamente da realidade do céu e 
do inferno, como a Palavra o declara. Você acha que, quando 
voltasse para casa, escolheria a vida anterior, isto é, escolhería 
voltar à sua loucura? Não! Se a crença que tal visão lhe deu 
permanecesse em seu coração, você preferiría comer fogo 
e enxofre a continuar vivendo nos enganosos prazeres do 
pecado.
Faço mais uma sugestão. Suponhamos que houvesse 
uma lei e um oficial capaz de impor a seguinte punição por 
todas as iniquidades que você cometeu: que uma parte da 
sua carne fosse arrancada dos seus ossos com fortes pinças 
em brasa. Você continuaria em seu atrevido costume de 
mentir, praguejar, beber e se prostituir como gosta de fazer 
atualmente? Certamente de não! O medo da punição faria 
você refrear-se, faria você tremer, por mais poderosa que seja 
a sua concupiscência. Certamente você pensaria no castigo 
que teria que suportar tão logo terminasse o prazer.
Mas, ó, a estupidez, a loucura, a desesperada insanidade 
que há nos corações dos amigos do Sr. Mau! Apesar das
28
O Autor Fala ao Leitor
ameaças de um santo Deus, que se vinga do pecado, e dos 
clamores e advertências de todos os bons homens, a despeito 
dos gemidos e tormentos dos que agora estão no inferno 
por seus pecados (Ver Lucas 16:24), eles continuam seu 
pecaminoso curso de vida, muito embora seja fato que cada 
pecado é um passo na descida para aquele abismo infernal. 
Como é verdadeira esta declaração de Salomão: que “Este é o 
mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol... que também 
o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade; que há 
desvarios no seu coração, na sua vida; e que depois se vão aos 
mortos” (Eclesiastes 9:3). “Aos mortos” - isto é, aos mortos 
que estão no inferno, aos mortos condenados, ao lugar para 
o qual se foram aqueles que morreram como maus, e para 
o qual irão aqueles que atualmente vivem como maus, 
quando um pouco mais de pecado embeberá, como águas 
roubadas, suas almas pecadoras. (Provérbios 9:16-18.)
Escrevi este livro porque a iniquidade, como uma enchente, 
está prestes a afogar o mundo. Já parece estar acima dos 
pináculos dos montes. Já tragou quase tudo; nossa juventude, 
os da idade mediana, os idosos, e parece que todos estão sendo
s
arrastados por esta enchente. O deboche, deboche, que foi que 
vocês fez? Você corrompeu os nossos jovens e fez dos nossos 
homens idosos verdadeiros animais. Você desflorou nossas 
virgens e fez de nossas matronas exploradoras da prostituição. 
Fez com a nossa terra tanto mal que se pode dizer dela o 
que o profeta diz da terra de Israel: “De todo vacilará a terra 
como o ébrio, e será movida e removida como a choça de noite; e 
a sua transgressão se agravará sobre ela, e cairá e nunca mais se 
levantará” (Isaías 24:20).
Oh, se eu pudesse prantear por nosso país, e pelos pecados 
que aqui são cometidos, quando vejo que, sem arrependimento, 
os homens enviados pela ira de Deus, estão prestes a dar-nos 
o trato que merecemos, cada um deles “com as suas armas 
destruidoras na mãor (Ezequiel 9:1). Pela assistência de Deus, 
escrevi para advertir as pessoas contra o pecado, e oro pelo
29
JORNADA PARA O INFERNO
abrandamento desta inundação do mal. Se eu ao menos 
pudesse ver os topos das montanhas aparecendo acima dela,
eu pensaria que as águas estariam baixando./
E dever dos que podem gritar contra esta praga mortal 
elevar suas vozes como trombetas contra ela, para que as 
pessoas sejam despertadas e fujam dela como quem foge do 
maior de todos os males. O pecado arrastou anjos para fora 
do céu, arrasta homens para dentro do inferno e destrói 
reinos. Quem vê uma casa ardendo em chamas porventura 
não soa o alarme para os que estão lá dentro? Quem vê o 
território invadido não dá o alerta? Acaso quem vê o diabo 
rondando como leão rugente, continuamente devorando 
almas (1 Pedro 5:8), não bradaria avisando o povo? Mas, 
acima de tudo, ao vermos o pecado, o gravoso pecado, 
tragando uma nação, afundando-a, e levando os seus 
habitantes à ruína temporal, espiritual e eterna, quem não 
a alertaria aos brados? Não diriamos nós: “Bêbados estão, 
mas não de vinho, andam titubeando, mas não de bebida forte” 
(Isaías 29:9); estão intoxicados pelo veneno mortal do 
pecado? Não advertiremos que, se a sua malignidade não 
for subjugada por algum meio salutar e eficiente, esse 
veneno levará a alma, o corpo, o estado, o país e tudo à 
ruína e à destruição?
Com este clamor eu mesmo me livrarei das ruínas daqueles 
que perecem, pois um homem não pode fazer nada mais nesta 
questão - quero dizer, um homem em minhas condições - 
do que detectar e condenar a iniquidade, advertir do juízo o 
malfeitor, e fugir, ele próprio, do juízo. Mas, ó, se eu pudesse 
libertar mais alguém, não só a mim mesmo! Oh, que muitos 
ouvissem o alerta e abandonassem o seu pecado! Então seriam 
protegidos da morte e do juízo que a acompanham.
Mantive ocultos muitos dos nomes das pessoas sobre 
cujos pecados ou castigos escrevo neste livro. Sei muito 
bem os motivos pelos quais tratei deste assunto segundo 
este método. Mas em parte não revelei os nomes de muitos
30
O Autor Fala ao Leitor
porque nem todos os seus pecados ou seus julgamentos 
são públicos; os pecados de alguns foram cometidos em 
privado, e os juízos executados sobre eles foram mantidos 
confidenciais. Muito embora eu saiba alguns dos seus 
nomes, não quis revelá-los por esta razão: não quero provocar 
seus parentes que ainda vivem. Também não desejo lançá- 
-los à desgraça e ao desprezo, o que, penso eu, aconteceria 
inevitavelmente se eu revelasse seus nomes.
Quanto àqueles cujos nomes eu menciono, seus crimes, 
ou os juízos que sofreram, se tornaram públicos, como 
quase tudo o que dessa natureza acontece com os mortais. 
Eles próprios divulgaram o seu opróbrio por seus pecados, 
e Deus declarou Sua ira tomando vingança pública. Como 
disse Jó: Deus “bate-lhes como ímpios que são à vista de quem 
os contempla” (Jó 34:26). Por isso não posso imaginarque a 
minha advertência ao mundo seja em detrimento deles, pois 
os seus pecados e os seus juízos foram conspícuos. Pois a 
divulgação dessas coisas, quanto ao que se refere às minhas 
palavras sobre elas, tem a intenção de servir de acicate à 
memória, para que eles se lembrem da verdade, arrependam- 
-se e sejam convertidos a Deus - para não suceder que os 
julgamentos por seus pecados sejam ou venham a ser de 
comprovada hereditariedade. Porquanto o Deus do céu 
ameaçou visitar “a maldade dos pais nos filhos até à terceira e 
quarta geração daqueles que [O odeiam]” (Êxodo 20:5).
O castigo imposto a Nabucodonosor por seu orgulho foi 
declarado publicamente, porque devido ao seu pecado ele 
perdeu sua dignidade real, ele foi expulso do meio dos homens 
para comer capim como os bois, e a ficar na companhia dos 
animais do campo (Daniel 4:30-33). Daniel não hesitou em 
falar francamente a Belsazar, filho de Nabucodonosor, sobre 
os seus pecados e sobre os pecados de seu pai (Daniel 5:18-30) 
e a publicar um relatório disso para que fosse lido e lembrado 
pelas gerações futuras. A mesma coisa se pode dizer de Judas 
(Atos 1:18,19), de Ananias (Atos 5:1-5) e de outros que, por
31
JORNADA PARA O INFERNO
seus pecados e respectivos castigos, foram conhecidos por 
todos os que viviam em Jerusalém. É um sinal de desesperada 
impenitência e dureza de coração suceder que a prole ou os 
parentes dos que caíram em pecado público, grande e grave, 
fechem os olhos, esqueçam, passem de largo ou não deem a 
mínima ao alto preço imposto por Deus a eles e às suas famílias. 
Dessa forma Daniel aumentou o crime de Belsazar porque 
esse, em seu orgulho, endureceu o seu coração, apesar de saber 
que por esse mesmo pecado e transgressão seu pai tinha sido 
rebaixado de sua alta posição e forçado a ser companheiro de 
asnos. “E tu, seu filho, Belsazar, não humilhaste o teu coração, 
ainda que soubeste de tudo isto” (Daniel 5:22). Esta censura 
foi mais que justa e certa, mas serviu para levar Belsazar a 
continuar pecando aberta e persistentemente.
Advirto, pois, vocês, descendentes ou parentes daqueles 
que, por seus próprios pecados e pelos julgamentos terríveis 
que Deus lhes impôs, tornaram-se um sinal (Números 16:38- 
40) e foram varridos como esterco da face da terra - advirto, 
repito, que se cuidem, para não suceder que quando o juízo 
bater às suas portas por seus pecados, como batera às portas 
dos seus progenitores, caia sobre vocês um golpe tão pesado 
como o que caiu sobre os seus antecessores; e para que 
não suceda que naquele dia, em vez de vocês encontrarem 
misericórdia, encontrem, por causa dos seus pecados, “juízo 
sem misericórdia” (Tiago 2:13).
Para concluir, aqueles que não querem ter a morte que o 
Sr. Mau teve, tratem de cuidar de não seguir os caminhos do 
Sr. Mau, pois os seus caminhos levam a seu fim. A impiedade 
não livrará os que se entregam a ela, mesmo que vistam o 
manto da profissão de uma religião. Antigamente era uma 
transgressão um homem usar roupa de mulher; certamente 
é uma transgressão agora um pecador usar uma profissão de 
fé cristã como seu manto. Lobos vestidos de ovelhas (Mateus 
7:15) fervilham no dia de hoje, lobos tanto quanto à doutrina 
como quanto à prática. Alguns vestem o manto do cristianismo
32
O Autor Fala ao Leitor
a fim de obterem acesso a uma carreira profissional. Depois 
eles procuram construir um patrimônio, mesmo que com a 
sua desonestidade arruinem os seus vizinhos. Cuidado, então, 
pois os que fazem tais coisas receberão terrível condenação.
Cristão, faça a sua reputação brilhar com uma conduta 
que se conforme ao evangelho (Filipenses 1:27), se não você 
causará dano à religião, trará escândalo a seus irmãos e se 
tornará um “tropeço” (Romanos 14:13). Se você induzir outros 
a pecarem, “melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma 
mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar (Mateus 
18:6). Cristão, nestes dias uma reputação de vida piedosa é 
coisa rara; procure revestir-se dela, e trate de mantê-la “sem 
mácula” (1 Timóteo 6:14). Essa conduta realmente piedosa 
o tornará alvo e limpo, e você será, de verdade, um cristão 
incomum.
A profecia do fim dos tempos, como a entendo em 2 
Timóteo, capítulo 3, é que até mesmo crentes professos se 
tornarão vis, “tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia 
dela” (versículo 5). Eu o concito à firmeza perseverante com as 
palavras do apóstolo Paulo a Timóteo: “permanece naquilo que 
aprendeste” (versículo 14), não de homens depravados, nem 
de tempos licenciosos, mas da Palavra e da doutrina de Deus, 
isto é, segundo Cristo, com pureza. O Deus todo-poderoso 
deu a Seu povo graça, não para odiar ou lançar lama sobre 
os pecadores, nem para escolher nenhum dos seus caminhos, 
mas para manter o Seu povo limpo “do sangue de todos” (Atos 
20:26). Os filhos de Deus devem falar e agir de acordo com 
Seu nome e com Suas normas, que eles declaram conhecer e 
amar pela causa de Cristo.
- João Bunyan
33
1
As Consequências da Morte 
de um Homem Mau
Sr. Prudente. Bom dia, meu bom vizinho, Sr. Atencioso. 
Por que está caminhando tão cedo esta manhã? Parece 
preocupado. Perdeu alguma cabeça do seu gado, ou alguma 
outra coisa?
Sr. Atencioso. Bom dia, meu senhor. Não perdi nada, mas o 
senhor tem razão. Estou inquieto em meu coração, mas é 
por causa do mal dos tempos. O senhor e todos os nossos 
vizinhos sabem que sou muito observador. Portanto, diga- 
-me, por favor, o que acha destes tempos.
Prudente. Ora, em primeiro lugar, penso que estes tempos 
são maus, e que continuarão maus enquanto os homens 
não melhorarem; pois homens maus tornam maus os 
tempos. Então, se as pessoas mudassem, os tempos 
mudariam. E tolice buscar bons dias enquanto o pecado 
avança desenfreado e os que os promovem são tantos.1
1 Fato terrível é que a corrupção generalizada é sempre recorrente na história 
da humanidade em geral e do povo de Deus em particular. Isaías começa seu 
livro clamando e exclamando sobre isso, Jesus falou da geração perversa, 
no mundo pagão Cícero exclamou: “O têmpora! o mores!” (O tempos! O
35
JORNADA PARA O INFERNO
Rogo a Deus que derrube o pecado e ponha aqueles que 
o incentivam a arrepender-se. Então, meu bom vizinho, o 
senhor não ficará preocupado como está agora. O senhor 
se aflige agora porque os tempos são muito maus, mas 
então se alegrará porque os tempos serão muito bons. 
Agora se preocupa, e o motivo da sua preocupação o deixa 
perplexo, mas depois o seu interesse pelos tempos fará 
você levantar sua voz alto e bom som. Ouso dizer que, 
se o senhor pudesse ver tais dias, eles o fariam soltar 
exclamações de alegria!
Atencioso. Sim, certamente o fariam. Tenho orado e esperado 
ansiosamente por tais tempos, mas receio que as coisas 
vão piorar antes de melhorar.
Prudente. Não tire conclusões, amigo, pois Aquele que tem 
em Suas mãos os corações dos homens pode mudá-los 
do pior para o melhor, e, igualmente, pode tornar bons 
os maus tempos. Oro a Deus rogando que dê longa vida 
aos bons, principalmente aos que podem servi-lO no 
mundo. Depois do glorioso Deus e Suas maravilhas, a 
graça e a beleza do mundo são as que luzem e brilham 
na piedade cristã.
Bem, ao dizer isso o Sr. Prudente deu um grande suspiro.
Atencioso. Amém, amém. Mas, por que esse suspiro tão 
profundo, bom senhor? Seria pela mesma razão que causa 
a minha apreensão?
Prudente. Estou inquieto como o senhor pela iniquidade 
dos tempos, mas não é essa a razão do meu suspiro, que 
você notou. Suspirei porque me lembrei da morte daquele
costumes!); e nós, quais serão nossas exclamações? Nota do tradutor.
36
As Consequências da Morte de um Homem Mau
homem pelo qual os sinos dobraram em nossa cidade 
ontem.
Atencioso. Espero que não seja a morte do seu vizinho, 
o Sr. Bom. Soube que ele esta doente.
Prudente. Não, não; não me refiro ao Sr. Bom. Se fosse ele, 
eu ficaria preocupado, mas não aflito como estou. Se ele 
tivesse morrido, eu só o prantearia porque o mundo teria 
perdidouma luz. Mas o homem que me causa perturbação 
agora nunca foi bom; portanto, ele não só morreu, mas 
também foi condenado. Sua morte natural o introduziu 
na morte eterna. (Ver 1 Coríntios 6:9.) Ele passou da vida 
para a morte, e depois, da morte para a morte.
Quando o Sr. Prudente disse essas palavras, lágrimas 
inundaram seus olhos.
s
Atencioso. E verdade; ir do leito de morte para o inferno, até 
pensar nisso é terrível. Mas, bom vizinho Sr. Prudente, 
diga-me, por favor, quem era esse homem e por que julga 
sua morte tão miserável.
Prudente. Bem, se dispõe de tempo, vou lhe dizer quem ele 
era e por que concluo que o seu fim foi miserável.
Atencioso. Minha agenda me permite demorar-me, e estou 
desejoso de ouvi-lo sobre isso. Rogo a Deus que suas 
palavras cativem o meu coração para que com o que vou 
ouvir eu me torne melhor do que sou.
Assim foi que ambos concordaram em sentar-se embaixo de 
uma árvore. Então o Sr. Prudente continuou.
Prudente. O homem a quem me refiro é o Sr. Mau. Ele viveu
37
JORNADA PARA O INFERNO
muito tempo em nossa cidade e agora, como eu disse, está 
morto. Mas a razão pela qual eu me preocupo com sua 
morte não é que ele fosse homem de minhas relações, 
pois não era, nem que algumas boas condições teriam 
morrido com ele, pois ele estava longe destas. Mas meu 
grande temor é que, como dei a entender antes, ele 
tenha sofrido duas mortes de uma vez.
Atencioso. Vejo o que o senhor quer dizer com duas mortes 
de uma vez. Para falar com sinceridade, é horrível ter base 
para achar que alguém foi ou vai para o inferno. Morrer 
nesse estado é mais terrível e pavoroso do que se pode 
imaginar. De fato, se o homem não tivesse alma, se o seu 
estado não fosse realmente imortal, a questão não seria 
tão devastadora. Mas, visto que o homem foi feito por seu 
Criador para ser sensível para sempre, cair ele nas mãos 
de uma justiça reivindicadora que o pune na tenebrosa 
masmorra do inferno, com o castigo e sofrimento 
extremos que o seu pecado merece, sempre será um fim 
indescritivelmente triste e lamentável.
Prudente. Penso eu que todo e qualquer homem capaz de 
perceber o valor da alma humana, ao saber da morte de 
alguém irregenerado só pode sentir-se abalado fortemente 
pela tristeza e dor. Como o senhor já expôs muito bem, 
o estado do homem é tal que ele é um ser sensível para 
sempre. Pois é sentir a punição que a torna dura e pesada. 
Mas, o sentir não é a única coisa que o condenado tem; 
ele tem razão, cérebro, também. Por isso, então, assim 
como pelos sentidos ele recebe a punição com tristeza, 
porque ele a sente e sangra sob a dor, assim também pela 
razão, e pelo exercício dela, no meio do seu tormento, 
toda a aflição ali presente é aumentada. Há três modos 
pelos quais isso acontece.
38
As Consequências da Morte de um Homem Mau
Primeiro, a razão fará de si para si esta consideração: 
por que razão estou sendo atormentado? Facilmente será 
verificado que não é por nenhum outro motivo senão por 
esta realidade vil e torpe: o pecado. Agora a conturbação 
se mistura com a punição, aumentando grandemente a 
aflição.
Depois a razão considerará a seguinte pergunta: quanto 
tempo deverá durar este meu estado? E logo lhe vem 
esta resposta: este meu estado vai durar para todo o 
sempre. Essa percepção vai aumentar enormemente o 
seu tormento.
Finalmente, a razão vai considerar este último pensa­
mento: que mais eu perdi, além de descanso e sossego, 
por causa dos pecados que cometi? A resposta virá 
prontamente: perdi a comunhão com Deus, com Cristo, 
com os santos, e com os anjos, e perdi o gozo do céu e 
da vida eterna. Esse pensamento medonho aumentará 
a miséria das pobres almas condenadas. Essa é a situação 
do Sr. Mau.
Atencioso. Só de pensar em vir a esse estado sinto tremer 
meu coração. Inferno - que pessoa que ainda vive sabe 
como e quais são os tormentos do inferno? A palavra 
“inferno” produz um som verdadeiramente terrível!
Prudente. Sim, produz mesmo, nos ouvidos daquele que 
tem consciência sensível. Mas se, como o senhor diz 
acertadamente, o simples nome do inferno é tão terrível, 
que dizer do lugar propriamente dito, e dos castigos 
infligidos ali às almas dos condenados, sem nenhuma 
intermissão, para sempre e sempre?
Atencioso. Antes de continuar esse assunto, e como disponho
39
JORNADA PARA O INFERNO
de tempo para conversar, por favor, diga-me o que é que 
o faz pensar que o Sr. Mau foi para o inferno.
Prudente. Vou dizer-lhe por que penso assim. Mas, primeiro, 
você sabe a qual homem mau eu me refiro?
Atencioso. Por quê? Há mais de um?
Prudente. Oh, há muitos, tanto irmãos como irmãs, e, todavia, 
todos eles eram filhos de pai piedoso, o que torna a 
verdade mais lamentável!
Atencioso. Então, qual deles foi que morreu?
Prudente. O mais velho deles; mais velho na idade e mais velho 
no pecado; mas mesmo o pecador que morra com cem 
anos de idade será condenado, continuará sob maldição.
Atencioso. Mas o que o faz pensar que ele foi para o inferno?
Prudente. Sua vida ímpia e sua morte horrível, principalmente 
vendo que o seu jeito de morrer correspondeu a seu jeito 
de viver.
Atencioso. Descreva-me, por favor, como ele morreu, se é 
que conhece bem os detalhes.
Prudente. Eu estava lá quando ele morreu. Enquanto eu 
viver, espero nunca mais ver outro morrer como ele.
Atencioso. Por favor, fale-me sobre isso.
Prudente. O senhor diz que tem tempo e pode demorar-se 
aqui; por isso, se for de seu gosto, examinemos a vida 
desse homem e depois passemos à sua morte, porque
40
As Consequências da Morte de um Homem Mau
ouvir sobre sua morte pode afetar mais você depois de 
ter ouvido sobre a sua vida.
Atencioso. O senhor o conheceu bem durante a sua vida?
Prudente. Conheci-o quando ele era criança. Também quando 
ele era um rapaz e eu já era homem. E assim eu tive a 
oportunidade de observá-lo durante toda a sua vida.
Atencioso. Então, por favor, faça-me um relato da vida 
dele, mas que seja tão breve quanto lhe for possível, 
pois estou interessado em ouvir sobre como ele morreu.
41
2
Um Menino Mau
Prudente. Vou esforçar-me para responder suas perguntas 
sobre a vida e a morte do Sr. Mau. Mas primeiro vou- 
-lhe contar que, mesmo como criança, ele era muito mau. 
Seu começo foi ominoso e foi um prenúncio de que nada 
de bom viria dali. Diversos pecados para os quais ele 
tinha tendência mostravam que ele estava notoriamente 
infectado pela corrupção original. Posso dizer que ele não 
aprendeu nenhum desses pecados de seu pai ou de sua 
mãe, nem lhe era permitido brincar com outras crianças 
que eram moralmente corruptas e assim aprender do mau 
exemplo delas. Ao contrário, se alguma vez se misturou 
com outras crianças, ele foi o que proferia más palavras 
e o líder das outras na prática de más ações. Desde o 
tempo da sua meninice, ele era o cabecilha do grupo 
e o pecador chefe.
Atencioso. De fato se vê que ele teve um mau começo e 
demonstrou que estava, como o senhor diz, contaminado, 
muito contaminado, pela corrupção original. Para expor 
francamente o que penso, confesso que a minha opinião 
é que as crianças entram no mundo contaminadas pelo
43
JORNADA PARA O INFERNO
pecado e que muitas vezes os pecados da sua mocidade, 
especialmente quando elas são muito jovens, decorrem do 
pecado inerente, e não de exemplos postos diante delas 
por outras pessoas. Não é que não aprendem a pecar pelo 
exemplo alheio; também o aprendem por esse meio. 
Todavia, o exemplo não é a raiz, constituindo na verdade 
a tentação para pecar. A raiz é o pecado interior, pois, 
como as Escrituras dizem:
“Porque do interior do coração dos homens saem os 
maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os 
homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, 
a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. 
Todos estes males procedem de dentro e contaminam o 
homem” (Marcos 7:21-23).
Prudente. Alegra-me ouvir que o senhor tem essa opinião, 
e eu confirmo suas palavras com algumas verdades 
da Palavrade Deus: o homem, em seu nascimento, é 
comparado com um asno, com um animal impuro (Jó 
11:12), e com o maserável nascituro contaminado pelo 
seu próprio sangue (Ezequiel 16:4-6). Além disso, antiga­
mente todo primogênito que era oferecido ao Senhor 
deveria ser resgatado quando completasse um mês de 
idade, e isso acontecia antes de os bebês serem pecadores 
por imitação (Êxodo 13:13,15; 34.20; Números 18:15,16). 
As Escrituras afirmam também que, “como por um homem 
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte” (Romanos 
5:12), e dá com isso, no mesmo versículo, a razão para 
o juízo condenatório: “A morte passou a todos os homens 
por isso que todos pecaram” (vers.12).
A objeção segundo a qual Cristo, por Sua morte, eliminou 
o pecado original, é destituída de fundamento. Primeiro, 
não tem base porque não consta nas Escrituras. Segundo,
44
Um Menino Mau
torna as crianças impossibilitadas de receberem a salvação 
realizada por Cristo, pois somente as pessoas que, em 
si, são pecadoras têm possibilidade de receber dEle a 
salvação. Poderiamos acrescentar outros argumentos, mas 
entre as pessoas que concordam entre si, como acontece 
entre nós dois, esses argumentos podem ser suficiente 
no momento. Mas quando algum antagonista vier tratar 
conosco deste assunto, temos outros fortes argumentos 
para lhe apresentar, se se tratar de oponente que mereça 
a nossa atenção.
Atencioso. Mas, como o senhor sugeriu antes, o (jovem) 
Sr. Mau costumava ser o cabecilha de pecadores, ou o 
mestre do mal entre outras crianças. Contudo, essas 
descrições são gerais. Por favor, fale-me sobre os pecados 
específicos da infância dele.
Prudente. Fá-lo-ei. Quando ele era tão-somente uma criança, 
estava tão habituado a mentir que os seus pais tinham 
dificuldade em saber quando acreditar que ele estava 
falando a verdade. Ele atrevidamente inventava e falava 
mentiras, e se punha atrás das mentiras que criava. 
Observando a sem-vergonhice e a desfaçatez em seu rosto 
quando dizia suas mentiras, podíamos reconhecer os 
sintomas de um coração empedernido e irremediável.
Atencioso. Foi um começo imoral, sem dúvida, e bem se vê 
que ele começou a endurecer-se muito cedo em sua vida. 
Pois uma mentira não pode ser conscientemente dita e 
mantida por uma pessoa - e eu vejo que este foi seu modo 
de mentir - a não ser que, por assim dizer, ela force o 
seu coração a isso. Sim, só pode ser que o menino mau 
endureceu o seu coração e o forçou a atrever-se a mentir 
e mentir. Ele deve ter chegado a um excessivo grau de 
impiedade, para agir dessa forma, visto que fez tudo isso
45
JORNADA PARA O INFERNO
contra a boa instrução que recebera do seu pai e da sua 
mãe.
Prudente. Muitas vezes, a falta de boa educação é, como o 
senhor indicou, a razão pela qual as crianças se tornam más 
tão facilmente e tão depressa - principalmente quando 
não somente falta instrução moral, mas também há maus 
exemplos para elas seguirem. Lamentavelmente, é isso 
que acontece com muitas famílias. Em consequência, 
muitas pobres crianças são treinadas no pecado e são 
mantidas nele pelo diabo e pelo inferno.
Mas foi diferente com o Sr. Mau, pois, quanto eu saiba, 
seu hábito de mentir era causa de grande pesar para 
seus pais, e eles se encheram de desânimo e de temor 
face à precoce tendência de seu filho para pecar. Não 
houve falta de bons conselhos e de correção da parte 
deles, em seus esforços para fazê-lo melhorar. Muitas 
vezes ouvi que lhe diziam, repetidamente, que “a 
todos os mentirosos, a sua parte está no lago que arde com 
fogo e enxofre” (Apocalipse 21:8), e que não entrará na 
Jerusalém celeste “coisa alguma que contamine, e cometa 
abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro 
da vida do Cordeiro” ((Apocalipse 21:27). O menino 
mau foi bem instruído sobre o fato de que “qualquer 
que ama e comete a mentira” nunca terá parte naquela 
grande cidade (Apocalipse 22:15). Mas todas essas 
lições de nada valeram para ele.
Quando lhe era dada a oportunidade ou a ocasião de 
mentir, ele inventava e falava mentira, e lutava por ela 
tão resolutamente como se estivesse dizendo a maior de 
todas as verdades. A dureza do seu coração e a frieza 
do seu semblante espantavam os que estavam por perto. 
Ele mentia com atrevimento até quando estava sob “a
46
Um Menino Mau
vara da correção” (Provérbios 22:15), que Deus determina 
que os pais usem para manter seus filhos longe do inferno 
(Provérbios 23:13,14).
Atencioso. Verdadeiramente, foi um mau começo, como 
dissemos. Ele começou a servir ao diabo muito cedo; de 
fato, serviu como um dos seus fedelhos, pois o espírito 
de mentira vem do diabo. Como dizem as Escrituras, “(O 
diabo) é mentiroso, e pai da mentira” (João 8:44).
Prudente. Certo. Ele é realmente o pai da mentira. A 
mentira é gerada pelo diabo, como seu pai, e dada à luz 
pelo coração iníquo, como sua mãe. Outra passagem 
da Escritura diz: “Por que encheu satanás o teu coração, 
para que mentisses?” (Atos 5:3). Sim, e Pedro chamou o 
coração cheio de mentira de coração que concebeu, isto é, 
concebeu por meio do diabo. Pedro disse a Ananias: “Por 
que concebeste isto em teu coração? Não mentiste para 
os homens, mas para Deus” (versículo 4, VA). E certo 
que essa mentira foi da mais grave natureza, mas toda 
mentira tem o mesmo pai, pois “[o diabo] é mentiroso, e 
pai da mentira” (João 8:44).
A mentira é, então, filha do inferno, e não pode estar no 
coração senão depois de a pessoa ter cometido uma espécie 
de adultério espiritual com o diabo. Portanto, a alma que 
diz uma mentira conscientemente, colaborou com o diabo 
e a concebeu com ele, sendo ele o único pai da mentira. 
Pois a mentira tem só um pai e só uma mãe, o diabo e o 
coração humano. Não fique surpreso, pois, se os corações 
que chocam e produzem mentiras compartilham o mau 
caráter do diabo. Sim, não se espante por Deus e Cristo 
terem denunciado os mentirosos em Sua Palavra e terem 
pronunciado para eles a mesma pena dada aos assassinos. 
“Destruirás aqueles que falam a mentira; o Senhor aborrecerá
47
JORNADA PARA O INFERNO
o homem sanguinário e fraudulento” (Salmo 5:6). O mentiroso 
está casado com o diabo.
Atencioso. Isto parece espantoso aos meus olhos: o fato de 
que, visto que a mentira é filha do diabo e que a mentira 
leva a alma à própria cova dos demônios, a saber, à 
tenebrosa masmorra do inferno, os homens serem tão 
irremediavelmente iníquos que se acostumam com tão 
horrível coisa.
Prudente. Isso também me parece estonteante, principalmente 
quando observamos como por tão pouca coisa alguns 
homens estudam, inventam e dizem mentiras. Alguns 
chegam a mentir repetidamente apenas pelo lucro de 
alguns centavos. Mentem e sustentam sua palavra, embora 
sabendo que estão mentindo. De fato, alguns não hesitam 
em dizer mentira após mentira, mesmo nada ganhando 
com isso. Contam mentiras em suas conversas comuns 
com seus vizinhos. Acham que suas novidades, suas 
brincadeiras e suas histórias precisam ser adornadas com 
mentiras, para que não pareçam sem graça e carentes de 
imaginação aos que as ouvem. Que lástima! Que é que vão 
fazer esses mentirosos quando, por suas mentiras, forem 
lançados nas profundezas do inferno, nos braços do diabo, 
que gerou essas mentiras em seus corações, e então serão 
atormentados por fogo e enxofre (Salmo 11:6; Apocalipse 
20:10) junto com ele para sempre, por causa das suas 
mentiras?
Atencioso. O senhor pode me dar um exemplo dos juízos 
de Deus sobre mentirosos, para que eu possa dizê-lo 
aos mentirosos quando eu os ouvir mentirem? Talvez, 
então, os mentirosos fiquem atemorizados e fiquem com 
vergonha de mentir.
48
Um Menino Mau
Prudente. Exemplos há! E dá para pensar que Ananias e 
sua mulher seriam exemplos suficientes para fazerem 
o espírito dado à mentira parar de mentir, pois ambos 
foram mortos por dizerem uma mentira, e foram mortos 
diretamente por Deus na presença de um grupo de pessoas 
(Atos 5:1-10). Mas, se as ameaças de Deus com fogo e 
enxofre aosmentirosos não prevalecem sobre eles e não os 
fazem parar de mentir e de inventar mentiras, é duvidoso 
que os mentirosos parem de mentir por terem quebrado 
leis terrenas. Pois bem, como eu disse, mentir foi um dos 
primeiros pecados ao qual o Sr. Mau se habituou, e nada 
o impedia de inventar mentiras e dizê-las ousadamente.
Atencioso. Isso que é dito dele me entristece, e ainda mais 
porque receio que esse não era o único pecado que o 
dominava. Geralmente, quem se acostuma a mentir, 
também se acostuma a praticar outros males. Se não 
acontecesse isso com o Sr. Mau, seria uma surpresa.
Prudente. O que diz é certo, pois o mentiroso é cativo de 
outras coisas mais, além do espírito propenso a mentir; 
consequentemente, dado que o Sr. Mau foi um mentiroso 
desde a infância, foi também ladrão. Tudo aquilo em que ele 
podia pôr as mãos agilmente, como se diz, ele considerava 
seu; fossem coisas pertencentes aos seus companheiros de
jogos ou aos seus vizinhos, ele pegava e levava embora.
/
E preciso entender que ele começou a roubar artigos 
pequenos. Quando ainda criança, no início ele não tentava 
roubar coisas importantes. Mas, conforme foi ficando 
mais forte e mais esperto, foi dando de surrupiar coisas 
de maior valor. Tinha grande prazer em roubar hortas e 
pomares, e, quando cresceu mais, passou a roubar aves 
domésticas da vizinhança. Até o que era de seu pai não 
escapava dos seus dedos; tudo era peixe para a sua rede, 
tão empedernido ele acabou ficando nesse vício.
49
JORNADA PARA O INFERNO
Atencioso. O que o senhor me conta dele me deixa cada vez 
mais espantado. O quê?! Então ele bancava o ladrão? E 
tão cedo? Mesmo quando criança, ele tinha que saber 
que o que tomava dos outros não era dele. Além disso, se 
o seu pai era um bom homem, como o senhor me disse 
que era, seu filho deve ter ouvido dele que roubar era
A
transgredir a lei de Deus (Exodo 20:15) e que, fazendo 
isso, ele corria o risco de sofrer condenação eterna.
Prudente. Seu pai não perdia a oportunidade de discipliná- 
-lo. Muitas vezes instou severamente com ele a que 
obedecesse à lei dada por Deus a Moisés: “Não furtarás”\
A
(Exodo 20:15). O rapaz recebeu também este ensino: 
“Esta é a maldição que sairá pela face de toda a terra; porque 
qualquer que furtar, será desarraigado” (Zacarias 5:3). 
Também a luz interior, em sua natureza, apesar de ele 
ser pequeno, deve ter-lhe mostrado que o que ele tirava 
de outros não era dele, e que ele, contra a sua vontade, 
seria tratado do mesmo jeito. Mas nada disso adiantou. 
Dissessem o pai e a consciência o que dissessem, ele 
queria seguir seu caminho e estava resolvido a prosseguir 
em sua iniquidade.
Atencioso. Mas, como o senhor opinou, às vezes o pai dele 
o repreendia por sua maldade. Como será que o rapaz 
reagia à repreensão?
Prudente. Como? Ora, como um ladrão que é apanhado no 
ato. Por dentro zombando, e por fora pendendo a cabeça, 
com jeito casmurro e amuado. Como costumávamos 
dizer, podia-se ver o retrato do infortúnio em sua face, 
e quando seu pai exigia resposta às perguntas sobre a 
sua maldade, o rapaz murmurava e resmungava para 
ele, e isso era tudo o que ele dizia.
50
Um Menino Mau
Atencioso. Mas o senhor mencionou que ele também roubava 
seu pai. Acho isso antinatural.
Prudente. Natural ou antinatural, é a mesma coisa para um 
ladrão. Além disso, saiba que ele tinha companheiros, 
e a maldade que o menino mau via neles o relacionava 
com eles mais firmemente do que o que o ligava a seu pai 
e a sua mãe. Ele não se preocupava se seu pai e sua mãe 
morressem de pesar por causa dele. Para ele, a morte deles 
seria um alívio e uma libertação. A verdade é que, com os 
conselhos que lhe davam, seus pais eram sua escravidão. 
E, se me lembro corretamente, ouvi alguns dizerem que, 
às vezes, quando estava com seus amigos, mostrava grande 
alegria ao pensar em que seus pais estavam velhos e não 
viveriam muito tempo. Então, dizia ele, “Eu vou ser eu 
mesmo, e farei o que quiser, sem o controle deles”.
Atencioso. Então, pelo que se vê, ele achava que roubar 
seus pais não era crime.
Prudente. Crime nenhum! Por isso ele caiu sob esta sentença: 
“O que rouba a seu pai, ou a sua mãe, e diz: não há transgressão; 
companheiro é do destruidor” (Provérbios 28:24). Sua falta 
de respeito por seus pais e por seus conselhos era, naquele 
tempo, um sinal de que seu espírito era abominável, e que 
algum juízo condenatório esperava a ocasião de vir sobre 
ele. (Ver 1 Samuel 2:25).
Atencioso. O que vou dizer agora não é sobre as sugestões de 
satanás, pelas quais, indubitavelmente, ele era concitado 
a fazer essas coisas. O que digo é: você pode imaginar 
o orgulho próprio, a vaidade, que levou esse rapaz a 
pensar que a sua prática de roubar não tinha nenhuma 
importância?
51
JORNADA PARA O INFERNO
✓
Prudente. E porque ele roubava coisas de pequeno valor 
- assaltava hortas e pomares, roubava galinhas, e coisas 
parecidas. Ele considerava que o que fazia era simples­
mente fruto das manhas e espertezas da mocidade, e 
nada do que as pessoas lhe diziam o dissuadia. Elas 
costumavam dizer-lhe que ele não devia desejar nem 
cobiçar (Exodo 20:17), mas que cobiçar é menos que 
roubar, e que, se ele roubasse alguma coisa do seu próximo, 
por menor que fosse, esse ato seria uma transgressão da
A
lei (Exodo 20:15). Mas acontece que cobiçar e roubar 
eram a mesma coisa para ele. Seguindo a conversa 
ímpia dos seus companheiros e o engano do seu coração 
corrupto, ele continuou praticando roubo. Onde ele se 
sentia seguro, falava e ria sobre o que tinha feito.
Atencioso. Uma vez ouvi contar que um homem que estava 
no cadafalso, com a corda no pescoço, confessou que o que 
o tinha trazido àquele fim foi que quando era jovem se 
acostumara a roubar coisas pequenas. Quanto me lembro, 
ele disse que começou seu comércio de roubo furtando 
laços de sapato. Ele advertiu todos os jovens que estavam 
ali para assistir ao enforcamento que cuidassem de não 
começar a cometer pecados pequenos, porque a prática de 
pequenos furtos abre caminho para roubos maiores.
Prudente. Como você me contou uma triste história real, 
também lhe vou contar uma. Embora eu não estivesse
presente quando tudo aconteceu, acredito plenamente
/
na pessoa que me contou. E sobre um homem chamado 
velho Tod, que foi enforcado há vinte anos ou mais, em 
Hertford, condenado como ladrão. Num julgamento feito 
no verão, quando o juiz aguardava em sua cátedra, o velho 
Tod entrou. Vestia um terno verde, tinha na mão seu cinto 
de couro, a parte da frente da sua camisa estava aberta, e 
ele estava tão coberto de suor como se tivesse corrido para
52
Um Menino Mau
escapar da morte. Assim que entrou na sala, disse em voz 
alta o seguinte:
Meritíssimo, eu sou o pior velhaco que respira na 
face da terra. Sou ladrão desde menino. Quando 
eu era criança, vivia roubando pomares e fazendo 
outras traquinagens parecidas. E daí em diante 
continuei sendo ladrão. Meritíssimo, não houve 
um roubo praticado durante anos dentro de 
algumas milhas deste lugar no qual eu não estivesse 
envolvido ou do qual eu não tinha conhecimento.
O juiz achou que ele estava louco, mas, depois de 
conferenciar com alguns magistrados, concordou em 
indiciá-lo por alguns dos atos criminosos dos quais ele 
espontaneamente se confessara culpado. Foi enforcado 
no mesmo dia.
Atencioso. Caso de fato extraordinário! Mas você acha que 
esse relato é verdadeiro?
Prudente. O caso não é só extraordinário; também é relevante 
para a nossa discussão. Como aconteceu com o Sr. Mau, 
esse ladrão começou cedo as suas práticas criminosas. 
Ele começou com o mesmo tipo de roubo com o qual o 
Sr. Mau começou em sua infância - roubando pomares e 
outras coisas semelhantes. E isso o foi levando de pecado 
em pecado, como o senhor pode perceber, até chegar à 
vergonha pública do pecado: a forca.
Quanto à veracidade do relato, quem me contou estava no 
tribunal, a menos de dois metros do velho Tod, quando 
o ouviu dizer bem alto

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