Prévia do material em texto
Thiago Coelho (@taj_studies) CADERNO – 1ª UNIDADE – DIREITO FINANCEIRO/ DANIELA BORGES (2024.1) AULA 01 – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 1. Apresentação da disciplina: O Direito Financeiro envolve a gestão e a aplicação de recursos para que o Estado alcance os seus fins, o que é de interesse público. Um governo para ser considerado bom tem avaliado a sua prioridade de gastos e a alocação de recursos. É uma disciplina importante, diante das questões objetivas no Exame da Ordem, como também em razão da possibilidade de atuar nesta área, a qual não se encontra saturada. As aulas serão pautadas em slides e anotações no quadro. Terão duas avaliações, discursivas e baseadas em casos práticos e ocorrerão nos dias 15/04 e 27/05. Não haverá aula no dia 04/03. Haverá reposição. Referências bibliográficas: Celso Bastos; Aliomar Baleeiro (ex-ministro do STF); Régis Oliveira; Ricardo Torres; Harada (mais didático); 2. Introdução à disciplina: Hans Kelsen diferencia Direito de Ciência do Direito. Direito é a norma; já a Ciência do Direito representa o estudo da norma. O Direito Financeiro é um ramo específico do Direito. A autonomia científica pressupõe dois requisitos: objeto próprio e metodologia/princípios próprios. O Direito Tributário tem como objeto de estudo o tributo e as relações jurídicas decorrentes do tributo, apenas. Por outro lado, o Direito Financeiro estuda as normas jurídicas que regulamentam as formas de obtenção de receitas, as formas de realização das despesas, o orçamento e o controle. Os três primeiros elementos serão contemplados pela disciplina, já controle será estudado em Direito Administrativo. Thiago Coelho (@taj_studies) O Direito Financeiro se relaciona com o Direito Administrativo, mas com ele não se confunde, existindo diferenças estruturais. O gestor pode decidir, dentro de uma moldura (quadro de opções), com base em um juízo de conveniência e oportunidade. No Direito Financeiro, assim como no Direito Tributário, a discricionariedade tende a zero (a regra é a não discricionariedade). Destrate, ainda que com os melhores intuitos (assegurar direitos fundamentais aos cidadãos), é vedado realizar despesas sem prévia autorização legislativa, sob prática de crime – pode-se, no entanto, encaminhar uma mensagem ao Legislativo sugerindo a alteração da LOA. Ademais, o Direito Financeiro se relaciona com o Direito Constitucional (norteado por muitos princípios e regras previstos na Constituição) e com o Direito Penal (vide os crimes contra as finanças públicas). AULA 02 – A ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO 1. Autonomia e interdisciplinaridade do Direito Financeiro: Resgatando o discutido na aula anterior, quando determinado ente federativo subsidia um setor da economia, esse aquece. O Direito Financeiro se relaciona com outras ciências, tais como a Ciência Política, já que a decisão de em que se gastar é essencialmente política. 2. Princípios fundamentais para o Direito Financeiro na CF/88: Legalidade: O Direito Financeiro depende, o tempo inteiro, da elaboração de leis; Democracia: Os que detêm o poder o exercem dentro dos limites opostos pelo Direito. Consoante Rousseau, o homem abre mão da sua liberdade, mas participa da elaboração das normas que limitarão tal liberdade. Desse modo, a liberdade do homem é limitada pelo consenso. A ideia de um “Orçamento Secreto” não se coaduna com os valores democráticos, em especial a transparência e a publicidade; Separação de Poderes/Funções: O Executivo elabora as leis que regerão o Direito Financeiro, mas há um controle pelo Legislativo – forças representativas discutindo e deliberando sobre a temática. De qualquer forma, busca-se uma decisão mais justa e não monocrática, em oposição à lógica dos regimes totalitários. A CF/88 privilegiou o Poder Legislativo, sendo a autorização deste poder necessária para a prática de inúmeros atos pelo Executivo (sistema de freios e contrapesos). O Executivo elabora e apresenta a proposta. O Legislativo manda o gasto e a sua estrutura de funcionamento e o chefe do Executivo junta tudo e apresenta; Thiago Coelho (@taj_studies) Federalismo: Em uma federação, os entes são dotados de autonomia, entre os quais há uma centralização de poder e são unidos por um vínculo indissolúvel. Entre as autonomias dos entes federativos se situa a autonomia financeira; Autonomia financeira: Cada ente federativo possui fontes de arrecadação próprias que não dependem da interferência do poder central; O Estado existe para garantir condições para o desenvolvimento econômico – infraestrutura, estrada, energia, planejamento, o que torna as atividades financeiras e a arrecadatória-fiscal mais importantes para que o Estado atinja suas atividades-fim. 3. Atividade financeira do Estado: Façamos, inicialmente, uma breve síntese histórica. A atividade financeira do Colonialismo não existia nos moldes de hoje, uma vez que a própria figura do soberano se confundia com a do Estado. Posteriormente, o Estado passa a garantir as liberdades – de ir e vir, de expressão e religiosa, de forma que regulava o mínimo possível as relações humanas e, por conseguinte, um menor número de demandas chegava ao Judiciário. A maior parte dos Estados continuou com a lógica capitalista, passando o Estado a ter a responsabilidade de garantir uma vida digna e uma igualdade de oportunidades. O Estado Social é um Estado Positivo. No século XX, destacam-se as Constituições Mexicana e Weimar. No Brasil, a Constituição passa a ter um papel significativo a partir de 1934, com a inclusão dos direitos sociais no seu texto. Com a Crise de 29, os Estados se endividam. A iniciativa privada vem com conta e risco, já que pode ter prejuízo. Entende-se por atividade financeira toda atividade marcada pela obtenção, gestão ou aplicação de recursos monetários, realizada pelo Estado, para realização das suas atividades- fim. São características da atividade financeira do Estado: Presença constante de uma pessoa jurídica de Direito Público: Se não existir uma entidade de caráter público, não há atividade financeira do Estado. Destarte, no mínimo deve existir uma pessoa jurídica de Direito Público. Conteúdo monetário: Se estuda exclusivamente o fluxo – a entrada e saída – de dinheiro. Quando o Estado doa cestas básicas, doa bens, o que não se coaduna com o conceito de atividade financeira. Um imóvel tem conteúdo econômico, mas não é dinheiro (conteúdo monetário). Se A doa um imóvel para um município, tal relação será objeto de estudo do Direito Administrativo, não do Direito Financeiro; Instrumentalidade da atividade financeira do Estado: A atividade financeira não é uma atividade em si mesma, mas consiste em um instrumento para que o Estado alcance os seus fins; Thiago Coelho (@taj_studies) OBS: Próxima semana não haverá aula. Reposição será 12/03 18:30h (terça-feira). AULA 03 – NORMAS GERAIS DO DIREITO FINANCEIRO 1. Normas gerais de Direito Financeiro: A necessidade se torna pública por meio dos processos políticos e da elaboração de leis, tais como as orçamentárias. A título exemplificativo pode-se citar a decisão política de se retornar com o programa social Minha Casa, Minha Vida. A Constituição Federal é o fundamento da estrutura política dos Estados Democráticos de Direito. Art. 24 – CF: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º Asuperveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Na superveniência de lei federal, a lei estadual ficará suspensa nas disposições que for incompatível. Inexistindo lei federal, os estados manterão a competência legislativa plena. Art. 165, § 9º - CF: Cabe à lei complementar: I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual; II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta bem como condições para a instituição e funcionamento de fundos. As leis complementares sobre normas gerais são de suma importância para que se tenha uma racionalidade única. As leis complementares têm o papel de expressar os aspectos formais exigidos ao Plano Plurianual, à LDO e à LOA. Thiago Coelho (@taj_studies) Destacam-se também a Lei 4.320/64 (formalmente lei ordinária, materialmente lei complementar) e a LC 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). 2. Despesas públicas: O Direito Financeiro é a obtenção e a aplicação de direito para a execução das atividades-fim do Estado. Vale lembrar que é crime aplicar recursos públicos sem autorização legal. Despesa é a aplicação de certa quantia, em dinheiro, por parte da autoridade ou agente público competente dentro de uma autorização legislativa para execução de fim a cargo do governo. Apresenta, destarte, dois sentidos: previsão orçamentária de despesas e a utilização, pelo agente público competente, de recursos previstos nas dotações orçamentárias. Caracterizam a despesa: antecedida por previsão orçamentária, em dinheiro, feita por um ente público e visando a um interesse público. Doar cestas básicas representa um bem e não dinheiro, de modo que não é despesa; mas a aquisição das cestas básicas através de dinheiro representa uma despesa pública, já que saiu dinheiro dos cofres públicos. Vejamos a função e a evolução das despesas de acordo com o paradigma de Estado (liberal, social e democrático de Direito). A despesa pública guarda sempre uma conformidade com o modelo de Estado e tende a crescer em razão de algumas causas: Progresso técnico e a cumulação de capital: Os entes federativos, outrora, não tinham gastos com computadores nem com câmeras de vigilância, por exemplo; Alteração do papel do Estado: Cada vez mais garantidor dos direitos e garantias fundamentais; Influência das guerras: Perpassa por gastos bélicos; Causas financeiras diversas; As despesas são classificadas em: Despesas correntes: Voltada para manutenção da máquina estatal e o custeio da atividade do Estado. Ex: Compra de cateteres, seringas, algodões, entre outros materiais consumidos na prestação do serviço de saúde (despesa necessária para que se realize a atividade cotidiana), pagamento de juros de dívidas (para manter o empréstimo), remuneração de servidores públicos – a maioria das nossas despesas individuais também se encaixa aqui. o Despesas de custeio: As de pessoas civis e militares, as de material de consumo, serviços de terceiros e encargos diversos; Thiago Coelho (@taj_studies) o Transferências correntes: Subvenções sociais, subvenções econômicas, inativos pensionistas, salário família e abono familiar, juros da Dívida Pública, contribuições de previdência social e diversas transferências correntes; Despesas de capital: Investimentos, transferências e amortização de dívida pública. Voltadas para o aumento do patrimônio do Estado. Engloba, nesse sentido, investimentos públicos e o Estado, aqui, visa ao lucro. Ex: Aquisição de veículos, realização de obras, construção de um hospital, aquisição de um aparelho de tomografia computadorizada, amortização da dívida (diminuição da dívida), aquisição de um imóvel, inversões financeiras, etc; Art. 11 – Lei 4.320/64: A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) § 1º - São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) § 2º - São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superavit do Orçamento Corrente. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) § 3º - O superavit do Orçamento Corrente resultante do balanceamento dos totais das receitas e despesas correntes, apurado na demonstração a que se refere o Anexo nº 1, não constituirá item de receita orçamentária. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) § 4º - A classificação da receita obedecerá ao seguinte esquema: (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) RECEITAS CORRENTES RECEITA TRIBUTÁRIA Impostos. Taxas. Contribuições de Melhoria. RECEITA DE CONTRIBUIÇÕES https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm#anexo https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm Thiago Coelho (@taj_studies) RECEITA PATRIMONIAL RECEITA AGROPECUÁRIA RECEITA INDUSTRIAL RECEITA DE SERVIÇOS TRANSFERÊNCIAS CORRENTES OUTRAS RECEITAS CORRENTES RECEITAS DE CAPITAL OPERAÇÕES DE CRÉDITO ALIENAÇÃO DE BENS AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS TRANSFERÊNCIAS DE CAPITAL OUTRAS RECEITAS DE CAPITAL O ente federativo não pode gastar mais do que ele arrecada, de tal sorte que a receita, como regra, deve ser maior ou igual à despesa. Vejamos conceitos interessantes vinculados à realização de despesas: Empenho da despesa: A reserva de recursos na dotação inicial ou no saldo existente para garantir a fornecedores (não cria obrigação jurídica de pagar). É vedada a realização de despesa sem prévio empenho. Lei 4.320/64: Art. 58. O empenho de despesa é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição. (Veto rejeitado no DOU, de 5.5.1964) Art. 59. O empenho da despesa não poderá exceder o limite dos créditos concedidos. (Redação dada pela Lei nº 6.397, de 1976) § 1º Ressalvado o disposto no Art. 67 da Constituição Federal, é vedado aos Municípios empenhar, no último mês do mandato do Prefeito, mais do que o duodécimo da despesa prevista no orçamento vigente. (Incluído pela Lei nº 6.397, de 1976) § 2º Fica, também, vedado aos Municípios, no mesmo período, assumir, por qualquer forma, compromissos financeiros para execução depois do término do mandato do Prefeito. (Incluído pela Lei nº 6.397, de 1976) § 3º As disposições dos parágrafos anteriores não se aplicam nos casos comprovados de calamidade pública. (Incluído pela Lei nº 6.397, de 1976) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320compilado.htm#veto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6397.htmhttps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6397.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6397.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6397.htm Thiago Coelho (@taj_studies) § 4º Reputam-se nulos e de nenhum efeito os empenhos e atos praticados em desacordo com o disposto nos parágrafos 1º e 2º deste artigo, sem prejuízo da responsabilidade do Prefeito nos termos do Art. 1º, inciso V, do Decreto-lei n.º 201, de 27 de fevereiro de 1967. (Incluído pela Lei nº 6.397, de 1976) Art. 60. É vedada a realização de despesa sem prévio empenho. § 1º Em casos especiais previstos na legislação específica será dispensada a emissão da nota de empenho. § 2º Será feito por estimativa o empenho da despesa cujo montante não se possa determinar. § 3º É permitido o empenho global de despesas contratuais e outras, sujeitas a parcelamento. Art. 61. Para cada empenho será extraído um documento denominado "nota de empenho" que indicará o nome do credor, a especificação e a importância da despesa bem como a dedução desta do saldo da dotação própria. Liquidação: Verificação da origem, do objeto, do valor exato, a quem se pagar, da nota de empenho, da efetiva entrega do bem ou prestação de serviço, etc. O pagamento da despesa só será efetuado quando ordenado após sua regular liquidação. Lei 4.320/64: Art. 62. O pagamento da despesa só será efetuado quando ordenado após sua regular liquidação. Art. 63. A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito. § 1° Essa verificação tem por fim apurar: I - a origem e o objeto do que se deve pagar; II - a importância exata a pagar; III - a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação. § 2º A liquidação da despesa por fornecimentos feitos ou serviços prestados terá por base: I - o contrato, ajuste ou acôrdo respectivo; II - a nota de empenho; III - os comprovantes da entrega do material ou da prestação efetiva do serviço. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0201.htm#art1v https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0201.htm#art1v https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6397.htm Thiago Coelho (@taj_studies) Ordem de pagamento: Despacho exarado pela autoridade competente veiculando determinação para que a despesa seja paga. Art. 64 – Lei 4.320/64: A ordem de pagamento é o despacho exarado por autoridade competente, determinando que a despesa seja paga. Parágrafo único. A ordem de pagamento só poderá ser exarada em documentos processados pelos serviços de contabilidade (Veto rejeitado no DOU, de 5.5.1964) Pagamento: Extingue a obrigação. Hoje é vedado pagamento com dinheiro em espécie, sendo permitida apenas a transferência bancária, o que facilita o monitoramento do fluxo do dinheiro. Art. 65 – Lei 4.320/64: O pagamento da despesa será efetuado por tesouraria ou pagadoria regularmente instituídas por estabelecimentos bancários credenciados e, em casos excepcionais, por meio de adiantamento. As etapas anteriores são necessárias para que se tenha a saída efetiva dos cofres públicos. EMPENHO DA DESPESA LIQUIDAÇÃO ORDEM DE PAGAMENTO PAGAMENTO Próxima aula: Créditos orçamentários – suplementares, especial e extraordinários. AULA 04 – LIMITAÇÕES DE DESPESAS 1. Precatórios: O dinheiro sai dos cofres públicos de modo voluntário, mas existe certa parcela de demandas que chega ao judiciário e o ente federativo tem que pagar. O precatório é o pagamento do Estado por força de decisão judicial, como está na CF/88: Art. 100 – CF: Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). (Vide Emenda Constitucional nº 62, de 2009) (Vide ADI 4425) A CF traz o precatório com objetivo de trazer impessoalidade, transparência, abrangendo todos aqueles que possuem um valor a receber do Estado por força de decisão judicial. Os entes federativos elaboram suas LDO’S e suas LOA’S e o ideal seria que o ente federativo Thiago Coelho (@taj_studies) previsse toda a verba necessária para pagamento dos precatórios. Esse processo que gerou a sentença transitada em julgado pode demorar muito tempo, e quando a pessoa vai receber pode ter a surpresa que não vai receber. O ente federativo transfere a verba que se fizesse necessária para o tribunal, e o tribunal faria o pagamento. Ele cuida da ordem cronológica, para garantir a fila: recebe primeiro quem se inscreveu primeiro. Entretanto, o processo demora muito, e existe hoje uma EC que permite o fracionamento e mesmo as frações podem acabar não sendo pagas, já que o ente federativo não destina na LOA todos os pagamentos para o pagamento dos precatórios. § 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). O crédito precatório de natureza alimentar terá preferência em relação aos demais. § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com deficiência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) A RPV da União (Requisição de Pequeno Valor) tem o limite máximo de 60 salários mínimos. Se o precatório tem natureza alimentar, será inserido em uma fila prioritária e, nessa fila, terá ainda mais prioridade aquele que tem 60 anos ou mais, bem como o portador de doença grave (pode chegar até 3x do valor do RPV). § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). 2. Limitações de despesas: LC 101/2000: Art. 15. Serão consideradas não autorizadas, irregulares e lesivas ao patrimônio público a geração de despesa ou assunção de obrigação que não atendam o disposto nos arts. 16 e 17. Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 16. A criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento da despesa será acompanhado de: (Vide ADI 6357) I - estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos dois subseqüentes; II - declaração do ordenador da despesa de que o aumento tem adequação orçamentária e financeira com a lei orçamentária anual e compatibilidade com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias. Tem-se como requisitos para o aumento da despesa: Estimativa do impacto orçamentário- financeiro + adequação com a LOA + compatibilidade com o Plano Plurianual e a LDO. Da Despesa Obrigatória de CaráterContinuado Art. 17. Considera-se obrigatória de caráter continuado a despesa corrente derivada de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por um período superior a dois exercícios. (Vide ADI 6357) § 1o Os atos que criarem ou aumentarem despesa de que trata o caput deverão ser instruídos com a estimativa prevista no inciso I do art. 16 e demonstrar a origem dos recursos para seu custeio. (Vide Lei Complementar nº 176, de 2020) A despesa obrigatória de caráter continuado (a que acarreta obrigação legal de execução por período superior a 2 exercícios) deve conter a estimativa orçamentária de impacto no ano que entrou e os dois subsequentes, além de ter que se mostrar a sua origem. Logo, tem que demonstrar de onde vem o dinheiro. § 2o Para efeito do atendimento do § 1o, o ato será acompanhado de comprovação de que a despesa criada ou aumentada não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo referido no § 1o do art. 4o, devendo seus efeitos financeiros, nos períodos seguintes, ser compensados pelo aumento permanente de receita ou pela redução permanente de despesa. (Vide Lei Complementar nº 176, de 2020) § 3o Para efeito do § 2o, considera-se aumento permanente de receita o proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. (Vide Lei Complementar nº 176, de 2020) Exercício é a abreviação de exercício financeiro – no Brasil é o período compreendido entre 01/jan e 31/dez. O objetivo é garantir equilíbrio orçamentário (não se gastando mais do que arrecada). Se a despesa for decorrente de uma ordem legal, ela tem que ter o requisito do inciso I do art. 16 (estimativa do impacto orçamentário-financeiro), e, também, indicar de onde vem o dinheiro. http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5883343 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5883343 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp176.htm#art7 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp176.htm#art7 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp176.htm#art7 Thiago Coelho (@taj_studies) Referências: Caderno “Direito Financeiro” (2024.1) – Maíra Ramos; AULA 05 – DESPESAS E INTRODUÇÃO A RECEITAS 1. Despesas (continuação): Equilíbrio orçamentário e transparência se relacionam a uma responsabilidade fiscal. O exercício financeiro no Brasil coincide com o ano – 01/jan a 31/dez, mas não é em todos os países que isso acontece. Por aumento permanente de receita se entende a tributação. Em síntese, foi isso o contemplado na aula passada. Um ente federativo não pode gastar somente com pessoal, diante de outras despesas: polícia, alimentação, pavimentação, coleta de lixo, entre outras atividades que não necessariamente se exaurem no aspecto pessoal, englobando, também, aspectos materiais. Busca-se evitar o uso do pessoal para fins políticos, razão que justifica a proibição do aumento do gasto com pessoal (novas contratações, aumento de salários, por exemplo) em 180 dias anteriores ao término do mandato. É proibido qualquer ato que represente aumento da despesa com pessoal nos 180 dias anteriores ao final do mandato do titular de Poder ou órgão autônomo – o ato, caso praticado, será nulo (LC 101/2000 - art. 21, II, c/c § 1º, I). Art. 169 – CF: A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. § 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas: I – se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes; II – se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista. Art. 19 – LC 101/2000: Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados: I – União – 50% (cinquenta por cento) Thiago Coelho (@taj_studies) II – Estados – 60% (sessenta por cento) III – Municípios – 60% (sessenta por cento) A CF/88 não extinguiu os tribunais de contas do município que já existiam, mas vedou a criação de novos. Art. 20 – LC 101/2000: A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os seguintes percentuais: I - na esfera federal: a) 2,5% (dois inteiros e cinco décimos por cento) para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas da União; b) 6% (seis por cento) para o Judiciário; c) 40,9% (quarenta inteiros e nove décimos por cento) para o Executivo, destacando-se 3% (três por cento) para as despesas com pessoal decorrentes do que dispõem os incisos XIII e XIV do art. 21 da Constituição e o art. 31 da Emenda Constitucional no 19, repartidos de forma proporcional à média das despesas relativas a cada um destes dispositivos, em percentual da receita corrente líquida, verificadas nos três exercícios financeiros imediatamente anteriores ao da publicação desta Lei Complementar; (Vide Decreto nº 3.917, de 2001) d) 0,6% (seis décimos por cento) para o Ministério Público da União; II - na esfera estadual: a) 3% (três por cento) para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do Estado; (Vide ADI 6533) b) 6% (seis por cento) para o Judiciário; (Vide ADI 6533) c) 49% (quarenta e nove por cento) para o Executivo; (Vide ADI 6533) d) 2% (dois por cento) para o Ministério Público dos Estados; (Vide ADI 6533) III - na esfera municipal: a) 6% (seis por cento) para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do Município, quando houver; b) 54% (cinqüenta e quatro por cento) para o Executivo. Art. 169 – CF: § 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar referida neste artigo para a adaptação aos parâmetros ali previstos, serão imediatamente suspensos todos os repasses https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art21xiii https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art21xiii https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art21xiv https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art31 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/D3917.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/D3917.htm https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5974218 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5974218 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5974218 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5974218 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5974218 Thiago Coelho (@taj_studies) de verbas federais ou estaduais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que não observarem os referidos limites. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as seguintes providências: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e funções de confiança; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) II - exoneração dos servidores não estáveis. (Incluído pelaEmenda Constitucional nº 19, de 1998) (Vide Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem suficientes para assegurar o cumprimento da determinação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 5º O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo anterior fará jus a indenização correspondente a um mês de remuneração por ano de serviço. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos anteriores será considerado extinto, vedada a criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem obedecidas na efetivação do disposto no § 4º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) A despesa pessoal não pode, consoante o caput do art. 169, CF, exceder os limites previstos em LC. Caso seja necessário e como última medida, é possível que o servidor estável perca o seu cargo. É importante que o ato normativo especifique a atividade e o órgão administrativo pois o gestor estará proibido de criar cargo igual ou semelhante durante quatro anos, a fim de se evitar que a autorização seja utilizada para fins desvirtuados. Só se adotada a redução em pelo menos 20% das despesas com pessoal e a exoneração dos servidores não estáveis, poder-se-á o servidor estável perder o cargo, ou seja, esta sanção pressupõe a ineficácia das duas anteriores. 2. Receita pública: Para a doutrina, receita pública exige o acréscimo do patrimônio, independentemente da correspondência no passivo; e nem todo ingresso de dinheiro caracteriza uma entrada, mas nem todo ingresso corresponde a uma caixa pública. Alguns ingressos são meras entradas de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art33 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art21 Thiago Coelho (@taj_studies) caixa – cauções, fianças, depósitos recolhidos ao tesouro, empréstimos contraídos pelo Poder Público (mero representativos de entradas provisórias que devem ser, oportunamente, devolvidas). A Lei 4.320/64 não definiu receita pública, mas podemos identificá-la na acepção legal, como “todo ingresso de recursos financeiros ao tesouro público pertencentes ao ente público, com ou sem correspondência no passivo e independentemente do aumento patrimonial”. Estados e municípios, por lei própria, podem regulamentar o uso das receitas. O conceito de receita pública da lei se distingue do doutrinário, já que engloba o empréstimo, mas, para ser receita pública o dinheiro precisa ser do ente federativo (ingresso orçamentário). A receita pública não efetiva são os empréstimos (é uma receita, mas que corresponderá a um passivo), distinguindo-se da efetiva, a qual não apresenta correspondência no passivo. Sintetizemos os conceitos: Ingressos extraorçamentários: Aqueles pertencentes a terceiros arrecadados pelo ente público exclusivamente para fazer face às exigências contratuais pactuadas para posterior devolução. Têm caráter provisório. Estes ingressos são denominados recursos de terceiros; Ingressos orçamentários: Aqueles pertencentes ao ente público arrecadados exclusivamente para aplicação em programas e ações governamentais. Estes ingressos são denominados Receita Pública; Receita Pública Efetiva: É aquela em que os ingressos de disponibilidades de recursos não constituem obrigações correspondentes e por isto alteram a situação líquida patrimonial. É aquela proveniente das funções próprias do setor público enquanto arrecadador. Ex: Impostos; Receita Pública Não-Efetiva: É aquela em que os ingressos de disponibilidades de recursos não alteram a situação líquida patrimonial. As receitas não-efetivas não partem da arrecadação. Ex: Operações de crédito. OBS: Aquilo que a doutrina chama de receita pública, a lei chama de receita pública efetiva. AULA 06 – RECEITAS PÚBLICAS 1. Evolução histórica das formas universais do Estado auferir receitas públicas: Thiago Coelho (@taj_studies) Realização de extorsões de outros povos ou o recebimento de doações voluntárias deles – o que não é mais tão visto atualmente, diante da constitucionalização dos Estados; Recolhimento das rendas produzidas pelos bens e empresas do Estado: Geralmente é fonte de receita dos países mais pobres do mundo, que necessitam de auxílio; Exigência coativa de tributos ou penalidades: Principal forma do Estado, hoje em dia, de auferir receitas é a arrecadação de tributos; Empréstimos: Também, por razões lógicas, não pode ser a principal fonte de arrecadação dos Estados contemporâneos, sob pena de constante endividamento; Fabricação de dinheiro, metálico ou de papel: Somente é possível em casos residuais; 2. Classificação das receitas: Quanto à regularidade: Ordinárias: Ingressam com regularidade, por meio do normal desenvolvimento da atividade financeira do Estado. Ex: Dinheiro proveniente de tributos, aluguéis de bens dominicais e distribuição de lucros; Extraordinárias: Auferidas em caráter esporádico, excepcional e temporário, em função de determinada conjuntura. Ex: Dinheiro decorrente da alienação de um bem dominical; Quanto à origem: Originárias: Advêm da exploração, pelo Estado, da atividade econômica. Estado sempre em uma relação horizontal com aquele que transfere a ele dinheiro. Regime de direito privado (o Estado dentro de uma relação privada – contratando) e despido de caráter coercitivo. Podem ser: Patrimoniais, quando o ente explora o próprio patrimônio (ex: aluguéis, venda de imóveis e compensação financeira); ou Industriais, comerciais e de serviços, quando o Estado obtém lucro através da atividade empresarial (ex: lucros advindos das estatais); Derivadas: Caracterizada por constrangimento legal para a sua arrecadação. É o Jus imperii do Estado, que lhe faculta impor sobre as relações econômicas praticadas pelos particulares. Ex: Tributos, multas, receitas transferidas e confisco. Daniela Borges considera que as receitas transferidas deveriam se tratar de uma categoria autônoma; Classificação legal (Lei 4.320/64): Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 11 – Lei 4.320/64: A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) § 1º - São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes.(Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) § 2º - São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superavit do Orçamento Corrente. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) 3. Tributos: Nenhuma lei infraconstitucional pode conceituar tributo de modo diverso da Constituição. O Código Tributário Nacional, apesar de definir tributo, respeita a lógica constitucional: “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” (art. 3º, CTN). São notas essenciais do conceito de tributo: Relação jurídica de natureza obrigacional (prestação); Natureza pecuniária (a prestação é dar dinheiro); Obrigação ex lege: Compulsória/ instituída em lei; Destinação das sanções por atos ilícitos: A obrigação tributária decorre sempre da ocorrência de fatos lícitos; Sujeito ativo da relação jurídica: Pessoa Jurídica de Direito Público ou Destinação pública dos recursos arrecadados (discussão doutrinária); Quando uma pessoa morre, a personalidade jurídica dela se extingue. Os herdeiros passam a ser o dono do dinheiro. No caso da herança vacante, não há herdeiros e, por conseguinte, haverá coisa abandonada. A lei dá direito ao Estado de se apropriar do dinheiro, mas não há relação jurídica de natureza obrigacional, já que o dinheiro não tem dono, de modo que não se pode falar em tributo. O que há, conforme dito anteriormente, é o direito inerente ao Estado de se apropriar dos bens. 4. Receitas não tributárias: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1939.htm Thiago Coelho (@taj_studies) Receitas patrimoniais (patrimônio imobiliário e mobiliário); Decorrentes da exploração de atividades econômicas, comerciais, industriais e de serviços; Decorrentes da imposição de penalidades; Decorrentes de operações de crédito; Decorrentes da vontade do cidadão; Na próxima aula começaremos com as receitas transferidas. AULA 07 – TRANSFERÊNCIAS VOLUNTÁRIAS E RECEITAS TRIBUTÁRIAS 1. Transferências voluntárias: Transferências voluntárias são aquelas embasadas em lei e decorrentes de uma decisão política, sem a presença de uma imposição constitucional ou de norma geral federal. É imperativo observar, no entanto, as exigências do parágrafo 1º do art. 25 da LC 101/2000. O ente decide onde gastar após um processo de deliberação política pelo Executivo e da aprovação da lei orçamentária pelo Legislativo. Não há normas federais que obrigue a União Federal a transferir dinheiro, por exemplo, para que o estado da Bahia construa uma rodovia, mas o governador pode pedir apoio e o presidente, na elaboração da LOA, pode incluir a destinação de verbas para tal obra, necessitando do crivo do Congresso Nacional. Art. 25 – LC 101/2000: Para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferência voluntária a entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde. § 1o São exigências para a realização de transferência voluntária, além das estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias: I - existência de dotação específica; II - (VETADO) III - observância do disposto no inciso X do art. 167 da Constituição; IV - comprovação, por parte do beneficiário, de: a) que se acha em dia quanto ao pagamento de tributos, empréstimos e financiamentos devidos ao ente transferidor, bem como quanto à prestação de contas de recursos anteriormente dele recebidos; b) cumprimento dos limites constitucionais relativos à educação e à saúde; https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/2000/Vep101-00.htm Thiago Coelho (@taj_studies) c) observância dos limites das dívidas consolidada e mobiliária, de operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, de inscrição em Restos a Pagar e de despesa total com pessoal; d) previsão orçamentária de contrapartida. § 2o É vedada a utilização de recursos transferidos em finalidade diversa da pactuada. § 3o Para fins da aplicação das sanções de suspensão de transferências voluntárias constantes desta Lei Complementar, excetuam-se aquelas relativas a ações de educação, saúde e assistência social. A LC 101/2000 impede que as transferências sejam utilizadas em finalidade diversa da pactuada, salvo se para finalidades essenciais, como educação, saúde e assistência social, ainda que haja um mau gestor. 2. Receitas tributárias: Se um ente federativo cria um tributo sobre o qual não tinha competência, tal tributo é inconstitucional. A competência tributária dá ao ente federativo uma grande autonomia. Há, contudo, transferências obrigatórias tributárias, previstas na CF/88 e que ocorrem do ente mais amplo para o menos amplo. A União transfere para os estados, DF e municípios, já os estados transferem para os municípios. Art. 34 – CF: A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; Vejamos as receitas tributárias da União que pertencem aos estados e ao Distrito Federal (art. 153, § 5º c/c art. 159, CF), ou seja, que a União repassa aos estados e DF. IRRF (Imposto de Renda Retido na Fonte) pelo próprio Estado ou distrito federal; 20% dos impostos residuais que a União vier a criar; 10% da arrecadação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), proporcional à exportação de produto industrializado (existe, por ora, até 2026); 29% da CIDE-Combustível (Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico); 30% do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre o ouro-financeiro; Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 160 – CF: É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, neles compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos. § 1º A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de condicionarem a entrega de recursos: (Renumerado do Parágrafo único pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021) I – ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) II – ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) Receitas tributárias que os municípios recebem diretamente da União (art. 158, I e II c/c art. 153, §§ 4º e 5º, CF): IRRF pelo próprio município; 50% do ITR (Imposto Territorial Rural) ou 100% no caso da opção do art. 153, § 4º, III (caso de arrecadação e fiscalização); 70% do IOF sobre o ouro-financeiro; Receitas tributárias que os municípios recebem indiretamente da União Federal por meio de repasse do estado-membro: 25% da parcela de IPI que o estado-membro receber da União; 25% da parcela do CIDE-Combustível que o estado-membro receber da União; Receitas tributárias que os municípios recebem diretamente do estado-membro no qual estão localizados: 50%do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores); 25% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços); Art. 159 – CF: A União entregará: (Vide Emenda Constitucional nº 55, de 2007) I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados e do imposto previsto no art. 153, VIII, 50% (cinquenta por cento), da seguinte forma: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023) a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal; (Vide Lei Complementar nº 62, de 1989) (Regulamento) https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc113.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc113.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc29.htm#art4 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc29.htm#art4 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc29.htm#art4 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc29.htm#art4 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc55.htm#art2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp62.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Decreto/D7827.htm Thiago Coelho (@taj_studies) b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Municípios; (Vide Lei Complementar nº 62, de 1989) (Regulamento) c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos regionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semi-árido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma que a lei estabelecer; (Regulamento) d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 55, de 2007) e) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de julho de cada ano; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 84, de 2014) f) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de setembro de cada ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 112, de 2021) Produção de efeitos AULA 08 – A ESTIMATIVA DE RECEITA 1. Estimativa de receita: A estimativa de receita não se encontra na esfera da discricionariedade do gestor. As pessoas não podem prever que terão como receita o que elas quiserem. Uma das formas de se burlar os limites do Direito Financeiro, outrora, era superestimar a receita. Daí a importância da LC 101/2000: Art. 12 – LC 101/2000: As previsões de receita observarão as normas técnicas e legais, considerarão os efeitos das alterações na legislação, da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão acompanhadas de demonstrativo de sua evolução nos últimos três anos, da projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem, e da metodologia de cálculo e premissas utilizadas. § 1o Reestimativa de receita por parte do Poder Legislativo só será admitida se comprovado erro ou omissão de ordem técnica ou legal. Salvo os erros de ordem técnica ou legal, tal como o esquecimento de uma taxa, não se pode alterar o montante da receita. § 2o O montante previsto para as receitas de operações de crédito não poderá ser superior ao das despesas de capital constantes do projeto de lei orçamentária. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp62.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Decreto/D7827.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Decreto/D7827.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc55.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc55.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc84.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc84.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc112.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc112.htm#art3 Thiago Coelho (@taj_studies) O parágrafo 2º formaliza a Regra de Ouro constitucional: o ente não pode prever de receita de empréstimo mais do que pretende gastar com despesas de capital – o ente não pode contratar empréstimos para pagar despesas correntes, por exemplo. Nesse sentido: DESPESAS DE CAPITAL ≥ OPERAÇÕES DE CRÉDITO Em suma, a estimativa de receita é importante para determinar, com antecedência, o volume de recursos a ser arrecadado em dado exercício financeiro, o que possibilita uma programação orçamentária equilibrada. 2. Renúncia fiscal: Trata-se do ato de renunciar a tributos. Art. 14 – LC 101/2000: § 1o A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado. Art. 14 – LC 101/2000: A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições: I - demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias; II - estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. É preciso que haja a estimativa impacto orçamentário-financeiro (no ano de vigência e nos dois anos seguintes) e haja compatibilidade com a LDO. Ademais, deve-se demonstrar que não serão afetadas as metas de resultados fiscais ou estar acompanhada de medidas de compensação (por meio do aumento da receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição). Thiago Coelho (@taj_studies) § 2o Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso. § 3o O disposto neste artigo não se aplica: I - às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do seu § 1o; II - ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança. O parágrafo 3º lista hipóteses em que não se aplica o artigo supratranscrito: (I) imposto de importação, imposto de exportação, IPI e IOF e (II) cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança. (I) Os impostos mencionados são de caráter extrafiscal. O governo busca regular o mercado financeiro, de modo que não precisa se preocupar com o rigor da renúncia fiscal, diante do uso dos tributos como ferramenta dessa regulação; (II) Se o município para cobrar R$ 500,00, teria quearcar com o custo de ajuizar uma execução é R$ 3.000,00, caso não efetue a cobrança estará, na verdade, economizando R$ 2.500,00 com o perdão da dívida (cancelamento de débito < custos de cobrança). A LC 101/2000 não faz o perdão, mas autoriza que os entes federativos o façam, sem se sujeitarem às regras rigorosas da renúncia fiscal. Para a próxima aula: Avaliação dissertativa sem consulta. Thiago Coelho – T7A 2024.1 @taj_studies