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Responsabilidade do Estado nos casos em que a Constituição Federal estabelece prazo para o exercício legislativo


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Universidade Estadual Do Oeste Do Paraná
Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas
Curso de Direito
Disciplina: Direito Administrativo
Ac.: Joicilene V. Dall Agnol Avila
Responsabilidade do Estado nos casos em que a Constituição Federal estabelece prazo para o exercício legislativo. 
O Estado é ente jurídico de Direito Púbico cuja finalidade essencial é promover o bem comum. Dessa forma, conta com prerrogativas, poderes especiais para agir em função dessa finalidade. O poder para atuar em nome do bem-estar comum por meio de atos juridicamente legais chama-se competência, que confere ao Estado o poder-dever para realizar sua atribuição final. 
“(...) a efetividade significa a realização do Direito, o desempenho concreto de sua função social. Ela representa a materialização, no mundo dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social.
Ocorre que na prática hodierna, nem sempre o Estado, representado por Agentes Públicos cumpre com a sua finalidade nobre, de modo que a mora ou a omissão estatal em atuar por meio de normas reguladoras para o exercício de direitos, pode infringir sofrimento moral ou dano patrimonial ao cidadão. Assim sendo, o prejudicado pode invocar reparação pelos danos sofridos, ensejando a responsabilidade estatal. 
Por meio de detentores de mandado legislativo, são elaboradas as normas que regulamentarão a vida em sociedade, a maneira de exercer direitos e os deveres das pessoas, de modo que a Constituição Federal determina: 
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;
Dessa forma, têm-se no Mandado de Injunção o remédio constitucional para provocar alguma atitude do legislador. 
Ora, se tem o Estado por meio da atuação de seus agentes o dever de agir e são investidos de autoridade justamente para isso, a mora e a omissão devem a estes ser imputados em caso de causar prejuízo às pessoas. Como leciona Celso Bandeira de Mello: 
A responsabilidade estatal é simples corolário da submissão do Poder Público ao Direito, já que a partir do instante em que se reconheceu que todas as pessoas, sejam elas de Direito Privado, sejam de Direito Público, encontram-se, por igual, assujeitadas à ordenação jurídica, ter-se-ia que aceitar, a bem da coerência lógica, o dever de umas e outras – sem distinção - responderem pelos comportamentos violadores do direito alheio em que incorressem. 
Declarada a omissão pela via jurídica adequada, o mandado de injunção tem natureza declaratória. Todavia, enseja fundamento para responsabilizar o Estado. 
Dessa forma, em sede de apelação, decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: 
APOSENTADORIA ESPECIAL. Servidor estadual. Técnico de laboratório. Art. 40, § 4º, da CF. Entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a mora legislativa na regulamentação da aposentadoria especial dos servidores públicos, determinada aplicação integrativa da Lei 8.213/1991. Autora exposta a agentes biológicos em razão da atividade exercida, por mais de vinte e cinco anos, de forma habitual e permanente. Aposentadoria especial devida. Direito à paridade e à integralidade. Abono de Permanência. Verba devida durante o período em que, tendo preenchido os requisitos para aposentadoria, o servidor permanecer em atividade. Art. 40, § 19, da CF, art. 2º, § 5º, e art. 3º, § 1º, da EC 41/03. Demora excessiva e injustificada da Administração para proceder à apreciação do requerimento de aposentadoria da autora. Dano material configurado. Indenização que não pode corresponder ao número de dias trabalhados quando a servidora já poderia estar aposentada, sob pena de enriquecimento sem causa, uma vez que ela já recebeu a respectiva remuneração nesse período. Sentença de parcial procedência. Recursos oficial, considerado interposto, e voluntário do Estado e da SPPREV não providos. Recurso da autora provido em parte para condenar a ré ao pagamento de indenização no valor correspondente às três últimas remunerações recebidas pela autora quando em atividade.
(TJ-SP - AC: 10162521920218260554 SP 1016252-19.2021.8.26.0554, Relator: Antonio Carlos Villen, Data de Julgamento: 20/06/2022, 10ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 05/07/2022)
Ainda, decidiu o Supremo Tribunal Federal:
MANDADO DE INJUNÇÃO. ARTIGO 8º, § 3º DO ADCT. DIREITO À REPARAÇÃO ECONÔMICA AOS CIDADÃOS ALCANÇADOS PELAS PORTARIAS RESERVADAS DO MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA. MORA LEGISLATIVA DO CONGRESSO NACIONAL. 1 - Na marcha do delineamento pretoriano do instituto do Mandado de Injunção, assentou este Supremo Tribunal que "a mera superação dos prazos constitucionalmente assinalados é bastante para qualificar, como omissão juridicamente relevante, a inércia estatal, apta a ensejar, como ordinário efeito conseqüencial, o reconhecimento,"hic et nunc", de uma situação de inatividade inconstitucional." ( MI 543, voto do Ministro Celso de Mello, in DJ 24.05.2002). Logo, desnecessária a renovação de notificação ao órgão legislativo que, no caso, não apenas incidiu objetivamente na omissão do dever de legislar , passados quase quatorze anos da promulgação da regra que lhe criava tal obrigação, mas que, também, já foi anteriormente cientificado por esta Corte, como resultado da decisão de outros mandados de injunção. 2 - Neste mesmo precedente, acolheu esta Corte proposição do eminente Ministro Nelson Jobim, e assegurou "aos impetrantes o imediato exercício do direito a esta indenização, nos termos do direito comum e assegurado pelo § 3º do art. 8º do ADCT, mediante ação de liquidação, independentemente de sentença de condenação, para a fixação do valor da indenização. 3 - Reconhecimento da mora legislativa do Congresso Nacional em editar a norma prevista no parágrafo 3º do art. 8º do ADCT, assegurando-se, aos impetrantes, o exercício da ação de reparação patrimonial, nos termos do direito comum ou ordinário, sem prejuízo de que se venham, no futuro, a beneficiar de tudo quanto, na lei a ser editada, lhes possa ser mais favorável que o disposto na decisão judicial. O pleito deverá ser veiculado diretamente mediante ação de liquidação, dando-se como certos os fatos constitutivos do direito, limitada, portanto, a atividade judicial à fixação do "quantum" devido. 4 - Mandado de injunção deferido em parte.
(STF - MI: 562 RS, Relator: CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 20/02/2003, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 20-06-2003 PP-00058 EMENT VOL-02115-02 PP-00260)
Finalmente, explanou o Ministro Marco Aurélio de Melo:
[...] a inoperância da Carta Federal é situação a ser combatida, presente o apelo do cidadão em tal sentido e a prova da mora injustificável do legislador ou do chefe do Poder Executivo. Não é admissível transformar a Lei Maior em um “sino sem badalo”, como disse o professor José Carlos Barbosa Moreira a respeito da interpretação conferida pelo Supremo ao mandado de injunção, assentada precisamente no mencionado Mandado de Injunção nº 282. [...] há de buscar-se a concretude, a eficácia maior, dos ditames constitucionais. (pp. 2 e 3). Recurso Extraordinário. 19.12.2007. 
Denota-se, portanto, consoante a doutrina, as jurisprudências e os ensinamentos de operadores do direito que é fundamental o acesso à normas que viabilizem o exercício de direito, protegido pela carta magna. 
Bibliografia:
BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a Efetividade de suas Normas. 58 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 228 ed. Säo Paulo: Malheiros, 2007.

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