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INVENTARIAMENTO DE FLORA AULA 4 Profª Dayane May 2 CONVERSA INICIAL Identificação botânica: reconhecimento e identificação da flora nativa e exótica A identificação científica requer conhecimentos de taxonomia e sistemática vegetal baseada na morfologia de estruturas vegetativas e reprodutivas das plantas. Os termos morfológicos são utilizados em chaves de identificação e auxiliam no reconhecimento de grupos e famílias. Algumas características morfológicas marcantes permite a identificação apenas pela observação a olho nu ou com auxílio de uma lupa. Para a busca de gêneros e espécie, é recomendado possuir um material botânico de boa qualidade, uma lupa e lâmina de barbear para análise de estruturas muito diminutas. Também é preciso considerar que ocorre variações morfológicas de acordo com o ambiente, época e condições nutricionais. Com isso, indivíduos da mesma espécie podem variar na consistência da folha, no tamanho e outras características. Nesta ETAPA, vamos ver as principais características para reconhecimento e identificação de algumas das famílias botânicas mais comuns e ocorrentes no Brasil em estado nativo e introduzido. Para tanto, é necessário relembrar aspectos da morfologia vegetal, com foco em folha e flor. Optou-se por deixar os principais termos de nomenclatura botânica em negrito, com o intuito de facilitar o entendimento e compreensão do conteúdo. Objetivos: • Conhecer os principais termos morfológicos relacionados à folha para a identificação de famílias das Angiospermas. • Conhecer os principais termos morfológicos relacionados à flor para a identificação de famílias das Angiospermas. • Descrever as principais características morfológicas de algumas famílias do grupo das Angiospermas Magnolídeas e Monocotiledôneas. • Descrever as principais características morfológicas de algumas famílias do grupo das Angiospermas Eudicotiledôneas Rosídeas. • Descrever as principais características morfológicas de algumas famílias do grupo das Angiospermas Eudicotiledôneas Asterídeas. 3 TEMA 1 – ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS USADAS EM CHAVES DE IDENTIFICAÇÃO: FOLHA A folha tem sua origem a partir das gemas caulinares localizadas nos ápices ou nas laterais (terminal e axilares). Numa folha completa, ocorrem quatro partes: limbo ou lâmina foliar, pecíolo, bainha e estípula (Gonçalves; Lorenzi, 2011), conforme apresenta a Figura 1. Figura 1 – Representação esquemática da estrutura da folha Crédito: Kicky_princess/Shutterstock. As folhas podem ser classificadas em simples, quando apresenta o limbo não dividido e composta, quando o limbo está subdividido em unidades, chamadas folíolos. As folhas compostas podem ser pinadas ou palmadas (digitadas). O reconhecimento da organização da folha é feito a partir do ponto onde se encontra a gema lateral (Pimentel et al., 2017). A inserção das folhas ao longo do caule é a filotaxia. Quando existe apenas uma folha por nó, a filotaxia é alterna (dística ou espiralada); duas folhas por nó, é filotaxia oposta (dísticas ou cruzadas). Por último, a filotaxia verticilada surgem três ou mais folhas por nó (Raven; Evert; Eichhorn et al., 2016), conforme mostra a Figura 2. 4 Figura 2 – Representação esquemática da filotaxia: alterna – uma folha por nó; oposta – duas folhas por nó; verticilada – três ou mais folhas por nó Crédito: Aldona Griskeviciene/Shutterstock. Ainda, o limbo pode ser classificado quanto à forma geral, o ápice, a base, a margem, sistema de nervação, consistência, coloração, pilosidade e duração. Quanto à forma, pode ser elíptica, lanceolada, ovada, obovada, oblonga e linear. O ápice e a base também podem ter variadas formas, entre as mais comuns para ápice: aguda, acuminada, obtusa ou arredondada; para base: aguda, cuneada, obtusa, arredondada ou cordada. Menos comuns, os ápices com forma emarginado, truncado e cuspidado; e base truncada e amplexicaule. Os tipos de margens mais comuns são: lisa ou inteira, serrada, denteada, lobada e crenada (projeções arredondadas) (Gonçalves; Lorenzi, 2011). O sistema de nervação (venação) é referente à distribuição das nervuras (em que estão os feixes vasculares) nas folhas. Atuam na distribuição de água e nutrientes. Nas angiospermas, as nervuras estão dispostas em um padrão ramificado (exceto monocotiledôneas), caracterizando a nervação reticulada. Os tipos de nervação são: peninérveas (uma nervura principal central e demais nervuras secundárias, semelhante a uma pena); palminérveas (duas ou mais nervuras se originam na base do limbo sem se encontrar no ápice; curvinérveas (nervuras principais têm origem em um ponto na base do limbo e se convergem no ápice); paralelinérvea (nervuras paralelas); e https://www.shutterstock.com/pt/g/Aldona+Griskeviciene 5 peniparalelinérvea (uma nervura principal evidente e nervuras secundárias paralelas entre elas) (Souza; Flores; Lorenzi, 2013). A consistência foliar está relacionada ao ambiente ou condição ambiental que a espécie vegetal se encontra: membranácea (fina, resistente e flexível); cartácea (quando finas e rígidas e se forem quebradiças); coriácea (espessas, consistentes, rígidas, mas flexíveis, como couro); crassa ou suculenta (espessas, submoles, ricas em água ou sucos diversos); e papirácea (espessura mediana, são mais ou menos moles, como na maioria das folhas) (Gonçalves; Lorenzi, 2011). Quanto à coloração, as folhas podem ser: concolor (uma única cor); discolor (duas cores diferentes) e variegada (três ou mais cores). A pilosidade ou indumento é em função dos tricomas dispostos na superfície abaxial ou adaxial da lâmina foliar. Quando os pelos estão presentes, a folha é classificada como pilosa. Na ausência, a folha é glabra ou lisa (Souza; Flores; Lorenzi, 2013). Quanto à duração, as plantas podem ser caduca, no qual as folhas caem em algumas épocas do ano; e persistente, em que as folhas geralmente permanecem na planta o ano todo. As folhas podem ter estruturas especializadas e modificações com diferentes funções geradas por processos de adaptações evolutivas desenvolvidas como resposta a alguma pressão ambiental ou biológica. Ocorrem em alguns grupos ou isoladamente: • Brácteas: folhas coloridas modificadas para atrair polinizadores (três- marias). • Catáfilos: protegem a gema nos bulbos tunicados (cebola e alho). • Escamas: protegem as gemas dos bulbos (lírio). • Espata: forma uma proteção para a inflorescência (copo-de-leite). • Espinhos: para a defesa e evitar a perda de água (cactos). • Gavinhas: para a sustentação (ervilha). TEMA 2 – ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS USADAS EM CHAVES DE IDENTIFICAÇÃO: FLORA A flor é a principal característica que distingue as Angiospermas de outras plantas vasculares. São ramos modificados com apêndices estéreis, que formam verticilos protetores (sépalas e pétalas) e apêndices férteis que formam os verticilos reprodutores (estames e carpelos), com função reprodutiva. As sépalas 6 surgem abaixo das pétalas, e os estames, abaixo dos carpelos. O conjunto de sépalas forma o cálice, e o conjunto de pétalas, a corola. O cálice e a corola juntos formam o perianto (Souza; Flores; Lorenzi, 2013). Os estames são constituídos pela antera (local de produção de grãos de pólen) e filete (eixo de sustentação). Os carpelos são formados pelo estigma (recebe o grão de pólen), estilete (por onde cresce o tubo polínico) e ovário com os óvulos, os quais se desenvolverão em sementes após a fecundação, enquanto a parede do ovário se desenvolverá no fruto. Coletivamente, o conjunto de estames é chamado de androceu, e o conjunto de carpelos é o gineceu (Raven; Evert; Eichhorn et al., 2016). As flores podem estar agrupadas formando as inflorescências. O eixo de sustentação da flor ou de peças da flor é denominado de pedúnculo. O receptáculo é aporção dilatada do extremo do pedúnculo, em que são inseridos os verticilos florais (Pimentel et al., 2017). A representação da estrutura morfológica de uma flor está apresentada na Figura 3. Figura 3 – Estrutura básica da flor Crédito: Valentina Moraru/Shutterstock. Existem muitas variações na estrutura floral. As que possuem os quatro verticilos florais (sépala, pétala, estame e carpelo) são chamadas de completas. Na ausência de qualquer um desses elementos, a flor é incompleta. Sendo assim, as flores podem apresentar cálice e corola juntos (diclamídias ou diperiantada); só cálice ou só corola (monoclamídea ou mono periantada); ou não ter elementos do perianto, sem cálice e sem corola (aclamídea ou aperiantada). 7 Em algumas flores, o perianto é semelhante entre si, com sépalas e pétalas iguais, caracterizando a presença de tépalas (homoclamídea). Quando o cálice e a corola são diferentes entre si, as flores são heteroclamídeas (Pimentel et al., 2017). A concrescência refere-se a união ou não de peças de um mesmo verticilo, como pétala com pétala, sépala com sépala, estame com estame e carpelo com carpelo. O prefixo diali usa-se para as peças livres entre si e gamo para peças unidas. Exemplos: dialissépalo e dialipétalo para estruturas livres; e gamossépala e gamopétala para estruturas unidas. Esses termos são utilizados para todos os verticilos (sépala, pétala, estame e carpelo) (Pimentel et al., 2017). Quanto à simetria, as flores podem ser simétricas ou assimétricas. Se tiverem simetria, esta pode ser bilateral ou zigomorfa, com apenas um plano de simetria possível. Se tiver dois ou mais planos de simetria, ou seja, mais de duas metades iguais, a flor será actinomorfa ou radial (Gonçalves; Lorenzi, 2011). As flores que contém androceu e gineceu são chamadas de monoclinas. Quando são unissexuadas, são denominadas de díclinas. Estas apresentam somente flores estaminadas (masculinas) ou pistiladas (femininas). Quando a planta apresenta flores díclinas e ambos os sexos estão presentes no mesmo indivíduo, a espécie é monoica. Entretanto, quando os indivíduos produzem apenas um ou outro tipo de flor, será considerada dioica (Souza; Flores; Lorenzi, 2013). Outras características em relação às partes constituintes das flores: será pedunculada na presença do pedúnculo ou séssil, se na ausência deste. As brácteas são folhas modificadas, no entanto, poderão estar presentes próximas aos verticilos florais (Souza; Flores; Lorenzi, 2013). A disposição das peças florais será cíclica, quando o cálice ou corola estiverem dispostos em ciclos, ou acíclica ou espiralada, com a disposição em espiral. O número de peças florais é correspondente entre sépalas e pétalas. Existem flores dímeras, trímeras (mais comuns entre as monocotiledôneas), tetrâmeras e pentâmeras (Pimentel et al., 2017). O número de estames em relação ao número de pétalas pode variar: oligostêmone, quando o número de estames é menor do que o número de pétalas; isostêmone, quando o número de estames for igual ao número de pétalas; diplostêmone, quando o número de estames for duas vezes maior do 8 que o número de pétalas; e polistêmone, quando o número de estames for muito maior do que o número de pétalas (Gonçalves; Lorenzi, 2011). Os verticilos protetores (cálice e corola) são classificados quanto à sua presença e forma. A maioria das flores possuem os dois verticilos, sendo denominadas de diclamídeas. Quando possui apenas um verticilo será monoclamídea. Na ausência dos dois, será aclamídea. Ainda, se o cálice e a corola forem diferentes em sua forma, tamanho e cor, a flor será heteroclamídea. Se forem iguais, então será homoclamídea. O cálice geralmente tem coloração verde, mas, se for igual a cor da corola, usa-se o termo petaloide. O mesmo acontece ao contrário: a corola geralmente tem cor branca ou colorida. Se apresentar coloração verde, semelhante às sépalas, se denomina sepaloide (Pimentel et al., 2017). Os verticilos reprodutores (androceu e gineceu) também são classificados quanto às suas características de tamanho, concrescência e posição. Os estames podem se apresentar com tamanhos variados (heterodínamo), ou com quatro estames, sendo dois maiores e dois menores (didínamos), ou com seis estames, sendo quatro maiores e dois menores (tetradínamo). Também podem se mostrar separados (dialistêmone) ou unidos (gamostêmone). Em caso de união pelos filetes (eixo de sustentação do estame), apresentarão adelfia, com a formação de feixes (monoadelfo – 1 feixe, diadelfo - 2 feixes, triadelfo – 3 feixes, poliadelfo – mais de três feixes). A sinanteria é a união dos estames pela antera. Quando estão aderidos às pétalas, são chamados de estames epipétalos. Em relação à união do filete com a antera, pode estar preso à base da antera (basifixa), ou no dorso (dorsifixa), ou no ápice (apicefixa). A deiscência (abertura) da antera pode ser longitudinal (abre-se longitudinalmente), valvar (abre-se por meio de valvas) ou poricida (por meio de poros apicais) (Gonçalves; Lorenzi, 2011). Os carpelos também podem se apresentar livres ou unidos (fusionados). Quando livres, utiliza-se o termo dialicarpelar ou apocárpico. Já quando unidos, usa-se o termo gamocarpelar ou sincárpico. Uma flor pode ter um (monocarpelar), dois (bicarpelar), três (tricarpelar) ou mais que três (policarpelar) carpelos. Ainda quanto ao carpelo, pode ter estigma de forma variável (globoso, ovóide, entre outros) e ser indiviso ou ramificado. A inserção do estilete no ovário pode ser terminal, ou seja, na porção apical do ovário; lateral, na porção mediana do ovário, ou ginobásico, a qual se refere próxima à base. 9 A posição do gineceu pode se apresentar hipógina, com ovário súpero, não aderente ou livre; perígina, com ovário semi-ínfero ou semi-aderente e epígina, com ovário ínfero ou aderente. Em algumas flores, o receptáculo assume o formato de taça e, neste caso, é denominado de hipanto. Quando as paredes do hipanto se encontram unidas ao ovário, este é chamado de ovário ínfero e se a flor não possuir hipanto, o ovário será súpero (Gonçalves; Lorenzi, 2011). A cavidade interna do ovário, onde contém os óvulos, é chamada de lóculo. Geralmente, tem correspondência entre o número de carpelos e número de lóculos, podendo ser uni, bi, tri ou plurilocular. A disposição dos óvulos no ovário é a placentação. A mais comum é a placentação axial, na qual os óvulos estão presos ao eixo central, em ovários biloculares e pluriloculares. Outros tipos de placentação: central livre, presos na coluna central, em ovários uniloculares; marginal, presos na margem de ovários uniloculares; parietal, presos na parede de ovários uniloculares; basal, presos na base de ovários uniloculares; e apical, presos no ápice de ovários uniloculares (Gonçalves; Lorenzi, 2011). TEMA 3 – ANGIOSPERMAS MAGNOLIÍDEAS E MONOCOTILEDÔNEAS 3.1 Magnoliídeas São cerca de 8 mil espécies, caracterizam-se por apresentar as mais primitivas características, em geral, flores grandes, tépalas evidentes, com numerosos órgãos dispobstos em espiral sobre o receptáculo alongado. Os estames se prendem em cordões vasculares distintos originado abaixo das tépalas (Souza; Lorenzi, 2019). Podem ser lenhosas ou herbáceas. São as magnólias, fruta-do-conde, araticum, os louros e canelas e as plantas de pimenta-preta. Principais famílias de Magnoliídeas: • Magnoliaceae: flores grandes, tépalas evidentes, com numerosos órgãos dispostos em espiral sobre o receptáculo alongado. Os estames se prendem em cordões vasculares distintos originado abaixo das tépalas. As sementes podem ter coloração para atração de potenciais dispersores. Ex.: gêneros Magnolia sp. e Liriodendron sp. 10 • Annonaceae: folhas aromáticas, sem estípulas; cantarofilia altamente especializada; carpelos com superfície estigmática dura;estames com conectivo alargado. Ex.: fruta-do-conde, graviola, araticum. • Lauraceae: folhas simples; filotaxia alterna; margem inteira; sem estípulas, casca e folhas com odor característico; geralmente árvores de grande dossel; flores trímeras representam uma das famílias de maior destaque na composição florística com espécies consideradas como produtoras de madeira de lei, incluindo imbuia (Ocotea porosa) e sassafrás (Ocotea odorifera) e as canelas ou louros (Souza; Lorenzi, 2019). Ex.: canelas, abacateiro. • Piperaceae: inflorescência tipo espiga terminal, com nó geniculado. Podem ser ervas, arbustos, epífitas ou lianas. Comum na Floresta Ombrófila Densa e Mista. Ex.: pimenteira, pimenta-do-reino. Alguns exemplos de Magnoliídeas estão apresentados na Figura 4. Figura 4 – Magnoliaceae (Magnolia grandiflora), Annonaceae (Annona squamosa), Lauraceae (Ocotea odorifera) e Piperaceae (Piper nigrum) Crédito: Khudoliy/Shutterstock . Crédito: Marco Tulio/Shutterstock. Crédito: Dayane May. Crédito: Doikanoy/Shutterstock 3.2 Monocotiledôneas Com cerca de 70 mil espécies, são um grupo monofilético com características bem próprias, como só um cotilédone na semente, raiz fasciculada, folhas paralelinérveas, estruturas florais trímeras ou pentâmeras, xilema e floema espalhados em feixes. Não formam madeira, exceto a família Arecaceae, representado pelas palmeiras. Outros representantes são as gramíneas, as orquídeas, bromélias, antúrios, lírios. Com importância econômica, algumas cultivadas, como milho, trigo, arroz e banana (Souza; Lorenzi, 2019). Principais famílias de monocotiledôneas: 11 • Araceae: inflorescência tipo espádice, acompanhada por espata; em algumas espécies, as flores femininas estão dispostas na espádice na parte inferior, enquanto que as flores masculinas estão dispostas na parte superior. Carpelos atingem a maturação antes dos estames para evitar a autopolinização. Possui ráfides e drusas de oxalato de cálcio. Família da maior inflorescência do mundo. Ex.: copo-de-leite, antúrio, costela-de- adão, comigo-ninguém-pode. • Liliaceae: herbáceas com bulbos; folhas paralelinérveas; flores trímeras isoladas; homoclamídeas e actinomorfas; com 6 anteras. Ex.: tulipa, lírio. • Amarylidaceae: com bulbos ou rizomas; folhas dísticas ou espiraladas; flores vistosas, actinomorfas, cálice e corola unidos entre si. Espécies muito cultivadas como ornamentais. Ex.: amarilis, agapanto, clivia. Ainda, algumas espécies amplamente usadas na alimentação pertencentes ao gênero Allium sp. Ex.: alho, cebola, cebolinha. • Orchidaceae: flores vistosas, zigomorfas, distribuição cosmopolita e grande potencial ornamental. Presença de labelo (pétala modificada para atração de polinizadores). Ervas terrestres, epífitas ou rupícolas. Distribuição cosmopolita, com 850 gêneros, 25.500 espécies, cerca de 2.600 espécies no Brasil, sendo a maior família de Angiospermas em número de espécies. Ex.: orquídeas. • Asparagaceae: plantas robustas, folhas espiraladas e fibrosas. De onde é retirada a matéria-prima para a produção de bebidas alcoólicas como a tequila. Inflorescências grandes podem levar décadas para florir. Ao final da floração, ocorre propagação por bulbilhos e a planta-mãe morre. Ex.: agave, iuca, cordiline, espada-de-são-jorge e aspargo. • Arecaceae: família das palmeiras, estipe geralmente lenhoso, exceção das monocotiledôneas. Ocorrem em diferentes biomas e fitofisionomias. Possui um dos maiores caules (62 m); maior inflorescência ramificada; maior fruto e semente (30 kg); maior crescimento primário; maior produtora de óleo (dendê e macaúba). Ex.: palmito, jerivá, coqueiro, buritis, butiá, ráfis. • Bromeliaceae: a maioria é epífita, utilizam as árvores somente como suporte. A disposição espiralada das folhas pode abrigar um ecossistema na parte interna da planta, pelo acúmulo de água. Obtém os nutrientes do ambiente. Muito observada na Floresta Ombrófila Densa. Ex.: bromélias. 12 • Poaceae: ervas com flores reduzidas, polinização anemófila e caule cilíndrico. Inflorescência tipo espigueta com flores aclamídeas, unissexuais e hermafroditas, envolvidas pro brácteas chamadas de glumas, lema e pálea. Principal família das Angiospermas do ponto de vista econômico, pelo uso na alimentação, ornamentação, pastagens, uso medicinal e composição das formações campestres em todo mundo. Ex.: capins, milho, arroz, trigo, centeio, cevada, sorgo, cana-de-açúcar. • Cyperaceae: ervas com inflorescência tipo espigueta, polinização anemófila caule triangular. Folhas alternas espiraladas, rosuladas e paralelinérveas. Ex.: sombrinha-chinesa e papiro. Alguns exemplos de monocotiledôneas estão apresentados na Figura 5. Figura 5 – Exemplos de representantes das famílias de monocotiledôneas Araceae Crédito: Dayane May. Liliaceae Crédito: Amit_Thakare/ Shutterstock. Amarylidaceae Crédito: Dayane May. Orchidaceae Crédito: Sealstep/ Shutterstock. Asparagaceae Crédito: Dayane May. Arecaceae Crédito: Haley Allison/ Shutterstock. 13 Bromeliaceae Crédito: Photology1971/ Shutterstock. Poaceae Crédito: VanoVasaio/ Shutterstock. Cyperaceae Crédito: VanoVasaio/ Shutterstock TEMA 4 – ANGIOSPERMAS EUDICOTILEDÔNEAS ROSÍDEAS São as plantas que realmente possuem dois cotilédones (eu=verdadeiro). São mais de dois terços de todas as angiospermas, com aproximadamente 170 mil espécies. Não é um grupo monofilético. Estão incluídas as plantas com pólen tricolpado (três aberturas), flores cíclicas, com cálice e corola. Além disto, a raiz é axial, apresentam lenho desenvolvido, folhas com nervação reticulada, xilema e floema organizados em feixes e estruturas flores tetrâmeras e pentâmeras (Souza; Lorenzi, 2019). Entre as Eudicotiledôneas, alguns grupos merecem destaque. O grupo das rosídeas que é formado pelas plantas com corola dialipétala (pétalas separadas), como é observado em flores de pitangueira (Myrtaceae), feijoeiro (Fabaceae) e o morangueiro (Rosaceae), entre outras. Algumas famílias desse grupo, com suas principais características, estão apresentadas a seguir. • Malpiguiaceae: folhas opostas e frequentemente com glândulas. Flores com pétalas unguiculadas (região estreita na porção basal e uma porção apical expandida). Gineceu tricarpelar e androceu com 10 estames. Lianas ou arbustos. Ex.: acerola. • Fabaceae: com cinco subfamílias: Caesalpinioidade (incorporou Mimosoidade); Faboideae ou Papilionoidae; Cercidoideae; Detarioideae; Dialiodeae, com folhas geralmente compostas. Caesalpinioidade com folhas bipinadas e pulvino que controla o movimento foliar. Em Faboidade, trifoliolada, imparipinada, com estípula, sem gavinha. São as leguminosas, ou seja, possuem frutos do tipo legume ou sâmara a depender do gênero. Fazem simbiose com bactérias para fixação de nitrogênio. Uma das maiores famílias de Angiospermas e uma das principais do ponto de vista econômico, com 19.000 espécies, sendo 2800 espécies no Brasil. Ex.: feijão, soja, angico, amendoim. • Euphorbiaceae: plantas que geralmente produzem látex e as flores estão dispostas em inflorescências, folhas com estípulas. Flores não vistosas unissexuais, actinomorfa, envolvidas por brácteas vistosas. Ex.: coroa-de- cristo, flor-do-espírito-santo, mandioca, seringueira. 14 • Passifloraceae: trepadeiras, com gavinhas, folhas alternas, com nectários peciolares. Flores andróginas, actinomorfas, diclamídeas, pentâmeras. Presença de androginóforo (estrutura que eleva o androceu e gineceu), característico dessa família. Ex.: maracujá. • Rosaceae: ervas, arbustos, árvores ou lianas com acúleos ou espinhos frequentes. Flores vistosas e com estames numerosos, carpelos livres. Receptáculo com eixo côncavo e sépalas e pétalas nos bordos. Ex.: rosa, maçã, pera, morango, pêssego, amora, ameixa, cereja. •Moraceae: folhas simples; filotaxia alterna; lactescente; estípulas apicais. Inflorescência típica das figueiras (sicônio), com receptáculo côncavo e carnoso, em formato de urna (urceolado), com numerosas flores masculinas e femininas e uma abertura na porção apical, o qual se dá o contato com o ambiente. As flores são polinizadas por vespas. Ex.: figueiras, figo. • Cucurbitaceae: volúveis, ou seja, rasteiras e apoiam-se sobre outras plantas e fixam-se por gavinhas. Folhas lobadas, sem estípulas. Flores actinomorfas, unissexuais, diclamídeas, pentâmeras, gamopétalas. Fruto baga, tipo pepônio. Ex.: melancia, pepino, chuchu, melão, abóbora. • Myrtaceae: folhas simples, opostas, geralmente aromáticas com pontos translúcidos (glândulas oleíferas), margem inteira, comumente nervura coletora. Estames numerosos, mais chamativos que as pétalas. Gineceu com ovário ínfero. Madeira dura e tronco liso e descamante. Ex.: pitangueira, jabuticabeira, araçazeiro, cambuí, eucalipto. • Melastomataceae: folhas simples; filotaxia oposta; nervura curvinérvea; margem inteira ou recortada; pilosa ou lisa; flores bissexuadas; estames vistosos com anteras falciformes (em forma de foice). Herbácea, arbustiva ou arbórea. O nome dessa família é decorrente da cor escura dos frutos. Ex.: manacá-da-serra, quaresma. • Anacardiaceae: folhas alternas; geralmente compostas imparipinadas; com raque alada recortadas; nervação aberta (nervuras secundárias acabam na margem do folíolo); sem pontuações translúcidas; aromáticas. Flores pouco vistosas. Ex.: aroeira, manga, pistache, caju. • Rutaceae: folhas compostas, geralmente aromáticas e com pontuações translúcidas. As folhas compostas com apenas um folíolo (unifolioladas) podem ser confundidas com folha simples, como em Citrus sp. Algumas 15 espécies possuem troncos com espinhos. Ex.: Citrus sp. (laranja, limão, lima, tangerina), mamica-de-porca. • Malvaceae: folhas alternas, simples ou compostas, com estípula. Flores vistosas, actinomorfas, andróginas, diclamídeas, estames numerosos unidos em feixes. Ex.: hibisco, cacau, algodão, baobá, malva. Alguns exemplos de Eudicotiledôneas, do grupo das rosídeas, estão apresentados na Figura 6. Figura 6 – Exemplos de representantes das famílias de Eudicotiledôneas, grupo das rosídeas Malpiguiaceae Crédito: Dayane May. Fabaceae Crédito: Dayane May. Euphorbiaceae Crédito: NAWAJ SARIF 1/Shutterstock. Passifloraceae Crédito: Dayane May. Rosaceae Crédito: Dayane May. Moraceae Crédito: Svitlana Ozirna/ Shutterstock. Cucurbitaceae Crédito: Dayane May. Myrtaceae Crédito: Dayane May. Melastomataceae Crédito: Dayane May. 16 Anacardiaceae Crédito: Iuliia Timofeeva/ Shutterstock. Rutaceae Crédito: LifeCollectionPhotography/ Shutterstock. Malvaceae Crédito: Dayane May. TEMA 5 – ANGIOSPERMAS EUDICOTILEDÔNEAS ASTERÍDEAS Outro grupo de grande destaque é o das asterídeas, formado por plantas que possuem corola gamopétala, entre elas estão, por exemplo, café (Rubiaceae), a hortelã (Lamiaceae), a batata (Solanaceae) e o girassol (Asteraceae). Algumas famílias desse grupo, com suas principais características, estão apresentadas a seguir. • Cactaceae: folhas modificadas em espinhos; caules clorofilados, com parênquima aquífero para armazenar água. Flores grandes e vistosas. Caules suculentos, folhas modificadas em espinhos ou ausentes; típica de ambientes secos. É polinizada por morcegos, para isso possui flores grandes, claras, solitárias e rígidas. Ex.: cactos, flor-de-maio. • Ericaceae: árvores e arbustos com folhas simples; flores pentâmeras e gamopétalas, actinomorfas ou zigomorfas; pentacarpelar. Ex.: azaleias. • Apocynaceae: árvores e lianas, laticíferas, folhas simples, alternas, com ou sem estípula; flores actinomorfas; nectário presente. Uso ornamental e medicinal. Ex.: espirradeira, alamanda, vinca. • Rubiaceae: ervas, arbustos ou árvores. folhas simples; filotaxia oposta; nervura peninérvea; margem inteira; corola gamopétala. Sempre com estípulas interpeciolares (entre os pecíolos). Comum na Floresta Ombrófila Densa e Mista. Ex.: café, véu-de-noiva, erva-de-rato. • Lamiaceae: folhas simples, sem estípulas de margem serrada; filotaxia oposta cruzada; ervas aromáticas. Ex.: hortelã, manjericão, manjerona, alfazema, lavanda, sálvia, falso-boldo, orégano. • Bignoniaceae: folhas compostas e opostas. Cálice gamossépalo e corola gamopétala. Flor zigomorfa. Estames didínamos (2 maiores e 2 menores) e um estaminoide, sementes aladas. Podem ser árvores, arbustos ou 17 lianas com gavinhas. São comuns na Floresta Ombrófila Mista. Ex.: Ipês, carova, cipó-de-são-joão, pente-de-macaco. • Solanaceae: folhas simples, sem estípulas; flores actinomorfas, diclamídeas, gamopétalas, pentâmeras. Algumas espécies possuem a folha ou caule com odor forte de tempero ou cheiro ruim. Ex.: tomate, batata, petúnia, manacá-de-cheiro, berinjela, tabaco, trombeteira, pimentão. • Asteraceae: folhas simples; filotaxia alterna; inflorescência tipo capítulo, característica dessa família. Inflorescência curta, discoide ou arredondada com flores sésseis, circundadas por brácteas que protegem a periferia do capítulo. Pode apresentar dois tipos de flores – flores do disco (central) e flores do raio (periferia do disco). As flores do raio contêm uma corola expandida chamada de lígula, que auxilia na atração de polinizadores. Fruto aquênio com dispersão anemocórica. Maior família de Eudicotiledôneas, com aproximadamente 1600 – 1700 gêneros e 24.000 – 30.000 espécies, sendo cerca de 2000 espécies no Brasil. Ex.: girassol, margarida, gérbera, dente-de-leão, crisântemo, alcachofra, carqueja. • Apiaceae: folhas com margem serrada e profundamente partidas, com larga bainha envolvendo o caule; inflorescência tipo umbela (“guarda- chuva”). Ervas anuais ou bianuais. Observada na fitofisionomia de Estepe Gramíneo-lenhosa. Ex.: caraguatá, funcho, cenoura, salsa, coentro. Alguns exemplos de Eudicotiledôneas, grupo das asterídeas, estão apresentados na Figura 7. Figura 7 – Exemplos de representantes das famílias de Eudicotiledôneas, grupo das asterídeas Cactaceae Crédito: Dayane May. Ericaceae Crédito: Dayane May. Apocynaceae Crédito: Dayane May. 18 Rubiaceae Crédito: Dayane May. Lamiaceae Crédito: Dayane May. Bignoniaceae Crédito: Dayane May. Solanaceae Crédito: Dayane May. Asteraceae Crédito: Dayane May. Apiaceae Crédito: Dayane May. NA PRÁTICA • Atividade: identificação de famílias botânicas • Materiais necessários: estiletes botânicos, lâmina de barbear ou bisturi, lupa, flor cultivada e roteiro base de prática. • Procedimentos: O identificar todas as partes de uma flor cultivada; O com o auxílio da lupa, observar pétalas, sépalas, gineceu, ovário em corte transversal e estames; O pesquisar em chave dicotômica o nível de família e as principais características referentes; O confirmar o resultado com bibliografia especializada; O repetir o processo o máximo possível, quanto mais praticar, mais fácil será identificar as famílias. 19 Roteiro base de prática FOLHA Filotaxia FLOR Presença de verticilos protetores Número de peças florais Sexo Concrescência do cálice Concrescência da corola ANDROCEU Concrescência dos estames Número de estames/número de pétalas Deiscência das anteras GINECEU Posição do ovário Número de lóculos no ovário Número de óvulos IDENTIFICAÇÃO Chave: Passos: Família encontrada: FINALIZANDO • O conhecimento das estruturas morfológicas é fundamental para a identificação em campo ou por chaves de identificação botânica. As folhas apresentam uma variação muito ampla de forma e função. As variações na estrutura da folha são em grande parte relacionadas com o habitat, disponibilidadede água no ambiente e refletem sua importância adaptativa. • A flor é um dos órgãos mais variáveis nas plantas. São estruturas especializadas em usar recursos abióticos para a transferência do pólen, sendo providas com uma vasta gama de cores, formas e estruturas. • As Magnoliídeas apresentam características primitivas, como flores grandes, tépalas evidentes, com numerosos órgãos dispostos em espiral sobre o receptáculo alongado. As Monocolitedôneas são um grupo 20 monofilético com características bem próprias, como só um cotilédone na semente, raiz fasciculada, folhas paralelinérveas, estruturas florais trímeras ou pentâmeras, xilema e floema espalhados em feixes. • O grupo das Angiospermas Eudicotiledôneas Rosídeas é formado pelas plantas com corola dialipétala (pétalas separadas), como é observado em flores de pitangueira (Myrtaceae), feijoeiro (Fabaceae) e o morangueiro (Rosaceae), entre outras. • O grupo das Angiospermas Eudicotiledôneas Asterídeas é formado por plantas que possuem corola gamopétala (pétalas unidas), entre elas estão, por exemplo, o café (Rubiaceae), a hortelã (Lamiaceae), a batata (Solanaceae). 21 REFERÊNCIAS APG IV. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society, v. 181, n. 1, p. 1-20. 2016. GONÇALVES, E. G.; LORENZI, H. Morfologia Vegetal. 2. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2011. 544 p. JUDD, W. S. et al. Sistemática vegetal: um enfoque filogenético. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 612 p. PIMENTEL, R. G. et al. Morfologia de Angiospermas. Rio de Janeiro: Technical Books, 2017. 224 p. RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 856 p. SOUZA, V. C.; FLORES, T. B.; LORENZI, H. Introdução à Botânica: morfologia. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2013. 224 p. SOUZA, V. C; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para a identificação das famílias de angiospermas da flora brasileira, baseado em AGP IV. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2019. 768 p. TEMA 2 – Estruturas morfológicas usadas em chaves de identificação: flora