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ANATOMIA AULA 3 Profª Stephanie Warnavin 2 CONVERSA INICIAL O sistema endócrino é um sistema regulatório interno que regula inúmeras funções do corpo humano, ajudando a manter o equilíbrio e a normalidade do organismo (McArdle; Katch; Katch, 2003; Marieb; Wilhelm; Mallatt, 2014). Sua anatomia e histologia são próprias e estão adequadas ao seu trabalho, permitindo que esse sistema desempenhe as suas funções (Seeley; Stephens; Tate, 2011). Além disso, é um sistema de comunicação e coordenação que atua em parceria com o sistema nervoso, secretando hormônios para a circulação e, dessa forma, controla as necessidades fisiológicas do organismo (Peate; Holmes, 2014). Os hormônios são moléculas mensageiras secretadas pelas glândulas pertencentes ao sistema endócrino e enviam sinais fisiológicos para células distantes no corpo. Por meio desses sinais hormonais, o sistema endócrino controla e integra as funções de outros sistemas orgânicos (Marieb; Wilhelm; Mallatt, 2014). Entre essas funções, pode-se destacar: a regulação iônica; o volume sanguíneo; o controle da glicose e de nutrientes no sangue; a reprodução; o equilíbrio hídrico; a regulação do sistema imunológico; a regulação da pressão arterial e frequência cardíaca; e a maturação dos tecidos (Lehninger; Nelson; Cox, 2000; Seeley; Stephens; Tate, 2011). Nesta aula, vamos estudar a anatomia e as funções das principais glândulas pertencentes ao sistema endócrino (Figura 1). 3 Figura 1 – Representação das glândulas do sistema endócrino Crédito: Double Brain/Shutterstock. TEMA 1 – GLÂNDULAS SUPRARRENAIS As glândulas suprarrenais, também chamadas de adrenais, localizam-se no interior da região abdominal (Van de Graaff, 2003) e são as principais reguladoras do equilíbrio mineral, diferenciação sexual (devido ao córtex adrenal que é responsável pela produção de hormônios esteroidais), resposta imediata ao estresse (através da medula adrenal e córtex adrenal que produz catecolamina e cortisol, respectivamente) e metabolismo da glicose (Papathomas et al., 2019). O corpo humano possui duas glândulas suprarrenais: uma localizada no lado esquerdo e outra no lado direito, na parte superior de cada rim (Figura 2). A 4 glândula suprarrenal esquerda se encontra no seguimento anterior à parte do pâncreas, estomago e, às vezes, do baço. Já a suprarrenal direita antecede o seguimento do lobo direito do fígado e veia cava inferior. Região do diafragma se encontra posteriormente às duas glândulas. Essas glândulas apresentam-se circundadas pela fáscia renal e gordura perirrenal, apartadas por um septo delgado dos respectivos rins. A adrenal esquerda apresenta formato piramidal, enquanto a adrenal direita possui formato semelhante com uma meia-lua; ambas são altamente vascularizadas por pequenas artérias suprarrenais (Peate; Holmes, 2014). Figura 2 – Glândula suprarrenal/adrenal, localizada na porção superior dos rins Crédito: Medical Art Inc/Shutterstock. 5 As artérias suprarrenais são divididas em três grupos: (a) as artérias suprarrenais inferiores, oriundas da artéria renal; (b) as artérias suprarrenais superiores, originadas da artéria frênica inferior; (c) as artérias suprarrenais médias, da parte abdominal da aorta. A veia suprarrenal esquerda drena o sangue para a veia renal, enquanto a veia suprarrenal direita drena o sangue para a cava inferior. Cada glândula suprarrenal é dividida em duas partes: medula e córtex; ambas controladas pelo hipotálamo por meio de diferentes mecanismos (Peate; Holmes, 2014). Córtex e medula secretam hormônios diferentes, mas todos os hormônios suprarrenais auxiliam o corpo humano a defrontar com situações que provocam estresse (Van de Graaff, 2003; Marieb; Wilhelm; Mallatt, 2014). A medula suprarrenal é a parte central das glândulas adrenais, sendo formada, quase exclusivamente, por fibras simpáticas. Essa medula, semelhante a um agrupamento de neurônios, deriva da crista neural e atua na parte simpática do Sistema Nervoso Autônomo. O córtex suprarrenal é a maior porção da glândula suprarrenal e envolve toda medula suprarrenal. Ele é dividido em três zonas: (a) glomerulosa; (b) fascicular; (c) reticular (Figura 3). Cada uma dessas zonas é responsável pela produção hormônios diferentes (Peate; Holmes, 2014). Figura 3 – Estruturas internas da glândula suprarrenal e zonas pertencentes ao córtex adrenal Crédito: Shanvood/Shutterstock. 6 Na região mais externa, chamada zona glomerulosa, são produzidos os mineralocorticoides. A aldosterona é o hormônio mais produzido nessa região e sua principal função é a reabsorção de sódio e excreção de potássio e hidrogênio. A região medial, denominada zona fascicular, é responsável por secretar glucocorticoides, que atuam em diversas células alvos gerando respostas ao metabolismo. O principal hormônio produzido nessa zona é o cortisol (Seeley; Stephens; Tate, 2011). Na região mais interna do córtex adernal, a zona reticular, são produzidos os hormônios sexuais (gonadocorticoides), como os androgênios e estrogênios (Peate e Holmes, 2014). Na medula suprarrenal, somente são produzidos dois hormônios: noradrenalina (norepinefrina) e adrenalina (epinefrina). O vínculo entre esses dois hormônios é fundamental, uma vez que a noradrenalina é um precursor da formação de adrenalina (Peate; Holmes, 2014). Vale ressaltar que a medula adrenal é originada pelas mesmas células dos neurônios simpáticos pós- ganglionares, por esse motivo, secreta também neuro-hormônios (Seeley; Stephens; Tate, 2011) que são produzidos em resposta ao estresse, através de nervos simpáticos (Peate; Holmes, 2014). TEMA 2 – AS GÔNADAS As gônadas são órgãos sexuais primários, sendo também a fonte principal de produção de hormônios esteroides sexuais (Marieb; Wilhelm; Mallatt, 2014). Na puberdade, por exemplo, essa secreção hormonal contribui para desenvolver as características sexuais secundárias, resultando em mudanças cíclicas nos órgãos sexuais secundários (Van de Graaff, 2003). Cada ser humano possui duas gônadas que se diferenciam de acordo com o sexo da pessoa: no sexo feminino são chamadas de ovários e no sexo masculino são chamadas de testículos (Figura 4). Apesar das diferenças específicas, as gônadas masculina e feminina apresentam semelhanças básicas. Observa-se que ambas produzem gametas e hormônios sexuais; ambas as gônadas secretam hormônios sexuais que influenciam no desenvolvimento e amadurecimento dos órgãos genitais e suas respectivas características sexuais; e por fim, os órgãos genitais de ambos os sexos são homólogos, ou seja, desenvolve-se a partir de tecidos embrionários semelhantes (Van de Graaff, 2003). 7 Figura 4 – Diferença do sistema endócrino feminino e masculino. Observar os ovários (feminino) e os testículos (masculino) Crédito: Vecton/Shutterstock. 2.1 As gônadas femininas – Ovários As gônadas femininas – os ovários – atuam na produção de gametas, conhecidos como ovócitos, além de produzir e secretar hormônios sexuais esteroides. Os ovários apresentam forma de amêndoa e estão localizados próximos às paredes laterais da cavidade pélvica (fossa ovárica). A extremidade superior do ovário se conecta com a parede posterior do abdômen, que contém vasos ováricos, resultado do ligamento suspensor do ovário. Já a extremidade inferior está ligada ao útero pelo ligamento útero-ovárico (Figura 5). Diferente dos órgãos pélvicos, os ovários não são revestidos por peritônio, apenas o mesovário (borda medial do ovário) está preso a ele. Além disso, o ovário é uma glândula mista, ou seja, realiza secreções exócrinas (óvulos) e endócrinas (estrogênios e progesterona) (Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009). 8 Figura 5 – Localização dos ovários dentro do sistemareprodutor feminino Crédito: Suwin/Shutterstock. O ovário produz hormônios androgênios, que são convertidos em estrogênio através de células foliculares ovarianas que, por sua vez, também se relacionam com a produção de progesterona. Depois da ovulação (Figura 6), os folículos ovarianos remanescentes continuam secretando progesterona e estrogênios. A progesterona aponta ao útero para se preparar para a gravidez, enquanto os estrogênios mantêm os órgãos reprodutores e as características sexuais secundárias femininas (Marieb; Wilhelm; Mallatt, 2014). 9 Figura 6 – Anatomia do ovário e estágios da ovulação Crédito: Tefi/Shutterstock. 2.2 As gônadas masculinas – Testículos As gônadas masculinas – os testículos – são responsáveis pela secreção de hormônios androgênicos, sendo o principal deles a testosterona; essa secreção acontece através das células endócrinas intersticiais – células de Leydig – que estão entre os túbulos formadores de espermatozoides (Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009; Marieb; Wilhelm; Mallatt, 2014). Essa glândula está localizada externamente na região pélvica, no saco escrotal. Este apresenta parede com musculatura lisa (dardos) capaz de manter a temperatura correta para que ocorra a produção, armazenamento e amadurecimento dos espermatozoides no epidídimo (Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009). A testosterona é responsável por manter os órgãos reprodutores e as características sexuais secundárias masculinas, além de ajudar na produção de espermatozoides. O testículo possui formato ovoide e está suspenso no saco escrotal pelo funículo espermático, uma estrutura em forma de cordão. Assim como o ovário, é uma glândula mista, pois apresenta secreções exócrina (produção de espermatozoides) e endócrina (seus respectivos hormônios promovem as características sexuais secundárias masculinas). 10 O testículo é envolvido por três túnicas: (a) vaginal do testículo, envolve parcialmente o epidídimo e o testículo, é a túnica mais externa; (b) albugínea, camada fibrosa densa, intermediária, branco-azulada, esta emite septos para o parênquima do testículo que divide a glândula em lóbulos, os quais contêm túbulos seminíferos; (c) vascular, é a porção mais interna, esta que constitui o plexo vascular da glândula (Figura 7). Vale ressaltar ainda que o os septos da túnica albugínea convergem para o mediastino do testículo, uma região onde os túbulos retos (continuação dos túbulos seminíferos) se juntam, formando a rede testicular, que é de onde partem os ductos eferentes, que penetram na cabeça do epidídimo. Os espermatozoides percorrem esse caminho através dos ductos, desde os túbulos seminíferos até chegar ao epidídimo. A vascularização do testículo é feita através do mediastino do testículo. A rafe do escroto é uma estrutura que separa o testículo esquerdo do direto, gerando dois compartimentos (Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009). Figura 7 – Anatomia do testículo Crédito: Designua/Shutterstock. TEMA 3 – GLÂNDULA HIPÓFISE A hipófise é uma glândula situada em região anatômica bem delimitada e conhecida como sela turca, localizada na base do crânio, no osso esfenoide, abaixo do hipotálamo (Figura 8) (Moore; Persaud; Torchia, 2012). Essa glândula já foi denominada de “glândula mestra” por secretar hormônios que regulam 11 algumas outras glândulas endócrinas. Entretanto, não é mais chamada dessa maneira, uma vez que a secreção de seus hormônios é controlada pelo hipotálamo (Van de Graaff, 2003). Assim como o encéfalo, essa glândula é envolvida por meninges. Embora seja um órgão único, é composta pela neuro-hipófise e adeno-hipófise, que liberam hormônios diferentes e são controlados por sistemas distintos (Van de Graaff, 2003). O lobo posterior, chamado neuro-hipófise ou hipófise posterior, origina-se do neuroectoderma do encéfalo em desenvolvimento. O lobo anterior, chamado de adeno-hipófise ou hipófise anterior, é derivada do ectoderma oral que migra cranialmente até junto ao infundíbulo primitivo (Moore; Persaud; Torchia, 2012; Van de Graaff, 2003). As diferenças embriológicas entre essas duas partes da hipófise faz com que as funções sejam distintas entre elas (Van de Graaff, 2003). Figura 8 – Localização da glândula hipófise na região da sela turca, que está abaixo do hipotálamo. Retrato da região posterior (neuro-hipófise) e anterior (adeno-hipófise) da hipófise e também o infundíbulo Crédito: medicalstocks/Shutterstock. 12 A neuro-hipófise divide-se em duas partes: (a) nervosa, que se encontra na região inferior; e (b) infundíbulo que apresenta projeções axonais de neurônios, onde os seus corpos celulares encontram-se no hipotálamo (Marieb, Wilhelm e Mallatt, 2014). Essa glândula é responsável, principalmente, por secretar ocitocina e arginina-vasopressina (AVP) (Kelberman; Dattani, 2006; Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009); a arginina-vasopressina também é chamada de hormônio antidiurético (ADH). Pela ação do hipotálamo, a ocitocina atua principalmente durante o parto e lactação e a ADH controla o balanço hidroeletrolítico (Van de Graaf, 2003). Quando há a ingestão de bebidas alcoólicas, a hipófise inibe a secreção de ADH; isso resulta na eliminação de grandes quantidades de urina diluída e desidratação, e essa desidratação é responsável pelos efeitos da ressaca (Marieb; Hoehn, 2008). O hipotálamo está localizado na região superior à hipófise madura e tem projeções neuronais no córtex cerebral e eminência média. Os hormônios do hipotálamo são transportados pelo sistema vascular portal para os lobos intermediário e anterior da hipófise. É pelo infundíbulo que as projeções neuronais para a hipófise e o sistema sanguíneo portal são conduzidos. Dessa forma, qualquer dano que haja nessa região pode provocar algum tipo de disfunção na glândula (Kelberman; Dattani, 2006). Histologicamente, a neuro- hipófise possui células dispostas em cordões e colunas demarcadas por lâmina basal envolvidas por fibras reticulares e extensa rede de capilares (Lloyd, 1993). A adeno-hipófise, que é composta por tecido granular, possui três subdivisões: (a) parte distal; (b) parte intermédia; (c) parte tuberal. A distal está na região mais anterior e é a maior parte da adeno-hipófise. A parte intermédia está posteriormente à distal. Na porção superior, encontra-se a parte tuberal, que envolve o infundíbulo como um tubo (Marieb; Wilhelm; Mallatt, 2014). Os principais hormônios produzidos na adeno-hipófise são: a gonadotrofos (hormônio luteinizante, LH e hormônio foliculoestimulante, FSH); corticotrofos (hormônio corticotrófico, ACTH); tireotrofos (hormônio estimulador da tireoide, TSH); somatotrofos (hormônio do crescimento, GH); lactotrofos (prolactina, PRL) (Ikeda et al., 1988; Drummond et al., 2003; Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009). A hipófise de um adulto possui aproximadamente 12 a 15 mm de diâmetro e pesa cerca de 600 mg, sendo mais pesada na mulher (Lloyd, 1993; Youmans, 1996). Possui formato semelhante a uma ervilha e, por muitas vezes, é descrita como “uma ervilha em uma haste” (Marieb; Hoehn, 2008). Situa-se na caixa 13 craniana e está ligada ao hipotálamo através do infundíbulo – uma haste por onde passa o sistema porta-hipofisário unindo os capilares da adeno-hipófise aos do hipotálamo – além disso, é pelo infundíbulo que passam as fibras nervosas que se estendem até a neuro-hipófise, mostrando a relação do hipotálamo na liberação hormonal (Figura 9) (Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009). O infundíbulo apresenta uma forma parecida com um funil (Marieb; Hoehn, 2008). A haste da hipófise é composta de três partes: (a) porção neutral, haste infundibular da neuro-hipófise; (b) porção granular, pars tuberalis da adeno- hipófise; (c) porção vascular, sistema trato/porta hipotálamo-hipofisário citado anteriormente (Drummondet al., 2003). Figura 9 – A hipófise posterior armazena e secreta seus hormônios produzidos nos corpos dos neurônios presentes no núcleo óptico e paraventricular do hipotálamo, que são levados para a neuro-hipófise através de fibras nervosas do trato hipotálamo-hipofisário Fonte: Van de Graaff, 2003. TEMA 4 – GLÂNDULA TIREOIDE A glândula tireoide é a maior glândula puramente endócrina do corpo (Marieb; Hoehn, 2008), pesando entre 20 e 25 g (Van de Graaff, 2003), e possui um papel muito importante no metabolismo durante o crescimento, 14 desenvolvimento corpóreo e maturação do sistema nervoso central (Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009). A glândula da tireoide possui um formato semelhante ao de uma borboleta, é extremamente vascularizada e está localizada na parte anteromedial do pescoço. Seu formato se deve a presença de dois lóbulos, de aproximadamente 5 cm de altura, que se encontram ligados pelo istmo, uma estreita ponte de tecido tiroideu. Estes lóbulos estão justapostos lateralmente à porção superior da traqueia, logo abaixo da laringe (Figura 10) (Ellis, 2003; Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009). Figura 10 – Estruturas que circundam a glândula da tireoide, que se encontram logo abaixo da Laringe (Larynx) e acima da traqueia (Trachea). Presença dos dois lóbulos em formato de borboletas e interligados pelo istmo (Isthmus) Crédito: sciencepics/Shutterstock. A tiroide está alocada no espaço visceral, na região anterior ao espaço pré-vertebral e posterior aos músculos do esterno e esternotireóideo, em torno da traqueia, o que faz com que se mova com a laringe no processo de deglutição (Ellis, 2003; Policeni; Smoker; Reede, 2012). Essa glândula é irrigada por um par de artérias tireóideas superiores, ramos da artéria carótida externa e outro de artérias tireóideas inferiores, ramos das artérias subclávias e volta com sangue venoso por pares de veias tireóideas superiores e médias que drenam para a veia jugular interna e desembocam nas veias braquicefálicas, por intermédio de 15 veias tireóideas inferiores, além de vários pequenos vasos sanguíneos (Figura 11) (Van de Graaff, 2003). Contém folículos tiroideus com paredes formadas por camada de células epiteliais cúbicas; esses folículos são diversas esferas pequenas, e entre cada uma delas existe uma rede delicada de tecido conjuntivo frouxo com vários capilares. As células parafoliculares ficam dispersas entre os folículos e as células de suas paredes (Young et al., 2007). Figura 11 – Vascularização e ramos principais de irrigação da glândula da tireoide Crédito: Blamb/Shutterstock. 16 Essa glândula produz dois hormônios principais: tiroxina (T4) e triiodotironina (T3); adjunto a estes produz, secundariamente, a calcitonina (tireocalcitonina). Grande parte da tiroxina presente no sangue, está fixa em proteínas transportadoras. Somente a minoria que está livre no plasma sanguíneo consegue entrar nas células-alvo, e é nessas células que a tiroxina é convertida em triiodotironina e fixada em proteínas nucleares receptoras. O TSH (Hormônio Estimulante da Tireoide) e o hipotálamo controlam a liberação de T4 e T3, que estão armazenados nos folículos tireoidianos e são liberados quando é preciso manter o controle do metabolismo. Esses hormônios atuam aumentando a taxa de liberação da energia pelos carboidratos e a síntese de proteínas (Van de Graaff, 2003). A carência desses hormônios pode resultar em certo grau de déficit intelectual, que pode ser confundido com doenças relacionadas a alterações cromossômicas (Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009). A calcitonina é produzida por células parafoliculares e é um hormônio polipeptídeo. Sua ação é realizada com o hormônio da glândula paratireoide, chamado paratormônio (Van de Graaff, 2003), ação essa que está relacionada ao metabolismo do cálcio (Silva Filho; Leitão; Bruno, 2009). Essa combinação regula os níveis de sangue através do rim. A calcitonina atua inibindo a liberação de cálcio presente no tecido ósseo, estimulando a excreção do cálcio através dos rins. Essas ações ocasionam a diminuição dos níveis de cálcio no sangue (Van de Graaff, 2003). A tireoide é uma glândula única, com algumas características particulares, como a capacidade de armazenamento de grande quantidade de hormônios inativos, no centro dos seus folículos (compartimentos extracelulares), sendo que outras glândulas conseguem armazenar apenas pequenas quantidades e em compartimentos intracelulares (Ellis, 2003). TEMA 5 – APLICAÇÕES PRÁTICAS É válido ressaltar a importância do entendimento sobre o funcionamento do sistema endócrino e suas adaptações ao exercício. A prática de exercícios físicos causa diversas adaptações metabólicas e funcionais ao corpo. O organismo reage para manter seu equilíbrio e a ação hormonal nesse processo é evidente. Não se sabe o motivo das alterações nos ritmos de secreção hormonal em todas as glândulas, mas é evidente que o exercício físico é um estímulo para a secreção e/ou inibição de alguns hormônios (Gould, 1989). 17 Os ovários nas mulheres e os testículos nos homens são órgãos responsáveis por produzir gametas, mas também são as glândulas responsáveis por liberar hormônios imprescindíveis para o desenvolvimento sexual e reprodutivo, sendo os principais hormônios os estrogênios, a progesterona e a testosterona (Berne; Levy, 1996). Hipertireoidismo é quando há produção excessiva dos hormônios da tireoide, o que acelera o metabolismo, provocando maior frequência e irregularidades dos batimentos cardíacos, perda de peso, sudorese e irritabilidade. Em contrapartida, o hipotireoidismo é a deficiência na produção dos hormônios da tireoide, gerando mudança nos batimentos cardíacos (lentos e irregulares), aumento de peso, fadiga, sensibilidade ao frio, constipação, enfraquecimento das unhas e dos cabelos. A menopausa consiste em um declínio natural nos hormônios reprodutivos femininos e costuma acontecer a partir dos 40 ou 50 anos; os ovários param de produzir hormônios e não ocorre mais a menstruação. É comum fazer uso de reposição hormonal para aliviar os sintomas e os incômodos, principalmente ondas de calor, secura vaginal, alteração de humor, perda de libido, insônia e palpitações. No sexo masculino, a baixa produção de testosterona em decorrência do envelhecimento é chamada de Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM). Os sintomas mais frequentes são: disfunção erétil, diminuição de libido, ejaculação retardada, diminuição da força e massa muscular, fadiga, irritabilidade, sonolência, aumento da gordura visceral. Assim como na menopausa, uma forma de aliviar os sintomas é fazer uso da reposição hormonal, neste caso, de testosterona. O pâncreas é um órgão que mede aproximadamente 15 cm e pesa cerca de 100 g. Em condições normais, está na porção superior do abdômen, abaixo do estômago e interligado por um canal ao duodeno. Possui função exócrina (síntese do suco pancreático e auxílio na digestão) e a função endócrina (produção de insulina). Uma das principais funções desse órgão é o controle e o equilíbrio do açúcar presente no corpo. A diabetes é uma doença causada pela falta ou má absorção de insulina, que é o hormônio responsável por promover o aproveitamento da glicose como energia. A diabetes tipo 1 é o resultado da destruição autoimune das células produtoras desse hormônio. Seu diagnóstico normalmente é precoce, principalmente durante a infância e a adolescência. Outro tipo de diabetes, o tipo 18 2, é quando o pâncreas consegue produzir insulina, porém, as células adiposas e musculares são incapazes de absorvê-la. Esse tipo de diabetes ocorre, na sua grande maioria, em pessoas com mais de 40 anos, com condições sistemas comprometidas, por exemplo, sedentarismo, sobrepeso e obesidade, alimentação inadequada e outros.NA PRÁTICA 1. Elabore uma tabela relacionando cada glândula (porção) com os hormônios produzidos e sua função no organismo. 2. Pesquise quais as consequências do uso contínuo de contraceptivos no corpo feminino. 3. O hipogonadismo é uma doença que ocorre quando as gônadas não produzem quantidades adequadas de hormônios sexuais (testosterona e estrogênio), afetando homens e mulheres de diferentes idades. Pode ser decorrente de distúrbios hormonais não tratados (como hipotireoidismo), mau funcionamento das gônadas ou problema na hipófise. Pesquise os principais sintomas dessa doença, formas de tratamento e quais as consequências dela para o indivíduo. FINALIZANDO Nesta aula, foi possível observar as principais glândulas endócrinas do corpo humano, entender suas estruturas, sua localização e suas principais funções. As glândulas do sistema endócrino são especializadas em produzir e secretar hormônios, que vão para a corrente sanguínea, a fim de chegar nas células-alvo de todos os tecidos. As principais glândulas são: hipófise; tireoide; suprarrenal e gônadas, sendo essas últimas glândulas mistas. As células-alvo possuem em sua membrana ou em seu interior, receptores especiais para um tipo de hormônio específico. Dessa forma, os hormônios trabalham como mensageiros, transmitindo ordens para destinatários corretos. Os hormônios são substâncias produzidas pelas glândulas que pertencem ao sistema endócrino, que vem do grego endos, que significa “dentro”, e krynos, que significa “secreção”, ou seja, secreção de dentro. Cada hormônio desse sistema possui uma função diferente, entretanto, para que o organismo funcione 19 de forma adequada, é preciso que as glândulas endócrinas e seus hormônios trabalhem em conjunto e de forma harmoniosa. Por exemplo, quando levamos um susto são os hormônios produzidos nas glândulas suprarrenais – adrenalina e noradrenalina – que fazem com que nosso corpo produza uma resposta, aumentando o ritmo cardíaco e respiratório, nos preparando para uma ação. Além disso, os hormônios, também são os encarregados por regular e equilibrar níveis de substâncias importantes no nosso organismo – açúcar e cálcio, por exemplo –, evitando a carência ou o excesso em nosso corpo. Também são os hormônios que promovem o amadurecimento e mudanças corporais importantes, além de regular ações do cotidiano – como o sono e apetite – e de afetar o humor e atividades sexuais. A hipófise é a glândula que está localizada no cérebro e funciona como comandante de outras glândulas. Além de produzir e secretar seus próprios hormônios, estimula outras glândulas na fabricação de outros hormônios. Alguns hormônios produzidos pela hipófise têm como função sinalizar para outras glândulas que necessitam produzir hormônios. Observamos que suprarrenais recebem esse nome justamente por estarem na região superior dos rins e serem as principais reguladoras do equilíbrio mineral, diferenciação sexual, resposta imediata ao estresse e metabolismo da glicose. Também vimos que a produção de hormônios esteroides sexuais masculinos e femininos acontece nas gônadas e, além disso, essas glândulas também são incumbidas de promover importantes alterações e maturação características sexuais. A tireoide, a maior glândula do corpo, é fundamental para a ativação e a manutenção do metabolismo durante o crescimento e o desenvolvimento corpóreo. Além disso, a tireoide também é indispensável para maturação do sistema nervoso central. O desequilíbrio hormonal pode resultar em estresse, depressão, fadiga, alteração de humor, dificuldades de controlar o peso, insônia, entre outros problemas. É de extrema importância observar e acompanhar esse desequilíbrio, o qual pode gerar doenças que podem ser fatais. 20 REFERÊNCIAS BERNE, R. M.; LEVY, M. N. Fisiologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. DRUMMOND, J. B. et al. Alterações da haste hipofisária e suas implicações clínicas. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, v. 47, n. 4, p. 458-466, 2003. ELLIS, H. Anatomy of the thyroid, parathyroid and suprarenal(adrenal) glands. Surgery Journal, Oxford, v. 21, n. 12, p. 289-291, 2003. Disponível em: <https://doi.org/10.1383/surg.21.12.289.25174>. Acesso em: 10 abr. 2020. GOULD, S. J. O polegar do panda: reflexões sobre história natural. São Paulo: Martins Fontes, 1989. IKEDA, H. et al. The development and morphogenesis of the human pituitary gland. Anat Embryol, v. 178, p. 327-336, 1988. 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