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è Conhecer os mecanismos imunológicos das doenças autoimunes; è Compreender a fisiopatologia das doenças pericárdicas e duas relações com as doenças autoimunes; è Entender as manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da pericardite; Doencas autoimunes • A autoimunidade refere-se a reações imunes contra antígenos próprios; • As doenças autoimunes podem ser órgão-específicas, nas quais as respostas imunes são direcionadas contra um órgão ou determinado tipo de célula que resulta em lesão tecidual localizada; • E podem ser sistêmicas, caracterizadas por lesões em vários órgãos; • Nas doenças sistêmicas causadas por imunocomplexos e autoanticorpos, as lesões afetam principalmente os tecidos conjuntivos e os vasos sanguíneos dos órgãos envolvidos; • As pessoas “normais” (tolerantes) não respondem aos seus próprios antígenos e a autoimunidade é resultado da falha na autotolerância; • A autotolerância refere-se à ausência de resposta imune aos próprios antígenos teciduais; • Bilhões de diferentes receptores de antígenos são gerados aleatoriamente no desenvolvimento dos linfócitos T e B; • Durante esse processo, produzem-se receptores capazes de reconhecer autoantígenos; • Uma vez que esses antígenos não podem ser todos escondidos do sistema imune, deve haver um meio de eliminar ou controlar o autorreconhecimento dos linfócitos; • Vários mecanismos funcionam em conjunto na seleção contrária à autorreatividade para prevenir reações imune contra os próprios antígenos do corpo; APG 11 – Prece Maometana Amanda Rocha Turma XV 1 Tolerância Imunológica Tolerância Central • O principal mecanismo da tolerância central é a deleção induzida pelo antígeno (morte) de linfócitos T e B autorreativos durante o seu amadurecimento nos órgãos linfoides centrais (primários) – Timo para as células T e medula óssea para as células B; • No timo, muitos antígenos proteicos autólogos são processados e apresentados pelas APCs (células apresentadoras de antígenos) tímicas; • Qualquer célula T imatura que tenha contato com autoantígenos sofre apoptose (DELEÇÃO), assim as células T que completam sua maturação não apresentam células autorreativas; • Porém, nem todas as células T imaturas que entram em contato com autoantígenos no timo são deletadas. • Algumas células T CD4+ sobrevivem e desenvolvem-se em células T reguladores; • A células B imaturas que reconhecem autoantígenos com grande afinidade na medula óssea também podem morrer por apoptose; mas algumas podem escapar da eliminação; • A tolerância central, no entanto, é imperfeita. • Nem todos os autoantígenos estão presentes no timo ou na medula óssea, portanto linfócitos que portam receptores para tais autoantígenos escapam para a periferia e podem causar lesão tecidual a menos que sejam eliminados ou silenciados nos tecidos periféricos; Tolerância Periférica • Vários mecanismos silenciam células T e B potencialmente autorreativas nos tecidos periféricos; è Anergia: Inativação funcional (em vez da morte) de linfócitos. A ativação das células T requer dois sinais: reconhecimento do antígeno peptídico associado a moléculas MHC nas APCs e um conjunto de segundos sinais coestimuladores fornecidos pelas APCs. Se os sinais coestimuladores não forem acionados ou se um receptor inibitório na célula T estiver ligado quando a célula encontrar com o autoantígeno, a célula T torna-se anérgica e incapaz de responder ao antígeno; Como as moléculas coestimulatórias são expressas em níveis baixos ou ausentes nas APCs que apresentam autoantígenos, o encontro entre células T autorreativas e autoantígenos nos tecidos pode resultar em anergia. Amanda Rocha Turma XV 2 è Supressão por células T reguladores: Uma população de células T chamadas de células T reguladores evita as reações imunes contra autoantígenos. As células T reguladoras desenvolvem-se principalmente no timo, mas também podem ser induzidas nos tecidos linfoides periféricos. Os mecanismos pelos quais as células T reguladoras suprimem as respostas imunes ainda não foram totalmente definidos, mas sua atividade inibidora pode ser mediada em parte pela secreção de citocinas imunossupressoras, como IL-10 e TGF- β, que inibem a ativação dos linfócitos e as funções efetoras; è Deleção por apoptose: As células T que reconhecem autoantígenos podem receber sinais que promovem sua morte por apoptose. Presume-se que quando as células T reconhecem autoantígenos, elas suprarregulam um membro pro- apoptótico da família b=Bcl-2 (BIM) que desencadeia a apoptose pela via mitocondrial. è Alguns autoantígenos estão ocultos do sistema imune, porque os tecidos nos quais esses antígenos estão localizados não se comunicam com o sangue e a linfa por isso não conseguem desencadear respostas imunes, a não ser que sejam liberados na circulação como consequência de um trauma ou infecção; São encontrados nos testículos, olhos e no cérebro; • As causas subjacentes à maioria das doenças autoimune permanecem indeterminadas; • A quebra da autotolerância e o desenvolvimento da autoimunidade são resultantes de efeitos combinados dos genes de suscetibilidade, que influenciam a tolerância dos linfócitos e fatores ambientais, como infecções ou lesões nos tecidos, os quais alteram a apresentação e as respostas aos autoantígenos; Mecanismos da autoimunidade Amanda Rocha Turma XV 3 Fatores genéticos na Autoimunidade • A maioria das doenças autoimunes são distúrbios multigênicos complexos; • Tendem a ocorrer em famílias e há maior incidência da mesma doença em gêmeos monozigóticos do que em dizigóticos; Papel das Infecções, Lesões Teciduais e Outros Fatores Ambientais • Vários microrganismos, incluindo bactérias, microplasmas e vírus foram descritos como desencadeadores de autoimunidade. • Os microrganismos podem induzir reações autoimunes por meio de vários mecanismos: è Infecções microbianas com inflamação e necrose tecidual resultantes podem estimular a expressão de moléculas coestimulatórias nas APCs do tecido, favorecendo a quebra da tolerância das células T e subsequente ativação das células T. (Quebra da tolerância periférica); è Os vírus e outros microrganismos podem compartilhar epítopos de reação cruzada com autoantígenos e, como resultado, as respostas induzidas pelos microrganismos podem se estender aos tecidos próprios: mimetismo molecular. Ex. Doença cardíaca reumática; • Os fatores que levam à falha da autotolerância e ao desenvolvimento de doenças autoimunes incluem: herdar genes de suscetibilidade que podem interferir em diferentes vias de tolerância e infecções e lesões teciduais que podem expor autoantígenos ou ativar APCs e linfócitos nos tecidos; • Suscetibilidade genética + falha da autotolerância + infecção ou dano tecidual = Doença autoimune • Dados demonstram que cerca de 3% a 5% da população em geral é afetada por doenças autoimunes; Amanda Rocha Turma XV 4 Doencas pericardicas • O pericárdio consiste de duas membranas (visceral e parietal) que envolvem o coração; • Entre elas encontra-se normalmente cerca de 15 a 50mL de um líquido seroso e claro que age como lubrificante, diminuindo o atrito do coração durante o ciclo cardíaco; • O pericárdio visceral está intimamente ligado ao coração, aos grandes vasos e permite a fixação do tecido adiposo ao miocárdio; • O pericárdio parietal é constituído de colágenos tipo I e III e elastina, mais resistente e tem a função de fixar o coração ao mediastino; • Pericardite é o processoinflamatório do pericárdio e pode ser de causa primária ou secundária a diversas doenças sistêmicas; • As formas agudas e recorrentes são as mais comuns na prática clínica; • O termo “Pericardite aguda” é geralmente utilizado para o primeiro episódio da doença; • “Pericardite recorrente” refere-se à recorrência após remissão inicial, independentemente do intervalo de tempo de reaparecimento; • “Pericardite crônica” é muito usado para aqueles casos de pericardite de curso prolongado; Pericardite Aguda • A pericardite idiopática é a forma mais comum de apresentação da pericardite aguda, representando 90% dos casos; • Sabe-se que na maioria desses casos a etiologia é viral; • Além das pericardites idiopáticas ou virais, várias doenças podem cursar com pericardite. A pericardite pode ser a primeira manifestação de uma doença sistêmica (em geral, autoimune) neoplásica ou tuberculosa; • Em geral, as causas de pericardite agudam podem ser subdivididas em: infecciosas e não infecciosas; • Os agentes infecciosos capazes de causar pericardite são: vírus, bactérias, fungos e parasitas; • As não infecciosas incluem etiologia autoimune; Introdução Etiologia Amanda Rocha Turma XV 5 • As pericardites virais são a principal causa de infecção do pericárdio. A ação inflamatória é decorrente da ação direta do vírus ou da resposta imunológica; • As manifestações da doença ocorrem 1 a 3 semanas após um quadro de infecção viral; • Acometem, preferencialmente, adultos jovens; • As pericardites bacterianas são raras em adultos e exibem alta taxa de mortalidade, em torno de 40%; • O acometimento do pericárdio, mais comumente, ocorre por extensão direta de uma pneumonia ou empiema (derrame pleural com presença de bactérias); • A dor está quase sempre presente com intensidade e duração variáveis e normalmente é precedida de sintomas não específicos de infecção como: febre e mal-estar; • A dor é ventilatório-dependente e pode ser retroesternal, precordial ou epigástrica; • Dor de caráter pleurítica, pois inflama as estruturas adjacentes (pleura); • A dor piora em decúbito dorsal e melhora quando se está em posição inclinada para a frente, pois o pericárdio “afasta” das estruturas; • Em razão da relação com o nervo frênico, a dor irradia para o músculo trapézio; • O atrito pericárdio é o achado clássico da pericardite aguda, presente em cerca de 85% dos casos; é decorrente da fricção dos folhetos pericárdicos; • Trata-se de um rangido de alta frequência, mais audível ao final da expiração; • Porém, nem sempre vai ser possível auscultar esse atrito; Eletrocardiograma • Os pacientes com pericardite aguda frequentemente exibem alterações eletrocardiográficas compatíveis com inflamação do tecido epicárdico (pericárdio visceral); • As alterações eletrocardiográficas (difusas) podem ser caracterizadas em estágios de evolução de acordo com o tempo de apresentação: è Estágio I (primeiras horas a dias): Caracteriza-se por supradesnivelamento côncavo difuso do segmento ST e por infradesnivelamento do segmento PR; Sinais e sintomas Exames diagnósticos Amanda Rocha Turma XV 6 è Estágio II (primeira semana): Retorno dos segmentos ST e PR aos padrões normais; è Estágio III (após normalização do segmento ST): Ocorre inversão difusa da onda T; è Estágio IV: Retorno da onda T ao padrão normal; Ecocardiograma • Exame indicado como parte da avaliação diagnóstica de rotina; • Quando ocorre acometimento concomitante do miocárdio, pode revelar alterações de função e contratilidade cardíacas; • O eco permite avaliar características do pericárdio como presença de espessamento (maior que 3mm); Radiografia de tórax • O aumento da silhueta cardíaca na radiografia de tórax pode indicar presença de derrame pericárdico e colaborar com a suspeita de pericardite; • Entretanto, apenas derrames com volume acima de 200 mL são geralmente identificados pela radiográfica; • A presença de derrame pleural e alterações concomitantes nos campos pulmonares ou no mediastino podem auxiliar no diagnóstico etiológico; • Na maioria dos casos de pericardite viral, a radiografia de tórax não exibe alterações; Amanda Rocha Turma XV 7 Pericardiocentese e biópsia endomiocárdica • A pericardiocentese (drenagem do pericárdio) é um procedimento invasivo que não está indicado em casos de pericardite aguda não complicada ou em pequenos derrames; • Na presença de derrames pericárdicos grandes ela está indicada com o propósito diagnóstico e também para alívio, impedindo a evolução súbita para tamponamento cardíaco, situação em que é medida salvadora; • A biópsia pericárdica está indicada em quadros persistentes sem diagnóstico definido ou em grandes derrames reincidentes; • A pericardite aguda idiopática ou viral tem curso autolimitado na maioria dos casos e responde ao tratamento com anti-inflamatórios não esteroidais que atua reduzindo a inflamação e promovendo analgesia; • A droga de escolha é o ibuprofeno em virtude dos efeitos colaterais raros e impacto favorável no fluxo sanguíneo coronariano; • A dose recomendada é de 400 a 800mg a cada 6 ou 8 horas por 14 dias; • Os corticosteroides devem ser considerados apenas naqueles pacientes com pericardites recorrentes não respondedoras aos AINH e à colchicina, pois há evidências de pericardite de repetição após uso desses medicamentos; Pericardite recorrente • A pericardite recorrente caracteriza- se por episódios repetidos de pericardite, com caráter incessante ou intermitente, com provável etiologia autoimune; • As principais causas de pericardite recorrente são: pericardite viral/idiopática, síndrome pós- pericardiotomia e pós infarto agudo do miocárdio. • Tuberculose, neoplasias e bacterianas normalmente não cursam com recorrências; • Geralmente são menos intensos em relação ao primeiro episódio; Tratamento 8 Amanda Rocha Turma XV Sinais e sintomas • A dor torácica é o sintoma mais frequente e tem caráter pleurítico, com melhora quando o paciente se senta e piora quando o paciente se deita; • O diagnóstico é realizado em pacientes com pericardite aguda prévia documentada, dor torácica sugestiva e quando há presença de um dos seguintes critérios: è Alterações no ECG: supradesnivelamento difuso de ST, infradesnivelamento de PR; è Atrito pericárdico; è Derrame pericárdico novo ou piora do preexistente ao ecocardiograma; è Elevação de PCR è Leucocitose (aumento dos leucócitos); Derrame pericárdico • O acúmulo patológico de líquido na cavidade pericárdica é denominado derrame pericárdico; • Trata-se de uma doença comum e com espectro clínico amplo, variando desde pequenos derrames assintomáticos até o tamponamento cardíaco; • As principais causas de derrame pericárdico são: infecções (virais, tuberculose), neoplasias, doenças reumatológicas (lúpus, artrite reumatoide), dissecção de aorta, doenças metabólicas (uremia, hipotireoidismo) e injúria pericárdica (pós-infarto, pós-pericardiotomia – abertura do pericárdio); • Depende basicamente da etiologia, do tamanho e da velocidade de acúmulo de líquido no espaço pericárdico; • No geral, derrames pequenos não causam restrição ao enchimento das câmaras cardíacas e não determinam sintomas; • Nos derrames moderados ou grandes, o aumento da pressão pericárdica pode determinar compressão das câmaras cardíacas e restrição ao enchimento diastólico, condição denominadatamponamento cardíaco; • Nas condições que ocasionam derrames de rápida instalação (hemorragias agudas), a pressão intrapericárdica aumenta rapidamente, de minutos a horas, pode levar ao choque cardiogênico ou até parada cardíaca; • Em processos inflamatórios de baixa intensidade, a compressão cardíaca ocorre em semanas ou meses, com grande acúmulo de líquido decorrente da distensão e adaptação Diagnóstico Quando clínico Amanda Rocha Turma XV 9 do pericárdio. Nesses casos, sinais e sintomas de IC costumam preceder o colapso hemodinâmico; • ECG: QRS com baixa voltagem + onda T aplainada; • Radiografia de tórax: Pode haver aumento da área cardíaca; • Ecocardiograma: Excelente para avaliar derrame pericárdico; Pericardite Constritiva • Consequência da inflamação crônica do pericárdio, que se torna espessado e calcificado, desencadeando restrição ao enchimento diastólico dos ventrículos, queda do volume sistólico e baixo débito cardíaco; • Tuberculose, pericardite bacteriana, neoplasias e cirurgia cardiaca previa são causa frequentes da doença, que pode se manifestar de diferentes formas de acordo com a localização, a extensão e o grau de espessamento pericárdico; • Na pericardite constritiva, o pericárdio espessado limita a expansão dos ventrículos durante a diástole; • Desse modo, quando se abrem as valvas atrioventriculares, ocorre rápido enchimento dos ventrículos e aumento abrupto da pressão diastólica; • Como resultado, a maior parte do enchimento ventricular ocorre no terço inicial da diástole e, a partir do momento em que o pericárdio determina máxima expansão da cavidade, cessa o aumento de volume e de pressão em seu interior; • Além disso, ocorre aumento das pressões de átrio direito, ventrículo direito e artéria pulmonar, culminando na equalização das pressões de enchimento nas quatro câmaras cardíacas; Diagnóstico Etiologia Fisiopatologia Amanda Rocha Turma XV 10 • O quadro clínico é sugestivo de IC direita com anasarca (edema generalizado), distensão abdominal; e edema dos membros inferiores; • Sinais inespecíficos incluem: fadiga, anorexia, náuseas, dispneias e perda de peso; • Ao exame físico observa-se paciente com aumento da pressão venosa, turgência jugular, quando o paciente realiza inspiração; • Eletrocardiograma: alterações inespecíficas dos segmentos ST e onda T, ondas P patológicas e complexos QRS de baixa voltagem, bloqueio atrioventricular, fibrilação atrial, sinais de sobrecarga atrial ou distúrbios da condução atrioventricular; • Peptídeo natriurético tipo B (BNP): pode ser útil no diagnóstico diferencial com outras síndromes restritivas. Valores normais ou pouco elevados falam a favor de pericardite constritiva; • Radiografia de tórax: calcificações pericárdicas e derrame pleural podem ser observados em até 1/3 dos pacientes; • Em pacientes com quadro clínico sugestivo de pericardite constritiva sem calcificação pericárdica séria e com sinais de atividades inflamatórias pericárdica e sistêmica, o tratamento clínico pode ser considerado antes da indicação de pericardiectomia; • Nos casos sintomáticos, em que não há sinais de inflamação e o espessamento e calcificação pericárdica estão presentes, a cirurgia de pericardiectomia é indicada e não deve ser adiada; Quando clínico Exames complementares Tratamento Amanda Rocha Turma XV 11