Buscar

literatuia brasileira iii-116

Prévia do material em texto

existência para o ser humano, considerando que o próprio conceito de morte só é possível como antítese 
de vida.
Podem-se acompanhar os momentos emocionais e a evolução estética de Drummond pelos seus 
poemas de temática amorosa, a começar pelos gracejos tragicômicos modernistas de Alguma poesia, de 
que "Quadrilha" é representante nesta Antologia. Há ainda as peripécias do amor, "bicho instruído", que 
trepa e se estrepa, que se irrita e se completa de "O amor bate na aorta"; o desespero dos suicidas 
passionais de "Necrológio dos desiludidos do amor"; e a tentativa de resistência ao suicídio causado pelos 
altos e baixos amorosos em "Não se mate" (Os três últimos de Brejo das almas, 1933):
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão, 
se é que virão.
A rosa do povo (1945)
A rosa do povo (1945) contribui com dois poemas amorosos, em que se 
percebe uma nova maneira de encarar o amor: "O mito" e "Caso do vestido". No 
primeiro, o eu lírico cria uma mulher burguesa, inspirada nos clássicos Petrarca, 
Ronsard e Camões, e ambientada nas contradições do capitalismo, sempre 
presentes em A rosa do povo. De reboque cria-se também o amor 
correspondente à mulher-mito. O poeta decide afinal negar a existência dessa 
mulher e desse amor, criando um novo mundo, "sem classe e imposto", em que 
é possível a transformação do sentimento amoroso, com a eliminação do 
sofrimento e das desavenças, e acolhendo os amantes em uma aura de 
compreensão.
O caso do vestido 
O caso do vestido encena um drama familiar, em que a mãe conversa com 
as filhas sobre um certo vestido outrora pertencente a uma prostituta que lhe 
havia seduzido o marido. O marido, apaixonado pela dona, pede à esposa que a 
convença a ficar com ele. Após muito tempo juntos, a prostituta acaba se 
apaixonando pelo homem, que a abandona. Ela vai então à esposa e lhe pede 
perdão e oferece como lembrança o vestido, última peça a recordar seus dias 
de luxo e luxúria. Ao final, a esposa fica com o vestido e com o marido.
Os poemas seguintes apresentam um Drummond já bem mais maduro, mais consciente. Num clima 
de introspecção, o poeta constata que amar é inerente a todos os seres humanos - há várias formas de 
amar, o amor se revela de várias maneiras e apresenta reações diversas, e ainda é cheio de mistérios. O 
poeta, entretanto, não recorre a soluções românticas para lidar com esses mistérios e os paradoxos do 
amor; as contradições amorosas são registradas e analisadas numa atitude de aceitação e contemplação. 
Um poema emblemático sobre o conceito de amor do poeta é "Amar", em que a constatação da 
existência do amor nas criaturas e em todas as coisas pode ser absoluta, mas é cheia de indagações, de 
inquietações. O "ser amoroso" ama as coisas belas, as coisas feias, as coisas "pérfidas ou nulas", a 
criatura funde no ato de amar tudo o que rodeia sua vida, incluindo os opostos de amar, como "malamar" e 
"desamar":
113

Mais conteúdos dessa disciplina