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literatuia brasileira iii-118

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Amar-amaro é um canto de "malestar", é cantilena zoando nos ouvidos, ferrinho de dentista sarcástico 
porém compreensivo, "cantarino escarninho piedoso". 
Há que perceber a gravidez das palavras que parem umas às outras vertiginosamente nos versos 
finais, como bactérias se multiplicando em cultura propícia: (Clique aqui)
(CLIQUE AQUI)
cantarino escarninho piedoso
este querer consolar sem muita convicção
o que é inconsolável de ofício
a morte é esconsolável consolatrix consoadíssima
a vida também
tudo também
mas o amor car(o,a) colega este não consola nunca de núncaras
Consolo (consolação), inconsolável (que não se consola), esconsolável (esconso, escondido, com 
consolo, o que pode ser) consolatrix (no latim, lá longe, a consoladora), consoadíssima (consoada, ceia, 
refeição, mas que soa junto, consoa e rima). Mas do amor não espere consolo, "nunca de núncaras", eco 
profundo no infinito insondável. Composição e decomposição.
Concluindo, essa parte da Antologia que contém a temática do amor revela com nitidez a trajetória do 
poeta. Sua expressão, inicialmente sincronizada com os modernismos mais ruidosos dos anos trinta, 
evolui para uma inquietação contemplativa e introspectiva, calma e silenciosa, em que os temas humanos 
são trabalhados com um certo distanciamento, porém com subjetividade e profundidade, numa forma 
estética mais universal, conseguintemente mais formal, até desabrochar na plenitude de linguagem 
mostrada em "Amar-amaro".
7. POESIA CONTEMPLADA
Fonte [7]
Este é o momento em que o poeta vai falar sobre poesia, sobre fazer poesia, sobre ler poesia. É o 
momento da metalinguagem, da explicação, ou tentativa de, sobre o processo criativo e sobre o 
processo recriativo, de leitura.
O lutador - 1942
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