Buscar

literatuia brasileira iii-126


Prévia do material em texto

Nos quatro poemas da sequência, que retornam àquele Drummond mais introspectivo, novamente 
preocupado com os absurdos da existência, o sentido misterioso da vida em sua relação com o amor e a 
ausência, a divindade e a morte.
"O par libertado" figura o casal que consegue manter-se imune à ação constrangedora do mundo ao 
redor pelo silêncio que liberta; "A falta que ama" é a vontade, a necessidade de amar para superar a 
solidão, necessidade tão forte que o locutor confunde sua origem, se ela está no ser humano ou 
simplesmente na própria falta, no buraco cavado pela ausência.
Comparece nesse poema uma temática reducionista contida na metáfora do inseto (presente 
também no poema anterior, "O par libertado"), que revela a insignificância e a fragilidade do ser humano 
diante da complexidade da vida e do tempo:
O inseto petrificado
na concha ardente do dia
une o tédio do passado
a uma futura energia.
A imagem do inseto aparece também no poema "Rola mundo", de A rosa do povo (1945) e presente 
nesta Antologia :
E vi minha vida toda
contrair-se num inseto.
Em "O deus mal informado" presenciamos a banalização da divindade criada pelo homem, que ao 
homem retorna; e em "Comunhão" o poeta descreve o momento de união com os mortos, a entrada no 
além e a lenta e tranquila assimilação do ambiente da morte.
Os três poemas seguintes são encontrados em "Conversa informal com o menino", o eu lírico dirige-se 
ao menino Jesus, e lhe fala da industrialização do tema do Natal, refletido nos pomposos textos sobre o 
assunto que proliferam aqui e ali. Ele se recusa então a participar desse circo natalino de publicações e se 
propõe a ter uma conversa com Jesus, mas uma conversa íntima, informal, silenciosa.
"Visões"
Em "Visões", o profeta do apocalipse, São João, é apresentado como um 
poeta extraordinário. Sua visão de destruição do mundo, entretanto, é recusada 
pela voz poética do texto. Considerando-se um visionário menor, o poeta 
abandona por instantes seu habitual pessimismo obscuro e profere uma 
mensagem de claro e branco otimismo em seu antiapocalipse. Ele não quer o 
fim do mundo, mas um eterno recomeço, com alegria, com manhãs claras, com 
integração à natureza, com muito amor e muita paz: (Clique aqui e veja o 
verso)
(CLIQUE AQUI E VEJA O VERSO)
Oráculo paroquial, a meus amigos
e aos amigos de outros ofereço
o doce instante, a trégua entre cuidados,
um brincar de meninos na varanda
que abre para alvíssimos lugares
123

Mais conteúdos dessa disciplina