Prévia do material em texto
RECURSOS ESTÉTICOS E COSMÉTICOS CAPILARES Mônica Magdalena Descalzo Kuplich Distúrbios e patologias do couro cabeludo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Listar os principais distúrbios e patologias que acometem o couro cabeludo. � Diferenciar as categorias das patologias. � Descrever as causas e manifestaçoes clínicas das patologias. Introdução Assim como outras partes do corpo, o couro cabeludo também é susce- tível a patologias que podem afetar o seu bom funcionamento. Prurido, descamação e queda de cabelos são algumas das manifestações que acometem o escalpo e, dependendo da intensidade ou do tamanho da região afetada, podem incomodar, e muito, seu portador. Queda de cabelos é normal, mas a intensa, que causa falhas ou diminui muito a quantidade de cabelos, já é considerada disfunção. Com a liberdade de estilo favorecida pela moda, vemos muitas pessoas, tanto homens quanto mulheres, que optam por raspar seus cabelos, entretanto ficar calvo é algo que chateia muita gente. Se descamação ou caspa leve já é um incômodo, imagine uma descamação tão intensa que, além do desconforto estético, ainda causa coceira e, em casos graves, feridas no couro cabeludo. Neste capítulo, você verá as principais patologias que acometem o couro cabeludo, as categorias das fisiopatologias e os distúrbios que envolvem a produção sebácea e descamação do couro cabeludo. joliveira Rectangle Principais patologias que acometem o couro cabeludo Um couro cabeludo considerado normal é aquele que tem a produção sebácea adequada, lubrifica o escalpo e a porção proximal da haste sem deixá-los com aspecto brilhoso e pesado. O crescimento dos cabelos é de aproximadamente 1 cm ao mês, e cerca de 90% dos folículos devem estar em fase anágena. A queda não ultrapassa os 100/150 fios por dia, os fios de cabelo crescem de forma contínua e se apresentam fortes e saudáveis. A descamação natural do couro cabeludo não é aparente e não há desconforto do tipo prurido ou sensibilidade. Várias desordens podem acometer o couro cabeludo, interferindo nestes fatores: hormônios, predisposição genética, nutrição e, até mesmo, estado emocional. Os distúrbios podem ser divididos de acordo com suas caracte- rísticas, que envolvem queda capilar, descamações, oleosidade excessiva, etc. O profissional da área da estética atua nesses casos com a terapia capilar, que se trata de um conjunto de ações terapêuticas que envolvem tanto protocolos com produtos naturais quanto com eletroterapia, que têm se mostrado uma alternativa eficaz para o tratamento. A abordagem multidisciplinar com a atuação conjunta de profissionais de diferentes áreas, como medicina, far- mácia, psicologia, etc., agregam no tratamento destas patologias, visto que são multifatoriais. Algumas das patologias que acometem o couro cabeludo podem apresentar mais de uma característica, como no caso da dermatite seborreica, que aparece tanto por excesso de oleosidade quanto por descamação e prurido no couro cabeludo. Distúrbios e patologias do couro cabeludo2 Alopecias cicatriciais Alopecias cicatriciais se caracterizam pela inativação permanente dos folículos, seja por trauma sofrido, fibrose ou perda tecidual, portanto não há solução estética. Nesses casos, a opção que pode reverter o quadro é o transplante capilar, que é realizado pelo médico dermatologista, entretanto, em alguns casos, a intervenção estética pode ser feita a fim de controlar o seu avanço. É muito importante ressaltar que o profissional da área da estética não deve realizar nenhum tipo de intervenção por conta própria nesse tipo de alopecia. Nesses casos, a abordagem multidisciplinar é bem-vinda. Considerações sobre alopecias cicatriciais Com exceção da alopecia traumática, onde a destruição folicular se dá pela lesão externa, as alopecias cicatriciais resultam de um processo inflamatório que destrói o folículo, o qual será substituído por tecido conjuntivo. O couro cabeludo se apresenta extremamente liso e brilhoso, e não se consegue visuali- zar óstios foliculares em sua superfície — quando visualizados, apresentam-se diminuídos e muito superficiais. A destruição dos folículos pode acontecer por via primária, quando o próprio é o alvo da inflamação, como no LPP e AFF, ou quando o processo inflamatório afeta indiretamente o folículo, como na FD. A abordagem dessas patologias deve ser multidisciplinar, e o profissional da estética deve atuar em conjunto, nunca sozinho. Alopecia traumática Este tipo de alopecia acontece a partir de um evento traumático externo, onde ocorre a lesão tecidual e consequente destruição dos folículos pilosos. O tecido regenerado na região do trauma não inclui os folículos pilosos, por isso as cicatrizes são geralmente livres de pelos (Figura 1). 3Distúrbios e patologias do couro cabeludo Figura 1. Alopecia traumática em couro cabeludo. Fonte: phugunfire/Shutterstock.com. Líquen plano pilar O líquen plano é uma manifestação em forma de pápulas que acomete a pele, e o líquen plano pilar (LPP) é uma variação do líquen plano, que afeta principal- mente o couro cabeludo. É caracterizado pela queda em formato de placas, que podem unificar-se, formando placas maiores. Acomete principalmente o topo da cabeça e o vértice, podendo afetar, também, a região temporal e occipital. O líquen plano pilar é de origem autoimune e uma das causas mais comuns de alopecia cicatricial. Manifesta-se por inflamação da região afetada, cujos sinais mais frequentes são vermelhidão e descamação perifolicular, dor, prurido ou ardência, além do aumento da perda de cabelos no local. O aspecto da pele é liso e brilhante e não se observam óstios foliculares, ou os mesmos se apresentam diminuídos, além de pequenos pontos esbran- quiçados que são as aberturas dos ductos das glândulas sudoríparas e, em alguns indivíduos, manchas azuis acinzentadas ao redor dos óstios. Os cabelos localizados na borda da placa podem apresentar um halo branco ao seu redor, característico da descamação perifolicular. O couro cabeludo pode encontrar- -se rosado, sinal de vascularização e processo inflamatório. Em alguns casos, pode haver perda tecidual, caracterizada pela diminuição da densidade do couro cabeludo. Distúrbios e patologias do couro cabeludo4 A abordagem deve ser multidisciplinar, e a terapia capilar consiste em acalmar a região, tentando controlar o processo inflamatório e avanço da patologia. Alopecia fibrosante frontal Esta patologia é considerada uma variação do LPP, pois, histologicamente, têm as mesmas particularidades. A principal característica da alopecia fibrosante frontal (AFF) é acometer a linha de implantação dos cabelos, ou seja, inicia na região frontal e progride até atingir a região parietal. Afeta, principalmente, mulheres em pós-menopausa, mas pode também acometer as mais jovens. Assim como no LPP, a abordagem deve ser multidisciplinar, e a terapia capilar visa a diminuir o processo inflamatório em caso agudo e a tentar impedir ou retardar o avanço da patologia. Pseudopelada de brocq Este tipo de alopecia é raro e de causa desconhecida. Seu início geralmente se dá com vários focos de tamanho pequeno, que podem expandir-se ou não e, ainda, conectar-se, formando placas maiores. Não há sinal e inflamação, e quando a alopecia ainda está em evolução, os pelos ao redor das placas alopecicas são de fácil remoção, ou seja, desprendem-se com mais facilidade — e quando se desprendem, apresentam uma massa gelatinosa ao redor da raiz. Como resul- tado, temos um couro cabeludo de aspecto liso e brilhante, com diminuição dos óstios foliculares. Uma das características da pseudopelada de brocq são os fios de cabelo solitários que podem permanecer no meio das lesões. Não há tratamentos efetivos para esse caso, tendendo a cessar espontaneamente. Lúpus eritematoso discoide O lúpus eritematoso (LE) é uma doença de origem autoimune que apresenta variações,como o lúpus eritematoso sistêmico, que afeta órgãos e sistemas, e o discoide, que é a manifestação cutânea da doença, que também afeta o couro, causando alopecia cicatricial. O lúpus eritematoso discoide (LED) se apresenta como uma ou mais placas ovaladas com atrofia tecidual, descamação, 5Distúrbios e patologias do couro cabeludo eritema com ou sem telangectasias, pontilhado azul-acinzentado resultante do extravasamento da pigmentação na derme e tamponamento do óstio. Nas lesões mais recentes, podem ser observados pontos avermelhados, correspondentes aos capilares perifoliculares, que ficam mais aparentes devido à atrofia e hipopigmentação da derme. Apesar de ser do tipo cicatricial, pode haver repilação, quando o tratamento é realizado rapidamente. A abordagem estética deve diminuir o processo inflamatório e evitar ou retardar o avanço da lesão. Aparentemente o lúpus eritematoso discoide (LED) e o líquen plano pilar (LPP) podem aparentar características muito parecidas: placas sem cabelos, vermelhidão local, diminuição do óstio, etc. Uma forma de diferenciar as duas patologias é por meio da rede pigmentar: no caso do LPP, o alvo é o folículo piloso especificamente. Então, a rede pigmentar da epiderme se mostra preservada, enquanto que, ao redor do óstio, apresentam-se manchas azuis-acinzentadas com padrão de “alvo”. No LED, a inflamação atinge tanto o folículo piloso quanto à epiderme — por isso, as manchas azuis-acinzentadas se apresentam por toda a lesão alopecica, num padrão “salpicado”. Foliculite decalvante A foliculite decalvante é outra afecção não tão comum, que se caracteriza pela presença de pápulas e pústulas (processo inflamatório) ao redor dos folículos, atingindo, principalmente, as regiões occipital e vértice. Normalmente acomete homens afrodescendentes jovens. A etiologia do processo infamatório ainda não está totalmente elucidada, entretanto a presença da bactéria Staphylococcus aureus tem sido considerada um dos motivos causadores. A predisposição genética é uma teoria. No decorrer de sua manifestação, o couro cabeludo se apresenta dolorido e com crostas e, após o término do processo inflamatório, há fibrose intensa, com politriquia (várias hastes saindo do mesmo óstio). Alopecias não cicatriciais As alopecias não cicatriciais são caracterizadas pela perda gradual ou súbita dos cabelos e/ou pelos do corpo. É reversível e seu tratamento pode variar de alguns meses a anos. Em alguns casos, há a melhora espontânea do quadro, noutros, a terapia capilar auxilia no crescimento dos cabelos de forma bastante Distúrbios e patologias do couro cabeludo6 efetiva e, noutros ainda, a multidisciplinariedade se mostra um caminho eficaz e importante no tratamento dessas disfunções. Alopecia por tração Neste tipo de alopecia, os cabelos são submetidos à tração, geralmente por alon- gamentos ou penteados muito presos, e, como consequência, se desprendem. Afeta, principalmente, a linha de implantação dos cabelos. Afrodescendentes estão particularmente mais sujeitos a esse tipo de alopecia, pelo fato de a fragilidade dos seus cabelos ser maior e, também, utilizarem alongamentos e penteados presos com mais frequência. Entretanto, a alopecia de tração pode acometer qualquer etnia. É importante ressaltar que os alongamentos costumam ser usados para aumentar o comprimento dos cabelos de forma imediata ou para disfarçar pouca densidade. No segundo caso, o mais indicado é a terapia capilar, pois os alongamentos podem causar o desprendimento dos fios, piorando o quadro e deixando a falta de cabelos ainda mais evidente. Alopecia areata A alopecia areata (AA) é caracterizada pela perda súbita de pelos ou cabelos. Pode atingir qualquer parte do corpo que apresente pelos, como couro cabe- ludo, cílios, sobrancelhas, barba, pelos pubianos, axilares, etc. Acomete tanto mulheres quanto homens em qualquer faixa etária, entretanto as crianças e os adultos jovens manifestam essa patologia com maior frequência. É uma alteração autoimune e predisposta geneticamente, embora fatores ambientais, psicológicos e emocionais parecem estar envolvidos como gatilhos no processo. Na maioria dos casos, a AA é assintomática, entretanto alguns indivíduos relatam dor, ardência e/ou coceira antes da queda. Essa alopecia pode ser classificada de acordo com sua apresentação e dividida em: localizadas, quando atingem uma região bastante específica, e difusas, quando não formam placas específicas. � A AA em placas tem formato arredondado ou ovalado, sem pelos ou cabelos, é localizada e o tipo mais comum. A AA reticulada, também localizada, apresenta várias placas em estágios diferentes de evolu- ção, enquanto algumas ainda estão lisas, outras apresentam repilação. 7Distúrbios e patologias do couro cabeludo Quando a perda de cabelos se dá na borda da região occipital e se estende para frente, é chamada de AA ofiásia. Quando o inicia pela região frontal e faz o caminho inverso, é chamada AA ofiásica invertida. Ambas são do tipo localizada. � Quando temos a perda de todos os fios do couro cabeludo, a AA é chamada total, e quando há perda de todos os pelos do corpo, é AA universal. � A AA difusa afeta o couro cabeludo de forma geral, diminuindo a densidade de fios em toda sua extensão. � A AA incógnita é muito semelhante ao eflúvio telógeno, com queda difusa dos cabelos de fase telógena, entretanto difere do mesmo devido à ausência de sintomas do eflúvio. Em todas as formas de AA, a pele se apresenta lisa e brilhante, e os pelos ao redor das placas alopécicas (ou fios aleatórios, quando a alopecia é difusa) se desprendem com facilidade. Pelos do tipo “pontos de exclamação”, que são mais finos, quebrados, curtos e/ou mais claros na porção proximal, são encontrados com frequência nas bordas da lesão. Na fase aguda, a pele pode apresentar-se avermelhada e levemente edemaciada. Em alguns casos, a AA tende a regredir espontaneamente após alguns meses, noutros, pode perdurar anos. Sabe-se que, quanto mais tempo a AA perdura, pior é o prognóstico. Não há predileção por idade, entretanto as crianças e os adultos jovens manifestam AA com maior frequência. Pode haver recorrência e, quanto mais jovem for o indivíduo acometido na ocasião do primeiro episódio, maior a predisposição a novos acometimentos. A abor- dagem multidisciplinar com dermatologista e psicoterapeuta é fundamental, dados os gatilhos que iniciam a perda de cabelos e pelos. A terapia capilar pode ser iniciada tanto na fase aguda quanto na crônica e visa a estimular o crescimento dos cabelos. Alopecia androgenética feminina e masculina A alopecia do tipo androgenética (AAG) é a maior causa de perda de cabelos tanto em homens quanto em mulheres. Estima-se que aproximadamente 50% dos homens e 40 % das mulheres apresentem sinais de calvície. Ao contrário do que algumas pessoas imaginam, o processo da calvície não está associado à interrupção de nascimento dos fios, e sim à sua miniaturização (Figura 2). Este processo é caracterizado pelo encurtamento progressivo da fase anágena, Distúrbios e patologias do couro cabeludo8 consequentemente, afinando e encurtando os fios, ou seja, cada fio que cai é substituído por outro que durará menos tempo em fase anágena, nascendo mais curto e fino. Em resumo, os cabelos, antes identificados como pelos do tipo terminal, vão progressivamente transformando-se em pelos do tipo velo. Com o passar dos anos, a densidade dos fios de cabelo fica cada vez menor, até que, então, se verifica o surgimento da fase quenógena, onde não há nascimento de novos fios. A alopecia androgenética é hereditária e afeta mais caucasianos que asiáticos e afrodescendentes. Figura 2. Miniaturização do folículo piloso. Fonte: Adam Kings/Shutterstock.com. A perda de cabelos pode ter uma série de impactos negativos nos indivíduos, como baixa autoestima, diminuição da autoconfiança e senso de atratividade física, entretanto, para as mulheres afetadas pelaAAG, esses impactos são mais significativos, pois os cabelos têm uma importância maior para elas — estão diretamente relacionados à sua feminilidade, sensualidade e atratividade física. Nos homens, quanto mais cedo os sinais de alopecia aparecem, como na adolescência e no início de vida adulta, mais intensa ela será. Quando os primeiros sinais da calvície aparecem após os 30 ou 40 anos, provavelmente manifestar-se-á de forma mais amena. A apresentação da AAG se dá de diferente forma nos padrões feminino e masculino: no feminino, a miniaturização se inicia pela linha média do couro cabeludo e vai se estendendo conforme o avanço da patologia, podendo atingir toda a região parietal (topo da cabeça) e vértice (coroa) (Figura 3); no masculino, 9Distúrbios e patologias do couro cabeludo o início da miniaturização acontece pela região biparietal (entradas) e vértice (coroa), e à medida que a patologia avança, essas regiões vão unificando-se, o que resulta na perda de cabelos na região parietal (topo da cabeça) (Figura 4). Figura 3. Escala de Sinclair para classificação de AAG feminina. Fonte: Adaptada de Sharma (2013, documento on-line). Grade 1 Grade 2 Grade 3 Grade 4 Grade 5 Figura 4. Escala de Hamilton-Norwood para classificação de AAG masculina. Fonte: Filho (2018, documento on-line). 2 3V 4A 4 5 2A 5A 5V 6 7 3 3A Distúrbios e patologias do couro cabeludo10 A intervenção estética para combater o avanço da AAG visa a estimular o crescimento dos cabelos e mantê-los em fase anágena por mais tempo, normalizando o ciclo de crescimento capilar e retardando sua miniaturização. A terapia capilar tem se mostrado uma alternativa estética bastante eficaz no tratamento da AAG. Os hormônios e a miniaturização dos cabelos A testosterona tem um papel importante no desencadeamento da AAG, pois interage com uma enzima chamada 5α-redutase, produzindo di-hidrotestosterona (DHT), a peça-chave no desenvolvimento da calvície. Os indivíduos que manifestam AAG são geneticamente predispostos, pois a atividade da 5α-redutase é aumentada neles. A testosterona circulante chega até os folículos pilosos, onde interage com tal enzima, que a metaboliza e produz DHT, que é a forma mais potente de testosterona, com a capacidade de se ligar aos receptores androgênicos do folículo com cinco vezes mais facilidade. A presença de DHT encurta a fase anágena, levando ao processo de miniaturização. O couro cabeludo apresenta folículos andrógeno-sensíveis e andrógeno-indepen- dentes e seu padrão de distribuição explica o desenvolvimento da AAG. Nos homens, os folículos sensíveis aos andrógenos estão localizados na região frontal e vértice, enquanto os folículos andrógeno-independentes ocupam as regiões occipital e lateral, o que explica o padrão de queda. Nas mulheres, os folículos sensíveis estão localizados na linha média do couro cabeludo — por isso, a AAG feminina inicia por esta região. Um dos fatores que justifica a maior incidência de AAG nos homens é a quantidade de enzimas 5α-redutase, que é três vezes maior. Outro fator que contribui para a menor incidência no sexo feminino é a enzima aromatase, cuja quantidade é significativamente maior nas mulheres. O papel dessa enzima é converter testosterona em estrona e estradiol, e, como consequência, há menor quantidade de DHT. Eflúvio telógeno O eflúvio telógeno ou telogênico é a perda intensa e difusa de cabelos, re- sultando na diminuição da densidade de cabelos no couro cabeludo. O nome telógeno se dá porque, nesses casos, há o aumento de folículos na fase teló- gena, quando há desprendimento e queda. Em um couro cabeludo normal, aproximadamente 9% dos folículos estão nessa fase, e, nesse tipo de queda, temos uma porcentagem maior de folículos telógenos. 11Distúrbios e patologias do couro cabeludo Quando é agudo, pode ter vários gatilhos, como estresse, doença sistêmica, febre alta, dietas, falta de nutrientes, cirurgias ou anestesia, pós-parto, deter- minados medicamentos, etc., havendo repilação espontânea dentro de alguns meses. Quando a manifestação é crônica, ela está associada a alterações da tireoide, anemia, desnutrição, etc., e a queda perdura por mais de seis meses, podendo chegar a anos. Para diferenciar os casos agudos dos crônicos, deve-se observar o tempo da queda capilar. Se os cabelos caem em quantidade maior por poucos meses, o eflúvio telógeno é agudo; se a queda é prolongada (mais de seis meses com queda intensa e diminuição da quantidade de cabelos), os cabelos aparente- mente não ganham comprimento, a parte distal do cabelo parece sempre mais afinada, com grande quantidade de cabelos novos na porção proximal, e a mecha na porção distal sempre mais rala, o eflúvio é crônico. A abordagem estética do eflúvio telógeno pode ser feita tanto nos casos agudos quanto nos crônicos e consiste em estimular o crescimento dos cabe- los, prolongando a fase anágena — muito embora, em alguns casos agudos, a resolução do problema seja espontânea. Atuação multidisciplinar pode ser necessária quando há suspeita de alterações de tireoide, anemias ou nutricionais, a fim de tratar todas as causas do problema. Distúrbios envolvendo a produção sebácea e descamação do couro cabeludo Nos distúrbios que envolvem a hiperprodução sebácea, os cabelos e o couro cabeludo se apresentam extremamente oleosos, e esse excesso de oleosidade incomoda tanto pelo fator estético — pois os cabelos, por mais que tenham sido higienizados há poucos dias ou horas, aparentam estar sempre sujos — quanto pela descamação e pelo prurido decorrentes do excesso de oleosidade. Nos distúrbios descamativos, temos uma produção acelerada das células da epiderme, o que resulta em placas soltas, presas ou semipresas ao couro cabe- ludo. A presença de tais placas gera incômodo estético, pois seus portadores constantemente têm placas brancas aparecendo em meio aos cabelos ou soltas, caindo sob os ombros. Distúrbios e patologias do couro cabeludo12 Seborreia e dermatite seborreica A seborreia é a produção excessiva de oleosidade pela glândula sebácea, que serve para auxiliar na proteção da superfície da pele, na manutenção da hidratação e na flexibilidade cutânea. Acontece em regiões onde há maior concentração de glândulas sebáceas, como couro cabeludo e face. Acomete mais o sexo masculino, pois a produção sebácea é geralmente maior. A der- matite seborreica (DS) é uma afecção que também acomete as regiões com maior quantidade de glândulas sebáceas e se caracteriza por ser descamativa e avermelhada, com processo inflamatório. Apresenta placas onde há descamação e oleosidade abundantes. É crônica e intercala períodos de melhora e piora. Fatores emocionais, como estresse, e climáticos, como mudanças bruscas de temperatura, parecem ser gatilhos no seu desenvolvimento. A etiologia da DS ainda não está totalmente esclarecida, entretanto se acredita que a presença de leveduras do tipo Malassezia possa estar envolvida, embora essa teoria ainda não tenha sido comprovada. O surgimento das lesões se dá em locais onde a presença desses micro-organismos está aumentada, o que coincide com as regiões que apresentam maior quantidade de glândulas sebáceas. É importante ressaltar que esses micro-organismos fazem parte da flora microbiana da pele. O que parece acontecer é uma sensibilidade dos indivíduos acometidos ao Malassezia, que causa processo inflamatório e consequentes descamação e prurido local. A influência da seborreia na DS não foi verificada até o momento. Nos casos de seborreia e DS, a terapia capilar visa ao controle da produção da glândula sebácea, diminuindo a oleosidade do couro cabeludo. O controle dos micro-organismos também é importante nos casos de DS. Outro achado em escalpos com oleosidade excessiva são as pústulas, que são lesões que podem acometer indivíduos com seborreia ou dermatite seborreica, embora não sejam muito comuns. As pústulas se apresentam de forma difusa no couro cabeludo e podem ounão causar prurido. A terapêutica é a mesma dos casos de DS e seborreia. 13Distúrbios e patologias do couro cabeludo Caspa Há quem considere a caspa uma manifestação mais branda de DS, que consiste na descamação do couro cabeludo e pode ser classificada em leve, moderada e intensa. Na caspa leve, a descamação é pouca, com flocos finíssimos caindo do couro cabeludo quando da raspagem. A caspa moderada consiste em flocos finíssimos e menores presos às hastes capilares. Já, na intensa, há presença de flocos grandes, facilmente detectáveis. O prurido causado pela caspa pode variar do leve ao intenso, e também há desconforto estético, pois os indivíduos apresentam os flocos soltos nos cabelos e nas roupas. Psoríase A psoríase acomete igualmente ambos os sexos e pode manifestar-se em qualquer idade. Além do couro cabeludo, pode acometer outras partes do corpo, e geralmente as mais afetadas são cotovelos e joelhos, face e tronco. Apresenta quadros de melhora e piora e, assim como na dermatite seborreica, fatores de estresse, abalos emocionais e climáticos podem estar envolvidos na exacerbação do quadro. Cerca de 2% da população mundial é acometida pela psoríase, considerada de origem imunológica e há predisposição genética para seu surgimento. A psoríase tem várias formas de apresentação, sendo a psoríase vulgar a mais comum (cerca de 80% dos casos) e a que afeta o couro cabeludo. É caracterizada pela formação de placas soltas ou aderidas ao couro cabeludo, com vermelhidão intensa nas bordas da lesão. O processo de formação das placas da psoríase se dá da seguinte forma: o sistema imune estimula os queratinócitos basais a se reproduzirem numa taxa acelerada, acumulando queratinócitos córneos na superfície da pele; essa aceleração prejudica a for- mação dos desmossomos, daí a formação de placas característica da psoríase. As descobertas do envolvimento imunológico no surgimento e/ou agra- vamento das lesões de psoríase evidenciam que ela não é apenas uma ma- nifestação cutânea, e sugerem outras patologias associadas, como doenças cardiovasculares, hipertensão, obesidade, diabetes tipo II e propensão a infartos agudos do miocárdio. Não existem terapias definitivas no tratamento da psoríase, apenas o con- trole da mesma. As terapias capilares que promovam efeito anti-inflamatório e suavizante do couro cabeludo costumam responder muito bem aos casos Distúrbios e patologias do couro cabeludo14 de psoríase, trazendo alívio do prurido e diminuição das placas. Dadas as evidências de que a psoríase possa ter outras associações que acometem a saúde de seus portadores, a atividade multidisciplinar é bem-vinda. A DS e a psoríase são afecções que apresentam descamações no couro cabeludo e às vezes podem ser facilmente confundidas, entretanto devemos diferenciá-las pois suas terapêuticas diferem entre si. Para distingui-las, podemos usar como critério a delimitação das placas: a psoríase apresenta placas circunscritas, às vezes com orvalho sangrante (gotículas de sangue nas bordas da lesão), enquanto a DS é difusa, e o limite das lesões não é tão preciso. Distúrbios infecciosos Os distúrbios infecciosos mais comuns são os causados pelos fungos do tipo dermatófitos, os quais são micro-organismos que afetam a pele e os anexos cutâneos. Esses fungos vivem no mesmo ambiente que seus hospedeiros, podendo ser encontrados na flora microbiana dos indivíduos, nos animais, em solos contaminados, etc. Podem habitar nossos corpos sem causar danos, entretanto, em baixa do sistema imunológico, podem disseminar-se e causar tais infecções. Têm predileção por locais úmidos e quentes, e o couro cabeludo é um dos locais mais acometidos. Tínea capitis O termo tínea capitis é usado para denominar as infecções fúngicas que aco- metem o couro cabeludo. As regiões colonizadas pelos fungos se apresentam circunscritas, avermelhadas e com perda de cabelos. Aparentemente, crianças são as mais afetadas, atingindo adultos em menor proporção. As tíneas podem ser contagiosas — por isso, os cuidados com a biossegurança são essenciais. Ao identificarmos casos de tínea capitis, o encaminhamento ao dermatologista deve ser feito o mais breve possível, não havendo terapêutica cosmética para esses casos. 15Distúrbios e patologias do couro cabeludo Distúrbios e patologias do couro cabeludo16 FILHO, J. P. Alopecia androgenética. [2018]. Disponível em: <http://dermatopaulo.com. br/alopecia-androgenetica/>. Acesso em: 24 jun. 2018. SHARMA, A. Grading staging in androgenetic alopecia (male pattern baldness). 2013. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/talkoncorners2/aga-scaling/16>. Acesso em: 24 jun. 2018. Leituras recomendadas BRILHANTE, R. S. N. et al. Epidemiologia e ecologia das dermatofitoses na cidade de Fortaleza: o Trichophyton tonsurans como importante patógeno emergente da Tinea capitis. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 33, n. 5, p. 417-425, set./out. 2000.Disponível em: <http://repositorio.ufc.br/bitstream/ riufc/5312/1/2000_art_spbandeira.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2018. FABRIS, M. R.; MELO, C. P.; MELO, D. F. Foliculite decalvante: o uso da dermatoscopia como ferramenta auxiliar no diagnóstico clínico. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 88, n. 5, p. 814-816, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abd/ v88n5/0365-0596-abd-88-05-0814.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2018. KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2015. LIMA, E. A.; LIMA, M. A. Imunopatogênese da psoríase: revisando conceitos. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 86, n. 6, p. 1151-1158, nov./dez. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi d=S0365-05962011000600014>. Acesso em: 24 jun. 2018. RIVITTI, E. A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. São Paulo: Artes Médicas, 2014. RODRIGUES, A. P.; TEIXIERA, R. M. Desvendando a psoríase. Revista Brasileira de Análises Clínicas, Rio de Janeiro, v. 41, n. 4, p. 303-309, 2009. Disponível em: <http://sbac.org. br/rbac/wp-content/uploads/2016/08/RBAC_Vol41_n4-Completa.pdf#page=60>. Acesso em: 24 jun. 2018. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: bª soLuçoEs e a H EDUCACIONAIS INTEGRADAS