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Finanças Corporativas Módulo de Estudo 3 AuLA 9 Introdução ao Custo de Capital voltar para o sumário 116 O custo de capital de uma empresa, de forma bastante simples, poderia ser definido da seguinte maneira, ou seja, o custo de capital é aquela taxa de remuneração que as fontes de financiamento da empresa esperam receber ao longo do tempo. Trata-se de uma taxa média de todos os interessados em ser remunerados no negócio, e representa aquele mínimo de retorno que essas fontes esperam receber, de forma que estejam minimamente satisfeitas com seus ganhos. 117 9.1 Principais fontes de financiamento As principais fontes de financiamento em um negócio estão ilustradas na Figura 16, a seguir. FIGURA 16: PRINCIPAIS FONTES DE FINANCIAMENTO DE UM NEGÓCIO Ativo Passivo Fontes de Financiamento PL Passivos operacionais (de curto e longo prazo) Capital de terceiros onoroso (kd) Fontes de capital próprio (ke) Fonte: Elaborado pelo autor, 2022. No Balanço Patrimonial da empresa, é possível ver, por meio da análise dos Passivos e do PL, sua estrutura de capital, ou seja, sua estrutura de financiamentos. Há essencialmente dois tipos de financiadores que esperam ser remunerados ao longo do tempo, são eles: 118 I. capital de terceiros oneroso: empréstimos e financiamentos bancários, debêntures, ou quaisquer tipos de passivos que esperam ser remunerados, ou seja, receber juros. Essa taxa média de juros das fontes de financiamento de terceiros onerosa é batizada tipicamente de Kd, indicando o cost of debt, ou custo da dívida; II. fontes de capital próprio: investimentos dos acionistas nesse negócio. Em teoria, a fonte de financiamento de sócios deveria ser medida pelo valor justo do PL; mas, como aproximação, é usual fazer uso do valor do patrimônio líquido como proxy, sendo uma representação do valor investido até hoje pelos acionistas na empresa. Essa taxa média de juros das fontes de financiamento própria é batizada tipicamente de Ke, indicando o cost of equity, ou custo do capital próprio. O custo de capital de uma empresa pode ser entendido como o retorno mínimo esperado por todas as fontes de financiamento nesse negócio, de forma que essas fontes estejam minimamente satisfeitas. Deve ser, portanto, uma taxa média das fontes de financiamento, dadas suas proporções de investimento no negócio. O custo de capital pode ser utilizado para diversos fins. A Figura 17, a seguir, chama a atenção para dois usos principais. 119 FIGURA 17: APLICAÇÃO DA TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE Fluxos de caixa futuro esperados Valor de mercado da empresa ● Taxa de desconto ● Custo de oportunidade ● Custo de capital Avaliação de empresas Fluxos de caixa incrementais do projeto Investimento inicial no projeto ● Taxa de desconto ● Custo de oportunidade ● Custo de capital Avaliação de projetos Fonte: Elaborado pelo autor, 2022. 120 Para fins de valuation, o custo de capital é essencial para conseguir estimar o valor de um negócio. Para saber o valor de uma empresa hoje, é preciso compreender como colocar um preço, na data zero, para toda a capacidade dessa empresa de gerar fluxos de caixa futuro. Para isso, é necessário identificar a forma como o capital investido nessa empresa espera ser remunerado ao longo do tempo. Essa forma é calculada por meio do custo de capital, tendo por base quanto as fontes de financiamento esperam ganhar, no mínimo, é possível aplicar técnicas de valuation para descobrir o valor presente de um fluxo de caixa futuro esperado. Quanto maior o custo de capital (mais “caro” o dinheiro da empresa), menor será seu valor presente. Imagine que um investidor está avaliando a possibilidade de comprar uma empresa com determinada capacidade de geração de caixa, se o investidor quiser ganhar uma taxa de juros muito elevada, será necessário que o preço pago hoje seja baixo, de forma que os fluxos futuros proporcionem ganho elevado em termos de taxas de juros. Sendo assim, é possível compreender a relação essencial entre custo de capital e valor da empresa. 121 Quanto maior o custo de capital da empresa, mais difícil será aprovar novos projetos. Por outro lado, quanto menor o custo de capital, tende a ser maior a quantidade de projetos que irão oferecer retorno suficiente para parecerem atrativos às fontes de financiamento. FIQUE ATENTO! Vamos começar então a pensar sobre como funciona a estimativa do interesse de ganho das fontes de financiamento. No geral, estimar o Kd é um problema um pouco menor. Isso porque, pela análise de contratos de dívida, por exemplo, é possível avaliar as taxas de juros ou formato de juros esperados para cada contrato de dívida. Pode haver algumas 122 dificuldades, mas trata-se em geral de um desafio menor na estimativa do custo de capital. Estimar o Ke – custo do capital próprio –, por sua vez, pode ser um grande desafio. Se a empresa possui um único acionista, uma forma prática de descobrir o Ke seria perguntar a essa pessoa qual sua expectativa de ganho: talvez um telefonema baste para tanto. No entanto, isso não é uma opção quando se tem uma ampla quantidade de investidores. Como estimar, por exemplo, a expectativa mínima de ganho dos acionistas de uma empresa de capital aberto? Nesse contexto, então, podem ser trabalhados os modelos para estimativa do custo de capital próprio, como CAPM, APT, modelo de 3-fatores de Fama e French e 4 fatores de Carhart, entre outros. Comecemos pelo modelo CAPM e a intuição sobre a relação entre risco e retorno. Há diversos estudos e abordagens complexas para discutir o significado de risco. Intuitivamente, pode- se dizer que, quanto mais risco um agente corra, maior será seu interesse (expectativa) de ganho para compensar tamanho risco. 123 E o que é risco? Pensemos risco como incerteza. Quanto maior a incerteza em relação a um negócio ou empreendimento, maior o risco. Para compreender o modelo CAPM e boa parte dos demais modelos para estimativa do custo de capital, é preciso discutir diversificação e um dos conceitos de risco. Grinblatt e Titman (2005) destacam que a teoria de carteiras de Markowitz (1952) foi desenvolvida para auxilia os investidores na formação de carteiras que alcancem o maior retorno esperado possível para determinado nível de risco. A teoria parte do princípio de que os investidores são avessos a risco e otimizadores de média e variância, ou seja, buscam ativos com a variância mínima, dado um retorno esperado; e procuram o maior retorno esperado, dada determinada variância. AuLA 10 Modelo de Precificação de Ativos (CAPM) voltar para o sumário 125 Em sua primeira versão, atribuída a Sharpe (1964), Lintner (1965) e Mossin (1966), o Capital Asset Pricing Model (CAPM) ou, em português, modelo de precificação de ativos, é amplamente utilizado na atualidade em processos de estimação de taxas de desconto para a avaliação de empresas. Em teoria econômica, o CAPM descreve a relação entre risco e retorno esperado e serve como modelo para a precificação de títulos de risco. 126 O CAPM afirma que o único risco precificado por investidores racionais é o risco sistemático, porque este não pode ser eliminado pela diversificação. A teoria nos mostra que riscos específicos podem ser removidos ou pelo menos mitigados pela diversificação de um portfólio. O problema é que a diversificação ainda não resolve o problema do risco sistemático; mesmo um portfólio com todas as ações do mercado de ações não pode eliminar esse risco. Portanto, ao calcular um retorno merecido, o risco sistemático é o que mais atormenta os investidores. O Capital Market Line (CML), na tradução, Linha do Mercado de Capitais, é uma função definida pela distribuição da taxa de retorno de um ativo livre de risco e da taxa de retorno de um portfólio com risco inerente. Conhecer esse termo é relevante para que o investidor alcance o máximo retorno possívelde qualquer ativo, considerando níveis de risco aceitáveis. As carteiras que se enquadram na linha de mercado de capitais, em tese, otimizam a relação risco / retorno, maximizando o desempenho. O modelo CAPM exprime o risco sistemático de um 127 ativo por seu coeficiente beta, identificado com o parâmetro angular na reta de regressão linear (reta característica). A formulação básica da taxa de retorno esperada (custo de capital próprio) de uma companhia pelo método do CAPM é determinada por: Ra = Rf + β χ (E(Rm) – Rf) em que: Ra = retorno esperado; Rf = taxa livre de risco; β = coeficiente beta da ação; E(Rm) = é o retorno esperado da carteira de mercado. ● O retorno esperado (Ra) representa o retorno de um ativo de capital ao longo do tempo, dado em função de todas as outras variáveis na equação. Retorno esperado é uma suposição de longo prazo sobre como um investimento vai se sair ao longo do tempo; 128 ● A taxa livre de risco (Rf) é a taxa de retorno esperado em um investimento hipotético cujo risco de perda é, teoricamente, nulo. Recomenda-se que seja tomado como base o rendimento de um título do governo dos EUA (treasury bond) de 10 anos; ● O coeficiente beta (β) é uma medida de risco de um ativo em relação às variações do mercado. Essencialmente, existem três tipos de betas que uma empresa terá: – Beta inferior a 1: empresa mais conservadora do que a média de mercado. Ao investir nessa empresa, o acionista espera obter retorno inferior à média de mercado, mas correndo também menos risco do que a média; – Beta igual a 1: o risco do ativo analisado é igual ao risco médio de mercado. Sendo assim, o retorno esperado desse ativo também será convergente ao retorno médio esperado do mercado (se você substituir o Beta por 1 na fórmula apresentada, irá notar que o Retorno de A será igual ao Retorno de mercado); – Beta superior a 1: o ativo analisado é mais arriscado do que o mercado e, portanto, ao investir-se nele, espera-se obter maior retorno. 129 Grinblatt e Titman (2005) destacam que, além das premissas necessárias para a construção da teoria de carteiras, o CAPM foi desenvolvido com base em suposições adicionais como a existência de muitos investidores, todos avessos a riscos, que dispõem das mesmas informações e têm as mesmas expectativas em relação a risco, retorno e covariância dos ativos. Além disso, presume que a economia não tem restrição ao investimento ou empréstimo (inclusive em ativo livre de risco) e que há ausência de impostos e custos de transação. 10.1 Como estimar o coeficiente Beta Chegamos então a um importante momento: como estimar o beta. Para tanto, cabe, inicialmente, compreender algumas características e determinantes do beta. O beta depende de, e deveria refletir: ● tipo de negócio (sensibilidade às condições econômicas); ● alavancagem operacional (estrutura de custos fixos impacta os lucros); 130 ● alavancagem financeira (maior endividamento aumenta o risco, pois os juros são despesas fixas). Como, então, medir o beta? Se você está buscando medir o beta para uma empresa que possui ações negociadas amplamente, com considerável liquidez, então medir o beta pode ser feito da seguinte maneira: Beta do ativo A: Covariância entre os retornos do ativo A e os retornos da carteira de mercado dividida pela variância dos retornos de mercado, conforme ilustrado a seguir. E(Ra) = Rf + βa χ (E(Rm) - Rf) Sendo: COVRa Rm =βa σ2 Rm Pode-se chamar essa primeira forma de “beta estatístico”. No entanto, para estimar o beta dessa maneira, é necessário que a empresa tenha ações publicamente negociadas, e que isso seja feito 131 com volume tal que lhe confira alta liquidez. Caso contrário, as oscilações nos preços das ações não refletirão corretamente a percepção dos acionistas sobre risco. Como alternativa, então, pode-se fazer uso do Beta alavancado. =βL βU 1 + (1 – T) D E Onde: βL = Beta alavancado para a estrutura de capital da empresa; βU = Beta desalavancado (beta da empresa sem nenhuma dívida); T = taxa do imposto de renda; D = dívida onerosa (passivos) da empresa; E = Capital próprio da empresa a valor de mercado 132 Para calcular o beta de uma ação, portanto, precisamos da série histórica de retornos do mercado e da série histórica de retornos da ação (calculada a partir de uma série histórica de preços ajustada pelos proventos, conforme anteriormente comentado). Em seguida, estima-se a reta de regressão com o retorno do mercado e o retorno da ação. O coeficiente “b” da reta de regressão, que mede a inclinação da reta, é o beta da ação (Figura 18). FIQUE ATENTO! 133 FIGURA 18: CÁLCULO DO BETA DE UMA AÇÃO Retorno Mercado Ação 2,0% 2,5% 5,0% 4,3% –0,7% 0,2% 1,3% 2,3% 3,3% 2,3% 4,1% 4,6% 3,2% 3,9% Retorno do mercado ração = 0,66% + 0,8 x rmercado –2% –2% –1% 0 1% 2% 3% 4% 5% 6% 0% 2% 4% 6% Re to rn o da a çã o Fonte: Serra (2019, p.15). 134 10.2 Exemplo de aplicação Imagine que um investidor está contemplando uma ação no valor de R$ 100. A ação tem um beta em relação ao mercado de 1,3, o que significa que é mais arriscado que uma carteira de mercado. Além disso, assume que a taxa livre de riscos é de 0,70% e esse investidor espera que o mercado tenha um retorno de 6% ao ano. Sendo assim, o retorno esperado da ação (ou a taxa do custo de capital próprio) será de 7,6%. O cálculo ficará da seguinte forma: Ra = Rf + β χ (Rm – Rf) Ra = 0,007 + 1,30 χ (0,06 − 0,007) Ra= 0,007 + 1,30 χχ (0,053) Ra= 0,007 + 0,069 = 0,076 Ra = 0,076 χ 100 = 7,6% O CAPM usa os princípios da teoria moderna do portfólio para determinar se um título é bastante valorizado. Ele se baseia em suposições sobre comportamentos dos investidores, distribuições 135 de risco e retorno e fundamentos de mercado que não correspondem à realidade. No entanto, os conceitos subjacentes do CAPM e da fronteira eficiente associada podem ajudar os investidores a entender a relação entre risco esperado e recompensa à medida que tomam melhores decisões sobre a adição de títulos a uma carteira. A taxa livre de risco utilizada no CAPM diz respeito àquela alternativa que o investidor poderia obter de retorno, caso optasse por investir no ativo de menor risco à sua disposição. Quando analisamos a taxa de juros brasileira (SELIC) nos deparamos com alguns pontos que inviabilizam a sua utilização como taxa de juros livre de risco. Uma das justificativas seria o fato do Brasil ser um país emergente, com uma moeda menos “sólida”, histórico de hiperinflação, ruídos políticos e fiscais, além de SAIBA MAIS 136 já ter um episódio de default em sua história, por isso, é usual que se estime o custo de capital dos negócios com base em premissas de mercados maduros como, por exemplo, taxas e premissas dos Estados Unidos. Para tanto, em lugar de fazer uso da taxa Selic brasileira, por exemplo, poderíamos substitui- la por: Taxa livre de Risco Brasil = Taxa livre de risco norte america + prêmio pelo risco país Uma das formas mais usuais para cálculo dessa alternativa é, por exemplo, fazer uso da remuneração livre de risco do título soberano norte-americano de 10 anos Como proxy para risco-Brasil (nossa medida de risco-país), é usual fazer uso do indicador EMBI+ do JPMorgan. Esse indicador é medido em bps (basis points), em que 200bps = 2%, por exemplo. Cabe mencionar que há diversas outras formas para estimativa dessas medidas, inclusive algumas com alto nível de sofisticação. AuLA 11 Custo do Capital de Terceiros e o WACC voltar para o sumário 138 Aprendemos, no capítulo anterior, a calcular o CAPM. Sua maior aplicação, em finanças corporativas, é no cálculo do custo de capital próprio. Porém, no estudo do custo de capital, é necessário conhecer-se o custo de cada fonte de recursos (própria e de terceiros) selecionada pela empresa e, então, mensurar-se a partir desses valores a taxa de retornodesejada para as decisões de investimentos. O custo total de capital é função não somente do risco associado às decisões 139 financeiras, mas também da natureza relativa dos passivos na estrutura de capital. O custo de capital de terceiros é representado por Kd e, diante da dedutibilidade fiscal permitida aos encargos financeiros, pode também ser apurado após a respectiva provisão para Imposto de Renda e Contribuição Social (CSLL), reduzindo seu custo final. A expressão de cálculo apresenta-se: Kd (após IR) = Kd (antes IR) χ (1 – IR) sendo IR a alíquota de Imposto de Renda e CSLL considerada para a decisão. Para ilustrar o cálculo do custo de capital de terceiros líquido, admita um financiamento de $ 200.000,00 tomado à taxa de 20% ao ano. Sendo de 34% a alíquota de Imposto de Renda da empresa, os juros de competência do período atingem: Despesas financeiras brutas: $ 200.000,00 x 20% = $ 40.000,00 Economia de IR: $ 40.000,00 x 34% = $ 13.600,00 Despesas financeiras líquidas do IR = $ 26.400,00 140 Relacionando-se os encargos financeiros de competência do período com o passivo gerador dessas despesas, tem-se o custo de captação líquido do Imposto de Renda, ou seja: Desp. financeira = $ 26.400,00 = =Kd 13,2% a. aa Passivo gerador das desp. financeiras = $ 200.000,00 Esse resultado, evidentemente, é idêntico ao apurado pela formulação anterior, ou seja: Kd = 20% x (1 – 0,34) = 13,2% a.a. Os resultados demonstram uma redução dos juros de 20% a.a. para 13,2% a.a., determinada pelo benefício fiscal de poder deduzir-se os encargos financeiros no cálculo do Imposto de Renda. A economia de imposto de renda é determinada pela dedutibilidade fiscal das despesas com juros, reduzindo os encargos financeiros pagos. Esse incentivo 141 fiscal é um incentivo para a alavancagem. O benefício fiscal é o valor adicional de impostos que a empresa teria pagado se não tivesse dívidas. (ASSAF NETO, 2020, p.303). O uso de capital de terceiros promove menor risco em relação ao capital próprio. Na decisão de endividamento, o tomador assume um compromisso de desembolso financeiro em condições fixas e previamente estabelecidas, não ficando seu resgate, vinculado ao sucesso da aplicação desses recursos. 11.1 Custo da dívida a valor de mercado O custo do capital de terceiros é geralmente obtido de informações históricas disponíveis nos demonstrativos financeiros publicados pelas empresas. São informações passadas (já ocorreram), as quais não se repetem necessariamente no futuro. Assim, se uma empresa necessitar buscar novos recursos no mercado, o custo calculado pode não servir de comparação. 142 Dessa forma, o custo da dívida (Kd) pode ser estimado a partir de dados disponíveis nos mercados financeiros. A taxa de juro observada deve ser entendida como o custo marginal da dívida, ou seja, o custo da empresa para novos aumentos de recursos de terceiros. O custo da dívida de mercado pode ser estimado a partir de ratings determinados por agências especializadas em classificação de risco. Para uma companhia brasileira que atua em uma escala global de negócios (Weg, Vale, Petrobras etc.), o custo marginal da dívida (Δ Kd) em moeda estrangeira pode ser estimado pela seguinte expressão: Kd = Rf + RiscoBR + Spread Em que: Rf = taxa livre de risco baseada em títulos do Tesouro dos EUA; RiscoBR = risco-país (Brasil); Spread = adicional sobre ativos livres de risco. 143 A proposta de cálculo do custo da dívida de uma empresa brasileira é feita a partir de uma escala global, adotando-se como referência um mercado mais consolidado como o dos EUA. Observe que a metodologia segue a coerência do CAPM, sendo sua aplicação recomendada para economias emergentes. O spread representa o risco de inadimplência (default) da companhia emissora do título de dívida (tomadora de recursos). Este risco pode ser visualizado em ratings divulgados por empresas classificadoras de risco, revelando a capacidade de pagamento do devedor. Os ratings são importantes para se conhecer os spreads de inadimplência exigidos pelo mercado e estimar os juros que as empresas devem remunerar seus credores (investidores). 144 Ratings de títulos de dívidas: Os ratings são medidas de risco desenvolvidas por agências especializadas em classificação de risco de crédito, como Moody’s, Standard & Poor’s, entre outras. Essas medidas são formadas como resultado de avaliações elaboradas por analistas financeiros supostamente com competência e experiência no assunto. Para atribuir um rating, os analistas consideram as garantias oferecidas pelo emissor do título, riscos e capacidade financeira de pagamento, moeda de pagamento, risco-país e demais informações. SAIBA MAIS O custo marginal da dívida pela formulação apresentada está estimado antes do benefício fiscal da dívida. Para cálculo do Ki líquido dos impostos deve-se deduzir o IR de acordo com a alíquota praticada pelo tomador de recursos. Assim: 145 ΔKd (Líq.) = ΔKi (Antes do IR) χ (1 – IR) Por exemplo, admita que uma empresa esteja negociando uma nova linha de financiamento no mercado. Sabe-se que os títulos do Tesouro do governo dos EUA pagam 3,50% a.a., e que o risco Brasil alcança 325 pontos bases, ou seja, 3,25% a.a. Pelo rating divulgado da empresa pelas empresas classificadoras de risco, verifica-se que o seu spread de inadimplência (default) estimado é de 2,10%. Assim, o custo da dívida estimado em moeda estrangeira, aplicando-se a formulação anterior, atinge: Taxa Livre de Risco: 3,50% Prêmio Risco Brasil: 3,25% Spread calculado para a empresa: 2,10% Custo da Dívida (Antes do IR): 8,85% Benefício Fiscal (34%): (3,00%) Custo Líquido da Dívida: 5,85% 146 11.2 WEIGHTED AVERAGE COST OF CAPITAL (WACC) Abreviação da sigla inglesa Weighted Average Cost of Capital, o WACC, ou custo médio ponderado de capital, é um cálculo do custo de capital de uma empresa no qual cada categoria de capital é ponderada proporcionalmente (capital próprio e de terceiros). Trata-se da taxa de oportunidade obtida para remunerar adequadamente a expectativa de retorno definida pelos diversos detentores de capital. Todas as fontes de capital – incluindo ações ordinárias, ações preferenciais, títulos e qualquer outra dívida de longo prazo utilizado para financiar a atividade da empresa – são incluídas no cálculo do WACC. O WACC é um instrumento utilizado para trazer os fluxos de caixa livres projetados a valor presente, refletindo o risco do negócio (SANTOS, 2019). Uma empresa é financiada basicamente por dois componentes, capital próprio e capital de terceiros. Credores e investidores esperam receber um retorno que justifique o risco tomado ao investir 147 capital em uma empresa. O WACC indica o retorno mínimo esperado e o custo de oportunidade de um investidor ao assumir o risco de investir em determinado negócio, pois uma empresa agrega valor somente se for capaz de produzir um retorno em sua atividade que supere o seu custo de capital. A metodologia de apuração do custo total de capital (WACC) tem como pressuposto que a empresa mantenha uma estrutura de capital entendida como ideal, ou seja, aquela proporção de capital próprio e capital de terceiros que minimize o custo total e seja capaz de promover, ao mesmo tempo, a maximização do valor da empresa, como aponta Assaf Neto (2017). É esperado que a estrutura de capital sofra alterações em sua composição não se mantendo imutável no tempo. Assim, ocorrendo alterações na estrutura de capital ao longo do tempo, pode- se utilizar um WACC diferente para cada janela de tempo. Na prática, no entanto, costuma ser utilizada somente uma taxa de WACC para todo o período de previsão. O custo médio e ponderado de capital é encontrado considerando-se o custo de cada tipo específico de 148 capital por sua proporção na estrutura de capital da empresa. A formulação básica amplamente adotada de cálculodo custo total de capital tem a seguinte expressão: = +WACC Ke x Kd x (1 – IR) xPL P + PL P P + PL onde: Ke = Retorno exigido, custo de oportunidade do capital próprio; Kd = Custo da dívida (capital de terceiros); PL = Valor do patrimônio líquido da empresa; P = Valor de mercado da dívida da empresa (passivo oneroso); P + PL = Valor total de mercado do financiamento da empresa; IR = Alíquota de imposto de renda. 149 Os analistas financeiros comumente usam o WACC para calcular o valor dos investimentos e determinar quais deles apresentam melhores possibilidades de retorno. Por exemplo, no método de análise por fluxo de caixa descontado, é possível usar o WACC como taxa de desconto para trazer os fluxos de caixa futuros a valor presente líquido de um negócio. Nota-se que a fórmula acima nada mais é do que a média ponderada do custo de capital da empresa, dada cada fonte de financiamento, seu volume e sua expectativa de ganho. Vale lembrar que empresas que se enquadram no regime tributário de lucro presumido ou simples, por sua vez, não têm benefício fiscal da dívida. Nesse caso, seria possível simplesmente desconsiderar o efeito de T na fórmula. AuLA 12 Estrutura de Capital – Fundamentos e Aplicações voltar para o sumário 151 Um dos temas centrais em teoria de finanças corporativas diz respeito à estrutura de capital das empresas. Estrutura de capital refere-se à forma como as empresas utilizam capital próprio e capital de terceiros para financiar os seus ativos. Em linhas gerais, os capitais próprios são os recursos fornecidos pelos sócios ou acionistas, enquanto os capitais de terceiros envolvem os recursos obtidos por meio de dívidas. 152 Estrutura de capital é um assunto que vem sendo intensamente discutido pelos pesquisadores da área financeira, especialmente a partir do trabalho de Modigliani e Miller (1958). Podem ser identificadas duas grandes correntes teóricas sobre estrutura de capital: a tradicionalista (teoria convencional), representada principalmente por Durand (1952), e a proposta por Modigliani e Miller (1958). A teoria tradicional defende que a estrutura de capital influencia o valor da empresa. Segundo essa corrente, o custo do capital de terceiros mantém-se estável até um determinado nível de endividamento, a partir do qual se eleva devido ao aumento do risco de falência. Como o custo de capital de terceiros é inferior ao custo do capital próprio, a empresa deveria se endividar até o ponto em que o seu custo de capital total atingisse um patamar mínimo. Esse ponto representaria a estrutura de capital ótima, que levaria à maximização do valor da empresa. Em contraposição à teoria convencional e baseados em um conjunto de pressupostos bastante restritivos, Modigliani e Miller (1958) argumentaram que a forma com que a empresa é financiada é 153 irrelevante para o seu valor. Para os autores, o custo de capital da empresa é o mesmo para qualquer nível de endividamento e, portanto, não haveria uma estrutura de capital ótima. A partir dessa discussão, diversas pesquisas passaram a ser realizadas com o objetivo de identificar os fatores que explicam a forma com que as empresas se financiam, dando origem à teoria moderna de estrutura de capital. Muitos trabalhos avaliaram a questão considerando as imperfeições existentes no mercado, como impostos, custos de falência, custos de agência e assimetria de informações. 12.1 Teoria convencional Segundo Assaf Neto (2020) a teoria convencional admite que, mediante uma combinação adequada de suas fontes de financiamento, uma empresa possa definir um valor mínimo para seu custo total de capital. Em outras palavras, é possível uma empresa alcançar estrutura ótima de capital, na qual minimizaria seu custo de capital (WACC) e maximizaria a riqueza de seus acionistas. 154 FIGURA 19: A ESTRUTURA DE CAPITAL SEGUNDO O CRITÉRIO CONVENCIONAL Custo (%) K0 Ke Kd WACC P/PL (risco financeiro) ESTRUTURA ÓTIMA ΔKd < ΔKe ΔKd = ΔKe ΔKd > ΔKe x Fonte: Adaptado de Assaf Neto (Finanças corporativas e valor, 2020, p.342) onde: P = recursos de terceiros permanentes (passivos onerosos); PL = recursos próprios permanentes (patrimônio líquido); 155 Ke = custo de capital próprio; Kd = custo de capital de terceiros; Ko = custo de capital próprio se a empresa fosse financiada somente por capital próprio; WACC = custo de capital total da empresa (custo médio ponderado de capital). Observe na representação sugerida na Figura 19 que Ke se eleva mais rapidamente em relação a Kd, tudo isso em conformidade com o aumento dos recursos de terceiros (P) na estrutura de capital. O custo de capital de terceiros, em verdade, mantém-se estável até determinado nível de endividamento e eleva-se quando a participação de dívidas onerosas na estrutura de capital for mais acentuada. Para níveis mais baixos da relação de endividamento (P/PL), nota-se um decréscimo do custo de capital total da empresa. Este comportamento é explicado em razão de o custo marginal do capital de terceiros (Kd) ser inferior ao custo marginal do capital próprio (Ke). Ou seja, os benefícios dos recursos de terceiros mais baratos não foram ainda absorvidos pela presença de recursos próprios mais onerosos 156 na estrutura de capital da empresa. O decréscimo observado no WACC, no entanto, verifica-se somente até certo ponto de endividamento, definido por X no gráfico da Figura 19, e assume um crescimento em seu valor quando a relação P/PL se situar à direita do ponto X. Além dessa marca de custo mínimo de capital o segmento do WACC começa a elevar-se, o que denota uma estrutura de capital mais onerosa à empresa. O ponto X do gráfico, conforme apontado, representa a estrutura ótima de capital, onde o valor do WACC é mínimo e o valor de mercado da empresa é maximizado. 12.2 Teoria de Modigliani e Miller Modigliani e Miller apregoam, de maneira contrária à teoria convencional, que num mundo hipoteticamente sem impostos, o custo total de capital de uma empresa é independente de sua estrutura de capital. Admitem os autores que não existe uma estrutura ótima; WACC e, consequentemente, o valor da empresa, permanecem inalterados qualquer que seja a proporção de recursos de terceiros e próprios mantidos. 157 Para os autores, dois bens considerados similares devem ser avaliados pelo mesmo valor, independentemente da forma como são financiados. A Figura 20 ilustra graficamente a proposição de MM num mundo sem impostos. Como consequência da combinação entre dívidas e recursos próprios em sua estrutura de capital, as empresas procuram uma alavancagem ideal, entendida como aquela que produz, para uma determinada ponderação de fontes de financiamento, o mais baixo custo de capital. Nessa estrutura de menor custo o valor da empresa é maximizado. (ASSAF NETO. 2020, p.343) 158 FIGURA 20: A ESTRUTURA DE CAPITAL SEGUNDO A TEORIA DE MM Custo (%) P/PL (risco financeiro) K0 Ke Kd WACC Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2020, p.343) Pela identidade de Ke observa-se que, conforme se eleva o endividamento [P/(P + PL)], então o custo de capital próprio também será crescente com esta relação. É uma função linear e positiva. Uma vez mais deve-se destacar o pressuposto esperado de Ko > Ki. O capital próprio possui normalmente maior risco em relação ao capital de terceiros devendo oferecer, portanto, remuneração mais alta. 159 =Ke Ko + (Ko – Kd) x P PL Em trabalho posterior, Modigliani e Miller reconhecem que a dedutibilidade dos juros na apuração do Imposto de Renda a pagar favorece a dívida em relação ao capital próprio. Pela prática tributária vigente, a empresa tem a remuneração de seus credores abatida do Imposto de Renda a recolher, porém a legislação não permite que se adote o mesmo procedimento para os pagamentos de dividendos sobre os lucros dos acionistas. Desta forma, mediante o uso da alavancagem financeirafavorável é possível elevar-se o valor da empresa. Ao manter todos os pressupostos do modelo anterior e considerando agora a existência de Imposto de Renda incidente sobre as decisões financeiras da empresa, MM concluem que, ao elevar-se o quociente de endividamento (P/PL) reduz-se o custo total de capital e, em consequência, maximiza-se o valor de mercado da empresa. Este comportamento decorre do benefício fiscal presente na dedutibilidade dos juros para o cálculo do Imposto de Renda das 160 pessoas jurídicas, conforme descrito na Figura 21. Na proposição de MM com impostos, o valor de uma empresa com dívidas é igual ao seu valor na condição de ser financiada totalmente com recursos próprios, acrescido dos ganhos produzidos pela alavancagem financeira, que reflete a economia de Imposto de Renda proporcionada pela dívida. FIGURA 21: ESTRUTURA DE CAPITAL COM IMPOSTOS Custo ($) P/PL (risco financeiro) K0 Ke Kd WACC (s/IR) Benefício fiscal WACC (c/IR) Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2020, p.343) 161 O custo de capital próprio (Ke), como função linear e positiva do risco financeiro, assume a seguinte expressão de cálculo num mundo com impostos: Ke = Ko + [(Ko – Kd) x P / PL χ (1 – IR)] Sendo IR a alíquota de Imposto de Renda. Considerando a dedutibilidade fiscal dos encargos financeiros das dívidas, Modigliani e Miller demonstraram que o valor da empresa se eleva conforme a alavancagem aumentar. Maior endividamento traz como benefício maior economia de imposto de renda e menor custo de capital. O valor da empresa é uma função linear de seu padrão de endividamento, e a empresa consegue maximizar seu valor de mercado elevando seu grau de alavancagem.