Prévia do material em texto
TEORIAS E SISTEMAS PROFA DRA MARIA NATALIA M RODRIGUES Introdução A procura pelo método foi a principal questão que permeou as discussões da época, e constituiu o solo para a construção dos projetos científicos (COTRIM; FERNANDES, 2016). Francis Bacon, René Descartes e Augusto Comte são nomes importantes na fundamentação de métodos. Cada qual ao seu modo e a partir das suas perspectivas, esses pensadores indicaram como se constituíam as verdades e o modo com que se atingiria o conhecimento verdadeiro. É importante destacar que a revolução científica do século XVI foi pautada nas ciências naturais. Os métodos construídos nesse período objetivavam, sobretudo, encontrar verdades rígidas, eternas e imutáveis. A busca por verdades absolutas norteava as investigações metodológicas. Abordagens nomotéticas O dicionário da língua portuguesa Houaiss (2009, p. 1361) define que nomotético é “relativo à elaboração de leis; legislativo. Diz-se de método ou disciplina que formula ou trata de leis gerais para o entendimento de um determinado evento, circunstância ou objeto.” A abordagem nomotética busca estabelecer princípios e leis gerais. Apesar da perspectiva nomotética fazer parte do rol das ciências sociais, ela está mais entrelaçada com os princípios das ciências naturais. Está vinculada àquelas metodologias que buscavam estabelecer as verdades fixas e imutáveis aos processos de conhecimento. Segundo Nascimento et al. (2017, p. 25), A abordagem Nomotética, busca a aquisição do conhecimento de forma muito próxima do modelo das Ciências Naturais, isto é, amostragem cuidadosa, medidas precisas, bom design e análise de hipóteses apoiadas em teorias, pautada nas técnicas quantitativas para o estabelecimento de conexões causais e utilizando como instrumento para coleta de dados, entre outros exemplos, bases de dados e questionários padronizados. Essa perspectiva teórica ressoa no campo psicológico ao convocar os profissionais da área a lidarem com o esse campo do saber como uma ciência natural (FIGUEIREDO, 2014). Suas indicações são de que o pesquisador ou psicólogo/a busque a ordem natural dos fenômenos psíquicos. Assim, a psique e os comportamentos são classificados numa perspectiva preditiva (NASCIMENTO et al., 2014). Nesse modelo cientificista, existem três etapas fundamentais: construção das hipóteses, dedução exata das hipóteses e a mensuração que corresponde ao teste da hipótese (NASCIMENTO et al., 2014). Esse alinhamento da psicologia com as noções cientificistas e as predições nomotéticas se deu devido ao aguçado desejo de, no século XIX, fazer da psicologia uma ciência autônoma. No entanto, um dos maiores desafios da psicologia foi justamente estabelecer um objeto mensurável e passível de quantificação e controle. Só a definição desse objeto de caráter matemático poderia oferecer as condições para que o objeto da ciência psicológica pudesse ser submetido ao caráter experimental. Na história da constituição da psicologia, podemos identificar que, desde o século XVIII, ou seja, no século anterior ao do nascimento da psicologia científica, já havia projetos psicométricos. Ainda no século XIX, o fisiólogo e psicólogo Wilhelm Wundt fundou o laboratório experimental na Universidade de Leipzing na Alemanha (GAUER, 2007). O professor, além de estabelecer a aproximação entre a pesquisa e a psicologia experimental, teve suas discussões centradas na duração dos fenômenos psíquicos. Um dos seus experimentos estudou o fenômeno da atenção, buscando compreender o tempo entre o estímulo visual e auditivo (FIGUEIREDO, 2014). Outros psicólogos fundamentaram suas práticas experimentais na perspectiva nomotética: H. Ebbinghaus buscou quantificar a memória associativa. Thorndike, fundador do associacionismo que construiu gráficos cartesianos do processo de aprendizagem e outros (FIGUEIREDO, 2014). Abordagens idiográficas Enquanto as abordagens nomotéticas têm uma característica quantificadora e buscam estabelecer leis gerais e princípios, a idiográfica trata os fatos considerando-os de formas individuais e compreensivas. A abordagem Idiográfica baseia-se no pressuposto de que a compreensão do mundo social ocorre através da investigação em primeira mão, ou seja, é necessário estabelecer uma relação próxima e pessoal com o sujeito, com forte ênfase na vivência e na análise subjetiva, dada à necessidade de conhecer profundamente o fenômeno de estudo. Nesse aspecto, é necessário envolver-se no fluxo da vida cotidiana para a realização da análise detalhada dos insights obtidos em tais encontros com o sujeito ou fenômeno em análise. A abordagem Idiográfica está interessada no conhecimento do particular, como condição necessária à práxis, ou seja, a forma de agir adequadamente em uma variedade de situações particulares. O exercício de observação dos objetos externos dota o pesquisador pautado na abordagem Ideográfica de uma atitude espiritual completamente distinta da empregada na abordagem Nomotética. Na abordagem Ideográfica, o emprego das matemáticas deve ter uma função subordinada na compreensão profunda da sociedade, sendo seu principal objetivo descrever e realizar análises comparativas, que na perspectiva Nomotética, dá lugar à indução, ao experimento e a matematização. Esse horizonte de compreensão histórica foi influenciado pelo pensamento do filósofo Dilthey quando propôs a cisão entre as ciências naturais e humanas. O interesse pelo particular, pela compreensão individual, ressoou nas práticas psicológicas. Se algumas áreas da psicologia se dedicam às leis gerais do comportamento, outras se voltam para o singular, o histórico, o horizonte existencial. A clínica é uma das áreas em que o movimento idiográfico fica mais evidente – mas não podemos restringir esse modo de compreensão apenas a uma área da psicologia. Na verdade, uma escuta idiográfica parte mais do modo de escuta do profissional do que necessariamente do arcabouço explicativo do instrumento utilizado por ele. Há psicólogos e psicólogas que fazem uso das noções idiográficas, inclusive no âmbito da psicometria. Apesar da psicometria e dos testes psicológicos terem um caráter generalizante, pois a normatização deles parte desse pressuposto, o olhar singular é importante na prática profissional. Escolas da Psicologia Apesar do primeiro laboratório ter sido fundado na Alemanha, foi nos Estados Unidos que a Psicologia pôde ver a instituição de suas primeiras escolas nascerem. O rápido crescimento da Psicologia em cenário estadunidense dar-se-á pelo fato dos grandes avanços vividos e pela consolidação do capitalismo nesse país (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). O estruturalismo, o funcionalismo e o associacionismo foram as primeiras escolas que “deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente” na psicologia (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 41). O Funcionalismo, de William James, (1842-1910), o Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927) e o Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949). FUNCIONALISMO William James (1842-1910) foi um filósofo e importante psicólogo norte-americano Em 1861, James ingressou na Escola científica Lawrence da Universidade de Harvard. Em 1864 iniciou o curso de Medicina na Harvard Medical School. Em 1865, acompanhou o naturalista Louis Agassiz na Expedição Thayer, em estudo científico no Brasil. Durante oito meses, esteve no Amazonas e no Rio de Janeiro. Em 1889, James assumiu a cadeira de psicologia em Harvard. Um de seus principais interesses era o estudo científico da mente humana, seus valores morais e espirituais, numa época em que a psicologia estava se formando como ciência. Em 1890, após 12 anos de elaboração, publicou o livro “Princípios de Psicologia”, uma obra inovadora, que pela primeira vez apresentava a Psicologia como matéria independente, e a sua relação com a fisiologia. O Funcionalismo é considerado como a primeira sistematização genuinamente americanade conhecimentos em Psicologia. Uma sociedade que exigia o pragmatismo para seu desenvolvimento econômico acaba por exigir dos cientistas americanos o mesmo espírito. Desse modo, para a escola funcionalista de W. James, importa responder “o que fazem os homens” e “por que o fazem”. Para responder a isto, W. James elege a consciência como o centro de suas preocupações e busca a compreensão de seu funcionamento, na medida em que o homem a usa para adaptar-se ao meio. A Psicologia de James surge das observações informais de si mesmo e de outros em seu envolvimento com os desafios da vida cotidiana. Sua Psicologia mais prática tentava captar o “temperamento” da mente em funcionamento. Ao caracterizar a consciência, usava frases como “pessoal e única”, “em mudança contínua” e “modificando-se ao longo de tempo”. Acima de tudo, achava notável como a consciência e outros processos mentais ajudam as pessoas a se ajustar a suas experiências. A ênfase de James sobre a mente em funcionamento reflete-se no nome atribuído ao movimento que surgiu em torno dele, o funcionalismo. Para James (1962 [1892], 1983 [1892]), a psicologia como ciência é ciência natural. Como uma ciência natural, a psicologia estuda os fatos mentais, descrevendo- os e examinando-os em relação com o ambiente físico e com as atividades dos hemisférios cerebrais, bem como as atividades corporais que deles decorrem (cf. James, 1962). James (1983) argumenta, bem antes de Watson (1913), que, como todas as ciências naturais, o objetivo da psicologia consiste na previsão e controle práticos. Isso significa dizer que a psicologia deve ajudar homens práticos a solucionar seus problemas, fornecendo-lhes regras para a ação, ensinando-lhes como agir. ESTRUTURALISMO Edward Bradford Titchener (1867-1927) foi um psicólogo estruturalista britânico. Estudou em Leipzig, Alemanha com o mestre Wundt. Voltou para o Reino Unido e tentou divulgar a nova psicologia, mas esta não foi aceita pelos demais filósofos da época. Isso o levou aos Estados Unidos onde alunos de todo o país vinham ouvir e estudar sua nova psicologia. Edward B Titchener propôs uma nova abordagem que designou Estruturalismo e afirmou que esta apresentava a forma de Psicologia postulada por Wundt, contudo, os dois sistemas são diferentes e o rótulo de Estruturalismo só pode ser aplicado à concepção de Titchener. https://pt.wikipedia.org/wiki/1867 https://pt.wikipedia.org/wiki/1927 https://pt.wikipedia.org/wiki/Psic%C3%B3logo https://pt.wikipedia.org/wiki/Estruturalismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Unido https://pt.wikipedia.org/wiki/Leipzig https://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanha https://pt.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Wundt https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Unido https://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos O Estruturalismo está preocupado com a compreensão do mesmo fenômeno que o Funcionalismo: a consciência. Mas, diferentemente de W. James, Titchner irá estudá-la em seus aspectos estruturais, isto é, os estados elementares da consciência como estruturas do sistema nervoso central. Esta escola foi inaugurada por Wundt, mas foi Titchner, seguidor de Wundt, quem usou o termo estruturalismo pela primeira vez, no sentido de diferenciá-la do Funcionalismo. O método de observação de Titchner, assim como o de Wundt, é o introspeccionismo, e os conhecimentos psicológicos produzidos são eminentemente experimentais, isto é, produzidos a partir do laboratório. ESTRUTURALISMO Titchener (1867-1927) tentou colocar a Psicologia no campo apenas das ciências naturais, redefinindo o objeto de estudo, propondo sua própria abordagem que denominou de estruturalismo; Esse sistema se concentra nos elementos que compõem a estrutura da consciência, analisa a consciência em partes separadas e, assim, determina sua estrutura (SCHULTZ e SCHULTZ,2000); Os métodos utilizados por Titchener foram a auto-observação ou introspecção. O livro A textbook of Psychology, de autoria de Titchener e contribui à visão do estruturalismo na Psicologia. Segundo ele, “todo conhecimento humano é derivado das experiências humanas, não há outra fonte de conhecimento”. Com isso, a experiência humana acaba por se ramificar na análise de diversas perspectivas em várias áreas. Cada pessoa carrega vivências pessoais e muito distintas entre si. Nisso, o repertório de conhecimentos acaba mudando entre os indivíduos e construindo saberes diferentes. No momento de estudar a experiência consciente, Titchener frisou sobre uma chance de erro nesse caminho. Tal possibilidade foi apelidada de erro de estímulo. Basicamente, pode haver uma confusão com o processo mental envolvido sobre o objeto de observação. Associacionismo Edward Lee Thorndike (Williamsburg, 31 de agosto de 1874 — Montrose, 9 de agosto de 1949) foi um psicólogo norte-americano. Iniciou seus estudos de Psicologia na Universidade Harvard, Estados Unidos, onde foi discípulo de William James. Um dos aspectos da psicologia que particularmente o fascinava, era o estudo do aprendizado dos animais. https://pt.wikipedia.org/wiki/Williamsburg_(Massachusetts) https://pt.wikipedia.org/wiki/31_de_agosto https://pt.wikipedia.org/wiki/1874 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Montrose_(Nova_Iorque)&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/9_de_agosto https://pt.wikipedia.org/wiki/1949 https://pt.wikipedia.org/wiki/Psic%C3%B3logo https://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Harvard https://pt.wikipedia.org/wiki/William_James Thorndike formulou a primeira teoria de aprendizagem na Psicologia. Sua produção de conhecimentos pautava-se por uma visão de utilidade deste conhecimento, muito mais do que por questões filosóficas que perpassam a Psicologia. O termo associacionismo origina-se da concepção de que a aprendizagem se dá por um processo de associação das ideias — das mais simples às mais complexas. Assim, para aprender um conteúdo complexo, a pessoa precisaria primeiro aprender as ideias mais simples, que estariam associadas àquele conteúdo. Uma forma importante de aprendizagem é aquela que leva em consideração a consequência da resposta que está sendo aprendida. O pioneiro do estudo nesta forma de aprendizagem foi Thorndike, que desenvolveu a Lei do Efeito. • Edward Lee Thorndike - Dedicou-se ao estudo experimental da inteligência em animais e seres humanos. Através de experimentos com gatos, desenvolveu a Lei do Efeito; Lei do Efeito- Comportamentos acompanhados por consequências agradáveis tornam-se mais frequentes enquanto comportamentos acompanhados por consequências desagradáveis tendem a desaparecer. De acordo com essa lei, todo comportamento de um organismo vivo (um homem, um pombo, um rato etc.) tende a se repetir, se nós recompensarmos (efeito) o organismo assim que este emitir o comportamento. Por outro lado, o comportamento tenderá a não acontecer, se o organismo for castigado (efeito) após sua ocorrência. E, pela Lei do Efeito, o organismo irá associar essas situações com outras semelhantes. Por exemplo, se, ao apertarmos um dos botões do rádio, formos “premiados” com música, em outras oportunidades apertaremos o mesmo botão, bem como generalizaremos essa aprendizagem para outros aparelhos, como toca-discos, gravadores etc. Matrizes Cientificistas Matrizes românticas e pós-românticas As matrizes românticas e pós-românticas se opõem diretamente à supremacia da matematização enquanto metodologia de conhecimento. A psicologia, sendo a ciência do comportamento humano, não deveria, portanto, se atrelar às metodologias das ciências naturais, visto que comportamentos são formas de expressão, produtos de uma subjetividade singular que se mostra nas ações (FIGUEIREDO, 2009). As matrizes que compõem esse grande grupo das matrizes românticas são: a vitalista e naturalista; e a compreensiva. Para a primeira,é possível fazer uso da classificação, mas esse não é o princípio fundamental da psicologia. O fundamental estaria na lida com a vida. Segundo Figueiredo (2014), a bioenergética, criada por Wilhelm Reich, e que trabalha as emoções do indivíduo em relação com o corpo, têm marcas do vitalismo e naturalismo. Outra abordagem que poderia ser situada nesse diálogo é a Terapia Gestalt, que busca a experiência holística do sujeito situada no aqui e agora (FIGUEIREDO, 2014). Atreladas a matrizes românticas, estariam as matrizes compreensivas. Dentro dessas há: o historicismo idiográfico, o estruturalismo e a fenomenologia. Conhecer os pontos de intersecção e distanciamentos das matrizes do pensamento psicológico favorece um olhar amplo para as epistemologias/teorias que subjazem cada perspectiva de prática. Esse conhecimento é importante para que se perceba que, apesar da psicologia ser um campo de dispersão e multifacetado, não dá para estabelecer um ecletismo, ou seja, adotar indiscriminadamente vários horizontes teóricos que em alguns pontos se contradizem, mas também não dá para se fechar no dogmatismo de conceber apenas uma linha teórica como verdadeira, visto que, ao seu modo, cada uma contribui para a ciência, para a profissão e sobretudo para as pessoas e os setores que necessitam dos serviços dos profissionais da área (FIGUEIREDO, 2009). A atuação dar-se-á eticamente a partir da situação profissional que, reconhecendo a sua morada, ou seja, a sua teoria, os limites e as possibilidades de atuação e intervenção, se abrirá à alteridade da prática, desalojando-se constantemente e revisitando continuamente seus arcabouços técnicos, teóricos e suas experiências profissionais e existenciais. REFERÊNCIAS FIGUEIREDO, L. C. M.; SANTI, P. L. R. de. Psicologia: uma (nova) introdução. 3. ed. São Paulo: Educ, 2008. HILLIX, W. A.; MARX, M. H. Sistemas e Teorias em Psicologia. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1973. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 5. ed. São Paulo: Cultrix, 1992.