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O que é a filosofia Battista Mondin

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O que é a filosofia?[1: MONDIN, B. Introdução à filosofia. São Paulo, Paulus, 1980, p. 5. ]
O homem, diz-se, é naturalmente filósofo, “amigo da sabedoria”. E é verdade. Ávido de saber, não se contenta em viver o momento presente e aceitar passivamente as informações fornecidas pela experiência imediata, como fazem os animais. Seu olhar interrogativo quer conhecer o porquê das coisas, sobretudo o porquê da própria vida.
Mas enquanto o homem comum, o homem da rua, formula estas interrogações e enfrenta estes problemas de maneira descontínua, sem método e sem ordem, pessoas há que dedicam a essas pesquisas todo o seu tempo e todas as suas energias, e propõem-se a obter uma solução concludente para todos os ingentes problemas que espicaçam a mente humana, por meio de uma análise aprofundada e sistemática. São estas as pessoas a que costumamos chamar “filósofos”.
Mas então o que é exatamente a filosofia?
É um conhecimento, uma forma de saber e, como tal, tem sua esfera particular de competência; sobre esta esfera busca adquirir informações válidas, precisas e ordenadas. Mas enquanto é fácil dizer qual é a esfera de competência das várias ciências experimentais, não é igualmente cômodo delimitar o campo de pesquisa próprio da filosofia. É sabido, por exemplo, que a botânica estuda as plantas,a geografia os lugares, a história os fatos, a medicina as doenças etc. Mas a filosofia, que estuda ela? 
No entender dos filósofos, ela estuda tudo. Aristóteles, o primeiro a pesquisar rigorosamente e sistematicamente a natureza desta disciplina, diz que a filosofia estuda “as causas últimas de todas as coisas”. Cícero define a filosofia como sendo “o estudo das causas humanas e divinas das coisas”. Descartes afirma que a filosofia “ensina a bem raciocinar”. Hegel concebe a filosofia como “saber absoluto”. Whitehead julga que seja tarefa da filosofia “fornecer uma explicação orgânica do universo”.
Poderíamos citar muitos outros filósofos que definem a filosofia quer como estudo do valor do conhecimento, quer como pesquisa sobre o fim último do homem, quer como estudo da linguagem, do ser, da história, da arte, da cultura, da política etc. Com efeito, coerentes com estas definições discrepantes, os filósofos estudaram todas as coisas. Devemos, pois, concluir que a filosofia estuda tudo? Sem dúvida. Isto por duas razões.
Em primeiro lugar, porque todas as coisas, além de poderem ser examinadas em nível científico, podem sê-lo também em nível filosófico.
Assim os homens, os animais, as plantas, a matéria, já estudados por muitas ciências e sob diferentes pontos de vista, são suscetíveis também de uma pesquisa filosófica. Com efeito, os cientistas se interrogam sobre a constituição da matéria, perguntam –se o que é a vida, como estão estruturados os animais e o homem, mas não chegam a enfrentar certos problemas também referentes ao homem, aos animais, às plantas, à matéria: por exemplo, o que seja o existir.
Especialmente com relação ao homem, do qual as ciências estudam múltiplos aspectos, são muitos os problemas que nenhuma delas enfrenta ( enquanto os supõe já resolvidos), como o valor da vida e do conhecimento humano, a liberdade, a natureza do mal, a origem e o valor da lei moral. Somente a filosofia se ocupa destes problemas.
Em segundo lugar, porque, enquanto as ciências estudam esta ou aquela dimensão da realidade, a filosofia tem por objeto o todo, a totalidade, o universo tomado globalmente.
Eis, pois, a primeira característica que distingue a filosofia de qualquer outra forma de saber: ela estuda toda a realidade ou, de algum modo, procura apresentar uma explicação completa e exaustiva de um domínio particular da realidade.
Mas há também outras três qualidades que contribuem para dar ao saber filosófico um caráter próprio e específico: o instrumento de pesquisa, o método e o escopo.
O instrumento de pesquisa, de trabalho, de análise de que a filosofia se utiliza é a razão, a razão pura, o “o raciocínio puro”, como diz Platão. Ela não dispõe de microscópios, telescópios, máquinas fotográficas etc. Não pode estabelecer controles com instrumentos materiais nem apressar suas operações recorrendo a computadores. Mesmo os instrumentos cognitivos de que se utiliza todo o homem e todo o cientista, os sentidos e a imaginação, ao filósofo só servem na fase inicial, para conseguir alguns conhecimentos do real, para o qual depois volta o olhar penetrante da razão. O trabalho verdadeiro e próprio da pesquisa filosófica é realizado apenas pela razão; esta, para subtrair-se a todo o tipo de distração, encerra-se em seu sagrado recinto, longe do barulho das máquinas, da sedução dos prazeres e da práxis, da confusão dos sentidos, em solitária companhia com o próprio objeto.
O método da filosofia é essencialmente raciocinativo, embora não exclua algum momento intuitivo (quer na fase inicial, quer na final). Mas os processos raciocinativos são múltiplos, e os mais importantes dentre eles são a indução e a dedução. A filosofia utiliza ambos: o primeiro, para ascender dos fatos aos princípios primeiros; o segundo, para descer de novo dos primeiros princípios e iluminar posteriormente os fatos, para compreendê-los melhor. 
Além da natureza e do método,a filosofia se distingue das ciências também no fim (escopo). A filosofia não está voltada para fins práticos e interesseiros, como a ciência, a arte, a religião e a técnica; estas, de um modo ou de outro, sempre tem em vista alguma satisfação ou alguma vantagem. A filosofia tem como único objetivo o conhecimento; tem em vista simplesmente pesquisar a verdade em si mesma, prescindindo de eventuais utilizações práticas. A filosofia tem um objetivo puramente teórico, ou seja, contemplativo;não pesquisa por nenhuma vantagem que lhe seja estranha, mas por ela mesma; por isso, como disse egregiamente Aristóteles na Metafísica (A, 2, 982b), ela é “livre” enquanto não está sujeita a nenhuma utilização de ordem prática, e portanto se realiza e se resume na pura contemplação do verdadeiro. 
Já dissemos anteriormente que todas as coisas são suscetíveis de pesquisa filosófica. Por isso, pode haver uma filosofia do homem, dos animais, do mundo, da vida, da matéria, dos deuses, da sociedade, da política, da religião, da arte, da ciência, da linguagem, do esporte, do riso, do jogo, etc. Mas, na realidade, os que se chamam filósofos estudaram de preferência apenas alguns problemas, os que são conhecidos com o nome de lógica, epistemologia, metafísica, cosmologia, ética, teodiceia, psicologia, política, estética, antropologia cultural e axiologia; por isto estas constituem também as partes principais da filosofia. A lógica se ocupa do problema da exatidão do raciocínio; a epistemologia, do valor do conhecimento; a metafísica, do fundamento último das coisas em geral; a cosmologia, da constituição essencial das coisas materiais, da sua origem e de seu devir; a psicologia, da natureza humana e de suas faculdades; a teodiceia, do problema religioso, ou seja, da existência e da natureza de Deus e das relações que os homens têm com ele; a ética, da origem e da natureza da lei moral, da virtude e da felicidade; a política, da origem e da estrutura do Estado; a estética, do problema do belo e da natureza e função da arte, a antropologia cultural, do problema dos valores.
Quem quer tornar-se especialista nas disciplinas filosóficas deve, logicamente, estudar, profunda e sistematicamente, todos os problemas mencionados, sob cada um dos quais, através dos séculos, acumulou-se uma bibliografia imensa.

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