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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

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PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015
SUMÁRIO
Introdução	2
1	Jurisdição voluntária – previsão no CPC de 2015	4
2	Diferenças entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa	6
3	Jurisdição voluntária – particularidades e procedimento	8
4	Procedimentos de jurisdição voluntária em espécie – apresentação e análise comparativa entre o CPC de 1973 e o CPC de 2015	16
4.1	Do divórcio e da separação consensuais, da extinção consensual de união estável e da alteração do regime de bens do matrimônio	17
4.2	Da interdição	22
4.3	Da Notificação e da Interpelação	29
4.4	Da Alienação Judicial	31
4.5	Dos Testamentos e dos Codicilos	31
4.6	Da herança Jacente	33
4.7	Dos Bens dos Ausentes	37
4.8	Das Coisas Vagas	41
4.9	Das Disposições Comuns à Tutela e à Curatela	42
4.10	Da Organização e da Fiscalização das Fundações	45
4.11	Da Ratificação dos Protestos Marítimos e dos Processos Testemunháveis Formados a Bordo	46
5	Procedimentos de jurisdição voluntária previstos de maneira esparsa no CPC de 2015	49
6	Considerações finais	52
Referências	54
Introdução
O presente trabalho busca apresentar os procedimentos de jurisdição voluntária constantes do Código de Processo Civil (CPC) de 2015. De maneira sucinta, a jurisdição voluntária é a maneira de aperfeiçoamento de um determinado negócio jurídico, eis que dependente de um ato judicial. A demanda não se instaura a partir de uma divergência ou disputa entre as partes, mas sim porque o aperfeiçoamento do negócio jurídico demanda apreciação judicial. Ou, como coloca Gonçalves (2017, p. 134-135): “A jurisdição voluntária não serve para que o juiz diga quem tem razão, mas para que tome determinadas providências que são necessárias para a proteção de um ou ambos os sujeitos da relação processual”.
Câmara (2017, p. 41) define jurisdição voluntária da seguinte forma:
Chama-se jurisdição voluntária à atividade de natureza jurisdicional exercida em processos cujo objeto seja uma pretensão à integração de um negócio jurídico. Explique-se: há negócios jurídicos cujas validade e eficácia dependem de um ato judicial que o complemente, aperfeiçoando-o. É o que se dá, por exemplo, no caso de um divórcio consensual de um casal que tenha filhos incapazes. Neste caso (diferentemente do que se dá quando o casal não tem filhos incapazes, hipótese em que o negócio jurídico por eles celebrado, observados os requisitos formais estabelecidos em lei, é válido e eficaz independentemente de participação do Estado-Juiz) o negócio jurídico só é válido e eficaz se aprovado judicialmente. É preciso, então, que em casos assim se instaure um processo em que se veiculará pedido de integração (isto é, de complementação) do negócio jurídico. A atividade jurisdicional desenvolvida em casos assim é conhecida como jurisdição voluntária.
A definição e a abrangência da jurisdição voluntária é variada na doutrina. Segundo Medina (2016, p. 956):
Para parcela da doutrina, o conceito de jurisdição, ao comportar também o de jurisdição voluntária, acaba variando de modo mais profundo, para se compreender como também jurisdicional a atividade extrajudicial. Assim, p.ex., Leonardo Greco [...] refere-se à jurisdição voluntária administrativa, quando realizada por órgãos da administração pública, e quase jurisdicional, quando exercida por serventuários da justiça. O CPC/2015 manteve essa ordem de ideias e a ampliou (v., p.ex., a hipótese de reconhecimento extrajudicial de usucapião, a que se refere o art. 216-A da Lei 6.015/1973, acrescentado pela mesma lei que instituiu o novo CPC).
Realizadas as definições preliminares, cumpre esclarecer que o presente trabalho tem o objetivo de: apresentar as previsões constantes no CPC de 2015 a respeito da jurisdição voluntária; diferenciar conceitualmente a jurisdição voluntária da jurisdição contenciosa; traçar as particularidades dos procedimentos de jurisdição voluntária, de acordo com o Código de Processo Civil (CPC) de 2015; apresentar os procedimentos de jurisdição voluntária em espécie, bem como evidenciar as principais alterações em relação ao Código de 1973. Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recurso metodológico, a pesquisa bibliográfica, realizada a partir da análise pormenorizada de materiais publicados na literatura e divulgados no meio eletrônico.
Jurisdição voluntária – previsão no CPC de 2015
Os procedimentos de jurisdição voluntária encontram-se elencados no Capítulo XV, do Título III, do Livro I da Parte especial do Código de Processo Civil de 2015. Os procedimentos estão elencados no rol constante do artigo 725. Além dos procedimentos elencados pelo artigo 725, há também onze seções (da seção II a seção XII) dedicadas a detalhar outros procedimentos de jurisdição voluntária constante do diploma processual.
Sobre a organização, no CPC de 2015, dos procedimentos comum e especiais, dentre os quais os de jurisdição voluntária, Medina (2016, p. 491) faz as seguintes observações:
[...] Por não se referir aos procedimentos especiais ao denominar o Livro I, tem-se a impressão de que o legislador os considerou como manifestação do processo de conhecimento (haveria, ao lado do procedimento “comum”, os procedimentos “especiais”). Mas entre os procedimentos especiais foram inseridos os de jurisdição voluntária, ou não contenciosos (arts. 734 ss. do CPC/2015), embora estes não possam ser considerados modalidades de processo de conhecimento [...]
No artigo 725 do CPC de 2015 há um rol de pedidos que obedecem ao procedimento geral de jurisdição voluntária, são eles: a emancipação; sub-rogação; alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças e adolescentes, de órfãos e de interditos; alienação, locação e administração de coisa comum; alienação de quinhão de coisa comum, a extinção de usufruto, quando não decorrer da morte do usufrutuário, do termo da sua duração ou da consolidação e do fideicomisso, quando decorrer de renúncia ou quando ocorrer antes do evento que caracteriza a condição resolutória, a expedição de alvará judicial e a homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou valor.
Ademais, também como informado anteriormente, há onze seções que cuidam de procedimentos de jurisdição voluntária, que têm sua descrição mais bem detalhada pelo diploma processual, são eles: Da Notificação e da Interpelação; Da Alienação Judicial; Do Divórcio e da Separação Consensuais, da Extinção Consensual de União Estável e da Alteração do Regime de Bens do Matrimônio; Dos Testamentos e dos Codicilos; Da Herança Jacente; Dos Bens dos Ausentes; Das Coisas Vagas; Da Interdição; Disposições Comuns à Tutela e à Curatela; Da Organização e da Fiscalização das Fundações; e Da Ratificação dos Protestos Marítimos e dos Processos Testemunháveis Formados a Bordo.
A jurisdição voluntária não conta com uma lista taxativa. Outras previsões de demandas de jurisdição voluntária estão previstas, de maneira esparsa no próprio corpo do CPC de 2015, como será visto adiante.
Os manuais e os resumos de direito processual, mais sucintos como regra, não apresentam em detalhes todos os procedimentos de jurisdição voluntária. Gonçalves (2017, p. 877-878) trata em detalhe somente: 1) da separação, divórcio e extinção de união estável consensuais e 2) da interdição. Marinoni et. al. (2017, p. 190) tratam apenas dos Protestos, Notificações e Interpelações. Dourado (2016, pp. 257, 260 e 265) trata da 1) Alienação Judicial; 2) da separação consensual e do divórcio consensual; e 3) dos testamentos e dos codicilos. Outros autores, como Neves (2017) e Câmara (2017) não detalham especificamente nenhum dos procedimentos de jurisdição voluntária, tratando a matéria juntamente com outros assuntos a ela correlatos.
Diferenças entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa
Para Gonçalves (2017. p. 874) as principais diferenças entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa são:
■ ela não serve para que o juiz diga quem tem razão, como nos processos de conhecimento dejurisdição contenciosa, mas para que tome determinadas providências necessárias para a proteção de um ou de ambos os sujeitos da relação processual;
■ na contenciosa, busca-se obter uma determinação que obrigue a parte contrária; na voluntária, uma situação que valha para o próprio autor. Ou seja, na primeira, a sentença que favorece uma das partes é dada em detrimento da outra; na segunda, é possível que beneficie ambas;
■ na contenciosa, o juiz resolve uma situação de confronto; na voluntária, uma situação conflituosa, cuja solução exige uma alteração das circunstâncias que só pode ser propiciada pelo Judiciário.
Neves (2017, p. 97) sobre jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária, diz o seguinte:
A mais tradicional das "divisões" da jurisdição é aquela estabelecida entre jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária, inclusive sendo a única expressamente consagrada no Código de Processo Civil. A jurisdição tradicional é a contenciosa, sendo excepcional a voluntária, de forma que cabe nesse momento a análise dos elementos que tornam tal espécie de jurisdição excepcional, tão excepcional que para parcela considerável da doutrina nem de jurisdição se trata.
Há quem entenda que haveria uma maior liberdade de ação do juiz na jurisdição voluntária em relação ao que ocorre na jurisdição contenciosa. O sistema processual brasileiro é um sistema misto, ou seja, ele flutua entre o sistema inquisitivo, em que o juiz conduz o processo, e o sistema dispositivo, no qual as partes o conduzem. Para Neves (2017, p. 182) “Ao menos na jurisdição contenciosa é correto afirmar que esse sistema misto é essencialmente um sistema dispositivo temperado com toques de inquisitoriedade”. Já no que diz respeito à jurisdição voluntária, para o mesmo autor (2017, p. 98) observa-se uma maior carga inquisitiva, ou, em suas palavras:
Na jurisdição voluntária parece que o mesmo fenômeno se repete, não sendo correto imaginar um sistema puramente dispositivo ou inquisitivo. A grande diferença encontra-se na maior carga de inquisitoriedade atribuída ao juiz na formação, condução e decisão da demanda.
Essa maior carga de inquisitoriedade, ainda que não seja o suficiente para afastar de todo o princípio dispositivo, é significativa, podendo ser percebida em determinadas realidades da jurisdição voluntária que não existem na jurisdição contenciosa [...]
Para reforçar sua tese, o autor menciona alguns exemplos:
(a) o juiz poderá dar início de ofício a determinadas demandas de jurisdição voluntária, afastando-se o rigorismo do princípio da demanda (inércia da jurisdição), apesar de o art. 720 do Novo CPC prever que o procedimento de jurisdição voluntária terá início por provocação do interessado, do Ministério Público e da Defensoria Pública;
(b) maiores poderes instrutórios do juiz, que poderá produzir provas mesmo contra a vontade das partes;
(c) o juiz poderá decidir contra a vontade de ambas as partes, o que é impossível na jurisdição contenciosa, na qual alguma das partes deverá ter a sua pretensão acolhida, ainda que parcialmente;
(d) o juiz pode julgar utilizando-se de juízo de equidade [...] (NEVES, 2017, p. 98).
De outra parte, a respeito dos procedimentos especiais de jurisdição contenciosa, Marinoni et. al. (2017, p. 21) dizem o seguinte:
Os procedimentos especiais, ditos de “jurisdição contenciosa”, porque foram concebidos para lidar com situações conflituosas, em que há efetiva ou potencial resistência no atendimento a certa pretensão, são estruturados para a tutela de particulares situações substanciais. O mesmo ocorre com outros procedimentos especiais previstos na legislação processual extravagante, como, por exemplo, o da ação de alimentos (Lei 5.478/1968).
Ainda sobre os procedimentos especiais de jurisdição contenciosa, continuam os autores:
Estes procedimentos são construídos com base em técnicas de cognição e costumam ser dotados de técnica antecipatória e de meios executivos diferenciados. A ação de reintegração de posse, ao obstar a alegação de domínio pelo réu, restringe a extensão do litígio e limita a cognição do juiz no sentido horizontal. Trata-se de procedimento que se vale da técnica da cognição parcial, ou seja, de técnica que limita, em parte ou parcialmente, a cognição judicial sobre o conflito de interesses (MARINONI ET. AL., 2017, P. 21).
Jurisdição contenciosa, para Câmara (2017, p. 41), pode ser assim definida:
Já a assim chamada jurisdição contenciosa é, na verdade, a “jurisdição não voluntária”. O que se quer dizer com isso é que, qualquer outra que seja a pretensão veiculada, o processo a ser instaurado será contencioso, e não voluntário. Dito de outro modo: formulado qualquer pedido que não seja de mera integração de negócio jurídico, instaurar-se-á um processo de jurisdição contenciosa.
Jurisdição voluntária – particularidades e procedimento
Para Neves (2017, p.97) a jurisdição voluntária não tem nada de voluntária, sendo, em verdade obrigatória para a obtenção do bem da vida pretendido:
Apesar do nome "jurisdição voluntária", a doutrina entende que, ao menos em regra, essa jurisdição nada tem de voluntária. Pelo contrário, o que se nota na maioria das demandas de jurisdição voluntária é a obrigatoriedade, exigindo-se das partes a intervenção do Poder Judiciário para que obtenham o bem da vida pretendido. Na jurisdição voluntária está concentrada a maioria das ações constitutivas necessárias, nas quais, existe uma obrigatoriedade legal de atuação da jurisdição.
[...]
Aquilo que torna obrigatório e exige uma demanda de jurisdição voluntária é fruto de uma opção político-legislativa, como fica claramente demonstrado com a Lei 11.441/2007, que passou a permitir o inventário, partilha, separação e divórcio pela via administrativa, desde que preenchidos os requisitos da lei. Atualmente as partes poderão optar por obter o inventário, partilha, separação e divórcio perante o cartório de registro civil das pessoas naturais ou o Poder Judiciário (art. 610, §§ 1º e 2º e art. 733, §§ 1º e 2°, do Novo CPC). Ainda que se continue a admitir demanda judicial por jurisdição voluntária, nesses casos não são mais ações constitutivas necessárias e, portanto, não há que falar em obrigatoriedade.
Segundo Gonçalves (2017, p. 873) há divergência na doutrina acerca de ser ou não a jurisdição voluntária uma forma de jurisdição:
A questão mais discutida a respeito da jurisdição voluntária é a da sua natureza, pois forte corrente doutrinária nega-lhe a qualidade de jurisdição, atribuindo-lhe a condição de administração pública de interesses privados, cometida ao Poder Judiciário. Pode-se dizer que tem prevalecido, entre nós, a corrente administrativista, que pressupõe que nesse tipo de jurisdição, o juiz não é chamado a solucionar um conflito de interesses.
Nesse sentido, Neves (2017, p. 101) lembra que os processos de jurisdição voluntária podem também envolver uma lide:
[...] parcela da doutrina lembra que a inexistência da lide não é absoluta na jurisdição voluntária, bastando recordar as demandas de interdição, nas quais é possível que o interditando esteja em conflito com o interditado, o que fica evidente na comum controvérsia verificável entre ambos no tocante às razões da interdição (art. 752, Novo CPC). A jurisdição voluntária, portanto, mais do que se afastar da lide, não a utiliza como condição de sua atuação, significando dizer havendo ou não a lide, existirá necessidade de atuação judicial por meio da jurisdição voluntária.
Ainda sobre o assunto, para Câmara (2017, p. 42) se trata sim de jurisdição, conforme suas palavras:
A jurisdição voluntária é verdadeira atividade jurisdicional (jurisdição stricto sensu), devendo o provimento de jurisdição voluntária ser produzido através de um verdadeiro processo, em que sejam respeitadas todas as garantias inerentes ao modelo constitucional do direito processual civil brasileiro. Haverá aí, e este é um aspecto fundamental, um procedimento em contraditório. Mas há diferenças (além das evidentes semelhanças) entre a jurisdição contenciosae a jurisdição voluntária. Pense-se, por exemplo, no fato de que aos processos de jurisdição voluntária aplicam-se as disposições gerais previstas nos arts. 719 a 725, inaplicáveis aos processos de jurisdição contenciosa (entre as quais a autorização genericamente atribuída ao Ministério Público e à Defensoria Pública para provocar a instauração do processo, nos termos do art. 720, além da exigência de que o juiz profira todas as suas decisões, inclusive as sentenças, no prazo de dez dias, conforme estabelece o art. 723, excluído o disposto no art. 226, III).
Parte da controvérsia a respeito de ser ou não a jurisdição voluntária verdadeira atividade jurisdicional está no fato de que nela (jurisdição voluntária) o juiz não substitui a vontade das partes. Nesse sentido, Neves (2017, p. 
Na jurisdição voluntária não há caráter substitutivo considerando-se que o juiz não substitui a vontade das partes pela vontade da lei quando profere sua decisão, tão somente integrando o acordo de vontade entre as partes para que possa gerar seus regulares efeitos jurídicos. Para os administrativistas, a ausência de substituição seria um dos indicativos da natureza administrativa da atividade exercida pelo juiz. Ocorre, porém, [... que] a substitutividade, ainda que possa ser considerada uma característica da jurisdição, não é imprescindível à sua existência, como resta cabalmente demonstrado na execução indireta. A ausência de substitutividade, portanto, não é suficiente para afastar a natureza jurisdicional da atividade desenvolvida pelo juiz.
Para Donizetti (2015, p. 13), comentando o artigo 16 do CPC de 2015 em comparação com o artigo 1º do CPC de 1973, o que se tem com o novo diploma processual é o seguinte: “Resumo da ópera: para a jurisdição, acabou a distinção. Jurisdição é jurisdição. Ponto. O que são contenciosos ou voluntários são os procedimentos”.
No que tange ao procedimento em si, é possível observar que na seção I, entre os artigos 719 a 725, há algumas disposições gerais a serem aplicadas aos processos de jurisdição voluntária. O artigo 719 estabelece que outros procedimentos de jurisdição voluntária, desde que não haja para eles procedimento especial, reger-se-ão pelas disposições gerais aplicáveis aos procedimentos de jurisdição voluntária, artigos 719 a 725.
As disposições gerais atinentes aos procedimentos de jurisdição voluntária previstos no rol do artigo 725, por força de expressa disposição contida em seu parágrafo único também são aplicáveis aos procedimentos previstos nas seções II a XII do Capítulo XV.
Gonçalves (2017, p. 875) informa a existência dessas regras gerais no tocante aos procedimentos de jurisdição voluntária:
O CPC, nos arts. 720 a 724, formula algumas regras gerais de procedimento, relativas à jurisdição voluntária. Elas serão aplicáveis, desde que não haja norma especial em contrário, pois, nos capítulos [seções] subsequentes, há previsão de alguns procedimentos específicos, com peculiaridades que devem ser observadas. Na ausência de tais disposições, prevalecem as regras gerais, que serão examinadas sucintamente.
Especificamente sobre os procedimentos de jurisdição voluntária, Marinoni et. al. (2017, p. 197) alertam:
[...] em se tratando de procedimento dito de jurisdição voluntária, incide o comando do art. 723, parágrafo único, do CPC, a prever que o magistrado não está aqui vinculado à legalidade estrita, podendo adotar a providência que entenda a mais conveniente e oportuna ao caso concreto.
No que toca ao artigo 723, Neves (2017, p. 98) diz que “A doutrina entende que tal dispositivo consagra a possibilidade de o juiz se valer de um juízo de equidade na solução das demandas de jurisdição voluntária, reconhecendo-se a presença de certa discricionariedade do juiz”. Sobre o referido dispositivo, o autor firma sua posição da seguinte forma: 
O dispositivo legal ora analisado é suficientemente claro ao afastar o juízo de legalidade estrita, dando ao juiz discricionariedade para resolver a demanda da forma mais oportuna e conveniente, ainda que contrariamente à lei, sempre observando o que será melhor para as partes e para o bem comum. Isso, entretanto, não significa dizer que tal característica leva à conclusão da natureza administrativa da jurisdição voluntária, porque tanto o juízo de legalidade quanto o de equidade fazem parte da jurisdição, conforme expressa previsão do art. 140, parágrafo único, do Novo CPC (NEVES, 2017, p. 99).
Para o mesmo autor (2017, p. 100), uma das conclusões da aplicação do artigo 723, dentre outros, é a ausência de aplicação do direito material ao caso concreto, em suas palavras:
Na jurisdição voluntária não há propriamente a aplicação do direito material ao caso concreto para resolver um conflito existente entre as partes, até mesmo porque esse conflito não existe. A sentença proferida pelo juiz apenas integra juridicamente o acordo de vontades das partes homologando-o, autorizando-o ou aprovando-o, o que permite que sejam produzidos os efeitos jurídicos previstos em lei e pretendidos pelas partes. Essa realidade é indiscutível, sendo ponto de contato entre as duas correntes que tentam explicar a natureza jurídica da jurisdição voluntária.
Há quem critique o comando do artigo 723, parágrafo único, do CPC de 2015, ou seja, o fato de o juiz poder decidir de forma discricionária uma causa. Câmara (2017, p. 103-104), por exemplo, é um deles:
[...] O CPC só prevê expressamente a possibilidade de um julgamento que se dê “fora dos limites da legalidade estrita” nos procedimentos de jurisdição voluntária (art. 723, parágrafo único). Em outras leis, porém, há a previsão de outras hipóteses de julgamento por equidade (como se dá, por exemplo, no art. 928 do CC). É, porém, inadmissível que o juiz assim decida. Isto se diz porque julgar “por equidade” implica admitir a possibilidade de o juiz decidir segundo seus próprios critérios de conveniência (como, aliás, consta expressamente do art. 723, parágrafo único, por força do qual incumbiria ao juiz, nos processos de jurisdição voluntária, dar à causa a solução “que considerar mais conveniente ou oportuna”). Daí resultaria, então, um poder de julgar discricionariamente, o que é – como visto em passagem anterior deste trabalho – incompatível com o Estado Constitucional. Deve a decisão, pois, ser sempre proferida com respeito à legalidade (ou, se se preferir, com respeito ao princípio da juridicidade). [...]
Em que pese haja polêmica acerca da redação do artigo 723 quanto à legalidade, é certo, porém, que deve haver imparcialidade do juiz para proferir decisões tanto nos processos contenciosos como nos procedimentos de jurisdição voluntária.
Acerca das despesas processuais, nos processos de jurisdição voluntária, Câmara (2017, p. 72) lembra que elas devem ser adiantadas pelo requerente: “Nos processos de jurisdição voluntária, as despesas deverão ser adiantadas pelo requerente e posteriormente rateadas pelos interessados (art. 88)”. 
Outra particularidade dos procedimentos de jurisdição voluntária é trazida por Gonçalves (2017, p. 875) e diz respeito à legitimidade:
Em regra, o processo origina-se por iniciativa da parte. Mas há procedimentos que podem ser desencadeados pelo Ministério Público (interdição, por exemplo) ou de ofício pelo juiz (abertura e cumprimento de testamento e arrecadação de herança jacente, bens de ausentes ou coisas vagas).
O artigo 720 passa a prever a Defensoria Pública como legitimada para propor demandas judiciais por meio da jurisdição voluntária. Nesse sentido, Donizetti (2015, p. 540) diz o seguinte:
O NCPC passou a dispor expressamente sobre a legitimidade da Defensoria Pública para promover demandas judiciais em procedimentos de jurisdição voluntária em favor dos necessitados.
Esclarece-se que a previsão contida no art. 1.104 faz parte da redação original do CPC/73. Nessa época ainda não existiam defensorias estruturadas para atender a população, razão pela qual o Ministério Público atuava como substituto processual (legitimidade extraordinária) tambémnos casos de jurisdição voluntária.
Gonçalves (2017, p. 875) continua, traçando particularidades da jurisdição voluntária, no que toca à petição inicial e ao valor da causa:
A inicial deve observar os requisitos do art. 319 do CPC e indicar com clareza a pretensão do autor e os fundamentos de fato e direito em que está fundada. O valor da causa é indispensável e deve corresponder ao conteúdo econômico da pretensão. A citação será feita pelos meios comuns, previstos no CPC, e deverá abranger todos os interessados (CPC, art. 721).
Acerca da intervenção do Ministério Público nos feitos de jurisdição voluntária, o artigo 721 esclarece que somente haverá manifestação nos casos relacionados no artigo 178 do Código, ou seja:
Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam:
I - interesse público ou social;
II - interesse de incapaz;
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.
Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público.
Apesar da redação truncada do artigo 721, o prazo para a manifestação do Ministério Público é em dobro, ou seja, 30 dias, sendo de 15 dias o prazo para a manifestação dos interessados.
O Ministério Público, nos termos do artigo 721 terá atuação apenas como custos legis, sendo intimado somente nos casos previstos no artigo 178 do CPC de 2015, ou seja, não intervirá mais em todas as demandas de jurisdição voluntária, sob pena de nulidade, como previa o artigo 1.105 do CPC de 1973. Ademais, o prazo previsto no artigo 721 passa a ser de 15 dias. Sobre essa mudança, Donizetti (2015, p. 540) faz as seguintes observações:
Atuando como custos legis, o Ministério Público somente será intimado a intervir nas causas previstas no novo art. 178. Não há mais, portanto, necessidade de intervenção obrigatória do órgão ministerial em todos os processos de jurisdição voluntária.
Ressalte-se que a nulidade mencionada no CPC/73 só se aplicará nos casos em que, sendo necessária a intervenção do membro do Ministério Público, ele deixar de ser intimado. A sua intimação e posterior ausência de manifestação não são motivos para ensejar nulidade, devendo ser dado prosseguimento ao processo (art. 180, § 1o, NCPC). O NCPC também alterou o prazo para manifestação dos interessados. Ele passará de dez para quinze dias. Os “interessados” mencionados pelo Código “não são aqueles que podem ter interesse jurídico na decisão, mas apenas os titulares da relação jurídica a ser integrada”.
No que diz respeito à participação do Ministério Público e da Fazenda Pública nos processos de jurisdição voluntária, Neves (2017, p. 99) faz elogios ao diploma de 2015:
A opção do legislador deve ser elogiada porque realmente existem demandas de jurisdição voluntária em que a mera presença do juiz já é um exagero, mas, de qualquer forma, suficiente para a regularidade do procedimento. A presença do Ministério Público nessa espécie de demanda é absolutamente desnecessária.
Além da citação de todos os interessados e da intimação do Ministério Público, o art. 722 do Novo CPC determina a intimação da Fazenda Pública sempre que tiver interesse. Como o dispositivo não qualifica a espécie de interesse que proporciona tal intimação, é possível supor que seja algo mais amplo que o interesse jurídico motivaria seu ingresso como assistente.
Nos termos do artigo 215, inciso I, serão processados durantes as férias forenses os procedimentos de jurisdição voluntária. Via de regra, nas comarcas em que haja férias forenses os processos que ali tramitem ficam paralisados em tais períodos, nos termos do artigo 214, caput.
Em relação à resposta do interessado, revelia e reconvenção, Gonçalves (2017, p. 876) diz o seguinte:
O réu interessado será citado para apresentar resposta no prazo de quinze dias (aplicáveis os arts. 180, 183 e 229 do CPC). Não se pode, apropriadamente, denominar a resposta do réu como contestação, uma vez que não há interesses contrapostos. O réu apresentará sua manifestação, na qual poderá impugnar a pretensão inicial, e apresentar a sua versão dos fatos. Nessa resposta, pode arguir qualquer das preliminares do art. 337 do CPC, salvo a convenção de arbitragem, que não é admissível no regime da jurisdição voluntária. O acolhimento das preliminares pode implicar a extinção do processo, sem resolução de mérito. Além das preliminares, o réu pode discutir a pretensão do autor. A falta de resposta implica revelia, mas o seu principal efeito — o de presumir verdadeiros os fatos narrados na inicial — fica atenuado, diante da adoção do princípio que dispensa a observância da legalidade estrita. Não cabe reconvenção, que pressuporia um confronto de interesses, que não existe.
No que toca à instrução e à sentença, Gonçalves (2017, p. 876) traz o seguinte:
O procedimento é concentrado: oferecida a resposta, e ouvido o autor sobre preliminares suscitadas ou documentos novos, o juiz determinará as provas necessárias, de ofício ou a requerimento das partes, podendo designar audiência de instrução e julgamento se necessário. Em seguida, proferirá sentença, na própria audiência ou no prazo de dez dias. A sentença não tem particularidades estruturais, devendo conter relatório, fundamentação e dispositivo. O que pode ser peculiar é o seu conteúdo, já que o juiz não precisa se ater à legalidade estrita, podendo dar ao caso a solução que repute mais conveniente, ainda que não corresponda à previsão legal. Além disso, a sentença não faz coisa julgada material, podendo ser revista a qualquer tempo, desde que se tenham alterado as circunstâncias originárias.
Por fim, Gonçalves (2017, p. 877) afirma que não há particularidades na jurisdição voluntária no que diz respeito aos recursos:
Não há peculiaridades concernentes aos recursos, nos procedimentos de jurisdição voluntária. Contra decisões interlocutórias, poderá caber agravo de instrumento, desde que presentes as hipóteses do art. 1.015 do CPC; contra a sentença, apelação. Qualquer interessado poderá valer-se dos embargos de declaração para suprir omissões, contradições ou obscuridades, ou para corrigir erro material. Também não há especificidades em relação aos demais recursos.
De maneira sucinta, Gonçalves (2017, p. 874) relaciona as particularidades da jurisdição voluntária:
■ não é apropriado falar em “partes”, como nos processos de jurisdição contenciosa, mas em “interessados”, pois conquanto pressuponha uma situação conflituosa, nem sempre exige que os litigantes estejam em confronto. Nem sempre a sentença que favorece um deles prejudica o outro, sendo possível que favoreça a ambos. O termo “interessados” exprime melhor a condição daqueles que vão a juízo, nos processos de jurisdição voluntária;
■ o procedimento, como regra geral, é mais sumário que o dos processos de jurisdição contenciosa;
■ o princípio da demanda é mitigado, pois o juiz pode, em muitos casos, dar início aos processos de ofício, como na abertura e cumprimento de testamentos e arrecadação de herança jacente;
■ não se aplica o critério da legalidade estrita, como estabelece o art. 723, parágrafo único, do CPC: “O juiz não é obrigado a observar o critério da legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna”;
■ as sentenças definitivas não se revestem da autoridade da coisa julgada material, como nos processos de jurisdição contenciosa, e podem ser modificadas se ocorrerem circunstâncias supervenientes que o justifique. A razão é que inexistem interesses contrapostos. Mas as modificações são condicionadas a circunstâncias supervenientes, que alterem o status quo em que a sentença originária foi proferida. Por exemplo: se alguém é interditado e comprova, posteriormente, que não é mais incapaz, poderá postular o levantamento da interdição. Mas, para tanto, é preciso que demonstre que não estão mais presentesas circunstâncias originais.
Sobre a existência ou não de coisa julgada nos procedimentos de jurisdição voluntária, Gonçalves (2017, p. 874-875) destaca as diferenças entre a abordagem do CPC de 1973 e do CPC de 2015::
No CPC de 1973, havia um dispositivo expresso, a respeito da inexistência da coisa julgada material nos procedimentos de jurisdição voluntária (art. 1.111), que não foi repetido no CPC atual. Isso poderia levar à conclusão de que, na nova lei, a coisa julgada material alcançaria até mesmo a jurisdição voluntária. Mas não nos parece que seja assim. Dada a sua natureza, as sentenças proferidas continuam não fazendo coisa julgada material, podendo haver alteração, se novas circunstâncias fáticas sobrevierem. A questão, porém, não é pacífica, havendo forte corrente doutrinária que tem sustentado que, diante da omissão da lei, deve prevalecer a regra geral de que, havendo sentença de mérito, haverá coisa julgada material, mesmo no âmbito da jurisdição voluntária.
Ainda acerca da coisa julgada material, diferente é o entendimento de Neves (2017, p. 103):
A sentença proferida em jurisdição voluntária não pode ser absolutamente instável, revogável ou modificável a qualquer momento e sob qualquer circunstância. Alguma estabilidade ela deve gerar, até mesmo por questão de segurança jurídica. Aparentemente acolhendo a teoria defendida de existência de coisa julgada material nas decisões de mérito da jurisdição voluntária, o Novo CPC não contém a respeito do tema, sendo lícito concluir que se passará a aplicar nessa espécie de jurisdição as mesmas regras de coisa julgada material aplicáveis à jurisdição contenciosa.
No que diz respeito ainda à existência ou não de coisa julgada material, Neves (2017, p. 1466) traz a posição da doutrina sobre outro assunto correlato, qual seja, pela possibilidade ou não de ação rescisória nos procedimentos de jurisdição voluntária:
Existe majoritária corrente doutrinária que inadmite a ação rescisória contra as decisões proferidas em processo cautelar, com ressalva ao previsto no art. 310 do Novo CPC e em processos de jurisdição voluntária, afirmando que nesses casos a inexistência de coisa julgada material afastaria o interesse de agir no ingresso da ação rescisória.
No mesmo sentido, Medina (2016, p. 955), que, sobre a jurisdição voluntária, tece as seguintes considerações:
[...] Pensamos ser possível, de todo modo, afirmar que a atividade realizada nos procedimentos não contenciosos é jurisdicional, mas isso não significa dizer, p.ex., que, por tal razão, há necessariamente coisa julgada em procedimentos de jurisdição voluntária, ou que por ser jurisdicional tal atividade, deva caber ação rescisória contra a sentença em procedimento não contencioso etc. Ora, mesmo em procedimentos de jurisdição contenciosa pode não haver coisa julgada, e nem por isso se poderá afirmar que, no caso não há jurisdição; de igual modo, não cabe ação rescisória contra qualquer decisão proferida em procedimentos de jurisdição contenciosa. Entendemos ser adequado manter-se a tradicional distinção (entre procedimentos contenciosos ou não), ainda que se entenda que há, em ambos, jurisdição. Nos procedimentos de jurisdição voluntária não há lide. Se em procedimento tipificado na lei processual como de jurisdição voluntária houver (ou surgir) lide a ser decidida, notar-se-á aí não haver jurisdição voluntária, mas contenciosa.
Procedimentos de jurisdição voluntária em espécie – apresentação e análise comparativa entre o CPC de 1973 e o CPC de 2015
Na parte que cuida das disposições gerais dos procedimentos de jurisdição voluntária, houveram algumas poucas alterações e também inclusões em relação ao rol de pedidos que a integram, nos termos do artigo 725, em comparação com seu correspondente no CPC de 1973, ou seja, o artigo 1.112 daquele diploma. As alterações ocorreram essencialmente na extinção do usufruto e do fideicomisso, em que o CPC de 2015 não prevê mais procedimento judicial em todos os casos. Sobre o assunto Donizetti (2015, p. 542-543) esclarece:
Extinção de usufruto. Nem sempre para a extinção usufruto será necessário procedimento judicial. O NCPC esclarece que apenas quando não decorrer da morte do usufrutuário ou do termo da sua duração ou consolidação, abre-se a possibilidade de instauração do procedimento. É que nesses casos a extinção do usufruto se dá de pleno direito, não havendo necessidade de intervenção judicial, mas apenas bastando o cancelamento do registro no cartório competente.
A extinção do usufruto por termo de duração ocorre nas hipóteses de usufruto temporário; a extinção pela consolidação se dá quando na mesma pessoa se confundem as qualidades de usufrutuário e nu-proprietário (Exemplo: pai doa imóvel ao seu único filho, com cláusula de reserva de usufruto. Se o pai morre e não há outros sucessores, o filho adquire a propriedade plena).
Extinção de fideicomisso. Do mesmo modo que a extinção do usufruto, só haverá necessidade de instauração do procedimento quanto à extinção do fideicomisso decorrer de renúncia ou quando ocorrer antes do evento que caracteriza a condição resolutória. A modificação se harmoniza com o Código Civil, que prevê a caducidade do fideicomisso quando o fideicomissário morre antes do fiduciário, ou antes de se realizar a condição resolutória do direito deste último (art. 1.958, CC). Caducando o fideicomisso por expressa previsão legal, não há necessidade de intervenção judicial.
Já o acréscimo do rol previsto no artigo 725 é em decorrência das novas previsões de procedimento de jurisdição voluntária para a expedição de alvará judicial e para a homologação de autocomposição judicial. Sobre essas inclusões, Donizetti (2015, p. 543) diz o seguinte:
Alvará judicial. Alvará é a ordem judicial para a realização de determinado ato, como, por exemplo, o levantamento de valores em instituição financeira. A pretensão de simples expedição de alvará judicial integra a jurisdição voluntária. Esse é o entendimento que prevalece na prática forense e que agora está expresso no NCPC.
Homologação de autocomposição extrajudicial. Nos termos do art. 515, III, do NCPC, é título executivo judicial “a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza”. Assim, para que eventual acordo seja capaz de ensejar execução forçada, por meio do cumprimento de sentença, necessária é a sua homologação pelo juiz. Nessa hipótese não se está diante de jurisdição contenciosa, pois há interesse comum das partes em submeter o acordo ao Estado. Acertadamente o NCPC expressou o que já era aplicado da prática.
Sobre a decisão homologatória prevista no inciso VIII do artigo 725, Câmara (2017, p. 286) diz o seguinte:
Há casos em que existe um conflito instaurado entre as partes, mas ainda não há processo judicial entre elas e, não obstante isso, alcançam elas uma solução consensual para seu litígio. Neste caso, é perfeitamente possível que as partes, já de comum acordo, queiram dar ao acordo que celebraram eficácia de título executivo judicial. Para isso, deverão instaurar um processo de jurisdição voluntária (art. 725, VIII), através do qual pedirão ao juízo competente para que homologue a autocomposição que celebraram. Uma vez proferida a sentença homologatória, esta terá eficácia de título executivo judicial (art. 515, III).
Ainda sobre a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial e a consequente formação de título judicial, Neves (2017, p. 1114) diz o seguinte:
Esse título executivo judicial só pode ser formado havendo acordo de vontades entre as partes, distinto daquele que permitiu a produção do documento que se leva ao Poder Judiciário. Uma coisa é concordar em celebrar um acordo extrajudicial outra bem diferente é concordar em tornar esse acordo um título executivo judicial. Como essa espécie de título só pode ser obtida pela atuação judicial, caso as partes concordem com a formação do título executivo judicial serão obrigadas a levar a juízo o acordo celebrado extrajudicialmente. Trata-se de procedimento de jurisdiçãovoluntária, nos termos do art. 725, VIII, do Novo CPC, porque nesse caso as partes pretendem obter um mesmo bem da vida (título executivo judicial) que só pode ser entregue pelo Poder Judiciário.
Do divórcio e da separação consensuais, da extinção consensual de união estável e da alteração do regime de bens do matrimônio
No tocante à seção IV, Do Divórcio e da Separação Consensuais, da Extinção Consensual de União Estável e da Alteração do Regime de Bens do Matrimônio, artigos 731 a 734, tem-se que ocorreram alterações significativas.
No que diz respeito ao artigo 731, em comparação com os artigos 1.120 e 1.121 do CPC de 1973, poucas foram as alterações, restritas apenas a algumas adequações terminológicas, sendo a alteração mais expressiva a previsão da homologação do divórcio ou da separação consensuais, sendo que no CPC de 1973 somente havia previsão para separação consensual. O artigo 732 informa a aplicação da previsão constante no procedimento de jurisdição voluntária atinente ao divórcio e separação consensuais também à dissolução consensual da união estável, o que não encontra correspondente no diploma de 1973.
Acerca dos artigos 733 e 734, este último sem correspondente no CPC de 1973, segundo a OAB Rio Grande do Sul, com comentário de Roberta Marcantonio, (2015, p. 484 e 485):
[...] o artigo 733, na esteira do artigo 1.124-A do CPC/73, incluído pela Lei nº 11.441/07, dispõe que os procedimentos consensuais de separação, divórcio e extinção de união estável poderão ser realizados pela via administrativa, observadas as disposições contidas no artigo 731 e desde que não haja nascituro ou filhos incapazes. O artigo 734, que encerra a seção IV, trata da possibilidade de alteração do regime de bens do casamento, já prevista no parágrafo 2º, artigo 1.639, do Código Civil, a qual poderá ser requerida em consenso pelos cônjuges e de forma justificada, com a ressalva de direitos de terceiros, observando-se o contido nos parágrafos 1º a 3º.
No que diz respeito às ações de família, Neves (2017, p. 1007) destaca a existência de diferenças entre aquelas contenciosas e as de jurisdição voluntária ou não contenciosa:
Conforme corretamente observado pela doutrina, o procedimento especial previsto no Capítulo "Das ações de família" aplica-se tão somente às ações contenciosas, porque sendo caso de jurisdição voluntária o procedimento será aquele estabelecido nos arts. 731 a 734 do Novo CPC”.
Acerca da ação de separação e divórcio, diferenciando os procedimentos de jurisdição contenciosa e voluntária, Gonçalves (2017, p. 811-812) chama a atenção para o seguinte:
O procedimento especial das ações de família, previsto nos arts. 693 e ss. do CPC, aplica-se aos processos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação. Não se aplica aos procedimentos de jurisdição voluntária de divórcio e separação consensuais, extinção consensual de união estável e alteração do regime de bens de patrimônio, que são regulados pelos arts. 731 a 734 do CPC.
Ainda no tocante às ações de família relativas ao procedimento de jurisdição voluntária, Medina (2016, p. 962) diz o seguinte:
Código Civil prevê que a sociedade conjugal termina pela separação judicial ou pelo divórcio – sendo que este também é causa de dissolução do vínculo conjugal. Nos arts. 731 a 733, o CPC/2015 dispõe sobre a forma consensual do divórcio e da separação judicial (sobre a separação e o divórcio litigiosos, cf. disciplina da Lei 6.515/1977). Os cônjuges podem optar por apenas se separarem, ou se divorciarem. A EC 66/2010, que alterou a redação do § 6.º do art. 226 da CF/1988, não extinguiu a figura da separação consensual. Resta apenas eliminada a prévia separação como requisito para o divórcio, nos casos em que isso era previsto na lei. Temos sustentado essa opinião em outros escritos (cf. Constituição Federal comentada cit., comentário ao art. 226 da CF/1988; Código Civil comentado cit., escrito em coautoria com Fábio Caldas de Araújo, comentário aos arts. 1.571 e ss. do CC/2002); mas há, na doutrina, entendimento em sentido diverso (cf., dentre outros, Maria Berenice Dias, Manual de direito das famílias, 7. ed., p. 628-629). O art. 18 da LINDB, na redação da Lei 12.874/2013, também se refere à figura da separação judicial, após a referida emenda constitucional. Cf. também Enunciado 514 das Jornadas CJF [...]
Explicando o procedimento de separação e divórcio consensuais, Neves (2016, p. 1151 a 1153) expõe o seguinte:
Uma vez sendo necessária a intervenção judicial (art. 733 do Novo CPC), ou sendo essa a opção das partes, elas deverão apresentar ao juiz uma mesma petição inicial, que contenha a assinatura de ambos os cônjuges. Essa exigência, contida no art. 731, caput, do Novo CPC, cria um requisito formal específico dessa petição inicial, considerando-se que não basta a assinatura isolada do advogado, ainda que tenha a procuração de ambos os cônjuges, sendo indispensável para a comprovação cabal de concordância de ambos com a separação ou o divórcio, que assinem em conjunto com o advogado a petição inicial. Não existe mais a exigência que havia no art. 1.120, § 2o, do CPC/1973 de que as assinaturas, quando não realizadas na presença do juiz, sejam autenticadas.
[...]
Nos termos do art. 320 do Novo CPC, a petição inicial será instruída pelos documentos indispensáveis à propositura da ação, sendo que no divórcio e separação judicial consensuais, esses documentos são a certidão de casamento e o contrato antenupcial, desde que existente, ainda que não exista previsão expressa nesse sentido, como ocorria no art. 1.121, caput, do CPC/1973.
[...]
Os incisos do art. 732, do Novo CPC preveem requisitos formais que devem ser preenchidos na petição inicial, sendo interessante destacar que o motivo da separação o divórcio é irrelevante, não precisando constar da peça.
No art. 732, I, do Novo CPC, está previsto que devem constar da petição inicial as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns, mas esse requisito não é indispensável, considerando-se que o art. 731, parágrafo único, do Novo CPC prevê expressamente que a partilha poderá ser realizada depois da separação judicial, por meio de ação autônoma. Nesse caso, entendo dispensável inclusive a indicação dos bens na petição inicial, apenas devendo constar a informação de que a partilha ocorrerá posteriormente, ainda que a doutrina majoritária entenda ser sempre indispensável a descrição dos bens do casal, mesmo sem a partilha. A partilha nesse caso pode ser procedida nos mesmos autos, seguindo-se assim a regra do inventário.
Segundo o art. 732, II, do Novo CPC, devem constar da petição inicial as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges. Cumpre lembrar que existe entendimento de que o direito a alimentos é irrenunciável, de forma que mesmo o cônjuge que abre mão dos alimentos na separação consensual, ou simplesmente a eles não se refere, poderá se valer posteriormente de ação autônoma para pleiteá-los (Súmula 379/STF). Registre-se corrente doutrinária contrária a esse entendimento, exigindo-se do cônjuge que não foi beneficiado com os alimentos a prova de sua inocência e pobreza, por meio de ação autônoma pelo rito comum. O Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de afirmar que somente os alimentos em razão do parentesco (iure sanguinis) são irrenunciáveis (STJ, 4a Turma, REsp 578.511/SP, rei. Min. Jorge Scartezzini, j. 21/10/2004, DJ 18/04/2005, p. 340).
Deve ainda constar da petição inicial o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas. Entende-se por regime de visitas a forma pela qual os cônjuges ajustam a permanência dos filhos em companhia daquele que não ficar com sua guarda, sendo esse tema mais afeito ao direito material que processual. O art. 1.584, caput, do CC, prevê que sendo decretada a separação judicial - leia-se também divórcio judicial - e não havendo acordo entre as partes, a guarda será determinada a quem revelar melhores condições paraexercê-la, significando o cônjuge que melhor atender aos interesses da criança (Enunciado 102 do CEJ). Registre-se que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a guarda compartilhada pode ser imposta às partes quando não houver consenso sobre o tema (STJ, 3a Turma, REsp 1.251.000/MG, rei. Min. Nancy Andrighi, j. 23/08/2011, DJe 31/08/2011).
Por fim, deve constar da petição inicial o valor da contribuição para criar e educar os filhos. Nos termos do art. 1.703 do CC, cada cônjuge separado judicialmente contribuirá na manutenção dos filhos na proporção de seus recursos, sendo admissível que somente um deles arque com a totalidade do encargo.
[...]
Mesmo não havendo regra expressa nesse sentido, como havia no art. 1.124 do CPC/1973, não resta dúvida de que acolhido o pedido de divórcio ou separação consensual, o juiz decidirá por sentença que, transitada em julgado, permitirá a sua averbação no registro civil e, havendo partilha de bens, caberá o registro no Cartório de Imóveis da circunscrição onde se localizem os bens.
Sempre que a esperança vencer a experiência, os cônjuges separados poderão se reconciliar, restabelecendo a sociedade conjugal. Para tanto, não é necessária a propositura de ação judicial autônoma, bastando pedir o desarquivamento do processo de divórcio e noticiar o juízo da intenção de restabelecer a sociedade conjugal, o que poderá inclusive ser feito por meio de escrita pública, ainda que o divórcio tenha sido judicial (Resolução 35/CNJ, art. 48, referindo-se à separação).
No que diz respeito à aplicação do procedimento para a extinção da União Estável, conforme prevê o artigo 732 do CPC de 2015, Neves (2016, p. 1153) diz o seguinte:
O art. 732 do Novo CPC prevê que as disposições relacionadas ao processo de homologação judicial de divórcio ou de separação consensuais aplicam-se, naquilo que couber, ao processo de pedido de extinção consensual de união estável. Compreende-se, dessa forma, que há uma regra base prevista no art. 731 do Novo CPC quanto aos requisitos formais do pedido de separação, divórcio e extinção de união estável consensuais, com as adaptações necessárias a cada hipótese conforme as singularidades do caso concreto.
Acerca da previsão de procedimento extrajudicial para a separação e divórcio consensuais, Neves (2016, p. 1153) comenta:
A ação de divórcio, separação e extinção da união estável consensuais não é mais uma ação constitutiva necessária, sendo admitido que os cônjuges obtenham os efeitos jurídicos da separação independentemente de intervenção do Poder Judiciário. Nos termos do art. 733, caput, do Novo CPC, desde que preenchidos determinados requisitos os cônjuges ou companheiros poderão realizar o divórcio, separação ou extinção da união estável por meio de escritura pública.
Registre-se que o procedimento pela via administrativa - escritura pública - não é obrigatório, de maneira que, mesmo presentes todos os requisitos, será cabível a ação judicial se essa for a vontade dos cônjuges ou companheiros, sendo essa a conclusão consagrada no art. 2° da Resolução n° 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A respeito da gratuidade da separação e do divórcio extrajudiciais, Neves (2016, p. 1154 e 1155) diz o seguinte:
O art. 1.124-A, § 3o, do CPC/1973 previa que a escritura e demais atos notariais seriam gratuitos àqueles que se declarassem pobres sob as penas da lei. A regra foi excepcionalmente suprimida do Novo Código de Processo Civil. A situação fica ainda mais crítica porque os arts. 8° e 9o da Resolução 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que versam sobre o tema, faz expressa menção à Lei 11.441/2007, que incluiu no CPC/1973 o art. 1.124-A, agora revogado pelo Novo Código de Processo Civil. E tudo fica ainda pior porque o art. 5o, LXXXVI, da CF assegura como gratuito para os reconhecidamente pobres apenas os serviços registrais relativos ao registro civil de nascimento e à certidão de óbito, enquanto o art. 30 da Lei 6.015/1973, alterado pela Lei 9.534/1997, e o art. 8° da Lei 10.169/2000 garantem gratuidade apenas para os serviços registrais, mas não para os notariais.
[...]
O legislador, portanto, com sua desatenção ou má interpretação das hipóteses de gratuidade já consagradas no texto legal criou o cenário legal perfeito para as serventias extrajudiciais se negarem a realizar o divórcio, separação e extinção da união estável consensuais de forma gratuita aos comprovadamente pobres.
No que toca à possibilidade de alteração do regime de bens, novidade trazida pelo CPC de 2015, em seu artigo 734, Neves (2016, p. 1156) traz os seguintes comentários:
O art. 1.639, § 2o, do CC, admite a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. A alteração é admitida inclusive aos casamentos celebrados antes da vigência do CC/2002, que continuam a ser regulados pelo CC/1916 (art. 2.039, CC/2002), já que a irrevogabilidade prevista no art. 230 do CC/1916 não se confunde com imutabilidade. O art. 734 do Novo CPC regulamente o procedimento da alteração do regime dos bens do casamento.
Cabe aos interessados na alteração do regime de bens do casamento provocar o juízo por meio de petição inicial assinada por ambos os cônjuges, expondo as razões que justificam a alteração. Segundo o Superior Tribunal de justiça não se exige dos cônjuges a explanação de justificativas exageradas ou provas concretas do prejuízo da manutenção do regime de bens originário porque tal exigência invadiria indevidamente a intimidade e a vida privada dos consortes (STJ, 3a Turma, REsp 1.300.036/MT, rei. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 13/05/2014, DJe 20/05/2014).
O Ministério Público terá participação obrigatória no processo cie alteração do regime de bens do casamento, devendo ser intimado após o recebimento da petição inicial. Como a alteração não pode prejudicar direitos de terceiros, a participação do Ministério Público busca evitar que a alteração motivada por conluio dos cônjuges para prejudicar terceiros seja homologada pelo juízo.
Da interdição – curador especial e curador do intérdito
No tocante à seção IX, Da Interdição, artigos 747 a 758, várias foram as alterações e incrementos em relação ao CPC de 1973, artigos 1.177 a 1.186, tendo sido revogados ainda vários dispositivos do Código Civil que tratavam do tema. Sobe o processo de interdição, Neves (2016, p. 1177) diz o seguinte: 
A interdição se desenvolve por meio de um processo de natureza constitutiva, considerando-se que a decretação da interdição, além de declarar a incapacidade do interditando, cria uma nova situação jurídica. Não se admite a interdição incidental em outro processo em trâmite, sendo indispensável a existência de um processo especificamente voltado à decretação da interdição. Trata-se de processo necessário porque a interdição não pode ser obtida de outra forma que não por meio de sentença judicial.
No que diz respeito à legitimação ativa, ao lado dos parentes, do cônjuge e do Ministério Público figuram agora o companheiro e o representante da entidade que abriga o interditando.
O rol dos legitimados para propor ação de interdição está descrito no CPC. 
Art. 747. A interdição pode ser promovida:
I — pelo cônjuge ou companheiro;
II — pelos parentes ou tutores;
III — pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando;
IV — pelo Ministério Público.
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial.
OBS.: o ROL de legitimados para a ação de interdição é TAXATIVO.
Essa ordem de legitimados do art. 747 do CPC/2015 é preferencial? Em outras palavras, para que alguém do inciso II ajuíze a ação, é necessário que não haja ninguém do inciso I e assim por diante? NÃO. A ordem de legitimados para o ajuizamento de ação de interdição NÃO é preferencial. A enumeração dos legitimados pelo CPC é taxativa, mas não é preferencial. Trata-se de legitimação concorrente,não sendo a propositura da ação prerrogativa de uma única pessoa. Mais de um legitimado pode requerer a curatela, formando-se um litisconsórcio ativo facultativo. Assim, ambos os pais, ou mesmo mais de um parente, podem propor a ação, cabendo ao juiz escolher, em momento oportuno, quem vai exercer o encargo. Note-se, ainda, que a redação do artigo utiliza o verbo "poder", em vez de "dever", evidenciando, portanto, a ideia de mera faculdade, e não obrigação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.346.013-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/10/2015 (Info 571).
Sobre o assunto comenta Donizetti (2015, p. 559):
Insere-se novo legitimado para ajuizamento da ação de interdição, qual seja o representante da entidade na qual se encontra o abrigado. A hipótese reconhece uma relação de cuidado e autoridade no plano processual, ampliando a aplicação da curatela. Desta forma, além dos familiares, são também legítimas para a ação de interdição as entidades que acolhem pessoas que possuam alguma incapacidade.
Ressalte-se que o termo “parentes” abarca todos aqueles que decorram de outra origem que não a sanguínea, como os parentes por adoção e os socioafetivos, nos termos do art. 1.593 do CC/02.
Dentre os documentos indispensáveis à propositura da ação está a prova da existência do vínculo que lastreia a legitimidade para a interdição (certidão de casamento ou instrumento público declaratório de união estável, certidão de nascimento do requerente e do interditando para comprovação de parentesco, comprovação da entrada do interditando na entidade de abrigo etc.).
Ressalte-se que o art. 1.768 do Código Civil (trata da legitimação para a promoção da curatela) será revogado pelo NCPC (art. 1.072, II).
No que toca à legitimação, Neves (2016, p. 1177) faz os seguintes e pertinentes comentários:
O art. 747 do Novo CPC prevê a legitimidade ativa do processo de interdição. Ainda que parcela da doutrina entenda tratar-se de legitimação ordinária, não se deve desprezar a hipótese de legitimidade híbrida, porque se a interdição é voltada a tutelar os interesses do interditado, ao promover a ação qualquer dos legitimados ativos não estarão tutelando apenas interesse próprio, mas também interesse de outrem, no caso, do interditado.
Trata se de legitimação concorrente porque existe mais de um legitimado à propositura da ação, não existindo qualquer espécie de preferência entre eles. E é disjuntiva, já que a presença de qualquer um deles no polo ativo já satisfaz a exigência da legitimidade, sendo, portanto, sempre facultativo o litisconsórcio formado no polo ativo por mais de um legitimado.
Importante atentar que o parágrafo único do artigo 747 do CPC de 2015 determina que “A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial”, de forma que se trata de documento indispensável à propositura da ação, nos termos do art. 320 do Novo CPC.
Apesar de também figurar como legitimado, o Ministério Público tem papel residual para propor a interdição, nos termos do artigo 748.
Art. 748. O Ministério Público só promoverá interdição em caso de doença mental grave:
I - se as pessoas designadas nos incisos I, II e III do art. 747 não existirem ou não promoverem a interdição;
II - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas nos incisos I e II do art. 747.
As disposições são semelhantes àquelas verificada no artigo 1.178 do antigo CPC, mas com um aprimoramento técnico da redação. Sobre o assunto, Donizetti (2015, p. 560) faz os seguintes comentários:
O Ministério Público só promoverá a interdição no caso de doença mental grave – termo mais apropriado que “anomalia psíquica” e que já estava referido na lei material – e quando inexistirem outros legitimados ou estes forem incapazes. Os requisitos (doença mental, omissão ou incapacidade) são cumulativos.
Ressalte-se que o art. 1.769 do Código Civil (trata do papel do MP na promoção da interdição) será revogado pelo NCPC (art. 1.072, II).
Quando o inciso II do art. 747 do CPC/2015 fala em "parente", abrange também os parentes por afinidade? SIM. Qualquer pessoa que se enquadre no conceito de parente do Código Civil é parte legítima para propor ação de interdição. Assim, a interdição pode ser requerida por quem a lei reconhece como parente: ascendentes e descendentes de qualquer grau (art. 1.591 do CC) e parentes em linha colateral até o quarto grau (art. 1.592 do CC). Como afinidade gera relação de parentesco (art. 1.595), nada impede que os afins requeiram a interdição e exerçam a curatela. STJ. 3ª Turma. REsp 1.346.013-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/10/2015 (Info 571).
Incumbe ao autor, na petição inicial, especificar os fatos que demonstram a incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade se revelou. O requerente deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas alegações ou informar a impossibilidade de fazê-lo.
O artigo 750 traz algo não previsto no diploma processual anterior, que é a obrigatoriedade de apresentação de laudo médico ou a justificação sobre a impossibilidade de apresenta-lo. Sem essa providência resta prejudicada a possibilidade de propositura da ação.
Justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando para a prática de determinados atos. O curador provisório agora ganha previsão expressa no parágrafo único do artigo 749, sendo que, de qualquer forma, segundo Donizetti (2015, p. 561) “A nomeação de curador provisório já era possível na vigência do CPC/73, com fulcro no poder geral de cautela”.
O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o entrevistará minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas. Não podendo o interditando deslocar-se, o juiz o ouvirá no local onde estiver. A entrevista poderá ser acompanhada por especialista. Durante a entrevista, é assegurado o emprego de recursos tecnológicos capazes de permitir ou de auxiliar o interditando a expressar suas vontades e preferências e a responder às perguntas formuladas. A critério do juiz, poderá ser requisitada a oitiva de parentes e de pessoas próximas.
Houve uma adequação terminológica e uma certa humanização também no que diz respeito à redação do artigo 751 do CPC de 2015 em comparação com o que dispunha o artigo 1.181 do CPC de 1973. Agora se fala em entrevista com o interditando e não mais em interrogatório. Além disso foi feita a previsão de o magistrado se deslocar até o local do interditando, em caso de impossibilidade deste o fazer, conforme § 1º do mesmo artigo 751. A respeito das alterações no artigo 751, comente Donizetti (2015, p. 562):
Entrevista do interditando. O juiz, no procedimento de interdição, não interroga o interditando, mas sim o entrevista. A adequação terminológica demonstra que a “oitiva” do interditando não pode se revestir de tantas formalidades. É necessário que se busque uma personalização do processo de interdição, de modo a afastar a ótica mecanicista adotada pela maioria dos julgadores.
O dispositivo ainda amplia os poderes instrutórios do juiz, trazendo a possibilidade de intimação de especialista para acompanhar o interrogatório do interditando (§ 2o); de utilização de recursos tecnológicos que auxiliam aquele na expressão de sua vontade (§ 3o); e de oitiva de parentes e pessoas próximas (§ 4o). Em síntese, as disposições permitem o alcance da verdade real no processo, de modo a evitar a interdição de pessoas que ainda sejam capazes de exprimir sua vontade.
Sobre a entrevista do interditando, Neves (2016, p. 1182) acrescenta que há possibilidade de dispensa da entrevista no procedimento de interdição nos casos em que sua ocorrência não é possível, conforme suas palavras:
Apesar de reconhecera importância desse contato pessoal do juiz por meio do interrogatório do interditando, há doutrina que defende que a ausência desse ato processual não gera nulidade do procedimento se a perícia fornecer dados precisos sobre a condição do interditando. Acredito que a dispensa só deve ser admitida em casos de impossibilidade material de realização da entrevista, como no caso de o interditando estar em coma.
O interditando tem o direito de provar que pode gerir a sua própria vida, administrar seus bens e exercer sua profissão. Justamente por isso, o CPC prevê que o interditando poderá impugnar o pedido de interdição, apresentando uma espécie de defesa (art. 752). Essa impugnação deverá ser protocolada dentro do prazo de 15 dias contados da entrevista (antigamente chamada de “audiência de interrogatório”).
Nulidade do processo de interdição pela não realização do interrogatório (entrevista)
O juiz poderá dispensar o interrogatório do interditando (atualmente chamado de “entrevista”) argumentando que este é desnecessário diante das conclusões do laudo médico? NÃO. A ausência de realização do interrogatório do interditando (atual “entrevista”) acarreta a nulidade do processo de interdição. O interrogatório (entrevista) do interditando é medida que garante o contraditório e a ampla defesa de pessoa que se encontra em presumido estado de vulnerabilidade. STJ. 3ª Turma. REsp 1.686.161-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/9/2017 (Info 611).
Com o artigo 752, o prazo para a impugnação do pedido passa de 5 (cinco) dias para 15 (quinze) dias. Dentro do prazo de 15 dias contado da entrevista, o interditando poderá impugnar o pedido. Segundo o CPC/2015, o interditando poderá constituir advogado, e, caso não o faça, deverá ser nomeado curador especial (art. 752, § 2º). Caso o interditando não constitua advogado, o seu cônjuge, companheiro ou qualquer parente sucessível poderá intervir como assistente (§ 3º).
Curador Especial no CPC de 2015:
Segundo o CPC 2015, o interditando poderá constituir advogado para defendê-lo no processo, e somente se ele não apresentar advogado é que o juiz irá nomear um curador especial (art. 752, § 2º):
O papel de curador especial será exercido pela Defensoria Pública (art. 72, parágrafo único, do CPC/2015; art. 4º, XVI, da LC 80/94).
Importante!!: a atuação da Defensoria Pública como curadora especial não exige que o réu seja hipossuficiente economicamente. Nesses casos do art. 72 do CPC 2015, entende-se que o réu ostenta hipossuficiência jurídica, sendo, portanto, necessária a atuação da Defensoria Pública.
A polêmica a respeito da necessidade ou não de curador especial em caso de ação não proposta pelo MP ainda persiste?
NÃO. Com o CPC/2015, não importa, para fins de curador especial, se a ação foi proposta ou não pelo MP. Se o interditando não apresentar advogado, o juiz deverá, obrigatoriamente, nomear curador especial mesmo que o autor da ação não tenha sido o MP e mesmo que o Promotor de Justiça esteja atuando nos autos como fiscal da ordem jurídica.
Estão previstas no art. 72 do CPC. São quatro situações:
a) Quando o réu for incapaz e não tiver representante legal;
b) Quando o réu for incapaz e tiver representante legal, mas os interesses deste (representante) colidirem com os interesses daquele (incapaz);
c) Quando o réu estiver preso;
d) Quando o réu tiver sido citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado
Quais são os poderes do curador especial? O que ele faz no processo?
O curador especial exerce um múnus público. Sua função é a de defender o réu em juízo naquele processo. Possui os mesmos poderes processuais que uma “parte”, podendo oferecer as diversas defesas (contestação, exceção, impugnação etc.), produzir provas e interpor recursos.
Obviamente, o curador especial não pode dispor do direito do réu (não pode, por exemplo, reconhecer a procedência do pedido), sendo nulo qualquer ato nesse sentido.
OBS: não confundir o curador do interditando, que é nomeado ao final, caso a ação seja julgada procedente (art. 755, I, do CPC/2015), com o curador especial, que é designado logo no início da ação e unicamente para resguardar os interesses processuais do interditando. Apesar de o nome ser parecido, são figuras completamente diferentes. O curador à lide é um instituto processual, que só existe enquanto perdurar o processo. O curador do interditando é uma figura de direito material, que vai surgir caso a ação de interdição seja julgada procedente.
Necessidade de nomear curador especial ao interditando mesmo que o MP esteja atuando como fiscal da ordem jurídica
Surgiram, na época do CPC de 1973, duas correntes no STJ: 1ª corrente: NÃO. Não seria necessária a nomeação de curador à lide porque o próprio MP já iria ser o responsável pela defesa dos interesses do interditando. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/12/2014 (Info 553). 2ª corrente: SIM. A participação do MP como custos legis não supre a ausência de nomeação de curador à lide. Mesmo a ação tendo sido proposta por outro legitimado, seria necessária a nomeação de curador à lide. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.686.161-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/9/2017 (Info 611). Com o CPC/2015, não importa, para fins de curador especial, se a ação foi proposta ou não pelo MP. Se o interditando não apresentar advogado, o juiz deverá, obrigatoriamente, nomear curador especial mesmo que o autor da ação não tenha sido o MP e mesmo que o Promotor de Justiça esteja atuando nos autos como fiscal da ordem jurídica.
Também a participação do Ministério Público que, não sendo autor da ação, funcionará no processo como fiscal da ordem jurídica, conforme diz o § 1º do artigo 752. A respeito do assunto Neves (2016, p. 1179-1183):
Não sendo autor do processo de interdição o Ministério Público participará do processo como fiscal da ordem jurídica, nos termos do art. 752, § 1º, do Novo CPC.
[...]
Em dispositivo um tanto quanto deslocado, o § 1º do art. 753 do Novo CPC prevê que o Ministério Público deve participar do processo de interdição como fiscal da ordem jurídica. Trata-se de intervenção obrigatória, não podendo o promotor de justiça se recusar a participar, sendo somente dispensada tal participação quando o Ministério Público for o autor da ação.
[...]
O art. 752 do Novo CPC prevê a possível reação do interditando após a realização de sua entrevista, prevendo o caput do dispositivo legal que o interditando terá um prazo de 15 dias contados da audiência para impugnar (contestar) o pedido. Há doutrina que defende o caráter impróprio do prazo legal de 15 dias, admitindo-se a defesa mesmo após o vencimento do prazo, devido à gravidade decorrente da decretação de interdição. Já decidiu o Superior Tribunal de Justiça que o juízo de equidade previsto no art. 723, parágrafo único, do Novo CPC não permite ao juiz diminuir ou suprimir o prazo de defesa do interditando, ainda que estranhamente entenda tal conduta mais oportuna ou conveniente (STJ, 3a Turma, REsp 623.047/RJ, rei. Min. Nancy Andrighi, j. 14/12/2004, DJ 07/03/2005, p. 250). A ampliação do prazo decorre do poder do juiz previsto no art. 139, VI, do Novo CPC.
Ainda sobre o artigo 752, Donizetti (2015, p. 562 e 563) acrescenta:
Representação do interditando. Caso não constitua advogado, o interditando poderá ser representado por curador especial (§ 2o), assim como poderá o cônjuge, companheiro ou qualquer parte sucessível intervir como assistente (§ 3o). Da leitura de ambos os dispositivos, percebe-se que não há mais possibilidade de o cônjuge, o companheiro ou os parentes constituir advogado em nome do interditando.
Em síntese, somente se o interditando não constituir advogado é que lhe será nomeado curador especial. Essa função será exercida pela Defensoria Pública, nos termos do art. 4o, XVI, da Lei Complementar no 80/94. Frise-se que tal atuação não exige que o réu seja hipossuficiente economicamente, bastando que ostente hipossuficiênciajurídica. Anote-se que sobre a constituição de mandatário pelo interditando, há posicionamento do STJ no sentido de relativizar a regra contida no art. 682, II, do CC/02. Segundo a Corte, o referido dispositivo, que prevê a cessação do mandato pela interdição de uma das partes, deve ser interpretado conjuntamente com o art. 752, § 2o, NCPC nas hipóteses em que mandato for outorgado pelo próprio interditando para a sua defesa na respectiva ação de interdição (nesse caso não haveria revogação do mandato).
Sobre essa questão da eficácia da sentença e do mandatário, Neves (2016, p. 1187) diz o seguinte:
A sentença produz efeitos desde o momento de sua prolação, já que o art. 1.012, § 1º, VI, do Novo CPC retira da apelação contra essa sentença o efeito suspensivo. Há, entretanto, uma exceção a essa eficácia imediata da sentença de interdição. Segundo o art. 682, II, do CC, é causa de extinção do mandato a interdição do mandante, mas essa regra não se aplica ao mandato judicial outorgado pelo interditado para advogado na defesa de seus interesses no processo de interdição. Entendimento em sentido contrário impediria o advogado de apelar da sentença, em nítido prejuízo ao interditado (STJ, 3a Turma, REsp 1.251.728/PB, j. 14/05/2013, DJe 23/05/2013).
No que diz respeito da ausência de constituição de advogado pelo interditando, Neves (2016, p. 1183) diz o seguinte:
Não sendo constituído advogado pelo interditando e sendo a ele designado curador especial, o seu cônjuge, companheiro ou qualquer parente sucessível (art. 1.829 do CC) poderá intervir como assistente do interditando. Nesse caso o interesse jurídico decorre de presunção legal absoluta, de forma que o simples fato de o terceiro provar que é cônjuge, companheiro ou parente sucessível do interditando que terá direito de ingressar como assistente. Trata-se de assistência litisconsorcial, criando-se entre o terceiro que ingressa no processo nos termos do § 3o do art. 752 do Novo CPC e o interditando um litisconsórcio unitário.
Sobre o artigo 753, tem-se que houve um aprimoramento nas técnicas para a realização de prova pericial A respeito do assunto, comenta Donizetti (2015, p. 564):
Verifica-se um aprimoramento nas técnicas de realização da prova pericial. O NCPC exige a composição de profissionais com formação multidisciplinar para realização da prova pericial, assim como exige que o laudo apresente, quando possível, os limites específicos da necessidade de curatela.
[...]
Por fim, salienta-se que o art. 1.771 do Código Civil (fala da oitiva da equipe multidisciplinar) será revogado pelo NCPC (art. 1.072, II).
Acerca do artigo 753, Neves (2016, p. 1184) acrescenta:
Segundo o art. 753, caput, do Novo CPC, transcorrido o prazo de defesa, caberá ao juiz nomear perito que proceda ao exame do interditando, que seguirá as regras procedimentais da perícia (arts. 464 a 480 do Novo CPC). O § 1º do dispositivo ora comentado, que aparentemente prevê uma especialidade da perícia ao prever a possibilidade de ela ser realizada por equipe composta por expertos com formação multidisciplinar não chega a tornar tal perícia diferente das demais. O mesmo se pode dizer do previsto no § 2o ao exigir do perito a indicação de forma específica dos atos para os quais haverá necessidade de curatela, quando houver incapacidade parcial do interditado. Afinal, constatar a eventual incapacidade, total ou parcial, do interditando, é justamente o objetivo da perícia.
Como se pode notar do dispositivo legal, excepcionalmente na interdição a realização da perícia afasta-se do princípio do livre convencimento motivado do juiz, não sendo uma mera opção do julgador a realização da prova técnica, mas sim uma exigência da lei. Há, entretanto, corrente doutrinária que defende a aplicação do art. 472 do Novo CPC, podendo o juiz, diante de manifesta incapacidade do interditando em razão das provas já produzidas no processo, dispensar a realização da perícia.
Os artigos 754 e 755 do CPC de 2015 falam da sentença. Como novidade, há previsão expressa para consideração das características pessoais do interdito na sentença que decreta a interdição e, também, os interesses do interdito e dos incapazes sob sua responsabilidade, no que diz respeito à curatela do interdito. Acerca do artigo 754, comenta Neves (2016, p. 1184):
Nos termos do art. 754 do Novo CPC, após a apresentação do laudo pericial, produzidas as demais provas e ouvidos os interessados, o juiz proferirá sentença. Não vejo nesse momento procedimental espaço para “demais provas”, considerando-se que o laudo pericial é a única prova capaz de comprovar a incapacidade do interditando. A oitiva dos interessados se dá por meio de intimação para que se manifestem a respeito do laudo pericial, garantindo-se assim o respeito ao princípio do contraditório.
Acerca do artigo 755, comenta Donizetti (2015, p. 565 e 566):
Curatela dos interditos. As regras contidas nos incisos do art. 755 e nos §§ 1o e 2o evidenciam a finalidade da curatela no que concerne à proteção dos interesses do interdito. A curatela constitui um poder assistencial ao incapaz maior, completando-lhe ou substituindo-lhe à vontade em determinados atos. É necessário, portanto, que essa vontade se dirija em benefício do interdito.
Publicação da sentença de interdição. A publicação da interdição é essencial para que produza efeitos erga omnes, sendo que adquirirá maior publicidade ao ser publicada no sítio do tribunal na rede mundial de computadores e na plataforma de editais de citação e intimação do CNJ. Caso parcial a interdição, a publicação deverá especificar quais atos o interdito poderá realizar autonomamente.
A sentença de interdição continua a produzir efeitos ex nunc, o que já era possível de extrair da redação do art. 1.773 do Código Civil. Não obstante a inexistência de efeito retroativo, os atos anteriormente praticados pelo interdito poderão ser anulados por ação própria.
Ressalte-se que os arts. 1.772 e 1.773 do Código Civil serão revogados pelo NCPC (art. 1.072, II).
No tocante ainda aos efeitos da sentença, é de se destacar seu caráter constitutivo e não declaratório e seu efeito ex nunc. Constitutivo no sentido de criar uma nova relação jurídica, qual seja, de sujeição do indivíduo contra quem foi decretada a interdição à curatela. Nesse sentido, Neves (2016, p. 1187):
Como já mencionado anteriormente, a sentença da interdição é constitutiva (STJ, 3a Turma, REsp 1.251.728/PE, j. 14/05/2013), ainda que o Superior Tribunal de Justiça já tendo entendido, equivocadamente, por sua natureza declaratória, afirmando que a sentença não cria a doença, apenas declara uma situação já pré-existente (STJ, 4a Turma, REsp 1.206.805/ PR, j. 21/10/2014, DJe07/l 1/2014). Na realidade, o reconhecimento da incapacidade é apenas o fundamento da sentença de interdição, que em seu dispositivo cria uma nova situação jurídica, qual seja, a sujeição do indivíduo interditado à curatela.
[...]
Tratando-se de sentença constitutiva, seus efeitos são gerados ex nunc, tornando os negócios jurídicos praticados pelo incapaz após sua interdição dependentes da presença da devida representação ou assistência. O Superior Tribunal de Justiça já teve oportunidade de referendar esse entendimento, decidindo que em regra o efeito é ex nunc, salvo quando houver na sentença pronunciamento expresso em sentido contrário (STJ, 5a Turma, REsp 550.615/RS, rei. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 14/11/2206, DJ 04/12/2006, p. 357).
A sentença que determina a interdição:
• declara a incapacidade de exercício de uma pessoa, com efeitos ex nunc (em regra) e
• cria, para o incapaz, situação jurídica nova: a impossibilidade de atuar por si só na vida civil e a consequente necessidade de representação por um curador.
Sobre os efeitos da interdição, no que diz respeito aos atos praticados pelo interdito antes e depois de sua decretação, Neves (2016, p. 1187):
Os atos praticados pelo interditado anteriormente à sua interdição são anuláveis, dependendo de ação própria na qual se prove o estado de incapacidade

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