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DIR. CIVIL (INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO, ATOS ILÍCITOS, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA)

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DIREITO CIVIL
INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
- INTRODUÇÃO
A invalidade é um “vício que retira todo ou parte de seu valor a um ato jurídico, ou o torna ineficaz apenas para certas pessoas”. Ela consiste “no reconhecimento da existência de um vício que impede um ato de ter existência legal, ou de produzir efeito”. Nota-se que a invalidade realmente atinge a eficácia do negócio possibilitando a sua extirpação do mundo jurídico.
- INVALIDADE E INEXISTÊNCIA
A ideia de inexistência é egressa do direito francês e foi criada para solucionar hipóteses inconcebíveis para o casamento, as quais não se encontravam previstas na lei, isto para contornar a máxima de que pás de nullité sans texte – as nulidades do casamento devem constar expressamente na lei.
Para que o ato exista devem se fazer presentes todos os seus elementos constitutivos (vontade, idoneidade do objeto e forma). Ausente qualquer um destes elementos, o negócio é considerado inexistente e, como tal, incapaz de produzir qualquer efeito jurídico.
Entretanto, o ato inexistente pode acarretar efeitos materiais, os quais aparentam verdadeiros efeitos jurídicos. Neste caso, ainda que a inexistência não seja tratada de forma expressa pela lei, justifica-se a propositura de ação com vistas a sua discussão e declaração.
Na invalidade, a produção de efeitos do negócio pode ser nenhuma (nulidade) ou pode ser cessada (anulabilidade). Porém, mesmo tendo a sua eficácia prejudicada, o negócio jurídico inválido existe. A invalidade do negócio ocorre após a sua estruturação, ou seja, para que seja avaliada sua validade primeiramente ele deve existir.
Os negócios inexistentes não produzem qualquer efeito porque não existem e o que não existe é um nada, sem qualquer importância. Os atos inválidos considerados nulos não produzem os efeitos esperados por quem os pratica. Os anuláveis produzem efeitos até serem anulados pelo interessado.
Ora, então poder-se-ia indagar: Qual a diferença entre negócio inexistente e negócio nulo? Bem, primeiramente não se deve confundir plano de existência com plano de validade. No plano de existência a análise é feita no tocante aos pressupostos exigidos para a constituição de um ato, sem preocupação com a sua repercussão no que diz respeito a sua eficácia. No plano da validade, a análise é feita quanto à possibilidade de um ato que já existe gerar os efeitos jurídicos esperados com a sua realização. Os atos inexistentes não produzem efeitos no mundo jurídico. Os atos nulos não produzem efeitos jurídicos esperados com a sua realização, mas podem produzir outros efeitos jurídicos, como no caso de uma venda nula que não transfere propriedade para quem compra, mas lhe vale como justificativa de posse; ou no caso do casamento putativo que emancipa a menor, e, mesmo sendo o ato nulo, a emancipação operada por ele é mantida.
ESPÉCIES DE INVALIDADE
NULIDADE OU NULIDADE ABSOLUTA
Esta espécie de invalidade é considerada fatal ao negócio, haja vista impedir a produção dos efeitos aguardados com a sua realização. Tal privação encontra estribo no fato de que nulidade é verificada em casos onde dá flagrante ofensa à ordem pública e não apenas aos interesses particulares de quem pratica o negócio.
O art. 166, do Código Civil, enumera sete causas de nulidade absoluta, quais sejam:
Incapacidade absoluta do agente: são absolutamente incapazes aquelas pessoas previstas no art. 3º do Código Civil. Tais pessoas são impedidas de praticar pessoalmente atos na vida civil, devendo seus interesses ser geridos por um representante, pessoa responsável pela prática dos atos que envolvam tais interesses. A prática do ato pessoalmente pelo absolutamente incapaz torna o ato nulo, pela falta de um requisito de validade.
Ilicitude, impossibilidade ou indeterminação do objeto: também será nulo o negócio se o objeto não se adequar ao requisito específico de validade. Assim, se o objeto do negócio foi proibido pela legislação, for fisicamente impossível, ou indeterminável, privado de eficácia será o negócio.
Ilicitude do motivo determinante comum a ambas as partes: Se ambas as partes, em conluio, realizam negócio motivas ilicitamente, o ato é nulo.
Desobediência à forma legal: Estipulada pela lei uma forma para que se realize certo negócio, a não observância desta forma acarreta a nulidade do ato.
Preterição de solenidade legalmente essencial à sua validade: Além da forma prevista pela lei, alguns atos também exigem para sua validade o cumprimento de alguma solenidade, sem a qual o ato é nulo. (Ex.: números de testemunhas, portas abertas durante o casamento fora do cartório, etc.).
Objetivo de fraudar lei imperativa: Havendo preceito legal imperativo ou mesmo proibitivo, o negócio feito com objetivo de burlar tais preceitos, para auferir efeitos que não são permitidos em lei com prática do mesmo, acarreta a sua nulidade. É hipótese de fraude à lei que implica verdadeira infração legal.
Taxativa previsão legal de nulidade ou de proibição de realização sem cominação de sanção: Aqui são verificadas as figuras da nulidade expressa, quando a lei se utiliza de expressões do tipo “é nulo”, “será nulo” (Ex.: art. 548 do CC – “É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a substância do doador”.) e da nulidade virtual ou implícita, quando a lei se utiliza de expressões do tipo “não se admite”, “não pode”, “restará sem efeito” (Ex.: art. 380 do CC – “Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exequente a compensação, de que contra o próprio credor disporia”.), casos em que a nulidade do negócio é verificada pela tipificação do texto legal.
Outra causa de nulidade absoluta é o vício social conhecido como SIMULAÇÃO, prevista do art. 167 do Código Civil. Sobre a simulação, é mais conveniente uma abordagem mais detida, haja vista que ela é um vício social que já foi tratado como defeito do negócio capaz de gerar a anulabilidade do ato, sendo hoje tratada como causa de nulidade absoluta do negócio. Assim, está é a abordagem:
SIMULAÇÃO
Conceito: é uma declaração enganosa da vontade, visando produzir efeito diverso do ostensivamente indicado.
A simulação é um fingimento praticado conscientemente e de comum acordo com a outra parte que tem como objetivo prejudicar terceiros ou fraudar a lei.
Exemplo de simulação é a compra e venda de imóvel realizada com declaração de preço inferior ao que realmente foi pago, com objetivo de “fugir” da cobrança do imposto de transmissão.
Requisitos para a caracterização da simulação:
Basicamente são três tais requisitos:
1. Conluio entre as partes: a simulação, em regra, é verificada ao campo dos negócios jurídicos bilaterais, onde há o acordo de vontades para sua realização. Entretanto, ainda que de forma rara, é possível a ocorrência de simulação em negócios unilaterais, exigindo-se para tanto que exista o acordo entre o agente da declaração e o destinatário desta. Ressalte-se que neste caso se está diante de declaração unilateral receptícia, que só gera efeitos após a ciência do destinatário, o qual já deve ter acordado a simulação com o agente. Assim, tanto nos negócios unilaterais como nos bilaterais pode ocorrer simulação entre as partes, ou entre o declarante e o destinatário, isto com intuito de prejudicar terceiro alheio ao negócio.
2. Desconformidade entre a declaração emitida e a verdadeira intenção: O negócio declarado em verdade não corresponde ao que realmente se deseja fazer e é feito assim para encobri-lo. Desta forma é simulada a venda de um bem a certa pessoa para encobrir uma doação que a ela não pode ser feita. Aqui a vontade real é de se doar o bem, mas ante a proibição finge-se uma venda, quando em verdade, não ocorre pagamento de preço.
3. Intenção de ludibriar terceiros ou fraudar a lei: a vítima da simulação não é nenhuma das partes que realizam o negócio, pois em verdade elas, em conluio, praticam o ato com objetivo de prejudicar a outrem ou mesmofraudar a própria lei. Ressalte-se que a simulação visa fraudar lei não se confunde com fraude a lei imperativa. Esta é causa de nulidade absoluta onde não é fingido, o ato declarado realmente é praticado só que com intuito de burlar o imperativo legal, como no exemplo, onde alguém que possua herdeiros, para burlar a proibição de doar mais da metade de seu patrimônio, doa metade, depois doa a metade da metade que restou da primeira doação, e assim sucessivamente. Ora neste caso ele sempre respeitou a proibição legal, pois nunca doou mais da metade, pois todos os atos praticados não atingiam mais da metade do que ele possuía no momento do negócio, porém, tais atos ferem o princípio que visa garantir a não dilapidação patrimonial da legítima pertencente aos herdeiros. Note-se que no exemplo os atos fraudulentos foram realmente praticados. Na simulação finge-se algo que não existe, para, fraudando a lei, chegar-se ao objetivo desejado, como no caso do cônjuge adúltero que simula venda de um bem ao seu cúmplice, para encobrir a doação do bem, burlando assim o preceito do art. 550, do CC, e enganando os prejudicados para os quais a lei garante anulabilidade da doação pelo cônjuge e herdeiros necessários.
ESPÉCIES DE SIMULAÇÃO
Absoluta: na simulação absoluta as partes não realizam qualquer ato, fingindo apenas realizar um negócio que jamais foi celebrado, fazendo isto com intuito de prejudicar terceiros, como no caso do marido pretendendo se separar da esposa simula dação em pagamento para amigos como forma de quitação de dívidas que jamais existiram, fazendo isto apenas para subtrair tais bens da partilha patrimonial do casal na separação.
Relativa: na simulação relativa as partes realizam uma simulação para encobrir uma dissimulação, ou seja, são praticados dois negócios, um que não existe (simulado) e um outro que realmente foi feito, mas que não pode ser declarado (dissimulado). É o caso do exemplo, em relação à doação entre cônjuge adúltero e seu cúmplice onde é simulada uma venda para encobrir a liberalidade, prejudicando assim a terceiros e fraudando o preceito legal do art. 550 do CC. Ressalte-se, entretanto que, nos termos do art. 167, caput, do CC “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”. Assim, embora nula a simulação realizada, se o negócio jurídico que se encobriu (negócio dissimulado) tiver validade na sua substância e forma, restará subsistente, como no caso do pai que objetivando doar um bem para um de seus filhos e visando evitar que este se obrigue à colação do valor do bem recebido na liberalidade (art. 2.002 do CC) simula uma venda. Neste caso, a venda simulada é nula, mas doação realizada permanece válida, devendo apenas o filho beneficiário obedecer à regra de colação.
* Não mais se faz a distinção entre simulação fraudulenta (objetivo de burlar a lei; prejudicar direito de terceiro) e simulação inocente (não causa prejuízo a ninguém) tratada no código anterior, pelo que se depreende que a simulação em qualquer de suas espécies conduzem à nulidade do negócio simulado.
Caracterização material da simulação
O art. 167, do CC, em seu § 1º dispõe que haverá simulação nos negócios quando estes aparentemente conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; os instrumentos particulares forem antedatados ou pós-datados.
A simulação frente aos terceiros de boa-fé:
O art. 167, do CC, em seu § 2º ressalva os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Assim, se João compra de Pedro um bem que este recebeu por meio de uma doação simulada realizada por Carlos, a nulidade da doação não atingirá a compra feita por João, tendo em vista ter este agido de boa-fé.
DAS REGRAS ESPECÍFICAS QUANTO À NULIDADE ABSOLUTA
A nulidade absoluta possui peculiaridades que a diferenciam da nulidade relativa. Tais peculiaridades dizem respeito: às consequências sobre a eficácia do negócio; a quem pode alegá-la; à quando pode ser alegada; à impossibilidade de convalidação pelo decurso do tempo; à impossibilidade de ratificação do ato nulo e à possibilidade de conversão substancial.
Quanto aos Efeitos do Negócio Nulo: os negócios eivados de nulidade absoluta têm privada a produção dos efeitos jurídicos almejados com a sua realização, pois o que é nulo não pode produzir efeitos. No entanto, tal regra não pode ser vista de maneira genérica e absoluta, pois alguns negócios, ainda que declarados nulos, irão produzir outros efeitos, diversos dos almejados com a sua realização. Exemplo disso se dá no caso do casamento putativo (com boa-fé) de pessoa menor com outra já casada. Pelo casamento, o cônjuge menor emancipa-se. O casamento é nulo, mas sua nulidade não implica a nulidade da emancipação operada.
Quem pode alegá-la: dispõe o art. 168, do CC, que a nulidade absoluta poderá ser alegada por qualquer pessoa interessada, ou pelo Ministério Público quando lhe couber intervir. O juiz, reconhecendo a existência de causa de nulidade absoluta no negócio, deve pronunciá-la de ofício, ou seja, independentemente de solicitação dos interessados. É vedado ao juiz suprir, ou seja, sanar a nulidade absoluta ainda que por solicitação das partes.
Quando pode ser alegada e da impossibilidade de convalescimento: a nulidade absoluta pode ser alegada a qualquer tempo, não existindo prazo para o seu reconhecimento, havia vista que o decurso do tempo não causa o convalescimento do ato nulo, nos termos do art. 169 do Código Civil.
Impossibilidade de Ratificação: nos termos do art. 169, do CC, a nulidade absoluta não pode ser objeto de confirmação. A confirmação ou ratificação é o ato pelo qual as partes interessadas renunciam ao direito de buscar a anulação do ato. Sendo os negócios nulos uma ameaça à ordem social, torna-se impossível sanar o defeito.
Da Conversão Substancial: subsistirá o negócio nulo quando ele contiver os requisitos de outro e desde que se possa compreender que este outro negócio seria desejado pelas partes caso houvessem previsto a nulidade. Em outras palavras, é a transformação de um negócio jurídico nulo em outro de natureza diversa. Tal transformação é chamada de conversão substancia e encontra-se prevista no art. 170 do CC. Exemplo de conversão substancial seria o da nota promissória nula por ausência de forma, que se pode ser convertida em uma confissão de dívida; ou a simulação de venda de pai para filho, que é controvertida em uma doação. Ressalte-se que tal conversão só é permitida na ausência de proibição normativa.
IMPORTANTE: A NULIDADE É RECONHECIDA POR SENTENÇA DECLARATÓRIA DE EFEITOS “EX TUNC” E “ERGA OMNES”.
ANULABILIDADE OU NULIDADE RELATIVA
Ocorrendo ofensa ao interesse particular, sem que se atinjam os interesses sociais, o negócio jurídico será anulável, haja vista estar eivado de nulidade relativa.
Diferentemente da nulidade, a anulabilidade não priva o negócio realizado da produção de seus efeitos. Em verdade, ela possibilita ao interessado buscar a anulação do ato por meio da sua desconstituição judicial (ação anulatória) que deve ser manejada dentro dos prazos fixados na lei. Caso a desconstituição não seja manejada no prazo legal, o ato, que nasceu anulável, convalesce do vício tornando-se assim plenamente perfeito. Além disso, para corroborar a tese de que a anulabilidade só atinge interesses privados, é facultado às partes confirmar o negócio anulável para lhe retirar a possibilidade de anulação.
O art. 171, do CC, dispõe que, além dos casos expressamente declarados na lei, serão anuláveis os negócios jurídicos:
Quanto praticados por pessoa relativamente incapaz: os relativamente incapazes, em regra, necessitam da supervisão de um assistente para que os atos praticados tenham completa validade. A ausência de assistência enseja a anulabilidade do negócio.
Quando forem viciados por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contracredores: as situações que ensejarão tal anulação são peculiares a cada espécie de defeito do negócio.
REGRAS ESPECÍFICAS QUANTO À NULIDADE RELATIVA
Vistas as regras específicas da nulidade absoluta, devem ser analisadas as regras concernentes à nulidade relativa no tocante: às suas consequências sobre a eficácia do negócio; a quem pode alegá-la; a quando pode ser alegada; à possibilidade de convalidação pelo decurso do tempo e à possibilidade de ratificação do ato nulo.
Quanto aos Efeitos do Negócio Anulável: a anulabilidade não priva o início da eficácia do negócio, podendo por fim a ela apenas se o interessado buscar a anulação do ato. Desta forma, se o interessado não promover a anulação do negócio dentro dos prazos legais, o ato se tornará perfeito, deixando de ser anulável.
Quem pode alegá-la: apenas os interessados podem alegá-la, sendo vedado ao juiz pronunciá-la de ofício. Tal regra encontra-se no art. 177 do CC. Vale ressaltar que, alegação de nulidade relativa só beneficia aquele interessado que a alegou, salvo nos casos de relação de solidariedade com outros interessados ou de indivisibilidade do objeto dos negócios, casos em que a anulação buscada por um aproveita aos demais.
Quando pode ser alegada: diferentemente do que ocorre com a nulidade, a anulabilidade possui prazos para ser alegada. Tais prazos encontram-se previstos nos arts. 178 e 179 do CC. Respectivamente os prazos para a anulação do negócio serão de: 4 anos e 2 anos. Para os atos praticados por relativamente incapazes o prazo para a anulação será de 4, tendo iniciada sua contagem do dia em que cessar a incapacidade. Nos atos praticados com coação, o prazo para a anulação será de 4 anos e começará a contar do dia que a coação cessar. Nos atos que contiverem erro, dolo, estado de perigo, lesão e fraude contra credores o prazo para a anulação também será de 4 anos, tendo sua contagem iniciada do dia em que se realizou o negócio. Entretanto, além destas causas, a lei pode expressamente declarar como anuláveis negócios jurídicos por outros motivos. Neste caso, se a lei declarar anulável um negócio sem estabelecer prazo para sua anulação, tal prazo será de 2 anos. Ressalta-se que todos estes prazos são decadenciais, ou seja, a inércia do interessado em anular o negócio pode levar à perda do direito de anulação do ato.
Da possibilidade de confirmação do negócio: os arts. 172 a 175 tratam da confirmação do negócio anulável. Por se tratar de interesse privado, podem as partes que praticaram um ato anulável confirmá-lo para validade de forma absoluta os efeitos até então produzidos e garantir a perfeição da eficácia dali por diante, impedindo assim qualquer tentativa de anulação. A confirmação, também chamada de ratificação, pode se dar de forma expressa ou tácita. Dá-se confirmação expressa quando é realizada por meio de uma declaração de vontade que tenha a substância do ato que se pretende confirmar, no sentido expresso de ratificá-lo (Ex.: Instrumento particular foi feito por meio de instrumento particular ratificando uma venda de bem imóvel de pequeno valor que também foi feito por meio de instrumento particular, entre dois menos menores púberes). Se terá confirmação tácita quando o devedor, ciente do vício, cumpre, ainda que parcialmente, a sua obrigação, ou deixa decair o direito de anulação. Implementada a confirmação, extinguem-se todas as possibilidades de se conseguir a anulação do negócio.
IMPORTANTE: A ANULABILIDADE É RECONHECIDA POR SENTENÇA DESCONSITUTIVA DE EFEITOS “EX TUNC” E “INTER PARTES”.
DA PROTEÇÃO AO MENOR PÚBERE E SUAS EXCEÇÕES
São púberes os menores de idade entre 16 e 18 anos, considerados tais como relativamente incapazes. Seus atos, por força da Teoria Protetiva dos Incapazes, devem ser assistidos, sob pena de anulabilidade.
Entretanto, tal proteção encontra barreira nos casos em que o menor, ao celebrar o ato, dolosamente ocultou a sua idade ou declarou-se maior. Nestes casos, não pode o menor invocar a sua idade para eximir-se da obrigação assumida. Entretanto, deve ser também observada a condição daquele que com menor negocia, pois para se valer da regra de excepcionalidade à proteção do menor prevista no art. 182, do CC, deve ele comprovar que seu erro foi escusável, ou seja, que não tinha condições de notar que negociava com um menor.
DA INVALIDADE DO INSTRUMENTO FRENTE À POSSIBILIDADE DE PROVA DO NEGÓCIO POR OUTROS MEIOS
O art. 183, do CC: “A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder provar-se por outro meio”.
Quando o instrumento utilizado na realização do negócio for substancial ao ato, sua invalidade acarreta a invalidade do negócio, como no caso da escritura de hipoteca não levada a registro. Nos casos em que a lei não estabelece instrumento essencial à formação do ato, a sua invalidade não induz a invalidade do negócio se este puder ser provado por outras formas (testemunhas, perícias, confissão, etc.).
DA INVALIDADE PARCIAL
Dispõe o art. 184: “Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal”.
É a aplicação do princípio “utile per inutile non vitiatur”, segundo o qual a nulidade parcial de um negócio não o prejudica na parte válida, se esta for da outra separável. Assim, se a fiança em contrato de locação é prestada por pessoa absolutamente incapaz, nulo será o negócio no tocante à fiança, permanecendo válido o pacto locatício. Da mesma forma, se o homem casado faz a doação de um mesmo terreno para sua amante e para um amigo, o ato é anulável em relação ao amante, mas permanecerá válido em relação ao amigo.
Entretanto, se a invalidade atinge a parte substancial do negócio, a sua parte acessória também será atingida, como no caso em que a locação afiançada, o locatário é pessoa absolutamente incapaz. Aqui a locação é nula, o que leva a ser nula também a fiança.
DO RECONHECIMENTO DA INVALIDADE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Reconhecida judicialmente a invalidade do negócio jurídico, tal reconhecimento atinge a eficácia do negócio, seja tal eficácia realmente jurídica ou apenas material.
Devem ser observados quais os meios pelos quais se consegue o reconhecimento da nulidade absoluta de um negócio ou sua anulação por nulidade relativa.
A nulidade absoluta é reconhecida por meio de sentença declaratória de nulidade absoluta. Tal sentença é proferida em ação declaratória de nulidade absoluta, proposta com o objetivo de se obter a declaração judicial de existência desta espécie de invalidade do negócio.
Nos casos de anulabilidade, a invalidade do negócio é obtida por meio de sentença constitutiva negativa, também chamada de desconstitutiva. Tal sentença é obtida em ação anulatória, que visa desconstituir o ato realizado, por motivo da presença de algum vício o que o torna anulável.
Quanto às consequências que o reconhecimento das invalidades (absoluta e relativa) provoca sobre a eficácia dos negócios, o art. 182, do CC, dispõe: “Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente”.
A disposição legal sacramenta que o reconhecimento da invalidade do negócio, seja por nulidade ou por anulabilidade, terá efeito retroativo, ou seja, ex tunc, haja vista a determinação legal de restituição das partes ao status quo anterior.
Entretanto, há uma controvérsia quanto à retroatividade das sentenças constitutivas negativas de negócio jurídico reconhecedoras da anulabilidade do ato. A doutrina processual civil aponta como característica das sentenças desconstitutivas em geral o seu efeito irretroativo, ou seja, ex nunc. Tal lição poderia levar à conclusão de que as sentenças desconstitutivas de negócio jurídico por nulidade relativa também teria efeitos ex nunc, ou seja, só valeriam para o futuro, deixando intactos os efeitos até então produzidos.Ocorre que tal regra só se aplica de maneira genérica, haja vista ser a sentença desconstitutiva de negócio jurídico por invalidade relativa uma exceção. Neste sentindo, ainda fazendo menção ao diploma revogado que teve reproduzida no CC vigente, Humberto Theodoro Júnior ensina: “Já o efeito das sentenças constitutivas é normalmente ex nunc. Produz-se para o futuro, a partir do trânsito em julgado. São casos especiais de sentença constitutiva: a) sentença que anula o ato jurídico por incapacidade relativa do agente, ou vício de erro, dolo, coação, simulação ou fraude, porque sua eficácia é ex tunc em decorrência do art. 158 do CC, que manda, in casu, sejam as partes restituídas ao estado que se achavam antes do ato anulado”.
Em sentido contrário, alguns autores defendem a eficácia ex nunc da sentença constitutiva negativa que invalida o negócio jurídico anulável. Porém, a corrente dominante, defende a eficácia ex tunc deste tipo de sentença.
No tocante à impossibilidade de restituição das partes ao status quo anterior, seja por impossibilidade material, seja por respeito aos terceiros adquirentes de boa-fé, a lei estabelece que diante desta impossibilidade tudo deverá ser convertido em indenização em favor dos prejudicados.
ATOS ILÍCITOS
Introdução
Considera-se ato ilícito a conduta consciente do homem, seja dolosa ou culposa, que transgride um dever jurídico (legal ou contratual) tendo como consequência um prejuízo, de ordem material ou moral, para outrem.
Em outras palavras o ato ilícito pode ser conceituado da seguinte forma: É todo ato humano, doloso ou culposo, que viola direito e causa dano material ou moral a outrem em decorrência do descumprimento de um dever jurídico legal ou contratual ou ainda pelo exercício abusivo de um direito.
O Código Civil trata da disciplina dos atos ilícitos em seus arts. 186 a 188, fazendo a previsão das situações que configuram o ato ilícito praticado pelo descumprimento de um dever legal, bem como das que excluem a ilicitude do ato causador de dano. Prevê também nos arts. 389 a 395 as consequências pela prática de uma outra categoria de ato ilícito, qual seja, a do ato ilícito praticado pelo descumprimento de um dever contratual.
ESPÉCIES DE ATO ILÍCITO NO DIREITO CIVIL
Consoante o tipo de dever jurídico violado, o dano causado pode ser decorrente da prática de um ato ilícito: extracontratual ou contratual.
Se os prejuízos sofridos pela vítima do dano não decorrem do descumprimento de qualquer relação de vínculo obrigacional privado (contrato) existente entre ela e o autor do ato lesivo, tem-se a figura do ato ilícito extracontratual, previsto nos arts. 186 e 187 do Código Civil.
Por outro lado, havendo entre o autor do ato e a vítima do dano referida relação de vínculo obrigacional privado, o prejuízo ocasionado pelo descumprimento de tal vínculo será fruto de um ato ilícito contratual que tem suas consequências previstas nos arts. 389 e 395 do CC.
RESPONSABILIDADE CIVIL PELA PRÁTICA DE ATO ILÍCITO
A prática do ato ilícito causador de dano gera responsabilidade para o autor da conduta danosa. É esta responsabilidade que impõe ao praticante do ato ilícito a obrigação de reparar o prejuízo causado à vítima.
Seguindo a linha utilizada no trato das espécies de atos ilícitos no direito civil, passa-se à análise da responsabilidade civil resultante da prática de tais atos.
Responsabilidade civil pela prática de atos ilícitos extracontratuais
Não existindo qualquer relação contratual entre o autor do ato e a vítima do dano, o ilícito será de natureza extracontratual. A prática de atos desta espécie gera para o causador do prejuízo a denominada RESPONSABILIDADE CIVIL AQUILIANA OU EXTRACONTRATUAL, que, nos termos do art. 927 e ss. do CC, obriga o causador do dano a reparar o prejuízo provocado. No entanto, para que reste verificada a responsabilidade civil aquiliana, devem-se fazer presentes todos os seus pressupostos caracterizadores.
Pressupostos caracterizadores da responsabilidade civil aquiliana
No art. 186, do CC, estão previstos todos os pressupostos necessários para a caracterização da responsabilidade civil extracontratual, quais sejam:
1. Conduta do Agente: a conduta do agente para a prática de ato ilícito pode ser positiva (AÇÃO) ou negativa (OMISSÃO). A ação do agente consiste em regra em ato doloso ou imprudente, enquanto que a omissão consiste em ato negligente. Exemplo de ação é o caso de alguém quebrar um objeto integrante do patrimônio de outrem. Exemplifica a omissão a conduta do vaqueiro que não verifica se a porteira do curral está realmente fechada, permitindo que o gado de seu patrão fuja e se perca. Note-se que na omissão o agente deve ter o dever de não se omitir, ou seja, deve agir para evitar prejuízo e não o faz. Este dever jurídico de não se omitir da prática de certos atos pode ser imposto pela lei, (como nos casos em que alguém necessita de socorro que pode ser prestado) ou por convenção entre as partes (como no exemplo do vaqueiro, onde este é obrigado pelo vínculo laboral a bem cuidar do gado).
Ainda no que diz respeito ao comportamento humano como pressuposto da caracterização da responsabilidade civil, a lei trata da responsabilidade civil por ato próprio como regra, trazendo como exceção a responsabilidade civil por ato de terceiro e pela guarda da coisa ou do animal.
2. Nexo de Causalidade: nada mais é que a relação de causa e efeito que deve existir entre comportamento humano e o dano experimentado pela vítima. Assim, só haverá responsabilização por ato ilícito se restar comprovada a existência de relação de causalidade entre o prejuízo experimentado pela vítima e a conduta da pessoa a quem se pretende imputar a responsabilidade.
Não restando comprovada esta relação de causalidade entre o comportamento humano e o prejuízo, não há que se falar em responsabilidade.
3. Resultado (Dano): é o prejuízo ocasionado pelo comportamento humano. Sem prova do dano não há responsabilização, pois não há o que ser indenizado. O dano pode ser de natureza material ou moral.
Dano material: constitui prejuízos ou perdas que atinge o patrimônio corpóreo de alguém.
Dano emergente: o prejuízo efetivamente sofrido
Lucros cessantes: o que o prejudicado deixou de lucrar em razão do prejuízo.
Exemplo: um taxista sofre uma colisão, na qual o outro motorista é o culpado pelo acidente. O dano emergente é o prejuízo direto, ou seja, o valor do conserto do carro e eventuais despesas de hospital. Já os lucros cessantes representam os valores que o taxista deixou de receber enquanto seu carro, que é seu instrumento de trabalho, estava sendo reparado.
Dano moral: é o que abrange o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem, etc.
Dano moral in re ipsa: exceção à regra da exigência de comprovação real do prejuízo prevista na Lei de Imprensa, a qual presume o dano. Quanto ao dano moral de maneira geral a jurisprudência é pacífica no que diz respeito à desnecessidade da comprovação do dano.
4. Culpa ou Culpa “lato sensu”: o comportamento humano, ativo ou passivo, que provoca o dano, pode ser realizado intencionalmente pelo agente ou sem qualquer intenção de causar prejuízo. A análise da culpa é importante para a caracterização da responsabilidade civil.
A culpa ou culpa “lato sensu” compreende o dolo e a culpa “stricto sensu”.
Dolo: o agente pratica sua conduta com intenção manifesta de causar o prejuízo. Tal conduta pode ser uma ação ou uma omissão.
Culpa “stricto sensu”: o prejuízo causado não foi intenção do agente, que só provocou este dano por ter agido de forma negligente, imprudente ou imperita.
A comprovação da culpa lato sensu se faz essencial, haja vista que o sistema jurídico brasileiro adotou o critério da responsabilidade civil subjetiva, no qual não basta a simples alegação de prejuízo, sendo necessária a comprovação da culpa lato sensu do agente. Entretanto, certo é que, devido a grande dificuldade de comprovaçãoda culpa lato sensu do agente em algumas situações, a lei, em certos casos, presume a culpa, imputando ao agente o ônus de comprovar a sua não culpa, como nos casos da responsabilidade do dono do animal pelos danos causados por este, ou da responsabilidade do transportador em relação aos passageiros que com ele firmaram contrato de transporte.
Para a comprovação do dolo, necessária se faz a caracterização da intenção deliberada do agente em violar direito e causar prejuízo.
Para que se comprove a culpa stricto sensu, faz-se precípua a caracterização de uma conduta do agente em qualquer uma das três modalidades, quais sejam: negligência, imprudência ou imperícia.
Negligência: ausência de cuidados ou precauções em relação ao ato praticado. Exemplo: o fiscal de fábrica que, sabendo ser obrigatória a verificação a cada hora da pressão das bombas de óleo das máquinas, deixa de observar o tempo exigido, o que vem a provocar a explosão de um dos maquinários.
Imprudência: prática “irresponsável” de um fato perigoso que não é recomendável. Exemplo: o motorista que dirige em alta velocidade em uma via movimentada com grande fluxo de veículos e de pedestres.
Imperícia: afastamento de regras e normas técnicas exigidas no exercício de arte ou profissão. Exemplo: o engenheiro que se afasta das especificações técnicas apropriadas em relação ao cálculo estrutural de um prédio, vindo este a ruim porque as fundações não suportaram o peso da estrutura.
EXCLUDENTES
EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE
Afastada a culpa lato sensu (dolo ou culpa stricto sensu), excluída total ou parcialmente, estará a responsabilidade do agente. Tal exclusão pode-se dar pela ocorrência de culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior, denominadas como excludentes de responsabilidade.
Culpa da vítima: configura-se no caso de ser a própria vítima a responsável, ou seja, contribuiu para a ocorrência do prejuízo que sofre. Tal excludente pode ser absoluta (culpa exclusiva da vítima) onde a responsabilidade de agente inexiste frente à participação da vítima. Pode também ser relativa (culpa concorrente) onde o agente é responsabilidade apenas na medida da sua participação para a ocorrência do evento danoso, sendo a vítima, que concorreu para o mesmo, responsabilizada nos mesmos termos. Assim, quem sofre dano porque resolveu se jogar na frente do carro, não poderá cobrar ressarcimento do motorista, haja vista, a total ausência de culpa deste. Entretanto, se além da conduta da própria vítima de se jogar no meio da via, o motorista também contribuiu para o evento por estar andando em alta velocidade, o que lhe impossibilitou desviar, o juiz fixará uma indenização com redução de valor haja vista a culpa concorrente da vítima.
Caso fortuito ou força maior: se o dano ocorreu por fato que não podia evitar ou impedir também estará a responsabilidade. Assim, se o dano da queda de um raio sobre o carro (força maior) ou porque durante um arrastão promovido por uma quadrilha de assaltantes o carro foi roubado (caso fortuito) quem estava com o carro da vítima a título de empréstimo não será responsabilizado frente a ausência de culpa da sua parte.
EXCLUDENTES DE ILICITUDE
Certas condutas, ainda que venham a causar prejuízo, não são consideradas, pela lei, atos ilícitos. Tal fato se dá por motivo de que tais condutas envolvem a conservação e defesa de um bem ou direito.
São causas excludentes de ilicitude: a legítima defesa, o exercício regular de um direito e o estado de necessidade. Em direito civil, entenda-se englobado pelo exercício regular de um direito o estrito cumprimento de um dever legal.
Legítima defesa: “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”. Não é qualquer tipo de resposta ao comportamento de outrem, há de haver a iniciativa da parte contrária; a agressão tem de ser atual ou eminente, se já ocorrida não se justifica; a reação tem de ser proporcional à agressão sofrida, não se pode exceder ao limite do necessário para repelir o ato, se houver excesso, este será punível.
Exercício Regular do Direito: consiste no desempenho de uma atividade ou prática de uma conduta autorizada pelo ordenamento jurídico, que torna lícito um fato típico. Chamamos a atenção para o abuso do direito, constante do art. 187 do Código Civil: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Vemos que o exercício regular de um direito deverá ter uma medida para ser considerado como lícito; se ultrapassada esta medida, têm-se o abuso do direito, ensejando o ato ilícito, passível de indenização.
Estado de necessidade: ocorre quando o agente deteriora ou destrói coisa alheia ou causa lesão a uma pessoa, com o intuito de afastar perigo iminente. Da mesma forma que a legítima defesa, alguns pontos devem ser destacados: o ato só será legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, sendo vedado o excesso ao indispensável para a remoção do perigo, conforme preceitua o parágrafo único do art. 188 do Código Civil.
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
PRESCRIÇÃO
Ocorrendo a violação de um direito, nasce para o seu titular a possibilidade de repará-lo, o que deve ser feito dentro de um prazo estabelecido em lei, sob pena de tal possibilidade sucumbir ante os efeitos do transcurso do tempo.
Essa sucumbência da possibilidade de reparação do direito violado é o que se entende por prescrição.
A prescrição é a perda da ação atribuída a um direito e de toda a sua capacidade defensiva, em consequência do não-uso delas, durante determinado espaço de tempo. Tal definição, entretanto, não pode ser interpretada no sentido de se inferir que a ocorrência da prescrição atinja diretamente o direito que fora violado, tampouco o direito de ação que é garantido constitucionalmente.
Tal posição, no entanto, já suscitou inúmeras polêmicas, mormente no que diz respeito a se saber se o que realmente seria atingido pela prescrição seria ação ou o direito. Em cima desta controvérsia até se criou um dos pontos classicamente utilizados, onde esta atingiria o direito, enquanto aquela apenas a ação.
Ocorre que, em verdade, o que será atingida pela prescrição não é a AÇÃO, direito subjetivo processual de caráter público, garantido constitucionalmente, mas sim a PRETENSÃO, possibilidade de reparar a violação perpetrada contra um direito subjetivo violável.
Por influência da teoria imanentista dos romanos, para os quais não havia distinção entre o direito material violado e o direito autônomo de ação é que muitos doutrinadores construíram a definição no sentido de afirmar que a prescrição atingiria a ação.
Assim, PRESCRIÇÃO é a perda da pretensão pela inércia do titular de um direito subjetivo frente a sua violação.
REQUISITOS DA PRESCRIÇÃO
Para que esteja caracterizada a prescrição, alguns requisitos devem se fazer presentes, quais sejam: a violação do direito; a inércia do titular e o transcurso do prazo legal de prescrição.
Violação do direito: não há que se falar em ocorrência de prescrição sem que antes tenha ocorrido a violação do direito, isto porque apenas após a violação do mesmo é que nasce para o seu titular a possibilidade de repará-lo, haja vista, que só se repara aquilo que já foi violado. Assim, antes da ocorrência da violação do direito não há que se falar em prescrição. Um exemplo disto é o do devedor que antes mesmo do vencimento de uma dívida, alega a prescrição da mesma para furtar-se ao pagamento. Ora, mesmo que ele demonstre a intenção de não pagar, antes do vencimento ele não ainda violou o direito de seu credor e assim nem teve início o prazo para que este maneje a sua pretensão.
Inércia do titular do direito violado: mas não basta a violação do direito, pois se esta ocorre e o titular do direito violado maneja a sua pretensão dentro do prazo, interrompida estará a fluência do intervalo temporal queleva a sua prescrição. Entretanto, se violado o direito o seu titular não busca interromper a contagem do prazo nos moldes legais (arts. 202 a 204 do CC) ou não é beneficiado por alguma das causas de impedimento ou de suspensão prescricional (arts. 197 a 199 do CC) certamente a sua pretensão será extinta, sendo considera prescrita.
Transcurso do prazo legal: da mesma forma não basta apenas a violação do direito e a inércia de seu titular, sendo exigido ainda o transcurso total de todo o prazo prescricional estabelecido na lei. Interrompido o prazo prescricional, o que só pode ocorrer uma vez, terá ele sua contagem reiniciada do “zero”, ou seja, tem o titular do direito violado a restituição integral do prazo para o manejo de sua pretensão. Impedido o prazo, este nem começa a correr. Suspenso, ele para e só continua após findada a causa suspensiva. Mas, não ocorrendo tais fenômenos, e iniciada a contagem do prazo, este tende a correr continuamente até o seu final, o que em ocorrendo implicará a prescrição da pretensão.
DO MOMENTO DE ALEGAÇÃO DA PRESCRIÇÃO
É a prescrição uma defesa do devedor contra a ação do titular de direito violado que teve sua pretensão atingida pela prescrição. Assim, como a prescrição atinge a pretensão e não o direito subjetivo de ação, o titular do direito violado, ainda assim poderá manejar uma ação contra o violador de seu direito, objetivando a reparação do mesmo. Entretanto, como tal pretensão já se encontra prescrita, o violador do direito não mais está obrigado a repará-lo, bastando para isto alegar a ocorrência de prescrição para ver a tentativa de o direito cair por terra.
A alegação da ocorrência de prescrição pode ser feita em qualquer grau de jurisdição por parte de quem dela se aproveita (art. 193 do CC). Porém, a exemplo do titular do direito violado que possui um prazo para manejar a sua pretensão, o beneficiário da prescrição também deve observar um limite temporal para sua utilização, não lhe sendo permitido ter a alegação de prescrição como uma “carta na manga” que pode ser utilizada indefinidamente. Assim, prevê o art. 190 do CC: “A exceção prescreve no mesmo prazo que a pretensão”.
Isto quer dizer que, se o credor tinha um prazo para cobrar o devedor e deixou transcorrer o prazo, o devedor, que deseje se beneficiar da alegação da prescrição, terá, para alegar a prescrição, o mesmo prazo que tinha o credor para cobrá-lo.
AQUELES QUE PODEM ALEGAR A PRESCRIÇÃO
Qualquer interessado pode alegá-la e deve ser reconhecida de ofício pelo juiz.
AQUELES QUE DEVEM IMPEDIR E ALEGAR A PRESCRIÇÃO
Os assistentes de pessoas relativamente incapazes e os representantes legais de pessoas jurídicas devem, no exercício de suas funções e no zelo dos interesses das pessoas que respectivamente assistem e a quem representam, manejar as pretensões antes do fim do prazo prescricional e alegar a prescrição das pretensões manejadas contra seus assistidos e representados.
Assim, se um tutor ou curador de relativamente incapaz, podendo, não manejar a cobrança de créditos de seus assistidos permitindo assim que os mesmos venham a prescrever, estarão causando um prejuízo e por ele devem ser obrigados a responder. Da mesma forma, o representante de pessoa jurídica que deixa prescrever créditos da mesma, também está obrigado a responder pelo prejuízo.
PRESCRIÇÃO EM RELAÇÃO AOS SUCESSORES
Estabelece o art. 196, do CC: “A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor.”
Assim, tanto na sucessão causa mortis como na inter vivos o sucessor do crédito tem militando em seu desfavor o prazo de prescrição que corria contra o seu antecessor. Desta forma, o filho que sucede ao pai falecido em seus créditos, tem contra si os prazos de prescrição já iniciados contra seu pai.
Tal norma, que milita contra o credor, favorece aos sucessores do devedor, pois eles aproveitarão em seu favor o prazo de prescrição já transcorrido enquanto era vivo o seu antecessor.
IMPEDIMENTO E DA SUSPENSÃO DA PRESCRIÇÃO
Violando o direito, inicia-se a contagem do prazo de prescrição que fluirá continuamente até seu termo final, isto se não existir uma causa que iniba tal fato, seja impedindo o início da contagem, seja suspendendo-a.
Estas possibilidades estão previstas nos arts. 197 a 201 do CC. Tais dispositivos enumeram situação que podem preexistir à violação do direito, caso em que impedirão o início da contagem do prazo prescricional, ou que podem ocorrer após a violação do direito, caso em que o suspenderão a contagem do prazo já iniciada.
Impedido o prazo, este sequer inicia a correr, ficando assim pelo tempo em que perdurar a causa impeditiva. Suspenso o prazo, este, que já teve sua contagem iniciada, para de correr, permanecendo assim pelo tempo em que perdurar a causa suspensiva, voltando a correr de onde havia sido suspenso, pelo restante do prazo, da data em que deixou de existir a causa suspensiva.
O impedimento e a suspensão da prescrição encontram fundamento jurídico na impossibilidade de agir que certas pessoas possuem por força de sua condição ou pela situação em que se encontram.
Assim, não corre a prescrição:
entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela;
contra os incapazes;
contra os ausentes do país em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra
pendendo condição suspensiva;
não estando vencido o prazo;
pendendo ação de evicção.
Nos termos do art. 200 do CC, teremos ainda como obstáculo ao transcurso do prazo prescricional as situações em que o fato motivador da pretensão deva ser apurado no juízo criminal, caso em que a prescrição da pretensão só correrá após o trânsito em julgado da sentença criminal.
INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO
Além das causas de impedimento e suspensão da prescrição, a contagem do prazo prescricional pode encontrar um outro obstáculo de consequências diversas.
A interrupção da prescrição depende de um comportamento do titular do direito violado no sentido de exercer ou proteger o seu direito. Tal característica difere a interrupção do impedimento e da suspensão do prazo prescricional, haja vista que, nestas duas últimas hipóteses a ocorrência se dá independentemente da vontade do titular do direito violado em exercer ou proteger o seu direito, ou seja, o impedimento e a suspensão da prescrição ocorrem quando se verificam as causas estabelecidas pela lei como possuidoras do poder de operar, impossibilidade de transcurso do prazo prescricional, independentemente da vontade do titular do direito violado.
Na interrupção, o credor, titular do direito violado é quem tem que buscar praticar algum ato que consiga interromper a contagem do prazo prescricional, fazendo isto com intenção manifesta de exercer ou proteger o seu direito que foi violado. Ressalte-se, entretanto, que não apenas o titular do direito violado, os credores do titular do direito violado, etc.
O art. 202, do CC, enumera as causas de interrupção da prescrição, que são: por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; por protesto, nas condições do inciso antecedente; por protesto cambial; pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
A realização de qualquer uma das causas acima enumeradas provoca a interrupção imediata da prescrição. Interrompida a prescrição, o prazo que já havia iniciado a correr é interrompido e restituído integralmente ao titular do direito violado, sendo que tal interrupção só pode ser promovida uma única vez. Assim, se o credor que tinha 5 anos para manejar a sua pretensão consegue interromper a contagem doprazo no último dia do mesmo, terá, a partir desta data mais 5 anos para manejar a sua pretensão, haja vista, ser este o efeito da interrupção previsto no p.u. do art. 202 do CC.
PRAZOS DE PRESCRIÇÃO
A prescrição legal é feita nos arts. 205 e 206 do CC. O prazo genérico de prescrição é 10 anos, sendo este aplicado sempre que a lei não tenha fixado prazo menor. A fixação do prazo genérico de prescrição é feita no art. 205, ficando a cargo do art. 206 a fixação dos prazos menores que são 1, 2, 3, 4 e 5 anos conforme a pretensão a ser manejada, as quais também se encontram previstas no referido artigo de lei.
RENÚNCIA À PRESCRIÇÃO
Sendo a prescrição instituto que favorece o devedor contra o credor, pode aquele, querendo, abdicar do direito de alegá-la para se ver livre da cobrança que lhe é perpetrada em decorrência da violação do direito.
Ao abdicar do direito de suscitar a ocorrência de prescrição em seu favor, o devedor estará operando a renúncia, que pode se dar de maneira expressa ou tácita. Entretanto, tal renúncia para ter efeitos, deve preencher alguns requisitos, a saber: consumação da prescrição e não prejuízo para terceiros.
DECADÊNCIA
A decadência é fenômeno que provoca perecimento do direito, porque não foi exercitado dentro de um prazo determinado.
Os direitos que são atingidos não necessitam aguardar a violação para o seu exercício ou proteção, atos que podem ser praticados desde o momento em que nascem os referidos direitos, momento no qual também começa a fluir o prazo decadencial que transcorre em seu desfavor.
Ainda que sejam semelhantes por terem o tempo atuando como elemento influenciador de conservação, proteção e exercício de direitos subjetivos, a prescrição e a decadência são institutos de regras e características diversas.
Classicamente toma-me como ponto crucial de diferenciação entre a decadência e a prescrição a alegação de que esta atinge apenas a pretensão extinguindo-a, e aquela atinge diretamente o direito extinguindo-o.
Assim, a decadência é a perda do direito subjetivo pela inércia de seu titular em não exercê-lo dentro do prazo previsto para tanto.
ESPÉCIES DE DECADÊNCIA
Legal: quanto tem seus prazos estabelecidos na lei;
Convencional: quanto tem seus prazos estabelecidos pela vontade das partes.
IMPOSSIBILIDADE DE IMPEDIMENTO, SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO NA DECADÊNCIA
Salvo disposição legal em contrário, os prazos de decadência não serão impedidos de correr, suspensos ou interrompidos nos mesmos moldes que ocorre com a prescrição (art. 207, CC).
Isto quer dizer que, em regra, iniciada a contagem de um prazo decadencial, este deverá transcorrer continuamente até o seu fim, correndo contra todos. 
RENÚNCIA À DECADÊNCIA
Apenas é permitido ao beneficiário da decadência abrir mão da prerrogativa de seu reconhecimento se o prazo for de natureza convencional, sendo vedada a renúncia à decadência de natureza legal.
Assim, podem as partes renunciar a um prazo estipulado contratualmente para exercício de direito subjetivo potestativo, haja vista, o caráter privado desta convenção. Entretanto, jamais poderão renunciar à decadência ocorrida pelo não exercício do direito de anular negócio jurídico realizado com vício do consentimento, ato este que deveria ter sido feito no prazo decadencial estipulado legalmente no art. 178 do CC.
MOMENTO DE ALEGAÇÃO DA DECADÊNCIA E AQUELES QUE DEVEM E PODEM ALEGÁ-LA
A decadência também pode ser alegada pelos interessados em qualquer grau de jurisdição. O reconhecimento da decadência no entanto pode depender de requerimento dos interessados ou pode se dar por ato de ofício do juiz.
Se a decadência for de natureza convencional, o juiz só poderá reconhecê-la mediante requerimento dos interessados, sendo-lhe vedado suprir tal requerimento de ofício, nos termos do art. 211.
Por outro lado, sendo o prazo de natureza legal, o juiz deve reconhecer de ofício a sua ocorrência, isto é, independentemente da manifestação dos interessados, nos termos do art. 210.
PRAZOS DE DECADÊNCIA
Os prazos de decadência estão distribuídos no corpo da codificação ligados aos direitos subjetivos potestativos que podem atingir em caso de inércia de seu titular em exercê-los.
Ex.: arts. 178, 445, 501, 505, 550, etc...
DIFERENCIAÇÃO ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Vários são os pontos utilizados para tecer a diferenciação entre os institutos da prescrição e da decadência. Nesta abordagem, se utilizará, inicialmente, um critério que goza ampla aceitação pela doutrina e jurisprudência, qual seja, o critério científico para distinguir a prescrição da decadência e para identificar as ações imprescritíveis formulado pelo professor Agnelo Amorim Filho. Tal critério estabelece com maestria a dúvida comum de se saber se um prazo é de prescrição ou de decadência.
Neste estudo, o citado mestre analisa a natureza dos direitos subjetivos e as classificações das ações segundo a posição de Chiovenda. No tocante aos direitos subjetivos, estes se dividem em duas grandes categorias, a saber: direitos subjetivos a uma prestação e direitos subjetivos potestativos.
São direitos subjetivos a uma prestação aqueles pelos quais seu titular (sujeito ativo da relação jurídica) objetiva um bem da vida que busca obter por meio de uma prestação, positiva ou negativa, de outrem (sujeito passivo da relação jurídica). Tais direitos são suscetíveis de violação e englobam todos aqueles direitos que integram a classe dos direitos pessoais e a classe dos direitos reais. Existindo um direito pessoal, impõe ao sujeito passivo o dever jurídico de cumprir uma obrigação por meio da “entrega” da prestação, a qual se consubstancia em dar algo certo ou incerto, fazer ou não fazer alguma coisa. Existindo um direito real, impõe-se ao sujeito passivo a obrigação de respeitar a existência de tal direito, abstendo-se de atos que venham violá-lo.
São direitos subjetivos potestativos aqueles caracterizados pelos poderes que a lei confere a determinadas pessoas de influírem, com uma declaração de vontade, sobre situações jurídicas de outras, sem a necessidade de manifestação da vontade dessas. Tais direitos podem ser divididos em três categorias, a saber:
potestativos de primeira categoria: os quais dispensam a utilização da via judicial para o seu efetivo exercício, como o direito outorgante revogar uma procuração para, assim, extinguir o mandato;
potestativos de segunda categoria: os quais necessitam de apelo às vias judiciais apenas quando o sujeito passivo se segue a aceitar seu pacífico exercício pelo titular, como o direito de dissolução de um condomínio por um dos condôminos, ou o direito que um dos contratantes possui de rescindir um contrato;
potestativos de terceira categoria: os quais para serem exercidos exigem a utilização da via judicial, por meio de ações que visam criar, modificar ou extinguir uma situação jurídica existente, como o direito que a vítima de dolo principal tem para anular o negócio jurídico onde se fez presente este vício do consentimento.
O professor Amorim utilizou-se também, para distinguir a prescrição da decadência, da moderna classificação das ações utilizadas para o exercício dos direitos subjetivos. Tais ações podem ser:
condenatórias: que visam a condenação do réu no cumprimento de uma prestação positiva ou negativa que envolve o exercício de um direito pessoal ou real. Ex.: ação de cobrança, ação indenizatória por ato ilícito;
constitutivas: que não visam qualquer condenação do réu na entrega de uma prestação, mas visam criar uma situação jurídica, modificar ou extinguir uma situação jurídica existente. Ex.: ação anulatória; ação redibitória por defeito oculto na coisa;
declaratórias: que visam apenas ao reconhecimento judicial de uma situação de fato já existente, para a obtenção de uma certeza jurídica. Ex.: ação declaratória de reconhecimento de união estável; ação de reconhecimento de paternidade.
Apresentados os direitos subjetivos e as ações a eles relacionadas, esclarece-se agora a sua utilização na distinção entre prescrição e decadência
Bem,primeiramente deve ser identificados os direitos que são suscetíveis de violação, pois apenas eles é que ensejam a propositura de ações sujeitas a prazos de prescrição, ideia presente no art. 189 do CC, que estabelece que apenas após a violação do direito é que nasce para o seu titular a pretensão, que se extingue pela prescrição nos prazos aludidos nos arts. 205 e 206 do CC. Ora, direitos violáveis são os subjetivos a uma prestação, os quais, quando violados, dão ao seu titular a prerrogativa de exigir a condenação do sujeito passivo na entrega do bem da vida representativo da prestação, pretensão esta que se exerce por meio de ação condenatória dentro dos prazos prescricionais previstos em lei.
Aqueles direitos cujo exercício não visa à sujeição do sujeito passivo na entrega de qualquer prestação, mas apenas criar, modificar ou extinguir direitos, são os subjetivos potestativos, os quais são impassíveis de violação e podem ser exercidos pelo seu titular desde o momento em que nascem por meio de ações constitutivas, sujeitas a prazos de decadência. Ressalte-se que algumas ações constitutivas tratam sobre questões de estado ou referentes à situação das pessoas, com a ação de separação judicial ou de divórcio. A estas, a lei, nem as partes, não impõem prazo para a sua propositura, sendo tais ações imprescritíveis.
As ações declaratórias, porque buscam apenas a obtenção de uma certeza jurídica, são imprescritíveis, não estando sujeitas a qualquer prazo.
Assim acompanhando a posição de Silvio Rodrigues ao analisar o critério do Prof. Amorim, conclui-se:
“1. Estão sujeitas à prescrição todas as ações condenatórias e somente elas; 2. Estão sujeitas à decadência (indiretamente, isto é, em virtude da decadência do direito a que correspondem) as ações constitutivas que têm prazo especial de exercício fixado em lei; 3. São perpétuas (imprescritíveis): a) as ações constitutivas que não têm prazo especial fixado em lei; b) todas as ações declaratórias.”

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