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AULA 14 PROCESSO PENAL FABIO ROQUE INQUÉRITO POLICIAL

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AULA 14 – DIREITO PROCESSUAL PENAL – FABIO ROQUE – DIA 12.03.2012
Vamos estabelecer um link entre penal e processual penal, pois são irmãos siameses.
Alterações Legislativas:
Lei 11689/08 – júri
Lei 11690/08 - provas
Lei 11719/08 – procedimentos
Lei 11900/09 – videoconferência
Lei 12403/11 – prisões e medidas cautelares
1.INTRODUÇÃO AO TEMA:
INQUÉRITO POLICIAL:
Persecução criminal: é o poder-dever do Estado de apurar e punir as infrações penais (crimes e contravenção). Ela tem duas fases:
Investigação criminal: fase pré processual ou fase informativa ou fase preliminar 
Instrução processual penal: que é a fase de ação penal.
Esta fase investigativa destina-se a coletar elementos para que se possa iniciar a ação penal. Destina-se a coletar a justa causa.
O que é justa causa? É o suporte probatório mínimo que embasa a acusação. É o mínimo de provas para poder iniciar a ação penal, que é materializado no binômio: prova da materialidade e indícios de autoria ou participação do crime.
A prova cabal da autoria só é necessária para condenar.
Não posso jamais iniciar a ação penal sem a justa causa, este mínimo de provas.
Dá para iniciar uma ação cível sem prova? Sim. O Autor protesta provar o alegado, durante o processo. Ex. provar através de testemunha. No processo penal isto não pode ocorrer, pois a testemunha que vou levar em juízo, normalmente já foi ouvida no inquérito pelo delegado. 
Há um fardo muito pesado, quando se responde a uma ação penal, motivo pelo qual há necessidade de um mínimo probatório, para se instaurar ação penal.
A investigação criminal não é imprescindível, porque ela é necessária para coletar um mínimo de prova, se o MP ou a vitima já tem um mínimo de prova não precisa de investigação criminal. Ex. se alguém ofendeu sua honra e a conduta for gravada, não há necessidade de investigação.
A principal modalidade de investigação criminal é o inquérito. Há outras modalidades de investigação criminal. Ex. CPI (preside o inquérito parlamentar), o objetivo da CPI não é punir, ela investiga e envia suas conclusões ao MP. 
Outras investigações: Pode o MP investigar? Sim, a doutrina até hoje discute isso, mas a jurisprudência do STF e do STJ admitem.
O membro do MP que investigou pode atuar na fase processual? Pode. Não há suspeição ou impedimento. Súmula 234 STJ “A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia”
Temos também o IPM (inquérito penal militar) para julgar crimes militares.
Por fim, temos a investigação da polícia legislativa (da Câmara e do Senado), para os crimes ocorridos nas dependências dessas casas. Não são os crimes praticados por parlamentares. Atuam p. ex. quando entra um sujeito para depredar as instalações do Congresso ou quando a testemunha mente numa CPI. Súmula 397 do STF. O inquérito da polícia judiciária e o da polícia civil e da polícia federal.
2- CONCEITO DE INQUÉRITO POLICIAL 
É um procedimento administrativo presidido pela autoridade policial, destinado a coletar material probatório idôneo, para embasar a opinio delicti, do titular da ação penal.
3- NATUREZA JURÍDICA DO IP:
É um procedimento administrativo, não é um processo administrativo. Conceito de processo: Processo é uma relação jurídica animada por um procedimento em contraditório. O procedimento é apenas um dos elementos que compõe o processo.
O inquérito não é processo, é procedimento, pois não há contraditório. O inquérito é inquisitivo.
O que é procedimento? É a mera sucessão de atos administrativos, tendentes a coletar provas.
Existe intervenção judicial no inquérito? Às vezes sim. Ex. quando o delegado precisar de uma das medidas acobertadas pela cláusula de reserva judicial. Ex. interceptação telefônica, prisão preventiva ou temporária, busca e apreensão domiciliar. Isso não exclui sua natureza que é administrativa.
4. ATRIBUIÇAO PARA O INQUÉRITO:
Evitar a expressão “competência”, porque quem tem competência é juiz. MP e delegado não a tem.
A “atribuição” para presidir o inquérito é só da autoridade policial, que é o delegado de polícia. Agente, perito, escrivão não presidem inquérito. MP não pode presidir inquérito policial, ele pode investigar em inquérito ministerial.
Policia judiciária: que é a policia civil e federal.
5. FINALIDADE DO INQUÉRITO:
Coletar provas. Parte da doutrina costuma dizer que não é “prova”, mas, sim, coletar “elementos de informação”, pois existe o principio da bilateralidade probatória, que é o contraditório. Ou seja, o principio do contraditório aplicado às provas.
O entendimento majoritário, contudo, entende que é “prova”. Agora, o valor desta prova, se ela pode condenar ou não é outra discussão, veremos em seguida.
Quem é o titular da ação penal?
- ação penal pública: MP
- ação penal privada: é o ofendido
6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICAL:
a) Escrito: Em regra é escrito, porém podem ser produzidos atos orais. Ex. ouvir testemunhas, a vítima, mas devem ser reduzidos a termo.
b) Inquisitivo: Via de regra não há contraditório. Exceção: existe contraditório no inquérito instaurado pela polícia federal, por determinação do Ministro da Justiça, para a expulsão de estrangeiro. Previsto no decreto que regulamenta o Estatuto do Estrangeiro.
O que significa dizer que não há contraditório? O investigado pode se fazer acompanhar pelo advogado, que não poderá interferir no trabalho do delegado.
O ofendido e o investigado podem formular requerimentos que serão atendidos ou não, a critério do delegado. Não é inconstitucional, pois o inquérito não se destina a aplicar sanção, mas tão somente a investigar.
c) Discricionário: O delegado produz as provas que quiser, ele dirige o inquérito da forma que ele quiser, claro não pode produzir provas ilícitas. O CPP não listou um procedimento para o inquérito.
Esta discricionariedade tem 2 exceções:
- quando houver requisições do MP ou do Juiz, só pode deixar de atentar se houver impossibilidade fática ou jurídica. Se o delegado não atender a requisição, a doutrina majoritária diz que não é crime de desobediência, pois ele está no rol dos crimes contra a administração pública, praticados por particular. O delegado é funcionário público, e está no exercício na função, logo, não pratica este crime. Se o delegado descumpre a ordem pode ser prevaricação (descumpre um dever funcional ou o faz em desacordo com a lei, para satisfazer interesse pessoal) art. 319 CP. E, se não for prevaricação, mas apenas incompetência mesmo?. Neste caso, não é crime e sim infração disciplinar. O juiz oficia a corregedoria de polícia. 
CESPE: entende que o delegado responde pelo crime de desobediência.
- Crimes que deixam vestígios/crimes não transeuntes: o delegado é obrigado a realizar o exame de corpo de delito. Ex. lesão corporal, estupro, homicídio etc. Crime que não deixa vestígio. Ex. crime contra a honra. 
Nos crimes que deixam vestígio e não foi feito exame de corpo de delito, por exemplo, caso Bruno, pode condenar? Sim, desde que existam outras provas, por exemplo, prova testemunhal art. 167 CPP. Não é somente a prova testemunhal. Exemplo: deram fim no corpo, mas aparece o sujeito praticando o ato numa gravação de uma câmera de segurança do prédio. 
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
d) Indisponível: art. 17 do CPP: Significa dizer que o delegado não pode arquivar o inquérito policial. Quem arquiva inquérito é JUIZ. Pode o delegado se recusar a instaurar o inquérito, quando um sujeito chega à delegacia trazendo uma notitia criminis? Quando o caso for atípico sim. Agora imagine um caso em que há uma excludente de ilicitude, o delegado não pode deixar de instaurar o inquérito.
Quando é caso de atipicidade formal o delegado pode deixar de instaurar o inquérito,mas se for atipicidade material? Na prática o delegado não instaura, porém doutrina majoritária afirma que não. Quem deve fazer juízo de valor sobre a atipicidade material é o juiz e não o delegado. Então, o delegado dever instaurar o inquérito policial e dar andamento ao mesmo.
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.
Em relação à recusa do delegado na instauração do inquérito, cabe recurso administrativo ao chefe de Polícia. Pode também ir direto ao MP ou ao Juiz, para que estes requisitem a instauração do inquérito.
e) Dispensável: Caso já existam elementos de informação, não é necessário o inquérito policial. 
Questão: Na prova de delegado do Rio caiu uma questão subjetiva que perguntava: Se o MP não tiver inquérito policial e nem peças de informação pode denunciar? Não.
g) Sigiloso: temos de diferenciar o sigilo interno e externo.
-> Sigilo externo: é o sigilo contra aqueles que não têm interesse nenhum no inquérito. Ex. imprensa, terceiros etc.
-> sigilo interno: é o sigilo em relação aos envolvidos na investigação. Para o Juiz e o MP nunca existe sigilo. Pode negar acesso ao investigado ou seu advogado? Sim. Súmula vinculante 14 – significa dizer que se a prova já foi documentada não pode negar acesso. A prova dever ter sido produzida e documentada. 
Ler a súmula 14 a contrário sensu – em relação aos documentos de prova não documentados, que está em produção não é dado acesso. Assim, o sujeito que teve seu telefone interceptado, cuja investigação está em curso, seu advogado pode ver o inquérito, menos a interceptação que está sendo produzida.
Diferença entre inquérito sigiloso e inquérito sob segredo de justiça: No inquérito sigiloso qualquer advogado pode ter acesso. O inquérito sob segredo de justiça só o advogado do investigado pode ter acesso. O segredo é decretado pelo Juiz.
STF Súmula Vinculante nº 14 - É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
g) Oficialidade: o inquérito é atribuição da policia judiciária, que é um órgão oficial do estado. (classificação que olha para o órgão)
h) Autoritariedade: é presidido por uma autoridade pública. (classificação que olha para o servidor público)
i) Oficiosidade: o delegado pode instaurar um inquérito policial de oficio. E esta oficiosidade só vale para os crimes de ação penal pública incondicionada.
Se o crime é de ação penal pública condicionada ou de ação penal privada, a instauração do inquérito depende de manifestação do ofendido.
7. INCOMUNICABILIDADE
Art. 21 do CPP diz que o Juiz pode decretar a incomunicabilidade por um prazo de até 3 dias. A doutrina amplamente majoritária diz que tal dispositivo não foi recepcionado pela CF/88.
A CF/88 dispôs que não haverá incomunicabilidade no estado de sitio, ou seja, não existe incomunicabilidade nem em caso de instabilidade constitucional, com muito mais razão não deve ser decretada em situação corriqueira de prisão.
Mesmo para aqueles que entendem que é possível a incomunicabilidade (Damásio de Jesus), esta não pode ser oposta ao advogado. Pode ser oposta à família.
8. INDICIAMENTO
Indiciado é o sujeito suspeito da prática do crime. É concentrar a investigação sobre determinada pessoa. O indiciamento é feito em que momento? Não há previsão legal a respeito do momento, a doutrina diz que o indiciamento pode se dar a qualquer tempo. 
A doutrina também utiliza a expressão desindiciamento.
9. VALOR PROBATÓRIO DOS ELEMENTOS COLHIDOS NO INQUÉRITO
O valor probatório é relativo. Significa dizer que a prova produzida no inquérito deve ser confirmada em juízo, pois no inquérito não há contraditório. 
Se a prova produzida no inquérito não é confirmada em juízo e se for a única prova apresentada, pode haver condenação? 
Até 2008 havia muita controvérsia sobre isto. Em 2008, o CPP foi alterado e passou a dizer que se a prova produzida durante a investigação, ainda que seja a única e não tenha sido confirmada em juízo pode servir para condenar, desde que seja uma prova:
- cautelar: É a marcada pelo periculum in mora, há probabilidade de perecimento. Ex. estupro, fez o exame de corpo de delito, pegou material genético que confirmou a autoria. É exame pericial. A prova cautelar não pode ser repetida, pois os vestígios desaparecem. Aqui o contraditório é postergado.
- antecipada: É aquela produzida pelo juiz art. 156, I, CPP, antes da ação penal, durante a investigação, quando a prova for relevante e urgente e o juiz observar os critérios de necessidade, adequação e proporcionalidade. Ex. só tem uma testemunha, ela é chave, ela quer depor, mas é doente e está em estado terminal. Não dá para aguardar para ouvir na fase de instrução, pois a testemunha pode ter morrido. Assim a testemunha será ouvida em juízo, com o promotor e o defensor do réu. Pode condenar com esta prova. Aqui o contraditório é real.
- irrepetível: É aquela que foi produzida durante a investigação e que por uma razão de força maior não pode ser confirmada em juízo. Ex. a testemunha foi ouvida na delegacia pelo delegado, saiu da delegacia e morreu atropelada. Essa prova pode servir para condenar. André B. Mendonça e o Professor entendem que essa prova é inconstitucional. Mas é entendimento minoritário. A jurisprudência não apreciou o tema.
10. PRAZOS PARA CONCLUSÁO DO INQUÉRITO.
- regra: réu solto 30 dias, prorrogável com autorização judicial ouvido o MP; preso 10 dias improrrogável. Neste caso haverá relaxamento da prisão por excesso de prazo;
- policia federal – Lei n. 5.010/66 – prazo 15 dias réu preso prorrogável uma vez, também por decisão judicial ouvido o MP; réu solto 30 é prorrogável e não há limitação;
- drogas – Lei n. 11.343/06 – preso 30 dias, 90 dias se solto, ambos os casos são duplicáveis; 
- Lei n. 1.521/51 crime contra a economia popular e saúde pública – prazo 10 dias seja o investigado preso ou solto, a lei não fala em prorrogação;
- CPPM – 20 dias se preso e 40 dias se solto.
A contagem do prazo para réu preso é regida pelo direito material; se o sujeito estiver solto é regida pelo direito processual. Qual é a diferença? Direito material inclui o dia do inicio.
No direito material desconsidera frações de dias.
11. ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
Não significa que ele descobriu algo, significa que ele vai produzir um relatório encerrando o inquérito policial. Fazer um resumo do que foi feito. O delegado não deve opinar, mas não existe qualquer nulidade se ele emitir juízo de valor.
Encerrado o inquérito ele deve mandar para o Juiz, conforme o CPP, entretanto, em algumas cidades há uma central de inquérito que é um órgão do MP, que faz a distribuição para os membros do MP.
O juiz ao receber o inquérito deve:
- se for crime de ação privada manda aguardar a manifestação do ofendido em secretaria;
- se for crime de ação penal pública o juiz manda para o MP.
O MP recebendo os autos do inquérito tem três alternativas:
Oferece denúncia, iniciando, portanto, a ação penal pública.
Se faltar alguma diligência, o MP, pelo CPP requer ao juiz que requisite ao delegado a diligência.
pode requerer ao juiz o arquivamento. 
Prazo de 5 dias se o investigado estiver preso e 15 se estiver solto. 
Consequências processuais do descumprimento do prazo do MP:
Se o investigado estiver preso, relaxamento da prisão;
O ofendido poderá ingressar com a ação penal privada subsidiária da pública.
Se houver pedido de arquivamento e o juiz concordar arquiva-se. 
Arquivado o inquérito é possível oferecer denúncia? Súmula 524 STF, não é possível oferecer denúncia sem novas provas. OBS: é pacífico no STF – esta súmula não se aplica em um caso, o arquivamento faz coisa julgada material. É quando o arquivamento ocorreu por atipicidade da conduta.
Súmula524 STF - Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.
Referências:
ARQUIVAMENTO INDIRETO
É o nome que se dá quando o juiz declina a competência. Ex. juiz estadual manda para juiz federal.
ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO
Não é acolhido pela doutrina majoritária, nem pela jurisprudência. Ex. tráfico e lavagem de capitais. O MP só denuncia por tráfico. 
DISCORDÂNCIA DO JUIZ QUANTO AO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO
- Justiça estadual – manda para o PJG art. 28 CPP
- justiça Federal – manda para a Câmara de Coordenação e Revisão Criminal do MPF LC 75/93 LOMPU
O procurador Geral de Justiça pode insistir no arquivamento, e neste caso o juiz está obrigado a arquivar. Pode oferecer denúncia, ou pode designar outro membro do MP para oferecer a denúncia.
O membro designado pelo PGJ não pode se recusar a oferecer a denúncia, pois ai ele não esta atuando em nome próprio, mas em nome do PGJ.
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