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PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO TERMO Nr: 6202011066/2018 SENTENÇA TIPO: A PROCESSO Nr: 0001445-22.2018.4.03.6202 AUTUADO EM 03/07/2018 ASSUNTO: 040102 - APOSENTADORIA POR IDADE (ART. 48/51) - BENEF. EM ESPÉCIE/CONCESSÃO/CONVERSÃO/RESTABELECIMENTO/COMPLEMENTAÇÃO CLASSE: 1 - PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL AUTOR: NILO GARCIA COSTA ADVOGADO(A)/DEFENSOR(A) PÚBLICO(A): MS016436 - WAGNER BATISTA DA SILVA RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - I.N.S.S. (PREVID) PROCURADOR(A)/REPRESENTANTE: DISTRIBUIÇÃO ORDINÁRIA POR SORTEIO ELETRÔNICO EM 03/07/2018 18:57:11 SENTENÇA DATA: 21/09/2018 LOCAL: Juizado Especial Federal Cível Dourados, SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE DOURADOS, à Rua Ponta Porã, 1875, Dourados/MS. <#Vistos etc. Trata-se de ação que tem por objeto a concessão do benefício de aposentadoria por idade rural, mediante reconhecimento de atividade rurícola, com o pagamento das parcelas vencidas acrescidas de correção monetária e de juros moratórios. Dispensado o relatório, nos termos do art. 38, da Lei n. 9.099/1995, c/c art. 1º, da Lei n. 10.259/2001, passo ao julgamento do feito. Preliminarmente, não há que se falar em prescrição, eis que entre a data do requerimento administrativo e o ajuizamento da ação não decorreu o prazo de cinco anos. No mérito, o benefício de aposentadoria por idade decorre do preceito contido no art. 201, I, da Constituição da República/1988, visando dar cobertura ao evento idade avançada. Para a concessão de aposentadoria por idade, o requerente deve implementar as seguintes condições: 1) possuir qualidade de segurado; 2) cumprir o prazo de carência; 3) contar com 60 (sessenta) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos, se homem, havendo redução em 05 (cinco) anos, caso se trate de trabalhador rural. Tais requisitos constam do art. 48 da Lei n. 8.213/1991 e do art. 51 do Decreto n. 3.048/1999. Quanto aos inscritos junto ao Regime Geral da Previdência Social antes de 24/07/1991, o período de atividade rural correspondente ao prazo de carência deverá atender à tabela progressiva do art. 142, da Lei n. 8.213/1991. O §1º do art. 102, do mesmo diploma, estabelece que eventual perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria quando preenchidos todos os requisitos, de acordo com a legislação vigente à época em que estes requisitos foram atendidos. 2018/620200058553-67844-JEF Assinado digitalmente por: LEO FRANCISCO GIFFONI:10521 Documento Nº: 2018/620200058553-67844 Consulte autenticidade em: http://web.trf3.jus.br/autenticacaojefms Nos termos da Súmula 54 da Turma Nacional de Uniformização – TNU: “Para a concessão de aposentadoria por idade de trabalhador rural, o tempo de exercício de atividade equivalente à carência deve ser aferido no período imediatamente anterior ao requerimento administrativo ou à data do implemento da idade mínima”. Nesse sentido: “É assegurado o benefício da aposentadoria por idade aos trabalhadores rurais, na forma da Lei n. 8.213/91, ao segurado que completar 60 (sessenta) anos de idade, se homem ou 55 (cinquenta e cinco) anos, se mulher mediante a comprovação do exercício da atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período equivalente à carência exigida, nos termos do art. 26, III, e art. 142 do referido texto legal. A autora não se encontrava na condição de trabalhadora rural em regime de economia familiar quando do implemento do requisito etário, sendo de rigor a não concessão do benefício. Honorários advocatícios majorados ante a sucumbência recursal, observando-se o limite legal, nos termos do §§ 2º e 11 do art. 85 do CPC/2015, suspensa sua exigibilidade, por ser a parte autora beneficiária da assistência judiciária gratuita, nos termos dos §§2º e 3º do art. 98 do CPC” (TRF3, Apelação Cível 0002308-33.2018.4.03.9999, 04/04/2018). No caso de segurado especial, o exercício por curtos períodos de trabalho urbano intercalados com o serviço rural não descaracteriza sua condição, especialmente porque a Lei 11.718/2008 alterou a LBPS para prever que durante a entressafra o segurado especial pode trabalhar em outra atividade por até 120 (cento e vinte) dias no ano, sem perder a filiação. Não é outro o entendimento da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, que na Súmula 46 estipula que “o exercício de atividade urbana intercalada não impede a concessão de benefício previdenciário de trabalhador rural, condição que deve ser analisada no caso concreto”. No que tange ao termo inicial do exercício da atividade campesina, a jurisprudência está consolidada no sentido de que é admissível a contagem do trabalho rurícola a partir dos doze anos de idade. Não há falar em violação ao disposto no art. 7º, XXXIII, da Constituição da República/1988, pois tal norma tem finalidade protetiva, com o intuito de coibir o trabalho infantil, não podendo ser utilizada como restrição aos direitos previdenciários. O art. 55, §3º, da Lei n. 8.213/1991, exige início de prova material para a comprovação do tempo de serviço urbano ou rural, não admitindo prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito. O exercício de atividade rural pode ser comprovado por quaisquer dos documentos enumerados no art. 106, da Lei n. 8.213/1991, com redação dada pela Lei n. 11.718/2008, quais sejam, contrato individual de trabalho ou carteira de trabalho e previdência social; contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural; declaração do sindicato de trabalhadores homologada pelo INSS; comprovante de cadastro do INCRA, no caso de produtores em regime de economia familiar; bloco de notas do produtor rural; notas fiscais de entrada de mercadorias emitidas pela empresa adquirente da produção, com indicação do segurado como vendedor ou consignante; comprovantes de recolhimento de contribuição social decorrentes da comercialização da produção, cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de produção rural; e/ou licença de ocupação ou permissão outorgada pelo INCRA. Entretanto, tal rol não é taxativo, mas meramente exemplificativo, sendo admitido qualquer início de prova material do exercício da atividade rural. Assim, são aceitos documentos dotados de fé pública, com dados colhidos do registro civil, como certidão de casamento, de nascimento de filhos, assentos de óbito, documentos pessoais onde conste a qualificação profissional de rurícola, dentre outros. Os documentos hábeis à comprovação do exercício de atividade rural podem ter sido emitidos em nome do interessado, de familiares ou de terceiros, o que se justifica pela dificuldade encontrada pelos trabalhadores do campo para provar o efetivo desempenho de sua atividade. Em se tratando de documentos em nome de terceiros, devem ser corroborados por prova testemunhal idônea e consistente. Não é exigida a apresentação de documentos contemporâneos para cada ano que o requerente pretenda ver reconhecido como de exercício de atividade rurícola. 2018/620200058553-67844-JEF Assinado digitalmente por: LEO FRANCISCO GIFFONI:10521 Documento Nº: 2018/620200058553-67844 Consulte autenticidade em: http://web.trf3.jus.br/autenticacaojefms A Lei n. 8.213/1991, com as alterações da Lei n. 11.718/2008, passou a considerar como segurado especial a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente, ou, em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, exerça atividades de produtor, na condição de proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro, meeiro, comodatário ou arrendatário, explorando atividade agropecuária, de seringueiro, de extrativista vegetal ou de pescador artesanal. Também é considerado segurado especial o cônjuge ou companheiro do segurado,bem como o filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade, ou a este equiparado, que comprovadamente trabalhe com o grupo familiar respectivo, tendo participação ativa nas atividades rurais. O regime de economia familiar é aquele em que o trabalho dos membros da família é indispensável à sua mantença e ao seu desenvolvimento socioeconômico, sendo exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem contar com empregados permanentes. Tal regime restará descaracterizado se constatado: 1) exploração de imóvel rural com área superior a 04 módulos fiscais; 2) presença de empregados permanentes; 3) utilização de terceiros durante período superior a 02 (dois) meses por ano; 4) utilização de mais de 120 (cento e vinte) pessoas por dia para auxiliar nas atividades; 5) outorga, por meio de contrato escrito de parceria, meação ou comodato de mais de 50% (cinquenta por cento) da área do imóvel; e 6) exploração de atividade turística por período superior a 120 (cento e vinte) dias, dentre outros. A jurisprudência tem afastado o regime de economia familiar quando constatada produção de elevada monta e uso de mecanização (Superior Tribunal de Justiça – Edcl no Recurso Especial 1.639.107 – Rel. Ministra Assuete Magalhães – 04/12/2017). Nos termos da Súmula 149 do Superior Tribunal de Justiça: “ A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção de benefício previdenciário”. Para a concessão da aposentadoria rural, são aceitos, como início de prova material, os documentos em nome do cônjuge que o qualificam como lavrador, aliados à robusta prova testemunhal (REsp 1.304.479/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 19/12/2012, recurso submetido ao rito do art. 543-C do CPC ). No caso concreto sob apreciação, a parte autora juntou os seguintes documentos: 1) Declaração de exercício de atividade rural do autor desde 1999 (fl. 09/11 do Evento 02); 2) Certificado de cadastro de imóvel rural, emissão 2006/2007/2008/2009, propriedade de 31,4 hectares, Rodovia Macaúba, Porto Vilma, Guassu, Dourados (fl. 12 do Evento 02); 3) Certidão de casamento de Nilo Garcia Costa (autor) e Josete Neves Lopes, sendo o primeiro qualificado pecuarista, ato celebrado em 24/04/1976, com averbação de divórcio em 10/03/2004 (fl. 13 do Evento 02); 4) Certidão cartorária de que o autor possui área e 31 hectares, Sítio Matinha, Distrito de Guassu, Dourados, conforme matrícula 72.828, datada de 19/08/2004, bem como consta que o autor adquiriu 75 hectares, matriculada sob o número 55.698 em 15/08/1988 (fl. 14 do Evento 02). Em seu depoimento pessoal, o autor disse que trabalha na roça desde os dez anos de idade. Começou a trabalhar em Nova Andradina. A propriedade era da família do autor. Ficou na região de 1970. Após, veio morar em Dourados, de onde não mais saiu. O autor foi casado até 2004. O autor teve um casal de filhos. Não lembra a data de nascimento dos filhos. O autor trabalhava para terceiros. O autor era campeiro. O autor era diarista rural, não possuía vínculo para uma pessoa só. Trabalhou para o pai do depoente Danilo Brandão. Trabalhava com gado, trator, lavoura de milho. O autor manejava gado, vacinava-o. O autor possui pequena propriedade, onde também trabalha. Indagado sobre a qualificação de pecuarista em sua certidão de casamento, disse que não possuía muitas cabeças de gado. A propriedade do autor é de trinta e um hectares. A 2018/620200058553-67844-JEF Assinado digitalmente por: LEO FRANCISCO GIFFONI:10521 Documento Nº: 2018/620200058553-67844 Consulte autenticidade em: http://web.trf3.jus.br/autenticacaojefms propriedade de setenta e cinco hectares foi repassada à ex-esposa. Não teve empregados. Não teve maquinário. Emprestava trator do vizinho. Atualmente, trabalha na mesma propriedade. A produção é vendida. Atualmente, planta milho e soja. Na época do divórcio, a ex-esposa ainda não trabalhava para o Estado. Os depoentes Venancio e Olenir são vizinhos. A testemunha Venancio Bovolato disse que conhece o autor desde 1975. O autor morava na mesma região que o depoente. O autor chegou à região antes. O autor trabalhava na terra do pai dele. Desde 1975 o autor trabalha nas lides rurais. O autor trabalha na propriedade dele. Morava a dez quilômetros do autor. Via o autor com frequência. Presenciou o autor trabalhando com arroz na propriedade dele. Não sabe se o autor trabalhou de diarista. Não sabe se o autor teve outra propriedade. Para chegar à propriedade do depoente tinha que passar pela propriedade do autor, sendo que via o autor trabalhando. Não comprou produtos do autor. A testemunha Olenir Lima de Almeida disse que conhece o autor da década de 1980 da região. Passava em frente onde o autor morava. O autor possuía gado, porco, lavoura de milho. Presenciou o autor trabalhando na roça. Não sabe se o autor trabalhou para outra pessoa. O depoente possui lavoura vizinha à da dele. Não há maquinário. A propriedade do autor possui trinta hectares (Sítio Matinha). O autor planta milho, abóbora e mandioca, bem como possui gado. Não sabe se o autor possui outra fonte de renda. A ex-esposa trabalhava na casa dele. O autor teve filhos, os quais trabalharam com ele. O autor mora sozinho. O autor não faz “safrinha”. Não sabe se o autor possui outra propriedade. A testemunha Danilo Carvalho Brandão disse que conhece o autor há muitos anos (década de 1990) do Porto Vilma, Dourados (região do Guaçu). O autor sempre laborou na área rural. O autor saiu da região durante um tempo, mas foi exercer atividade rural. O autor planta arroz, milho e feijão. O autor possui uma chácara. A produção é para consumo. Possui galinha e porco. O pai do depoente “fez cerca” para o pai do depoente. A principal atividade do autor é realizada na propriedade dele (Sítio Matinha). O autor foi casado. Não viu o autor trabalhando em outra atividade. Atualmente, o autor planta arroz, feijão e milho. Pela prova documental e testemunhal, reputo que o requerente trabalhou nas lides rurais desde 15/08/1988. Havendo a implementação dos requisitos idade e carência, ainda que não concomitantemente, e independente da ordem de cumprimento de tais requisitos, a concessão do benefício de aposentadoria por idade híbrida, desde a data do requerimento administrativo, é medida que se impõe. Antes da Lei 11.960/2009, a correção monetária e os juros de mora devem obedecer ao Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal. Em período posterior à Lei n. 11.960/2009, juros de mora com base no índice de remuneração da caderneta de poupança e correção monetária pelo INPC (Precedente: STJ, Resp 1.495.146-MG, 22/02/2018). Ante o exposto e por tudo mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE o pedido, reconhecendo o exercício da atividade rural, e, consequentemente, condenando o INSS à concessão do benefício de aposentadoria por idade rural, desde a data do requerimento administrativo, DER 24/10/2017, DIP 01/09/2018, motivo pelo qual extingo o feito, com resolução de mérito, nos termos do artigo 487, I, do Código de Processo Civil. Condeno o INSS, ainda, ao a DIB e a véspera da pagamento das prestações vencidas entre DIP, cujo montante será indicado em planilha a ser elaborada pela Seção de Cálculos deste Juizado, com acréscimo de juros e de correção monetária nos termos da fundamentação, descontados os valores eventualmente recebidos através de outro(s) benefício(s). Defiro o requerimento de tutela de urgência, oficie-se à APSADJ/INSS para a implantação do benefício no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da intimação do ofício, sob pena de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais). Após, expeça-se ofício requisitório ou precatório. 2018/620200058553-67844-JEF Assinado digitalmente por: LEO FRANCISCO GIFFONI:10521 Documento Nº: 2018/620200058553-67844 Consulte autenticidadeem: http://web.trf3.jus.br/autenticacaojefms Defiro o pedido de assistência judiciária gratuita, tendo em vista a hipossuficiência declarada. Sem custas e honorários nesta instância, a teor do art. 1º da Lei n. 10.259/2001, c/c art. 55, da Lei n. 9.099/1995. Nada mais sendo requerido, proceda-se à baixa e arquivamento destes autos. Registro eletrônico. Publique-se. Intimem-se as partes. #> ****************************************************************** SÚMULA PROCESSO: 0001445-22.2018.4.03.6202 AUTOR: NILO GARCIA COSTA ASSUNTO : 040102 - APOSENTADORIA POR IDADE (ART. 48/51) - BENEF. EM ESPÉCIE/CONCESSÃO/CONVERSÃO/RESTABELECIMENTO/COMPLEMENTAÇÃO NB: 1619862449 (DIB ) CPF: 17422841168 NOME DA MÃE: GENI COSTA LEMES Nº do PIS/PASEP: ENDEREÇO: FAZENDA FAZ. MATINHA GUASSU, 0 - - ZONA RURAL DOURADOS/MS - CEP 79830001 DATA DO AJUIZAMENTO: 03/07/2018 DATA DA CITAÇÃO: 06/08/2018 ****************************************************************** LEO FRANCISCO GIFFONI Juiz(a) Federal 2018/620200058553-67844-JEF Assinado digitalmente por: LEO FRANCISCO GIFFONI:10521 Documento Nº: 2018/620200058553-67844 Consulte autenticidade em: http://web.trf3.jus.br/autenticacaojefms
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