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Prova LitBras I Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Castro Alves

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Universidade Federal do Rio de Janeiro 
Faculdade de Letras 
Literatura Brasileira I 
 
Encontro Escrito de Literatura Brasileira I 
 
Questão 1: 
Em “Desenganos da vida humana metaforicamente”, de Gregório de Matos, o tempo 
aparece na efemeridade da vida, utilizada para questionar a vaidade. O autor se utiliza de 
figuras quiasmáticas para construir uma poesia filosófica, que provoca a reflexão. A vaidade 
aparece como a rosa que abre pela manhã, a planta que é favorecida pela primavera e a 
nau com sua grandeza, que com o passar do tempo se deparam com a tarde (o murchar da 
rosa), o ferro (o corte da planta) e a penha (o naufrágio da nau). Dessa forma, através da 
passagem inevitável do tempo, o eu-lírico mostra a Fábio a inutilidade da vaidade. 
Na Lira XIV da primeira parte de ​Marília de Dirceu​, Tomás Antônio Gonzaga utiliza a 
passagem do tempo para justificar o ​carpe diem (Aproveite-se o tempo, antes que faça/ O 
estrago de roubar ao corpo as forças/ E ao semblante a graça!”). Em seus versos ele 
sempre alerta Marília, sua amada, de que que a vida deve ser aproveitada a todo momento, 
pois em breve o tempo irá roubar-lhes a juventude. O poema é construído em uma 
atmosfera bucólica e harmônica, onde a passagem do tempo segue apenas a ordem natural 
das coisas, sendo a mesma tanto para Dirceu e Marília quanto para um cordeiro e seu 
filhote. 
Em “Recordação”, Gonçalves Dias apresenta o tempo em forma de nostalgia, como uma 
maneira de fugir da realidade. O poema, melancólico e sentimentalista (características do 
romantismo), é dividido em dois momentos: presente e memória, onde a memória carrega 
uma possibilidade de futuro que não se concretizou. O centro do sofrimento do eu-lírico é a 
ausência de sua amada, que ele não encontrará mais, e, por isso, a revisita em suas 
lembranças em situações de sofrimento. 
 
Questão 3: 
Os dois textos apresentados na questão três trabalham com o universo da colonização 
e as questões pelas quais passavam os escravizados. Apesar de se enquadrarem dentro do 
movimento romântico, apresentando a cor local, a ânsia por liberdade e críticas sociais - em 
especial à colonização -, o assunto foi abordado de maneiras diferentes pelos dois autores. 
Gonçalves Dias, em “A escrava”, traz à tona dois elementos muito utilizados por ele, 
inclusive em seu poema mais famoso, “A canção do exílio”: a saudade e o nacionalismo. Ao 
dar voz à uma escrava, Alsgá - eu-lírico do poema- , ele expõe as belezas da terra do 
Congo, utilizando recursos conhecidos dentro do romantismo, como a presença da noite 
como elemento positivo (“Oh! dias de sol formoso!/ Oh! noites d’almo luar!”), a fusão entre a 
imagem da mulher e da natureza (Quando a noite sobre a terra/ Desenrolava o seu véu,...) 
e as memórias de um amor, inclusive com relações sexuais que poderiam ser 
concretizadas, saindo do campo da idealização (“E eu respondia animosa:/ - Irei contigo. 
onde fores! -/ E tremendo e palpitando/ Me cingia aos meus amores.”). O poema é uma 
exaltação ao Congo e tem presente o sentimento de nostalgia, sendo o maior desejo de 
Alsgá morrer em sua terra natal. 
Castro Alves, em “A orfã na sepultura”, utiliza uma abordagem mais sentimentalista e 
explora a dor de forma mais concreta. O poema é envolto em melancolia; aqui o autor 
retrata a noite como elemento negativo, que carrega uma atmosfera de medo. A mulher, 
escrava à beira da morte, é retratada como ser divino (“Porque dormindo sorriste/ Como 
uma santa no altar.”). A filha, que assistiu o processo de morte da mãe, expõe sua agonia 
entre sentimentos de tristeza e culpa, e, ao final do poema, expõe mais um traço do 
romantismo: o pessimismo, ao desejar a morte como última solução (“Sacode a terra… 
desperta!.../ Ou dá-me a mesma coberta’”).

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