Buscar

PROCESSO EXECUÇÃOPOR QUANTIA CERTA PENHORA - 2

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

2019 - 05 - 31 
Curso Avançado
de Processo Civil
– Volume 3 -
Edição 2017
REVISTA DOS TRIBUNAIS
This PDF Contains
CAPÍTULO 8. PROCESSO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA: PENHORA
2019 - 05 - 31 
Curso Avançado de Processo Civil – Volume 3 - Edição 2017
PARTE II - PROCESSO DE EXECUÇÃO
CAPÍTULO 8. PROCESSO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA: PENHORA
Capítulo 8. Processo de Execução por Quantia Certa: Penhora
Sumário: 8.1 Legitimidade para a indicação do bem a penhorar: 8.1.1 O direito anterior; 8.1.2
Indicação de bens pelo credor; 8.1.3 Ordem ao executado para que apresente relação de bens; 8.1.4
Participação do devedor na definição do bem; 8.1.5 Pedido do devedor de substituição do bem
penhorado; 8.1.6 Recorribilidade; 8.1.7 Conclusão do tópico – 8.2 Parâmetros legais da penhora:
8.2.1 Ordem de preferência de bens a penhorar; 8.2.2 Preferência por bens livres de ônus e
situados no foro da execução; 8.2.3 Preferência por bens de maior liquidez; 8.2.4 Bem objeto de
garantia legal ou contratual ou de direito de retenção; 8.2.5 Suficiência do valor dos bens
penhorados; 8.2.6 Significância dos bens penhorados; 8.2.7 Penhorabilidade dos bens – 8.3
Finalidades e efeitos da penhora: 8.3.1 Vinculação do bem penhorado à execução; 8.3.2
Conservação do bem penhorado; 8.3.3 Atribuição de preferência -8.4 Conceito e natureza da
penhora: 8.4.1 Natureza pública; 8.4.2 Caráter não-contratual; 8.4.3 Natureza executiva – 8.5
Objeto e extensão da penhora – 8.6 Procedimento e aperfeiçoamento da penhora: 8.6.1 Pesquisa de
bens, concretização e documentação; 8.6.2 Apreensão e depósito do bem (art. 839); 8.6.3 Inscrição
da penhora no registro do bem; 8.6.4 Intimação da penhora – 8.7 Penhora de bens em outra
comarca – 8.8 Modificações da penhora – 8.9 Substituição do bem penhorado a pedido do devedor:
8.9.1 Forma e pressupostos do pedido de substituição; 8.9.2 Procedimento – 8.10 Hipóteses
especiais de penhora: 8.10.1 Penhora de crédito; 8.10.2 Penhora “no rosto dos autos”; 8.10.3
Penhora das quotas ou das ações de sociedades personificadas; 8.10.4 Penhora de empresa ou de
outros bens que ensejem administração; 8.10.5 Penhora de edifícios em construção em regime de
incorporação imobiliária; 8.10.6 Penhora de empresas concessionárias ou permissionárias de
serviço público; 8.10.7 Penhora de navios e aeronaves; 8.10.8 Penhora de frutos e rendimentos de
coisa móvel ou imóvel; 8.10.9 Penhora de faturamento de empresa.
8.1. Legitimidade para a indicação do bem a penhorar
8.1.1. O direito anterior
No sistema original do Código anterior, uma vez citado, o devedor, se não fosse cumprir
espontaneamente a obrigação, tinha o direito de nomear bens à penhora. Abria-se a partir da
citação um prazo específico para que ele exercesse essa faculdade. Tal modelo era complacente
com o executado: embora ele insistisse em não cumprir o mandado executivo, permitia-se que ele
escolhesse o bem que se destinaria à obtenção do dinheiro que satisfaria o crédito.
As Leis 11.232/2005 e 11.382/2006 alteraram essa sistemática, extinguindo, a princípio, a
interferência do executado sobre a definição do bem a penhorar. Transferiu-se a faculdade de
indicação ao exequente. Apenas depois de já feita a penhora conferia-se ao executado a
possibilidade de fundamentadamente requerer a substituição do bem penhorado.
8.1.2. Indicação de bens pelo credor
No Código de 2015, manteve-se a regra geral de não nomeação de bens pelo executado. Como
visto, o executado é citado para pagar em três dias e para embargar em quinze dias (n. 7.6, acima).
Não se lhe confere um prazo para nomear bens a penhora.
Não havendo pagamentos em três dias, o oficial de justiça promoverá diretamente à penhora –
que, em princípio, recairá sobre bens indicados pelo credor já na inicial executiva (art. 798, II, c, e
art. 829, § 2.º). Tal providência será tomada de pronto pelo oficial de justiça, assim que
transcorrido o prazo de três dias – independentemente de nova ordem do juiz. O próprio mandado
para citação contém desde logo a autorização para penhora e avaliação dos bens penhorados.
8.1.3. Ordem ao executado para que apresente relação de bens
Eventualmente, é difícil para o credor e para o oficial de justiça identificar bens para nomear a
penhora. Então, o juiz pode, de ofício ou por provocação do credor, intimar o devedor para que ele
indique quais são seus bens penhoráveis, sua localização, valor etc. – sob pena de, não o fazendo,
atentar contra a dignidade da justiça (art. 774, V – v. n. 5.3.1.1 e n. 7.6).
Mas reitere-se que isso nada tem a ver com a antiga nomeação de bens pelo devedor, que,
observados determinados limites, consistia em direito potestativo deste de definir o bem sobre o
qual recairia a constrição executiva. Na hipótese do art. 774, V, tem-se apenas um dever do
executado de colaborar com a jurisdição, identificando detalhadamente todos os seus bens que
podem responder pela dívida.
8.1.4. Participação do devedor na definição do bem
O § 2º do art. 829 tem previsão que atenua a diretriz pela qual o executado não interfere na
definição do bem a penhorar. Permite-se que o executado, espontaneamente, sugira bem à
penhora, mediante a demonstração de que a constrição por ele sugerida é menos onerosa do que
aquela proposta pelo exequente e que não trará prejuízo a esse. Nesse caso, não há imposição de
que o órgão judicial automaticamente adote a indicação feita pelo executado. Caber-lhe-á,
respeitando o contraditório (CF, art. 5º, LV; CPC/2015, arts. 9º e 10), examinar os fundamentos
apresentados pelas partes e definir qual indicação é mais consentânea com os parâmetros legais
da penhora (adiante examinados). Será ônus do executado, se ele pretende que sua indicação
tenha alguma chance de ser acolhida, fazê-la do modo mais fundamentado e documentado
possível, apresentando desde logo toda a documentação do bem, local em que se encontra, seu
valor preciso – e assim por diante.
A rigor, essa possibilidade de participação do executado, não constitui propriamente uma total
novidade em comparação com o sistema instituído pelas Leis 11.232/2005 e 11.382/2006. Trata-se
apenas explicitação da incidência da garantia do contraditório na execução. Conforme
apontávamos ainda sob a égide daquelas leis, a circunstância de o devedor não deter o direito à
nomeação inicial do bem à penhora não significa que ele não possa, no exercício do contraditório,
controlar a legitimidade da penhora. Pode discuti-la, apontando eventual defeito, e sugerir outro
bem. Poderá demonstrar, por exemplo, que o bem é impenhorável. Ainda exemplificativamente,
ser-lhe-á dado também apontar qualquer dos motivos enumerados nos incisos I a V do art. 848
(que se aplicam a ambas as partes, e não só ao credor). Terá igualmente o direito de demonstrar
que a indicação feita pelo credor não seguiu a ordem legal de preferência do art. 835. Tais defeitos
podem ser arguidos em embargos à execução (art. 917, II). Mas, por dizerem respeito estritamente
à validade dos atos executivos, podem ser conhecidos de ofício e, portanto, arguidos na própria
execução, e mesmo antes da ocorrência da penhora (v. n. 5.3.3, acima e cap. 20, adiante). Assim, a
menção a “indicação” de bem para penhora pelo devedor, no art. 829, § 2º, insere-se nesse
contexto.
8.1.5. Pedido do devedor de substituição do bem penhorado
Por fim, além dessa possibilidade de o devedor, desde o início do processo, pleitear que a
penhora recaia sobre outros bens que não aqueles que o credor tenha indicado, o devedor tem
ainda a faculdade de obter a substituição do bem inicialmente penhorado (art. 847 do CPC/2015).
No prazo de dez dias da intimação da penhora, o devedor pode requerer que se substitua o bem
penhorado por outro, cabendo-lhe demonstrar que a substituição não prejudicará de modo
nenhum o credor e será menos onerosa para ele, executado. Adiante, essa possibilidade de
substituição será examinada ao lado das demais hipóteses
de modificação da penhora (n. 8.7).
8.1.6. Recorribilidade
O eventual pronunciamento do juiz sobre a definição ou substituição do bem a ser penhorado
constitui decisão interlocutória (art. 203, § 2º), contra a qual caberá agravo de instrumento (art.
1.015, par. ún.). Diferentemente do que se dá no processo de conhecimento, na execução – seja ela
processo autônomo ou fase de cumprimento – vigora a plena recorribilidade imediata das decisões
interlocutórias, pelas razões já expostas no n. 25.1, letra l, do vol. 2.
8.1.7. Conclusão do tópico
Em suma, cotejando-se o sistema atual com aquele que originalmente estava previsto no Código
anterior, nota-se que houve uma espécie de redistribuição do ônus de demonstrar a adequação e
suficiência do bem para a penhora. Antes, quando o devedor nomeava, era ônus do credor
justificar sua impugnação à nomeação feita. Agora, é ônus do executado comprovar – e
cabalmente – que o bem por ele sugerido à penhora implicar-lhe-á menor sacrifício e não trará
prejuízo nenhum ao credor.
8.2. Parâmetros legais da penhora
A penhora – seja aquela feita originalmente, seja aquela derivada de pedido de substituição –
submete-se aos parâmetros a seguir expostos.
8.2.1. Ordem de preferência de bens a penhorar
Cabe observar a gradação legal dos bens sobre os quais preferencialmente deve recair a
penhora (art. 835, I a XIII; art. 848, I). Dá-se preferência máxima à penhora de dinheiro e, na
sequência, de bens que, na ótica do legislador, seriam mais fáceis de se alienar. Eis a ordem
estabelecida no art. 835: (I) dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira; (II) títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação em
mercado; (III) títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; (IV) veículos de via terrestre;
(V) bens imóveis; (VI) bens móveis em geral; (VII) semoventes; (VIII) navios e aeronaves; (IX) ações
e quotas de sociedades simples e empresárias; (X) percentual do faturamento de empresa
devedora; (XI) pedras e metais preciosos; (XII) direitos aquisitivos derivados de promessa de
compra e venda e de alienação fiduciária em garantia; (XIII) outros direitos.
A ordem de gradação é estabelecida pelo legislador tomando em conta a realidade econômica
de sua época. Isso explica porque, nas sucessivas leis que disciplinam o assunto, tal ordem é
frequentemente alterada. Na redação original do CPC/1973, pedras e metais preciosos eram o
segundo grupo de bens na ordem de gradação. A Lei 11.382/2006 remeteu-os ao oitavo posto.
Agora, no CPC/2015, ocupam a décima-primeira posição. Isso deve-se à circunstância de que tais
bens já não têm a mesma atratividade e liquidez que tinham no passado. Já os títulos da dívida
pública com cotação em mercado integravam o terceiro grupo na ordem de preferência,
originalmente, no CPC/1973. Foram deslocados, pela Lei 11.382/2006, para o nono lugar. No
CPC/2015, passam a ocupar a segunda posição, atrás apenas de dinheiro em espécie – o que
decorre da atual razoável facilidade de alienação desses títulos no mercado.
A necessidade de consideração da realidade econômica, atinente à facilidade de alienação do
bem, é um dos fatores que justifica o caráter não-absoluto, não integralmente rígido da gradação
estabelecida no art. 835 – conforme explicita o seu § 1º. Alterações estruturais ou conjunturais no
cenário econômico podem fazer com que bens que antes tinham alta liquidez deixem de a ter – e
vice-versa. Cabe ao juiz tomar em conta o cenário existente no momento da realização da penhora
e suas perspectivas de alteração a médio prazo. Por vezes, é o próprio credor quem considera mais
conveniente a inobservância da gradação legal: por exemplo, determinadas ações de sociedades
empresárias podem ser muito mais fáceis de alienar judicialmente do que bens imóveis, que lhe
antecedem, contudo, na ordem legal do art. 835. Nesse sentido, aliás, a ordem de preferência do
art. 835 deve ser conjugada com a regra do art. 848, V, que permite à parte requerer até a
substituição do bem penhorado se ele for de baixa liquidez (v. a seguir).
Além disso, procura-se privilegiar a eficiência da execução, mas sem o desnecessário sacrifício
do executado (art. 805). Por isso também, como já destacado no n. 5.3.4, tal ordem não é rígida e
absoluta. Eventualmente, admitir-se-á que a penhora recaia sobre bem em posição posterior na
ordem de preferência, pois seria excessivamente oneroso para o devedor, sem qualquer
excepcional vantagem para o sucesso da execução, se a constrição atingisse bens melhor
posicionados (ex.: penhora de direito de crédito, em vez da de bens móveis que compõem o
estoque da empresa e têm de ser vendidos para que ela mantenha capital de giro e não quebre).
Mas se a segunda parte do § 1º do art. 835 consagra a flexibilidade da ordem de gradação, sua
primeira parte estabelece uma suposta absoluta preferência pela penhora em dinheiro. Pela letra
da lei, se fosse localizado dinheiro do devedor para penhorar, nada justificaria a penhora de outro
bem. Contudo, mesmo nesse caso impõe-se certo juízo de ponderação, se houver um patente
conflito entre princípios fundamentais. O tema já foi examinado, no n. 5.3.4 – ao qual se remete.
Além disso, nada impede que o próprio credor opte pela penhora de outro bem – opção essa que
deverá ser acolhida pelo juiz, se não implicar desnecessário sacrifício ao devedor. Em terceiro
lugar, há casos em que um bem é objeto de garantia do crédito, por força de negócio jurídico ou
imposição legal ou judicial, ou está em posse do credor, no legítimo exercício de direito de
retenção. Nessas hipóteses, em princípio, a penhora deverá recair sobre tal bem, e não sobre
dinheiro (ver n. 8.2.4, abaixo). Por fim, o próprio § 2º do art. 835 equipara a dinheiro, para fins de
penhora, a fiança bancária e o seguro garantia judicial, em valor equivalente a pelo menos 130%
da dívida. Se uma dessas garantias for ofertada pelo devedor, também não haverá penhora de
dinheiro. Por tais razões, e a despeito do art. 835, § 1º, primeira parte, não está de todo superado o
enunciado 417 da Súmula do STJ: “Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem de
nomeação de bens não tem caráter absoluto”.
8.2.2. Preferência por bens livres de ônus e situados no foro da execução
A lei estabelece ainda preferência por bens desembaraçados de ônus (art. 848, IV) e situados na
comarca ou seção judiciária em que tramita a execução (art. 848, III). Também essas exigências
tomam em conta o princípio da máxima utilidade, e, pelos mesmos motivos que o requisito
anterior, não são absolutas e inflexíveis.
8.2.3. Preferência por bens de maior liquidez
Têm também preferência os bens de maior liquidez, isso é, que possam ser alienados de modo
relativamente fácil (art. 848, V). Além da consideração da ordem estabelecida no art. 835, a qual foi
formulada pelo legislador tendo em vista inclusive a liquidez, esse fator deve ser também tomado
em conta autonomamente. Cabe conjugar as duas regras.
8.2.4. Bem objeto de garantia legal ou contratual ou de direito de retenção
Em princípio, deve-se penhorar o bem que, por lei, contrato ou ato judicial, foi destinado a
assegurar a satisfação da dívida (arts. 835, § 3º, e 848, II).
É o que se passa, por exemplo, quando a dívida for dotada de garantia real (anticrese, penhor,
hipoteca – podendo essa ser contratual, legal ou judiciária) ou mesmo quando houver sido
estabelecido um negócio processual atípico (art. 190) definindo de antemão o bem que seria
primordialmente penhorado. Nesse caso, em princípio, nem sequer se concede ao devedor a
faculdade de pleitear substituição por outro bem: “a penhora recairá sobre a coisa dada em
garantia” (art. 835, § 3.º).
É também o que se dá no caso em que o credor legitimamente exerceu direito de retenção de
bem do devedor (ex.: CC/2002, arts. 571, par. ún.; 578; 644; 681; 708; 742; 1.219 etc.): deverá
primeiro
penhorar esse bem, e não outro (art. 793).
Mas há exceções:
(1.ª) em caso de perecimento do bem objeto da garantia (exemplo: destruição do bem
empenhado – CC/2002, art. 1.436, II), outro deverá ser penhorado;
(2.ª) se o bem objeto da garantia tiver valor inferior ao do débito, outros serão penhorados para
completar o valor necessário;
(3.ª) se o bem objeto da garantia tiver valor muito superior ao do débito, será possível penhorar
apenas uma parte de tal bem, caso divisível; se o bem for indivisível, poderá ser penhorado outro
bem, desde que evidente o excessivo sacrifício na penhora do bem dado em garantia. Caberá ao
juiz – considerando a situação concreta e ponderando os princípios da máxima utilidade da
execução e do menor sacrifício do devedor – resolver a questão, por decisão fundamentada, contra
a qual caberá agravo de instrumento;
(4.ª) se, mesmo não ocorrendo nenhuma das hipóteses anteriores, o credor optar por (ou
concordar com) que a penhora seja feita sobre outro bem. Em suas modalidades típicas (penhor,
hipoteca, anticrese etc.), a garantia é um direito do credor. E é um direito disponível. A garantia
extingue-se, se o credor a ela renunciar (v., p. ex., CC/2002, arts. 1.436, III, e 1.499, IV). Então, ele
pode abrir mão da garantia para pretender a penhora de outro bem, que se mostre mais eficaz
para o sucesso da execução, inclusive dinheiro. Caberá ao juiz, como em qualquer outro caso de
definição de bem a penhorar, ponderar os valores envolvidos e, não havendo nenhuma
abusividade nessa opção do credor, deferi-la. Inclusive, a opção pela excussão de outro bem
implica por si só a presunção de renúncia à garantia (como prevê, relativamente ao penhor, o art.
1.436, § 1º, do CC/2002). O que não se admitirá, nesse caso, será o bis in idem. Por exemplo, o credor
não poderá manter-se na posse da coisa que lhe foi empenhada e, simultaneamente, optar pela
penhora de outro bem. Terá de restituir a coisa empenhada. O mesmo se diga do bem objeto de
retenção: terá de ser prontamente devolvido, caso se opte pela penhora de outro bem. Por fim,
deve-se ressalvar a possibilidade de um negócio processual atípico (art. 190) em que, em vez de
simples garantia em prol do credor, ambas as partes obriguem-se à futura de designação de
determinado bem à penhora, se houver necessidade de execução. Nessa hipótese – que, reitere-se,
não se confunde com as modalidades típicas de garantia -, o credor não poderá unilateralmente
optar pela penhora de outro bem.
8.2.5. Suficiência do valor dos bens penhorados
Deve-se penhorar bem ou conjunto de bens em valor suficiente para cobrir o débito, incluindo-
se todos os seus acessórios (art. 831). O art. 874, II, prevê a ampliação ou substituição da penhora
quando o bem for inferior ao valor da dívida. Quando houver pedido de substituição com base no
art. 847, caberá ao devedor também demonstrar que o bem para o qual sugere que a penhora se
transfira é suficiente para cobrir a dívida.
8.2.6. Significância dos bens penhorados
Nos termos do art. 836, caput, “não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o
produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas
da execução”. Se os bens encontrados são insuficientes para cobrir a dívida, mas significativos em
face do custo do processo executivo, eles devem ser penhorados, a fim de se buscar ao menos a
satisfação parcial do crédito. Porém, quando seu valor é menor do que o próprio custo que se teria
para levar adiante a execução, sua penhora seria desarrazoada e desproporcional.
8.2.7. Penhorabilidade dos bens
A penhora não pode recair sobre bens absolutamente impenhoráveis e apenas poderá atingir
os relativamente penhoráveis quando não houver outros disponíveis (arts. 833 e 834 – v. n. 4.6.1).
8.3. Finalidades e efeitos da penhora
A penhora produz os seguintes efeitos, representativos das suas específicas finalidades.
8.3.1. Vinculação do bem penhorado à execução
A penhora vincula bem específico à execução. Há, deste modo, especificação da
responsabilidade patrimonial: até então, os meios executivos poderiam recair sobre todo e
qualquer bem que a integrasse; a partir da penhora, restringir-se-ão, em princípio, ao bem
penhorado. Há, assim, a afetação de um determinado bem, que se destinará às finalidades da
execução.
É o início da execução propriamente dita, conquanto a penhora, em si, não acarrete ainda a
expropriação do bem, que continua pertencendo ao seu até então proprietário. Mas é o primeiro
passo nesse sentido.
8.3.2. Conservação do bem penhorado
A penhora, além disso, presta-se a conservar o bem que foi individualizado. Ela visa ao
resguardo de tal bem no curso da execução.
Tal conservação pode se dar de forma direta, retirando-se o bem do devedor (apreensão e
remoção) para que fique depositado com outrem.
Porém, em muitos casos, o bem é mantido na posse do devedor (v. cap. 9). Mas, mesmo nessa
hipótese, continua presente a função conservativa, pois: (1.º) eventual alienação do bem
penhorado será ineficaz (n. 4.6.5, acima) e (2.º) o devedor será responsável por sua conservação e,
caso o destrua intencionalmente, estará praticando crime (CP, art. 179).
8.3.3. Atribuição de preferência
A penhora confere ao credor preferência em relação a outros credores, da mesma categoria,
que penhorem o mesmo bem posteriormente (art. 797).
Assim, se em duas execuções distintas, movidas por dois diferentes credores, é penhorado o
mesmo bem, o dinheiro obtido com sua alienação judicial será destinado primeiramente à
satisfação do exequente que obteve a primeira penhora, ainda que a alienação tenha ocorrido no
processo do outro.
Isso só não ocorrerá se houver sentença declarando a insolvência do devedor – caso em que se
instaurará execução “concursal”, em que a penhora não serve de título de preferência (ver,
adiante, a execução por quantia certa contra devedor insolvente).
A preferência decorrente da penhora submete-se ainda a outro limite: só vigora entre credores
da mesma categoria. Não prevalece sobre outros títulos de preferência (como as garantias reais)
que lhe sejam anteriores, nem sobre outros créditos privilegiados (trabalhistas, fiscais,
previdenciários). Retoma-se o tema nos capítulos 10 e 11.
8.4. Conceito e natureza da penhora
A penhora, portanto, pode ser conceituada como o ato executivo que afeta determinado bem à
execução, permitindo sua ulterior expropriação, e torna os atos de disposição do seu proprietário
ineficazes em face do processo.
Determinados seus fins e estabelecido seu conceito, torna-se simples a verificação de sua
natureza.
8.4.1. Natureza pública
É ato público e estatal, praticado pelo oficial de justiça como longa manus do juiz. Não é ato
privado do credor, ainda que se diga que a penhora é feita no seu interesse. O credor recorre ao
Estado, através da ação executiva, e este penhora o bem. Também não é ato de disposição do
devedor: a este apenas se dá a faculdade limitada de pleitear a substituição do bem sujeito à
penhora; não se lhe outorga, porém, a possibilidade de não a aceitar.
8.4.2. Caráter não-contratual
Consequentemente, a penhora não tem caráter contratual. Não decorre de contrato entre
credor e devedor e não se confunde com os direitos reais de garantia (penhor, hipoteca etc.), nem
mesmo no que concerne à preferência gerada. A penhora produz apenas preferência processual,
em relação a outros credores da mesma categoria, e deixa de prevalecer quando o devedor é
declarado insolvente (diferentemente da preferência advinda dos direitos reais de garantia).
A penhora, por tudo isso, é inconfundível com o penhor, ainda que os nomes, por razões de
natureza histórica, se assemelhem.
8.4.3. Natureza executiva
Por fim, a penhora tem natureza executiva. É ato típico do processo de execução. Dá início à
atividade executiva propriamente dita, com a imposição de medidas coativas
que independem da
colaboração do executado.
Apesar de também ter função conservativa, a penhora não é ato de natureza cautelar. Sua
finalidade principal não é a de conservar o bem. Mais do que isso, a penhora visa a qualificar o
bem penhorado, para futuramente ser “transformado” em dinheiro. A conservação é secundária e
instrumental em relação a este outro fim.
8.5. Objeto e extensão da penhora
A penhora poderá recair sobre todo e qualquer bem integrante da responsabilidade
patrimonial do executado (v. n. 4.6).
Em princípio, o documento formalizador da penhora indicará se o ato abrange também os
acessórios da coisa principal penhorada (art. 838, III). Mas, em caso de omissão, supõe-se que a
penhora do principal inclui os acessórios (como não há dispositivo equivalente ao art. 59 do
Código Civil revogado, a regra deve ser entendida com a ressalva dos arts. 94 e 95 do Código Civil
de 2002).
Merecem especial atenção duas hipóteses.
A primeira tem-se quando o bem penhorado é de propriedade conjunta do executado e de um
terceiro, que não responde pela dívida. A penhora recairá apenas sobre a fração do bem
titularizada pelo executado. Depois, no momento de expropriar o bem, se ele for divisível, será
dividido – e se expropriará apenas a parte que cabe ao executado. Mas se o bem for indivisível,
terá de ser expropriado por inteiro – entregando-se ao coproprietário não-executado a parte do
dinheiro arrecadado que corresponda exatamente à sua cota-parte sobre o bem. Essa mesma
sistemática é aplicável ao bem objeto de meação, quando o outro cônjuge não responde pela dívida
(art. 843).
A segunda hipótese digna de nota concerne aos casos em que, sobre um mesmo imóvel,
incidem diferentes direitos reais, de titularidade de diferentes pessoas. É o que se tem quando,
com o direito de propriedade, coexiste direito de superfície, ou enfiteuse, ou concessão de direito
real de uso, ou concessão de uso para fim de moradia etc. Nesse caso, se apenas o titular de um dos
dois direitos é executado – a penhora atingirá apenas o seu direito, e não aquele titularizado pelo
sujeito que não responde pela dívida. Isso deverá ser precisamente indicado na averbação da
penhora na matrícula do imóvel (art. 791).
8.6. Procedimento e aperfeiçoamento da penhora
Duas são as condições para que ocorra a penhora: existência de citação e inocorrência de
pagamento (art. 829, caput e § 1.º).
A penhora é ato complexo, integrado por uma série de outros, a seguir examinados.
8.6.1. Pesquisa de bens, concretização e documentação
8.6.1.1. Penhora realizada pelo oficial de justiça
A penhora feita diretamente pelo oficial de justiça, no início do procedimento executivo,
quando não há pagamento pelo executado, é formalizada mediante auto de penhora, elaborado
pelo próprio oficial de justiça (arts. 829, § 1.º, e 838). Se diferentes bens forem penhorados, em
momentos distintos, lavrar-se-á um auto para cada penhora (art. 839, par. ún.).
Cumpre ao oficial de justiça encontrar bens para penhorar – ressalvada a possibilidade de o
credor proceder à indicação (arts. 798, II, c, e 829, § 2.º) ou de o devedor, por determinação do juiz
(art. 774, V) ou por iniciativa própria (na forma do art. 829, § 2.º), indicar seus bens penhoráveis.
No n. 4.6.1.1, acima, já se expôs o modo como deve proceder o oficial de justiça, quando não
localiza bens penhoráveis (art. 836, §§ 1º e 2º). Remete-se ao lá exposto.
8.6.1.2. Penhora feita em cartório
Já quando a penhora derivar do deferimento de um pedido de substituição do bem penhorado
(arts. 847, 848 etc.), far-se-á sua documentação mediante termo lavrado pelo escrivão (art. 849).
Ademais, quando o bem penhorado for imóvel ou veículo automotor, desde que se apresente a
respectiva certidão da matrícula imobiliária ou da existência do veículo, a penhora far-se-á
também por termo nos autos, independentemente de onde o bem se localize (art. 845, § 1.º). Vale
dizer, nessa hipótese, ainda que o bem esteja situado em outra comarca não-contígua, não haverá
a expedição de carta precatória (v. item 8.7, adiante). Obviamente, deve ser apresentada uma
certidão atualizada relativa ao bem – inclusive para que se possa verificar se o bem ainda pertence
ao executado, se não incidem sobre ele outras constrições, ônus etc. Se a certidão for antiga,
desatualizada, a penhora haverá de ser feita como nos demais casos.
8.6.1.3. “Penhora on line”
A indisponibilização de ativos financeiros do executado e o subsequente aperfeiçoamento da
penhora sobre tais bens podem realizar-se por meio de sistema eletrônico, gerido pelo Banco
Central (arts. 837 e 854, caput e § 7º). Trata-se daquilo que, na prática, passou-se a designar
“penhora on line”.
Assim, o art. 854 prevê que, para viabilizar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação
financeira, o juiz sem dar ciência prévia ao devedor, determine às instituições financeiras que,
havendo ativos, estes sejam desde já indisponibilizados, até o valor da execução. A providência
pode e deve ocorrer logo no início da execução, antes mesmo de o devedor ser citado (ou, no
cumprimento de sentença, intimado dessa nova fase). A razão de não se dar prévia ciência ao
executado é óbvia: impedir que ele esvazie suas contas e aplicações financeiras – prática que a
experiência tem demonstrado ser extremamente comum. Trata-se de uma exceção expressa à
garantia do contraditório, que se põe ao lado daquelas previstas no art. 9º, par. ún., do CPC/2015, e
é tão legítima quanto elas.
O art. 854 expressamente subordina a adoção da providência a “requerimento do exequente”.
Na doutrina, há quem critique essa exigência e até mesmo a considere inaplicável – sob o
argumento de que a penhora é ato público, executivo, e que sua forma de operacionalização não
poderia ficar sujeita à vontade da parte. Tal ponderação é razoável, de modo que a exigência de
“requerimento” deve ser adequadamente interpretada. Em princípio, cabe ao credor a escolha do
bem a penhorar. Como visto, ele pode optar pela penhora de outro bem, que não dinheiro. Se não
houver abuso nem desvio de finalidade nessa sua opção, ela deverá ser acolhida pelo juiz –
hipótese em que obviamente não caberão as providências do art. 854. Agora, se o credor requerer
que se penhore dinheiro ou se ele não indicar nenhum bem para a penhora (caso em que tal
definição poderá ser feita pelo órgão judicial), o juiz deverá adotar diretamente as providências de
bloqueio e subsequente “penhora on line” de ativos financeiros – sem que, para isso, dependa de
um pedido específico. A vontade do exequente, portanto, é relevante, dentro de certos limites, na
definição do bem a penhorar – e não na determinação do modo de concretização da penhora.
Cada instituição financeira, ao receber a determinação judicial por via eletrônica, verificará se
existem ativos financeiros do executado sob sua gestão. Se existirem, desde logo, ela os bloqueará,
até o valor objeto da execução – e noticiará ao juízo. É possível que várias instituições promovam o
bloqueio – o que obviamente poderá implicar um bloqueio muito maior do que o valor executado.
Por isso, no prazo de 24 horas após a resposta das instituições financeiras, o juiz determinará, de
ofício, o cancelamento de eventual bloqueio excessivo, o que deverá ser cumprido também no
prazo de 24 horas (art. 854, § 1.º).
Diferentemente do que ocorria na sistemática da legislação anterior, o juiz não mais requisita
informações prévias ao Banco Central. Determina, desde logo, a indisponibilidade de ativos
financeiros em nome do executado – e em seguida, ainda de ofício, cuida para que não exista
bloqueio maior do que o necessário.
O bloqueio não é medida cautelar, mas providência executiva, preparatória da penhora. É uma
pré-penhora, equiparável, p. ex., ao arresto executivo, que, como visto no n. 7.7.1, também não
constitui medida de urgência. Portanto, a determinação do bloqueio não depende de fumus boni
juris nem periculum in mora. É providência a ser adotada sempre que a penhora vá incidir sobre
dinheiro (e, lembre-se, dinheiro é o bem preferencial para a penhora).
Logo depois do bloqueio, o executado é intimado, por seu advogado ou, se ainda não o tiver
constituído nos autos, pessoalmente, para se manifestar sobre o bloqueio (art. 854, § 2º). Será,
então, ônus do executado zelar para que eventual impenhorabilidade dos valores depositados seja
respeitada, bem como para que a indisponibilidade excessiva não remanesça por qualquer lapso,
cabendo-lhe argui-las e comprová-las no prazo de cinco dias (art. 854, § 3.º). Se o juiz acolher
alguma dessas alegações, deverá determinar à instituição financeira que proceda ao cancelamento
da indisponibilidade irregular ou excessiva no prazo de 24 horas (art. 854, § 4º).
Em qualquer caso de não cancelamento do bloqueio indevido, excessivo ou desnecessário, no
prazo de 24 horas após recebida a determinação do juiz, a instituição financeira poderá ser
objetivamente responsabilizada por prejuízos causados ao executado em decorrência do
descumprimento dessa determinação. Essa responsabilização também se põe se a instituição
financeira desde o início indevidamente indisponibilizar valor maior do que o da execução, e isso
efetivamente gerar prejuízos ao executado (art. 854, §§ 4.º, 6.º e 8.º). Cabem aqui dois
complementos. Eventualmente, erros da instituição financeira vêm a gerar prejuízos ao exequente
(p. ex., indevidamente, ela deixa de bloquear os ativos do executado, a despeito de comunicada
para tanto) – hipótese em que também deverá ser objetivamente responsabilizada (CC/2002, art.
927, par. ún.). Em segundo lugar, nem sempre a demora na liberação de bloqueios indevidos ou
excessivos é imputável à instituição financeira. Pode derivar – e isso já se constatou na prática em
várias ocasiões – da própria inércia ou desorganização do órgão judiciário. Ora, nesse caso, o
Poder Público deve responder objetivamente pelos danos causados ao executado (CF, art. 37, § 6º).
A “penhora on line” aperfeiçoa-se quando rejeitadas as alegações do executado ou quando esse
permanecer silente – convertendo-se a indisponibilidade de ativos em penhora,
independentemente de lavratura de termo. O juiz determina à instituição financeira que, no prazo
de 24 horas, providencie a transferência dos valores indisponíveis para conta vinculada ao juízo
da execução (art. 854, § 5.º).
Se por outro modo o devedor realizar o pagamento da dívida, o juiz imediatamente
determinará a notificação da instituição financeira para que em 24 horas cancele a
indisponibilidade (art. 854, § 6º) – sob pena da já referida responsabilização objetiva.
8.6.2. Apreensão e depósito do bem (art. 839)
A apreensão pode ser direta, com a concreta remoção ou desapossamento, ou indireta, com o
bem permanecendo com o executado, embora vinculado à execução.
Na penhora feita pelo oficial de justiça, havendo resistência do executado à sua realização, o
oficial comunicará o fato ao juiz (art. 846, caput), que determinará o arrombamento de cômodos e
móveis (art. 846, § 1.º). Nesse caso, dois oficiais cumprirão a diligência, que deverá também ser
acompanhada por duas testemunhas (art 846, § 1º). Se necessário, ainda, o juiz requisitará força
policial e os oficiais poderão prender quem resistir à ordem de penhora (arts. 782 e 846, § 2.º). Tal
resistência é crime (CP, art. 329), como também o é eventual desobediência às ordens dos oficiais
de justiça ou da autoridade policial (CP, art. 330). De resto, tais condutas implicam ato atentatório à
dignidade da justiça, passível de multa processual punitiva de até vinte por cento do valor
executado (art. 774, II, III e IV, e par. ún.). Será feito auto de resistência minucioso, assinado pelas
testemunhas (devidamente nominadas e qualificadas) e em duas vias: uma para o processo, outra
para a autoridade policial a quem será entregue o preso (art. 846, §§ 1º, 3.º e 4º). A lei ainda é
explícita em indicar que a penhora haverá de ser efetuada “onde quer que se encontrem os bens,
ainda que sob a posse, detenção ou guarda de terceiros” (art. 845, caput), inclusive agentes
públicos.
O depósito destina-se a garantir a conservação do bem. O depositário poderá ser o próprio
devedor, o credor ou um terceiro. Trata-se desse instituto no capítulo seguinte. Por ora, cabe
definir sua exata dimensão como elemento integrante da penhora. Nos termos literais do art. 839,
o depósito seria ato constitutivo da penhora, elemento imprescindível para sua existência jurídica.
Todavia, prevalece o entendimento de que a falta do depósito não acarreta inexistência ou
nulidade absoluta da penhora. Invoca-se o princípio da instrumentalidade das formas: a função
conservativa do depósito é estabelecida prevalentemente em favor do credor. Logo, não faria
sentido reputar-se nula a penhora (e consequentemente todo o processo de execução a partir dela),
prejudicando o credor, só porque deixou de ser praticado ato de seu precípuo interesse. Verificada
a falta de depósito, não se anulam a penhora e os atos subsequentes, mas se corrige o defeito,
procedendo-se ao depósito.
Questão outra é saber se, sem a formalização do depósito, será possível impor a alguém os
deveres e sanções inerentes à condição de depositário (v. n. 9.1.5.8, adiante).
8.6.3. Inscrição da penhora no registro do bem
A previsão de averbação da penhora sobre imóvel no registro imobiliário, ainda antes de
constar nos diplomas processuais, já figurava na Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973, art. 167,
I, 5). Reputava-se, então, tratar-se de mera faculdade do exequente: feita a inscrição, haveria
presunção absoluta de publicidade do ato, ficando qualquer terceiro impossibilitado de alegar que
o desconhecia.
A circunstância de tal averbação ter passado a ser prevista também na legislação processual, na
disciplina da penhora, não a transformou em elemento constitutivo, requisito indispensável, desse
ato executivo. Como antes, a inscrição imobiliária somente serve para gerar presunção absoluta da
ciência da penhora por terceiros. Sua falta não acarreta a inexistência do ato constritivo, apenas
transferindo ao exequente o ônus de provar que o terceiro adquirente do imóvel penhorado
conhecia a situação do bem (v. n. 4.6.4.2, acima). Isso fica claro, no CPC/2015, com o cotejo do art.
838, que afirma que a penhora se faz mediante seu respectivo auto ou termo, com o art. 844, que
condiciona a presunção absoluta do conhecimento da penhora por terceiros à sua averbação na
matrícula do imóvel.
É ônus do exequente providenciar o registro da penhora no ofício imobiliário. Para não
dificultar o exercício de tal ônus, o Código prevê requisitos bastante singelos para o registro da
penhora. Basta “a apresentação de cópia do auto ou do termo” e não é necessário mandado
judicial. Além disso, observada a regulação do CNJ, ela pode ser feita por meio eletrônico (art. 837).
A jurisprudência tem entendido que o registro da penhora na matrícula imobiliária é
irrelevante na determinação da preferência dela decorrente. Vale dizer: a preferência fixa-se pela
data da penhora, e não pela da sua inscrição na matrícula do bem. Reitere-se: o registro da
penhora não é relevante para o aperfeiçoamento da constrição judicial nem para a configuração
de suas consequências, mas, sim, apenas para o estabelecimento da presunção absoluta de
conhecimento por terceiros, quando se vai aferir a ocorrência de fraude à execução.
Tanto não há direta relação entre o aperfeiçoamento da penhora e a presunção absoluta de
conhecimento por terceiros que, por força do art. 828, tal presunção pode inclusive ser
estabelecida ainda antes da penhora, mediante a averbação da mera pendência da ação executiva
nos registros de bens do executado (v. n. 4.6.4.2 e 7.4.2, acima).
Atualmente, a averbação da penhora não está restrita aos bens imóveis. O próprio art. 828
presta-se a confirmar
essa constatação. Nele, permite-se uma averbação, preparatória da penhora,
da pendência da execução em registros não apenas de imóveis, mas também de veículos e outros
bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade. Se cabe tal averbação preventiva é porque
cabe também, posteriormente, a averbação da própria penhora.
O art. 837 também corrobora essa constatação, ao aludir à possibilidade de que, respeitadas as
regras ditadas pelo Conselho Nacional de Justiça, as averbações de penhoras de bens imóveis e
móveis possam ser realizadas por meio eletrônico.
8.6.4. Intimação da penhora
Da penhora devem ser intimados:
(I) o devedor (art. 841), abrindo-se-lhe oportunidade para manifestar-se sobre a validade de
penhora (art. 848) e (ou) requerer sua substituição (arts. 847 e 848). A intimação da penhora para o
executado já foi ato de extrema importância no processo executivo. Ela lhe abria a oportunidade
de embargos à execução, meio típico para exercício de sua defesa. Por isso, aplicavam-se-lhe as
mesmas cautelas que cercam a citação no processo de conhecimento. Atualmente, como o prazo
para exercício da garantia fundamental de defesa está vinculado à própria citação, a intimação da
penhora ao executado teve sua relevância bastante mitigada – e seus requisitos formais foram
flexibilizados. Em regra, a intimação da penhora ao executado faz-se na pessoa do seu advogado
ou à sociedade de advogados a que esse pertença – desde que já haja advogado constituído nos
autos (art. 841, § 1.º). Essa intimação na pessoa do advogado ou à sociedade de advogados
independe de procuração com poderes específicos e realiza-se, sempre que possível, por meio
eletrônico (art. 270). A intimação pessoal do devedor, preferencialmente por via postal, é cabível
apenas quando esse não tiver advogado constituído no processo (art. 841, § 2.º). Nesse caso, será
utilizado o endereço do executado constante do processo – em regra, aquele que já se utilizou para
a sua citação. Se, depois de citado, o executado tiver mudado de endereço, ele tem o ônus de
comunicar ao juízo a mudança – sob pena de presumir-se absolutamente válida a intimação feita
em seu endereço antigo, constante dos autos (art. 274, par. ún., e 841, § 4º). Por fim, é dispensada
qualquer intimação do executado, se a penhora já tiver sido realizada, certificadamente, na sua
presença. Nesse caso, ele é dado por intimado já no ato de penhora (art. 841, § 3º);
(II) o cônjuge do devedor, se a penhora recair sobre a propriedade ou outro direito real sobre
imóvel, salvo se o regime de casamento for o de separação absoluta de bens (art. 842 – sobre a
condição do cônjuge do devedor no processo executivo, v. n. 4.2, acima);
(III) o proprietário ou coproprietário do bem que, por haver sido antes dado em garantia do
crédito, veio a ser penhorado (art. 835, § 3º). Nesse caso, tal sujeito detém a condição de executado
(art. 779, V – v. n. 4.1.2.5), de modo que, a rigor, mais do que intimação da penhora, tem-se
verdadeira citação;
(IV) o terceiro também credor do executado que detenha direito real de garantia ou alienação
fiduciária sobre o bem penhorado (art. 799, I, e 804);
(V) o terceiro titular de usufruto, uso ou habitação sobre o bem penhorado (arts. 799, II);
(VI) o terceiro promitente comprador, quando, em execução voltada contra o promitente
vendedor, a penhora recair sobre o bem objeto de compromisso de compra e venda, devidamente
registrado (art. 799, III);
(VII) o terceiro promitente vendedor, quando, em execução voltada contra o promitente
comprador, a penhora recair sobre o direito aquisitivo derivado de compromisso de compra e
venda, devidamente registrado (art. 799, IV);
(VIII) o terceiro titular de direito de superfície, de enfiteuse, de concessão de direito real de uso
ou concessão de uso para fim de moradia, quando, na execução contra o proprietário, a penhora
recair sobre o imóvel objeto de qualquer desses direitos reais (art. 799, V);
(IX) o terceiro proprietário do imóvel, quando, na execução contra o superficiário, enfiteuta ou
o concessionário, a execução recair, respectivamente, sobre o direito de superfície, de enfiteuse ou
de concessão de direito real de uso ou de uso para fim de moradia, incidente sobre o imóvel (art.
799, VI); e
(X) a sociedade por quotas ou anônima de capital fechado, quando, na execução contra o sócio,
a penhora recair sobre quotas ou ações que esse tenha daquela (art. 799, VII). A sociedade, por sua
vez, terá a incumbência de informar a existência da penhora aos demais sócios (art. 876, § 7º). Tal
intimação também dará ensejo ao conjunto de providências previstas no art. 861 (v. n. 8.10.3,
adiante).
A falta das intimações mencionadas em II e III pode gerar a nulidade dos atos posteriores do
processo, pois impede que participem do processo sujeitos que ali deveriam figurar como partes.
Em regra, as pessoas indicadas nessas duas hipóteses ainda não ingressaram no processo, de modo
que tal intimação normalmente consiste na notícia inicial que elas recebem a respeito da
existência da execução. Daí sua importância. Também por isso, em princípio, essa intimação não
terá como ser feita junto a um advogado do intimando – exceto nas hipóteses excepcionais em que
as pessoas em questão já tenham constituído um procurador judicial no processo.
As consequências da ausência de intimação nas hipóteses indicadas nos itens IV a X, acima,
serão abordadas no cap. 10.
8.7. Penhora de bens em outra comarca
Ressalvada as hipóteses dos arts. 845, § 1.º, e 854 (v. n. 8.6.1.2 e 8.6.1.3, acima), a penhora deve
ser realizada no local em que se encontram os bens (art. 845, caput). No caso de bens situados em
outra comarca, a penhora será feita mediante carta precatória – excetuada apenas a hipótese dos
arts. 255 e 782, § 1º, a seguir indicada. Os atos seguintes do processo de execução (avaliação e
alienação) serão realizados na comarca em que estão os bens (art. 845, § 2.º).
Trata-se de regra de competência funcional e, portanto, absoluta. O juiz de uma comarca é
absolutamente incompetente para efetivar a penhora em outra. Consequentemente, o oficial de
justiça, que é auxiliar do juiz, não tem poderes para realizar a penhora em outra comarca, em
hipótese alguma. Penhora feita por oficial de justiça de outra comarca padece do vício de nulidade
absoluta.
Ressalva-se, todavia, a regra do art. 255, que autoriza o oficial de justiça a realizar citações,
intimações, notificações, penhoras e quaisquer outros atos executivos em comarcas vizinhas e nas
da mesma região metropolitana. Tal diretriz é reiterada no art. 782, § 1º.
8.8. Modificações da penhora
Como já se adiantou, a penhora comporta modificações, no curso do processo executivo.
As possíveis mudanças deverão ser precedidas do contraditório entre as partes e do juiz com
ela. O art. 853 prevê que, quando alguma das partes pedir alteração da penhora, o juiz deverá
ouvir a outra em três dias. Mas também quando, de ofício, o juiz reputar haver fundamentos para
modificar a penhora, ele deverá antes ouvir as partes (CF, art. 5º, LV; CPC/2015, arts. 9º e 10). A lei
determina ao juiz que resolva as questões relativas ao tema mediante cognição superficial.
Dispensa-se exaustiva e minuciosa instrução probatória quando se puser em pauta a possível
alteração da penhora. Decidir-se-á com base em prova pré-constituída. É o que se extrai da
previsão de que “o juiz decidirá de plano” essas questões (art. 853, par. ún.). Todas as decisões
sobre o tema serão recorríveis, mediante agravo de instrumento (arts. 203, § 2º, e 1.015, par. ún. –
v. n. 8.1.6, acima).
Observados esses parâmetros, a penhora será:
(a) aumentada, se os bens penhorados são insuficientes para cobrir o débito. Isso pode ocorrer
quando, já por ocasião da avaliação do bem penhorado, constata-se sua insuficiência (art. 874, II).
Mas também é possível que se proceda a nova penhora depois da expropriação dos bens
inicialmente penhorados, quando o produto da sua alienação não tiver sido suficiente para a
satisfação do crédito (art. 851, II). Tal ampliação caberá inclusive na hipótese de desvalorização
superveniente do bem penhorado (art. 850);
(b) diminuída, se os bens têm valor maior que o do débito (art. 874, I). Tal redução também será
devida quando a valorização do bem der-se no curso do processo (art. 850);
(c) substituída, nas duas hipóteses anteriores, para um bem de valor maior ou menor,
respectivamente (art. 874, I e II), inclusive nos casos de alteração significativa superveniente do
valor do bem (art. 850);
(d) substituída, se a primeira foi anulada (art. 851, I) – seja porque os bens eram impenhoráveis,
seja porque pertenciam a terceiro não responsável pelo débito, seja ainda porque se reconheceu
direito do credor ou devedor a que ela atinja outro bem (p. ex., nas hipóteses dos incisos I, II, III, IV,
V e VII do art. 848);
(e) substituída por outro bem, tendo em vista o fracasso na tentativa de alienação do bem até
então penhorado (art. 848, VI). Constata-se, ainda que tardiamente, a iliquidez do bem penhorado.
Ou seja, não deixa de ser uma espécie da hipótese mais genérica prevista no art. 848, V;
(f) substituída, se o credor desistir dela porque os bens eram litigiosos ou já estavam
submetidos a constrição judicial (art. 851, III);
(g) substituída por dinheiro resultante de alienação antecipada dos bens (art. 852);
(h) substituída por fiança bancária ou seguro-garantia judicial, em valor não inferior a 130% do
débito (arts. 835, § 2º, e 848, par. ún.). Dessas normas extrai-se que é também possível, a todo
tempo enquanto não realizada a alienação executiva do bem penhorado, substituí-lo por dinheiro;
(i) substituída por outro bem, a requerimento do devedor, formulado no prazo de dez dias
contados da intimação da penhora (art. 847 – n. 8.1.5, acima). Por sua relevância no contexto do
processo e maior complexidade de seu regramento, essa hipótese recebe exame detalhado no
tópico seguinte.
8.9. Substituição do bem penhorado a pedido do devedor
Além da possibilidade de o executado, desde o início do processo, pleitear que a penhora recaia
sobre outros bens que não aqueles que o credor tenha indicado (art. 829, § 2.º, acima tratado), o
Código concede ao devedor a faculdade de pleitear e obter a substituição do bem inicialmente
penhorado (art. 847 do CPC/2015). No prazo de dez dias da intimação da penhora, o devedor pode
requerer que se substitua o bem penhorado por outro, cabendo-lhe demonstrar que a substituição
não prejudicará de modo nenhum o credor e será menos onerosa para ele, executado. Tal
possibilidade é mais uma expressão do princípio do menor sacrifício do devedor (art. 805 – n.
5.3.2, acima).
Essa hipótese de substituição não se confunde com outras duas que podem também ser
requeridas pelo executado: (1.ª) quando houver defeito na penhora realizada (art. 848 – n. 8.8,
letra d, acima); (2.ª) substituição por fiança bancária ou seguro garantia judicial (art. 835, § 2º, e
848, par. ún. – v. n. 8.8, letra h, acima). Essas duas hipóteses não se submetem ao prazo de dez dias
estabelecido no art. 847.
8.9.1. Forma e pressupostos do pedido de substituição
O prazo de dez dias para o exercício do pedido de substituição conta-se da intimação da
penhora ao advogado ou à sociedade de advogados. Quando não houver advogado construído nos
autos e a intimação da penhora for feita na pessoa do próprio devedor ou seu representante legal,
preferencialmente pela via postal (art. 841, § 2.º), o prazo contar-se-á da data da juntada aos autos
do respectivo comprovante. Na falta de norma específica, aplica-se à hipótese a regra geral (art.
231, I).
Quanto à forma, o pedido de substituição deverá ser feito por escrito, e, em princípio, subscrito
por advogado do devedor. Vale dizer, em regra, não há a possibilidade de uma manifestação
verbal e (ou) feita pelo próprio executado. O pedido de substituição é ato técnico, a ser praticado
no curso do processo pelo advogado constituído pelo devedor (ressalvados apenas os casos e tipos
de processo em que se dispensa a intervenção de advogado).
Nesse pedido de substituição incumbe ao devedor: (I) quanto aos bens imóveis, comprovar as
respectivas matrículas e os registros por certidão do correspondente ofício; (II) quanto aos móveis,
descrevê-los com todas as suas propriedades e características, assim como o estado deles e o lugar
onde se encontram; (III) quanto aos semoventes, descrevê-los, indicando a espécie, o número, a
marca ou o sinal e o imóvel em que se encontram; (IV) quanto aos créditos, identificá-los e indicar
o devedor, a origem da dívida, o título que a representa e a data do vencimento; e (V) em todos os
casos, atribuir valor aos bens indicados à penhora, além de especificar os ônus e os encargos a que
estejam sujeitos (art. 847, § 1.º, I a V). Intimado para se manifestar sobre o requerimento de
substituição (art. 847, § 4.º), o credor poderá a ela se opor ou requerer nova substituição do bem
penhorado, se o devedor descumprir essa regra (art. 848, VII). Por óbvio, não se poderá adotar
postura estritamente formalista. A oposição do credor será razoável toda vez que a omissão do
devedor implicar risco à eficiência da execução, mas não em outros casos, em que o lapso for
concretamente irrelevante.
Se o bem ofertado em substituição for imóvel, e o executado for casado, será indispensável
também a anuência do cônjuge, exceto na hipótese de casamento sob o regime de separação
absoluta de bens (art. 847, § 3.º).
Requerida a substituição, o executado tem ainda o dever de apresentar prova de propriedade
dos bens sujeitos à execução (art. 847, § 2.º). Mas, se no momento do pedido de substituição do
bem penhorado, o executado não apresentar o comprovante de propriedade do bem que ele está
ofertando, nem por isso seu pleito será indeferido de plano. Em um primeiro momento, pode-se
dar crédito à mera afirmação do devedor, o qual, se faltar com a verdade, sofrerá sanções por
litigância de má-fé (arts. 79 a 81 e 774). De resto, o dever de prevenção, extraível do princípio da
cooperação (art. 6.º), impõe que o juiz, antes de indeferir o pedido de substituição, conceda prazo
para a correção do lapso.
8.9.2. Procedimento
O pedido de substituição é seguido de contraditório para a verificação da sua viabilidade, em
que se destacam os seguintes aspectos:
(a) o credor é intimado para se manifestar, em três dias (arts. 847, § 4º, e 853) e, se permanece
silente, reputa-se que concordou com a substituição: há preclusão da faculdade de impugnar o
pedido de substituição feito pelo devedor. Contudo, isso não significa que nessa hipótese a
substituição será automaticamente deferida pelo juiz. Cabe também ao juiz examinar, mesmo de
ofício, sua adequação para os fins do processo executivo. A questão não diz respeito a mero
interesse disponível do credor, mas ao próprio interesse público no andamento racional da
máquina judiciária. Não se irá desfazer a penhora sobre um bem mais adequado para o escopo
executivo, transferindo-a para outro bem, imprestável para tal fim, apenas porque se calou o
credor quando intimado;
(b) se o credor discorda, há de fazê-lo mediante impugnação fundamentada, demonstrando
qual o defeito do pedido de substituição e o prejuízo que sofrerá, caso esta ocorra (de todo modo,
por força do art. 847, caput, será do executado o ônus de provar, se necessário for, a ausência de
prejuízos para o credor);
(c) sendo necessário, ouve-se novamente o devedor (exemplos: o credor juntou, com sua
impugnação, documentos novos; ou o juiz reputa necessário algum esclarecimento etc.);
(d) em princípio, não haverá instrução probatória que vá além dos documentos apresentados
pelas partes e dos elementos que já se encontravam nos autos (art. 853, par. ún. – v. n. 8.8, acima);
(e) se acolhida a impugnação, manter-se-á a penhora existente;
(f) deferida a substituição, o juiz determinará as providências para cancelamento da penhora
anterior e realização da nova, mediante termo formalizado em cartório (art. 849) e demais
providências, eventualmente necessárias, indicadas no n. 8.6, acima;
(g) o pronunciamento do juiz que decide o pedido de substituição, acolhendo-o ou não, é
decisão interlocutória, recorrível por agravo de instrumento (arts. 203, § 2.º, e 1.015, parágrafo
único – v. n. 8.1.6, acima).
8.10. Hipóteses especiais de penhora
8.10.1. Penhora de crédito
Quando a penhora recair sobre crédito do executado junto a terceiro (art. 855 e seguintes),
serão observadas as seguintes regras peculiares:
(a) a penhora só se aperfeiçoará depois de intimados o terceiro devedor (aquele que deve para
o executado), para que não pague ao executado, e o credor do terceiro (o executado), para que não
pratique ato de disposição de seu crédito (art. 855, I e II). Se, depois de intimado da penhora, o
terceiro devedor (aquele que deve para o executado), mesmo assim, pagar diretamente ao
executado, em vez de depositar o valor em juízo, o pagamento não valerá em face do exequente e
do juízo executivo, podendo o terceiro devedor ser constrangido a pagar novamente, em juízo (CC,
art. 312 – que ressalva, ainda, a possibilidade de regresso do terceiro contra o executado);
(b) caso o crédito esteja representado por letra de câmbio, nota promissória, cheque etc., a
penhora far-se-á pela apreensão do título (art. 856), sendo possível a adoção de inúmeras medidas
a fim de evitar conluio entre o executado e seu devedor para negar o débito e ocultar o título (art.
856, §§ 1.º a 4.º);
(c) depois de realizada a penhora, não havendo embargos à execução com efeito suspensivo ou
sendo estes rejeitados, o exequente fica sub-rogado nos direitos do devedor até a concorrência do
seu crédito, ou seja, assume o crédito do executado na medida necessária para satisfazer seu
próprio crédito (art. 857), podendo optar pela alienação judicial do crédito penhorado (art. 857, §
1.º). O texto legal alude à simples pendência de embargos como sendo obstáculo à sub-rogação. No
entanto, os embargos à execução, em regra, não têm efeito suspensivo (art. 919). Logo, a simples
pendência dos embargos não é obstáculo à sub-rogação – assim como, nos demais casos, não é
óbice à expropriação de bens e entrega do dinheiro ao credor. Não há fator diferencial que
justifique, na penhora do crédito, tratamento diferenciado. Ao que se infere, trata-se de simples
lapso: o dispositivo legal foi meramente transportado da versão original do CPC/1973, em que os
embargos sempre tinham efeito suspensivo, para o Código atual;
(d) se o exequente não conseguir receber o crédito em que se sub-rogou ou se receber valor
inferior ao do seu crédito, pode ainda prosseguir na execução, penhorando outros bens do
executado (art. 857, § 2.º);
(e) quando a penhora recair sobre crédito que renda juros ou outras prestações periódicas, o
exequente pode levantar tais valores à medida que forem sendo depositados, abatendo-se do seu
crédito as quantias recebidas (art. 858);
(f) recaindo a penhora sobre direito que tenha por objeto prestação ou restituição de coisa
determinada, o executado terá de, no vencimento, assim que recebê-la, depositá-la em juízo, para
que sobre ela corra a execução (art. 859).
8.10.2. Penhora “no rosto dos autos”
Trata-se de espécie de penhora de crédito. O executado está pleiteando em juízo um crédito
penhorado; então, averba-se tal penhora, com destaque, nos autos do processo em que o executado
está fazendo esse pleito (art. 860). Nos autos físicos, isso tradicionalmente é feito na contracapa dos
autos do processo. Daí a expressão “no rosto dos autos”, consagrada na praxe forense.
8.10.3. Penhora das quotas ou das ações de sociedades personificadas
Quando a penhora incidir sobre quotas ou ações de sócio em sociedade simples ou empresária,
o juiz concede prazo de até três meses para que a sociedade:
(a) apresente balanço especial, na forma da lei (art. 861, I);
(b) ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, respeitado o direito de preferência legal ou
contratual (art. 861, II);
(c) caso não haja interesse dos sócios na aquisição, ela mesma proceda à liquidação das quotas
ou das ações, depositando em juízo o montante apurado (art. 861, III). Quanto a esse ponto, o prazo
de até três meses poderá ser ampliado pelo juiz quando o pagamento das quotas ou das ações
liquidadas superar o valor do saldo de lucros ou reservas (salvo a legal), e sem diminuição do
capital social, ou por doação, ou, ainda, quando o pagamento colocar em risco a estabilidade
financeira da sociedade (art. 861, § 4.º). Para a liquidação, o juiz poderá, a pedido do credor ou da
sociedade, nomear administrador, o qual terá de submeter à aprovação judicial a forma como a
realizará (art. 861, § 3.º);
(d) ou, em alternativa a c, adquira as quotas ou ações, sem redução do capital social e com
utilização de reservas, para manutenção em tesouraria.
No entanto, as quotas ou ações poderão ser levadas a leilão judicial quando nenhum dos sócios
exercer seu direito de preferência na aquisição das quotas ou ações, a sociedade não as adquirir e
a liquidação mostrar-se excessivamente onerosa para a sociedade (art. 861, § 5.º). Dessa disposição
extrai-se, portanto, que a aquisição pelos demais sócios ou pela sociedade é uma faculdade que se
lhes oferta, mas a liquidação das quotas ou ações penhoradas pela sociedade é uma imposição, que
só será afastada em caso de onerosidade excessiva.
Por outro lado, em nenhum caso essas regras aplicam-se à sociedade anônima de capital
aberto. Nessa hipótese, as ações ou são adjudicadas ao exequente ou são alienadas em bolsa de
valores, conforme o caso (art. 861, § 2.º).
8.10.4. Penhora de empresa ou de outros bens que ensejem administração
Em atenção ao princípio do menor sacrifício do devedor, busca-se a preservação do
empreendimento, quando a penhora recair sobre estabelecimento comercial, industrial ou
agrícola, bem como sobre semoventes, plantações ou edifícios em construção. Nesse caso, mais do
que depósito do complexo de bens penhorados, haverá sua administração por depositário
designado pelo juiz.
A forma de administração do empreendimento sugerida pelo administrador-depositário será
discutida pelas partes e definida pelo juiz (art. 862, caput e § 1º). Aliás, as partes, de comum
acordo, poderão escolher o depositário, “caso em que o juiz homologará por despacho a indicação”
(art. 862, § 2.º – a rigor, trata-se de decisão interlocutória, e não mero despacho).
Tal modalidade de penhora é absolutamente subsidiária, dada a sua complexidade e riscos de
grave sacrifício para o executado e insucesso para o exequente. Por isso, diz o art. 865, deve ser
determinada apenas quando não houver outro meio mais eficaz para a satisfação do crédito.
Também por isso, a todo tempo, desde que antes do leilão judicial, o exequente poderá requerer
a penhora de faturamento, frutos ou rendimentos desses bens (art. 867 e seguintes – v. n. 8.10.8 e
8.10.9, abaixo). No direito anterior, havia regra expressa nesse sentido. Mas essa é uma diretriz
que permanece aplicável, pela conjugação dos arts. 805 e 865. No mais das vezes, será muito
menos oneroso para o executado e mais eficiente para o credor que, em vez de se tentar
expropriar o empreendimento como um todo, usem-se os frutos e rendimentos que ele gera para
satisfazer o crédito.
8.10.5. Penhora de edifícios em construção em regime de incorporação imobiliária
A modalidade de penhora descrita no tópico anterior contempla hipótese com regramento
ainda mais específico, quando recai sobre edifício em construção sob regime de incorporação
imobiliária. Para proteger os direitos de terceiros que já haviam antes adquirido unidades
imobiliárias no empreendimento e evitar prejudicar o andamento da obra, vigoram as seguintes
regras especiais:
(a) a penhora deverá recair apenas sobre as unidades imobiliárias que, no momento em que se
inscreveu a pendência da execução na matrícula do imóvel, ainda não estavam comercializadas
(art. 862, § 3º, c/c art. 828). Nos empreendimentos de incorporação imobiliária, a aquisição da
unidade normalmente antecede a finalização da obra e a constituição da específica matrícula de
cada unidade. Assim, por ocasião da penhora, ainda não estão individualizadas as matrículas das
unidades já comercializadas – hipótese em que seria desnecessária a regra em questão, bastando
aplicar-se o princípio de que bens de terceiros não podem ser atingidos pela execução;
(b) o incorporador do empreendimento não será automaticamente afastado de sua
administração – diferentemente do que em geral ocorre nessa modalidade de penhora (art. 862,
caput). O afastamento apenas ocorrerá se “necessário” (art. 862, § 4º, parte inicial). Ou seja, em
regra será designado apenas um depositário sem a função de administrador;
(c) havendo a necessidade de designação de um administrador judicial, essa função será
exercida pela comissão de representantes dos adquirentes das unidades – exceto quando o
empreendimento for financiado, hipótese em que instituição financiadora indicará uma empresa
ou profissional para a função. Mas, mesmo nesse último caso, terá também de ser ouvida a
comissão de representantes (art. 862, § 4º). Caberá ao juiz decidir eventuais impasses entre a
instituição financiadora e a comissão de representantes – respeitado o contraditório de que
participem não só esses entes, mas também as partes do processo executivo. A comissão de
representantes dos adquirentes é figura instituída e regulada pela Lei 4.591/1964, que disciplina as
incorporações imobiliárias.
8.10.6. Penhora de empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público
Também a penhora de empresa que funcione mediante autorização ou concessão submeter-se-
á a parâmetros especiais, em respeito ao princípio da continuidade do serviço público. Haverá a
nomeação de depositário (“de preferência, um dos seus diretores”) com incumbência de
administração do bem. Antes da arrematação, será ouvido o poder público que houver outorgado
a concessão (art. 863). Possui, tal como as modalidades anteriores, caráter subsidiário (art. 865).
8.10.7. Penhora de navios e aeronaves
Mereceu, ainda, disciplina específica a constrição executiva de navios e aeronaves. Considerou-
se o interesse público na continuidade dos meios de transporte – razão porque essa hipótese de
penhora também é subsidiária (art. 865). Autorizou-se que tais bens continuem operando, desde
que o devedor faça seguro contra riscos (art. 864).
8.10.8. Penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel ou imóvel
Na vigência do CPC/1973, vigorava o instituto do usufruto judicial (ou executivo) como forma
expropriatória que simultaneamente satisfazia o credor. Ocorria nos casos em que o bem
penhorado produzisse frutos ou rendimentos com valor significativo (exemplos: prédio locado;
imóvel rural com produção agrícola etc.). O usufruto judicial consistia em ato pelo qual, dentro da
execução, concedia-se ao credor direito real limitado e temporário sobre o bem penhorado, a fim
de que recebesse seu crédito por meio das rendas geradas pelo bem.
No CPC/2015, suprimiu-se o usufruto judicial como modalidade expropriatória. Aliás,
confirmou-se uma tendência iniciada pela Lei 11.382/2006, que já havia reduzido a abrangência do
usufruto executivo, substituindo-o parcialmente pela penhora de faturamento da empresa. No
CPC/2015, substitui-se o que havia restado do usufruto judicial pela penhora e apropriação de
frutos e rendimentos (arts. 825, III, e 867 a 869). A principal diferença reside em que, no usufruto
judicial, o credor necessariamente assumia a posse do bem. Já na penhora e apropriação de frutos
e rendimentos, a posse do bem é mantida na própria pessoa do executado, que apenas perde o
poder de administração e o direito de gozo do bem. Não há constituição judicial de um direito real
em prol do exequente.
8.10.8.1. Legitimidade
A penhora de frutos e rendimentos pode ser determinada, inclusive, de ofício (art. 867, caput).
Mas nada impede que ela seja requerida pelo exequente ou até mesmo pelo próprio executado.
8.10.8.2. Condições objetivas da penhora de frutos e rendimentos
A penhora de frutos e rendimentos pode recair sobre qualquer bem móvel ou imóvel apto a
gerar resultados econômicos (art. 867).
Ela será deferida quando, diante das circunstâncias concretas, for “mais eficiente para o
recebimento do crédito e menos gravosa ao executado” (art. 867). É mais um caso, no curso da
execução, em que se exige o balanceamento destes dois princípios (v. n. 5.3.4).
8.10.8.3. Devido processo
Em respeito ao contraditório, se a penhora de frutos e rendimentos for determinada de ofício,
ao exequente e ao executado deverá ser concedida a oportunidade de sobre isso se manifestar (CF,
art. 5º, LV; CPC/2015, arts. 9º e 10). Se requerida por uma das partes, a outra terá de ser
previamente ouvida.
Isso não significa que o deferimento da penhora de frutos e rendimentos dependa da
concordância da parte. Caberá ao juiz decidir se o defere, tomando em conta os argumentos das
partes – e sempre com os olhos voltados para os princípios do menor sacrifício do executado e da
máxima eficiência da execução.
O pronunciamento do juiz a respeito da questão deverá ser fundamentado (CF, art. 93, IX;
CPC/2015, arts. 11 e 489, § 1º), atentando inclusive para a justificação das escolhas feitas
relativamente à ponderação dos princípios jurídicos envolvidos (CPC/2015, art. 489, § 2º). Trata-se
de decisão interlocutória (art. 203, §2º), contra a qual cabe agravo de instrumento (art. 1.015, par.
ún.).
8.10.8.4. Condições formais (documentação)
A penhora de frutos e rendimentos torna-se eficaz perante terceiros a partir da publicação da
decisão que a concede ou, tratando-se de bem imóvel, a partir de sua averbação no ofício
imobiliário (art. 868, § 1.º).
Na penhora de frutos e rendimentos de bem imóvel, caberá ao exequente providenciar
averbação no ofício imobiliário, a fim de que se inscreva o direito real na matrícula do bem. Para
tanto, apresentará certidão de inteiro teor do ato, independentemente de mandado judicial (art.
868, § 2.º).
8.10.8.5. O administrador-depositário
O administrador-depositário será nomeado quando ordenada a penhora de frutos e
rendimentos (art. 868, caput). Pode ser administrador o exequente ou o executado, desde que haja
concordância da parte contrária. Não havendo consenso, será designado um profissional
qualificado.
O administrador-depositário será investido de todos os poderes relativos à administração do
bem e à fruição dos seus frutos e utilidades (art. 868, caput). Aplica-se ao administrador, no que
couber, o regime jurídico de nomeação, destituição, deveres, responsabilidade e direitos do
depositário (v. n. 9.1, adiante).
Uma vez designado, caberá ao administrador submeter à aprovação judicial a forma de
administração e de prestação periódica de contas (art. 869, § 1º). As partes deverão ser ouvidas a
esse respeito. Se não houver consenso entre elas ou se houver divergência entre elas e o
administrador, o juiz terá a última palavra sobre a questão (art. 869, §2º). Deverá decidir
fundamentadamente (CF, art. 93, IX; CPC/2015, arts. 11 e 489, § 1º), mediante decisão
interlocutória, passível de agravo de instrumento (arts. 203, § 2º, e 1.015, par. ún.).
O administrador deverá receber os frutos e rendimentos do bem no interesse do exequente,
entregando ao credor as quantias recebidas, a fim de serem imputadas ao “pagamento” (a rigor,
satisfação forçada) da dívida (art. 869, § 5.º).
No exercício da administração do bem, o administrador fica investido inclusive do poder de
celebrar contratos destinados à geração de frutos e rendimentos. O art. 869, §
4º, alude
expressamente a contratos de locação. Mas se trata de indicação meramente exemplificativa, pois
tal atribuição é inerente à função do administrador. Poderá também, conforme o caso, celebrar, p.
ex., contrato oneroso de constituição de renda ou mesmo modalidades contratuais atípicas. Mas
em todo e qualquer caso, o executado deverá ser ouvido (art. 869, § 4º). Quando não estiver na
administração do bem, o contraditório também terá de ser assegurado ao exequente. Caberá
sempre ao juiz a decisão final, quando não houver consenso. Também aqui, o pronunciamento,
que sempre deverá ser fundamentado, constituirá decisão interlocutória, agravável.
8.10.8.6. Satisfação do credor através da apropriação de frutos e rendimentos
Decretada a penhora de frutos e rendimentos, o devedor perde o gozo do bem até que o credor
seja pago do principal, juros, custas e honorários advocatícios (art. 868, caput). O credor receberá
os frutos e rendimentos do bem, diretamente ou por intermédio do administrador – dando por
termo, nos autos, quitação dos valores recebidos (art. 869, § 6º). Por exemplo, se o imóvel objeto da
penhora de frutos e rendimentos estiver arrendado, o aluguel será pago diretamente ao credor ou
ao administrador (art. 869, § 3.º). No segundo caso, este repassará as quantias recebidas àquele
(art. 869, § 5º).
8.10.9. Penhora de faturamento de empresa
A penhora de frutos e rendimentos comporta ainda uma modalidade especial, que recebe
inclusive tratamento legislativo específico. Trata-se da penhora de percentual do faturamento da
empresa executada (art. 866). Tal espécie de penhora implica a expropriação periódica do
resultado econômico de uma empresa. Nesse sentido, a penhora do faturamento é modalidade de
penhora que, conquanto recaindo sobre dinheiro já existente e futuro, não se confunde com a
pura e simples penhora de dinheiro. A penhora de dinheiro é prioritária (art. 835, § 1º), enquanto
a penhora de faturamento tem caráter subsidiário, pois apenas caberá quando o executado não
tiver bens penhoráveis ou quando esses forem de baixa liquidez ou em valor insuficiente para
cobrir o crédito (art. 866, caput). Nisso, a penhora de faturamento diferencia-se inclusive da figura
geral da penhora de frutos e rendimentos.
Tais cautelas são justificáveis. A penhora do faturamento envolve aspectos problemáticos, que
exigem atento equacionamento em cada caso concreto.
O primeiro concerne ao risco de tal penhora, afetando o capital de giro da empresa devedora,
acarretar-lhe a quebra. Por isso, já se havia consolidado na jurisprudência o entendimento de que
apenas se pode penhorar uma parcela do faturamento, de modo a não inviabilizar o capital de
giro. O CPC/2015 explicitou essa orientação, prevendo que “o juiz fixará percentual que propicie a
satisfação do crédito exequendo em tempo razoável, mas que não torne inviável o exercício da
atividade empresarial” (art. 866, § 1.º)
Além disso, diferentemente da penhora em dinheiro, não basta a designação de um depositário,
nos moldes tradicionais. Mais do que isso, a pessoa designada para a função terá de assumir todos
os encargos e as responsabilidades de administrador. Não são pequenos os riscos de que a
intervenção desse administrador afete o adequado desenvolvimento dos negócios da empresa. Daí
a necessidade de que o juiz atentamente controle a atuação desse auxiliar seu. Nesse sentido, o §
2.º do art. 866 prevê que o administrador-depositário “submeterá à aprovação judicial a forma de
sua atuação e prestará contas mensalmente, entregando em juízo as quantias recebidas, com os
respectivos balancetes, a fim de serem imputadas no pagamento [rectius: satisfação forçada] da
dívida”.
Aplicam-se subsidiariamente à penhora de faturamento as regras sobre penhora de frutos e
rendimentos, examinadas no tópico anterior (art. 866, § 3º).
Quadro Sinótico
Legitimidade para a
indicação do bem a
penhorar
• O direito anterior
 • Sistema original do CPC/1973
  • Leis 11.232/2005 e
11.382/2006
• Indicação de bens pelo credor
• Ordem ao executado para que apresente relação de bens
• Participação do devedor na definição do bem
• Pedido do devedor de substituição do bem penhorado
• Recorribilidade
• Redistribuição do ônus de demonstrar a adequação e suficiência do
bem para a penhora
Parâmetros legais da
 • Ordem de preferência de bens a penhorar
 • Preferência por bens livres de ônus e situados no foro da execução
 • Preferência por bens de maior liquidez
penhora  • Bem objeto de garantia legal ou contratual ou de direito de retenção
 • Suficiência do valor dos bens penhorados
 • Significância dos bens penhorados
 • Penhorabilidade dos bens
Finalidades e efeitos da
penhora
• Vinculação do bem penhorado à execução
• Conservação do bem penhorado
• Atribuição de preferência
Conceito e natureza da
penhora
• Natureza pública
• Caráter não-contratual
• Natureza executiva
Objeto e extensão da penhora
Procedimento e
aperfeiçoamento da
penhora
• Pesquisa de bens,
concretização e documentação
  • Penhora realizada pelo
oficial de justiça
 • Penhora feita em cartório
 • “Penhora on line”
• Apreensão e depósito (art. 839)
• Inscrição de penhora de imóvel
• Intimação da penhora
Penhora de bens em
outra comarca
• Execução por carta
• Competência funcional (absoluta)
Modificações da
penhora
• Aumento
• Redução
• Substituição
• Sucessivas penhoras
Substituição do bem
penhorado a pedido do
devedor
• Forma e pressupostos do pedido de substituição
• Procedimento
Penhoras especiais
• Penhora de crédito
• Penhora “no rosto dos autos”
• Penhora das quotas ou das ações de sociedades personificadas
• Penhora de empresa ou de outros bens que ensejem administração
• Penhora de edifícios em construção em regime de incorporação
imobiliária
• Penhora de concessionária e permissionária de serviço público
• Penhora de navios e aeronaves
• Penhora de faturamento de empresa
• Penhora de frutos e
rendimentos de coisa móvel ou
imóvel
 • Legitimidade
  • Condições objetivas da
penhora de frutos e rendimentos
 • Devido processo
  • Condições formais
(documentação)
 • O administrador-depositário
  • Satisfação do credor através
da apropriação de frutos e
rendimentos
  •Penhora de faturamento de
empresa
Doutrina Complementar
• Alexandre Freitas Câmara (O novo processo..., 2. ed., p. 386) afirma que: “Não é só para
atender ao princípio da menor onerosidade que se admite a substituição da penhora. Também se
admite a substituição da penhora, a requerimento de qualquer das partes, se ela não obedecer à
ordem legal; se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o
pagamento; se, havendo bens no foro da execução, outros tiverem sido penhorados; no caso de,
havendo bens livres, tiver a penhora recaído sobre bens já penhorados ou por qualquer outro
modo gravados; caso ela incida sobre bens de baixa liquidez; se fracassar a tentativa de alienação
judicial; ou se o executado não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações
previstas na lei (art. 848). (...) Formulado, por alguma das partes, requerimento de substituição
(ou, também, de redução ou ampliação) da penhora, a outra parte será ouvida no prazo de três
dias, devendo o juiz decidir em seguida (art. 853, caput e parágrafo único)”.
• Araken de Assis (Manual..., 18. ed., p. 911) leciona que “a penhora é ato executivo e não
compartilha a natureza do penhor e do arresto. A penhora não extrai o poder de disposição do
executado. Entre nós, sequer se pode afirmar que o exercício desse poder se reputará ineficaz
perante o credor por força da penhora, vez que o estudo da fraude contra a execução revela que a
ineficácia precede a penhora (...), que somente a acentua e, em alguns casos, torna o eventual
negócio de disposição

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Mais conteúdos dessa disciplina