Prévia do material em texto
2 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 5 ARTIGOS SOBRE A CARREIRA Você já Pensou em Ser Diplomata? Conheça Detalhes sobre a Carreira no Itamaraty ................. 8 Vou Ser Diplomata! R$ 17 Mil + um Projeto de Vida! ............................................................11 Quanto Ganha um Diplomata ao Longo da Carreira? .............................................................14 O que Faz um Diplomata em uma Embaixada? ....................................................................17 Como se Define o Destino de um Diplomata no Exterior? ......................................................20 Como um Diplomata Vai de Terceiro-Secretário a Embaixador ................................................24 Diplomata também Faz Trabalho Administrativo ...................................................................28 O que Faz um Diplomata? .................................................................................................31 O Movimento Constante da Carreira Diplomática: uma Visão Pessoal ......................................34 Por que África e não Europa? ...........................................................................................37 ARTIGOS SOBRE A ESTRUTURA DO ITAMARATY Conheça a Estrutura do Itamaraty .....................................................................................40 Os Escritórios de Representação do MRE Pelo Brasil ..............................................................43 O Serviço Consular Brasileiro ............................................................................................46 Conheça as Carreiras do Serviço Exterior Brasileiro ..............................................................50 Entenda como Funciona a Cooperação Técnica Internacional no Itamaraty ..............................53 A Atuação Brasileira no Combate a Ilícitos Transnacionais ....................................................57 ARTIGOS SOBRE A DIPLOMACIA Diplomacia Cultural ..........................................................................................................59 O Cerimonial na Diplomacia ..............................................................................................63 O Acompanhamento de Temas Políticos na Diplomacia ..........................................................65 O Trabalho Diplomático Multilateral ....................................................................................68 A Diplomacia e a Promoção Comercial ................................................................................71 As Negociações Diplomáticas Econômicas ...........................................................................74 Temas Diplomáticos Especiais: Meio Ambiente, Energia e C&T ...............................................76 3 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel ARTIGOS SOBRE O INSTITUTO RIO BRANCO E O CACD O Instituto Rio Branco e a Formação Continuada dos Diplomatas ...........................................79 O Lado Acadêmico do Itamaraty: Pesquisas e Publicações .....................................................82 Você Conhece a Primeira Prova do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD)? ......85 Como Vencer o CACD? .....................................................................................................88 Os Três Passos Fundamentais para o Sucesso na Segunda fase do CACD! ................................91 Mudanças na Grade Curricular do Curso de Formação do IRBR ...............................................94 Devo me Preocupar agora com a 2ª fase do CACD? ..............................................................97 Quanto Tempo É Necessário Estudar para Passar no CACD? .................................................100 Dicas De Estudo Como Estudar para a Prova de Política Internacional ...........................................................102 Como Estudar para as Provas de Direito do CACD ..............................................................105 Recomendações de Leitura aos Candidatos ........................................................................109 4 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel JEAN MARCEL Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Promovido a Primeiro-Secretário, em junho de 2006. Concluiu o Curso de Aperfeiçoamento em Diplomacia do Instituto Rio Branco em março de 2007. Concluiu o Curso de Doutorado em Direito Internacional pela Universidade de Buenos Aires, Argentina, em julho de 2007. Serviu na Embaixada do Brasil em Washington, Setores Econômico e de Promoção Comercial (chefe), entre 2007 e 2010. Publicou o livro “La Corte Penal Internacional. Soberanía versus justicia universal”, Editoriales Reus/Zavalía/Temis/ UBIJUS, Madrid/Buenos Aires/Bogotá/México, D.F., em novembro de 2008. Condecorado com a Ordem do Rio Branco, Grau de Oficial, em abril de 2010. Assessor do Embaixador Antonio Patriota, na Secretaria-Geral das Relações Exteriores, em junho de 2010. Diretor do Departamento de Financiamento e Promoção de Investimentos no Turismo (DFPIT – Ministério do Turismo), de 2013 a 2014. Foi presidente da Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília (TCB), em 2015. Publicou o romance “Como ser malandro parecendo mané”, Giostri Editora, em fevereiro de 2016. Promovido a Conselheiro em junho de 2016. Atualmente, é chefe da Assessoria Internacional da Secretaria do Programa de Parcerias de Investimentos (SPPI) da Presidência da República. Autor 5 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel INTRODUÇÃO Olá, futuro(a) colega! É com imenso prazer que me dirijo a você, a quem desejo chamar de colega em um futuro muito próximo! Este e-book reúne artigos sobre o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), assim como a formação e as principais áreas de atuação dos profissionais do Ministério das Relações Exteriores. Muitos dizem que a carreira diplomática é como um sacerdócio, por conta da enorme dedicação pessoal que requer de seus integrantes, desde o início da pre- paração para o concurso até a aposentadoria. Apesar do aparente exagero, a afir- mação tem seu fundo de verdade, o que não quer dizer, porém, que o esforço não valha a pena. O que não se deve fazer, em hipótese alguma, é entrar nessa jornada sem informação e conhecimento sobre cada passo do caminho que se pretende percorrer. E este e-book traz preciosas informações sobre os bastidores da carreira diplo- mática, indispensáveis para quem quer conhecer bem o que faz um diplomata e sua rotina de trabalho. Quanto mais você souber sobre o que irá fazer no futuro, menor será a possibilidade de você se decepcionar. Lembre-se de que o tempo médio de carreira de um diplomata é de aproximadamente 40 anos. Ninguém será feliz se passar boa parte da vida fazendo o que não gosta, não é? Melhor, portanto, saber bem onde está se metendo. Após quase 17 anos de carreira, dos prováveis 45 que deverei permanecerno Ita- maraty, posso afirmar com segurança de que há poucas carreiras no serviço público brasileiro que se comparem à carreira diplomática em termos de satisfação profissio- nal e pessoal. Se o Ministério das Relações Exteriores, onde você pretende trabalhar, certamente vai exigir muito de você, saiba que também dará muito em troca. 6 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel Aqui, neste e-book, você irá conhecer, entre diversos exemplos da rotina de um diplomata, um pouco de minha própria trajetória profissional. Além de meu tempo de carreira, que iniciei aos 25 anos de idade, havia decidido ingressar no Itamaraty aos 14. Somado todo esse tempo, estou envolvido de alguma forma com o mundo da diplomacia há quase 30 anos. E posso afirmar que até hoje sigo encantado com o que faço. Quando comecei, recortava de jornais e revistas tudo o que encontrava sobre a carreira diplomática, a trajetória dos diplomatas que apareciam na imprensa, além de notícias sobre nossa política externa. Hoje, você tem na tela de seu computador, tablet ou celular um e-book com boa parte do que levei todo esse tempo para viver e descobrir. Se gostar do que vai ler, e espero que goste, você poderá ter, também nos mes- mos aparelhos eletrônicos, a melhor e mais atualizada preparação online para a aprovação no CACD: o curso do Projeto Vou Ser Diplomata do Gran Cursos Online, que este ano terá módulo de preparação personalizada igualmente para as provas da segunda e terceira fases do concurso. E por que afirmo, sem medo de errar, que o Gran Cursos Online oferece a me- lhor preparação para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata? Primeiro, porque é o curso mais democrático do mercado. Ainda que o CACD seja um exame de âmbito nacional, com provas realizadas em todas as capitais brasileiras, a oferta de cursos pelo Brasil é desigual, tanto em quantidade como em qualidade. Ao estu- dar pela Internet, não importa o local onde o(a) candidato(a) se encontra. Em segundo lugar, trata-se de excelente custo-benefício. Basta comparar as des- pesas de um curso presencial com o nosso online para se constatar a diferença, pois o primeiro requer mais com deslocamentos, tempo e mensalidade, entre outros gastos. 7 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel E como terceiro argumento, apenas para citarmos alguns, nossos professores, a maioria jovens diplomatas, reúnem as melhores condições para preparar candi- datos de modo mais eficaz porque: 1) são especialistas nas disciplinas que ensinam; 2) sabem como estudar para o CACD, pois foram aprovados recentemente no concurso; 3) conhecem o atual formato das provas como ninguém. Para ser aprovado em um concurso, é necessário conhecimento e metodologia (planejamento, foco e disciplina). Se isso pode ser afirmado sobre qualquer exame, no caso do CACD, torna-se ainda mais verdadeiro por se tratar de um conjunto de provas que exige preparação específica. Essa preparação não é uma corrida de 100 metros rasos, mas uma maratona, que requer preparo e paciência. E para enfrentar os mais de 42 quilômetros de uma maratona, é preciso iniciar o desafio com um primeiro passo. Para quem não conhece a carreira diplomática, este e-book pode ser um bom primeiro passo. Se já conhece um pouco, ou muito, também poderá aperfeiçoar seus conhecimentos. Com ele, espero, você irá adquirir noção adequada do que faz um diplomata e, quando se tornar meu colega, num futuro próximo, iniciará sua carreira sabendo o que o(a) espera. Boa leitura! 8 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel VOCÊ JÁ PENSOU EM SER DIPLOMATA? CONHEÇA DETALHES SOBRE A CARREIRA NO ITAMARATY Tinha apenas 12 anos de idade. Voltava de uma aula de francês, quando me deparei com a seguinte pergunta: “você já pensou em ser diplomata”? Era uma colega que estudava comigo o idioma de Proust. Já tinha ouvido falar, claro, da carreira diplomática, mas não tinha muita ideia de como seria a rotina de um profissional do serviço exterior brasileiro. É verdade que eu havia tomado gosto por aprender línguas – tinha alguma fluência em inglês e iniciava o estudo de francês porque a disciplina era ensinada na nova escola em que ingressara – e foi exatamente por isso que veio a sugestão daquela minha colega. “Diplomata ganha em dólar, conhece o mundo todo e vive em festas!”, dizia ela. Fiquei encantado, porém eu não dispunha do fácil acesso à informação que nos proporciona hoje a Internet para comprovar se o que ela dizia era verdade. Comecei a pesquisar tudo o que achava em jornais e revistas sobre a carreira. Montei uma pasta volumosa que guardo até hoje. A realidade que conheci muitos anos mais tarde me fez ver que há, sim, cer- to exagero em dizer que o diplomata vive cercado de glamour. O respeito que a sociedade brasileira tem pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) vem pelo resultado do bom trabalho que lá é produzido por seus profissionais. Todo diplomata do Brasil tem a responsabilidade de manter uma longa tradição de excelência, mas o trabalho que enfrenta para isso é bastante árduo. Em média, demora 30 anos para sair do cargo inicial de Terceiro-Secretário até chegar ao último – Ministro de Primeira Classe, mais conhecido como Embaixador. A escada de ascensão profissional tem como degraus intermediários as funções de Segun- do-Secretário, Primeiro-Secretário, Conselheiro e Ministro (de Segundo Classe). 9 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel Obviamente, não é preciso ser Embaixador para exercer um papel relevante no Itamaraty, apelido que ganhou o Ministério por conta do negociante português Francisco José da Rocha Leão, que recebera o título de Conde de Itamarati e foi proprietário do palácio no Rio de Janeiro batizado com seu nome e que entre 1899 e 1970 foi sede do MRE. Não cheguei ainda à metade de minha carreira e já tive a oportunidade de fa- zer muita coisa interessante: servi por 3 anos na Embaixada do Brasil em Buenos Aires e outros 3 em Washington, fiz missões transitórias de alguns meses a Paris e Montevidéu, missões eventuais (de poucos dias) por países de todos os conti- nentes e ainda trabalhei no Brasil com temas acadêmicos, promoção comercial, turismo e até transporte coletivo (em período de empréstimo para o Governo do Distrito Federal). Para chegar lá, porém, a caminhada começa com o concurso público. Difícil para o aspirante a diplomata pensar que será um dos 30 aprovados entre milha- res de candidatos, como deverá ocorrer no próximo exame, mas a recompensa é ter a certeza que os vitoriosos estarão entre os que mais estudarem e, mesmo em caso de reprovação, diferentemente da seleção para outras carreiras, sabe-se de antemão que no ano seguinte haverá um novo processo seletivo. Além disso, todos os que passarem serão nomeados e tomarão posse imediatamente. R$ 15 mil de salário inicial, dois anos de preparação acadêmica e profissiona- lizante, já ganhando como Terceiro-Secretário, apartamento funcional em Brasília e perspectiva de ter, durante décadas, vários empregos em uma única carreira. Rodar o mundo, conhecer novos lugares e pessoas, ganhar em dólar quando esti- ver trabalhando no exterior fazem, sem dúvida alguma, o esforço de estudar para esse concurso tão difícil valer a pena. 10 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel A boa notícia é que com o objetivo de preparar os candidatos para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata, um dos mais difíceis do País, o Gran Cur- sos Online lançou um novo curso de preparaçãoextensiva para o CACD 2017, composto por teoria e exercícios. Nosso objetivo é ajudá-lo na consolidação de seu conhecimento e, consequentemente, na realização de uma excelente prepa- ração para o próximo concurso. Além das orientações de uma equipe altamente qualificada (diplomatas e especialistas), que irá destacar e desvelar os principais tópicos de cada disciplina, você contará, ainda, com as preciosas dicas sobre as particularidades da banca CESPE, um ano de acesso ao conteúdo, visualizações ilimitadas e outros diferenciais. Com esse curso você se prepara de forma anteci- pada e eficaz! 11 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel VOU SER DIPLOMATA! R$ 17 MIL + UM PROJETO DE VIDA! O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) é realizado anu- almente e todos os candidatos aprovados são nomeados imediatamente para o cargo inicial da carreira (Terceiro-Secretário) e passam a receber salário bruto de R$ 16.935,40, além de outros benefícios que veremos a seguir. Esse número, por si só, já é bastante atraente, mas o CACD é mais do que um concurso; trata-se de um projeto de vida que muda o destino não apenas do(a) aprovado(a), mas de toda a família que o(a) acompanha. Por isso, ao decidir prestar o exame, torna-se imprescindível conhecer não apenas seu formato, mas todos os detalhes da for- mação e da rotina de trabalho dos diplomatas. Comecemos com uma excelente notícia: se você chegou até a leitura destas palavras, saiba que está no lugar certo! Com toda sua tradição e excelência aca- dêmica, o Gran Cursos Online é a melhor escolha para a preparação ao CACD e como fonte de informações sobre a carreira diplomática. Nosso corpo docente é formado, em sua grande maioria, por diplomatas recém-aprovados no concurso e especialistas em suas respectivas áreas de ensino. Com isso, você aprenderá conosco como identificar os conteúdos mais impor- tantes, já que não é possível estudar tudo. Isso com pessoas que têm fresco na cabeça também o formato das provas em que foram aprovadas recentemente, provas essas que são semelhantes com as que você irá se deparar. Eis nossa re- ceita de sucesso! O CACD é um concurso bastante previsível, pois é realizado uma vez por ano na mesma época e com o mesmo formato. Assim, levam vantagem os candida- tos que se preparam com mais foco para essa disputa, em detrimento daqueles que não veem a diplomacia como primeira opção. O exame de âmbito nacional é organizado pelo Instituto Rio Branco (IRBr), em parceria com o Cebraspe (mais conhecido com CESPE, órgão vinculado à Universidade de Brasília – UnB). 12 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel O IRBr tem por tradição lançar o edital do CACD até o fim do primeiro semestre de cada ano, ou seja, até julho de 2017, deveremos ter mais uma edição, como ocorre anualmente, desde 1946. O concurso é composto por três fases. Na pri- meira, os concorrentes passarão por prova objetiva composta por 73 questões: 14 de Língua Portuguesa, 13 de Língua Inglesa, 12 de Política Internacional, 11 de História Mundial, 6 de História do Brasil, 6 de Noções de Economia, 6 de Noções de Direito e Direito Internacional Público e 5 de Geografia. Na segunda fase, os candidatos se submetem à prova escrita de caráter eli- minatório e classificatório, sendo cobrada uma redação e dois exercícios de inter- pretação, de análise ou de comentário de textos. Já na terceira fase, são cinco avaliações discursivas de: a) Língua Inglesa; b) História do Brasil; c) Política In- ternacional e Geografia; d) Noções de Economia; e) Noções de Direito e Direito Internacional Público; e uma prova objetiva (itens CERTO e ERRADO) de noções de Língua Espanhola e Língua Francesa. Os aprovados no CACD farão, já como Terceiros-Secretários, o Curso de Forma- ção do IRBr, com dois anos de duração e aulas regulares de disciplinas de línguas e de conteúdo, como História do Brasil e História Mundial, Política Internacional, Teoria Política, Direito Internacional e Economia, além de módulos profissionali- zantes e palestras com a participação de autoridades e especialistas em áreas e temas relevantes para a política externa brasileira. Ao longo da carreira, os di- plomatas ainda passam pelo IRBr como requisito obrigatório para a ascensão de Segundo a Primeiro-Secretário (Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas – CAD) e de Conselheiro a Ministro de Segunda-Classe (Curso de Altos Estudos – CAE)[1]. Ao terminarem o Curso de Formação, os jovens diplomatas trabalham algum tempo em Brasília (em geral, pelo menos dois anos), antes da primeira saída (remoção) ao exterior. As opções de áreas de trabalho são muitas: temas políti- cos (bilaterais ou multilaterais), econômicos, culturais, promoção comercial, meio ambiente, ciência e tecnologia, energia, consular, administração etc.[2]. 13 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel No exterior, os diplomatas trabalham em Embaixadas (representações políticas do Brasil localizadas nas capitais dos países com os quais temos relações diplomá- ticas), Consulados (postos de assistência a brasileiros) e Missões Junto a Organis- mos Internacionais (como ONU, OMC, OEA, entre outras tantas). No Brasil, além do salário entre R$ 16.935,40 (Terceiro-Secretário) e R$ 24.142,66 (Ministro de Primeira-Classe – ou Embaixador), os diplomatas ocu- pam os cargos de confiança (DAS) do Itamaraty, o que aumenta a remuneração, e apartamentos funcionais. Já no exterior, a remuneração é em dólar, de acordo com o custo de vida do país onde se vive, e também há benefícios como auxílio- moradia e desconto de pagamento de imposto de renda[3]. [1] Saiba mais em: http://blog.vouserdiplomata.com/o-instituto-rio-branco-e- -formacao-continuada-dos-diplomatas/ [2] Leia alguns de nossos artigos sobre a estrutura e o trabalho dos diplomatas no Brasil e no exterior em http://blog.vouserdiplomata.com/categoria/artigos-so- bre- diplomacia/ [3] Detalhes da remuneração dos diplomatas em: http://blog.vouserdiplomata. com/quanto-ganha-um-diplomata-ao-longo-da-carreira/ 14 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel QUANTO GANHA UM DIPLOMATA AO LONGO DA CARREIRA? Toda vez que é publicado um edital para um concurso público, a primeira infor- mação que se busca – antes mesmo do prazo, da taxa de inscrição, das datas de provas ou do número de vagas – é a remuneração inicial dos cargos em disputa. No caso do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), quando o Gran Cursos Online fez o anúncio do exame de 2016, em junho passado, foi anunciado que o salário de um Terceiro-Secretário, cargo para o qual seriam nomeados os aprovados no Concurso, era de R$ 15 mil. Quando o Edital do CACD de 2017 for anunciado, esse valor será atualizado para R$ 16.935,40. A diferença entre a remuneração inicial da carreira diplomá- tica (Terceiro-Secretário) e a final (Ministro de Primeira-Classe, mais conhecido como Embaixador[1]), é de cerca de 40%: Segundo-Secretário (R$ 18.724,06), Primeiro-Secretário (R$ 20.114,09), Conselheiro (R$ 21.611,73), Ministro de Se- gunda-Classe (R$ 23.216,12) e Ministro de Primeira-Classe (R$ 24.142,66). Esses valores são a remuneração bruta, sem descontos como imposto de ren- da e seguridade social, quando o diplomata está lotado no Brasil e sem exercer cargo de confiança, seja no próprio Ministério das Relações Exteriores (MRE) ou em outro órgão do Governo Federal ou em outro nível (estadual ou municipal) e mesmo nos Poderes Legislativo e Judiciário. Os diplomatas podem e com frequência são cedidos pelo Itamaraty para traba-lhar temporariamente fora do Ministério. As regras para a cessão de um diplomata são definidas pela Lei n. 11.890, de 24 de dezembro de 2008: Art. 32. Os integrantes da Carreira de Diplomata somente poderão ser cedidos ou ter exercício fora do respectivo órgão de lotação nas seguintes situações: I – requisição prevista em lei para órgãos e entidades da União[2]; II – cessões para o exercício de cargo de Natureza Especial ou cargos em comissão de nível igual ou superior a DAS-4 do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores, ou equivalentes, em outros órgãos da União, em autarquias ou em fundações públicas federais; 15 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel III – exercício de cargo de diretor ou de presidente de empresa pública ou sociedade de economia mista federal; IV – exercício dos cargos de Secretário de Estado ou do Distrito Federal, de cargos em comissão de nível equivalente ou superior ao de DAS-4 ou de dirigente máximo de en- tidade da administração pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, de prefei- tura de capital ou de município com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes[3]; V – cessão para o exercício de cargos em comissão em Secretarias de Assuntos Inter- nacionais e órgãos equivalentes da administração direta do Poder Executivo. Todos os DAS (cargos de Direção e Assessoramento Superiores) do Ministério das Relações Exteriores são reservados aos diplomatas de carreira. Os DAS do MRE vão do 2 ao 6, passando pelos DAS-3, DAS-4 e DAS-5. A titularidade das Subsecretarias, cargos de terceiro escalão, são DAS-6, ocupados sempre por Em- baixadores (Ministros de Primeira-Classe). Em seguida vêm os Diretores de De- partamentos (DAS-5), normalmente ocupados por Embaixadores ou Ministros (de Segunda-Classe), e as Chefias de Divisão (DAS-4), em geral a cargo dos Conse- lheiros, ainda que haja, excepcionalmente, Primeiros-Secretários e Ministros nes- sas chefias. Os DAS 2 e 3 são de Subchefia de Divisão ou de Assessor de Subse- cretário ou de Diretor de Departamento, usualmente ocupados por Secretários[4]. Ao ocupar um DAS ou cargo equivalente, o diplomata normalmente opta por receber 60% da remuneração do cargo[5]. Assim, por exemplo, um Ministro de Segunda-Classe que esteja nomeado como Diretor de um Departamento do Ita- maraty[6], ganhará: R$ 23.216,12 + R$ 7.111,76 – que corresponde a 60% de R$ 11.852,93 (valor do DAS 101.5[7]) –, ou seja, R$ 30.327,88. Em outros Ministérios do Governo Federal, vale exatamente a mesma conta. Em outros Poderes ou em Governos estaduais ou municipais, ou cargos não são denominados DAS e os valores e percentuais são distintos. Mas para trabalhar nesses órgãos, conforme vimos, é preciso que a remuneração do cargo a ser ocu- pado pelo diplomata cedido seja equivalente a, no mínimo, R$ 9.025,21 (valor do DAS-4). 16 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel No exterior, a lógica da remuneração dos diplomatas é distinta. Os integrantes da carreira são remunerados de acordo com o custo de vida do país para o qual foram designados, além de ajuda de custo e auxílio-moradia que cobrem parcial- mente as despesas com mudança e habitação. Os valores são pagos em dólares norte-americanos, em conta na agência do Banco do Brasil em Miami. [1] A requisição é distinta da cessão, pois não pode ser recusada pelo órgão cedente (Itamaraty) e o órgão que recebe o diplomata não necessita oferecer-lhe cargo. É o caso dos diplomatas que trabalham na Presidência da República. [2] Redação dada pela Lei n. 12;269, de 2010. [3] O cargo de Secretário-Geral das Relações Exteriores (Vice-Chanceler) tam- bém é reservado a diplomatas de carreira, mas não é DAS e, sim, Cargo de Natu- reza Especial. Trata-se da maior posição a que deve aspirar um diplomata, pois o de Ministro das Relações Exteriores, ainda que possa ser ocupado por alguém da carreira, é de livre escolha do Presidente da República. [4] Quando investido em cargo em comissão, um servidor público pode optar entre três fórmulas distintas de remuneração: receber a remuneração da tabela do cargo em comissão, acrescida dos anuênios; receber a remuneração do seu cargo efetivo, posto, graduação ou emprego, acrescida da diferença desta remu- neração com a do cargo em comissão; ou receber a remuneração do seu cargo efetivo, posto, graduação ou emprego, acrescida do percentual de 60% da remu- neração do cargo em comissão. Os diplomatas normalmente optam pela terceira opção, por ser mais vantajoso financeiramente. [5] Os DAS 1 a 6 podem ser 101 ou 102. Os primeiros são cargos de Direção e os segundos, de Assessoramento, daí a sigla Direção e Assessoramento Superior (DAS). 17 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel O QUE FAZ UM DIPLOMATA EM UMA EMBAIXADA? Quando se fala em diplomacia, logo vem à mente o trabalho de representação no exterior. Nenhuma pessoa de bom senso pensará em ser diplomata se não achar interessante a ideia de morar fora do Brasil para representar nosso País. Isso pare- ce óbvio, pois talvez seja o grande diferencial dessa carreira comparada às demais do serviço público. Não é só isso que se faz no Ministério das Relações Exteriores (MRE); há outras numerosas funções desempenhadas também no Brasil, seja em Brasília, sede do Ministério das Relações Exteriores, seja em escritórios de repre- sentação do Itamaraty em outros estados, ou mesmo em casos de cessão (emprés- timo) a outros órgãos do governo, seja no plano federal, estadual ou municipal. A rotina de um profissional da diplomacia em uma embaixada depende do setor em que atua. Antes, nunca é demais repetir, vamos recordar a diferença entre o trabalho diplomático e o consular. Em uma embaixada ou em representações (mis- sões) junto a organismos internacionais como a ONU, os diplomatas representam o Estado brasileiro. Já em um consulado, a tarefa é dar assistência aos brasileiros no exterior, com incumbências como emitir passaportes, visitar presos, realizar casa- mentos ou registrar nascimentos. Em uma embaixada, os principais setores são o político, o econômico (dentro do qual o de promoção comercial), o cultural (inclusive o educacional) e o administra- tivo. Analisemos um a um. O Setor Político é responsável pelo acompanhamento das políticas governamen- tais do país onde está localizada a embaixada, assim como de outras que represente. Isso porque não é necessário ter uma representação na capital de um país com o qual se tem relações diplomáticas. Por exemplo, em Riga, capital da Letônia, não te- mos representação diplomática, mas nossa embaixada em Estocolmo responde pelo 18 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel Brasil na república báltica. Assim, os diplomatas do Setor Político de nossa embaixa- da na capital sueca acompanham a política interna dos governos das duas nações e se reportam diariamente ao MRE, em Brasília, sobre o que se decide lá e interessa ao nosso País. Para esses relatórios, interagem com interlocutores locais e buscam interpretar as decisões do governo com base na experiência de vida no local. Já o Setor Econômico faz trabalho semelhante, porém sobre os temas da econo- mia, evidentemente. Um diplomata dessa área na Embaixada do Brasil em Washin- gton, por exemplo, tentará entender e informar, se possível antecipar, as decisões do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos, mais conhecido como Fed, que é o banco central norte-americano, responsável pela definição das taxas de juros do país. Esse assunto obviamente interessa muito ao Brasil, na medida em que o rumo da maior economia do mundo afeta todas asdemais, inclusive a nossa. A parte do Setor Econômico, o Setor de Promoção Comercial, também chamado simplesmente de SECOM, ocupa-se de promover as exportações brasileiras para aquele mercado, bem como atrair investimentos dos países em que atua para o Brasil. Se o governo brasileiro resolve lançar um programa de concessões em in- fraestrutura e quer estimular a participação de fundos de investimento e empresas estrangeiras para investirem no Brasil, os diplomatas dos SECOMs divulgarão os respectivos editais junto a potenciais interessados em seus locais de atuação. O Setor Cultural promove a cultura brasileira no país de representação da em- baixada, assim como eventuais cooperações acadêmicas. Se um artista vai se apre- sentar em uma casa de shows no exterior, os diplomatas desse setor da embaixa- da poderão ajudar a abrir portas locais para viabilizar a apresentação. Em outros casos, as instalações da representação brasileira abrigam exposições de pintores brasileiros. Ainda em outros, o cultural promove a vinda de estudantes estrangeiros para estudarem no Brasil. 19 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel Finalmente, o Setor da Administração da embaixada cuida da contabilidade, da contratação de funcionários locais, alocação de recursos, como os veículos oficiais, pagamentos etc. Uma embaixada precisa ser administrada como uma empresa, talvez ainda com mais zelo, por lidar com recursos públicos. Ainda que interaja com autoridades do governo e participe de eventos que muitos consideram gla- morosos, não podemos perder de vista que um diplomata é, antes de tudo, um funcionário do Estado. 20 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel COMO SE DEFINE O DESTINO DE UM DIPLOMATA NO EXTERIOR? Sempre que converso com candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), surge inevitavelmente a pergunta: um diplomata pode ser obri- gado a ir morar em algum país? A resposta é não, desde que excluamos do contexto o próprio Brasil, nos casos em que o diplomata esteja no exterior e, dependendo da situação, deva retornar ao Brasil. Isso traz alívio a muita gente – como é natural – e nos leva à curiosidade de entender as regras que definem a movimentação de pes- soal do quadro funcional do Ministério das Relações Exteriores. Antes de qualquer coisa, vamos diferenciar os Embaixadores, Cônsules-Gerais e Ministros Conselheiros dos demais diplomatas e pessoal de apoio administrativo do Itamaraty. No caso de uma Embaixada, uma Missão Junto a Organismos Inter- nacionais (como a ONU) ou Consulados-Gerais, o (a) dirigente dessa representação brasileira, chamado de Chefe de Posto, será qualquer brasileira ou brasileiro nato designado pelo Presidente da República. Quase sempre, por se tratar de função que exige considerável preparo técnico, o (a) escolhido (a) é um diplomata experiente, que esteja em um dos dois últimos estágios da carreira diplomática (Ministro de Primeira Classe ou Ministro de Segunda Classe). Assim, por exemplo, quando nosso Embaixador em Tóquio é escolhido pelo Presidente da República, ele passa por sabatina no Senado Federal, é removido para nossa Embaixada na capital japonesa, assumindo a chefia do Posto, após a entrega de credenciais (espécie de carta de apresentação) ao Imperador do Ja- pão, que é o Chefe de Estado. Do mesmo modo, o diplomata que assumirá o cargo de Cônsul-Geral do Brasil em Miami, geralmente um Ministro de Primeira Classe – informalmente chamado de Embaixador, ainda que não vá exercer as funções de 21 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel Embaixador –, passará pelo mesmo processo, sem a necessidade, no entanto, de sabatina, nem de entrega de credenciais, por não se tratar da máxima represen- tação do Brasil junto ao Governo dos Estados Unidos. No caso do cargo de Ministro-Conselheiro, que é o diplomata número 2 de uma Embaixada, aquele que substitui o Embaixador em suas ausências e é responsável pela supervisão do pessoal lotado no Posto (sinônimo de qualquer representação brasileira no exterior), o Presidente da República não pode designar qualquer brasileiro, pois a função é de exercício exclusivo dos membros da carreira diplo- mática, assim como todas as demais. Normalmente, quem escolhe o Ministro- -Conselheiro é o próprio Embaixador que irá chefiá-lo. O prazo de permanência desse profissional em cada Embaixada é de no máximo 5 anos (mesmo prazo dos Embaixadores e dos Cônsules-Gerais). Quanto aos demais diplomatas e funcionários administrativos do quadro fun- cional do Itamaraty, a movimentação do Brasil para o exterior e de um Posto a outro fora do país é regulada pelos chamados Planos de Remoções. Os Planos de Remoções são as regras definidas, a cada semestre, para designar o destino de cada funcionário. Publicado o Plano no Boletim de Serviço do Itamaraty (espécie de Diário Oficial interno do Ministério), todos aqueles que desejam ser removidos ou que são obrigados a se movimentar por cumprirem o prazo máximo de per- manência no Posto em que servem, inscrevem-se para se candidatar às vagas disponíveis. A definição das vagas em cada Posto ocorre apenas após o período de inscri- ções, exatamente para que se tenha conhecimento sobre quem se movimentará e, consequentemente, abrirá uma vaga no exterior. O Plano de Remoções dos diplomatas, por exemplo – e o mesmo vale para os Oficiais de Chancelaria, Assis- tentes de Chancelaria e outros funcionários de apoio –, define as movimentações 22 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel dos Terceiros-Secretários, Segundos-Secretários, Primeiros-Secretários e Conse- lheiros. Os Ministros (de Segunda Classe) e os Ministros de Primeira Classe (tam- bém chamados de Embaixadores) não participam dos Planos de Remoções, pois suas transferências ocorrem pelo modo descrito anteriormente. As representações brasileiras no exterior são classificadas pelas letras A, B, C e D, em que A é o melhor Posto, tanto em termos de qualidade de vida quanto de importância do país para o Brasil, e D o mais difícil, ficando os Postos B e C em níveis intermediários. São exemplos de Posto A: os EUA, a Argentina e a França; Posto B: o Canadá e a Austrália; Posto C: a Rússia e a China; e Posto D: o Suri- name e a Guiné-Bissau. Se um diplomata está lotado em um Posto A, por exemplo, ele não pode se candidatar a outro Posto A, precisa escolher um de outra letra. O tempo de per- manência máxima nesse país é de 3 anos. Ao sair de um B, a mesma regra se aplicará se seu Posto imediatamente anterior, antes de retornar a Brasília, foi A ou outro B. Assim, somente lhe restam as opções C e D. Seu prazo para movimenta- ção também se esgota após 3 anos. Ao sair de Postos classificados como C ou D, nos quais não necessita permane- cer por mais de 2 anos (ainda que possa preferir ficar), o diplomata não só pode, como tem o direito de escolher um Posto A como destino. Claro que dispõe igual- mente da liberdade de escolher outro Posto mais difícil, porém, a decisão é sua. Voltando agora, à questão inicial, ninguém é obrigado a ser removido para um determinado país que não escolheu. Se está em Brasília querendo sair para o ex- terior e não conseguiu que lhe oferecessem o Posto de seu interesse, pode desistir do Plano de Remoções e permanecer em nossa capital. Caso esteja no exterior e queira outro destino, mas não aceitou o que lhe foi oferecido, só lhe resta a opção de retornar a Brasília. Em virtude disso afirmei que essa pode ser a única opção obrigatória. 23 de 115www.grancursosonline.com.br GUIAPRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel Para concluir, todo diplomata que está no exterior deve retornar ao Brasil após 10 anos consecutivos de permanência fora do país. A única exceção a essa regra aplica-se aos Conselheiros, que podem permanecer por mais tempo, desde que respeitem o rodízio entre as diversas categorias de Postos e permaneçam em cada um o prazo máximo descrito acima. 24 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel COMO UM DIPLOMATA VAI DE TERCEIRO-SECRETÁRIO A EMBAIXADOR Todos os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) imaginam-se não apenas como um membro do corpo diplomático brasileiro, mas principalmente, um dia, como embaixador(a) do Brasil em Paris, em Washington ou alguma embaixada importante. Claro que a pessoa que irá ocupar um desses car- gos daqui a 40 anos, por exemplo, provavelmente ainda não ingressou na carreira e poderá até ser você ou algum concorrente seu no CACD de 2017, mas é preciso saber que o caminho não é fácil e o funil, apertado. Entendamos como funciona. As promoções na Carreira de Diplomata obedecem a critérios legais, especial- mente os estabelecidos nas Seções V e VI da Lei n. 11.440, de 29 de dezembro de 2006, que instituiu o Regime Jurídico dos Servidores do Serviço Exterior Brasileiro, aí incluídos os diplomatas. Com certeza, como em toda carreira, nem toda promo- ção é automática (por antiguidade), assim que obedecidos os requisitos previstos na Lei, aliás, no caso do Itamaraty, apenas a primeira é assim. Das cinco promo- ções a que aspiram os diplomatas, as quatro últimas ocorrem também a partir de avaliações subjetivas, o que é chamado de promoção por merecimento[1]. A promoção por antiguidade significa que a ascensão funcional ocorre pela or- dem de ingresso na carreira, logo após a aprovação no CACD. É desse modo que um diplomata sobe o primeiro degrau de sua trajetória, ou seja, é promovido de Terceiro-Secretário (cargo inicial) a Segundo-Secretário. Os aprovados no CACD são dispostos em uma fila, de acordo com a colocação em que passaram. O primei- ro colocado no Concurso será o primeiro da fila e assim por diante. Esse primeiro da fila do CACD de 2016 estará logo atrás do último colocado do CACD de 2015. 25 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel Para ser promovido a Segundo-Secretário, o diplomata não precisa jamais ter servido no exterior. Como os primeiros anos de exercício profissional ocorrem ne- cessariamente em Brasília, inclusive porque o período do Curso de Formação[2] do Instituto Rio Branco (IRBr) obriga-o a morar na capital do País, em geral, essa promoção ocorre antes da primeira missão permanente ao exterior, ou durante sua estada no primeiro posto (embaixada, consulado ou missão junto a algum organis- mo internacional). Atualmente, o tempo médio para que isso ocorra tem sido de 6 a 7 anos, incluído aí o período de curso no IRBr. Para a promoção de segundo a Primeiro-Secretário, o diplomata necessita haver concluído o CAD (Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas)[1], ter ao menos 2 anos de serviço prestado no exterior e haver completado 3 anos de exercício pro- fissional como Segundo-Secretário, que é o tempo de interstício mínimo entre cada classe da carreira. Como se trata de uma promoção por merecimento, no entanto, como afirmei, não basta cumprir esses requisitos, pois a escolha é da alta direção do Ministério, sendo a última palavra a do Presidente da República, com quem o Ministro das Relações Exteriores (Chanceler) despacha a lista de promovidos em todas as classes. Para ser um dos escolhidos a qualquer promoção por merecimento, além de cumprir os requisitos mínimos de promoção em sua respectiva classe, o diplomata precisa entrar no chamado Quadro de Acesso (QA). Trata-se de uma lista elaborada a partir de uma votação de todos os diplomatas sobre quais candidatos à promo- ção acham que merecem recebê-la. Os diplomatas votam nos candidatos de sua própria classe (votação horizontal) e das classes inferiores à sua (votação vertical). Os resultados das votações são examinados em 3 diferentes câmaras de avalia- ção formadas por chefes de divisão, diretores de departamento e Subsecretários. As listas começam maiores na câmara hierarquicamente menor e vão diminuindo na medida em que sobem para as câmaras mais altas. Após essa triagem, o chan- 26 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel celer decide quem entra no Quadro de Acesso de cada classe. O número de ingres- santes no QA é o mesmo dos promovidos, que obviamente deixam o Quadro ao mudarem de classe. As condições para a promoção de diplomatas nas demais classes estão previstas no Artigo 52 da Lei n. 11.440/2006: Art. 52. Poderão ser promovidos somente os diplomatas que satisfaçam os seguintes requisitos específicos: I – no caso de promoção a Ministro de Primeira Classe, contar o Ministro de Segunda Classe, no mínimo: a) 20 (vinte) anos de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da carreira, dos quais pelo menos 10 (dez) anos de serviços prestados no exterior; e b) 3 (três) anos de exercício, como titular, de funções de chefia equivalentes a nível igual ou superior a DAS-4 ou em posto no exterior, de acordo com o disposto em re- gulamento; II – no caso de promoção a Ministro de Segunda Classe, haver o conselheiro concluído o Curso de Altos Estudos – CAE e contar pelo menos 15 (quinze) anos de efetivo exer- cício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da carreira, dos quais um mínimo de 7 (sete) anos e 6 (seis) meses de serviços prestados no exterior; III – no caso de promoção a conselheiro, haver o Primeiro-Secretário concluído o Curso de Atualização em Política Externa – CAP e contar pelo menos 10 (dez) anos de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da carreira, dos quais um mínimo de 5 (cinco) anos de serviços prestados no exterior. O tempo mínimo de exercício do diplomata no exterior, exigência legal a partir da promoção de segundo a Primeiro-Secretário, é contado somente quando a mis- são é permanente ou transitória ininterrupta de duração igual ou superior a 1 ano. O período de serviço prestado em postos do grupo D é computado em triplo e o prestado no grupo C, em dobro[2]. Com todas essas exigências, a carreira diplomática torna-se, como costumo afirmar, uma maratona, não uma corrida de 100 metros rasos. Pior: nessa ma- ratona, ao contrário do que ocorre com a competição olímpica, há barreiras, e muitas. É reconfortante saber, no entanto, que o tempo pode ser cruel com a pro- 27 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel moção de alguns diplomatas a curto prazo, que muitas vezes não têm seu mereci- mento reconhecido como acham que deveriam, mas, a longo prazo, todos os que trabalham bem e seriamente acabam ascendendo na carreira. Poucos conseguem, no entanto, chegar ao último degrau – o de Ministro de Primeira Classe, também chamado de embaixador – sem esperar ao menos 30 anos. É preciso, pois, ter pa- ciência, trabalhar com seriedade e não achar que a satisfação profissional ocorre somente quando se chega ao topo da carreira. [1] Isso é exatamente o estabelecido no art. 51 da referida Lei: Art. 51. As promoções na Carreira de Diplomata obedecerão aos seguintes critérios: I – promoção a Ministro de Primeira Classe, Ministro de Segunda Classe, Conselheiro e Primeiro-Secretário, por merecimento; e II – promoção a Segundo-Secretário, obedecida a antiguidade na classe e a ordem de classificação no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata– CACD, cumprido o requisito previsto no art. 53 desta Lei. [2] Ver http://www.institutoriobranco.mre.gov.br/pt-br/curso_de_aperfeicoa- mento_de_diplomatas.xml 28 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel DIPLOMATA TAMBÉM FAZ TRABALHO ADMINISTRATIVO Nem todo diplomata que deixa o Instituto Rio Branco (IRBr) é aproveitado de cara em áreas fins do Ministério das Relações Exteriores (MRE), ou seja, em ati- vidades mais relacionadas com as matérias cobradas no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), como temas políticos, econômicos, de promoção comercial ou consulares. Por escolha ou necessidade do Itamaraty, muitos diplo- matas têm por responsabilidade funções administrativas, para lidar com recursos humanos ou financeiros. A Subsecretaria-Geral do Serviço Exterior (SGEX) é a unidade, dentro da es- trutura do MRE, encarregada de lidar com os temas administrativos. À SGEX estão subordinados os seguintes Departamentos ou equivalentes: Departamento de Ad- ministração (DA); Departamento de Comunicações e Documentação (DCD); De- partamento do Serviço Exterior (DSE); Inspetoria-Geral do Serviço Exterior (ISEX); Coordenação-Geral de Modernização (CMOR); e Coordenação-Geral de Orçamento e Finanças (COF). Todas essas seções são chefiadas por diplomatas graduados, que, por sua vez, são assessorados por outros mais jovens (modernos, na lingua- gem interna), além de oficiais de chancelaria, assistentes de chancelaria e demais funcionários e terceirizados. O Departamento de Administração é a grande unidade administrativa do MRE. O DA cuida de temas como patrimônio, processos licitatórios, reformas (projetos que envolvem engenharia e arquitetura), pagamentos no exterior e serviços ge- rais, como transporte, telefonia, limpeza e segurança. Ao Departamento de Comunicações e Documentação cabe prover e adminis- trar os meios e sistemas corporativos para tratamento da informação do Ministério das Relações Exteriores e gerir os recursos aplicados aos sistemas corporativos de 29 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel tratamento da informação no Ministério nas áreas de tecnologia da informação, comunicações e gestão documental. É, ainda, o órgão da Secretaria de Estado que exerce o papel de interface com o Escritório de Representação no Rio de Janeiro para os assuntos de natureza temática relativos ao Museu Histórico e Diplomático, à Mapoteca, ao Arquivo Histórico e à Biblioteca. Já o Departamento do Serviço Exterior planeja, coordena e supervisiona as atividades de formulação e execução da política de pessoal, os processos de re- moção e lotação, inclusive em seus aspectos de pagamentos e de assistência mé- dica e social. Muito simplificadamente, comparando esse Departamento com os supracitados, enquanto o DA cuida dos pagamentos e o DCD se ocupa dos papéis (físicos e eletrônicos), o DSE é responsável pela administração de pessoas, com exceção da capacitação dos diplomatas, que está a cargo do IRBr. Finalmente, merecem referência 3 unidades da SGEX que não estão estru- turadas como Departamento. “À Inspetoria-Geral do Serviço Exterior compete desenvolver atividades de inspeção administrativa e de avaliação do desempenho concernente aos programas e às ações dos setores político, econômico, comercial, consular, cultural, de cooperação técnica e de cooperação científico-tecnológica das unidades organizacionais na Secretaria de Estado e no exterior”, conforme estabelecido no art. 49 do Decreto n. 8.817, de 21 de julho de 2016, que aprovou a nova Estrutura Regimental do MRE. A Coordenação-Geral de Modernização se ocupa de projetos específicos de normas e rotinas administrativas, acompanhando seu desenvolvimento e execu- ção, podendo propor ações e sugerir prioridades nas atividades de organização e de modernização administrativas do MRE. Para desempenhar tais tarefas, a CMOR elabora projetos de leis, decretos, portarias e regulamentos relativos à organiza- ção e às carreiras do MRE, além de organizar e divulgar informações sobre estru- tura organizacional, normas, rotinas, manuais de serviço, regimentos internos, instruções e procedimentos operacionais. 30 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel E à Coordenação-Geral de Orçamento e Finanças cabe participar da elaboração do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias anual (parte referente ao MRE), além de orientar as Unidades Gestoras na apresentação das necessidades orçamentárias anuais, encaminhar propostas de créditos adicionais ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, entre outras atribuições. O objetivo desse artigo não foi o de assustar candidatos do Concurso de Admis- são à Carreira de Diplomata (CACD), que a esta altura podem estar preocupados de se dedicar à preparação a um exame de difícil aprovação para eventualmente ser lotado no futuro em uma área administrativa, para cuidar de temas que, na aparência, são menores que outros que tratamos neste Guia Prático. Meu objetivo, ao dividir com você essas informações, é reforçar um argumento que utilizo sempre, que é o da diversidade de temas com os quais pode trabalhar um diplomata. Utilizo, com frequência, a frase que mais me atraiu e atrai até hoje no Itamaraty foi a possibilidade de ter diversos empregos em uma única carreira. Se você, após aprovação do CACD e conclusão do curso de formação do IRBr, vier a ser aproveitada(o) em uma área administrativa do MRE, saiba que: 1) nada será permanente em sua carreira (em pouco tempo, terá a oportuni- dade de ir trabalhar em outra área); 2) você poderá gostar desse trabalho e até se especializar, como já ocorreu com muitos e muitos diplomatas. Comigo mesmo ocorreu algo parecido: o tema de que mais gostei de tratar em minha carreira foi o da promoção comercial, área pouco cobiçada dentro do Itamaraty. Portanto, é importante e positivo ter opções profissionais e isso não falta na carreira diplomática. 31 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Victor Toniolo O QUE FAZ UM DIPLOMATA? Muitos candidatos à carreira diplomática costumam fazer a pergunta: “Mas, afi- nal, o que faz um diplomata?”. A questão pode parecer simples, mas a resposta é, na realidade, um pouco complexa. Para apresentar uma visão inicial, bastante mo- desta, é oportuno, primeiramente, identificar os dois principais espaços nos quais o diplomata brasileiro costuma exercer suas atividades: a Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), em Brasília, e os postos, no exterior. Na SERE, os principais vetores aos quais o diplomata pode dedicar seu trabalho são, basicamente: geográfico, multilateral, consular e administrativo. As atividades das áreas geográficas correspondem àquelas vinculadas ao amplo campo das rela- ções bilaterais entre o Brasil e os demais países do globo. A Divisão da Ásia Central e Meridional, por exemplo — na qual trabalho —, tem responsabilidade sobre as relações com os seguintes países: Irã, Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Afeganistão, Paquistão, Índia, Butão, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka e Ilhas Maldivas. Todos os assuntos referentes a esses países são trami- tados, em nível diplomático, por esse setor, no qual são diretamente tratados ou, eventualmente, encaminhados para outras áreas do Itamaraty, sobre os quais te- nham competência específica. As áreas multilaterais, por sua vez, estão vinculadas a temas específicos ou aos diferentes foros internacionais a eles vinculados. Todos os temas relacionados, por exemplo, a desarmamento, não proliferação e tecnologia nuclear — envolvendoquaisquer países ou regimes internacionais — serão tratados pela Divisão de De- sarmamento Nuclear e Tecnologias Sensíveis; já aqueles vinculados à ONU serão tramitados pela respectiva Divisão. O mesmo quando se tratar, para citar, de mu- dança do clima, defesa, espaço, ciência e tecnologia. Assim, cada assunto é tratado pela respectiva área temática. 32 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Victor Toniolo A área consular, por sua vez, é uma das mais importantes do Itamaraty, pois atende diretamente, de maneira ponderável, o cidadão brasileiro. Tanto as comu- nidades no exterior quanto as nacionais que estão viajando a outros países são de responsabilidade dos diversos setores vinculados a essas atividades, sob os mais diferentes aspectos, como o jurídico, o legal e o humanitário. O vetor administrativo, por fim, é a espinha dorsal do Ministério, sem o qual tanto a SERE quanto os postos no exterior não teriam como viabilizar seu trabalho. Não é tarefa trivial, efetivamente, realizar todas as rotinas legais e administrativas do Itamaraty, ou seja, da SERE, dos Escritórios Regionais localizados no Brasil e, sobretudo, da extensa rede de postos que o Brasil mantém nos cinco continentes. O segundo espaço de trabalho do diplomata corresponde, como referido, aos postos no exterior. Os mesmos vetores de trabalho da SERE são contemplados nes- ses postos, com maior ou menor ênfase, de acordo com o tipo de representação e suas realidades específicas. Em uma Embaixada, por exemplo, desenvolvem-se as múltiplas atividades vetoriais; em um Consulado, por sua vez, o trabalho se concentra na respectiva área consular; em uma Missão Permanente junto a um organismo internacional, por fim, as atividades multilaterais certamente dominam a agenda. Um interessante exemplo da multiplicidade de vetores dos vários tipos de postos encontra-se na cidade de Nova Iorque: ali há a Missão Permanente do Brasil junto à ONU, que se dedica à extensa e diversificada agenda multilateral desse órgão; há, também, o Consulado-Geral do Brasil, que atende aos interesses da numerosa comunidade brasileira ali presente, bem como analisa os pedidos de concessão de visto por parte de cidadãos estrangeiros que desejam ingressar no Brasil; final- mente, há o Escritório Financeiro, que é responsável pela coordenação da gestão orçamentária, financeira e patrimonial da maior parte dos postos no exterior. 33 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Victor Toniolo Essa plêiade de possibilidades de trabalho oferecida ao diplomata brasileiro apresenta, de igual modo, uma multiplicidade de desafios. Haverá atividades mais brilhantes, outras um pouco menos; trabalhos burocráticos e rotineiros, atividades mais dinâmicas e imprevisíveis; tarefas de grande projeção, outras de certa discri- ção. Em todas, porém, o diplomata poderá cumprir seu dever público de negociar, informar e representar, na qualidade de membro do Serviço Exterior Brasileiro. O horizonte de trabalho de um diplomata — e, em perspectiva, do candidato à carreira, pode remeter à navegação: há vários oceanos a serem cruzados e diferen- tes mares a serem singrados. Dos caminhos exatos que serão percorridos, somente o destino e as circunstâncias, exógenas e endógenas, poderão determinar. É pre- ciso ter coragem e determinação; no diapasão do grande poeta Fernando Pessoa: “tudo vale a pena, se a alma não é pequena!”. 34 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Leonardo Enge O MOVIMENTO CONSTANTE DA CARREIRA DIPLOMÁTICA: UMA VISÃO PESSOAL O filósofo grego Heráclito de Éfeso (c. 535 a.C. – c. 475 a.C.), ao referir-se à essência de todas as coisas, dizia que “nada é permanente, exceto a mudança”. A frase do ilustre pré-socrático aplica-se perfeitamente à carreira típica de um diplo- mata: para nós, a mudança constante é, talvez, a única certeza! Quando se pensa na vida diplomática, uma das primeiras coisas que vêm à ca- beça seguramente é o fato de que grande parte da carreira se desenvolve fora do País. De modo geral, um diplomata brasileiro passa cerca de metade de sua vida profissional atuando no exterior, em países dos mais diversos. Trata-se de uma experiência riquíssima e de um dos ingredientes que tornam a nossa carreira espe- cial, mas o leitor pode estar certo de que essa característica da carreira também é bastante demandante em termos pessoais e profissionais, pela necessidade de que o diplomata e seus familiares se adaptem, forçosamente, a ambientes e culturas totalmente diferentes a cada três ou quatro anos, em média. A necessidade de adaptação às mudanças físicas frequentes é, portanto, uma certeza – e, ademais, um dado quase óbvio – da vida diplomática. Menos óbvia, porém igualmente demandante e, a meu ver, atraente, é a necessidade de adap- tação constante a atividades diferentes. Quando se pensa nas tarefas tradicionais da diplomacia, quais sejam, as de informar, negociar e representar, à primeira vista fica pouco evidente a infinidade de diferentes funções que o cumprimento dessas tarefas exige que sejam desempenhadas em uma Chancelaria. A grande variedade de funções envolvidas no trabalho diplomático torna muito difícil, se não impossível, prever qual será o percurso profissional que percorrerá um Terceiro-Secretário recém-ingressado no Itamaraty. Muito se fala na dicotomia 35 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Leonardo Enge ou tensão entre generalismo e especialização em diplomacia, sem que se haja chegado a conclusões definitivas. Há Chancelarias que priorizam a formação de especialistas, nas quais um diplomata que se tenha tornado “expert” em África, por exemplo, dificilmente será removido para país fora daquele continente ou traba- lhará em área que dele não trate. Algumas delas procuram estabelecer caminhos ou “tracks” diferentes, nos quais os seus diplomatas podem ingressar e nos quais deverão, em princípio, permanecer: em áreas como Diplomacia Econômica, Admi- nistração, Diplomacia Pública, Política ou Consular. E o Brasil? Em nossa Chancelaria, não existe exigência legal ou prática admi- nistrativa no sentido de priorizar a formação de especialistas. Isso não quer dizer, evidentemente, que não os haja: o Itamaraty possui brilhantes diplomatas que fi- zeram todas ou quase todas as suas carreiras em áreas específicas. Temos grandes especialistas em comércio, excelentes administradores, competentíssimos negocia- dores e profissionais que entendem profundamente de dadas áreas geográficas ou países, por exemplo. Ao ingressar na Carreira, porém, é muito difícil de se prever aonde se vai chegar e por quais “mares” profissionais se vai “navegar” ao longo das várias décadas que ela costuma durar. Isso significa que aquele plano de trabalhar na Delegação do Brasil junto à FAO pode acabar virando uma remoção para Tóquio, dependendo das oportunidades que se apresentem e do interesse da Administração, e que quem acalenta o so- nho de trabalhar com Diplomacia Cultural por vezes pode descobrir-se negociando acordos de comércio. Mais do que isso: quem descobriu que gosta mesmo é de Administração pode trabalhar na área por alguns anos, mas, na primeira remoção para o exterior, ser aproveitado na área de Promoção Comercial (e depois voltar à Administração, por que não?). Outros profissionais que sequer cogitaram, no início de suas carreiras, tornarem-se especialistas nesta ou naquela atividade acabaram destacando-se e vendo-se alçados à condição de referências em áreas específicas 36 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Leonardo Engedo Ministério das Relações Exteriores. A verdade é que temos de estar preparados para assumir qualquer função dentre as muitas existentes dentro do Itamaraty, seja na Secretaria de Estado ou nos Postos no exterior: a mudança, como queria Heráclito, é provavelmente a única certeza em nossa carreira. A dinâmica da carreira diplomática envolve mudanças periódicas recorrentes e, em muitos casos, imprevisíveis com muita antecedência. Ao terminar o Curso de Formação de Diplomatas do Instituto Rio Branco, este escriba estava dando baten- te no Grupo de Trabalho que organizava a UNCTAD 2004 em São Paulo quando foi informado de que havia sido selecionado para estágio de um ano em Buenos Aires, a fim de participar de programa de intercâmbio do IRBr com o ISEN, a Academia Diplomática argentina. Foi uma transformação e tanto no meu dia a dia, que exigiu total readaptação a um lugar e atividade diferentes, mudando-me pela primeira vez a outro país e levando nos braços uma filha recém-nascida. E foi uma experiência maravilhosa! O desempenho de múltiplas e diferentes funções é mais regra do que exceção em nossa carreira, e a minha própria experiência, creio, o ilustra bem: depois do estágio na Argentina, trabalhei, ao longo de 14 anos de carreira e em três diferen- tes países, nas áreas de Promoção Comercial, de Formação de Diplomatas, de Polí- tica Multilateral e na Área Consular, além de ter-me desempenhado como Assessor do Secretário-Geral e do Ministro de Estado das Relações Exteriores para temas tão diversos, como Política Africana ou Assuntos Parlamentares. Cada uma dessas ati- vidades exigiu de mim esforços no sentido de “reinventar-me” profissionalmente, estudando assuntos novos, construindo redes de contatos, desenvolvendo habili- dades diferentes. Desfrutei imensamente de cada uma dessas experiências. Esse gosto pelo novo, por reinventar-se, por estar sempre em movimento, é para mim um dos grandes charmes e um dos maiores atrativos da carreira. LEONARDO ENGE 37 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel POR QUE ÁFRICA E NÃO EUROPA? Um dos mitos da carreira diplomática é a dúvida sobre a existência de desig- nação obrigatória de diplomata para trabalhar em determinado país. Trata-se da pergunta mais frequente entre as que me fazem os CACDistas (candidatos ao Con- curso de Admissão à Carreira de Diplomata – CACD). De cara, a resposta é não. Aliás, as regras de movimentação de diplomatas entre o Brasil e o exterior já foram objeto de artigo anterior[1]. Os leitores devem ter ficado em dúvida, entretanto, sobre como o Itamaraty faz para lotar (designar) profissionais, não apenas diplomáticos, para trabalhar em algumas Embaixadas ou Consulados localizados em países com baixa qualidade de vida. Mas se ninguém é obrigado a ir morar em nenhum país, o que fazer para tornar uma cidade africana ou asiática tão atraente como uma europeia ou norte-america- na? Antes de mais nada, é preciso dizer que a recusa de movimentação (remoção) de qualquer diplomata é permitida, porém, pode gerar consequências. O principal critério para mudar um diplomata de um destino para outro é o do rodízio entre Postos (representações brasileiras no exterior) de classificações dis- tintas. As Embaixadas, Consulados e Missões do Brasil são classificadas com as letras A, B, C e D. Os Postos A são os melhores, em termos de qualidade de vida e importância política para nossas relações bilaterais, enquanto que os D são os piores, segundo os mesmos critérios. Ao sair de um Posto A, o diplomata não pode ir imediatamente para outro A. Deverá escolher, portanto, entre B, C ou D. Logo, seu segundo destino será ne- cessariamente em país de qualidade de vida inferior. Ainda assim, é verdade, pode escolher um B, que é melhor que os demais, em termos de conforto. Mas para aqueles que escolherem os C ou D, são oferecidas algumas vantagens exclusivas. 38 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel A primeira vantagem é a do tempo de exterior. Para ascender profissionalmente, o diplomata precisa atender a algumas condições. Apenas aqueles que cumprem essas condições podem ser candidatos à promoção. Entre esses pré-requisitos está o tempo de serviço no exterior, ou seja, o tempo que um diplomata serviu (não va- lem viagens eventuais), morou fora do país trabalhando em um Posto. Os tempos mínimos necessários são: a) dois anos (promoção de Segundo a Primeiro-Secretá- rio); b) cinco anos (promoção de Primeiro-Secretário a Conselheiro); c) sete anos e meio (promoção de Conselheiro a Ministro de Segunda Classe); e d) dez anos (pro- moção de Ministro de Segunda Classe a Ministro de Primeira Classe, informalmente chamado de Embaixador)[2]. Em Postos C, o diplomata ganha o dobro de tempo de exterior e, nos D, o triplo. Assim, os dois anos de permanência nesses destinos (tempo médio) valem quatro, se o Posto for C; e seis, se o Posto for D. A segunda vantagem é o auxílio-moradia. Certo percentual do valor do aluguel pago por um diplomata no exterior é reembolsado pelo Ministério das Relações Exteriores, até um certo limite predeterminado. Nos Postos A e B, esse percentual varia de 60 a 80%. Nos C e D, 100%. A terceira é o salário, que é mais elevado nos Postos mais difíceis. Além disso, como normalmente se gasta menos nesses países, a economia é ainda maior. Lem- brando que os salários dos diplomatas no exterior são pagos em dólar norte-ameri- cano, em valor definido caso a caso, inclusive levando-se em conta o custo de vida e as condições do país. A quarta é os afastamentos e vindas periódicas ao Brasil. Nos Postos C e D, o diplomata tem direito a vir com a família a Brasília uma vez por ano, viagem paga pelo Itamaraty. E a cada quatro meses, ganha 15 dias de licença para se ausentar do país em que está vivendo. Finalmente, os diplomatas que servem em Postos C e D têm direito a pleitear 39 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel um Posto A (ou B, se preferir) ao final do período de dois anos de permanência. Essa escolha ocorre a partir de opções oferecidas pelo MRE antes ou após esse pe- ríodo, a depender das regras aplicadas no momento de sua remoção. Com todas as vantagens elencadas acima, torna-se interessante optar-se por um destino em um país mais difícil. Além disso, há fatores menos subjetivos, como o próprio desejo de ir servir em um desses países ou o aumento da chance de ser promovido por conta do esforço pessoal e familiar. Mas e as consequências da recusa, conforme mencionei acima? Se estiver no exterior, o diplomata que se recusar a ir para um dos destinos que lhe for ofereci- do fica obrigado a retornar a Brasília. Se já estiver em nosso país, simplesmente cancela-se sua inscrição no plano de remoções. E, claro, as vantagens subjetivas, como o aumento da chance de ser promovido, tornam-se desvantagens. [1] Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/como-se-define-o-destino-de-um-diploma- ta-no-exterior/ [2] Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/como-um-diplomata-vai-de-terceiro-secre- tario-embaixador/ 40 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel CONHEÇA A ESTRUTURA DO ITAMARATY Os candidatos do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) cos- tumam imaginar a rotina de um diplomata cercado de autoridades em coquetéis realizados em residências de embaixadores no exterior, ou sentado atrás de um prisma (aquelas plaquinhas de acrílico) escrito Brasil em uma reunião da ONU, ou ainda acompanhando o discurso do Presidente da República em uma viagem inter- nacional. Tudo isso existe e faz parteda realidade de muitos diplomatas e a maioria acaba passando por isso em algum momento da carreira. Comigo mesmo já aconteceu algumas vezes. É preciso saber, no entanto, como é o dia a dia dos profissionais que trabalham em Brasília e como está hoje a estrutura funcional do Ministério das Relações Exteriores (MRE), mais conhecido como Itamaraty. Será em alguma das unidades no Brasil que, após a aprovação no CACD e o término do curso no Insti- tuto Rio Branco, todos trabalharão por algum tempo antes da primeira saída para missão permanente no exterior. O MRE, atualmente chefiado pelo Ministro Aloysio Nunes Ferreira, também cha- mado de Chanceler (designação tradicional para o chefe da diplomacia brasileira), tem hoje a seguinte organização estrutural: unidades no Brasil e unidades no ex- terior. As primeiras são a sede do Ministério em Brasília – conhecida internamente como Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), onde são tomadas as principais decisões de execução da política externa definida pelo Presidente da República –, além de nove Escritórios de Representação em diversos estados bra- sileiros, que fazem a interlocução do Itamaraty com os Governos estaduais e Pre- feituras, e as Comissões Brasileiras Demarcadoras de Limites, que se ocupam de 41 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel assuntos relativos às fronteiras do Brasil com os países vizinhos. No exterior, temos uma rede de representações, chamados de “postos”, que abrange 139 Embaixadas, 52 Consulados-Gerais, 11 Consulados, 8 Vice-Consula- dos, 13 Missões ou Delegações e 3 Escritórios. Às Embaixadas competem funções de representação e negociação de interesses do Governo brasileiro em relação ao país onde estão localizadas; enquanto cabe aos Consulados atender à comunidade brasileira no exterior, bem como à comunidade local. Assim, se um brasileiro está viajando de férias a Miami, por exemplo, e perde seu passaporte, deverá buscar o Consulado-Geral do Brasil localizado naquela cida- de para solicitar a emissão de um documento que o autorize a retornar ao Brasil. Já quando uma autoridade do Governo brasileiro vai aos Estados Unidos da América para participar de uma reunião oficial com autoridades norte-americanas, será a Embaixada do Brasil em Washington que acompanhará as discussões. Quanto à Secretaria de Estado das Relações Exteriores, que é o órgão decisório principal do Itamaraty, a organização é hierárquica, o que não ocorre no exterior, onde os postos têm independência funcional. A unidade de maior hierarquia da SERE é o Gabinete (do Chanceler). Diretamente vinculada ao Gabinete estão a As- sessoria de Imprensa, a Assessoria Especial de Assuntos Federativos e Parlamenta- res, a Secretaria de Planejamento Diplomático, a Consultoria Jurídica e a Secretaria de Controle Interno. Abaixo do Gabinete, está a Secretaria-Geral (SG). O Chefe da SG é o Secretá- rio-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Marcos Galvão, que externamente é chamado de Vice-Ministro, por ser o número 2 da estrutura funcional do Minis- tério. Esse é o maior cargo a que um diplomata brasileiro pode aspirar, pois é de ocupação exclusiva dos integrantes da carreira, já que o Chanceler pode não ser diplomata, como nosso atual Ministro. À SG também estão subordinadas unidades como o Cerimonial, a Inspetoria-Geral e a Corregedoria do Serviço Exterior. 42 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel Finalmente, vêm as Subsecretarias-Gerais temáticas (hoje são nove), com suas respectivas Coordenações, Departamentos e Divisões. Assim, por exemplo, o traba- lho de promoção comercial, que é o estímulo às exportações brasileiras e à atração de investimentos estrangeiros ao Brasil, é cuidado por quatro Divisões, cada uma especializada em um grupo de atividades, as quais estão subordinadas ao Departa- mento de Promoção Comercial, que, por sua vez, se reporta à Subsecretaria-Geral de Cooperação, Cultura e Promoção Comercial. O respectivo Subsecretário, sempre um Embaixador, responde ao Secretário-Geral. Vejam o tamanho e a complexidade da estrutura que permite que nosso País possa ser tão bem representado no Exterior! 43 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel OS ESCRITÓRIOS DE REPRESENTAÇÃO DO MRE PELO BRASIL É comum os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) se imaginarem trabalhando em Brasília ou no exterior. Isso desagrada alguns que prefeririam morar em outras cidades brasileiras, achando que precisa- riam necessariamente se adaptar à vida na capital. Normalmente, é isso mesmo o que ocorre, mas, como toda regra, há exceções. Há diplomatas também traba- lhando, pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), nos escritórios de repre- sentação do Itamaraty em todas as regiões do País. São as chamadas unidades descentralizadas. Como já afirmado anteriormente, a sede do MRE em Brasília é denominada Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE). É na SERE que se deliberam as diretrizes de execução da política externa brasileira definida pelo Presidente da República, chefe de nossa diplomacia. E é a Brasília, igualmente, que todas as nossas representações no exterior (Embaixadas, Consulados e Representações Junto a Organismos Internacionais) se reportam. Mas o Ministério tem também interesses a serem defendidos e atividades a serem desempenhadas no Brasil fora da capital. São nove os Escritórios de Representação do Itamaraty pelo País afora: 1) em Manaus-AM, o Escritório de Representação na Região Norte (ERENOR); 2) em Recife-PE, o Escritório de Representação no Nordeste (ERENE); 3) ainda no Nor- deste, em Salvador-BA, o Escritório de Representação na Bahia (EREBAHIA); 4) em Porto Alegre-RS, o Escritório de Representação na Região Sul (ERESUL); 5) em Florianópolis-SC, o Escritório de Representação em Santa Catarina (ERESC); 6) em Curitiba-PR, o Escritório de Representação no Paraná (EREPAR); 7) em Belo Horizonte-MG, Escritório de Representação em Minas Gerais (EREMINAS); 8) em 44 de 115www.grancursosonline.com.br GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS Jean Marcel São Paulo-SP, o Escritório de Representação em São Paulo (ERESP); 9) por fim, no Rio de Janeiro-RJ, o Escritório de Representação no Rio de Janeiro (ERERIO), onde também funcionam, no Palácio do Itamaraty, o Museu Histórico e Diplomático, o Arquivo Histórico, a Mapoteca e a Biblioteca do Itamaraty. A primeira das atribuições das unidades descentralizadas do Ministério das Re- lações Exteriores é política. Apresentemos um exemplo: digamos que o Governo português resolva assinar um Memorando de Entendimento com o Governo do estado de Minas Gerais para preservação do patrimônio histórico em Ouro Preto. Tecnicamente, esse documento assinado não será um tratado, pois os governos estaduais não têm personalidade jurídica internacional. Haverá, no entanto, en- volvimento do EREMINAS nas conversas com os portugueses. Outra das atividades dos Escritórios de Representação do MRE é a interlocu- ção com o setor privado. Assim, por exemplo, se o Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty decide organizar, em parceria com a Federação das In- dústrias do estado de São Paulo (FIESP), um encontro empresarial com setores industriais da Argentina, o ERESP poderá entrar em ação. Do mesmo modo, o Es- critório em SP dá apoio às autoridades brasileiras que participam de reuniões na capital brasileira dos negócios. Já os Setores Consulares dos Escritórios de Representação são responsáveis, entre outras funções, pela assistência às famílias de brasileiros que se encontram detidos