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Disciplina: PSIQUIATRIA BÁSICA Curso: Psicologia 6° Período FICHAMENTO SADOCK, Benjamin J.; SADOCK, Virginia A.; RUIZ, Pedro. Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Artmed 11ª edição, tradução: Marcelo de Abreu Almeida. Porto Alegre – 2017. CAPÍTULO 5 - Exame e diagnóstico do paciente psiquiátrico Entrevista Psiquiátrica ‘’ A entrevista psiquiátrica é o elemento mais importante na avaliação e no tratamento de pessoas com doença mental. A finalidade principal dessa entrevista inicial é obter informações que irão estabelecer um diagnóstico com base em critérios.’’(p.192) PRINCÍPIOS GERAIS Acordo a respeito do processo Privacidade e confidencialidade ‘’ As questões relativas à confidencialidade são cruciais no processo de avaliação/tratamento e podem ter de ser discutidas em múltiplas ocasiões.[...] A confidencialidade é um componente essencial do relacionamento paciente- médico.’’(p.192) ’’ . Algumas avaliações, entre elas as forenses e as de invalidez, são menos confidenciais, e o que é discutido pode ser compartilhado com outras pessoas. Nesses casos, o entrevistador deve ser explícito em afirmar que a sessão não é confidencial e identificar quem receberá um relatório da avaliação. Essa informação deve ser documentada cuidadosa e totalmente no prontuário do paciente.’’ (p.192) ‘’ O psiquiatra não revela material que o paciente compartilhou, mas escuta o que os familiares têm a dizer e discute itens que o paciente introduz durante a sessão conjunta. [...] Como sempre, o paciente deve dar seu consentimento, exceto se o psiquiatra determinar que ele constitui perigo para si mesmo ou para outros. ’’ (p.193) Respeito e consideração ‘’ Como deve acontecer em todos os contextos clínicos, o paciente deve ser tratado com respeito, e o entrevistador deve considerar as circunstâncias da condição do paciente. Este com frequência está vivenciando considerável dor ou outro sofrimento e, muitas vezes, está se sentindo vulnerável e incerto do que pode acontecer.’’ (p.193) Rapport ‘’ No contexto clínico, o rapport pode ser definido como as respostas harmoniosas do médico ao paciente e do paciente ao médico. É importante que os pacientes sintam cada vez mais que a avaliação é um esforço conjunto e que o psiquiatra está verdadeiramente interessado na história deles. [...] Para o psiquiatria entender de fato o que o paciente está pensando e sentindo, é necessária uma apreciação das muitas questões da vida do paciente. [...] À medida que a entrevista progride, a história do paciente se desenrola e os padrões de comportamento se tornam evidentes, e fica cada vez mais claro o que ele pode ter realmente vivenciado. Se o psiquiatra não tiver certeza sobre a experiência do paciente, muitas vezes é melhor não tentar adivinhar, mas encorajá-lo a continuar. Balançar a cabeça, baixar a caneta, inclinar-se na direção do paciente ou um breve comentário, “Entendo”, pode alcançar esse objetivo e simultaneamente indicar que isso é material importante. De fato, a grande maioria das respostas empáticas em uma entrevista é não verbal.’’ (p.193) Consciente/inconsciente ‘’ A fim de entender mais completamente o relacionamento paciente-médico, os processos inconscientes devem ser considerados. A realidade é que a maioria da atividade mental permanece fora da percepção consciente. [...] os processos inconscientes podem ser sugeridos por referências relacionadas a um assunto, por lapsos de linguagem ou maneirismos de fala, pelo que não é dito ou é evitado e por outros mecanismos de defesa. Por exemplo, expressões como “para falar a verdade” ou “falando francamente” sugerem que o orador em geral não fala a verdade ou com franqueza. [...] A transferência é o processo em que o paciente inconsciente e inadequadamente desloca para indivíduos em sua vida atual aqueles padrões de comportamento e reações emocionais que se originaram com figuras significativas do início da vida, com frequência da infância. Na situação clínica, o deslocamento é para o psiquiatra, que, via de regra, é uma figura de autoridade ou um pai substituto. É importante que o psiquiatra reconheça que a transferência pode estar dirigindo os comportamentos do paciente, e as interações com o psiquiatra podem ser baseadas em distorções que têm suas origens muito mais cedo na vida. O paciente pode ser irritado, hostil, exigente ou obsequioso não devido à realidade do relacionamento com o psiquiatra, mas devido a relacionamentos e padrões de comportamento anteriores. O fracasso em reconhecer esse processo pode levar à reação inadequada do psiquiatra ao comportamento do paciente como se fosse um ataque pessoal contra ele. De modo semelhante, a contratransferência é o processo em que o médico, inconscientemente, desloca para o paciente padrões de comportamentos ou reações emocionais como se ele fosse uma figura significativa da vida do médico. Os psiquiatras devem estar alertas para sinais de problemas de contratransferência (esquecimento de consulta, tédio ou sonolência em uma sessão). Supervisão ou consultas podem ser úteis, assim como terapia pessoal, para ajudar o psiquiatra a reconhecer e lidar com essas questões.’’ (p.194) Repressão ‘’ O paciente costuma não ter consciência do impacto desses sentimentos, pensamentos ou comportamentos, que assumem diferentes formas, incluindo respostas emocionais exageradas, intelectualização, generalização, esquecimento de consultas ou comportamentos de atuação. A resistência pode ser alimentada por repressão, que é um processo inconsciente que mantém questões ou sentimentos fora da consciência. Devido à repressão, é possível que os pacientes não tenham consciência dos conflitos que podem ser centrais a sua doença. Na psicoterapia orientada ao insight, as interpretações são intervenções que desfazem o processo de repressão e permitem que pensamentos e sentimentos inconscientes cheguem à consciência a fim de poderem ser tratados. Como resultado dessas intervenções, o ganho primário do sintoma, o propósito inconsciente a que ele serve, pode se tornar claro. ‘’ (p.194-195) Entrevistas centradas na pessoa e baseadas no transtorno ‘’Uma entrevista psiquiátrica deve ser centrada na pessoa (paciente). Ou seja, deve focar em compreender o paciente e permitir que ele conte sua história. A individualidade da experiência do paciente é o tema central, e sua história de vida é evocada, sujeita às restrições de tempo, à vontade dele de compartilhar parte desse material e à habilidade do entrevistador.’’ (p.195) ‘’Perguntas abertas À medida que o paciente responde a essas perguntas iniciais, é muito importante que o psiquiatra interaja de maneira que permita ao paciente contar sua história. Esse é o principal objetivo da parte de coleta de dados da entrevista, extrair a história do paciente sobre sua saúde e doença. Para isso, são necessárias perguntas abertas.’’ (p.195) Elementos da entrevista psiquiátrica inicial Os dois elementos abrangentes da entrevista psiquiátrica são a história do paciente e o exame do estado mental. [...] O exame do estado mental, por sua vez, é a ferramenta objetiva do entrevistador, semelhante ao exame físico em outras áreas da medicina. O exame físico, embora não seja parte da entrevista em si, é incluso devido a sua potencial relevância no diagnóstico psiquiátrico e também porque costuma fazer parte da avaliação psiquiátrica, em especial para pacientes hospitalizados. (p.197) Dados de identificação Esta seção é breve, uma ou duas sentenças, e normalmente inclui nome, idade, sexo, estado civil (ou outro relacionamento significativo), raça ou etnia e ocupação do paciente. Muitas vezes, a fonte de encaminhamento também é inclusa. (p.197) Fontee confiabilidade É importante esclarecer de onde veio a informação, especialmente se outras pessoas a forneceram ou registros foram revisados, e avaliar a confiabilidade dos dados. (p.197) Queixa principal Esta deve ser a queixa apresentada pelo paciente, idealmente em suas próprias palavras. Exemplos incluem: “Estou deprimido” ou “Sinto muita ansiedade”. (p.197) História da doença atual A doença atual é uma descrição cronológica da evolução dos sintomas do episódio atual. Além disso, o relato também deve incluir qualquer mudança que ocorreu durante esse mesmo período de tempo nos interesses, nas relações interpessoais, nos comportamentos, nos hábitos pessoais e na saúde física do paciente. (p.197) História psiquiátrica pregressa Na história psiquiátrica pregressa, o médico deve obter informações sobre todas as doenças psiquiátricas e seu curso ao longo da vida do paciente, incluindo sintomas e tratamento. Tendo em vista que a comorbidade é mais a regra do que a exceção, além dos episódios anteriores da mesma doença (p. ex., episódios anteriores de depressão em um indivíduo que tem um transtorno depressivo maior), o psiquiatra também deve estar alerta para os sinais e sintomas de outros transtornos psiquiátricos. A descrição dos sintomas passados deve incluir quando eles ocorreram, quanto tempo duraram e sua frequência e gravidade. (p.197) Uso, abuso e adições de substâncias Uma revisão cuidadosa de uso, abuso e adições de substâncias é essencial para a entrevista psiquiátrica. O médico deve ter em mente que pode ser difícil para o paciente discutir essa informação, e um estilo imparcial extrairá informações mais precisas. [...] A história de uso deve reunir quais substâncias foram usadas, incluindo álcool, drogas, medicamentos (prescritos ou não prescritos para o paciente), e vias de uso (oral, nasal ou intravenosa). A frequência e a quantidade do uso devem ser determinadas, tendo em mente a tendência dos pacientes a minimizar ou negar o uso que pode ser percebido como socialmente inaceitável. (p.197) História médica pregressa A história médica pregressa inclui um relato de doenças e condições clínicas importantes, bem como os tratamentos, tanto passados quanto presentes. Cirurgias passadas também devem ser revistas. É importante entender a reação do paciente a essas doenças e as habilidades de enfrentamento empregadas. É importante considerar a história médica pregressa para determinar as possíveis causas de doença mental, bem como os fatores comórbidos e confundidores, e podendo ditar possíveis opções ou limitações de tratamento. (p.197) História familiar Tendo em vista que muitas doenças psiquiátricas são familiares e que um número significativo delas tem uma predisposição genética, senão uma causa, uma revisão cuidadosa da história familiar é parte essencial da avaliação psiquiátrica. Além disso, uma história familiar precisa auxilia não apenas a definir os possíveis fatores de risco para doenças específicas como também a formação psicossocial do paciente. Diagnósticos psiquiátricos, medicamentos, hospitalizações, transtornos relacionados a substâncias e história de letalidade devem ser abordados. A importância dessas questões é ressaltada, por exemplo, pela evidência de que às vezes parece haver uma resposta familiar a medicamentos, e uma história familiar de suicídio é um fator de risco significativo para comportamentos suicidas no paciente. (p.197) História evolutiva e social A história do desenvolvimento e a história social revisam os estágios da vida do paciente. Trata-se um instrumento importante para determinar o contexto dos sintomas e as doenças psiquiátricas e pode, na verdade, identificar alguns dos principais fatores na evolução do transtorno. Com frequência, estressores psicossociais atuais serão revelados durante a obtenção de uma história social. Muitas vezes, pode ser útil revisar a história social cronologicamente, para garantir que todas as informações sejam abordadas. (p.197) Revisão de sistemas A revisão de sistemas tenta captar quaisquer sinais e sintomas físicos ou psicológicos atuais ainda não identificados na doença atual. Atenção particular é dada aos sintomas neurológicos e sistêmicos (p. ex., fadiga ou fraqueza). Doenças que poderiam contribuir para as queixas apresentadas ou influenciar a escolha dos agentes terapêuticos devem ser cuidadosamente consideradas (p. ex., transtornos endócrinos, hepáticos ou renais). Em geral, a revisão de sistemas é organizada pelos principais sistemas do corpo. (p.197) Exame do estado mental O exame do estado mental (EEM) é o equivalente psiquiátrico do exame físico no resto da medicina. O EEM explora todas as áreas de funcionamento mental e mostra evidências de sinais e sintomas de doenças mentais. Os dados são obtidos ao longo de toda a entrevista, desde os momentos iniciais da interação, considerando o que o paciente está vestindo e sua apresentação geral. A maior parte das informações não requer questionamento direto, e as obtidas por observação podem dar ao médico um conjunto de dados diferente das respostas do paciente. O questionamento direto aumenta e completa o exame. O EEM dá ao médico um instantâneo do estado mental do paciente no momento da entrevista e é útil nas visitas subsequentes para comparar e monitorar mudanças ao longo do tempo. O EEM psiquiátrico inclui avaliação cognitiva mais frequentemente na forma do Miniexame do Estado Mental (MEEM), mas este não deve ser confundido com o EEM global. Os componentes do EEM são apresentados nesta seção na ordem em que se poderia incluí-los nas anotações escritas para fins de organização, mas, como já foi observado, os dados são obtidos ao longo de toda a entrevista. (p.197) Aparência e comportamento. Esta seção consiste em uma descrição geral de como o paciente parece e age durante a entrevista. Ele parece ter a idade declarada, ser mais jovem ou mais velho? Ela está de acordo com o estilo de vestir, aspectos físicos ou estilo de interação do paciente? Os itens a serem observados incluem o que o paciente está vestindo, incluindo joias ou bijuterias, e se é adequado para o contexto. (p.197) Atividade motora. Pode ser descrita como normal, lentificada (bradicinesia) ou agitada (hipercinesia). Isso pode dar indícios para diagnósticos (p. ex., depressão vs mania), bem como para problemas neurológicos ou clínicos confundidores. A marcha, a liberdade de movimentos, quaisquer posturas incomuns ou continuadas, andar de um lado para outro e torcer as mãos são descritos. Deve ser observada a presença ou ausência de tiques, que podem ser nervosismo, tremor, aparente inquietação, estalar a boca e protusões da língua. Estes podem ser indícios de reações adversas ou efeitos colaterais de medicamentos, como discinesia tardia, acatisia ou parkinsonismo decorrente de medicações antipsicóticas, ou sintomas de doenças, como transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. (p.197) Fala. A avaliação da quantidade de fala diz respeito a se ela é normal, aumentada ou diminuída. Menos quantidade de fala pode sugerir diversas coisas, variando de ansiedade ou desinteresse a bloqueio de pensamento ou psicose. Mais quantidade de fala com frequência (mas nem sempre) é sugestivo de mania ou hipomania. Um elemento relacionado é a velocidade ou o ritmo da fala. Ela é lenta ou rápida (pressão para falar)? Por fim, a fala pode ser avaliada por seu tom e volume. Os termos que descrevem esses elementos incluem irritável, ansioso, disfórico, alto, silencioso, tímido, zangado ou infantil. (p.197) Humor. Os termos humor e afeto variam em sua definição, e alguns autores têm recomendado combinar os dois elementos em um novo rótulo “expressão emocional”. Tradicionalmente, o humor é definido como o estado emocionalinterno e continuado do paciente. Sua experiência é subjetiva; portanto, é melhor usar as próprias palavras do paciente para descrever seu humor. Termos como “triste”, “irritado”, “culpado” ou “ansioso” são descrições comuns do humor. (p.197) Afeto. Afeto difere de humor, visto que é a expressão do humor ou o que o humor do paciente parece ser para o médico. O afeto é descrito, muitas vezes, com os seguintes elementos: qualidade, quantidade, variação, adequação e congruência. Os termos usados para descrever a qualidade (ou o tom) do afeto de um paciente incluem disfórico, feliz, eutímico, irritável, irritado, agitado, choroso, soluçante e embotado. A fala é frequentemente um sinal importante para a avaliação do afeto, mas não é exclusiva. A quantidade de afeto é uma medida de sua intensidade. (p.197) Conteúdo do pensamento. É essencialmente os pensamentos que estão ocorrendo ao paciente, deduzidos pelo que ele expressa de maneira espontânea, bem como pelas respostas a perguntas específicas visando evocar determinada patologia. Alguns pacientes podem perseverar ou ruminar sobre conteúdo ou pensamentos específicos. Podem focar em material considerado obsessivo ou compulsivo. Pensamentos obsessivos são aqueles indesejados e repetitivos que invadem a consciência. São, em geral, alheios ao ego, e o paciente resiste a eles. As compulsões são comportamentos repetitivos. e ritualizados que os pacientes se sentem compelidos a realizar para evitar um aumento na ansiedade ou algum desfecho temido. Outra grande categoria de patologia do conteúdo do pensamento são os delírios. Delírios são ideias fixas, falsas, que não são compartilhadas por outras pessoas e podem ser divididos em bizarros e não bizarros (delírios não bizarros referem-se ao conteúdo de pensamento que não é verdadeiro, mas não está fora da esfera da possibilidade). Delírios comuns podem ser grandiosos, erotomaníaco, de ciúmes, somáticos e persecutórios. Muitas vezes, é útil sugerir conteúdo delirante a pacientes que podem ter aprendido a não discuti-los espontaneamente. As perguntas que podem ter utilidade incluem: “Você sempre se sente como se alguém o estive seguindo ou fosse pegá-lo?” e “Você sente que a TV ou o rádio têm uma mensagem especial para você?”. Uma resposta afirmativa à última pergunta indica uma “ideia de referência”. A paranoia pode estar intimamente relacionada a material delirante e variar de paranoia “branda”, por exemplo, desconfiança geral, a formas mais graves que têm impacto sobre o funcionamento diário. As questões que evocam paranoia incluem perguntar sobre a preocupação do paciente com câmeras, microfones ou o governo. O potencial suicida e o potencial homicida enquadram-se na categoria de conteúdo do pensamento, mas aqui são discutidos separadamente devido à particular importância de serem tratados em toda entrevista psiquiátrica inicial. Apenas perguntar se alguém é suicida ou homicida não é adequado. Deve-se obter uma noção de ideação, intenção, planejamento e preparação. Embora o suicídio completado seja extremamente difícil de prever com precisão, existem fatores de risco identificados, e estes podem ser usados em conjunto com uma avaliação da intenção e do plano do paciente para colocar em prática esses pensamentos. (p.198) Processo de pensamento. Difere de conteúdo do pensamento porque não descreve o que a pessoa está pensando, mas, em vez disso, como os pensamentos são formulados, organizados e expressos. Um paciente pode ter processo de pensamento normal com conteúdo do pensamento significativamente delirante. De modo inverso, pode haver conteúdo do pensamento normal, mas processo de pensamento bastante prejudicado. O processo de pensamento normal costuma ser descrito como linear, organizado e orientado ao objetivo. Com a fuga de ideias, o paciente passa com rapidez de um pensamento para outro, em um ritmo que é difícil para o ouvinte acompanhar, mas todas as ideias estão conectadas de forma lógica. O paciente circunstancial inclui excesso de detalhes e material que não é diretamente relevante ao assunto ou a uma resposta à pergunta, mas em algum momento retorna para tratar do assunto ou responder à pergunta. Via de regra, o examinador pode acompanhar uma linha de pensamento circunstancial, vendo conexões entre as afirmações sequenciais. (p.198) Alterações na sensopercepção. Incluem alucinações, ilusões, despersonalização e desrealização. Alucinações são percepções na ausência de estímulos que as justifiquem. Alucinações auditivas são aquelas encontradas com mais frequência no contexto psiquiátrico. Outras alucinações podem incluir visuais, táteis, olfativas e gustativas (paladar). Na cultura da América do Norte, as alucinações não auditivas são, muitas vezes, indícios de que existe um problema neurológico, clínico ou associado à abstinência de substâncias mais do que um problema psiquiátrico primário. Em outras culturas, alucinações visuais foram relatadas como a forma mais comum de alucinação na esquizofrenia. O entrevistador deve fazer uma distinção entre uma alucinação verdadeira e uma percepção errônea de estímulos (ilusão). Ouvir o vento sussurrar por entre as árvores do lado de fora e pensar que um nome está sendo chamado é uma ilusão. As alucinações hipnagógicas (na interface da vigília e do sono) podem ser fenômenos normais. Às vezes, os pacientes sem psicose podem ouvir seu nome sendo chamado ou ver clarões ou sombras pelos cantos dos olhos. Ao descrever as alucinações, o entrevistador deve incluir o que o paciente está vivenciando, quando. (p.198) Cognição. Os elementos do funcionamento cognitivo que devem ser avaliados são o estado de alerta, orientação, concentração, memória (tanto de curto como de longo prazos), cálculo, cabedal de conhecimento, raciocínio abstrato, insight e julgamento. Deve ser observado o nível de alerta do paciente. A quantidade de detalhes na avaliação da função cognitiva dependerá do propósito do exame e também do que já foi apreendido na entrevista sobre o nível de funcionamento, o desempenho no trabalho, o manejo das tarefas diárias, o equilíbrio das finanças, entre outros aspectos. Além disso, o psiquiatra já terá extraído dados relativos à memória do paciente para o passado remoto e recente. Uma noção geral de seu nível intelectual e de sua escolaridade pode ajudar a diferenciar inteligência e questões educacionais de prejuízo cognitivo, que poderia ser observado no delirium ou na demência. (p.199) Raciocínio abstrato. É a capacidade de compreender e abstrair a partir de conceitos gerais e exemplos específicos. Pedir ao paciente para identificar semelhanças entre objetos ou conceitos semelhantes (maçã e pera, ônibus e avião ou um poema e uma pintura), bem como interpretar provérbios, pode ser útil para avaliar a capacidade da pessoa de abstrair. Fatores e limitações culturais e educacionais devem ser considerados na avaliação dessa capacidade. Ocasionalmente, a incapacidade de abstrair ou a maneira idiossincrática de agrupar itens pode ser grave. (p.199) Insight. Na avaliação psiquiátrica, refere-se ao entendimento do paciente de como está se sentindo, se apresentando e funcionando, bem como das possíveis causas de sua apresentação psiquiátrica. Ele pode não ter entendimento, ter entendimento parcial ou entendimento total. Um componente desse entendimento com frequência é o teste de realidade no caso de um paciente com psicose. (p.199) Exame físico A inclusão e a extensão do exame físico dependerão da natureza e do local da entrevista psiquiátrica. Com pacientes ambulatoriais, pouco ou nenhum exame físico pode ser realizado rotineiramente, enquanto no pronto-socorro ou em pacientes hospitalizados, um exame físico mais completo é justificado. Sinais vitais, peso, circunferência da cintura,índice de massa corporal e altura podem ser medidas importantes a acompanhar, em particular devido aos efeitos potenciais dos medicamentos psiquiátricos ou de doenças sobre esses parâmetros. (p.199) Formulação A finalidade da obtenção de dados da entrevista psiquiátrica é o desenvolvimento de uma formulação e um diagnóstico (diagnósticos), bem como recomendações e o planejamento do tratamento. Nessa parte do processo de avaliação, a obtenção de dados é suplantada pelo processamento de dados no qual os vários temas contribuem para um entendimento biopsicossocial da doença do paciente. Embora seja colocada próximo do fim da avaliação relatada ou escrita, a formulação, na verdade, se desenvolve como parte de um processo dinâmico ao longo de toda a entrevista à medida que novas hipóteses são criadas e testadas por novos dados obtidos. (p.200) Planejamento do tratamento O planejamento e as recomendações de tratamento, em contrapartida, são partes integrantes da entrevista psiquiátrica e devem ser discutidos de forma explícita e detalhada com o paciente. (p.200) TÉCNICAS Os princípios gerais da entrevista psiquiátrica, como o relacionamento paciente-médico, a entrevista aberta e a confidencialidade, já foram descritos. Além dos princípios gerais, há uma série de técnicas que podem ser eficazes para obter informações de uma maneira consistente com os princípios gerais. Essas técnicas úteis podem ser definidas como intervenções facilitadoras e intervenções expansíveis. Também há algumas intervenções que são, em geral, contraproducentes e que interferem nos objetivos de ajudar o paciente a contar sua história e de reforçar a aliança terapêutica. (p.200) Intervenções facilitadoras Estas são algumas das intervenções eficazes que permitem ao paciente continuar compartilhando sua história e que também são úteis para promover um relacionamento paciente-médico positivo. Às vezes, algumas dessas técnicas podem ser combinadas em uma única intervenção. (p.200) Reforço. As intervenções de reforço, embora aparentemente simplistas, são muito importantes no material compartilhado do paciente sobre ele mesmo e sobre outros indivíduos e eventos importantes em sua vida. Sem esses reforços, muitas vezes a entrevista se tornará menos produtiva. (p.200) Reflexão. Usando as palavras do paciente, o psiquiatra indica que ouviu o que ele está dizendo e transmite um interesse em ouvir mais. Exame e diagnóstico do paciente psiquiátrico 207 Essa resposta não é uma pergunta. Uma pergunta, com uma leve inflexão no fim, pede mais esclarecimentos. Também não deve ser dita com um tom desafiador ou descrente, mas como uma constatação dos fatos. A realidade é que isso é a experiência do paciente que o psiquiatra ouve claramente. Às vezes, é proveitoso parafrasear a declaração do paciente de modo que não soe como se estivesse vindo de forma automática. (p.201) Resumo. Periodicamente, durante a entrevista, é proveitoso resumir o que foi identificado sobre um certo tópico. Isso dá oportunidade ao paciente para esclarecer ou modificar o entendimento do psiquiatra e talvez acrescentar material novo. Quando um material novo é introduzido, o psiquiatra pode decidir continuar com uma exploração adicional da discussão anterior e só depois retornar para a informação nova. (p.202) Educação. Às vezes, na entrevista, é útil que o psiquiatra eduque o paciente sobre o processo de entrevista. Reafirmação. Muitas vezes, é adequado e proveitoso transmitir segurança para o paciente. Por exemplo, informações precisas sobre o curso habitual de uma doença podem diminuir a ansiedade, encorajá-lo a continuar discutindo sua doença e fortalecer sua determinação em continuar o tratamento. Geralmente, é inadequado que o psiquiatra tranquilize o paciente quando ele não sabe qual será o desfecho. (p.202) Encorajamento. Para muitos pacientes, é difícil comparecer a uma avaliação psiquiátrica. Com frequência, não têm certeza do que irá acontecer, e receber encorajamento pode facilitar seu envolvimento. Os psiquiatras devem ter o cuidado de não exagerar o progresso do paciente na entrevista. Eles podem dar um retorno ao paciente sobre seu esforço, mas a mensagem secundária deve ser a de que há muito trabalho a ser feito. (p.202) Reconhecimento das emoções. É importante que o entrevistador reconheça a expressão de emoções pelo paciente. Isso frequentemente leva o paciente a compartilhar mais sentimentos e a se sentir aliviado por poder fazê-lo. Às vezes, uma ação não verbal, como mover uma caixa de lenços para mais perto, pode ser suficiente ou pode ser usada como complemento. Se a exibição da emoção for clara (p. ex., o paciente chora abertamente), então não é proveitoso fazer um comentário direto sobre a expressão da emoção. É melhor comentar sobre os sentimentos associados. (p.202) Humor. Às vezes, o paciente pode fazer um comentário bem-humorado ou contar uma piada curta. Pode ser muito útil o psiquiatra sorrir, rir ou mesmo, quando apropriado, acrescentar um arremate igualmente bem-humorado. Essa partilha de humor pode diminuir a tensão e a ansiedade e reforçar a autenticidade do entrevistador. É importante ter certeza de que o comentário do paciente teve, de fato, a intenção de ser bem-humorado e que o psiquiatra transmita claramente que está rindo com o paciente, não do paciente. Silêncio. O uso cuidadoso do silêncio pode facilitar a progressão da entrevista. O paciente pode necessitar de tempo para pensar sobre o que foi dito ou para vivenciar um sentimento que surgiu na entrevista. (p.208) Comunicação não verbal Em muitas boas entrevistas, as intervenções facilitadoras mais comuns são não verbais. Concordar com a cabeça; a postura corporal, incluindo se inclinar na direção do paciente; a posição corporal tornando-se mais aberta; movimentar-se na cadeira para mais perto do paciente; largar a caneta e o bloco; e expressões faciais, incluindo arquear as sobrancelhas, indicam que o psiquiatra está preocupado, escutando com atenção e envolvido na entrevista. Embora possam ser muito positivas, essas intervenções também podem ser excessivas, sobretudo se a mesma ação for repetida com muita frequência ou feita de forma exagerada. (p.208) Intervenções expansivas Há uma série de intervenções que podem ser utilizadas para expandir o foco da entrevista. Essas técnicas são úteis quando a linha de discussão foi suficientemente extraída, pelo menos naquele momento, e o entrevistador deseja encorajar o paciente a falar sobre outras questões. Essas intervenções são mais bem-sucedidas quando um grau de confiança foi estabelecido na entrevista e o paciente sente que o psiquiatra é imparcial sobre o que está sendo compartilhado. (p.209) Relatório psiquiátrico O relatório psiquiátrico abrange tanto a história psiquiátrica como o estado mental. A história, ou anamnese (do grego, “trazer à mente”), descreve eventos na estrutura do ciclo de vida, da infância à velhice, e o médico deve tentar evocar a reação emocional a cada evento conforme é lembrado pelo paciente. O exame do estado mental engloba o que o paciente está pensando e sentindo no momento e como ele responde a perguntas específicas do examinador. (p.209) ENTREVISTA COM PACIENTES DIFÍCIES Pacientes Psicóticos “Pacientes com doenças psicóticas são, muitas vezes, assustados e reservados. Podem ter dificuldade para raciocinar e pensar com clareza.” (p.209). Pacientes deprimidos e potencialmente suicidas “Uma avaliação de suicídio deve ser realizada para todos os pacientes, incluindo história anterior, história familiar de tentativas de suicídio e suicídios completados e ideação, plano e intenção atuais.” (p.210). Pacientes hostis, agitados, agitados e potencialmente violentos “Opsiquiatra deve ter conhecimento de todos os aspectos de segurança disponíveis (botões de emergência ou número da segurança) e estar familiarizado com o plano de segurança da instituição. “(p.210) Pacientes que metem “Os psiquiatras dependem do autorrelato do indivíduo. Dadas essas limitações, pode ser útil, sobretudo quando há dúvida sobre a confiabilidade do paciente (possivelmente relacionada a inconsistências no relato), obter informações colaterais sobre ele.“ (p.211). 5.2 O relatório psiquiátrico e o registro médico RELATÓRIO PSIQUIÁTRICO “Em suma, o relatório psiquiátrico inclui mais do que a história psiquiátrica e o estado mental.” (p.211). REGISTRO MÉDICO “O relatório psiquiátrico é uma parte do registro médico; entretanto, este é mais do que o relatório psiquiátrico. É uma narrativa que documenta todos os eventos que ocorrem durante o curso do tratamento, mais frequentemente se referindo à estada do paciente no hospital.” (p.215). Uso dos registros “Registros médicos mantidos corretamente podem ser o melhor aliado do psiquiatra nos processos por erro médico.” (p.215). Anotações e observações pessoais “Os dados são mantidos apenas pelo médico e não podem ser discutidos com nenhuma outra pessoa, incluindo o paciente.” (p.215). Anotações da psicoterapia “As anotações da psicoterapia incluem detalhes de transferência, fantasias, sonhos, informações pessoais sobre pessoas com as quais o paciente interage e outros detalhes íntimos de sua vida.” (p.215). Acesso do paciente aos registros “Os pacientes têm o direito legal de ter acesso a seus registros.” (p.216). Blogs “Os médicos são aconselhados a não usar esse tipo de veículo para desafogar emoções e a não escrever coisa alguma que não pudessem justificar mesmo se sua identidade fosse descoberta.” (p.216). Correio eletrônico (e-mail) “Não apenas é perigoso como é antiético. Todas as mensagens devem ser impressas para constar no prontuário, a menos que os arquivos eletrônicos sejam salvos com regularidade em uma pasta segura.“ (p.216). Questões éticas e o registro médico “Os psiquiatras continuamente fazem julgamentos sobre o que é apropriado para incluir no relatório psiquiátrico, no prontuário médico, no relato de caso e em outras comunicações escritas sobre o paciente. Esses julgamentos muitas vezes incluem questões éticas.“ (p.216). Lei de Portabilidade e Responsabilidade dos Planos de Saúde (Health Insurance Portability and Accountability Act – HIPAA) 5.3 Escalas de avaliação psiquiátrica BENEFÍCIOS E LIMITAÇÕES POTENCIAIS DAS ESCALAS DE AVALIAÇÃO NA PSIQUIATRIA “O papel fundamental das escalas de avaliação na psiquiatria e em outras áreas é padronizar as informações coletadas ao longo do tempo e por vários observadores.” (p.218). TIPOS DE ESCALAS E O QUE ELAS MEDEM “As escalas são utilizadas na pesquisa e na prática psiquiátrica para alcançar uma variedade de objetivos. Também abrangem uma ampla variedade de áreas e utilizam uma grande diversidade de procedimentos e formatos.” (, p. 218). Objetivos da medição “A maior parte das escalas de avaliação em uso comum se enquadra em uma ou mais das seguintes categorias: fazer um diagnóstico; medir a gravidade e acompanhar mudanças em sintomas específicos, no funcionamento geral ou no resultado global; e rastrear condições que possam ou não estar presentes.” (p. 218). Construtos avaliados “Classificação categórica versus contínua. A diferença entre medidas categóricas e contínuas não é, de forma alguma, absoluta. “(p. 218). Procedimentos de medição “Formato; Avaliadores; Fonte de informação.” (p. 218). AVALIAÇÃO DAS ESCALAS “Na prática clínica, consideram-se esses fatores e, além disso, se uma escala forneceria mais ou melhores informações do que seria obtido na prática clínica comum ou se contribuiria para a eficiência em obter aquela informação.” (p.219) Propriedades psicométricas Confiabilidade. Consistência interna. Confiabilidade entre avaliadores e teste e reteste. Problemas na interpretação de dados de confiabilidade. Validade. VALIDADE APARENTE E DE CONTEÚDO. VALIDADE DE CRITÉRIO. VALIDADE DE CONSTRUTO. (p.219). SELEÇÃO DE ESCALAS DE AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICAS “As escalas discutidas a seguir abrangem várias áreas, como diagnóstico, funcionamento e gravidade dos sintomas, entre outras.” (p.219). Avaliação de incapacidade “Ela pode ser administrada em intervalos ao longo do curso da doença de uma pessoa e é confiável para acompanhar mudanças que indiquem uma resposta positiva ou negativa a intervenções terapêuticas ou o curso da doença.” ( p.220). Diagnóstico psiquiátrico “Os instrumentos que avaliam o diagnóstico psiquiátrico são centrais à pesquisa psiquiátrica e podem ser úteis também na prática clínica.” (, p.222). Entrevista Clínica Estruturada para o DSM (SCID). Transtornos psicóticos Escala Breve de Avaliação Psiquiátrica (BPRS). Escala de Síndromes Positivas e Negativas (PANSS). Escala para Avaliação de Sintomas Positivos (SAPS) e Escala para Avaliação de Sintomas Negativos (SANS). (p.222). Transtornos do humor Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton (HAM- D). (p.223). Transtornos de ansiedade “Os transtornos de ansiedade tratados pelas medidas a seguir incluem os transtornos de pânico, de ansiedade generalizada, de estresse pós-traumático (TEPT) e obsessivo-compulsivo (TOC).” (p. 229). Escala de Avaliação de Ansiedade de Hamilton (HAM-A). Escala de Gravidade do Transtorno de Pânico (PDSS). Escala de TEPT administrada pelo clínico (CAPS). Escala obsessivo-compulsiva de Yale- Brown (YBOCS). (p.232). Transtornos relacionados a substâncias CAGE. Índice de Gravidade da Adição (ASI). Transtornos alimentares Exame para Transtornos Alimentares (EDE). Teste de Bulimia Revisado (BULIT-R). Transtornos cognitivos Miniexame do Estado Mental (MEEM). Inventário Neuropsiquiátrico (NPI). Teste de Inteligência Geral Pontuado (SGIT). Transtornos da personalidade e traços de personalidade “A personalidade pode ser conceituada, de modo categorial, como transtornos da personalidade ou, de modo dimensional, como traços de personalidade, que podem ser normais ou patológicos.” (p. 234). Transtornos da infância Lista de Verificação do Comportamento Infantil (CBCL). Escalas de Avaliação de Conners. Entrevista Diagnóstica para Crianças (DISC). Entrevista Diagnóstica para Autismo Revisada (ADI-R). 5.4 Neuropsicologia clínica e avaliação intelectual de adultos CORRELATOS NEUROANATÔMICOS “O aumento do conhecimento na neurociência também levou a uma visão mais sofisticada das relações cérebro-comportamento, em que atividades cognitivas, perceptuais e motoras complexas são controladas por circuitos neurais, e não por estruturas isoladas dentro do cérebro.” (p.236). Dominância hemisférica e localização intra-hemisférica “Muitas funções são mediadas pelos hemisférios direito e esquerdo. Entretanto, diferenças qualitativas importantes entre os dois hemisférios podem ser demonstradas na presença de lesão cerebral lateralizada.” (p.237). QUESTÕES GERAIS DE ENCAMINHAMENTO “Os médicos encaminham pacientes para uma consulta neuropsicológica por muitas razões, que incluem diagnóstico diferencial, medidas basais e planejamento do tratamento, bem como opiniões relativas a causalidade e capacidade de decisão.” (p.239). Nível de funcionamento “Uma questão comum de encaminhamento envolve a documentação do nível de funcionamento para uma variedade de propósitos, incluindo avaliação de mudança ou capacidade de tomar decisões, especialmente na presença de diagnósticos como demência, AVC e traumatismo craniano.” (p.239). Diagnóstico diferencial “Como qualquer outro procedimento diagnóstico, os resultados de um exame neuropsicológico devemser interpretados à luz de todas as informações disponíveis, incluindo a história e quaisquer fatores médicos associados que sejam documentados ou relatados a respeito do indivíduo.” (p.239). Mudança no funcionamento ao longo do tempo “Tendo em vista que muitos diagnósticos neurológicos carregam expectativas claras em relação a taxas normais de recuperação e declínio ao longo do tempo, muitas vezes é importante reexaminar um determinado paciente com uma avaliação neuropsicológica após 6 meses a 1 ano.” (p. 240). Avaliação da capacidade de tomar decisões “Os neuropsicólogos muitas vezes são solicitados para auxiliar na determinação da capacidade de um indivíduo tomar decisões ou gerir negócios pessoais.” (p. 240). Avaliação forense “A avaliação neuropsicológica de indivíduos em questões relativas a justiça criminal ou civil em geral requer conhecimento especializado além da especialização em neuropsicologia.” (p. 241). ABORDAGENS À AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA “O exame neuropsicológico avalia de forma sistemática o funcionamento nas esferas de atenção e concentração, memória, linguagem, habilidades espaciais, capacidades sensoriais e motoras, bem como funcionamento executivo e estado emocional.” (p. 241). DISCUSSÃO TERAPÊUTICA DOS RESULTADOS “Um componente fundamental do processo de exame neuropsicológico é encontrado na oportunidade de discutir os resultados do exame com o paciente e a família ou outros cuidadores.” (p. 245). 5.5 Avaliação da personalidade: adultos e crianças PROPÓSITOS DA TESTAGEM PSICOLÓGICA “A testagem da personalidade pode ser um empreendimento caro. Uma quantidade de tempo considerável é necessária para administrar, pontuar e interpretar resultados de testes psicológicos.” (p. 246). PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE “A qualidade dos testes de personalidade apresenta ampla variação. Por um lado, existem instrumentos bem construídos, validados empiricamente, e, por outro, “testes psicológicos” que podem ser encontrados no suplemento dominical do jornal ou na internet.” (p. 246). Testes de personalidade objetivos “Os testes de personalidade objetivos têm uma abordagem bastante direta. Em geral, são feitas perguntas específicas e padronizadas aos pacientes em um formato escrito ou oral estruturado.” (p. 247). Testes projetivos da personalidade Os testes projetivos da personalidade, em comparação com instrumentos objetivos de avaliação da personalidade, são mais indiretos e não estruturados. (p.249). AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES “A avaliação da característica emocional e interpessoal em crianças apresenta muitos desafios ao médico devido às descontinuidades no desenvolvimento que existem ao longo de toda a infância, adolescência e idade adulta.” (p.250). AVALIAÇÃO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES “Os métodos projetivos envolvem a interação direta com a criança e o adolescente, enquanto os métodos objetivo e comportamental, além dessa interação muitas vezes envolvem obter informações de adultos significativos na vida deles.” (p.252). 5.6 Avaliação neuropsicológica e cognitiva de crianças O processo de testagem “Além da testagem, os procedimentos de avaliação incluem examinar registros passados (exames médicos, testes anteriores, relatórios), entrevistar o cliente e sua família (nos formatos estruturado e não estruturado), obter informações de casa e da escola (e às vezes observações nos locais) e obter escalas de avaliação que tenham sido preenchidas pelos pais e professores da criança (relativas a problemas do desenvolvimento, comportamentais, emocionais e diagnósticos).” (p.257). AVALIAÇÃO COGNITIVA E NEUROPSICOLÓGICA “A avaliação cognitiva geral tende a ser um evento descritivo e prático, com uma atenção às políticas e possibilidade no mundo exterior. Como resultado, os testes cognitivos tendem a ser instrumentos “abrangentes”.” (p.258). AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA FOCALIZADA “A Neuropsicologia dedica-se ao estudo das relações cérebro- comportamento e evoluiu para uma disciplina clínica focada no diagnóstico e na caracterização de função e disfunção cerebral.” (p.262). 5.7 Avaliação clínica e exames laboratoriais na psiquiatria MONITORAÇÃO DA SAÚDE FÍSICA “A prevenção de doenças deve começar com um conceito claro da condição a ser evitada. De maneira ideal, em psiquiatria isso seria um foco em condições comumente encontradas que poderiam ser uma fonte significativa de morbidade ou mortalidade.” (p.266) PAPEL DA HISTÓRIA E DO EXAME FÍSICO “A história clínica do paciente é um componente importante da anamnese.” (p.266). IMAGENS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL “As imagens estruturais fornecem uma visualização detalhada, não invasiva, da morfologia do cérebro, enquanto as funcionais fornecem uma visualização da distribuição espacial de processos bioquímicos específicos.”( p.267). ESTUDOS DE TOXICOLOGIA “A testagem para determinar as concentrações sanguíneas de certos medicamentos psicotrópicos permite ao médico determinar se os níveis sanguíneos dos medicamentos estão em níveis terapêuticos, subterapêuticos ou tóxicos.” (p.268). CONCENTRAÇÕES SÉRICAS DE MEDICAMENTOS “As concentrações séricas de medicamentos psicotrópicos são avaliadas para minimizar o risco de toxicidade em pacientes que os estão recebendo e para assegurar a administração de quantidades suficientes para produzir uma resposta terapêutica.” (p. 269). 5.8 Neuroimagem “As metodologias de neuroimagem permitem a medição da estrutura, da função e da química do cérebro humano vivo. Ao longo da última década, estudos usando esses métodos forneceram informações novas sobre a fisiopatologia de transtornos psiquiátricos que podem se revelar úteis para diagnosticar doenças e para desenvolver novos tratamentos.” (p.276). UTILIZAÇÃO DA NEUROIMAGEM Indicações para solicitação de neuroimagem na prática clínica Déficits neurológicos. No exame neurológico, qualquer alteração que possa estar localizada no cérebro ou na medula espinal requer neuroimagem. (p. 275). Exames por IRM “A IRM entrou na prática clínica em 1982 e logo se tornou o exame de escolha entre psiquiatras e neurologistas. Ela não depende da absorção de raios X; baseia-se na ressonância magnética nuclear (RMN). O princípio da RMN está relacionado ao fato de que os núcleos de todos os átomos giram em torno de seu eixo, que se orienta de modo aleatório no espaço.” (p. 278). TÉCNICAS ESPECÍFICAS “Exames por TC Em 1972, a TC revolucionou a neurorradiologia diagnóstica ao possibilitar imagens do tecido cerebral de pacientes vivos.” (p.277). Testes farmacológicos e neuropsicológicos “Tanto com PET como com SPECT e eventualmente com EMR, mais estudos e mais procedimentos diagnósticos utilizarão testes farmacológicos e neuropsicológicos.” (p.282). 5.9 Exame físico do paciente psiquiátrico “Alguns psiquiatras insistem em que todos os pacientes façam um exame médico completo, enquanto outros podem não fazer tal exigência.” (p.283) HISTÓRIA DA DOENÇA CLÍNICA “As informações quanto a doenças clínicas devem ser obtidas com o paciente, o médico que o indicou e a família, se necessário. Informações sobre episódios anteriores da doença podem proporcionar indícios valiosos sobre a natureza do transtorno atual.”( p.283). REVISÃO DE SISTEMAS “Após a investigação aberta, deve-se fazer uma revisão dos sistemas, que pode ser organizada de acordo com os sistemas de órgãos (p. ex., fígado, pâncreas), sistemas funcionais (p. ex., gastrintestinal) ou uma combinação de ambos, como no modelo seguinte.”( p.283). OBSERVAÇÕES GERAIS “Uma parte importante do exame médico é classificada sob a categoria ampla das observaçõesgerais – visual, auditiva e olfativa. Indícios não verbais, como postura, expressão facial e maneirismos, também devem ser observados.” (p.283). Inspeção visual “O exame do paciente começa no primeiro encontro. Quando ele passa da sala de espera para a de entrevista, o psiquiatra deve observar seu andar. Ele está estável? Ataxia sugere doenças cerebrais difusas, intoxicação com álcool ou outras substâncias tóxicas, coreia, degeneração espinocerebelar, fraqueza baseada em um processo debilitante e algum transtorno subjacente, como distrofia miotônica.” (p.283). EXAME FÍSICO Seleção dos pacientes “A natureza das queixas é essencial para determinar se um exame físico completo é necessário. Elas podem ser divididas em três categorias de interações corporais, mentais e sociais.” (p.287). Fatores psicológicos “Mesmo um exame físico de rotina pode evocar reações adversas, pois os instrumentos, os procedimentos e a sala onde o exame é realizado podem ser assustadores. Uma simples narrativa do que está sendo feito pode prevenir uma ansiedade desnecessária.” (p.287). O momento do exame físico “Por razões psicológicas, pode não ser recomendável uma avaliação médica na primeira consulta.” (p.287). “Após obter um relato detalhado, o psiquiatra pode concluir que o fracasso se deu por ansiedade situacional.” (p.287). Exame neurológico “Se o psiquiatra suspeitar que o paciente tem um transtorno somático subjacente, como diabetes melito ou síndrome de Cushing, geralmente ele é encaminhado a um clínico para diagnóstico e tratamento.” (p.287). Outros achados “Muitas vezes, pode ser encontrada alguma lesão que explique os sintomas, mas o psiquiatra deve fazer todos os esforços possíveis para separar um achado casual de um causativo e para distinguir uma lesão que foi simplesmente encontrada na área do sintoma de uma lesão que esteja produzindo o sintoma.” (p.288). PACIENTES SUBMETIDOS A TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO “Os pacientes em psicoterapia não apenas podem ser propensos a atribuir novos sintomas a causas emocionais, como, às vezes, até seus terapeutas o fazem. O perigo em dar explicações psicodinâmicas para sintomas físicos sempre está presente.” (p.288). A importância do exame clínico “Esperar que todos os psiquiatras sejam especialistas em medicina interna não corresponde à realidade, mas eles devem ser capazes de reconhecer ou suspeitar de transtornos físicos quando eles existem. Além disso, devem fazer encaminhamentos adequados e colaborar no tratamento de pacientes com problemas físicos e mentais.”