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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS 
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
LILIAN LIMA WERNER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LUTERO E A REFORMA: DEFESA POR UMA EDUCAÇÃO ELEMENTAR PÚBLICA E 
OBRIGATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Boa Vista, RR 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LILIAN LIMA WERNER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LUTERO E A REFORMA: DEFESA POR UMA EDUCAÇÃO ELEMENTAR 
PÚBLICA E OBRIGATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como pré-requisito 
para conclusão do curso de Bacharelado e 
Licenciatura em História, pela Universidade 
Federal de Roraima. 
 
Orientador: Prof. Dr. Alfredo Ferreira de Souza. 
 
 
 
 
 
 
Boa Vista, RR 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP) 
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ficha Catalográfica elaborada pela: Bibliotecária/Documentalista: 
Marcilene Feio Lima - CRB-11/507-AM 
W492l Werner, Lilian Lima. 
Lutero e a reforma: defesa por uma educação elementar pública e 
obrigatória / Lilian Lima Werner. – Boa Vista, 2018. 
42 f. 
 
Orientador: Prof. Dr. Alfredo Ferreira de Souza. 
 
Monografia (graduação) – Universidade Federal de Roraima, Curso 
de História. 
 
1 – Martinho Lutero. 2 – Reforma protestante. 3 – Educação. 4 – 
História moderna. I – Título. II – Souza, Alfredo Ferreira de (orientador). 
 
 
CDU – 37.014.52:283/289 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LILIAN LIMA WERNER 
 
 
 
 
LUTERO E A REFORMA: DEFESA POR UMA EDUCAÇÃO ELEMENTAR PÚBLICA E 
OBRIGATÓRIA 
 
 
 
Monografia apresentada como pré-requisito 
para conclusão do curso de Bacharelado e 
Licenciatura em História, pela Universidade 
Federal de Roraima. Defendida em 30 de 
novembro de 2018 e avaliada pela seguinte 
banca examinadora: 
 
 
 
____________________________________ 
Prof. Dr. Alfredo Ferreira de Souza 
Orientador/ Curso de História - UFRR 
 
_____________________________________ 
Prof. Grad. José Darcísio Pinheiro 
Curso de História - UFRR 
 
_____________________________________ 
Prof. Me. José Victor Dornelles Mattioni 
Curso de Artes Visuais - UFRR 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Agradeço primeiramente à Deus, que me proporcionou capacidade e disposição para o 
desenvolvimento desta pesquisa e a quem dedico toda honra. 
 Agradeço ao meu amado esposo José, cujo apoio, auxílio e carinho foram essenciais 
para a conclusão desta jornada. 
 Aos meus queridos professores e colegas de curso, em especial Cledlene, Sílvia, Rosiel, 
Rodrigo, Ronisson e Icaro, cujo companheirismo tornou minha trajetória educacional mais leve e 
estimulante. 
 Ao amigo Aldair Ribeiro dos Santos, que me concedeu fontes bibliográficas essenciais à 
pesquisa e se mostrou solícito durante todo o processo de estudo. 
 E ao meu orientador Prof. Dr. Alfredo Ferreira de Souza, que me conduziu à busca pelo 
aprimoramento de minha pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Martinho Lutero (1483-1546) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
De que nos valeria se, no mais, tivéssemos e 
fizéssemos tudo e fôssemos todos santos, mas 
deixássemos de fazer aquilo que é a razão 
principal de nossa existência: a educação da 
juventude? Em minha opinião, nenhum pecado 
exterior pesa tanto sobre o mundo perante Deus 
e nenhum merece maior castigo do que 
justamente o pecado que cometemos contra as 
crianças, quando não as educamos. 
 
Martinho Lutero 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Esta pesquisa se dedica a compreender a influência que Martinho Lutero exerceu sobre o 
sistema de oferta de ensino no Sacro Império Romano Germânico, no século XVI, após a 
deflagração da Reforma Protestante. Inicia-se com uma contextualização histórica sobre a 
estrutura do sistema educacional na Europa durante a Idade Média, bem como no Sacro Império 
Romano Germânico, no período que precede a Reforma, afim de relacioná-las às mudanças 
políticas, econômicas e sociais que marcavam a transição para a Modernidade e que foram 
fundamentais no desenvolvimento da própria Reforma e das premissas educacionais de Lutero. 
Através de uma breve apresentação da biografia de Lutero, busca-se apresentar as motivações 
e os princípios que o levaram à defesa por uma educação pública e obrigatória. Por fim, 
observam-se os principais aspectos de suas propostas na transformação estrutural e conceitual 
do ensino, através dos seus escritos diretos sobre o tema, destacando a responsabilidade pela 
criação e manutenção das escolas elementares que atribui aos pais e, sobretudo, ao Estado. 
 
Palavras-chave: Martinho Lutero. Reforma Protestante. Educação. História Moderna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research is dedicated to understanding the influence that Martin Luther exerted on the 
system of supply of education in Germany in the sixteenth century after the outbreak of the 
Protestant Reformation. It begins with a historical background on the structure of the 
educational system in Europe during the Middle Ages, as well as Germany, in the period 
preceding the Reformation, in order to relate them to the political, economic and social changes 
that marked the transition to Modernity and who were fundamental in the development of the 
Reformation itself and of Luther's educational premises. Through a brief presentation of the 
biography of Luther, we try to present the motivations and principles that led to the defense of 
a public and compulsory education. Finally, the main aspects of his proposals in the structural 
and conceptual transformation of teaching are observed, through his direct writings on the 
subject, highlighting the responsibility for the creation and maintenance of elementary schools 
that he attributes to parents and, above all, the State. 
 
Keywords: Martin Luther. Protestant Reformation. Education. Modern History. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9 
1. CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO: A IGREJA E O ENSINO NA IDADE 
MÉDIA ................................................................................................................................... 11 
1.1 - Educação na Alta Idade Média ....................................................................................... 11 
1.2 - Educação na Baixa Idade Média ..................................................................................... 12 
1.2.1 - A influência humanista na educação ........................................................................... 16 
1.2.1.1 - Erasmo de Roterdã .................................................................................................... 17 
1.2.2 - O contexto da educação na Alemanha precedente à Reforma ..................................... 18 
2. MARTINHO LUTERO: REFORMADOR E EDUCADOR ........................................ 21 
2.1 - Filipe Melanchthon: o “preceptor da Alemanha” ...........................................................24 
3. FUNDAMENTOS DE UMA NOVA PROPOSTA DE ENSINO .................................. 26 
3.1 - O currículo escolar .......................................................................................................... 27 
3.2 - Métodos de aprendizagem .............................................................................................. 29 
3.3 - Os professores ................................................................................................................. 30 
4. DEFESA POR UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA E OBRIGATÓRIA ............................ 32 
4.1 - Aos Conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas 
cristãs, 1524 ............................................................................................................................ 32 
4.2 - Instrução dos Visitadores aos párocos, 1529 ................................................................. 33 
4.3 - Uma prédica para que se mandem os filhos à escola, 1530 .......................................... 35 
4.4 - O caráter estatal da educação: um legado da proposta reformada de ensino .................. 36 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 40 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 42
9 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 A Reforma Protestante foi um dos marcos na história século XVI. Ela representou um 
cisma irremediável no pensamento cristão vigente durante a Idade Média, desencadeando 
importantes desdobramentos políticos, culturais, sociais e econômicos em um período de 
iminente transição da sociedade europeia. 
 Neste contexto, a estrutura do mecanismo educacional passou por modificações 
determinantes, conferindo-lhe novo sentido. Cambi (1999, p. 248) destaca que “com o 
protestantismo, afirmam-se em pedagogia o princípio do direito-dever de todo cidadão em 
relação ao estudo, pelo menos no seu grau elementar, e do princípio da obrigação e da 
gratuidade da instrução.” Por influência deste movimento, o Sacro Império Romano Germânico 
saiu à frente no desenvolvimento de um sistema público de ensino. 
 Ao deflagrar a reforma religiosa, em 1517, quando afixa as 95 Teses condenando as 
indulgências, Martinho Lutero exprimiu profunda insatisfação quanto às práticas da Igreja 
Católica Apostólica Romana. Todavia, o alcance de suas críticas excede o domínio religioso, 
visto que, buscava garantir uma transformação social conduzida aos princípios da cristandade 
genuína. Por isso, as transformações que ele empreendeu no sistema de oferta de ensino alemão 
devem ser compreendidas à luz das suas concepções doutrinárias, tendo em vista que a religião 
lhe concedia sustentação e sentido na busca pela remodelação da ordem social (RUSSO, 2012). 
 Esta pesquisa busca apreender a dimensão e os desdobramentos da ativa atuação de 
Martinho Lutero na defesa por uma educação universal, gratuita e obrigatória no território do 
Sacro Império Romano Germânico, no século XVI, ao propor uma reestruturação do sistema 
de oferta de ensino, retirando da Igreja a exclusividade pela formação educacional e atribuindo 
essa responsabilidade aos pais e, sobretudo, ao Estado, a “mão esquerda de Deus.” 
 O desenvolvimento da pesquisa se estrutura em quatro capítulos. No primeiro, 
contextualiza-se a intrínseca relação entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a educação 
durante a Alta e Baixa Idade Média, destacando as suas principais características e as mudanças 
transcorridas nesta relação ao longo das transformações econômicas, sociais e culturais na 
Europa, ressaltando a influência humanista na educação, que fora primordial para a 
concretização das mudanças educacionais. 
 No segundo capítulo, apresenta-se uma breve biografia de Martinho Lutero, assim como 
sua trajetória educacional, a fim de compreendermos as suas ações em favor de um sistema 
10 
 
 
 
público e obrigatório de ensino. É apresentado também, um panorama conciso da trajetória 
educacional de Filipe Melanchthon, um dos maiores apoiadores de Lutero na reforma religiosa 
e educacional, conhecido com o “Preceptor da Alemanha”. 
 No terceiro capítulo, abordam-se os principais aspectos das propostas de Lutero para 
uma reestrutura do sistema educacional, onde ele elucida sobre como o currículo escolar deveria 
ser organizado, tendo a Bíblia como base para os princípios pedagógicos. Observa-se sua 
orientação quanto aos métodos a serem aplicados no processo de aprendizagem, valorizando o 
uso de procedimentos lúdicos na educação de jovens. Além disso, é ressaltada a importância da 
qualificação e sustento dos professores, objetivando a garantia de um bom ensino. 
 No quarto capítulo, são apresentados alguns dos principais escritos de Lutero, 
demonstrando sua abordagem acerca do tema educacional. O primeiro, Aos Conselhos de todas 
as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs, 1524. O segundo, 
Instrução dos Visitadores aos párocos, 1529 e o terceiro, Uma prédica para que se mandem os 
filhos à escola, 1530. Ao final deste capítulo, é apresentada uma análise sobre o caráter estatal 
que Lutero atribui à educação, na busca por compreender a sua lógica na defesa deste princípio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
1. CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO: A IGREJA E O ENSINO NA IDADE 
MÉDIA 
Martinho Lutero influenciou o sistema de oferta de ensino da Alemanha1, no século 
XVI. Para compreender a construção do mecanismo educacional direcionado por suas ações e 
pela deflagração da Reforma Protestante, é necessário observar o processo histórico de 
transformação social, político, econômico e cultural no qual a sociedade europeia estava 
submetida, em particular, no caso da Alemanha. 
 A história da educação está ligada à história da Igreja, sendo que, em vários momentos, 
constituem forte influência uma sob a outra. Na Idade Média, esta relação demonstra-se ainda 
mais próxima. Cambi (1999) destaca que a Igreja teve um papel fundamental na formação e 
transformações da Europa, onde a educação é um exemplo da sinergia entre a fé cristã e as 
instituições eclesiásticas educacionais da época. Estas eram as únicas encarregadas em educar, 
formar e acolher os estudiosos que se dedicariam à vida clerical. 
 Logo, para compreender as motivações e desdobramentos da defesa que Lutero 
empregou para uma educação pública e gratuita, faz-se necessário entender o contexto dos 
embates ideológicos, bem como as lutas políticas pela hegemonia cultural e religiosa na Europa 
medieval. 
1.1 - Educação na Alta Idade Média 
 No início do século VI, período da Alta Idade Média, o Império do Ocidente passava 
por eventos políticos significativos que influenciariam diretamente na oferta educacional. 
Alguns reinos romano-bárbaros já se fixavam nos territórios ocidentais e não se submetiam a 
autoridade política romana representada pela Igreja, sobretudo na figura do Papa. 
 Neste ínterim, dois processos se desenvolvem paralelamente no campo educacional: de 
um lado, o progressivo desaparecimento do modelo da escola clássica, isto é, o processo 
sistemático de alfabetização, leitura e estudo dos clássicos gregos e romanos2; do outro, a 
formação da escola cristã. Este segundo modelo era dividido em dois campos de atuação: A 
 
1 Quando nos referimos à Alemanha, entenda-se proto Alemanha = 962 – Sacro Império Romano-Germânico; 
1815 – Confederação germânica; 1866 - Confederação da Alemanha do Norte; 1871 – Império Alemão; 1918 – 
república democrática e parlamentar; o termo Alemanha será usado para designar as terras quepertenciam a 
Maximiliano I. Visto que o país, propriamente dito, a republica alemã, só existirá a partir de 1919; 1949 – 
República Democrática Alemã e República Federal da Alemanha; 1990 – reunificação, República Federal da 
Alemanha (ARAÚJO, 2005). 
2 Conceito sintetizado por Manacorda (1995). 
12 
 
 
 
escola episcopal, que estava sob os cuidados do clero secular, voltada a atender a demanda das 
cidades e a escola cenobítica, do clero regular, cuja atuação estava voltada a atender a demanda 
nos campos. Apesar disto, a instrução formal entre a população em geral, homens da Igreja ou 
mesmo autoridades do império apresentavam um alcance reduzido. A cultura clássica estava 
em um processo de desvalorização (BARBOSA, 2007). 
 As poucas escolas existentes passaram a estar sob os cuidados da igreja romana, que 
tinha como intuito oferecer a formação clerical, pautada na obsessiva memorização e repetição, 
sem enfatizar o ensino da escrita. Iniciava-se assim uma tradição cristã de educação onde a 
instrução formal, distanciada da anterior tradição clássica, visando atender uma exigência 
mínima de compreensão das Sagradas Escrituras. Porém, é necessário salientar, que esta nova 
tradição inova em permitir que os grupos populares participassem dessa instrução, instaurando 
uma assimilação através do Clero. A vida religiosa não era mais exclusividade da nobreza. 
 A historiografia da Alta Idade Média aponta o final do século VIII como um período de 
mudanças no sistema de oferta educacional. Consolidavam-se as sociedades advindas do 
encontro entre romanos, bárbaros germânicos e a dinastia carolíngia do reino franco, denotando 
mudanças sociais. Durante o império de Carlos Magno, “seja por estratégias políticas ou 
convicções religiosas” (DEFREYN, 2004, p. 12), houve uma ênfase das práticas educativas, 
cujo objetivo era uma formação mais abrangente para o clero e para a população em geral. 
Entretanto, o interesse principal não estava no ensino integral da leitura e da escrita, mas sim, 
na mediação dos elementos do culto e doutrina cristã. Na prática, grande parte da população 
permaneceu analfabeta, inclusive o baixo clero e a maioria dos nobres. 
 Foi neste período que a educação, como tarefa social, foi delegada por Carlos Magno à 
Igreja, mesmo que as escolas ainda estivessem voltadas majoritariamente para a formação do 
clero. O Latim foi reconhecido como uma língua erudita, separado da língua vernácula. Por 
conseguinte, a Igreja Romana consolidava seu monopólio sobre a educação, fortalecendo sua 
posição política e social durante a Alta Idade Média (BARBOSA, 2011). 
1.2 - Educação na Baixa Idade Média 
A renascença carolíngia foi breve e seu enfraquecimento elevou a posição da Igreja no 
sistema educacional. O poder sobre o direito escolar e o controle político, anteriormente do 
império, passou de fato ao seu domínio. 
13 
 
 
 
Os moldes pedagógicos estavam sob a escolástica3, forma de pensamento cristão vigente 
desde a Alta Idade Média, predominante nas escolas monásticas. O objetivo estava na busca 
pela conciliação corporificada entre a fé cristã e o pensamento racional. Através da razão, o 
método escolástico buscava harmonizar os princípios da tradição, que são as Escrituras 
Sagradas, as decisões dos concílios e as declarações dos Pais da Igreja, conforme explica 
Defreyn (2014). 
 A organização das disciplinas mantinha-se a mesma desde o século VIII, com as 
reformas escolares de Carlos Magno. O aprendizado acontecia em torno das chamadas Artes 
Liberais4 onde a língua utilizada era o Latim. Os estudos eram divididos em dois níveis: o 
trivium, que era o nível fundamental e o quadrivium, que era o nível avançado. No trivium era 
ensinado gramática, lógica e retórica. No quadrivium era ensinado geometria, aritmética, 
astronomia e música. Na prática as escolas detinham-se no nível trivium, ensinando apenas a 
gramática. 
 Todo o conteúdo didático era submetido às necessidades eclesiásticas, onde o aluno só 
recebia o conhecimento necessário para participar das liturgias católicas. O método de 
apreensão do ensino era pela exaustiva memorização, sendo ele o mais plausível para a 
realidade, já que alunos não tinham acesso à livros e os professores não tinham qualificação 
adequada. A disciplina rigorosa, também era outro artifício utilizado, promovendo severas 
punições a alunos que não apresentassem o desempenho esperado (DEFREYN, 2014). 
 Todavia, é importante ressaltar que, a partir do século XII, é possível observar a 
ampliação na oferta de escolas, motivada por reformas eclesiásticas e pelo aumento da atividade 
mercantil. No que concerne ao primeiro motivo, a partir do século X, reformas nos mosteiros e 
na Igreja em geral promoveram a criação de várias escolas ligadas às catedrais ou fundações5. 
Tais escolas tinham como objetivo promover maior alcance na formação de religiosos, sendo 
assumidas por bispos, que tinham a responsabilidade de viabilizar o sustento para essas escolas, 
 
3 O termo escolasticismo vem do latim scholasticus, e este por sua vez do grego “σχολαστικός” (que pertence à 
escola, instruído, lugar que se aprende). Foi aplicado a professores na escola palaciana de Carlos Magno e também 
aos eruditos medievais que utilizavam a filosofia no estudo da religião e da teologia. O escolasticismo conciliava 
a fé cristã e a razão humana, ou seja, foi um movimento intelectualista que nasceu nas escolas monásticas cristãs 
(FERRAZ, SILVA E MONTEIRO, 2017, p. 11). 
4 Artes Liberais: com essa expressão se designava, na Idade Média, o conjunto das sete disciplinas que constituíam 
pré-requisitos para a formação específica. Ao lado do estudo das línguas, que compreendia Gramática, Dialética e 
Retórica, se exigiam Aritmética, Música, Geometria e Astronomia (LUTERO, 1995, p. 359). 
5 Defreyn (2004) explica que essas fundações eram mantidas por pessoas abastadas, motivadas pela busca da 
salvação, através das obras. Como era um período do enriquecimento da burguesia, o que a Igreja Católica 
Apostólica Romana considerava um pecado, muitos faziam grandes doações, a fim de aliviarem suas culpas. 
14 
 
 
 
para os professores e para aumentar a oportunidade de ingresso da população mais pobre. Assim 
“a Igreja foi abrindo suas escolas episcopais e paroquiais, também aos leigos, dando-lhes ao 
mesmo tempo, instrução religiosa e literária” (MANACORDA, 1995, p. 143). 
 A partir do século XI, mudanças políticas, culturais, econômicas e sociais passam a ser 
decisivas nos territórios do Sacro Império Romano Germânico. Posteriormente, dois destes 
processos viriam a ser fundamentais na relação entre a Reforma Protestante e a educação. Trata-
se do aumento da atividade mercantilista e da territorialização política. 
 Com o forte crescimento das cidades, o comércio rapidamente foi ampliado, 
modificando o cenário social e econômico. Os comerciantes passaram a formar alianças de 
proteção, montando feiras em diversas partes da Europa e estabelecendo um relacionamento 
próximo aos banqueiros. As moedas voltaram a circular com maior mobilidade. A partir do 
século XIII, as cidades passaram a ser mais habitadas pelos comerciantes, onde exerceram forte 
influência na esfera política e, até mesmo, na vida eclesiástica. Através da formação de 
conselhos municipais, aos poucos este grupo desvinculou as cidades do predominante governo 
religioso (ARAÚJO, 2005). 
 A burguesia passou a se envolver diretamente com as escolas, tirando a exclusividade 
da Igreja sobre a educação: “(...) pela primeira vez desde a Antiguidade, a formação literária 
escolar, passou a ter uma necessidade fundada na existência secular” (DEFREYN, 2004, p. 14). 
Essa mudançaexpressou uma adequação da oferta de ensino às necessidades econômicas e 
sociais emergentes, visto que, o desenvolvimento tecnológico, com a introdução de novos 
conhecimentos e práticas de economia monetária, bem como a elevação da função política dos 
burgueses, exigia uma instrução que os conduzisse à leitura, escrita e cálculos. 
 Diante disto, o ensino passava a se desvincular dos moldes religiosos, onde os mestres 
livres6, que sendo clérigos ou leigos, passavam a ensinar uma crescente e interessada nova 
parcela social, atendendo às suas exigências culturais. Eles ensinavam fora das escolas 
religiosas e preocupavam-se em renovar alguns métodos de ensino. É da atuação destes mestres 
livres, que ensinavam as Artes Liberais e outras disciplinas, atuando juntamente com as escolas 
episcopais e sempre sob a tutela da Igreja (e do império), que teriam nascido as primeiras 
universidades reconhecidas7 (MANACORDA, 1995). 
 
6 Este termo se refere aos professores que lecionavam fora das instituições clericais, como tutores particulares. 
Mas vale ressaltar que seus ensinos não iam de encontro com os princípios religiosos (MANACORDA, 1995). 
7 Segundo Manacorda (1995) em Saleno, antes do ano 1000, existia uma tradição de prática médica, que 
gradualmente assumiu um caráter de escola teórica e, apenas dois séculos mais tarde, foi reconhecida como uma 
universidade. 
15 
 
 
 
 Quatro faculdades eram comumente ofertadas nas universidades, embora não 
exclusivas: Artes Liberais, Medicina, Direito e Teologia. As escolas de Artes e Gramática, 
tinham um caráter introdutório de outros conhecimentos, permanecendo como base para 
qualquer outro estudo. Através delas, alcançava-se o cume do estudo da Filosofia, seja a da 
natureza (física, ciências naturais) ou a do homem (ciências morais). 
 O aumento da atuação da burguesia urbana passou a exigir uma formação escolar 
especializada, adequando-se às emergentes demandas econômicas e sociais. O modelo antigo 
de produção se torna insuficiente para atender as novas necessidades. Segundo Russo (2012, p. 
9) esta “(...) concepção do trabalho terá que se modificar e a Reforma terá os ingredientes éticos 
e religiosos necessários à esta mudança”. 
 Além da alta burguesia, outro setor social contribuiu para o fim da monopolização 
eclesiástica sobre o ensino: as corporações de ofício. Elas tiveram importante papel neste 
processo, pois com a inserção de novas tecnologias no modo de trabalho, um ensino técnico 
passou a ser essencial para obter-se bom desenvolvimento das profissões. Contando com a 
legitimação social dos burgueses, este novo setor profissional buscava ensino especializado na 
Alemanha. 
 Neste período, as escolas do Sacro Império não se restringiam mais à instrução litúrgica 
religiosa como as escolas latinas. A prioridade da composição da grade curricular estava voltada 
a inserção de conhecimentos técnicos. Tal característica as popularizou, tornando-as os 
principais destinos de formação. Consequentemente, já no século XV, as escolas alemãs haviam 
adquirido grande popularidade e aumentado em número. A língua alemã se difundiu e passou 
a ser ensinada em várias escolas fora da Alemanha. Por outro lado, estas escolas passaram a 
entrar em conflitos diretos com a Igreja, pois os seus objetivos eram divergentes. 
 No século XVI, enquanto surgiam os primeiros livros8 impressos sobre Matemática e se 
formalizavam os primeiros registros completos sobre contabilidade mercantil, um novo 
movimento cultural emergia, propondo a quebra do modelo educacional escolástico, a saber: o 
Humanismo. 
 
 
8 Ferraz, Silva e Monteiro (2017) apontam que a invenção da máquina de imprensa se deu no século XV, mas não 
se configurou como uma mudança significativa na educação elementar, devido à alta taxa de analfabetismo. 
16 
 
 
 
1.2.1 - A influência humanista na educação 
 A partir do Renascimento na Itália, desenvolve-se o Humanismo no século XIV. Este 
movimento desejava resgatar o modelo clássico de educação e expressava uma profunda 
aversão à cultura medieval, como forma tradicional de transmissão do conhecimento. Os 
humanistas repudiavam o uso do Latim, caracterizado pelos elementos da língua vernácula e 
criticavam a excessiva ênfase doutrinária na educação (RUSSO, 2012). 
 O Humanismo também se posicionou contrário à cultura dos cenóbios e das 
universidades, alegando falibilidade quanto à classificação das ciências. Criticava a 
subserviência aos manuais e compêndios e aos métodos repetitivos de ensino, além de 
questionar a autoridade da Igreja, cujo prestígio já estava sendo minado com os recorrentes 
descontentamentos sociais e religiosos. Enfim, aliado ao saber secularizado, o Humanismo 
defendia a volta da escola clássica e procurava a reafirmação do indivíduo (MANACORDA, 
1995). 
 Barbosa acrescenta que: 
A Educação, sob influência do movimento humanista que se expandia, sofreu diversas 
mudanças e desenvolveu características particulares nos diferentes países nos séculos 
em que as tradições medievais foram suprimidas pelos novos ideais do Renascimento 
(2007, p. 13). 
 Uma ruptura decisiva se concretizava, trazendo nova finalidade à educação, destinada 
à um indivíduo ativo na sociedade, não completamente submisso aos dogmas religiosos e aberto 
para a racionalidade de suas ações. 
 Em relação ao Humanismo que influenciou a Alemanha, após a segunda metade do 
século XV, propulsionando a Reforma Protestante, tinha um aspecto mais religioso e filológico, 
diferente do Humanismo italiano, de caráter mais laicizado. Ferraz, Silva e Monteiro (2017) 
associam os humanistas aos pré-reformadores, na idealização de um novo modelo pedagógico 
que não menosprezasse a razão humana e suas habilidades no desenvolvimento de suas 
potencialidades. Araújo concorda com esta perspectiva, ao afirmar que: 
Esse grupo, os humanistas, ao descobrirem documentos fundamentais da civilização 
cristã, forneceu material para estudo e posterior contestação à igreja, como por 
exemplo, o Novo Testamento grego de Erasmo. Graças a esse quadro, a Reforma 
achou na Alemanha condições para se propagar, de modo que nem o papa nem os 
governantes tiveram meios para impedir a sua vitória (2005, p. 45). 
 A criação dos colégios secundários que ofereciam aos jovens estudos preparatórios para 
o ingresso nas universidades, que em grande parte já estavam influenciadas pelo humanismo, é 
datada do início do século XVI. Os cursos ofertados eram subsidiados pelos príncipes dos 
17 
 
 
 
Estados emergentes, que passaram a apoiar a nova forma de educação escolar, visando à 
estabilização de suas cortes e à formação de seus cortesãos, conforme explica Barbosa (2007). 
 A educação se constituía como mais um dos pontos de disputa entre as monarquias 
nacionais e a Igreja, que já apresentavam interesses distintos. No campo político, o conflito pela 
divergência de poderes era eminente: 
No aspecto político, as monarquias nacionais tinham o interesse em reduzir o poder 
eclesiástico da Igreja Católica, no qual daria a elas a oportunidade de confiscar seus 
bens que estavam centralizados no Sacro Império. Além das questões materiais e 
econômicas havia um descompasso entre as necessidades espirituais dos fiéis e a 
atuação da hierarquia católica (FERRAZ, SILVA E MONTEIRO, 2017, p. 19). 
Em contrapartida, o Humanismo de viés italiano, caracterizado pelo aristocratismo, 
preteriu o ensino elementar, considerando-o inferior. Seu foco de atuação se concentrou nas 
universidades. Somente a partir do século XVI, através do humanismo alemão, é que passou a 
haver o interesse por influenciaro ensino escolar, principalmente após a Reforma Protestante. 
 Um exemplo de como o Humanismo cristão influenciou as concepções educacionais 
desenvolvidas durante a Reforma, encontram-se na atuação de Erasmo de Roterdã, cuja defesa 
pela reformulação do sistema de ensino perpassou pelos ideais de Lutero. 
1.2.1.1 - Erasmo de Roterdã 
Erasmo foi um dos mais famosos humanistas cristãos do século XVI. Nascido em 
Roterdã, na Holanda, por volta de 1466, filho bastardo de um pároco, tornou-se um intelectual 
peripatético influente da Europa, sendo constantemente consultado por papas, reformadores, 
reis e eruditos. 
 A sua busca estava em legitimar a educação como um meio de transformar o mundo e 
por isso era um grande incentivador de seu acesso pelo homem simples. Foi enfático em propor 
o rompimento do monopólio religioso sob o sistema de oferta de ensino. Contudo, sabendo que 
este era um processo complexo, seu foco manteve-se na elite intelectual, cultivando sempre boa 
relação com as universidades, como afirma Simon (1971). 
 Antes mesmo de Lutero, criticou as atividades seculares do papado e combateu as 
práticas de jejuns, culto das relíquias, celibato, comércio de indulgências, peregrinações, 
confissões, mortes por heresias e orações aos santos. Sua recomendação era para que os dogmas 
religiosos diminuíssem o máximo possível, para que assim, sua menor atuação deixasse 
prevalecer a liberdade de opinião (RUSSO, 2012). 
18 
 
 
 
 Muito embora ele não tenha se pronunciado a favor da Reforma Protestante, contribuiu 
significativamente para este movimento, através de suas falas, posicionamentos e influência e, 
principalmente, a publicação de sua primeira edição do Novo Testamento9 em grego, no ano de 
1516, que, pela primeira vez na história, ficou disponível em formato impresso. Ademais, 
mesmo demonstrando-se simpático a algumas defesas de Lutero, não se posicionou em favor 
dele, uma vez que, além de terem divergências teológicas irreconciliáveis, Erasmo não desejava 
um rompimento com a Igreja. 
 Ressalta-se, porém, que, as concepções de Erasmo sobre a educação e a pedagogia 
contribuíram decisivamente para a nova forma de ensino, assim como para os novos modelos 
de aprendizagem, os quais caracterizaram o Mundo Moderno. Sua preocupação com uma 
pedagogia voltada para as crianças era algo singular naquele período, inclusive, dentro do 
próprio humanismo. Ele deu início a uma nova perspectiva educacional e Lutero fora 
influenciado pelos princípios pedagógicos defendidos por ele. 
1.2.2 - O contexto da educação na Alemanha precedente à Reforma 
 O Sacro Império Romano10 do século XIV tinha sua constituição social formada por um 
conjunto de cidades e principados sem unidade política. Os germânicos falavam diferentes 
línguas, praticavam diversos costumes e não eram agrupados em um Estado unificado e 
centralizado. Também não havia um rei na Alemanha e sim um Imperador, cuja autoridade era 
figurativa. Ele gozava do título, mas seu império era apenas uma demarcação territorial, na qual 
até mesmo os bispos tinham mais autoridade (RUSSO, 2012). 
 Somente no século XVI, sob a concentração política e territorial dos príncipes, que as 
cidades alemãs passam a apresentar expressivas modificações, dispondo de uma burguesia ativa 
e próspera, com capitais povoadas e supridas por suas próprias instituições, como indústrias, 
artes, costumes, escolas e igrejas. Contudo, nos campos esta não era a mesma situação 
observada. Dominados por senhores e camponeses resistentes, esta parte da Alemanha era 
estranha à cultura urbana. 
 A realidade social do território germânico se mostrava difícil de conciliar, 
principalmente com a crescente insatisfação ao governo imperial. O Imperador, representava 
 
9 Simon (1971) afirma que essa tradução feita a partir dos manuscritos originais e editado com anotações do 
tradutor, possibilitou a produção de estudos sobre o Novo Testamento pelos reformadores. 
10 A fundação do Sacro Império Romano, em 962, foi a tentativa de construir uma unidade cristã na Europa. No 
início da Reforma era um território extenso e sem unidade política. 
19 
 
 
 
seu papel submisso à autoridade do Papa, no entanto, a sociedade estava insatisfeita com o 
domínio da Igreja: “Os burgueses e os camponeses, por pagarem muitos tributos; os príncipes 
e os nobres, pois cobiçavam os belos e vastos domínios da Igreja alemã e almejavam mais 
poderio” (RUSSO, 2012, p. 7). 
 Conforme explica Denfreyn (2004, p.14), desde o final do século XV, a classe mercantil, 
que já vinha se desvencilhando da autoridade da Igreja, passou a se envolver diretamente com 
a educação, no intuito de adequar o ensino às novas necessidades econômicas. Em muitas 
cidades alemães, várias escolas passaram a ser criadas e mantidas pelos próprios cidadãos, 
“sejam eles comerciantes ou então os artesãos unidos nas corporações de ofício.” Tal situação 
acirrava o conflito com a Igreja, pois retirava dela a exclusividade pela oferta de ensino. Os 
conselhos municipais que se envolviam nesta disputa, acabavam em muitas vezes conquistando 
a responsabilidade pela educação e o patronato religioso da cidade. 
 Portanto, os conselhos municipais (formados pela alta burguesia) e as corporações de 
ofício (formada pelos artesãos) fomentaram e financiaram a criação de instituições de ensino 
voltadas ao ensino técnico das profissões. A língua alemã passou a ser ensinada amplamente 
nas escolas, mesmo em outros Estados, já que, como citado anteriormente, artesãos de outros 
Estados da Europa priorizavam a formação técnica nestas instituições alemãs. O Latim ainda 
era ensinado, mas sem a ênfase que a educação tradicional latina ainda lhe concedia. 
 Muito embora as escolas dos conselhos municipais negassem o modelo religioso 
litúrgico católico, na prática, a maior parte delas ainda seguiam os moldes das escolas 
tradicionais latinas. Eles as adaptavam às suas necessidades, mas sem romper por completo 
com o modelo escolástico. Buscava-se então, um aumento no índice de alfabetização e de 
instrução técnica, mas não a completa quebra do caráter religioso do ensino (MANACORDA, 
1995). 
 Ao passo que diminuía a quantidade de escolas ligadas à Igreja Católica Apostólica 
Romana e crescia o número de escolas criadas e mantidas pelos conselhos municipais, outro 
tipo de instituição surgia e se espalhava com grande aceitação popular: as escolas de iniciativa 
privada. Alguém, com algum preparo e conhecimento educacional, não precisando 
necessariamente ser mestre de formação, ensinava aos alunos uma instrução de nível elementar 
e “se oferecia a ler e a escrever em alemão e a fazer cálculos, cobrando taxas para isso.” 
(DENFREYN, 2004, p. 15). 
20 
 
 
 
 Manter e estudar neste tipo de escola apresentava custos inferiores às escolas 
financiadas pelos conselhos municipais. Por isso, rapidamente elas ganharam popularidade, 
ainda que, entre a Igreja e os conselhos municipais, elas não eram completamente aceitas e em 
várias cidades alemãs passaram a ser proibidas. Algumas que buscaram resistir às sanções, 
tiveram seus professores perseguidos, não tendo como resistir por muito tempo. 
 Nestas sucessivas transformações do sistema de oferta de ensino, a educação do século 
XVI se propôs a servir as necessidades sociais e econômicas de sua época. É neste contexto que 
nascem as fundamentações para o pensamento pedagógico da Reforma Protestante na 
Alemanha, que, posteriormente, iria influenciar outros Estados. Como ressaltam Ferraz, Silva 
e Monteiro (2017, p. 24), há aí uma reestruturação do pensamento religioso e do modo como 
se praticava o ensino, onde o protestantismo traz propostas paraa “construção e democratização 
de um novo modelo de ensino.” Além disso, ressalta-se que, a premissa deste novo modelo 
estava no livre acesso e exame da Bíblia. 
 Para fundamentar uma reforma educacional, Lutero reconhecia que esta deveria ser 
ligada a uma reforma política. Responsabilizar o Estado pela criação e manutenção de escolas 
públicas era a principal forma de assegurar este ideal. Romper com o modelo tradicional de 
oferta de ensino possibilitaria a interrupção da prática escolar voltada a aristocracia e 
proporcionaria um acesso às escolas por todas as camadas sociais, inclusive às mulheres, 
inaugurando assim, um processo de democratização do ensino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
2. MARTINHO LUTERO: REFORMADOR E EDUCADOR 
 Para compreendermos as transformações no sistema público de ensino na Alemanha do 
século XVI, por influência da Reforma Protestante, faz-se necessário observar a atuação de 
Martinho Lutero, percebendo através de seus aspectos biográficos e de sua trajetória 
educacional os princípios que o levaram a implementar o exercício de uma educação pública e 
obrigatória. 
 Essa defesa empreendida por Lutero e por outros precursores da reforma religiosa e 
educacional no Sacro Império, não só transformou o sistema de oferta de ensino germânico, 
como também, se constituiu base para a construção da pedagogia moderna: “Lutero 
compreendeu que a educação básica seria uma das pilastras para sustentar o novo edifício que 
viria a ser a Modernidade, reivindicando das autoridades a criação de um sistema educativo, 
uma escola universal para todos” (RUSSO, 2012, p. 18). 
 Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, na Saxônia, 
Alemanha. Uma pequena cidade, com poucas escolas e professores, sem universidade e bem 
longe do oeste alemão que era culturalmente diversificado. Sua família era de origem humilde, 
mas seu pai conseguira êxito financeiro através do trabalho em minas. Desejando ascensão 
social, investiu na vida acadêmica do filho. 
 Aos sete anos, Lutero foi enviado para estudar em uma escola latina, na cidade em que 
residiam, para ser educado no nível básico. Lá, aprendeu a ler e escrever em Latim, assim como 
todos os conhecimentos dos rituais litúrgicos básicos. Quando tinha quatorze anos, seu pai o 
matriculou na escola Catedral de Magdeburgo, local em que teve contato com o Humanismo e 
aprofundou o desejo em dedicar sua vida à uma prática de piedade, devoção e espiritualidade. 
Aos quinze anos, seu pai o enviou para a escola latina de Eisenach, onde ficou até os dezoito 
anos. Depois ele seguiu para a universidade de Erfurt, integrando-se à Faculdade de Artes e 
graduando-se como Mestre das Artes Liberais. Aos vinte e um anos, ingressou na Faculdade de 
Direito, que não chegou a terminar, pois fez uma promessa de se dedicar totalmente à vida 
eclesiástica, após passar por experiências em que sua vida correu perigo. Por fim, abandonando 
os estudos e contra a vontade de seu pai, ingressou no mosteiro dos agostinianos (DEFREYN, 
2004). 
 Em 1508, a Universidade de Wittenberg havia sido recém fundada e Lutero recebeu um 
convite para ocupar uma das duas cadeiras destinadas aos agostinianos. Lá ele deu 
prosseguimento aos estudos, completando o segundo grau nos estudos superiores e tornando-
22 
 
 
 
se bacharel setenciário. Esta universidade já demonstrava sinais da influência humanista, ao 
romper com alguns aspectos da tradição escolástica. Ela contava com o apoio financeiro e 
político do príncipe Frederico11, que investia muito na universidade, buscando uma melhor 
formação de seus cortesãos e o aumento de seu prestígio social. 
 Sendo indicado para assumir um importante cargo na Faculdade de Teologia, Lutero 
deu início ao doutorado, que constava como um pré-requisito necessário à função. Como era 
um estudo muito caro, ele recebeu apoio financeiro do príncipe, que impôs a condição de que 
Lutero deveria lecionar na universidade para sempre. Em 1514 ele já era professor na 
universidade e pregava na catedral da cidade de Wittenberg. 
 Foi nesse ano que Lutero esboçou uma incisiva reação contrária à bula do papa Leão X, 
que concedia indulgência plenária, ou seja, a absolvição total dos pecados aos que ajudassem a 
financiar a construção da basílica de São Pedro, em Roma. Ao mesmo tempo, surgiam muitas 
denúncias de vendas de cargos eclesiásticos importantes, sobretudo na Alemanha, causando 
uma revolta popular contra a cúria romana, conforme explica Toledo (1999). 
 Como professor de Teologia, ao estudar as Sagradas Escrituras, um divisor de águas se 
estabelece em sua concepção teológica. Ao ministrar um curso sobre a Epístola aos Romanos, 
Lutero encontrou a síntese da defesa reformada quanto à salvação: a justificação vem somente 
pela fé. A partir deste momento ele passa a romper com o escolásticismo e com o misticismo. 
É neste momento também, que ele compreende a importância do livre exame da Bíblia. 
 O cisma com a Igreja teria início em 1517, no dia 31 de outubro, quando Lutero fixou 
suas 95 teses contra as indulgências nas portas da igreja de Wittenberg. Este era um método 
comum entre os estudantes universitários, quando se pretendia debater questões sérias. Todavia, 
no meio acadêmico não se presenciou a repercussão esperada. Apenas quando as teses foram 
publicadas em folhetos12 é que de fato se percebeu uma forte reação pública, dando início à 
Reforma Protestante. 
 Antes de dar início à uma reforma religiosa, Lutero se preocupou em assegurar uma 
reforma na educação universitária. Sobre este ponto, ressalta-se que: 
Importante aqui é frisar o fato de que tal movimento começou com a atitude de Lutero 
em querer discutir um problema de ordem pastoral na universidade. Isso já parece 
 
11 Frederico da Saxônia (1586-1525) denominado “o Sábio”, manteve-se neutro em relação à fé reformada até 
pouco antes de sua morte. No entanto, agiu com firmeza na defesa de Lutero e ao seu direito à liberdade e à justiça 
(LUTERO, 1995). 
12 Lutero enviou uma cópia das teses ao impressor de Nuremberg, que sem tê-lo consultado, resolveu publicá-las 
e distribuí-las. Em menos de um mês, elas foram traduzidas do Latim para o Alemão, para o Holandês e Espanhol, 
causando temor na Igreja em Roma (MANACORDA, 1995). 
23 
 
 
 
indicar algo que, depois se mostraria claramente: o fato dele achar que a reforma da 
Igreja e da sociedade passaria pela reforma da universidade (DENFREYN, 2004, p. 
24). 
Isto significa que, o seu interesse estava em interligar a reforma religiosa à uma reforma 
no sistema educacional. Como primeiro passo à esta direção, ele defende o direito dos alunos 
de lerem a Bíblia diretamente nas línguas originais, sem a intermediação do Clero. Para isso, 
na universidade de Wittenberg, Lutero viabilizou a inserção de duas importantes cadeiras. A 
primeira, de Grego, lecionada por Filipe Melanchthon, que logo em sua aula inaugural causou 
uma forte impressão em Lutero, tanto que, posteriormente, Filipe veio a se tornar o seu principal 
colaborador na reforma religiosa e educacional na Alemanha. A segunda cadeira, de Hebraico, 
foi lecionada pelo reconhecido mestre Johannes Rhagius (BARBOSA, 2007). 
 Entre a atuação de eminentes educadores, as ações de Lutero em favor da universidade 
de Wittenberg conferiu a ela uma proeminente visibilidade entre os estudantes. Somado à sua 
orientação humanista, esta universidade teve um aumento significativo no ingresso de alunos, 
aumentando o seu prestígio e o do próprio príncipe Frederico. 
 Em 1518, Lutero foi chamado à Roma, pela Igreja Católica Apostólica Romana, para 
responder por heresia,mas seus amigos não o permitiram ir. Temiam que, quando ele chegasse 
lá, fosse privado de um julgamento justo, sendo levado direto à prisão. Contrariada, a Igreja 
enviou para Wittenberg a bula de excomunhão de Lutero, emitida pelo papa Leão X. Assim que 
saísse o edito da excomunhão, ele seria tido como um criminoso e poderia ser queimado na 
fogueira (ARAÚJO, 2005). 
 O imperador do Sacro Império Romano Germânico, Carlos V, convocou Lutero para se 
apresentar perante ele e os enviados do papa, afim de articular sua defesa. Entretanto, fora uma 
oportunidade meramente figurativa, sem validação. Na volta para Wittenberg, o príncipe da 
Saxônia colocou em prática um plano para salvar sua vida. Levou-o até Wartburgo, onde foi 
acolhido por Filipe Melanchthon e “Lá ele ficou meses disfarçado. Em 3 meses, traduziu o novo 
testamento para o alemão moderno, direto da língua original. Criou assim, uma nova maneira 
de expressão linguística, que influenciou de modo definitivo a literatura germânica posterior” 
(ARAÚJO, 2005, p. 48). 
 Enquanto estava escondido, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e este veio a se tornar 
um importante elemento na formação da língua e literatura alemã, consolidando o processo de 
letramento da população. Foi entre 1517 e 1521, como aponta Toledo (1999), que ele produziu 
a maioria dos textos considerados precursores do Corpo Doutrinário da Reforma Protestante. 
24 
 
 
 
Neste período, ele e o humanista cristão, Erasmo de Roterdã, romperam sua ligação 
definitivamente, pois tinham posições teológicas muito distintas. Erasmo defendia o livre-
arbítrio e Lutero, a justificação pela fé. Suas discordâncias também alcançavam o campo 
educacional, com Erasmo chegando a acusar Lutero de ter causado a decadência das escolas 
latinas. 
 Ainda neste período, Lutero escreveu dois dos mais importantes textos que tratam sobre 
a educação e escola: Aos Conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e 
mantenham escolas cristãs13, de 1524, onde defende a criação e manutenção de escolas para 
crianças e Uma prédica para que se mandem os filhos à escola14, de 1530, repreendendo os 
pais para que viabilizem a frequência nas escolas por seus filhos. As análises destes dois escritos 
se constituem como fundamentais para perceber a proposta de educação apresentada por 
Martinho Lutero, visto que apresentam questões conceituais, bem como os princípios contidos 
na sua percepção sobre o exercício do ensino. 
 Em 1525, quando já tinha retornado a Wittenberg, Lutero abandonou o hábito e se casou 
com Catarina von Bora, ex-freira e descendente de família nobre, com quem teve 6 filhos. Fazia 
culto doméstico, com louvores, leitura da Bíblia e oração. Ele era um grande músico e escreveu 
alguns hinos, dentre eles o hino símbolo da Reforma Protestante “Castelo Forte é o Nosso 
Deus”. Inaugurou o costume de todos catarem juntos nos cultos, orava pelo menos duas horas 
por dia e era um pregador entusiasmado. Aos 62 anos de idade, fez o seu último sermão. Morreu 
na cidade onde nascera, após um ataque cardíaco, em 1546. Foi enterrado ao lado do seu púlpito 
em Wittenberg (ARAÚJO, 2005). 
2.1 - Filipe Melanchthon: o “preceptor da Alemanha”15 
 Quando Lutero conheceu Melanchthon em 1518, uma grande parceria se firmou entre 
ambos. A sua influência e atuação na vida de Lutero foi fundamental no desenvolvimento da 
Reforma e do processo de reestruturação da educação, principalmente através da organização 
das escolas do ensino secundário. Melanchthon foi o principal responsável pela elaboração das 
estruturas organizacionais e dos conteúdos culturais das escolas secundárias. Com os seus 
 
13 No original em alemão: An die Ratsherren aller Städte deutsches Lands, dass sie cristliche schulen aufrichten 
und erhalten sollen. 
14 No original em alemão: Eine Predigt, dass man Kinder zur Schule halten solle. 
15 Termo adotado por Cambi (1999) ao se referir à Filipe Melanchthon. 
25 
 
 
 
estudos na universidade de Wittenberg sobre os clássicos gregos e latinos, instaurou uma nova 
forma de ensino, distinto da escolástica. 
 Filipe Melanchthon nasceu em um pequeno vilarejo da Renânia, em 1497. Sobrinho do 
humanista Reuchlin, apresentava grande conhecimento de cultura e das línguas clássicas. Atuou 
na organização de escolas em diversos locais na Alemanha, afirmando a importância da 
educação e da validade da cultura antiga, a fim de promover o conhecimento das verdades 
bíblicas (CAMBI, 1999). 
 Em 1526, por orientação de Melanchthon, o Conselho de Nuremberg fundou o Ginásio 
de Egídio, ao lado de três escolas de latim já existentes na cidade. Ele desejava promover o 
aumento da autoridade cultural e moral dos professores e tornar a escola um local de busca ao 
conhecimento consciente, pautada em uma instrução clássica, organizada em três ciclos: o 
primeiro, básico, focado no aprendizado do Latim; o segundo, intermediário, voltado ao estudo 
da gramática; e o terceiro, voltado aos melhores alunos, abrangendo o conhecimento de Grego, 
Hebraico, Matemática e Artes. 
 Além disso, Melanchthon detalhou as matérias de estudo, propondo as horas necessárias 
de enfoque em cada disciplina, orientou quanto aos métodos de aprendizagem mais adequados 
e escreveu vários livros didáticos para o uso nas escolas. Ele atribuiu às autoridades civis a 
responsabilidade por instituir e financiar as escolas, bem como a de nomear professores 
devidamente qualificados. No âmbito universitário, Melanchthon também foi o responsável por 
inserir novas matérias e reorganizar várias universidades. Sua autoridade em assuntos didáticos 
era amplamente reconhecida, tornando-se um importante consultor de mestres luteranos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
3. FUNDAMENTOS DE UMA NOVA PROPOSTA DE ENSINO 
 
 A concepção de escola durante a Reforma busca se distanciar do humanismo- 
renascentista, ansiando por um projeto de educação universal, que, até aquele momento, não se 
apresentava como prioridade em outras propostas pedagógicas. Para Lutero, a transformação 
na educação era um desdobramento natural da reforma religiosa. Ferraz, Silva e Monteiro 
(2017) afirmam que “Lutero entendia que a Educação era essencial para a permanência do 
Protestantismo em qualquer lugar, porque era a religião do Livro, da leitura e da escrita, da 
interpretação da Bíblia (...). Lutero queria responder com a Educação aos problemas de seu 
tempo” (p. 26). Ele tomou para si, a responsabilidade social de viabilizar uma educação que 
promovesse a liberdade das mentes aferradas pelo escolasticismo. 
 Lutero entendia que o ensino era um importante meio pelo qual as pessoas alcançariam 
um êxito social: “(...) o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos 
homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados” (LUTERO, 
1995, p. 342). A sua postura, em favor de uma educação que alcançasse a todos os cidadãos, é 
intrínseca às mudanças que a Reforma tencionava promover na sociedade. 
 Em vista disso, torna-se primordial elucidar que os escritos e falas de Lutero a respeito 
do ensino sujeitam-se à sua concepção religiosa, onde a educação deveria ser um instrumento 
na salvação do homem e na sua formação cívica plena. Conquanto seja um tema que perpassa 
pela maioria os seus tratados, conferindo-lhe grande relevância, não se sobrepõe aos seus 
embates teológicos. 
 À medida que ele expõe os problemas da Igreja, da sociedade e da educação, procura 
apresentar também os princípios de sua proposta para uma reforma no sistema de ensino 
alemão, orientando sobre sua organização e o caráter obrigatório e público que deveria ter.Neste sentido, é importante salientar que, apesar de Lutero esclarecer como poderiam ser 
concretizados vários elementos da sua proposta, ele não chega a elaborar uma teoria 
educacional bem fundamentada. 
 O objetivo de Lutero não era o de formular uma teoria cristã de educação, mas, esboçar 
uma ética social teológica, caracterizando a educação como comprovação de uma vida piedosa, 
atendendo às necessidades individuais e coletivas dos seres humanos (LUTERO, 1995). 
 
 
27 
 
 
 
3.1- O currículo escolar 
Opondo-se ao currículo escolar vigente, que se baseava nos estudos das obras de 
Aristóteles, Lutero idealizava um sistema de educação em que a Bíblia estivesse no cerne 
pedagógico. Assim, “Afirmava que as Escrituras Sagradas deveriam fazer parte do principal 
material didático tanto das escolas superiores assim como inferiores” (ARAÚJO, 2005, p. 51). 
Por isso, ao traduzir o Novo Testamento para o Alemão, em busca de oferecer os fundamentos 
para a própria Reforma, Lutero abriu caminhos para a formação da língua e da literatura alemã. 
Assegurar que o povo lesse a Bíblia na própria língua era umas das maiores defesas 
empreendidas por ele. 
 A tradução da Bíblia16 para o Alemão feita por Lutero, foi uma relevante contribuição 
para a formação da língua e cultura germânica. Antes dele, já haviam sido realizadas outras 
quatorze traduções. Entretanto, na que ele realizou, foi empregado o Alemão utilizado na 
chancelaria da Saxônia. Desse modo, Lutero contribuiu para que essa língua se tornasse comum 
na Alemanha em função da forte popularização da Bíblia. “Uma peculiaridade de sua tradução, 
e que certamente contribuiu para que ele superasse em muito as anteriores, foi o estilo de Lutero, 
o qual procurava escrever num Alemão que fosse compreensível aos simples e eruditos” 
(DEFREYN, 2004, p. 28). 
 Outra importante contribuição de Lutero para a educação popular, foi a criação de um 
hinário em Alemão, elaborado com hinos simples, com o objetivo de proporcionar canções 
acessíveis ao povo. Tais hinos diferenciavam-se dos traduzidos diretamente do Latim. 
Consequentemente, ao contar com a grande aceitação popular, eles passaram a ser parte dos 
cultos luteranos e tornaram-se comuns ao cotidiano. 
 Araújo (2005, p. 51) acrescenta que, “Na reforma para o ensino inferior, ele propunha 
além do estudo bíblico e doutrina cristã, a leitura, a gramática, a dialética e a retórica.” A sua 
ênfase no aprendizado das línguas clássicas, o Grego e Hebraico, eram essenciais para o estudo 
do Velho e Novo Testamento, além do ensino de História, Artes Liberais e Ciências. A 
aprendizagem das línguas se configuraria como um meio de proporcionar a liberdade do cristão. 
 Quanto ao ensino de História, Lutero enfatiza a sua importância para a compreensão 
sábia do mundo: 
 
16 Denfreyn (2004) apresenta que Lutero, num período de dez semanas, traduziu o Novo Testamento para o 
Alemão, que foi editada em 1522. Depois, em 1534, com ajuda de professores da Universidade de Wittenberg, 
concluiu a tradução do Velho Testamento. 
28 
 
 
 
Se, porém, fossem ensinados e educados em escolas ou em outras instituições, onde 
houvesse mestres e mestras instruídos e disciplinados, que ensinassem línguas e outras 
disciplinas, e História, aí então conheceriam a história e a sabedoria do mundo inteiro 
(...) Isso lhes serviria de orientação para seu pensamento e para se posicionarem dentro 
do curso do mundo com temor de Deus. Além disso, a História os tomaria prudentes 
e sábios, para saberem o que vale a pena perseguir e o que deve ser evitado nesta vida 
exterior, e para poderem aconselhar e governar a outros de acordo com estas 
experiências (LUTERO, 1995, p. 352). 
Com a influência dos humanistas, opondo-se ao trivium e quadrivium do modelo 
escolástico, é estabelecido um conjunto de disciplinas baseadas nos studia humanitatis que 
incluía “Gramática, Retórica, Poética, História e Filosofia Moral e devia ser completada com o 
estudo das obras dos santos padres da Igreja (principalmente Santo Agostinho) e de matemática, 
astronomia, demais ciências, música, dança e outras artes e exercícios físicos” (BARBOSA, 
2007, p. 169). Este novo modelo curricular expressa uma preocupação em contemplar vários 
saberes e necessidades que a Modernidade apresentava. 
 A leitura era de vital importância para Lutero. Por isso, ele era meticuloso com os livros 
que deveriam compor as bibliotecas das escolas e universidades. Apelava aos responsáveis em 
manter as escolas que não poupassem esforços e recursos para suprirem as bibliotecas com bons 
livros. Para ele, a Bíblia deveria ser o livro mais importante na educação, porém, outros bons 
livros de conhecimentos seculares também deveriam compor o repertório dos acervos 
bibliotecários: 
Dessa forma, ele orienta que a preocupação não deveria ser com a quantidade de 
livros, mas com a seleção daqueles que se mostram importantes, a saber: em primeiro 
lugar, a Sagrada Escritura em latim, grego, hebraico, alemão e outras línguas; depois 
os melhores e os mais antigos intérpretes da Bíblia, ambos em grego, hebraico e latim; 
depois os livros úteis como os poetas e oradores para aprender as línguas e a 
Gramática, independentemente de serem gentios ou cristãos, gregos ou latinos; depois 
os livros sobre as artes liberais e outras disciplinas; entre os mais importantes 
deveriam constar as crônicas e os compêndios de História; e por último, livros 
jurídicos e de Medicina, fazendo-se uma boa seleção entre eles (LUTERO, 1995, p. 
170). 
 Lutero atribuía à literatura, a missão de conservar o Evangelho e instruir os cidadãos a 
respeito dos conhecimentos seculares. Mas, a tradição oral, marcante durante a Idade Média, 
ainda mantinha sua relevância no processo de ensino. Lutero não era contra a oralidade, pois 
reconhecia a sua importância e função, tanto na educação escolar, quanto na própria Igreja, para 
o ensino das Escrituras. Nas escolas elementares, as práticas do ouvir, fazer e memorizar eram 
mais utilizadas do que a própria escrita e leitura, cuja inserção no ensino se dava aos poucos. 
 
 
29 
 
 
 
3.2 - Métodos de aprendizagem 
 Contrário aos métodos de ensino tradicional escolástico e influenciado pelo humanismo, 
principalmente pelas ideias de seu colaborador Filipi Melanchthon, Lutero sugere a aplicação 
de novas estratégias no processo de aprendizagem. Opõe-se às punições físicas e psicológicas 
empregadas aos alunos, seja no âmbito escolar ou familiar, afirmando que a disciplina rígida 
não surtia um efeito favorável à aprendizagem. “Quando a disciplina é aplicada com o maior 
rigor e tem algum resultado, o máximo que se alcança é um comportamento forçado ou de 
respeito; no mais continuam sendo meras toras, que não têm conhecimento nem nesta nem 
naquela área, não sabem responder nem ajudar a ninguém” (LUTERO, 1995, p. 352). 
 A favor de uma educação lúdica, Lutero defende um ensino escolar distinto da própria 
formação a qual recebeu: “Pois as escolas de hoje já não são mais o inferno e purgatório de 
nossas escolas, nas quais éramos torturados com declinações e conjugações, e de tantos açoites, 
tremor, pavor e sofrimento não aprendemos simplesmente nada” (Idem, ibidem, p. 352). Para 
ele, o escolasticismo não supria as necessidades intelectuais dos alunos e ainda era responsável 
por gerar um temor ao próprio processo educativo. 
 Sua defesa estava no exercício de um ensino em meio ao prazer, com músicas e 
brincadeiras, onde os métodos deveriam se adaptar à natureza dos jovens, não os cerceando de 
seus interesses: 
Ora, a juventude tem que dançar e pular e está sempre à procura de algo que cause 
prazer.Nisto não se pode impedi-la e nem seria bom proibir tudo. Por que então não 
criar para ela escolas deste tipo e oferecer-lhe estas disciplinas? Visto que, pela graça 
de Deus, está tudo preparado para que as crianças possam estudar línguas, outras 
disciplinas e História com prazer e brincando (Idem, ibidem, p. 352). 
 Assim, buscava-se garantir a liberdade no processo educativo, sem o uso da coerção, 
rigor excessivo e respeitando as necessidades lúdicas das crianças e jovens. 
 Lutero também entendia que educação de caráter cristão era essencial para a capacitação 
de cidadãos a desempenharem suas funções sociais, seja como cidadãos comuns, em suas 
atividades seculares, ou para o exercício de atividades eclesiásticas, como pregadores do 
Evangelho: 
Mesmo que (como já disse) não existisse alma e não se precisasse das escolas e línguas 
por causa da Escritura e de Deus, somente isso já seria motivo suficiente para instituir 
as melhores escolas tanto para meninos como para meninas em toda parte, visto que 
também o mundo precisa de homens e mulheres excelentes e aptos para manter seu 
estado secular exteriormente, para que então os homens governem o povo e o país, e 
as mulheres possam governar bem a casa e educar bem os filhos e a criadagem (Idem, 
ibidem, p. 351). 
30 
 
 
 
Em relação ao tempo dedicado ao estudo, Lutero apresentava propostas diferentes para 
meninos e meninas: 
Os meninos devem ser enviados a estas escolas diariamente por uma ou duas horas e, 
não obstante, fazer o serviço em casa, aprender um ofício ou para o que sejam 
encaminhados, para que as duas coisas andem juntas enquanto são jovens e podem 
dedicar-se a isso. [...] e também uma menina pode dispender diariamente uma hora 
para ir à escola e, ao mesmo tempo, cumprir perfeitamente suas tarefas domésticas 
(Idem, ibidem, p. 353). 
 Lutero desejava assegurar que os jovens fossem educados, mas sem preterir suas 
obrigações sociais. Meninos e meninas deveriam receber a instrução escolar para que se 
tonassem cidadãos hábeis em suas atividades. 
 Porém, Lutero era incisivo ao afirmar que o caráter secular da educação não deveria se 
sobrepor ao caráter cristão. Ele discursava a favor de que os homens exercessem seus ofícios, 
rentáveis ou não, não como um fim em si mesmos, mas para que se tornassem úteis e 
capacitados para a propagação do Evangelho: “Dessa forma, se os pais queriam agradar a Deus 
e contribuir para o sucesso futuro da cidade, deveriam enviar os filhos para a escola de forma 
que a instrução os tornasse pessoas úteis à propagação da palavra de Deus e à toda a sociedade, 
independente da função que exerceriam” (BARBOSA, 2007, p. 178). 
 Os aprendizados da leitura, escrita e cálculos deveriam estar submetidos à um propósito 
divino. Os jovens deveriam ser enviados e mantidos nas escolas, “(...) onde aprendem a 
conhecer a Deus e sua palavra, para depois se tornarem pessoas capazes de governar igrejas, 
países, pessoas, casas, filhos e criadagem.” (LUTERO, 1995, p. 367). 
3.3 - Os professores 
 Lutero considerava o ato de ensinar uma dádiva. Afirmava que este era um dom 
inspirado por Deus, semelhante ao ministério da pregação: “De minha parte, se pudesse ou 
tivesse que abandonar o ministério da pregação e outras incumbências, nada mais eu desejaria 
tanto quanto ser professor ou educador de meninos. Pois sei que, ao lado do ministério da 
pregação, esse ministério é o mais útil, o mais importante e o melhor” (Idem, ibidem, p. 397). 
Ele entendia que o ato da educar era um importante aliado no ensino das Escrituras. Por isso, 
os dois deveriam estar interligados. 
Os princípios de qualificação para os professores propostos por Lutero, almejavam 
abranger conhecimentos além da formação erudita tradicional, tendo em vista que o 
conhecimento limitado à literatura clássica já não era mais suficiente para assegurar uma 
31 
 
 
 
formação integral. Era necessário alcançar uma erudição que suprisse as demandas da nova 
realidade social, tais como o estudo dos conhecimentos mercantis e das línguas. Lutero 
afirmava que o domínio das línguas era imprescindível ao professor, pois através delas é que 
os conhecimentos seriam registrados e repassados corretamente, assim como, se falariam e 
escreveriam corretamente o Latim e o Alemão (RUSSO, 2012). 
 Em sua defesa na preparação de bons mestres, Lutero se opõe à tradição de delegar o 
ensino aos mais velhos, que na maioria das vezes, contavam apenas com a própria experiência 
de vida, sem ter passado por um preparo acadêmico: “(...) infelizmente, a maioria das pessoas 
mais velhas não tem aptidão para tanto e não sabe como educar e ensinar as crianças. Pois elas 
próprias nada aprenderam a não ser encher a barriga. Para ensinar e educar bem as crianças 
precisa-se de gente especializada” (LUTERO, 1995, p. 341). 
 Além disso, ele preocupava-se com os jovens que recebiam a educação em casa. Pois, 
muitos pais, sobrecarregados por suas atividades e afazeres domésticos, despriorizariam esta 
responsabilidade: “Mesmo que os pais fossem aptos e o quisessem assumir, eles não têm tempo 
nem espaço em face de outras atividades e dos serviços domésticos. Portanto, a necessidade 
obriga a mantermos educadores comunitários para as crianças, a não ser que cada qualquer 
queira manter um em particular.” (Idem, ibidem, p. 341). 
 As escolas comunitárias permitiriam que as crianças e jovens recebessem um ensino 
especializado de mestres, que os supririam com todos os conhecimentos necessários e que 
também, garantiriam que todas elas recebessem uma educação integral, independentemente de 
suas posições sociais. Lutero sabia que apenas as famílias mais abastadas poderiam pagar por 
um professor particular e que, sem escolas comunitárias, órfãos e filhos de famílias mais 
humildes seriam prejudicados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
 
4. DEFESA DE UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA E OBRIGATÓRIA 
 
 No início dos anos 1520, a estrutura educacional alemã estava enfraquecida, mesmo 
com os esforços de Lutero e de seus colaboradores para que ela tivesse êxito. Não obstante, 
essa situação fora consequência das transformações trazidas pela própria Reforma. O sistema 
escolar latino estava em crise, em parte, pelas críticas humanistas aos métodos tradicionais de 
ensino. 
 As escolas monásticas e as universidades apresentavam uma grande baixa no ingresso 
de alunos, após caírem em descrédito com as contundentes críticas de Lutero ao escolasticismo. 
Além disso, não recebiam mais as doações necessárias à sua manutenção, principalmente, após 
pregações dos reformadores contra a justificação por obras. 
 A valorização das profissões também causou um grande desinteresse por parte da 
população pela vida eclesiástica e pelos estudos de caráter erudito. “Muitos pais (...) 
consideraram um luxo excessivo seus filhos gastarem mais tempo na escola do que o suficiente 
para aprender a ler e escrever e fazer contas, ou seja, o necessário para o comércio” (DEFREYN, 
2004, p. 31). 
 Em meio a este contexto, Lutero elabora importantes escritos, que elucidam quanto ao 
dever municipal de fundar e manter escolas. Fala aos pais quanto à sua obrigação de enviar seus 
filhos à escola e também dá instruções para que se estabeleça a organização de um sistema 
escolar na Alemanha. 
4.1 - Aos Conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas 
cristãs, 1524. 
Este texto, tem por objetivo evocar os conselhos municipais alemães a garantirem uma 
educação escolar às crianças. Seu argumento gira em torno do papel fundamental 
desempenhado pela educação na obra salvífica do homem e em sua capacitação para o pleno 
exercício de seus ofícios cívicos.Lutero chama atenção para o declínio das escolas latinas, censurando os nobres que não 
investiam mais nelas, por priorizarem apenas os seus interesses. Já que a pregação reformada 
vem refutar a salvação por obras, houve uma expressiva diminuição no sustento das instituições 
de ensino, que antes eram os principais alvos de doações. Quanto a esta situação, Lutero é 
contundente em sua crítica: 
33 
 
 
 
Também cada cidadão deveria pensar o seguinte: Até agora dispendeu inutilmente 
tanto dinheiro e bens com indulgências, missas, vigílias, doações, espólios 
testamentários, missas anuais pelo falecimento, ordens mendicantes, ao fraternidades, 
peregrinações e toda a confusão de outras tantas práticas deste tipo; estando agora 
livre dessa ladroeira e doações para o futuro, pela graça de Deus, que doravante doe, 
por agradecimento e para a glória de Deus, parte disso para a escola, para educar as 
pobres crianças, onde está empregado tão bem. Se não tivesse aparecido essa luz do 
Evangelho e não o tivesse libertado disso, teria sido obrigado a doar eternamente não 
menos que dez vezes isto ou mais aos supracitados ladrões, sem recompensa 
(LUTERO, 1995, p. 338). 
 
 Ele combateu também o desinteresse de muitos pais em enviarem os seus filhos à escola, 
desmotivados pela desvalorização da vida clerical: “Somos tolos e animais a tal ponto que 
ousamos dizer: Para que escolas quando não se quer ser padre?” (Idem, ibidem, p. 351). 
 Para Lutero, não priorizar a educação, sobretudo, a de jovens, era um grave equívoco: 
De que nos valeria se, no mais, tivéssemos e fizéssemos tudo e fôssemos todos santos, 
mas deixássemos de fazer aquilo que é a razão principal de nossa existência: a 
educação da juventude? Em minha opinião, nenhum pecado exterior pesa tanto sobre 
o mundo perante Deus e nenhum merece maior castigo do que justamente o pecado 
que cometemos contra as crianças, quando não as educamos (Idem, ibidem, p. 340). 
 Neste escrito ele enfatiza o estudo das línguas clássicas, juntamente com o Latim. 
Defende o estudo de outras disciplinas, como História, Música e Matemática, caracterizadas 
pelo princípio lúdico, contrapondo-se aos rigorosos métodos de ensino escolástico. Lutero 
também legitima o caráter secularizado do ensino, sem, contudo, diminuir a sua importância na 
formação religiosa, onde a educação, deveria ser acompanhada da aprendizagem de um ofício. 
 Através de suas recomendações neste texto, Lutero não pretendia que os conselhos 
municipais fundassem escolas alemãs protestantes e sim, que fundassem e mantivessem escolas 
latinas. “Sua figura é amplamente associada à criação de uma escola elementar e popular e não 
de uma escola doutrinária que se espalhou pelos territórios, moldando pessoas para a religião 
protestante” (BARBOSA, 2007, p. 181). 
 As suas críticas não eram voltadas às escolas latinas em si, mas ao método escolástico 
e ao currículo tradicional na qual eram submetidas. Por isso, ele almeja reformular o sistema de 
ensino alemão, não com a finalidade de transformá-la num estandarte da doutrina reformada, 
mas sim para que passasse a garantir uma educação voltada à formação integral do homem. 
4.2 - Instrução dos Visitadores aos párocos, 1529. 
 Em 1525, Lutero se dirigiu ao príncipe da Saxônia, João, o Constante (um grande 
entusiasta dos princípios teológicos de Lutero e irmão do falecido príncipe Frederico), pedindo 
a sua autorização para visitar as paróquias, os pastores, as escolas e os professores do território, 
34 
 
 
 
a fim de averiguar as condições em que se encontravam. Ele se preocupava com a situação das 
instituições de ensino alemãs, que dispunham de pouca atenção e investimento (DEFREYN, 
2004). 
 Em 1526, argumentando em favor pela autorização de suas visitas, Lutero escreve uma 
carta ao príncipe, relatando sua tristeza pelo desinteresse da população em viver na prática de 
uma vida piedosa e em educar seus jovens. Ele afirma que os pais não prezavam por mandar 
seus filhos à escola e que, por isso, a autoridade secular deveria obrigá-los a fazê-lo. Diante 
destas arguições, o príncipe entende a sua preocupação e decide apoiá-lo. 
 Com as visitas17, Lutero viu a situação precária em que muitas igrejas e escolas se 
encontravam. Pastores e professores apresentavam baixo nível de conhecimento e viviam com 
rendas ínfimas. Logo, em conjunto com outros reformadores, tais como, Melanchthon, 
Bugenhagem e Espalatino, Lutero elabora o documento Instrução18 dos Visitadores aos 
párocos, que instruía a comunidade quanto a questões fundamentais da vida social e clerical. 
Ao final da “Instrução”, há uma parte dedicada à educação, que valeria como estatuto escolar. 
 A importância deste documento para educação “(...) reside no fato de que ela adquiriu 
o caráter de lei, não só para a Saxônia, mas também para os outros territórios e cidades.” 
(DEFREYN, 2004, p. 37). Essa “Instrução” pretendia assegurar o revigoramento das escolas 
latinas voltadas à formação de religiosos e ao preparo de pessoas que exerceriam funções 
administrativas. Ela também exprimia a prioridade na qualificação de pastores e professores. 
 Um grande destaque deste documento está na proibição temporária do ensino do 
Alemão nas escolas. Uma determinação polêmica que, para alguns autores, significou o 
retrocesso no processo de aprendizagem da língua e implantação de escolas alemãs. 
 A justificativa desta medida, aparentemente contraditória aos esforços dos educadores 
reformados, baseava-se numa argumentação pedagógica: “o excesso de línguas levaria à uma 
confusão na cabeça das crianças (Grego e Hebraico, que eram praticados em algumas escolas, 
também foram proibidos).” (Idem, ibidem, p. 38). Além disto, as produções científicas eram 
publicadas em Latim, o que reduzia o acesso a elas pelas escolas protestantes voltadas ao ensino 
do Alemão. E esta decisão ocasionou dificuldades nas escolas estimuladas pela Reforma. 
 
17 Essas visitações na Saxônia e em outros territórios, revelaram o desconhecimento religioso do povo. Por isso, 
Lutero elaborou uma série de prédicas sobres as principais partes da doutrina cristã: O Catecismo Alemão e o 
Catecismo Menor. Este último, posteriormente, foi publicado em cartazes e afixados nas salas de aulas e, depois, 
impressos em forma de livretos, com ilustrações didáticas. Sua popularização contribuiu significativamente para 
o aprendizado da leitura e escrita nas escolas elementares (LUTERO, 1995). 
18 Defreyn (2004) aponta que o termo “Instrução” se refere a uma espécie de ordem eclesiástica da Saxônia. 
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4.3 - Uma prédica para que se mandem os filhos à escola, 1530. 
Após o escrito de Lutero, endereçado aos conselhos municipais alemães, em 1525, 
várias escolas foram fundadas em algumas cidades da Alemanha, em resposta ao seu apelo. 
Entretanto, ele continuava obstinado a incentivar a implantação de um sistema escolar público 
e obrigatório, manifestando esse seu desejo em várias de suas pregações e escritos. 
 Porém, muitos pais permaneciam desinteressados em enviar seus filhos à escola. Não 
viam sentido continuar a educação deles, após terem aprendido a ler, escrever e a fazer cálculos. 
Para Lutero, mandar uma criança à escola era imprescindível, pois isso significava encaminhá-
la para Deus: “Um coisa é certa: quando se ajuda, estimula e encoraja crianças a irem a escola 
e ainda quando se contribui para tanto com dinheiro e conselho para que isso se tome possível, 
a isso se chama, sem dúvida, ter levado e encaminhado os filhos a Cristo” (LUTERO, 1995, p. 
367). 
 Neste texto, Lutero se preocupou em enfatizar a formação de jovens para 
desempenharem futuras posições de líderes

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