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Captação e Distribuição de Água Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Wilson Luis Italiano Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento • Introdução; • Mananciais; • Captação; • Adução; • Tratamento; • Reservatórios de Distribuição; • Rede de Distribuição; • Qualidade da Água para o Consumo Humano. · Conhecer as unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA); · Desenvolver a capacidade de pré-dimensionar um SAA. OBJETIVO DE APRENDIZADO Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Introdução Após a abordagem sobre o histórico do saneamento no Brasil (Unidade I), os aspectos relacionados à política e ao planejamento do saneamento (Unidade II) e acerca da compreensão do Sistema de Abastecimento de Água (SAA) e sua inserção urbana (Unidade III), chegamos ao centro de nossa Disciplina, ou seja, a captação e distribuição de água, de modo que esta quarta Unidade é dedicada à caracterização e ao pré-dimensionamento de cada uma das unidades constituintes do SAA, conforme ilustrado na Figura 1: Figura 1 – Unidades de um SAA Fonte: funasa.gov.br Mananciais Mananciais naturais de água são reservas hídricas utilizadas no abastecimento de água. Quanto à origem, podem ser classificados em superficiais e subterrâneos. Águas provenientes de precipitações – chuva, neve, granizo, orvalho – podem ser utilizadas também para a captação (BRASIL, 2015). Assista ao vídeo sobre a Lei das águas no Brasil, da Agência Nacional de Águas e Disponível em: https://youtu.be/bH08pGb50-kEx pl or Superficiais Um manancial superficial compreende as águas doces dos córregos, ribeirões, rios, lagos e reservatórios artificiais, tais como açudes e lagos represados. Águas oceânicas são utilizadas onde há escassez de água doce. Em tais casos, a água é submetida a um processo de dessalinização, cujas tecnologias são ainda mais caras (BRASIL, 2015). 8 9 Sobre mananciais superfi ciais, assista ao vídeo Disponível em: https://youtu.be/4Rc6uUITxakEx pl or Subterrâneos São os mananciais que se encontram abaixo da superfície terrestre. Compreen- dem os aquíferos – lençóis – freáticos e profundos nos quais a captação é feita atra- vés de poços rasos ou profundos, escavados ou tubulares, galerias de infiltração, barragens subterrâneas ou aproveitamento das nascentes (BRASIL, 2015). Sobre mananciais subterrâneos – aquíferos –, assista ao vídeo Disponível em: https://youtu.be/8LvS62bmWNEEx pl or Águas Encontradas na Atmosfera – Meteóricas As águas de chuva são as mais usualmente aproveitadas. Entretanto, existem estu- dos para o aproveitamento de água a partir da umidade do ar nas formas de neblina e orvalho. Quadro 1 – Critérios e condicionantes para a escolha de mananciais Importante! Na implantação de um SAA, a escolha do manancial é a decisão fundamental. Deve- - se considerar os mananciais que apresentem condições sanitárias satisfatórias e com vazão sufi ciente para atender à demanda máxima prevista ao alcance do plano, a qual realizada mediante os critérios e condicionantes sistematizados no Quadro 1: Critérios Condicionantes 1 É indispensável a realização de análises de componentes orgânicos, inorgânicos e bacteriológicos das águas do manancial para a verificação dos teores de substâncias prejudiciais. 2 Vazão mínima do manancial, necessária para atender à demanda por determinado período de anos. 3 Mananciais que exigem apenas desinfecção – incluindo as águas subterrâneas. 4 Mananciais que exigem tratamento simplificado – compreendem as águas de mananciais protegidos, com baixos teores de cor e turbidez, passíveis apenas de filtração e desinfecção. 5 Mananciais que exigem tratamento convencional – compreendem basicamente as águas de superfície, com turbidez elevada, que requerem tratamento com coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção. Fonte: Brasil (2015) Importante! 9 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Captação É o conjunto de estruturas e dispositivos, construídos ou montados junto ao ma- nancial, para a retirada de água necessária ao abastecimento coletivo ou individual. De acordo com o tipo do manancial – fonte da água – a ser utilizado, podem ser empregadas as formas de captação apresentadas no Quadro 2 e na Figura 2: Quadro 2 – Formas de captação em função do tipo de manancial (fonte de água) Fonte da água Exemplo de formas de captação Água de Chuva Superfície de coleta (cobertura) Nascente de encosta Caixa de tomada Fundo de vales Galeria filtrante Lençol freático Poço escavado Lençol subterrâneo Poço tubular profundo Rios, lagos e açudes Tomada direta (fixa ou móvel) Fonte: Brasil (2015) Importante! Este tópico está diretamente relacionado ao título de nossa Disciplina, captação e distribuição de água. Importante! Figura 2 – Formas de captação em função do tipo de manancial (fonte de água) Fonte: funasa.gov.br 10 11 Captação de Água de Chuva – Cisterna Pode ser considerado um sistema descentralizado e alternativo, cuja vantagem é conservar os recursos hídricos. Geralmente é obtido pela área de cobertura – de captação. O reservatório recebedor das águas pluviais é chamado de cisterna – que pode ser pré-moldado em cimento, Policloreto de Vinila (PVC), Polietileno de Alta Densidade (Pead), alvenaria, concreto armado, fibra de vidro. Aplicado em áreas de alta e baixa pluviosidade – e nesta última, onde se busca acumular a água do período chuvoso com o propósito de garantir, pelo menos, a quantidade para beber em épocas de estiagem. É importante que as cisternas tenham dispositivos para descarte das primeiras chuvas – em função do acúmulo de poeira, fuligem e detritos na área de captação – em uma proporção de 1 L/m2. A adução para a cisterna é garantida por calhas, coletores e outrosacessórios distribuídos pelo telhado (BRASIL, 2015). Figura 3 – Tipos de cisterna mais utilizados Fonte: funasa.gov.br O volume da cisterna pode ser obtido pela seguinte equação: V P x A xC= Onde: · V: volume anual, mensal ou diário de água de chuva aproveitável (m3); · P: precipitação média anual, mensal ou diária (m); · A: área de coleta (m2); · C: coefi ciente de escoamento superfi cial – adimensional, variando entre 0,8 e 0,9 para coberturas de telhas cerâmicas e metálicas. 11 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Captação em Nascentes – Caixa de Tomada Nascente, mina, olho d’água e fonte são expressões utilizadas para definir um ponto onde a água aflora sobre a superfície do solo – focos da passagem da água subterrânea para a superfície, podendo resultar na formação de canais fluviais – significativamente utilizadas na zona rural. A Figura 4 ilustra a captação de nascente em encosta: Figura 4 – Captação em nascente em encosta Fonte: funasa.gov.br Captação em Fundo de Vale – Galeria de Infiltração Destina-se ao aproveitamento da fonte em fundo de vale. A captação é garantida por um sistema de drenos – um coletor central (principal) conectado a coletores secundários que conduzem a água a uma caixa coletora. Os drenos podem ser de pedra, manilha de concreto, cerâmica ou tubos de PVC, perfurados, com diâmetros que variam de 10 a 20 cm. Os drenos são instalados em valas – de até 1,20 m de profundidade e declividade entre 0,25 m a 3,00 m por 100 m, mais acentuada para o coletor principal (BRASIL, 2015). Figura 5 – Esquema de galeria de infiltração Fonte: funasa.gov.br 12 13 Captação em Lençol Freático – Poço Escavado Manualmente No Brasil é muito utilizado em zona rural. Recebe várias denomi- nações: cacimba, cacimbão, poço amazonas, poço caipira, poço fre- ático, poço raso ou simplesmente poço. Possui diâmetro de 90 cm. Sua profundidade varia conforme o tipo do material escavado, com as técnicas de execução, com o nível do lençol freático e a exis- tência – ou não – de revestimen- to. Em geral, a profundidade não supera 20 m (BRASIL, 2015). Figura 6 – Poço escavado e equipado com bomba manual Fonte: funasa.gov.br Importante! O revestimento é sempre recomendado para evitar o desmoronamento das “paredes”, principalmente em aquíferos granulares. Importante! Captação em Lençol Subterrâneo – Poço Tubular Os poços tubulares possuem pequenos diâmetros em relação à profundidade. São construídos com o auxílio de equipamentos mecânicos e revestidos – total ou parcialmente – com tubos metálicos ou de plástico. Classificam-se em poços tubulares rasos e profundos (BRASIL, 2015). Poços Tubulares Rasos Podem ser perfurados ou cravados, vejamos detalhadamente: · Rasos perfurados – por meio de trados, brocas e escavadeiras manuais. Seus diâmetros variam entre 0,15 m e 0,30 m. Aconselhados para lençóis (aquíferos) freáticos de pequena profundidade, entre 8 e 20 m (BRASIL, 2015); · Rasos cravados – construídos a partir da cravação de tubos metálicos pro- vidos de ponteiras por percussão ou rotação. São utilizados como solução de emergência em lençóis freáticos de pequena profundidade e grande vazão. Dependendo das condições do terreno, podem ser cravados a pro- fundidades superiores a 20 m (BRASIL, 2015). 13 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Poços Tubulares Profundos É uma obra de engenharia projetada e construída para a captação subterrânea de acordo com normas técnicas específicas. Exige mão de obra e equipamentos especializados. Executado com perfuratrizes – à percussão, rotativas ou rotopneu- máticas – mediante perfuração vertical. Seus diâmetros variam de 4” a 36” e suas profundidades, entre 20 e 4.500 m. Podem ser – total ou parcialmente – revestidos com tubos e filtros, metálicos ou de plástico, dependendo das condições da geolo- gia local (BRASIL, 2015). De acordo com o tipo de aquífero captado e nível de água em seu interior, os poços tubulares profundos podem ser classificados em: · Poços tubulares freáticos – construídos em aquíferos livres ou freáti- cos. O nível da água parada (estática) nestes poços coincide com o nível freático regional; · Poços artesianos – construídos em aquíferos confinados ou semi- confinados, nos quais a superfície potenciométrica se eleva acima do topo da camada aquífera. O nível estático destes poços é superior ao freático regional; · Poços artesianos jorrantes – é um caso particular do poço artesiano, no qual a superfície potenciométrica se eleva acima da do terreno, ficando, assim, o nível estático acima da boca do poço, provocando o jorro, ou seja, o derramamento espontâneo de água. A Figura 7 ilustra a classificação dos poços tubulares profundos em função do tipo de aquífero e da posição da linha de carga – piezométrica: Figura 7 – Classificação dos poços profundos em função do tipo de aquífero 14 15 Captação em Subsolo – Barragem Subterrânea A barragem subterrânea é uma obra simples. Permite o barramento da água acumulada no subsolo – de uma aluvião, um baixio de rio ou de riacho. Após a identificação do local adequado, é escavada uma abertura transversal ao leito, de forma manual ou mecânica. Deve ser construída nos períodos de estiagem. Construída a barragem subterrânea, deverão ser perfurados poços tubulares ou amazonas a montante do barramento para o bombeamento da água, a fim de evi- tar a salinização por concentração progressiva de sais. A água acumulada pode ser utilizada para diversos fins, tais como consumo humano e animal, usos domésticos, pequenas irrigações, entre outros propósitos (BRASIL, 2015). As figuras 8 e 9 ilustram barragens subterrâneas: Figura 8 – Barragem subterrânea Fonte: Adaptado.FERREIRA et al., 2011 Figura 9 – Barragem subterrânea Fonte: funasa.gov.br Águas Superficiais A captação de águas superficiais depende de critérios que devem ser considerados quando da elaboração do projeto. Qualquer tipo de captação deverá atender, em qualidade e quantidade, a demanda prevista da população futura no horizonte – alcance – do projeto. A implantação das obras deve articular os seguintes fatores: · Dados hidrológicos da bacia em estudo ou da mesma região; · Nível de água nos períodos de estiagem e enchente; · Qualidade da água; · Monitoramento da bacia para localização de fontes poluidoras; · Distância do ponto de captação ao ponto de tratamento e distribuição; · Desapropriações; · Necessidade de elevatória; · Fonte de energia; · Facilidade de acesso (BRASIL, 2015). 15 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Tomada de Água com Barragem de Nível Captação de uso generalizado no aproveitamento de pequenos cursos d’água cujo objetivo é tão somente elevar o nível de água. A vazão do rio deve ser superior à vazão máxima de adução, pois a barragem não tem função de acumular água. A Figura 10 ilustra a captação superficial em barragem de nível: Figura 10 – Barragem de nível da tomada d’água Fonte: funasa.gov.br Canal de Derivação Consiste no desvio parcial das águas de um rio a fim de facilitar a tomada de água, conforme ilustrado na Figura 11: Figura 11 – Desvio parcial das águas de um rio em planta (A) e corte (B) Fonte: funasa.gov.br Poço de Tomada Destina-se ao recebimento das tubulações e peças que compõem o trecho de sucção das bombas. Deve ter dimensões apropriadas para facilitar o trabalho de colocação ou reparação das peças e para assegurar a entrada de água ao sistema elevatório, independentemente do nível das águas do rio. É utilizado normalmente 16 17 em cursos d’água perenes e sujeitos a pequenas oscilações de nível, onde não há transporte de sedimentos – areia. A Figura 12 ilustra um poço de tomada: Figura 12 – Tipo de poço de tomada em planta (A) e corte (B)Fonte: funasa.gov.br Torre de Tomada d’Água Utilizada para a captação em represas e lagos. A torre fica sempre envolvida pela água. É dotada de comportas situadas em diferentes níveis, para ingresso da água no interior da torre – por uma das comportas –, permanecendo as demais fechadas. Nesse tipo de solução é obtida uma água de melhor qualidade. Ademais, não fica tão próxima à superfície, onde há algas, nem do fundo, onde existe lodo, ambos indesejáveis à captação, pois dificultam o tratamento da água. A Figura 13 ilustra a captação em torre de tomada: Figura 13 – Torre de tomada Fonte: funasa.gov.br Tomada de Água Flutuante É baseada na mobilidade dos conjuntos elevatórios e pode ser montada sobre base flutuante do tipo balsa. Na operação, durante a subida ou descida da água, é necessário encurtar ou alongar a tubulação de recalque. A Figura 14 ilustra uma a captação flutuante: 17 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Figura 14 – Captação flutuante em balsa metálica. Fonte: funasa.gov.br Sobre captação, assista ao vídeo intitulado Outorga de direito de uso de recursos hídricos, Disponível em: https://youtu.be/FsgkXCf3bicEx pl or Adução É o conjunto de tubulações, peças especiais e obras civis para transportar água entre as unidades de sistema de abastecimento de água. As adutoras podem ser classificadas de acordo com a natureza da água transportada e energia utilizada ao escoamento da água (BRASIL, 2015). De Acordo com a Natureza da Água Transportada · Adutora de água bruta: transporta a água da captação até a ETA. · Adutora de água tratada: transporta a água da ETA até os reservatórios de distribuição. De Acordo com a Energia Utilizada ao Escoamento da Água · Adutora por gravidade – quando aproveita o desnível existente entre os pontos inicial e final da adução. O escoamento pode ser realizado por conduto livre ou forçado, ou ainda pela combinação de ambos, em trechos separados da mesma adutora (BRASIL, 2015), vejamos: » Em conduto livre – mantém a superfície líquida sob o efeito da pressão atmosférica. Os condutos podem ser abertos (canal) ou fechados. A água ocupa apenas parte da seção de escoamento. Não funcionam à seção plena (totalmente cheios). Esse tipo de adução é ilustrado na Figura 15: 18 19 Figura 15 – Adutora por gravidade em conduto livre Fonte: funasa.gov.br » Em conduto forçado – a água ocupa a seção de escoamento por inteiro, mantendo a pressão interna superior à atmosférica. Permite à água se mo- vimentar em sentido descendente por gravidade e ascendente por recalque, graças à existência de uma carga hidráulica. Tal tipo de adução é ilustrado na Figura 16: Figura 16 – Adutora por gravidade em conduto forçado Fonte: funasa.gov.br » Combinação de condutos forçado e livre, conforme ilustrado na Figura 17: Figura 17 – Adutora por gravidade em conduto forçado Fonte: funasa.gov.br 19 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento · Adutora por recalque – quando utiliza um meio elevatório qualquer (con- junto motor, bomba e acessórios). Figura 18 – Adutora por recalque Fonte: funasa.gov.br · Mista – quando utiliza parte por recalque e parte por gravidade. Ademais, em uma adutora por gravidade em conduto forçado pode ser pre- vista a instalação de peças especiais, acessórios – registros de parada e descar- ga, válvulas redutoras de pressão e ventosas. Em adutora por recalque, há de se considerar também a instalação de válvulas de retenção e aliviadora de pressão (BRASIL, 2015). Dimensionamento Das Vazões Utilizando-se da equação de vazão – consumo – desenvolvida na Unidade III, são apresentadas, no Quadro 3, as equações para o cálculo das vazões, em função do tipo de SAA a ser implantado: Quadro 3 – Equações para o cálculo de vazões Tipo de sistema para implantação da adutora Tipo de adução Equação da vazão Sistema com reservatório de distribuição Adução contínua 1 3600 P x q x kQ = Adução intermitente 1 3600 x N P x q x kQ = Sistema sem reservatório de distribuição 1 2 3600 x N P x q x k x kQ = Fonte: Adaptado de http://www.funasa.gov.br 20 21 Onde: · Q = vazão a ser aduzida (l/s) ou (l/dia). · k1 = coefi ciente do dia de maior consumo. · k2 = coefi ciente da hora de maior consumo. · P = população de projeto. · q = consumo per capita (L/hab x dia). · N = número de horas de funcionamento do sistema. Das Seções A partir do conhecimento das vazões, passa-se ao dimensionamento hidráulico das seções, para o qual, em função da condição, as fórmulas hidráulicas para os cálculos são apresentadas no Quadro 4: Quadro 4 – Fórmulas hidráulicas para o dimensionamento das seções Condição Fórmulas Escoamentos Equação da continuidade Q A x V= Em conduto livre: a água escoa em superfície livre e ATM de pressão atmosférica – são os casos de canais e galerias, por exemplo Equação de Chézy 1/2 1/2 hV C x R x I= Equação de Manning 2/3 1/2 1/ hV n x R x I= Os limites de velocidade são funções da qualidade do líquido e material de revestimento das paredes dos condutos. Mínimas de 0,45 m.s-1 para água bruta e de 0,15 m.s-1 para água limpa – tratada. Para outros limites, deve-se consultar as tabelas 15.10.1 e 15.10.2 do Manual de hidráulica, de Azevedo Netto e Acosta Alvarez (1986) Em conduto forçado: a água escoa a pressão diferente da atmosférica – externa ao condutor –; recalques, sucções, sifões, trechos com ponto final mais alto Fórmula universal ou de Darcy-Weisbach 2 2 2 5 ou 82 f L V LQQ f H f D g D Gπ = = Perda de carga unitária /fJ h L= Fórmula de Hazen Williams 1,85 1,85 4,87 2,63 0,54 2,63 0,54 10,65 0,279 0,355 J Q C D Q C D J V C D J − −= ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ Recomenda-se trabalhar com velocidades entre 0,60 e 0,90 m/s. Quando a pressão interna for maior, velocidades superiores a 1 m/s, em geral, requerem justificativas técnicas, especialmente com rigoroso cálculo do golpe de aríete e seus dispositivos de amortecimento cálculo do golpe de aríete e seus dispositivos de amortecimento Perda de carga localizada 2 1 2 VH K g = Fonte: Adaptado de http://www.funasa.gov.br 21 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Glossário: · Coeficiente de rugosidade de Manning; · Raio hidráulico; · Perímetro molhado; · Perda de carga. Tratamento O tratamento de água consiste em melhorar as suas características organolépti- cas, físicas, químicas e microbiológicas, a fim de que se torne adequada ao consu- mo humano (BRASIL, 2015). O Artigo 39 da Portaria n.º 2.914/2011 estabelece que a água potável deve estar em conformidade ao padrão organoléptico de potabilidade, conforme o Anexo X desta Portaria, Disponível em: https://goo.gl/My2foi Ex pl or A Figura 19 representa esquematicamente, de modo simplificado, o processo de transformação da água bruta, isenta de tratamento e imprópria para o consumo humano, em água tratada ou potável (BRASIL, 2015): Figura 19 – Representação simplificada do processo de transformação da água bruta (imprópria ao consumo humano) em produto final (água tratada ou potável) Fonte: comusa.rs.gov.br Importante! A qualidade físico-química e microbiológica da água obtida no manancial definirá o método de tratamento necessário para atender aos padrões de potabilidade estabelecidos pela legislação vigente no País Importante! 22 23 Ademais, as tecnologias de tratamento de água podem ser enquadradas em dois grupos: sem coagulação química e com coagulação química. Tratamento em Sistemas de Abastecimento de Água Sem Coagulante As filtrações lenta e em múltiplas etapas são as mais representativas da tec- nologia que dispensa o uso de coagulante, vejamos cada uma das quais: · Filtração lenta – adotada principalmente para comunidades de pequenoporte, cujas águas dos mananciais apresentam baixos teores de turbidez e cor, muito embora seja usada em grandes cidades ao redor do mundo. Atuam na fi ltração lenta os seguintes mecanismos: ação mecânica de coar, sedimentação e ação biológica (BRASIL, 2015). A taxa de fi ltração varia entre 3 e 6 m3/m2 x dia. A Figura 20 ilustra um fi ltro lento: Figura 20 – Corte do fi ltro lento detalhado Fonte: funasa.gov.br · Filtração em Múltiplas Etapas (Fime) – trata-se de um sistema de sim- ples construção, com instalações de baixo custo nas quais a instrumen- tação pode ser praticamente eliminada. Além disso, é uma tecnologia adequada às zonas rurais e a pequenos e médios municípios. Quan- do devidamente selecionada, projetada, construída e operada, a Fime produz água fi ltrada com baixa turbidez, sem a presença de impurezas nocivas e livre de organismos patogênicos. As etapas de tratamento da Fime são: pré-fi ltração dinâmica, pré-fi ltração grosseira e fi ltração lenta. A remoção de organismos é substancial, tendo sido reportada efi ciência da ordem de 80 a 90% de remoção de coliformes totais e fecais nas uni- dades de pré-fi ltração dinâmica, o que assegura o funcionamento ade- quado e seguro da tecnologia de tratamento posterior sem coagulação química (BRASIL, 2015). A Figura 21 ilustra uma ETA de Fime: 23 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Figura 21 – ETA de Fime da Cidade de Corumbataí, SP Fonte: funasa.gov.br Tratamento em Sistemas de Abastecimento de Água com Coagulante Coagulação é a alteração físico-química de partículas coloidais da água, ca- racterizada principalmente por cor e turbidez, produzindo partículas que possam ser removidas por processo físico de separação, usualmente a sedimentação. As principais tecnologias de tratamento de água com o uso de coagulante quími- co podem ser classificadas como: · Tratamento em ciclo completo – coagulação, floculação, decantação ou flotação e filtração descendente; · Filtração direta descendente – coagulação, floculação e filtração descendente; · Filtração direta ascendente – coagulação e filtração ascendente; · Dupla filtração – coagulação, filtrações ascendente e descendente; · Flotofiltração – coagulação, floculação, flotação e filtração descendente na mesma unidade. Todas essas tecnologias podem ser completadas com fluoretação e correção de pH, sendo obrigatória a desinfecção. Veja sobre o tratamento de água assistindo ao vídeo Disponível em: https://youtu.be/lxkQ-lDCcwIEx pl or 24 25 Reservatórios de Distribuição São elementos importantes em SAA, destinados a regularizar as variações entre as vazões de adução e distribuição, bem como condicionar as pressões na rede de distribuição (BRASIL, 2015). A reservação é empregada para atender às condições e aos volumes apresentados no Quadro 5: Quadro 5 – Condições para dimensionamento Condições para dimensionamento Volumes Funcionar como volantes da distribuição, atendendo à variação horária do consumo Devem ter capacidade superior a 1/6 do volume consumido em 24h, cujo cálculo pode ser realizado pelo diagrama de massas Garantir uma reserva de incêndio Considerar uma parcela mínima de 250 m 3 em pequenas cidades – preferencialmente 500 m3 Manter uma reserva para atender a condições de emergência – acidentes, reparos nas instalações, etc. Depende das condições locais e dos critérios do engenheiro. Os estadunidenses consideram como base 25% sobre o total Atender à demanda no caso de interrupções de energia elétrica – sistemas com recalque Manutenção de pressões na rede distribuidora Pressão estática máxima: 50 mca; e Pressão dinâmica mínima: 10 mca Fonte: adaptado de Azevedo Netto e Acosta Alvarez (1986) De acordo com a sua localização, pode ser reservatório de: · Montante – situado no início da rede de distribuição, sendo sempre o fornecedor de água para a rede; · Jusante – situado no extremo ou em pontos estratégicos do sistema, podendo fornecer ou receber água da rede de distribuição (BRASIL, 2015). Já a respeito de sua forma construtiva, pode ser reservatório: · Elevado – possui cota de fundo superior à cota do terreno. É comumente construído sobre colunas quando há necessidade de aumentar a pressão em consequência de condições topográfi cas; · Apoiado, enterrado e semienterrado – aqueles cujo fundo está em contato com o terreno (BRASIL, 2015). A Figura 22 ilustra os reservatórios em função de sua forma construtiva: 25 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Figura 22 – Forma construtiva dos reservatórios Fonte: dec.ufcg.edu.br Amplie os seus conhecimentos sobre reservatórios consultando o material Disponível em: https://goo.gl/WpdctPEx pl or Rede de Distribuição Neste item é apresentado especificamente o segundo tópico da Disciplina. Rede de distribuição é a unidade do sistema que transporta água aos pontos de consumo – residências, prédios comerciais, indústrias. É constituída por um con- junto de tubulações – condutos – e peças – conexões, válvulas, registros –, partes estas dispostas de forma lógica para garantir a chegada da água, de forma contínua e com adequada pressão, aos consumidores. Os condutos formadores de uma rede de distribuição podem ser classificados em: · Principais – de maior diâmetro e responsáveis pela alimentação dos con- dutos secundários; · Secundários – de menor diâmetro, encarregados de abastecerem direta- mente os prédios. Tipos de Rede As redes podem ser classificadas em ramificadas e malhadas, as quais: · Ramificada – consiste em uma tubulação principal, da qual partem tubu- lações secundárias, conforme ilustrado na Figura 23, a qual é alimentada por um ponto, apenas. 26 27 Figura 23 – Rede ramifi cada Fonte: funasa.gov.br · Malhada – sem anel – da tubulação principal partem tubulações secundá- rias que se intercomunicam, evitando extremidades mortas. Figura 24 – Rede malhada sem anel Fonte: funasa.gov.br · Malhada – com anel – consiste de tubulações de maior diâmetro, chama- das de anéis, que circundam determinada área a ser abastecida e alimentam tubulações secundárias (Figura 25). As redes em anéis permitem a alimen- tação de um mesmo ponto por diversas vias, reduzindo as perdas de carga. Figura 25 – Rede malhada com anel Fonte: funasa.gov.br 27 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Dimensionamento da Rede de Distribuição Será apresentado um roteiro de cálculo – manual – para que você treine a utilização das fórmulas e dos conceitos até aqui apresentados. No dimensionamento de redes – ramificadas ou malhadas –, sujeitas ao seccionamento para efeito de cálculo, considera-se uma vazão de distribuição por metros de canalização (qm) que, em determinado setor do SAA, é expressa em litros por segundo e por metro de canalização (L/s x m) e dada por: k1 x k2 86400 n x q xqm = A novidade dessa fórmula, em relação àquelas apresentadas no Quadro 3, diz respeito ao fato de equações para o cálculo de vazões corresponderem à inserção do parâmetro (n), o qual é obtido pela simples divisão da população contida no setor pela extensão de rede no mesmo e a consideração de funcionamento por 24 horas ou 86.400 segundos: Populaçãoa ser abastecida pela reden Extensãoderede = Em tal metodologia são utilizadas folhas de cálculo, obedecendo-se a seguinte sequência: Quadro 6 – Sequência para o dimensionamento de redes pelo critério de seccionamento Colunas Metodologia de cálculo 1 Número do trecho: os trechos da rede – ou nós – devem ser numerados racionalmente a critério do projetista 2 Nome da rua: obtido na planta da cidade ou estabelecido de forma simbólica 3 Extensão do trecho em metros, medida em planta (L) 4 Vazão a jusante: Qj, em L/s, assim obtida: na extremidade de jusante de uma ramificação,Qj = 0; na extremidade de jusante de um trecho qualquer T, Qj = ƩQm dos trechos abastecidos por T 5 Vazão em marcha: expressa em L/s = qm x L, onde qm é a vazão distribuída por metro de canalização 6 Vazão a montante: Qm, em L/s: Qm = Qj + qm x L 7 Vazão fictícia: Qf = (Qm + Qj) / 2 = Qj + 0,5 qm x L. Devem ser computadas nos trechos quaisquer vazões especiais, tais como demandas de indústrias ou hidrantes. É conveniente subdividir as ramificações que abastecem indústrias de grande consumo em dois trechos com numerações distintas 8 Diâmetro D, determinado pela imposição de velocidades – limites – e pela vazão à montante, empregando-se, por exemplo, a Tabela 13-2 do Manual de hidráulica (AZEVEDO NETTO; ACOSTA ALVAREZ, 1986); exprime-se D em milímetro ou polegada. No Estado de São Paulo, por exemplo, adota-se o diâmetro mínimo de 50 mm 9 Velocidade em m/s obtida em ábaco ou tabela e registrada com a finalidade de demonstrar que os limites foram respeitados 28 29 11 Perda de carga total em metros: determinada a vazão fictícia Qf e o diâmetro D, com o emprego de uma tabela ou ábaco da fórmula de resistência, de Hazen-Williams, por exemplo, obtém-se J, perda unitária (m/m), ou hf = J x L, perda total de carga no trecho, em metros 10-12 Cotas piezométricas de montante e jusante: identificado o nó em posição mais desfavorável na rede, ou aquele assim suposto, estabelece-se para o qual uma pressão igual ou pouco superior à mínima, que será somada à cota do terreno, resultando, assim, na cota piezométrica do nó. A pressão mínima recomendável é de 15 m. Em outro trecho qualquer, a cota piezométrica de montante é igual à cota piezométrica de jusante mais a perda de carga no trecho. Uma vez determinadas uma cota piezométrica qualquer e as perdas de carga, ficarão estabelecidas todas as demais cotas piezométricas 13-14 Cotas do terreno: obtidas nas plantas e relativas aos nós dos trechos à montante e jusante 15-16 Pressões disponíveis à montante e jusante: Pressão disponível à montante = cota piezométrica à montante - cota do terreno à montante Pressão disponível à jusante = cota piezométrica à jusante - cota do terreno à jusante Fonte: adaptado de Azevedo Netto e Acosta Alvarez (1986). Verifica-se se a hipótese referente ao ponto mais desfavorável foi correta e se as pressões-limites foram respeitadas, ou se convém fazer correções. O seccionamento feito também deve ser verificado, afinal, com o seccionamento ideal em cada um de seus pontos, as pressões que resultam dos diversos percursos da água para alcançá-lo seriam iguais. Tolera-se uma diferença de pressão de até 10% do valor da média das pressões obtidas para os nós seguindo diferentes percursos, enquanto que os resultados podem ser assim tabelados: Quadro 7 Ponto de seccionamento Pressões calculadas Valor médio Máxima diferença Porcentagem do valor médio Fonte: elaborado pelo professor conteudista. Caso isto não se verifique, ou se alterará convenientemente o diâmetro de algumas tubulações, ou se modificará o seccionamento adotado. Qualidade da Água para o Consumo Humano No Brasil, a vigilância e o controle da qualidade da água para o consumo humano é realizada pelo Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde, isto regulamentado pela Portaria n.º 2.914, de 12 de dezembro de 2011, que dispõe sobre os procedimentos de controle e vigilância da qualidade da água ao consumo humano e seu padrão de potabilidade. Essa Portaria se aplica à água destinada ao consumo humano proveniente de solução e sistema alternativo de abastecimento de água. Veja sobre o controle da qualidade da água no material Disponível em: https://goo.gl/PPekAQ Como síntese da Disciplina, assista ao vídeo Disponível em: https://youtu.be/Smqp18lPCU0 Ex pl or 29 UNIDADE Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água (SAA): caracterização e pré-dimensionamento Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Reservatórios https://goo.gl/XnjZkw Qualidade da água https://goo.gl/BiVx5d Vídeos Tratamento de água https://youtu.be/lxkQ-lDCcwI Conen https://youtu.be/Smqp18lPCU0 30 31 Referências AZEVEDO NETTO, J. M. de; ACOSTA ALVAREZ, G. Manual de hidráulica. 2 v. 7. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1986. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de saneamento. 4. ed. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://www.funasa.gov.br/engenharia- de-saude-publica1/-/asset_publisher/ZM23z1KP6s6q/content/manual-de- saneamento?inheritRedirect=false>. Acesso em: 27 fev., 2018. 31