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GRANOVETTER, M. Ação econômica e estrutura social: o problema da incrustação. In: MARQUES, R.; PEIXOTO, J. A nova sociologia econômica. Lisboa: Celta: 2003. ______________________________________________________________________ Resumo O texto traz uma discussão crítica a partir de duas concepções teóricas direcionadas à ação humana (relações sociais) sobre o comportamento e as instituições, uma questão que emerge tanto na economia clássica quanto na sociologia. Ele parte inicialmente da discussão a partir de um pressuposto da teoria da economia moderna: de que os interesses econômicos individuais dão base para as relações econômicas, elemento destacado por Oliver Williamson, que ele chama de homem econômico. Tal motivação, entretanto, não garante diretamente o comportamento não civilizatório do ser humano. Pelo contrário! Segunde ele, esse elemento é o que se constiuiu de comum entre as duas concepções. Assim, a vida econômica não seria assolada pela desconfiança e pela má fé (página 10). Granovetter foca então sua análise a partir destas duas escolas de pensamento que envolvem as ações humanas (o comportamento e as relações sociais): a concepção subsocializada e a supersocializada. Seu ponto de vista, entretanto, diverge de ambas as escolas de pensamento, argumentado com base na abordagem da “imersão”, que “a maior parte do comportamento (não somente o econômico, apesar de ser o foco de análise do texto) está profundamente imersa em redes de relações interpessoais, evitando assim os extremos das visões sub e supersocializadas da ação humana”(página 29). A concepção subsocializada, atomizada, está embasada principalmente na tradição utilitarista e é encontrada principalmente nas teorias da nova economia institucional. Tal concepção defende que não há impacto das relações nem da estrutura social sobre os mercados (seja na produção, consumo ou distribuição), uma espécie de “visão idealista dos mercados de concorrência perfeita” (página 5), como se as relações humanas não interferissem nos mecanismos de oferta e demanda. Os arranjos sociais (ou instituições sociais) seriam então interpretados como “soluções eficientes para determinados problemas econômicos (página 10). Nesse sentido, as relações sociais existem apenas para garantir um certo equilíbrio nos mercados (como uma espécie de “acordo implícito” - por exemplo, para evitar ações de fraude e má fé), garantindo um mecanismo de confiança nestas transações econômicas, a fim de permitir a funcionalidade e eficiência de funcionamento da sociedade – frisa-se: motivado apenas pela racionalidade econômica e que isso leva à manutenção de relações de confiança em diferentes graus. Até certo ponto, ele sustenta que “as relações sociais, mais do que dispositivos institucionais ou de moralidade generalizada, são as principais responsáveis pela produção de confiança na vida econômica. Contudo, corre-se o risco de trocar um tipo de funcionalismo otimista por outro, no qual as redes de relações, e não a moralidade ou as instituições, constituem as estruturas que asseguram a função de manutenção da ordem”. Neste caso, ele argumenta que essa relação não é tão direta, ocorre dentro de certos limites, visto que: 1) há distintos graus de imersão das relaçòes sociais na vida econômica; e 2) as relações sociais não são uma condição sine qua non para o estabelecimento de mecanismos de confiança nas relações sociais e isso significa que, em uma via de mão dupla, elas podem garantir tanto a confiança quanto a má fé. O autor usa o argumento da imersão para chamar a atenção para um ponto convergente entre as duas visões: de que “as ações são conduzidas por atores atomizados (pontuais, separados da realidade)”. Segundo ele, uma “atomização implícita nos extremos teóricos das concepções sub e supersocializadas” (página 9). E ainda acrescenta que em ambos os pontos de vista o ser humano é visto como “atores atomizados em mercados em competição que interiorizam os padrões normativos de comportamento de uma forma tão profunda que asseguram a ordem das transações” (página 10). O argumento dele é de que, em ambos os pressupostos, conduz-se o comportamento social a um padrão generalizado, sem considerar os graus de imersão que gerariam as diferenciações determinadas pelos “detalhes da estrutura social” (página 15), sem se considerar que efetivamente as relações mercadológicas, econômicas, estão (em algum grau) mescladas com as relações sociais. E indo além, ao analisar aspectos inerentes às relações de negócios, em empresas e instituições hierarquicamente estruturadas, ele argumenta que podem ser observados diversas formas de relacionamentos (redes de relações sociais) – chamando a atenção para as relações de poder existentes aí - que fazem parte das relações comerciais que são utilizadas para resolução de conflitos, de forma a estabelecer boas relações comerciais a partir das relações sociais. Comentários críticos Granovetter trabalha a noção da imersão em redes sociais como uma alternativa, ou talvez uma espécie de meio termo ou hibridização entre duas concepções da ação humana: a subsocializada (remetendo aos economistas neoclássicos) e a supersocializada (remetendo aos sociólogos). Entretanto, o autor não deixa explicitamente clara a definição do termo imersão. De qualquer forma, é possível apreender que o termo refere-se às redes de relacionamento nos quais os indivíduos estão inseridos ou imersos. Isso significa que, em contraposição à concepção dos economistas clássicos (concepção subsocializada), Granovetter admite que a má fé e a confiança movem os mercados dentro de um contexto maior e que para desencorajar a má fé a solução estaria na construção de redes de relacionamentos baseados na confiança das transações. As concepções teóricas de Granovetter contribuíram para a compreensão tanto do funcionamento dos mercados quanto de empresas. Para isso, ele trabalha com a noção de mercados múltiplos, que representam cada qual uma característica, uma lógica distinta. Um mercado de sementes crioulas possui relações sociais e de mercados (sob o aspecto da mercantilização) completamente diferentes de um mercado de sementes de soja transgênica, assim como um mercado de orgânicos ligado a grandes redes de multinacionais, por exemplo. Nesse aspecto, o modelo de múltiplos mercados infere que diferentes modelos de mercado poderiam coexistir numa estrutura mais ampla: o mercado de transgênicos coexiste com o de sementes crioulas e assim por diante. O que podemos distinguir neste caso, é que há processos dominantes e o que podemos chamar de contra-hegemônicos. O uso do termo imersão proposto por Granovetter toma uma conotação diferente nas discussões de Polanyi (1944) 1 e remete à influência que a ação social exerce sobre a economia, porém por meio das redes sociais construídas pelas pessoas. A teoria de Granovetter é questionada por Krippner (2004) 2 , argumentando que ele desconsiderou em sua análise elementos como aspectos culturais. Isso significa que as normas de mercado são pautadas por padrões culturais distintos e dessa forma não há como generalizar um ou outro aspecto das ações sociais, tornando a abordagem muito mais 1 POLANYI, K. A grande transformação: as origens da nossa época. 2. Ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. KRIPPNER, G. et al. Polanyi Symposium: a conversation on embeddedness. Socio-Economic Rewiew, Oxford, v.2, n. 1, p. 109-135, jan. 2004. 2 KRIPPNER, G. et al. Polanyi Symposium. Socio-Economic Rewiew, Oxford, v.2, n. 1, p. 109-135, jan. 2004. complexa que tal relação direta proposta por Mark. Já ao considerar a discussão de Polanyi, fica evidente que tais aspectos são considerados por ele, a exemplo das regras de mercado no país de Chaga descritas por ele (POLANYI, 2000). Para GretaKrippner, Polanyi usa o termo embeddedness justamente para retirar fronteiras entre os fatores econômicos e não econômicos dos processos sociais, uma vez que eles entrelaçam-se entre si. Mark rebate tal argumentação defendendo que voltou-se para a questão social de maneira estratégica apenas para avançar nas análise das redes sociais. Isso quer dizer que ele compreende que, na complexidade das relações e fenômenos sociais, as questões culturais transpassam tais aspectos. Em resumo, a proposta de Granovetter é uma das respostas possíveis para buscar contornar as contradições existentes nas duas concepções centrais, constituindo um possível caminho de análise dos vínculos complexos e intrincados das relações sociais e econômicas. A partir de seu ponto de vista fica claro que tais relações não se constituem de forma tão direta, linear e atomizada como concebidas nas visões da economia clássica e da sociologia. Nome do estudante: Andréia Vigolo Lourenço Data e local do fichamento: Porto Alegre, 30 de março de 2016.