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TEMPLATE DE PRODUÇÃO DE LIVRO DIDÁTICO DE GRADUAÇÃO AUTOR: Me.Camila Tecla Mortean Mendonça Me. Suzi Maria Nunes Cordeiro DISCIPLINA: Didática MODALIDADE: Graduação EAD INÍCIO DO CURRÍCULO LATTES DO PROFESSOR Professora Me. Camila Tecla Mortean Mendonça Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá - UEM, linha de Políticas e Gestão da Educação. Mestre em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá - UEM, linha de História e Historiografia da Educação (2016). Especialista em Docência no Ensino Superior (2011), Gestão Escolar - Administração, Supervisão e Orientação (2012), Atendimento Educacional Especializado - AEE (2014) e Educação a distância e as tecnologias educacionais (2014) pela Unicesumar - Centro Universitário Cesumar. Graduada nos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Pedagogia (2008) e Licenciatura em História (2019) pela mesma instituição. É docente da Educação Básica da Rede Municipal de Ensino de Maringá e da Unicesumar. Nesta última, trabalha na Educação a Distância – EAD e orienta projeto de Iniciação Científica na área da educação. Participa do Grupo de Pesquisa EAD e as Tecnologias Educacionais - GPEaDTEC/UEM, cadastrado no CNPq. <http://lattes.cnpq.br/4187832592319972> FIM DO CURRÍCULO LATTES DO PROFESSOR. INÍCIO DO CURRÍCULO LATTES DO PROFESSOR Professora Me. Suzi Maria Nunes Cordeiro Possui Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2011) e Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela mesma Instituição de Ensino Superior (2014). É Especialista em EAD e as Novas Tecnologias Educacionais pela Unicesumar (2016), Mestre em Educação pela UEM (2016) e Doutora pela mesma IES (2019). Atua como professora da Pedagogia na Unicesumar, coordena o projeto de pesquisa docente sobre Teoria e Prática na formação de professores e o desenvolvimento global dos alunos, bem como orienta alunos de Iniciação Científica. Tem experiência com disciplinas de Didática, Políticas Educacionais, Estágio Supervisionado, dentre outras da Graduação e Pós-graduação, tanto com escrita de livros didáticos quanto com aulas ministradas. É participante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Escola, Família e Sociedade da UEM, cadastrado no CNPq. Possui pesquisas e livros científicos relacionados a Educação na linha de Psicologia da Educação. Ministra palestras sobre a educação no século XXI, a exemplo, a educação da família e da escola, as políticas educacionais e outras temáticas que envolvem o ensino, a aprendizagem e a formação de professores. <http://lattes.cnpq.br/1301448235769294> FIM DO CURRÍCULO LATTES DO PROFESSOR. http://lattes.cnpq.br/4187832592319972 http://lattes.cnpq.br/1301448235769294 INÍCIO DA APRESENTAÇÃO GERAL Caro(a) aluno(a), é com muita satisfação que apresentamos a leitura da presente obra, intitulada “Didática”. O estudo da Didática se faz presente em todos os cursos de licenciatura e alguns cursos de bacharelado, tendo em vista seu caráter formativo para a prática pedagógica e a necessidade de se pensar e estudar os procedimentos de ensino, que são inerentes à profissão docente. Nesse contexto, lhe convidamos para uma leitura que propõe os objetivos de conhecer e refletir sobre o processo de ensino e de aprendizagem historicamente construído; compreender como o processo de ensino se dá desde o século XIX até os dias atuais e como a escola, instituição sistematizada, organiza e gere os processos de ensino e de aprendizagem. Também são objetivos a reflexão e proposição de modelos ou sugestões de métodos, metodologias e recursos que visam auxiliar o professor em sua prática pedagógica diária e a reflexão sobre como a avaliação escolar deve seguir a metodologia adotado pelo professor e levar o aluno a construção das suas competências e habilidades. Atendendo a essas finalidades, a Unidade I, intitulada “Fundamentos históricos e filosóficos da Didática”, leva ao conhecimento da origem da Didática e sua construção histórica a partir de seu criador João Amós Comênio, intelectual e teólogo que, no final do século XVII, produziu uma das obras mais importantes para a educação, a Didática Magna. Também se farão relevantes o conhecimento do Ratio Studiorum e dos métodos de ensino aplicados no Brasil desde os meados do século XVI. A Unidade II, intitulada “Tendências pedagógicas”, aborda os estudos pertinentes às teorias educacionais que fundamentaram o processo de ensino e de aprendizagem desde o final do século XIX no Brasil. Para isso, as tendências são descritas levando em consideração o contexto histórico; o papel da escola, do professor e dos alunos; os conteúdos; os métodos e a aprendizagem. A discussão se encerra pela contextualização da didática na contemporaneidade e sua utilização nos ambientes não formais de aprendizagem. A Unidade III, intitulada “Planejamento de ensino”, mostra como se constituem os planejamentos em ambiente escolar e ambientes não formais de aprendizagem, desde as ações macro até as ações micro, a fim de proporcionar uma visão linear dos encaminhamentos pedagógicos que começam a nível nacional, por meio de documentos da Educação que embasam os currículos escolares de todo o país, passando por documentos regionais até chegar ao nível institucional e, finalmente, ao professor que colocará em prática seu plano de aula. Para isso, veremos que todo planejamento envolve pesquisa e organização docente. A Unidade IV, intitulada “Execução do planejamento”, fornece elementos que proporcionam o conhecimento das práxis pedagógicas que norteiam os métodos de ação das atividades estabelecidas no planejamento, a fim de compreender os procedimentos de ensino que aliam estratégias e técnicas eficientes e eficazes para um ensino de qualidade e uma aprendizagem significativa. Finaliza-se com a reflexão sobre as competências e as habilidades necessárias para o professor, bem como a postura adequada ao profissional. Por fim, a Unidade V, intitulada “Avaliação do processo de ensino e de aprendizagem”, apresenta o conceito de avaliação e como ela foi vista no decorrer de todas as tendências pedagógicas até chegar à concepção de avaliação que possuímos atualmente. Também realizaremos discussões em torno dos modelos de avaliação que são utilizados e a importância que tem a utilização da avaliação de forma consciente, com finalidade pedagógica, possibilitando que o professor repense sua prática pedagógica e que os alunos concretizem os conhecimentos que foram adquiridos. Esperamos que você aprecie as reflexões propostas nesta obra e as aproveite ao máximo, enriquecendo os seus conhecimentos e utilizando-os em suas práticas pedagógicas, contribuindo, assim, para que a educação ganhe novos rumos com a formação de sujeitos críticos e conscientes. Esperamos também que você amplie os seus conhecimentos sobre a temática por meio da pesquisa, e não tome esta obra como sua única fonte de saberes. Vamos lá? FIM DA APRESENTAÇÃO GERAL. INÍCIO DA UNIDADE I INÍCIO DA FOLHA DE ABERTURA FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA DIDÁTICA Me. Camila Tecla Mortean Mendonça Objetivos de Aprendizagem ● Conhecer o surgimento da Didática e o seu precursor, João Amós Comênio, a fim de compreender o contexto histórico. ● Refletir sobre a Didática Magna e suas propostas pedagógicas, para identificar as ações presentes na educação até os dias atuais. ● Analisar a construção histórica da didática no Brasil, a fim de compreender como a educação permeia as diferentes sociedades. Plano de Estudo ● João Amós Comênio ● A Didática Magna ● A construção histórica da Didática no Brasil FIM DA FOLHA DE ABERTURA. INÍCIO DA INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Dando início aos estudos sobre a Didática, discutiremos, nesta unidade,seu nascimento. Para isso, percorreremos um caminho de conhecimento sobre seu criador, o intelectual, filósofo e teólogo João Amós Comênio. Depois, conheceremos sua maior obra para a educação institucional, intitulada Didática Magna. Continuaremos nossos estudos pela construção histórica da Didática no Brasil, iniciando com a educação Jesuíta e a sua obra didático-pedagógica, o Ratio Studiorum. Destacaremos, também, mais três métodos utilizados no Brasil no processo de ensino e de aprendizagem: o método individual, o método simultâneo e o método Lancaster. O surgimento da Didática está atrelado à gênese da educação institucional, no decorrer da construção da sociedade, das ciências e da produção, como uma atividade que possui intencionalidade, planejamento e é dedicada à instrução das pessoas (LIBÂNEO, 1994). Desde os primeiros tempos há indícios de formas rudimentares de aprendizagem, no entanto ainda não havia didática como forma de organização e estrutura do ensino. Na Antiguidade Clássica e no Período Medieval também havia presença de ações pedagógicas nos mosteiros, igrejas e universidades, porém só podemos tratar de Didática após meados do século XVII, quando se concretizou como uma teoria do processo de ensino, que sistematize o ensino e as formas de ensinar (LIBÂNEO, 1994). O termo Didática aparece quando há a intervenção de adultos no processo de aprendizagem das crianças e jovens, por meio de uma ação intencional e planejada. A escola, assim, se institucionaliza, e o processo de ensino se torna sistematizado, levando em consideração o ritmo dos alunos e a assimilação dos conteúdos. Nesse sentido, nosso objetivo nesta unidade, caro(a) aluno(a), é que você compreenda a Didática como uma teoria que investiga o processo de ensino, que faz parte do fazer diário do professor. Convidamos você a iniciar a leitura desta unidade e se deleitar com a compreensão destes conceitos, que são fundamentais para a construção de uma prática pedagógica consistente. FIM DA INTRODUÇÃO. INÍCIO DO TÓPICO 1 1. JOÃO AMÓS COMÊNIO Em tcheco, Jan Amos Komensky; no latim, Iohannes Amos Comenius; em língua portuguesa, João Amós Comênio. Ele foi um grande estudioso da História da Educação, destacando-se principalmente nos estudos da Didática. Nasceu na cidade de Nivnice, na Moravia, região da Boêmia atualmente chamada de República Tcheca e Polônia, no dia 22 de março de 1592. Comênio faleceu em 15 de novembro de 1670 na cidade de Amsterdã, na Holanda, em decorrência de intensas perseguições sofridas em seus 78 anos de existência, nos inúmeros lugares que habitou (OLIVEIRA; COSTA, 2012). Teólogo, filósofo e educador, João Comênio possui uma história de vida muito singular que contribuiu para que se tornasse um grande estudioso da Educação. Ficou órfão aos 12 anos e, no ano de 1608, aos 16, matriculou-se na escola secundária de Prerov, onde se destacou como um bom aluno (LOPES, 2008). Sua inquietação sobre a melhor forma de ensinar e aprender surgiu nos estudos de Latim, em que os alunos eram forçados a estudar de forma desordenada e distante da realidade. Aos 20 anos, cursou filosofia na Academia de Hebron. Seus estudos o aproximaram da vida espiritual e possibilitaram que ele refletisse sobre autores que marcaram profundamente seus pensamentos. Por meio de seu mestre, Alsted, conheceu os pensamentos progressistas de Francis Bacon (1561-1626) e Holfgang Ratke (1571-1635), que elaboravam novos métodos valorizando a experiência do aprendiz. Aos 22 anos, João Comênio transferiu-se para o curso de Teologia da Academia de Heildeberg (OLIVEIRA; COSTA, 2012). Após a conclusão da sua formação, retornou para a Morávia, onde desempenhou a função de pastor e de educador. 1.1 A guerra dos 30 anos Após dois anos trabalhando como pastor e educador na Morávia, João Comênio transferiu-se para Fulnek, em 1616, onde casou-se com sua primeira esposa, Madalena Vizovska, com quem teve seus dois primeiros filhos. No entanto, em 1621, o exército dos espanhóis invadiu a cidade de Fulnek em virtude da guerra dos 30 anos, causando a Comênio duas grandes perdas: a primeira se refere aos seus livros e manuscritos e a segunda à sua esposa e filhos, que morreram vítimas da peste. Comênio se viu obrigado a reiniciar a sua produção. Devido à guerra dos 30 anos (1618-1648), Comênio precisou abandonar a sua pátria e passou por vários países divulgando as suas ideias. Destacamos aqui as localidades de Lezno, Suécia, Londres, Transilvânia, Hungria e Amsterdã. Apesar das dificuldades que enfrentava, Comênio relacionava-se com os grandes pensadores da sua época (OLIVEIRA; COSTA, 2012). Na sequência desses acontecimentos, iniciou-se a perseguição contra os morávios, que fugiram para a Polônia e se estabeleceram na cidade de Leszno. Nesse período, Comênio casou-se pela segunda vez com a filha de um bispo muito conhecido e importante na região, chamada de Dorotéia Cirilo. Em Fulnek, outra tragédia destruiu a cidade e, junto com ela, a casa e a biblioteca de Comênio. No ano de 1648, Dorotéia Cirilo faleceu, deixando Comênio e os cinco filhos na cidade de Leszno. Nesse período, Comênio vivenciou uma situação aguda e foi muito criticado e incompreendido pela comunidade da Morávia. Pobre e doente, seguiu para Holanda, onde se casou pela terceira vez com Johana Gasusová, no ano de 1649. Na cidade de Amsterdã, onde viveu até a sua morte, cresceu novamente como educador e reformador social a partir de suas ideias progressistas. Em 15 de novembro de 1670, Comênio morre após adoecer gravemente. Cercado pela família e por amigos, é enterrado na igreja da pequena cidade de Naarden, onde está construído seu mausoléu. 1.2 Vida acadêmica Apesar de sua história, Comênio teve uma vida muito produtiva. Começou sua vida acadêmica destacando-se em Hebron, por volta de 1611, onde se preocupou em escrever um dicionário com expressões elegantes de sua língua materna intitulado Bohemicae Thesaurus, ou Tesouro da Língua Boêmia, cujo conteúdo descreve a gramática completa da língua tcheca. Neste mesmo período, destacou-se por defender suas duas teses de doutorado, Problemata Miscelania e Syloge Quaestiorum Controversum, que foram grandemente elogiadas por seus mestres. Após um período em Heidel- berg para estudos sobre a Matemática e a Astronomia, retornou para a Boêmia. No ano de 1614, Comênio foi designado reitor da escola de Prerov, comunidade Morávia. Nesse período, se destacou e foi notadamente elogiado pela inclusão de atividades ao processo de ensino que anteriormente não eram utilizadas, como conversas, músicas e jogos, tornando a escola um espaço agradável. Com isso, eliminou da escola os castigos corporais muito utilizados naquele período. Destacou-se pelo seu brilhantismo como educador, principalmente após a reforma educacional que culminou na implantação de métodos diferenciados para o ensino das disciplinas de Artes e de Ciências. Em 1616, estabeleceu-se em Fulnek, onde atuou como pastor morávio. Em 1623, durante sua estadia em Brandeis, escreveu Labyrint sueta a ráj srdce ou O labirinto do mundo e o paraíso do coração, para consolar os que haviam sobrevivido à guerra, a fim de que pudessem encontrar alento em Cristo e não nos bens materiais; foi uma de suas obras de maior valia (LOPES, 2008). Posteriormente foi a Londres, onde foi convidado a assumir a Reitoria da Universidade de Harvard. Negando o convite, viajou para vários países, mas acabou se fixando em Leszno. Em uma ocasião durante passagem pela Suécia, Comênio deparou-se com René Descartes no castelo de Endegeest. Apesar de se tratar de um breve encontro, acredita-se que Descartes tenha simpatizado por Comênio, tendo em vista a proximidade do pensamento de ambos com relação ao ensino realizado nas escolas da época. Tanto Comênio quanto Descartes foram intelectuais quedesenvolveram métodos e defendiam a utilização destes para o processo de ensino. Idealizavam uma ciência universal a que todos pudessem ter acesso. No entanto, em um ponto as suas ideias divergiam. Descartes acreditava que a ciência deveria ser utilizada com a finalidade exclusivamente humana, desconsiderando os aspectos religiosos. Em contrapartida, Comênio acreditava que a ciência deveria ser ensinada e utilizada como uma forma de aproximar as pessoas de Deus, ou seja, com a finalidade religiosa. Suas obras pedagógicas apareceram somente no período de 1630 e 1633: a Didática tcheca, Informatorium Skóly Materké (que se traduz por Guia da Escola Materna); Janua Linguarum Reserata (traduzido por Porta Aberta das Línguas) e a Didática Magna, a obra mais importante para a educação. Esses escritos foram desenvolvidos tanto para professores quanto para alunos. Aos professores era indicado o aprender a fazer e, a partir disso, fundamentar a prática em uma sólida teoria; aos alunos era preciso aprender a aprender (LOPES, 2008). Já em 1642, a fim de ajudar a Suécia e melhorar o seu estudo do latim, é encomendada a Comênio, pelo Chanceler Oxenstiern, a escrita da obra Methodus Linguarum Novíssima ou Novíssimo Método das Línguas, publicada em 1947. Essa é a principal obra sobre os estudos dos idiomas escrita por Comênio, que possuía uma grande preocupação com os estudos comparativos das línguas, chegando a traçar regras para a tradução de textos (LOPES, 2008). A convite do príncipe Sigismundo Rákoczy, em 1650, Comênio assume uma escola na Hungria e nela permanece por quatro anos. Nesse período, escreve a obra Orbis pictus, (Mundo Ilustrado ou Sensível), que, segundo Lopes (2008, p. 52), consiste na síntese da sua vasta experiência pedagógica, discutindo, por meio de gravuras, três objetivos: 1) reter a noção aprendida; 2) estimular a inteligência infantil; 3) facilitar a aprendizagem da leitura. Devido à grande influência da religião na vida e na formação de Comênio, utilizava a Bíblia como fonte de sabedoria e como fundamentação para a sua filosofia. Em 1670, antes de sua morte, escreveu ainda um resumo dos princípios pedagógicos: Spicilegium Didactium ou Didática Especial. Caro(a) aluno(a), após visualizarmos a vida e a obra de João Amós Comênio, você deve estar se perguntando: por que é importante saber a trajetória desse autor? Por que estudar a Didática Magna, texto escrito no século XVII? Conhecer a trajetória da vida e da obra desse autor é importante para que possamos compreender em que período histórico ele elaborou seu método. Comênio teve uma vida muito conturbada, como pudemos observar, no entanto o momento histórico em que ele viveu foi tão conturbado quanto. Foi no decorrer dos séculos XVI e XVII que a história da humanidade sofreu grandes transformações, principalmente na Europa, tendo em vista o declínio do sistema feudal e a ascensão do capitalismo, um período marcado pelo abismo entre ricos e pobres. A educação escolar era restrita, destinada à burguesia e de caráter religioso. Mesmo assim, a metodologia utilizada era rígida, desordenada e distante da realidade dos alunos. Comênio foi um reformador e, apesar de ser um homem de seu tempo, pensou para além dele. O seu projeto era criar condições para que o homem pudesse se adaptar ao novo contexto produtivo do século XVI e XVII. Para isso, escreveu obras que tinham como objetivo a “construção de uma cidadania para todos, pobres, ricos, homens e mulheres de todas as idades, para que as pessoas todas experimentassem a libertação da ignorância e do sofrimento [...]” (AHLERT, 2002, p. 450). Nesse período ocorreram intensas mudanças na forma de produção e no desenvolvimento da ciência e da cultura. O clero e a nobreza diminuíam enquanto o poder da burguesia aumentava. Assim, na medida em que a burguesia se fortalecia como classe social, disputava o poder econômico e político com a nobreza. No mesmo ritmo crescia a necessidade de um ensino que fosse ligado às exigências do mundo da produção e dos negócios, ou seja, um ensino que contemplasse o desenvolvimento da capacidade e dos interesses dos indivíduos (LIBÂNEO, 1994). Para Ahlert (2002) a Didática Magna se apresenta como uma proposta pedagógica para o processo de ensino e de aprendizagem no período de transição entre a Idade Média e o início da Modernidade. Comênio considerava a educação um instrumento necessário às transformações sociais tão urgentes no período turbulento e conflituoso no qual viveu. Nesse sentido, a educação era o caminho para se chegar à libertação e salvação de todos. Comenius foi o fundador da didática e, em parte, da pedagogia moderna. Mas foi, ainda, um pensador, um místico, um reformador social, personalidade extraordinária, em suma. Seu nome figura ao nível dos de Rousseau, Pestalozzi e Froebel, isto é, dos maiores da educação e da pedagogia (COVELLO, 1991, p. 9). A Didática Magna, ou O Tratado de Ensinar Tudo a Todos, assunto do nosso próximo tópico, é uma das obras mais importantes para a educação institucional, tendo em vista seu caráter pioneiro no processo de democratização da escola. Retomar a obra de Comênio significa resgatar a utopia de uma educação para todos, em que as mulheres e os menos favorecidos socialmente são incluídos. Significa uma possibilidade de educação que considere a multiculturalidade, “expressa no seu esforço em garantir os conteúdos universais na língua e contexto cultural onde o ser humano está inserido. Comênio via a cultura, o seu símbolo maior, como uma força libertadora para as nações oprimidas” (AHLERT, 2002, p. 450). FIM DO TÓPICO 1. INÍCIO DO TÓPICO 2 O processo seguro e excelente de instituir, em todas as comunidades de qualquer Reino cristão, cidades e aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem excetuar ninguém em siveiarte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito a vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez (COMÊNIO, 2001, p. 11). A Didática Magna escrita por Comênio (2001) se destaca como uma das obras mais importantes da história da educação, consagrando seu autor como criador da didática moderna e um dos intelectuais mais importantes do século XVII. Comênio concebia o homem tanto pelo seu lado humano quanto espiritual, tanto que faz uma proposta pedagógica que envolve ambos e que é referência nos estudos do processo de ensino, ou seja, da Didática. Por ter estudado em uma escola muito rígida, cheia de regras e com castigos violentos aplicados às crianças, Comênio foi capaz de perceber os vários defeitos que caracterizavam o método aplicado em seu tempo. Nesse sentido, “seu ideal era ensinar a criança de maneira que sua chegada na fase adulta atingisse na plenitude de suas capacidades todo o conhecimento e sociabilidade” (BIASSETI, 2017, p. 8). Seu objetivo era que os indivíduos aprendessem para a vida, de forma que conseguissem se inserir na sociedade e fossem capazes de cumprir os seus deveres sociais. Eles aprenderão, não para a escola, mas para a vida, de forma que os jovens tornem-se enérgicos, prontos para tudo, diligentes e merecedores da atribuição de qualquer um dos deveres da vida, e ainda mais, se tiverem acrescentado à virtude uma conversação suave, e tudo tiverem coroado com o temor e o amor de Deus. Tornar-se-ão capazes de expressão e eloquência (COMÊNIO, 2001, p. 200). A escola, nesse contexto, deveria ser um lugar tranquilo, de convivência e trabalho em equipe. Os alunos teriam a oportunidade de se expressar, de se relacionar socialmente, de aprender de forma agradável, em um processo de transformação dos alunos em seres humanos, iniciado no nascimento econtinuado dentro da escola. “Os livros de textos deveriam ser padronizados e cada aluno deveria ter o seu próprio livro. Também, cada classe deveria ter um texto contendo todo o conteúdo de cada aula” (BIASSETI, 2017, p. 9). A educação pansófica ou a sabedoria universal defendida por Comênio se traduz no seu ideário de se ensinar tudo a todos, necessidade atribuída a sua crença em Deus, em sua infinita bondade. Assim, a educação pansófica se constituiu em uma organização do saber, em um projeto educativo ou um ideal de vida imaginado por Comênio. O pensador organizou a didática em quatro níveis: escola materna – de 0 a 6 anos; escola vernácula – de 7 a 12 anos; escola latina – de 13 a 18 anos; e universidades e viagens a partir dos 19 anos. Tratemos de tais níveis com mais atenção: Escola materna – de 0 a 6 anos. É o lar, considerada a primeira escola da criança. Nesse período as crianças deveriam ter o convívio familiar e aprender a partir de suas próprias observações. Além disso, as funções específicas também deveriam ser ensinadas, como a sociabilidade, a percepção e a religião, a partir do interesse das crianças dessa idade. Comênio era a favor dos contos de fadas, dos jogos, das atividades manuais, da música, do humor e das fábulas (BIASSETI, 2017). Escola vernácula – de 7 a 12 anos. Comênio acreditava que as crianças nesse período deveriam aprender todas juntas, de forma que a educação deveria ser básica e completa, aquela necessária para a vida de todos nós. A língua vernácula, ou seja, o idioma puro, tanto na linguagem oral quanto na escrita, sem utilização de palavras estrangeiras, deveria ser ensinado antes do latim. As crianças deveriam treinar os sentidos, a memória e a imaginação, desenvolvendo-se cognitivamente. Biasseti (2017, p. 10) destaca que as aulas deveriam incluir “Leitura, Escrita, Aritmética prática, Canto, Religião, Moral, Economia e Política, História geral, Cosmografia e as Artes mecânicas”. Escola latina – de 13 a 18 anos. Deveria ser destinada a desenvolver, nos meninos, a formação para alcançar os graus mais elevados do saber, independente da sua condição social. Esta escola iria treinar os alunos a compreender e julgar as informações adquiridas pelos sentidos, que seriam desenvolvidos na escola vernácula. Para isso seriam ensinadas as seguintes disciplinas: Lógica, Gramática, Retórica, Ciências e Artes, para que as mais elevadas faculdades do espírito fossem exercitadas. Quatro línguas deveriam ser aprendidas: o vernáculo, o latim, o grego e o hebraico. Nesses seis anos de escola latina as matérias seriam divididas: Gramática, Filosofia natural, Matemática, Ética, Dialética e Retórica (BIASSETI, 2017, p. 10). Universidades e Viagens – a partir dos 19 anos. Indicaria o mais alto nível de educação, seria somente para os alunos mais dedicados e com alto caráter moral. O ingresso nesse nível seria realizado por meio de exame público para avaliação dos alunos (BIASSETI, 2017). Uma função da universidade seria a pesquisa e as viagens seriam para coleta de informações sobre a natureza humana e suas instituições. Comênio também baseou seus métodos em uma teoria da vida mental e do desenvolvimento infantil. Observou cuidadosamente o desenvolvimento das plantas e animais, a execução de artes manuais e artesanato e os interesses espontâneos das crianças. Compreendia que a verdadeira base da ciência educacional deveria ser o crescimento natural da criança, e seguindo este caminho, deveria se basear o método de ensino neste princípio de sucessão natural (BIASSETI, 2017, p. 11). Comênio defendia que a escola era fundamental para a educação dos homens, por isso a sua máxima “ensinar tudo e todos”. Para ele, dar acesso ao conhecimento a todos permitiria que o homem pudesse se colocar como agente do seu desenvolvimento, ou seja, como ator e não como mero espectador. INÍCIO DO REFLITA Você acredita que a máxima de Comênio, “ensinar tudo a todos”, ainda se faz necessária nos dias atuais? FIM DO REFLITA. Nesse sentido, caro(a) aluno(a), a educação de Comênio propunha tinha como objetivo formar bons cristãos, assim, os homens seriam capazes de praticar boas ações a todos, sem distinção. Sua teoria possuía consistência e apresentava uma boa articulação entre suas diversas dimensões: religiosa, filosófica, educacional e social, mas isso não foi o suficiente para ser reconhecido, no período em que viveu, pelos seus ideais inovadores. Acreditamos que seja por sua trajetória de vida e pelo momento histórico e social em que viveu. Para Comênio (2001) a Didática é, ao mesmo tempo, um processo e um tratado; consiste tanto em um ato de ensinar como na arte de ensinar. É uma ação sublime, pois forma seres humanos, envolve professor e aluno, tornando ambos diferentes do que eram antes. Nesse contexto, ensinar supõe que há conteúdos a serem ensinados, sejam eles de natureza moral, instrucional ou sobre a religião. Esses conhecimentos também dão base para a exploração e o conhecimento de nós próprios, assim, essa natureza que deve ser explorada é a natureza social, ou seja, os conteúdos historicamente acumulados. Comênio também defendia a educação escolar das crianças pequenas, pois, assim, elas poderiam ter acesso, desde cedo, às noções das ciências básicas que viriam a estudar mais tarde. Ele acreditava que a aprendizagem iniciava pelo treino dos sentidos, pois as impressões das experiências vivenciadas com os objetos seriam internalizadas e mais tarde interpretadas pela consciência racional. A base do método didático de Comênio se constitui por três elementos: compreensão, retenção de informações e prática. Por meio destes podemos chegar a três qualidades fundamentais que devem ser desenvolvidas pelos alunos: erudição, instrução e religião, as quais nos levam às três competências que devem ser adquiridas: desenvolvimento intelectual, disposição em aprender e memória. INÍCIO DA DESCRIÇÃO DA FIGURA Descrição: A imagem representa o “Método didático de Comênio”. Na figura existem quadros, em que, na parte superior, centralizado, existe um quadro escrito “Método Didático”. Este quadro está interligado à três colunas de quadros abaixo dele. Na primeira coluna ao lado esquerdo da imagem, o primeiro quadro está nomeado de “Compreensão”, no quadro abaixo da mesma coluna lemos “Erudição”, e no terceiro quadro está escrito “Desenvolvimento Intelectual”. Na segunda coluna, está escrito no primeiro quadro “Retenção de Informações”, no quadro abaixo está escrito “Instrução”, no terceiro quadro está escrito “Disposição em aprender”. Na terceira coluna que está na lateral direita, no primeiro quadro está escrito “Prática”, no segundo quadro lemos “Religião”, e no último quadro “Memória”. FIM DA DESCRIÇÃO DA FIGURA. O método didático deveria seguir a seguinte ordem: 1. Todo o conhecimento historicamente acumulado deve ser ensinado. 2. Tudo o que se ensina deve ser ensinado relacionando com sua aplicação prática, com o seu uso social. 3. O ensino deve ser direto e claro. 4. Deve ser ensinado a partir da verdadeira natureza das coisas, ou seja, a partir do conhecimento científico. 5. Ensinar primeiramente de forma geral e posteriormente adentrar para o estudo das partes. 6. Ensinar os conteúdos no seu devido tempo. 7. Ensinar até a compreensão perfeita do conteúdo. 8. Dar a devida importância às diferenças que existem entre as coisas. Assim, o ensino seria universal. Biasseti (2017, p. 13) destaca alguns dos princípios do método de instrução de Comênio: O método de Comênio tinha como propósito dar instrução de forma: segura e completa; certa e clara; fácil e agradável. • A educação dos homens deveria ser iniciada na primavera da vida; • Ensinar coisas e linguagem juntas; • Primeiro a criança deveria compreender o assunto, antes dememorizar a definição dele; • Começar pelo universal (elementos simples e gerais), e partir para o particular (pormenores); • Todo o estudo deve ser graduado por passos minuciosos; • O ensino deveria ser dado conforme a idade e força mental da criança (BIASSETI, 2017, p. 13). A Didática Magna de Comênio se constitui como um modelo do saber sobre a educação do homem, desde sua infância até sua juventude, por meio da interação social, que passaria a ser coletiva, ou seja, passaria a acontecer na escola. Ela apresenta características que se fizeram necessárias para a instituição escolar moderna, e que, em alguns aspectos, permanece nela até os dias atuais. Podemos destacar: a valorização da infância e sua escolarização formal; a concepção da família como primeiro núcleo social da criança; a relação entre família e escola; a escola como instituição educacional; e a construção da figura do professor, educador, do mestre como elemento fundamental no processo de ensino. Esses são motivos pelos quais se faz necessário conhecer e compreender Comênio. FIM DO TÓPICO 2. INÍCIO DO TÓPICO 3 3. A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA NO BRASIL O método didático elaborado por Comênio vai de encontro com a situação em que a Europa vivia no final do século XVI, em meio à Contra Reforma Católica. A igreja católica estava perdendo o seu espaço e o seu poder com o avanço do Protestantismo. Dessa forma, com o objetivo de deter o avanço protestante e conquistar novos fiéis, é fundada em 1539 a Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola. A ordem surge em um momento em que as grandes navegações estão em ascensão, sendo utilizadas como uma arma da Igreja Católica na Contra Reforma. É nesse contexto que a Companhia de Jesus chega ao Brasil, pois os primeiros países colonizadores católicos eram Espanha e Portugal. No Brasil, a educação escolar iniciou-se a partir da chegada da Companhia de Jesus, em março de 1549. Trouxeram junto a eles um plano de estudos, elaborado por Inácio de Loyola e vigorado em 1552. Esse documento padronizava a educação em todas as instituições da Companhia de Jesus, apresentando métodos de ensino e orientando o professor sobre como organizar sua aula (FRANCA, 1952). Na Europa, o objetivo dessa educação, ainda voltada aos filhos dos nobres, era proteger o poder da Igreja Católica do protestantismo que se instaurava na época, ameaçando dogmas, costumes e regras já estabelecidos na sociedade. No Brasil, com a catequização dos índios, o objetivo era propagar e impor a cultura europeia, sobretudo a portuguesa, a fim de que o poder da Igreja Católica também permeasse a nova terra. Mais uma vez, vemos a educação sendo utilizada como forma de poder sobre o povo (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008). Mais conhecido como Ratium Studiorum, o Plano de Estudos da Companhia de Jesus desempenha um papel muito importante na educação moderna, papel este que não pode ser diminuído ou menosprezado. Franca (2017) destaca que, historicamente, esse manual de ensino era utilizado para toda a organização das atividades desenvolvidas em todos os colégios que a Companhia de Jesus fundou e dirigiu no decorrer de aproximadamente dois séculos, em todos os continentes. A Companhia de Jesus, uma ordem consagrada a ensinar pela constituição escrita por seus fundadores, tinha a missão de exercer os seus ministérios em todo o território que entrasse. Logo depois de instituída, rapidamente multiplicava os seus estabelecimentos de ensino (FRANCA, 2017). O seu domínio era tamanho que “em 1750, poucos anos antes de sua supressão (1773) por Clemente XIV, a Ordem de Inácio dirigia 578 colégios e 150 seminários, ao todo, 728 casas de ensino” (FRANCA, 2017, p. 3). A ordem jesuíta possuía uma organização administrativa dividida em Províncias e Circunscrições territoriais, ou seja, composta por casas e colégios da ordem, localizados em um território ou em parte dele. Administrando cada província, encontrava-se um Provincial, o qual possuía a função escolher o Prefeito de estudos e das disciplinas, prezar pela formação de bons professores, promover o estudo na Província, vigiar o emprego das normas estabelecidas pelo Ratium Studiorum, assim como sugerir mudanças devido as circunstâncias de tempo e lugar específicas da Província (FRANCA, 2017). O reitor, de acordo com Franca (2017), era a figura central do colégio jesuíta. Dentre as suas funções, cabia convocar e presidir a reunião com os professores e as solenidades escolares. Dentro do colégio jesuíta, o reitor é autoridade máxima; fora dela, é subordinado ao Provincial. O prefeito de estudos era o braço direito do reitor, e possuía a função de acompanhar de perto toda a rotina escolar, visitar as aulas e primar pela execução dos regulamentos e dos programas. Se necessário, nomeava-se ainda um prefeito de disciplinas, que possuía a função de auxiliar o prefeito de estudos, principalmente com relação a manter o bom comportamento. Os cursos superiores e secundários eram minuciosamente organizados no Ratium Studiorum, de acordo com Franca (2017, p. 65): I – Currículo Teológico. 4 anos. Teologia escolástica. 4 anos; dois professores, cada qual com 4 horas por semana. Teologia moral. 2 anos. Dois professores com aulas diárias ou um professor com duas horas por dia. Sagrada Escritura. 2 anos com aulas diárias. Hebreu. 1 ano, com duas horas por semana. A revisão de 1832 ao currículo teológico acrescentou, com disciplinas autônomas, o Direito Canônico e a História Eclesiástica, estudada no século XVI, só ocasionalmente. II – Currículo filosófico. 1o. Ano – Lógica e introdução às ciências; um professor; 2 horas por dia. 2o. Ano – Cosmologia, Psicologia, Física – 2 horas por dia. Matemática – 1 hora por dia. 3o. Ano – psicologia, Metafísica, Filosofia Moral – dois professores. Duas horas por dia. III – Currículo Humanista. O currículo humanista, corresponde ao moderno curso secundário, abrange, no Ratio, cinco classes: 1 – Retórica. 2 – Humanidades. 3 – Gramática Superior. 4 – Gramática Média. 5 – Gramática Inferior. Essas classes possuíam a característica dos graus, ou estágios de progresso. De acordo com Franca (2017), só poderia ser promovido a um grau superior o aluno que havia adquirido integralmente os conhecimentos. Por esse motivo os currículos eram concluídos, muitas vezes, somente 6 ou 7 anos após o seu início. Franca (2017) apresenta como estava organizada a maior parte do currículo, ou seja, o III – Currículo Humanista: Quadro 1 - Organização do currículo Humanista do Ratium Studiorum Grau Classe Ano 1 Retórica 7 2 Humanidades 6 3 Gramática Superior 5 4 Gramática Média A 4 4 Gramática Média B 3 5 Gramática Inferior A 2 5 Gramática Inferior B 1 Fonte: Franca (2017, p. 7). Na prática, os colégios da Companhia de Jesus não eram instituições de ensino rígidas, sem vida. No entanto, continham um ar conservador e suavemente progressista que acompanhava a cultura e as mudanças sociais. A metodologia do Ratium Studiorum compreende processos didáticos com a finalidade do estímulo e a transmissão dos conteúdos. A metodologia apresentava flexibilização quanto aos processos de trabalho, uma vez que o plano de estudos possuía uma variedade de métodos e permitia liberdade de escolha. Um ponto chave da didática do Ratium Studiorum é a preleção, ou seja, a indicação de lições antecipadas, que eram indicadas para os alunos estudarem, cujos métodos aplicados variavam de acordo com o nível intelectual dos alunos (TOSHIMA; MONTAGNOLI; COSTA, 2018, p. 5). Na pedagogia jesuíta, instrução e educação caminhavam juntas. Dessa forma, esse processo não era estritamente religioso, tendo em vista que o ideal da Companhia de Jesus era “proporcionar a realização plena da natureza humana” (TOSHIMA; MONTAGNOLI; COSTA, 2018, p. 9). Assim, os jesuítas tiveram êxito na formação decristãos e de profissionais capacitados, e o Ratium Studiorum, mesmo se tratando de um texto escrito no século XVI, merece atenção ainda hoje, tendo em vista que compreendê-lo e pensá-lo de forma crítica enriquece nossa postura enquanto docentes. Os jesuítas foram expulsos do Brasil em 1773 pelo Rei Clemente XIV. As causas prováveis de sua supressão versam em duas categorias: questões políticas e ideológicas e questões educacionais. Politicamente e ideologicamente, a Companhia de Jesus havia se tornado um empecilho para os interesses do Estado Moderno; além disso, possuíam um grande poder econômico que era cobiçado pela Coroa Portuguesa. No campo educacional, as transformações sociais que decorriam do movimento Iluminista e dos princípios liberais solicitavam um sujeito novo, burguês, e não mais um homem cristão (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008). Assim terminou a catequização da Companhia de Jesus no Brasil. No entanto, mesmo após a expulsão, seus métodos e escolas se mantiveram. Atualmente, no Brasil, temos várias escolas e universidades que são mantidas pela Companhia de Jesus e que estão espalhadas por todo o território brasileiro. 3.1 Método Individual Outros métodos pedagógicos foram utilizados no Brasil para a educação escolar. Aqui, destacamos o método individual. O método individual consiste na relação entre professor e aluno: o professor atente cada aluno individualmente, ou seja, o professor chama o aluno e em alguns minutos lhe passa a lição. Ao retornar ao seu lugar, o aluno deveria realizar os exercícios a fim de aprender o ensinamento do professor. Nessa época, os estudos realizados eram em torno do ensino da leitura. O methodo individual é aquele que o professor leciona cada menino em si. [...] As vantagens do método individual são o mestre tomar para si, a cada menino, a sua lição respectiva; as suas desvantagens são não se poder praticar n'uma escola, onde haja muitos meninos, porque isso rouba grande parte de tempo (SILVA; ARANTES, 2015, p. 17). Esse método de ensino, que é considerado um dos mais antigos, apresenta mais algumas vantagens para o processo de ensino, a saber: o professor conhecia o seu aluno de forma a compreendsaber se havia disposição para o conhecimento, conhecia o seu caráter, seu gênio, se poderia se tornar bom aluno. A partir deste conhecimento, o professor achava-se habilitado para formar-lhe o coração e dirigir-lhe a inteligência (SILVA; ARANTES, 2015). Algumas desvantagens também poderiam ser vistas, como o número de alunos para o professor ensinar precisava ser limitado, a disciplina era facilmente dissipada, pois o professor chamava um aluno após o outro para lhe tomar as lições (SILVA; ARANTES, 2015). Conforme exemplificamos na figura a seguir: INÍCIO DA DESCRIÇÃO DA FIGURA Descrição: A imagem representa o Método Individual. Na figura existe um quadro no qual, centralizado na parte superior, tem uma forma oval na cor marrom que representa o professor. Dele sai nas laterais quatro setas, sendo duas ao lado direito e duas ao lado esquerdo, elas apontam para figuras que representam alunos, diferenciando cada um por cores, as cores separam alunos nível 1, alunos nível 2, alunos nível 3 e alunos nível 4. Os alunos estão dispostos de forma mesclada. FIM DA DESCRIÇÃO DA FIGURA. Silva e Arantes (2015) ainda destacam que este era o método utilizado na instrução doméstica, aquela que ocorria em casa, em que as mães ou irmãos que sabiam alguma coisa ensinavam para aqueles que não sabiam nada. Logo em seguida, surge o método Lancaster, que esteve presente na primeira lei sobre a educação no país, a Lei Geral relativa do Ensino Elementar, publicada em 15 de outubro de 1827. INÍCIO DO SAIBA MAIS Outro método utilizado no Brasil foi o método intuitivo. Este chegou ao Brasil por volta de 1886, por meio da publicação da obra Primeiras lições de coisas, traduzida por Rui Barbosa. O objetivo do método era resolver os problemas educacionais decorrentes da Revolução Industrial, que se tornaram ineficientes diante das novas exigências sociais. A Revolução Industrial havia viabilizado a produção de novos materiais e mobiliário escolar, mas a sua utilização dependia da adoção de novos métodos pelos professores. Dessa forma, o método intuitivo propiciava orientação aos professores por meios de manuais, neste caso a obra Primeiras lições de coisas. Para saber mais sobre este método acesse o artigo: “Primeiras lições de coisas – manual de ensino elementar para uso dos pais e professores”, de autoria de Gladys Mary Teive Auras. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 40602003000100021>. Fonte: elaborado pelas autoras (2018). FIM DO SAIBA MAIS. 3.2 Método Lancaster O método Lancaster, difundido na Europa no final do século XVII, chegou ao Brasil somente por volta da década de 1820, momento no qual o governo tomou a decisão de implantar o método para o processo de ensino das escolas do Império. Foi criado por Joseph Lancaster (1778-1838) em parceria com http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602003000100021 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602003000100021 Andrew Bell (1753-1832). A primeira escola brasileira de ensino mútuo foi criada oficialmente em 1º de março de 1823, e possuía como objetivo a formação de professores, especialmente os militares (MENDONÇA; COSTA, 2015). Outorgada, no ano de 1824, a primeira Constituição brasileira, a qual estabelecia a instrução primária gratuita a todos os cidadãos, houve a necessidade de propagar a instrução a todos os cidadãos brasileiros. Estabelecida essa meta, no dia 22 de agosto de 1825 o governo enviou um aviso ministerial endereçado aos presidentes de províncias, “insistindo na necessidade de propagar escolas pelo método lancasteriano” (CASTANHA, 2012, p. 5). O método de ensino mútuo espalhou-se de tal forma pelo Brasil que até mesmo no início do período republicano ainda era possível encontrá-lo aplicado em diversos estabelecimentos de ensino – públicos e particulares – não só nas aulas de primeiras letras como, igualmente, em colégios onde funcionavam cursos secundários (NISKIER, 1989, p. 105). Por ser dividido em províncias, o Brasil acabou por adotar formas diferenciadas do método Lancaster. Nesse contexto, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul implantaram, cada um à sua forma, o método Lancaster, tendo em vista que os governos estavam preocupados em apenas criar as escolas e nomear os professores. A fiscalização, o treinamento e a eficiência educacional não estavam nos planos dos governos provinciais (MENDONÇA; COSTA, 2015). Apesar disso, caro(a) aluno(a), as escolas que adotaram o método Lancaster possuíam algumas características em comum, como a sua estrutura pedagógica, os agentes da ação educativa e o mobiliário. A estrutura pedagógica era sempre a mesma: a sala em formato retangular e os alunos organizados todos juntos, a sala não possuía divisão (MENDONÇA; COSTA, 2015). Jomard [...] fixou as normas desejáveis para o número de alunos, variando de setenta a mil. Ele indica, por exemplo, para 350 alunos, a necessidade de uma sala de 18m de comprimento por 9m de largura. Na Inglaterra e na zona rural francesa, utiliza-se frequentemente um celeiro para a nova escola. Na França, os edifícios religiosos, desocupados após o período revolucionário, são numerosos e respondem perfeitamente às normas desejadas. Esses edifícios acolhem as escolas mútuas (LESAGE, 1999, p. 12). Segue a exemplificação da organização de uma sala de aula do método Lancaster: INÍCIO DA DESCRIÇÃO DA FIGURA Descrição: A imagem representa o Método Lancaster. Na figura existe um quadro. Na parte superior do quadro existe uma forma oval representando o professor. Dele originam-se três setasque indicam para baixo. Uma seta aponta para o meio, uma para a direita e outra para esquerda da imagem. Abaixo existem imagens que representam alunos, as figuras estão separadas por cores que representam Alunos nível 1, Alunos nível 2, Alunos nível 3 e Alunos nível 4. Os alunos estão dispostos da seguinte forma, de cima para baixo: nas duas primeiras fileiras, aluno nível 1, na terceira e na quarta fileira, alunos nível 2, na quinta e sexta fileiras, alunos nível 3, sétima e oitava fileiras, alunos nível 4. FIM DA DESCRIÇÃO DA FIGURA. O plano escolar da escola mútua consistia na divisão dos conteúdos dentro de cada disciplina. Dentro de cada grupo eram estabelecidas as atividades que seriam realizadas. As atividades orais e de leitura eram realizadas em semicírculos espalhados na sala e nos quadros negros. As atividades de matemática eram realizadas nos bancos (MENDONÇA; COSTA, 2015). Para trazer economia, o mobiliário e os materiais eram utilizados de forma reduzida: os bancos não possuíam encosto e eram produzidos de madeira simples, havia relógios para cronometrar as atividades realizadas, estrados elevavam a mesa dos professores, quadro negro e telégrafos eram utilizados para a comunicação entre os monitores gerais e os monitores particulares (ARAÚJO, 2010). Os agentes da ação educativa eram os professores e os alunos monitores, que, diferentemente dos métodos individual e simultâneo, dividiam a responsabilidade. Ao professor cabia orientar os monitores, transmitindo os seus conhecimentos a fim de que estes pudessem retransmitir o conhecimento e aplicar o método. Os monitores, os alunos mais fortes, eram as peças essenciais desse método, pois ensinavam os conteúdos diretamente aos demais alunos da sala (MENDONÇA; COSTA, 2015). O método Lancaster não obteve o desempenho que era esperado. Por esse motivo, novas discussões foram travadas. Novos métodos, misturando o método individual e o método Lancaster, foram surgindo ao longo dos séculos e estão intimamente relacionados à forma como organizamos nossa sala de aula. 3.3 Método simultâneo O método simultâneo caracteriza uma evolução significativa no modo de ensinar, pois seu foco está na qualidade e na quantidade de alunos que se pode alcançar, ao mesmo tempo. O professor, ao invés de realizar o atendimento individual aos alunos, como proposto no método individual, pode atender de trinta a quarenta alunos ao mesmo tempo. Ou seja, os alunos realizam a mesma lição ao mesmo tempo e o professor corrige todos ao mesmo tempo. O método simultâneo consiste em dividir os discípulos em diversas classes ou termos, e fazer seguir em cada classe a mesma lição de leitura, de escrita e de cálculo, passando sucessivamente de uma a outra classe, e tendo todo o cuidado em que estão empregadas em alguma coisa, aquelas classes, que não assistem neste intervalo (SILVA; ARANTES, 2015, p. 17). Criado por Jean-Baptiste de La Salle, no final do século XVII, o método simultâneo possuía como característica a divisão da turma em classes, levando em consideração a matéria e o grau de desenvolvimento dos alunos. O Método simultâneo é coletivo e apresentado a grupos de alunos reunidos em função da matéria a ser estudada, [...] o ensino não se dirige mais a um único aluno, como no modo individual, mas pode atender a cinquenta ou sessenta alunos ao mesmo tempo. Esse ensino [...] comporta em nível de estrutura, três classes sucessivas, a primeira é consagrada unicamente a leitura, [...] a segunda destina-se a aprendizagem da escrita, [...] na terceira classe, são abordadas as disciplinas mais complexas elaboradas: gramática, ortografia e cálculo (LESAGE, 1999, p. 10-11). O autor recomendava que dentre os alunos fossem escolhidos os que se destacavam, os mais estudiosos. Estes seriam encarregados da vigilância dos demais alunos, ou seja, de “tomar” as lições dos alunos, por meio da repetição do que o mestre havia ensinado. A estes vigilantes também era permitido a repreensão dos alunos que não realizavam os seus deveres e de ensinar, guiando as mãos dos alunos que não conseguissem escrever. O método simultâneo apresentava maior vantagem para o processo de ensino em relação aos métodos individual e Lancaster. Neste modelo, o professor poderia ensinar uma quantidade proporcional de alunos, dividindo-os em classes segundo o desenvolvimento de cada um. Dessa forma, o professor poderia aplicar a toda a classe a mesma lição de leitura, cálculo e escrita. O professor poderia pedir para que um aluno lesse em voz alta a lição, enquanto os outros acompanhavam em seus livros, assim o professor poderia transitar de uma classe a outra, sem deixar os alunos ociosos (SILVA; ARANTES, 2015). Exemplificamos as classes do método simultâneo da seguinte forma: INÍCIO DA DESCRIÇÃO DA FIGURA Descrição: A imagem representa o Método Simultâneo. Na figura existem quatro quadros. Seguindo da esquerda para a direita, no primeiro quadro, na parte superior existe uma forma oval que representa o professor, do qual originam-se três setas direcionadas para baixo, apontando para dezoito figuras na cor vermelha representando alunos nível 1. Ao lado, no segundo quadro, encontramos uma representação semelhante, sendo que os alunos agora representados, são de nível 4. O terceiro quadro exemplifica a imagem anterior, porém com alunos nível 3, sendo seguido de uma representação também originada pela representação do professor direcionado por 3 setas orientadas para alunos nível 2. FIM DA DESCRIÇÃO DA FIGURA. Esse método, porém, também possuía desvantagens. O número de alunos era limitado; caso contrário, o professor necessitaria de ajudantes e teria de recorrer ao método individual caso chegasse um aluno para os primeiros ensinamentos. FIM DO TÓPICO 3. INÍCIO DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) aluno(a), chegamos ao final das discussões sobre os fundamentos históricos e filosóficos da Didática. É indispensável pensarmos na forma como os conteúdos desta unidade foram expressos. Iniciamos nossa discussão conhecendo e compreendendo a Didática Magna e o seu criador João Amós Comênio, um intelectual e teólogo que viveu no século XVII, em meio à transição do sistema feudal para o sistema capitalista. Ele se configura como um dos mais importantes intelectuais do seu período. Partindo de uma experiência pessoal e atenta às mudanças sociais, Comênio propôs uma nova forma de se pensar o processo de aprendizagem nas escolas, a partir da sua obra mais importante para a educação, a Didática Magna. Apesar de ser um homem do seu tempo, Comênio pensou para além dele. Diante disso, suas obras permanecem atuais, servindo de base para as teorias educacionais e norteando o processo de ensino até hoje. As nossas discussões seguiram em torno da compreensão da Didática no Brasil, a partir da chegada da Companhia de Jesus para catequizar os índios. Essa é uma importante parte da história do Brasil, tanto com relação ao processo educacional quanto ao processo político, pois vemos a educação como uma ferramenta para o processo de dominação. Mesmo após a expulsão dos jesuítas do Brasil, seus métodos pedagógicos permaneceram, no entanto outros também surgiram, como o método individual, método Lancaster e método simultâneo. É importante perceber que, a partir do momento que o adulto passou a interferir no processo de aprendizagem das crianças e dos jovens, surgiu a necessidade de se pensar em métodos para o processo de ensino. Dessa forma, a partir do momento em que o saber é sistematizado, surge a preocupação com o processo de ensino, fazendo emergir intelectuais que propõem, por meio de suas teorias, novas formas de ensinar. Convidamos você a continuar o estudo sobre o processo de ensino, conhecendo, na próxima unidade, as tendências pedagógicas que fundamentam o processo de ensino e de aprendizagemdesde o final do século XIX. Vamos lá? FIM DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS. INÍCIO DAS ATIVIDADES DE ESTUDO 1. Estudar a obra Didática Magna de João Amós Comênio, escrita no século XVII, se faz necessário ainda nos dias atuais, tendo em vista que refletir sobre a educação e seus aspectos de valorização da infância e da escolarização formal, por exemplo, é uma tarefa do homem moderno. Nesse contexto, partindo da teoria de Comênio, leia as afirmativas e assinale a correta: a) Comênio era um homem do seu tempo, mas que pensava além dele. Por esse motivo, defendia que somente os homens deveriam ter acesso à escolarização formal. b) Quando era criança, Comênio teve a experiência da sua escolarização em uma instituição que valorizava a criança. Foi por esse motivo que ele criou um método, para que todos tivessem acesso à escola. c) Comênio defendia que deveria ser ensinado tudo a todos, pois, na época em que viveu, a educação era um privilégio de poucos, além de estar sob a guarda da Igreja Católica; d) Comênio defendia que as crianças pequenas também deveriam frequentar a escola, tendo em vista que a educação empreendida pelos pais não era suficiente para a formação do ser humano; e) Comênio defendia que a educação deveria ser acessada por todos, tendo em vista que seria por meio da educação que o homem desenvolveria o seu lado racional e intelectual. 2. A educação escolar no Brasil iniciou-se por meio da Companhia de Jesus, os jesuítas, no ano de 1549. A chegada ao país possuía como objetivo a catequização dos índios e a propagação da cultura europeia, além de se constituir como mais uma terra onde o poder da Igreja Católica vigorava. Os jesuítas trouxeram consigo um documento que padronizava a educação em todas as instituições da Companhia de Jesus, o qual se intitula: a) Didática Magna. b) Ratio Studiorum. c) Mundo Ilustrado ou Sensível. d) Novíssimo Método das Línguas. e) Didática Tcheca. 3. A Didática Magna contempla a educação pansófica, que se constitui como uma organização do saber, um projeto educativo e um ideal de vida imaginado por Comênio. Nesse contexto, ele organizou a educação em quatro níveis. Leia as afirmativas e assinale V para verdadeiro e F para falso, considerando os quatro níveis de educação. ( ) Escola Materna; Escola Vernácula. ( ) Escola Materna; Escola superior. ( ) Escola Latina e Universidade e viagens. ( ) Escola vernácula; Estudos posteriores. ( ) Escola latina; Escola superior. As afirmações I, II, III e IV são, respectivamente: a) V, F, V, F, F b) F, V, V, V, F c) V, F, F, V, V d) V, V, F, V, F e) F, F, V, V, V 4. Foram utilizados no Brasil alguns métodos didáticos para a escolarização após a expulsão dos jesuítas, em 1773. A conhecer: o método individual, o método mútuo e o método simultâneo. No entanto, foi somente quase um século depois que a instrução primária para todos os cidadãos foi garantida por Lei. Leia a afirma e assinale a que representa o documento que garantiu a gratuidade do ensino primário a todos os cidadãos. a) Constituição Federal de 1824. b) Carta Régia. c) Decisão Imperial. d) Lei da Corte Geral. e) Lei 13 de janeiro de 1822. 5. O método Lancaster ou método mútuo chegou ao Brasil por volta de 1820, sendo implantado pelo governo como método para o processo de ensino e de aprendizagem nas escolas do Império. Todas as províncias do Brasil acabaram por adotar, cada um à sua forma, este método de ensino. Apesar disso, as escolas que adotaram o método apresentavam algumas características em comum. Leia as afirmativas e assinale a correta quanto a essas características: I – Estrutura pedagógica. II – Mobiliário. III – Atendimento individualizado. IV – Agentes da ação educativa. Está correto o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) I, II, III e IV. FIM DAS ATIVIDADES DE ESTUDO. INÍCIO DA LEITURA COMPLEMENTAR O MATERIALISMO HISTÓRICO DE KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS Karl Marx (1818-1883) destacou-se como um importante pensador do século XIX, tornando-se um dos principais nomes das ciências humanas. Em parceria com Friedrich Engels (1820-1895), escreveu obras que se tornaram clássicas, tendo como principal objeto de estudo a sociedade capitalista. Seus estudos inspiraram e ainda inspiram formulações das vertentes teóricas e políticas. Ainda que não tenham escrito uma obra dedicada ao estudo da metodologia, Karl Marx é considerado o precursor do Materialismo Histórico- Dialético, que é utilizado como método de pesquisa em vários campos da ciência (MCLELLAN, 1988). Marx (1986) acreditava e expressou no conjunto de suas obras o nascimento, a existência, o desenvolvimento, a morte e a substituição da sociedade capitalista com base nas contradições entre as classes sociais, ou seja, no movimento dialético. Podemos ver tal movimento dialético na crença que Marx (1986) possuía no proletariado, pois acreditava que essa classe seria capaz de organizar a sociedade de forma mais séria e justa. Segundo Marx (1986), a história se constitui revolucionária, concebendo a história como produção social da existência do ser social, ontológico. Ou seja, a história se produziu dessa forma por conta dessa determinada sociedade, a capitalista. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprido todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos (MARX; ENGELS, 1986, p. 39). O processo da história é o processo de humanização do ser social ou da produção da humanidade, ou seja, é o produto dos seres humanos ao produzir suas vidas. Ao produzir vidas se produz história. A sociedade é apresentada como uma totalidade social para Marx (1986). O homem se constitui no corpo da sociedade, sendo a sociedade capitalista uma das etapas do desenvolvimento histórico. Na teoria marxista, não há seres sociais isolados, fora da sociedade. O trabalho se apresenta como ponto fundamental no processo de humanização, ou seja, de construção do ser social. É pelo trabalho que o homem se distingue do ser da natureza e se produz como ser social. Marx (1986) acreditava que o homem é uma forma específica de ser histórico. Só existe como ser social em uma determinada sociedade, ou seja, a concepção do ser social aparece como uma síntese de determinações sociais e históricas. Temos dois tipos de relações sociais: entre homem e homem, e entre homem e natureza. Esses conceitos são estabelecidos em conformidade com os meios de produção. Podemos perceber, pelas as considerações apontadas com relação ao Materialismo Histórico-Dialético de Marx e Engels, que os estudos de Marx eram baseados nas ciências humanas, no estudo da sociedade. Escreveu obras de muita importância para entendermos a sociedade capitalista e suas crises. Marx (1986) acreditava no movimento dialético, acreditava que a luta de classes é que movimenta a história. Por isso, sua análise parte sempre do plano material para o plano das ideias. O seu estudo sobre a sociedade capitalista rompe com o conceito do ser isolado e parte para a concepção do ser social, que produz com as mãos, trabalha com as mãos e com a cabeça, transformando sua realidade. Para Marx (1986), a organização social, por meio da história – ou das transformações sociais –, possui meios de superar o seu método. Fonte: as autoras. FIM DA LEITURA COMPLEMENTAR. INÍCIO DO MATERIAL COMPLEMENTAR – LIVRO Capa do livro: Título: Didática Autor: José Carlos Libâneo Editora: Editora Cortez Sinopse: nesse livro, aDidática é tratada como ramo de estudo da Pedagogia, partindo dos vínculos entre finalidades sócio-políticas e pedagógicas e as bases teórico-científicas e técnicas da direção do processo de ensino e aprendizagem. O autor propõe o estudo sistemático da Didática como teoria do processo de ensino de modo a unir a preparação teórica e prática na formação profissional do professor. Constitui-se, assim, como disciplina integradora que, ao buscar os conhecimentos teóricos e práticos da Teoria da Educação, Psicologia, Sociologia e Metodologias específicas das matérias de ensino, generaliza princípios, condições e meios que são muito comuns e básicos para a docência de todas as matérias escolares. Comentário: A leitura desse livro é de fundamental importância para todos os profissionais da educação que trabalharão com o processo de ensino e de aprendizagem em ambientes formais ou não formais. Compreender a Didática como uma parte da sua formação é compreender que há ciência e teoria no ato de ensinar. FIM DO MATERIAL COMPLEMENTAR - LIVRO. INÍCIO DO MATERIAL COMPLEMENTAR – FILME Pôster do filme: Título: Escritores da liberdade Ano: 2007. Sinopse: Hilary Swank, duas vezes premiada com o Oscar, atua nessa instigante história envolvendo adolescentes criados no meio de tiroteios e agressividade e a professora que lhes oferece o que mais precisam: uma voz própria. Quando vai parar numa escola corrompida pela violência e tensão racial, a professora Erin Gruwell combate um sistema deficiente, lutando para que a sala de aula faça a diferença na vida dos estudantes. Contando suas próprias histórias e ouvindo as dos outros, uma turma de adolescentes supostamente indomáveis vai descobrir o poder da tolerância, recuperar suas vidas desfeitas e mudar seu mundo. Com eletrizantes performances de um elenco de astros, incluindo Scott Glenn (Dia de Treinamento), Imelda Stauton (Harry Potter e a Ordem da Fênix) e Patrick Dempsey (Grey's Anatomy), ganhador do Globo de Ouro. Escritores da Liberdade é baseado no aclamado best-seller O Diário dos Escritores da Liberdade. FIM DO MATERIAL COMPLEMENTAR - FILME. INÍCIO DAS REFERÊNCIAS AHLERT, A. O mundo de Comênius: entre conflitos e guerras, uma luz para a prática pedagógica. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, n. 32, p. 439-451, out. 2002. ARAÚJO, J. S. Esboço sobre o surgimento, as características e a implantação do método monitorial/mútuo no Brasil do século XIX. Cadernos da Pedagogia, São Carlos, ano 4, v. 4, n. 7, p. 86-95, jan./jun. 2010. Disponível em: <http://www.cadernosdapedagogia.ufscar.br/index.php/cp/article/viewFile/179/1 05> Acesso em: 19 mar 2019. BIASENTTI, S. Uma visão histórico-teológica de Jan Amos Komenský: Pai da didática moderna, segundo a ética protestante da Instrução, virtude e piedade. 2017. Disponível em: <http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170503115121.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2019. CASTANHA, A. P. A introdução do método Lancaster no Brasil: história e historiografia. In: Anpedsul - Reunião Nacional Da Associação Nacional De Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, 9, Máringá, 2012. Anais..., Maringá, 2012, p. 4-8. Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewF ile/1257/12>. Acesso em: 19 mar. 2019. COMENIUS, I. A.. Didactica Magna. Introdução, tradução e Notas de Joaquim Ferreira Gomes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. COVELLO, S. C. Comênius: a construção da pedagogia. São Paulo: SEJAC, 1991. FRANCA, L. O método pedagógico dos jesuítas: O “Ratio Studiorum”. 2017. Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_fontes/acer_histedu/brcol012.htm>. Acesso em: 19 mar. 2019. LESAGE, P. A pedagogia nas escolas mútuas no século XIX. In: BASTOS, M. H. C.; FARIA-FILHO, L. M. (Org.). A escola elementar no século XIX: o método monitorial/mútuo. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. p. 9-24. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LOPES, E. P. O conceito de educação em João Amós Comenius. Revista Fides Reformata XIII. São Paulo, n. 2, p. 49-63, 2008. MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã (I – Feuerbach). São Paulo: Hucitec, 1986. McLELLAN, D.; MARX, K. H. In: BOTTOMORE, T. (Ed.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. MENDONÇA, C. T. M.; COSTA, M. L. F. 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FIM DA UNIDADE I. INÍCIO DA UNIDADE II INÍCIO DA FOLHA DE ABERTURA TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS Me. Camila Tecla Mortean Mendonça Objetivos de Aprendizagem ● Discutir as tendências pedagógicas nos diferentes tempos históricos, a fim de compreender a aliança entre a educação e sua sociedade. ● Contextualizar a didática a partir das teorias liberais e progressistas para que possamos identificar o objetivo da educação em cada sociedade. ● Conhecer como a Didática se constitui na contemporaneidade e sua relação com o processo de ensino, a fim compreender a função social da atual educação. ● Relacionar a Didática com sua utilização nos ambientes não formais para identificar a relevância de uma didática em diferentes espaços. Plano de Estudo ● Tendências Pedagógicas Liberais ● Tendências Pedagógicas Progressistas ● A Didática na contemporaneidade ● A Didática nos ambientes não formais de aprendizagem FIM DA FOLHA DE ABERTURA. INÍCIO DA INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), dando continuidade as nossas discussões sobre a construção histórica da Didática, avançaremos nos estudos do tema e compreenderemos a Didática enquanto um campo de estudo do processo de ensino que, aliando teoria a um conjunto de métodos, recursos e procedimentos, possibilitam ao professor a realização do processo de ensino consistente. O processo de ensino nas instituições educacionais se dá a partir da mediação que o professor faz entre o conhecimento e o aluno,utilizando as metodologias, os métodos, as estratégias e os recursos, para isso é preciso que o professor tenha conhecimento destes. Diante disso, nosso objetivo nesta unidade é o de levá-los à reflexão sobre as principais tendências pedagógicas que foram e ainda são utilizadas no processo de ensino em nosso país. É importante esclarecer, de antemão, que o processo teórico de criação e consolidação de uma teoria pedagógica se dá por meio de embates e discussões. As teorias apresentadas são aquelas que se destacaram e foram adotadas nas escolas brasileiras, mas isso não quer dizer que não surgiram outras teorias e propostas nos mesmos períodos. Trouxemos os períodos em que cada teoria foi adotada no país, no entanto sabemos que o processo de transição entre as teorias é moroso: não dormimos na tendência Tradicional e acordamos na tendência Escola Nova, por exemplo. Mesmo assim, temos que ter ciência de que algumas teorias foram vencidas por outras, mas ainda são adotadas por muitas escolas de nosso país. O estudo das tendências pedagógicas visa proporcionar a compreensão da dimensão política e da dimensão educacional que estão propostas nas metodologias adotadas pelas instituições de ensino. Desta forma, é essencial o conhecimento dessas tendências, pois elas são pré-requisitos para que possamos refletir e transformar o processo educacional existente. Vamos lá? FIM DA INTRODUÇÃO. INÍCIO DO TÓPICO 1 São quatro as tendências pedagógicas liberais. Suas teorias serviram como norteadores do processo de ensino e de aprendizagem no Brasil até por volta da década de 1950. As principais características destas tendências pedagógicas quanto às categorias papel da escola, conteúdos, métodos, professor X aluno e aprendizagem encontram-se no Quadro 1. Quadro 1 - Síntese das principais características das tendências pedagógicas liberais TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS Tendência Característica Tradicional Renovada Progressista Renovada não diretiva: Escola Nova Tecnicista Papel da escola Preparação dos alunos para assumir seu papel na sociedade. A escola deve se adequar as necessidades individuais dos alunos. A escola deve promover a formação de atitudes. Modela o comportamento humano. Conteúdos Conhecimento historicamente acumulado pela humanidade, transmitidos aos alunos como verdades absolutas. Os conteúdos são estabelecidos a partir dos interesses e situações vividas pelos alunos. Os alunos buscam o conhecimento. Consiste em informações ordenadas em uma sequência lógica e psicológica. Métodos Exposição oral dos conteúdos, reprodução dos modelos. Pesquisas, experiências, soluções de problemas. Facilitação da aprendizagem pelo professor. Técnicas de transmissão e recebimento de informações. Professor X Aluno Professor como autoridade, detentor de todo o conhecimento. Aluno receptor passivo. O professor é um auxiliar no desenvolvimento do aluno. O aluno é o centro do processo de ensino e de aprendizagem. O professor propicia condições para o aprendizado dos alunos. O aluno é o centro do processo de ensino e aprendizagem. O professor transmite as informações e os alunos devem fixa-las. Aprendizagem Aprendizagem mecânica, por meio de repetição, memorização e reprodução. É baseada na estimulação, nos interesses e motivação dos alunos. Ao aprender os alunos modificam as suas percepções sobre a realidade. A aprendizagem é baseada no desempenho. Fonte: Elaborado pela autora (2018). 1.1 Tendência pedagógica tradicional O termo “tendência tradicional” foi cunhado a partir do estudo das tendências pedagógicas antigas. A teoria ganhou corpo a partir da identificação dos pontos recorrentes nas práticas pedagógicas adotadas ao longo da história da educação até final do século XIX. Com a ascensão do movimento renovador, a identificação das práticas pedagógicas adotadas até então ganha essa denominação. Saviani (2018, p. 1) define que: A denominação “concepção pedagógica tradicional” ou “pedagogia tradicional” foi introduzida no final do século XIX com o advento do movimento renovador que, para marcar a novidade das propostas que começaram a ser veiculadas, classificaram como “tradicional” a concepção até então dominante. Assim, a expressão “concepção tradicional” subsume correntes pedagógicas que se formularam desde a Antiguidade, tendo em comum uma visão filosófica essencialista de homem e uma visão pedagógica centrada no educador (professor), no adulto, no intelecto, nos conteúdos cognitivos transmitidos pelo professor aos alunos, na disciplina, na memorização [...]. No Brasil, a tendência pedagógica tradicional foi adotada por volta do final do século XIX, possuindo características bem peculiares quanto ao processo de ensino e de aprendizagem. A escola era caracterizada como o único local onde os alunos poderiam ter acesso aos conhecimentos científicos. Dessa forma, qualquer conhecimento obtido fora da escola não era considerado para o processo de ensino e de aprendizagem formal, isso incluía as vivências dos alunos, seus conhecimentos cotidianos. Os conteúdos trabalhados nessa escola constituíam-se dos conhecimentos historicamente acumulados pela sociedade; estes eram transmitidos aos alunos como verdades absolutas, portanto não poderiam ser contestados. As disciplinas eram tratadas isoladamente, desvinculadas dos interesses dos alunos e da realidade concreta (LIBÂNEO, 1994). Os métodos adotados eram a exposição oral e a reprodução de modelos. Assim, o ensino acontecia por meio da repetição, memorização e reprodução. O papel do professor e do aluno era estanque. O professor era o centro do processo educativo: ele era o detentor de todo o conhecimento historicamente acumulado, tendo a responsabilidade de transmitir os conteúdos aos alunos e prepará-los para assumir seus papéis na sociedade. Ao aluno, cabia apenas aprender os conteúdos; após a compreensão dos mesmos, cabia ao discente reproduzi-los tal qual lhes foram ensinados. “O professor tende a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida presente e futura” (LIBÂNEO, 1994, p. 64). O compromisso social dessa escola era a reprodução da cultura. Suas características eram marcadas pela disciplina rígida e castigos físicos. Possuía como finalidade ser uma instituição sistematizadora de uma cultura complexa que propicia, em seu seio, a apropriação do conhecimento por meio da transmissão dos saberes pelo professor e a confrontação de modelos de demonstração. A escola, nesse contexto, é uma reprodutora de modelos e coloca-se como único local em que se tem acesso ao conhecimento (BEHRENS, 2009). [...] a tendência liberal tradicional é caracterizada por dar ênfase ao ensino humanístico, de cultura geral. Segundo essa escola tradicional, o estudante é preparado para atingir sua plenitude através de seu próprio esforço. Dessa forma, as diferenças de classe social não são consideradas e toda a prática escolar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno. Cabe ao professor conduzir o processo e ao aluno receptivo, apenas memorizar o que foi passado para ele (MARQUES, 2012, p. 2). Seria impensável uma educação nesses moldes nos dias atuais, certo? Entretanto, a didática da tendência tradicional tem resistido ao tempo e continua sendo aplicada nas práticas escolares ainda hoje. INÍCIO DO REFLITA Apesar da tendência tradicional de ensino ter sido superada teoricamente há décadas, seus resquícios ainda se mantêm enraizados nas nossas práticas pedagógicas. Que atitudes podemos adotar para que essas práticas sejam modificadas? FIM DO REFLITA. Caro(a) aluno(a), não podemos dizer que tudo que foi utilizado na tendência tradicional deve ser desconsiderado e deixado para trás, pois algumas