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UNIVERSO GOIÂNIA ■ REVISÃO: PARTE GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO. ELIANE SIMONINI ASPECTOS INTRODUTÓRIOS: As sociedades já existiam na antiguidade, embora fossem reguladas pelo Direito Civil, tendo em vista que não se falava na possibilidade de uma disciplina autônoma para tratar do Direito Comercial; O contrato de sociedade estava previsto no Código de Hammurabi [1.772 a.C.] 243,(sem previsão de registro, personalidade jurídica e outros tratamentos mais sofisticados). Na Inglaterra durante a Revolução Industrial (século XVIII), surge a primeira sociedade criada com personalidade jurídica, a sociedade anônima. A limitação da responsabilidade dos investidores era o correspondente ao valor de suas ações. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS: No Brasil, o Código Comercial de 1850 não conceituou as sociedades comerciais; CC de 1916 trazia um conceito genérico de sociedade (art. 1.363): “celebram contrato de sociedade as pessoas que mutuamente se obrigam a combinar seus esforços ou recursos para lograr fins comuns”; No século XIX, na Alemanha, surgiu a sociedade limitada, atendendo aos anseios de investidores menores, em princípio; ASPECTOS INTRODUTÓRIOS: No Brasil, foi o Código Comercial de 1850 que primeiro disciplinou os tipos societários com personalidade jurídica, dentre eles a sociedade anônima; somente no século seguinte a sociedade limitada foi inaugurada em nosso país, na época pelo Decreto n. 3.708/1919. Atualmente, o C.C. em vigor trás o tratamento para as sociedades simples e empresárias, entre elas a Limitada. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS E NÃO EMPRESÁRIAS. Segundo o art. 44 do CC, uma das pessoas jurídicas de direito privado são as sociedades. Estas podem ser simples ou empresárias, conforme se depreende da análise do art. 982. Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Art. 44 C.C “São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) § 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. § 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código § 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados. SOCIEDADES SIMPLES E EMPRESÁRIAS Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresario sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. REGRA GERAL: definição da empresarialidade pelo OBJETO da sociedade (artigo 966): OBSERVAÇÕES: • S.A. e Comandita por ações sempre serão empresárias (art. 982, § único) • Soc. Cooperativas sempre consideradas simples (art. 982, § único) • Sociedades de advogados, sempre serão sociedades simples (art. 15 e 16, Lei 8.906/1994 – Estatuto da OAB). REQUISITOS GENÉRICOS: ELEMENTOS GERAIS: (art. 104 do CC): • Capacidade (art. 972 e 981 CC) • Objeto lícito (art.35, I e III, Lei 8.934/94) • Forma prescrita ou não defesa em lei (arts. 967-968 c/c 987): forma livre, escrita apenas para o gozo de certas vantagens (tributárias e mercantis). : REQUISITOS ESPECÍFICOS DO CONTRATO SOCIAL: ARTIGO 997: A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato. ELEMENTOS ESPECÍFICOS: A) CONTRIBUIÇÃO PARA O CAPITAL SOCIAL: ❖ Todos os sócios devem contribuir (art. 1.004, CC): capital social ≠ patrimônio. ❖ Possui três funções: formar o fundo patrimonial inicial, definir a participação de cada sócio e constituir o capital inicial. ❖ A contribuição deve ser feita em dinheiro, bens ou trabalho. NÃO se admite a contribuição em trabalho nas sociedades limitadas, nas sociedades anônimas e por parte dos sócios comanditários nas sociedades em comandita simples (art. 1.006, CC). ELEMENTOS ESPECÍFICOS: B) PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E NAS PERDAS: ❖Os resultados da atividade empresarial devem ser divididos entre os sócios. ❖A divisão deve ser proporcional ao n. de cotas (art. 1.008, CC . ❖Compete ao ato constitutivo da sociedade determinar a forma da divisão. ❖Em caso de silêncio, será feita conforme à participação no capital social. Personalidade jurídica. A criação da sociedade A sociedade, enquanto um acordo entre sócios, surge com o contrato (verbal ou escrito); no entanto, para que essa sociedade tenha existência própria e personalidade jurídica é indispensável atender ao que determina a lei. SOCIEDADES PERSONIFICADAS E NÃO PERSONIFICADAS: RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS Sociedades de responsabilidade limitada são aquelas em que os sócios não podem ser responsabilizados pelos prejuízos do negócio para além das suas cotas de participação. Portanto, a responsabilidade dos sócios é proporcional ao capital investido, mesmo que todos respondam solidariamente pelo capital total. Isso significa que o patrimônio social da empresa não se confunde com o patrimônio individual dos titulares, que fica protegido em caso de falência, débitos ou disputas judiciais da empresa. Por esse motivo, as sociedades limitadas são as mais comuns no Brasil. Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas. Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas. C. AFFECTIO SOCIETATIS A Affectio societatis ou bona fideis societatis é o elemento subjetivo, intencional, que denota a vontade, por parte do sócio, de contrair a sociedade. É o animus, a intenção, a vontade dos sócios, da união e da aceitação das normas de constituição e funcionamento da sociedade. Sua violação, pode dar causa à dissolução da sociedade. SOCIEDADES PERSONIFICADAS: A personalidadejurídica da “sociedade empresária” é adquirida com seu registro no Registro Público das Empresas Mercantis(Junta Comercial), e a “sociedade simples”, ao se registrar no Registro Civil das Pessoas Jurídicas(CC, art. 985 c/c arts. 45 e 1.150). As sociedades de advogados não são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, mas sim nas Seccionais daOAB (Lei n. 8.906/94, art. 15, § 1º). Desconsideração da personalidade jurídica: Constitui-se no afastamento da personalidade jurídica de uma sociedade. Dessa forma, desconsidera-se a personalidade jurídica para atingir o patrimônio pessoal de seus sócios quando a sociedade é utilizada como instrumento para a fraude, abuso de direito, for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados a consumidores, meio ambiente, ilicitudes, (falência, insolvência e encerramento irregular decorrentes de má administração - no sentido de irregularidade -, fraude, dolo). Está prevista em diversos diplomas, entre eles: O Código Civil , artigo 50; Código de Proteção e Defesa do Consumidor, art. 28; Código Tributário Nacional e a Lei de Execuções fiscais; A Consolidação das Leis do Trabalho; A Lei de Recuperação Judicial e Falência (Lei 11.101/05); CPC, entre outras. Sociedades despersonificadas: Conforme regula o código civil, são sociedades não personificadas as sociedades em comum, previstas pelos arts. 986 a 990 e as sociedades em conta de participação, reguladas pelos arts.991 ao 996. A sociedade não personificada é desprovida de personalidade jurídica, porque seu ato constitutivo não foi registrado no cartório competente A doutrina expõe que elas podem ser uma sociedade de fato ou irregular. As irregulares são as que nem possuem por si só a ato constitutivo, já as de fato são aquelas que não possuem registro na junta comercial, ambas ficarão sujeitas as sanções pela falta de registro no órgão competente. O código civil denomina sociedades irregulares ou de fato como “sociedade em comum. SOCIEDADE EM COMUM: artigos 986 a 990 do Código Civil. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto nestas regras, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum. SOCIEDADE EM COMUM: Artigas 986 a 990 do Código Civil. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer. Na sociedade em comum, todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024 do Código Civil, aquele que contratou pela sociedade. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO - SCP Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO - SCP O sócio ostensivo, na SCP, é aquele que realiza o objetivo social da sociedade em nome próprio e assume pessoalmente as obrigações e direitos do negócio, sendo, inclusive, responsável pela administração. O sócio oculto ou participante, apenas participa da sociedade sem praticar qualquer ato de administração ou gestão. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO - SCP ❖Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social. ❖A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito. ❖O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO - SCP ❖Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas obrigações em que intervier. ❖A contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo, patrimônio especial, objeto da conta de participação relativa aos negócios sociais. ❖A especialização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO - SCP ❖FALÊNCIA DO SÓCIO OSTENSIVO: A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário. ❖FALÊNCIA DO SÓCIO PARTICIPANTE: Falindo o sócio participante, o contrato social fica sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO - SCP ❖Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais. ❖Aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no que com ela for compatível, o disposto para a sociedade simples, e a sua liquidação rege-se pelas normas relativas à prestação de contas, na forma da lei processual. ❖Havendo mais de um sócio ostensivo, as respectivas contas serão prestadas e julgadas no mesmo processo. ADVERTÊNCIA: O presente material, constitui-se em mero roteiro de estudos de modo que, não esgota a matéria ou torna desnecessário o aprofundamento dos estudos em fontes doutrinárias diversa.