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PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE ROSANGELA ORO BROCARDO MODELO DIDÁTICO DE GÊNERO: UMA PROPOSTA METODOLÓGIC A PARA O ESTUDO DO GÊNERO TEXTUAL REPORTAGEM NUMA PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA Francisco Beltrão - Julho/2008 ROSANGELA ORO BROCARDO MODELO DIDÁTICO DE GÊNERO: UMA PROPOSTA METODOLÓGIC A PARA O ESTUDO DO GÊNERO TEXTUAL REPORTAGEM NUMA PERSPECTIVA SÓCIOINTERACIONISTA Produção Didático-Pedagógica, constituída na forma de Unidade Temática, apresentada como um dos requisitos do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional 2008/2009, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em parceria com a Secretaria de Tecnologia e Desenvolvimento. Orientadora: Profa. Dra. Terezinha da Conceição Costa-Hübes (UNIOESTE – Cascavel/PR) Francisco Beltrão - Julho/2008 1 A língua só tem existência no jogo que se joga na sociedade, na interlocução. E é no interior de seu funcionamento que se procura estabelecer as regras de tal jogo. João Wanderley Geraldi, In, O texto na sala de aula 2 SUMÁRIO 1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO 3 2 INTRODUÇÃO 3 3 CONCEPÇÃO DE GÊNERO SUAS PERSPECTIVAS DE ENCAMINHAMENTO EM SALA DE AULA 5 3.1 A esfera jornalística 12 4 METODOLOGIA DE ANÁLISE: MODELO DIDÁTICO DE GÊNERO COMO PRESSUPOSTO PARA A CONSTRUÇÃO DE SEQÜÊNCIAS D IDÁTICAS 15 4.1 Descrição do corpus da pesquisa e dos procedimentos de análise 18 5 ANÁLISE DO MODELO DIDÁTICO DO GÊNERO REPORTAGEM 18 5.1 Contextos Físico e Sócio-Subjetivo de Produção 19 5.2 Plano Discursivo 20 5.2.1 Definição e Estrutura da reportagem 20 5.3 Estilo Lingüístico 24 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 29 7 REFERÊNCIAS 31 8 ANEXOS 33 A - Tabelas contendo análise do Modelo Didático de Gênero 33 B - Corpus: Reportagens analisadas no Modelo Didáti co de Gênero 59 (imagens) C – Validação IES ( UNIOESTE) 78 3 PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: UNIDADE TEMÁTICA 1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Professora PDE: Rosangela Oro Brocardo Área: Língua Portuguesa NRE: Francisco Beltrão Professora Orientadora IES: Profa. Dra. Terezinha da Conceição Costa-Hübes IES vinculada: UNIOESTE – Cascavel Escola de Implementação: Colégio Estadual Mário de Andrade – EFMP – Francisco Beltrão Público objeto da intervenção: 2º ano do Ensino Médio Título: Modelo Didático de Gênero: uma proposta metodológi ca para o estudo do gênero textual reportagem numa perspectiva sociointeracionista. 2 INTRODUÇÃO A idéia de que os gêneros textuais se concretizam na sociedade a partir de seu uso, de que são definidos por ela, já se tornou um consenso, assim como a compreensão de que eles contribuem para organizar as atividades comunicativas, são flexíveis, variam de acordo com o mundo discursivo e a esfera a que pertencem. No entanto, mesmo com o aprofundamento teórico sobre o assunto, especialmente nas duas últimas décadas, ainda percebemos problemáticas, especialmente no que se refere à transposição didática dos gêneros textuais para a sala de aula. Nesse sentido, é interessante observarmos que a escola, mesmo que forçosamente, na tentativa de ensinar, aos alunos, a língua materna, sempre trabalhou com os gêneros, tendo em vista que toda prática de linguagem se situa na utilização destes. Diversos documentos como os PCNs (1998), por exemplo, 4 tentaram abordar a questão. Porém, o que observamos, tanto na prática escolar, quanto na teoria proposta, foram certos desvios quanto ao lugar que os gêneros deveriam tomar no contexto escolar. O que realmente fizemos foi utilizar o texto como pretexto, desprovido de qualquer relação com uma situação de comunicação autêntica, ou seja, artificializamos os gêneros. Diversos teóricos buscam pesquisar abordagens, meios de encontrar caminhos para isso. Mesmo com diferenças, esses pesquisadores guardam um traço em comum: a perspectiva de intervenção na educação imediata, gradativa. A questão reside no modo como isto é posto em prática, já que muitas são as formas de se trabalhar textos. Nesse momento, ao se propor uma construção participativa das Diretrizes Curriculares Estaduais (DCEs), as quais buscam ressaltar o papel dos gêneros textuais no ensino de língua materna, o que se percebe é que eles não somente se mostram como instrumento de toda comunicação, situação de interlocução, mas também como objeto de ensino/aprendizagem. Nesse momento, ao se propor uma construção participativa das Diretrizes Curriculares Estaduais, as quais buscam ressaltar o papel dos gêneros textuais no ensino de língua materna, o que se percebe é que eles não somente se mostram como instrumento de toda comunicação, situação de interlocução, mas também como objeto de ensino/aprendizagem. Diante disso, MARCUSCHI (2008) questiona o que pode oferecer a escola ao aluno, considerando que este já chega ali com uma capacidade comunicativa bem desenvolvida. A resposta, para ele, pode ser dada na medida em que se postula que a escola não ensina língua, mas usos da língua e formas não corriqueiras de comunicação escrita e oral. Nessa perspectiva, o trabalho em língua materna parte do enunciado e suas condições de produção para entender e bem produzir textos. Consideramos, então, que o trabalho com os gêneros na escola é o resultado de uma ação didática que, em primeiro plano, visa a dois objetivos de aprendizagem precisos: primeiro, trata-se reconhecer o gênero quanto a sua função social, ou seja, aos seus objetivos de produção e circulação, definindo, a partir daí, suas marcas para melhor utilizá-lo, dentro ou fora da escola; e, segundo, propiciar um encaminhamento pedagógico/metodológico que permita a progressão dos conhecimentos referentes ao gênero, transferíveis para outros, da mesma esfera ou não. Nesse sentido, o desenvolvimento do Modelo Didático de Gênero (MDG) 5 mostra-se como fundamental, tanto no sentido de se constituir como uma orientação para as intervenções dos professores, quanto ao fato de este delimitar as dimensões ensináveis, a partir das quais Seqüências Didáticas (SD) podem ser feitas. No sentido de aclarar essas questões e de encontrar caminhos para o trabalho com os gêneros na sala de aula, selecionamos, da esfera jornalística (dada a vasta diversidade de esferas e seus respectivos gêneros), o gênero Reportagem Impressa, buscando ampliar nosso conhecimento sobre suafunção social, seu contexto de produção, sua organização composicional, lançando um olhar, também, para suas marcas lingüísticas, por meio da construção de um MDG, imprescindível para que SD, que considerem o gênero em questão sejam adequadamente construídas. Com isso, pretendemos angariar maior subsídio para propor, aos professores, um encaminhamento teórico-metodológico para o trabalho com os gêneros textuais, em especial, a Reportagem. 3 CONCEPÇÃO DE GÊNERO E SUAS PERSPECTIVAS DE ENCAM INHAMENTO EM SALA DE AULA O estudo dos gêneros é muito antigo, porém concentrado inicialmente só na Literatura, cujo início deu-se com Platão e Aristóteles. Há pouco mais de 20 anos sai dessas fronteiras e vem para a Lingüística, observando especialmente perspectivas discursivas. Já no Brasil, só recentemente tem sido dada maior atenção às teorias de gênero (de textos/do discurso). Pelo menos em parte, isso se deve aos novos referenciais que diversos documentos, como os PCNs (1998), apresentaram, trazendo indicação dos gêneros como objeto de ensino, destacando a importância de considerarmos as peculiaridades destes no trabalho com a leitura, com a oralidade e com a escrita. Trata-se, então, de enfocar, em sala de aula, o contexto de produção/leitura, evidenciando as significações geradas mais que as propriedades formais. Passa-se a diminuir o enfoque meramente gramatical, normativo dos textos, para valorizar o estudo da situação de produção, do contexto e a circulação dos textos. Os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes a este ou aquele gênero. Desse modo, a noção 6 de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino (BRASIL, 1998, p. 23). Buscando encaminhar atividades que dessem conta do que se mostra proposto no documento, diversos materiais didáticos apresentaram tentativas de aplicabilidade das teorias ligadas aos gêneros, o que gerou, muitas vezes, uma confusão terminológica, que atualmente ainda se percebe em alguns materiais. Isto, aliado ao fato de que muitos professores não conseguiram (ou não quiseram) entender adequadamente essas mesmas teorias, o que levou, e ainda tem levado, a muitos encaminhamentos confusos, no que se refere ao trabalho com a Língua Portuguesa. Além disso, é preciso dizer que a confusão de nomenclatura, definição, classificação não é privilégio de autores de materiais didáticos e/ou de professores, pois observamos isso também com relação à literatura de referência, especialmente nas obras que expõem as teorias lingüísticas. Por isso, delimitaremos como caminho a ser estudado, os referenciais propostos pelo Interacionismo Sócio-discursivo, nas linhas traçadas por Bakhtin (1990, 2003), Marcuschi (2008) e Bronckart (1999), para citar alguns. Nesse sentido, na tentativa de resolver a confusão terminológica sobre o tema, adotamos, como conceito de texto, a definição proposta por Bronckart: “(...) chamamos de texto toda unidade de produção de linguagem situada, acabada e auto-suficiente (do ponto de vista da ação ou da comunicação)” (BRONCKART, 1999, p. 75), Todavia, para que essa definição seja perfeitamente compreensível, é necessário, antes de mais nada, que compreendamos o que são gêneros (textuais ou discursivos). Para isso, uma grande contribuição vem de Bakhtin e de outros pesquisadores que compartilham de sua visão, os quais chamam a atenção para o caráter mediador e organizador do uso que fazemos da linguagem. Todos os usuários de uma língua moldam sua fala às formas dos gêneros, e os reconhecem nos usos sociais. Assim, todo gênero se realiza em textos. Portanto, Quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa individualidade, refletimos de modo mais flexível e sutil a situação singular da comunicação; em suma, realizamos de modo mais acabado o nosso livre projeto de discurso. (BAKHTIN, 2003, p.285). 7 Sendo assim, os gêneros podem ser definidos como organização do discurso, tendo em vista diferentes fatores, tais como: a esfera na qual o discurso se organiza e na qual ele circulará, os interlocutores envolvidos no processo e os objetivos da interação. Tais fatores determinam o que, como e por que dizer, exigindo, do locutor, a seleção de um gênero textual que, por sua vez, revelar-se-á num texto, a materialidade do gênero. Portanto, estudar a linguagem, significa estudar os gêneros, considerados, por muitos pesquisadores como instrumento mediador dos estudos da linguagem. A idéia de que o gênero é um instrumento ao qual se referem diversos teóricos da atualidade tem seus princípios em Bakhtin (2003). Schneuwly resume a posição desse autor: - Cada esfera de troca social elabora tipos relativamente estáveis de enunciados: os gêneros; - Três elementos os caracterizam: conteúdo temático, estilo, construção composicional; - A escolha de um gênero se determina pela esfera, as necessidades da temática, o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou intenção do locutor (SCHNEUWLY, 2004, p. 25). Após explicitar cada um desses elementos definidor de gêneros, Schneuwly (idem) argumenta que a analogia entre gêneros e instrumentos está evidente na definição de Bakhtin. Porém, esclarece que é importante entender cada um dos itens apontados e explica: Há visivelmente um sujeito, o locutor-enunciador, que age discursivamente (falar/escrever), numa situação definida por uma série de parâmetros, com a ajuda de um instrumento que aqui é um gênero, um instrumento semiótico complexo, isto é, uma forma de linguagem prescritiva, que permite, a um só tempo, a produção e a compreensão de textos (Idem, p. 26-27). Uma vez ampliada a compreensão que temos de gênero e texto, cumpre-nos, também, esclarecer outro conceito que ultimamente tem gerado muito equívocos: a noção de tipo textual. Nesse sentido, entendemos que os conceitos de tipo textual e de gênero textual são diferentes, mas não excludente, já que este contém aquele. Marcuschi traduz essa distinção: - Tipo textual designa uma espécie de construção teórica (em geral uma seqüência subjacente aos textos) definida pela natureza lingüística de sua composição. (...) Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: 8 narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. O conjunto de categorias para designar tipos textuais é limitado e sem tendência a aumentar. - Gênero textual refere-se aos textos materializados em situações comunicativas recorrentes. São textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos. Em contraposição aos tipos, os gêneros são entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações diversas, constituindo em princípio listagens abertas (MARCUSCHI, 2008, p. 154). Assim, tipo textual e gênero textual devem ser encarados como aspectos constitutivos das situações comunicativas, numa relação de complementaridade. Nessa perspectiva, não se podem conceituar os gêneros independentemente de sua realidade social e de sua relação com as atividades humanas, nem classificá-los como modelos estanques, ou seja, “todas as nossas manifestações verbais mediante a língua se dão como textos e não como elementos lingüísticos isolados. Esses textos são enunciados no plano das ações sociais situadas e históricas” (MARCUSCHI, 2006, p. 25). Os gêneros desenvolvem-se de maneira dinâmica e, por isso, novos gêneros surgem como desmembramento de outros, conforme as necessidades ou a partir da decorrência das novas tecnologias de informação e de comunicação. Assim, os gêneros adaptam-se às finalidades,aos suportes, como por exemplo, o gênero email disponibilizado na internet, que surgiu do gênero carta. Diante disso, parece inviável que o processo de ensino-aprendizagem de língua materna focalize aspectos meramente comunicativos e informacionais, como ainda muitas vezes observamos, tanto no planejamento dos professores, quanto em diversos materiais didáticos (embora alguns afirmem seguir linha sociointeracionista). A competência discursiva de um falante está associada à sua capacidade de interagir com as formações sócio-discursivas existentes no mundo. Essa interação, segundo Bronckart (1999) se dá por meio de textos empíricos. Ele afirma: O texto singular ou empírico designa uma unidade concreta de produção de linguagem, que pertence a um gênero, composta por vários tipos de discurso, e que também apresenta os traços das decisões tomadas pelo produtor individual em função da sua situação de comunicação particular (BRONCKART, 1999, p.108). Assim, “é no processo de interação social que a palavra significa, o ato de fala é de natureza social” (BAKHTIN, 1999, p. 109). Isso implica dizer que os homens 9 não recebem a língua pronta para ser usada, eles “penetram na corrente da comunicação verbal; ou melhor, somente quando mergulham nessa corrente é que sua consciência desperta e começa a operar” (Idem, p. 108). Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais, Ensinar a língua materna, a partir dessa concepção, requer que se considerem os aspectos sociais e históricos em que o sujeito está inserido, bem como o contexto e produção do enunciado, uma vez que os seus significados são sociais e historicamente construídos (PARANÁ, 2008, p. 16). A palavra significa na relação com o outro, em seu contexto de produção: [...] Toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige a alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. (...) A palavra é território comum do locutor e do interlocutor (BAKHTIN, 1999, p. 113). A proposta de que os alunos se apropriam dos conhecimentos, tanto por meio da escrita, quanto da oralidade e da leitura, tem relação com os estudos relacionados ao letramento, entendido como a apropriação/conhecimento das inúmeras práticas sociais que integram a textualidade no mundo. Marcuschi concorda que: Os estudos sobre letramento investigam as práticas sociais que envolvem a escrita, seus usos, funções e efeitos sobre o indivíduo e a sociedade como um todo. Alguns dos resultados obtidos pelas pesquisas indicam que todos os usos lingüísticos são situados no tempo e no espaço e são a sedimentação das práticas sociais longamente desenvolvidas e testadas, as quais, se sedimentam na condição de estruturas chamadas gêneros.(...) Isso nos faz ver que o letramento não é único, mas há vários letramentos(...) relativos aos vários contextos sociais e culturais das sociedades em que aparecem. Assim, é que se tem letramento relativo ao contexto discursivo familiar, escolar, religioso, profissional e outros e não se pode falar de um sujeito iletrado. Se há tipos diferentes de letramento, só há sujeitos menos ou mais letrados, visto que em algum domínio discursivo ele terá mais práticas de letramento e, em outro, menos (MARCUSCHI, 2007, p. 39). Isto implica em entendermos a questão dos gêneros como instrumentos, objetos de estudo, do qual deve partir todo trabalho que envolva a textualidade, ampliando, gradativamente, pela progressão, o letramento dos alunos. 10 Quanto às atividades de linguagem, além do conhecimento de mundo, é necessário também, segundo Antunes (2007), que se conheçamos as muitas regras (ou regularidades) que especificam o que devemos fazer para organizar um texto, para lhe dar uma seqüência, para lhe atribuir uma continuidade e uma progressão, no sentido de estabelecer uma coerência. É preciso, assim, que saibamos selecionar as estratégias de interação que preferimos adotar com nosso interlocutor; que tipo de linguagem empregar; o que devemos explicitar e o que optamos por deixar implícito, ao pressupor o contexto ou os saberes do interlocutor que podem suprir o que não está dito; que tipo de texto (ou seqüência discursiva) e que gênero textual devemos escolher, de acordo com cada situação de uso da textualidade e suas respectivas especificidades. (...) Tudo é necessário para se entender ou para se fazer um relatório, um aviso, um convite, um artigo, um resumo, uma resenha, por exemplo, vai além da gramática e do léxico da língua. Ou seja, conhecimentos relativos à composição dos diferentes gêneros textuais são imprescindíveis para que possamos ser eficazes comunicativamente, até mesmo na hora da escolha dos padrões ou das regras tipicamente gramaticais (ANTUNES, 2007, p. 58-59). Além disso, ao assumirmos base teórica a perspectiva bakhtiniana, assumimos duas características dos enunciados: a dialogia e a polifonia. Aquela vê o texto não como um produto fechado, mas em suas relações com o contexto social, com os textos já lidos pelo leitor, com as ligações feitas com as diversas áreas do conhecimento; esta, nos leva a perceber que um texto não é constituído apenas na voz do escritor, mas repleto de outras vozes, o que constatamos na elaboração do Modelo Didático do Gênero (MDG) Reportagem Impressa analisado, como veremos. mais adiante. Cada gênero, por sua vez, necessita de um suporte que viabilize a sua circulação na sociedade. Entendemos como suporte de um gênero um lócus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto. Pode-se dizer que suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto (MARCUSCHI, 2008, p.174). Portanto, o suporte nada mais que a estrutura de base do texto, ou seja, aquilo que o carrega, que lhe dá sustentação. Como exemplo, podemos citar o 11 envelope como suporte da carta; o outdoor, o muro, o cartaz, a revista, o jornal, a camiseta, entre outros, como suportes de propagandas; a embalagem como suporte do rótulo etc. Por isso, uma vez selecionado o gênero textual, a reportagem jornalística impressa, coube-nos analisar, também, de que forma seu suporte, no caso, as revistas, define sua constituição, uma vez que “a idéia central é que o suporte não é neutro e o gênero não fica indiferente a ele. Mas ainda está por ser analisada a natureza e o alcance dessa interferência” (Idem). Assim, ao propormos uma metodologia que evita o trabalho com modelos pré- estabelecidos e abordagens apenas dos aspectos formais do texto, visamos ao aprimoramento lingüístico e discursivo dos alunos, a fim de que estes possam compreender melhor os discursos que os cercam e, a partir disso, possam interagir melhor com o mundo. Nesse sentido, nas Diretrizes Curriculares Estaduais afirma-se que: Para haver reflexão com e sobre a língua é necessário considerar, como ponto de partida, a dimensão dialógica da linguagem, presente em atividades que possibilitem, aos alunos e professores, experiências reais de uso da língua materna. Os conceitos de texto e de leitura não se restringem, aqui, à linguagem escrita: abrangem, além dos textos escritos e falados, a integração da linguagem verbal com outras linguagens (multiletramento) (PARANÁ, 2008, p. 17). Seguindo essa perspectiva, Costa-Hübes e Baumgärtner afirmam: O modo como ensinamos, as nossas ações na sala de aula são afetadas ideologicamente, pois a forma como concebemos o ensino de língua, as escolhas que fazemos em relação a materiais e métodos podem contribuir para a formação de homens críticos, ou de homens alienados, tendo em vista que as mesmas estão, inevitavelmente, apoiadas em concepçõesde homem, de sociedade, de linguagem, as quais incorporamos ao longo de nossa constituição sócio-histórica. Para interagir plenamente no mundo letrado, é preciso mais que o domínio do código. Requer que a linguagem seja tratada na sua perspectiva discursivo-enunciativa, em práticas sociais de leitura, de escrita e de fala (In. AMOP, 2007, p. 13). Tendo como base teórica as reflexões do Círculo de Bakhtin a respeito da linguagem, defendemos ainda que: A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica 12 isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua (BAKHTIN, 1999, p. 123). Assim, é preciso que delimitemos um meio para articular a situação de produção do gênero com a abordagem progressiva das capacidades de linguagem que um aluno deve adquirir, atrelados a um planejamento global do ensino da expressão oral e escrita. Cabe-nos, a partir dessa perspectiva, avaliar, também, até que ponto este instrumento se torna adequado para nossa realidade escolar, contribuindo para a formação de alunos mais críticos, capazes de interagir plenamente com a sociedade, ao tomar o gênero a partir de uma situação real de uso, não como prática de linguagem meramente fictícia. Antunes, sobre o trabalho com a textualidade em sala de aula, afirma: O texto não é a forma prioritária de se usar a língua. É a única forma. A forma necessária. Não tem outra. A gramática é constitutiva do texto, e o texto é constitutivo da atividade da linguagem. Sua exploração em sala de aula tem outras razões que deixar as aulas menos monótonas e mais motivadoras. Tudo o que nos deve interessar no estudo da língua culmina com a exploração das atividades textuais e discursivas (ANTUNES, 2007, p.130). Para isso, tendo como pressupostos as dificuldades encontradas pelos professores no que tange ao ensino da expressão oral/escrita, tomamos como tese a idéia de que a linguagem deve ser trabalhada sob a perspectiva sócio- interacionista, nos termos vygostkyanos e bakhtinianos, constituindo-se, como a base do trabalho, os gêneros discursivos e, mais especificamente, a reportagem jornalística impressa. 3.1 A esfera jornalística Muito se fala sobre os gêneros textuais expressos na esfera jornalística. Diversos materiais buscam encaminhá-los, mas o que observamos, muitas vezes, é uma incoerência entre o que se propõe a fazer, e o que, de fato, se expressa nos materiais didáticos. 13 Percebemos, que, em materiais como o Manual da Folha de São Paulo, embora citem o termo gênero, suas definições não dão conta de sua abrangência, nem de suas delimitações, mostrando que não é fácil apontar os limites dos gêneros do jornal, como, por exemplo, as fronteiras exatas entre a notícia e a reportagem. Definem-se, em sua maioria, como meros normatizadores quanto ao modo como o trabalho normalmente deve ocorrer nos jornais e revistas. Assim, o objeto de estudo dessa pesquisa, a reportagem jornalística impressa, necessita de maiores esclarecimentos sobre muitas questões: qual é, afinal, sua função social, o que a caracteriza como tal? Quais as suas formas de apresentação nas revistas e jornais? Como nela se desenvolve a polifonia? Que relação se estabelece com as variantes do gênero? Quais marcas lingüísticas lhe são características? Qual sua relação com a esfera, o mundo discursivo, ao qual pertence. Para Baltar, A reportagem é o gênero mais complexo e mais elaborado do jornalismo. Envolve coleta minuciosa de dados, entrevistas, consulta a outras mídias como rádio, TV e internet. Predominam os tipos de discurso do mundo do narrar: narração e o relato interativo, com seqüências narrativas, descritivas e dialogais (BALTAR, 2004, p. 132). Observamos, ainda, que muitas vezes o gênero reportagem assume caráter híbrido, já que sua composição absorve ou utiliza-se de vários outros gêneros, como a entrevista, o gráfico, a charge, etc. O enunciado está repleto de ecos e lembranças de outros enunciados, aos quais está vinculado no interior de uma esfera comum de comunicação verbal, (...) refuta-os, confirma-os, completa- os, baseia-se neles, supõe-nos conhecidos e, de um modo ou de outro, conta com eles (BAKHTIN, 2003, p.316). Notamos, assim, que todo gênero se vincula a uma determinada esfera. No caso da reportagem, pertence à esfera jornalística, fundamental no que se refere à produção deste tipo de enunciado, uma vez que determina as condições da situação de interação, constitutiva do gênero. Ao se estabelecer a vinculação dos enunciados ao contexto histórico, por meio da relação dialógica com outros enunciados, 14 explícitos ou não, consideramos, como fundamental, os encaminhamentos das práticas de leitura deste gênero textual/discursivo, além de tantos outros existentes. Como afirma ainda BAKHTIN, (...) a riqueza e diversidade dos gêneros discursivos é imensa, porque as possibilidades da atividade humana são inesgotáveis e porque em cada esfera da práxis existe todo um repertório de gêneros discursivos que se diferencia e cresce à medida que se desenvolve e se complexifica a própria esfera (Idem, p.248). Porém, salientamos que, o interessante, no trabalho com os gêneros na sala de aula, não é quantidade abordada, e sim, a qualidade com que cada um deles é explorado e trabalhado com os alunos. É importante que conheçam uma diversidade de gênero, mas que a cada um seja dado o tratamento necessário para seu reconhecimento e uso na sociedade. Quanto maior o conhecimento dessas formas discursivas maior a liberdade de uso dos gêneros: isso também é manifestação de uma postura ativa do usuário da língua para efeitos comunicativos e expressivos. (...) É isso que confere ao gênero discursivo o caráter não de uma forma lingüística, mas de uma forma enunciativa que depende muito mais do contexto comunicativo e da cultura do que a própria palavra (MACHADO, 2005, p.158). Assim, faz-se necessário observar que, de acordo com a situação de uso, a esfera discursiva na qual o gênero textual se situa, se determinam os aspectos constitutivos deste. No caso do suporte do gênero reportagem impressa, a revistas, algo semelhante ocorre. Percebemos que, de acordo com o público-alvo que o locutor pretende atingir, este opta por estilos diferenciados, influenciando na escolha do lexico, dos modalizadores, entre outros. Para melhor compreender, torna-se fundamental o estudo de como o gênero se situa, se caracteriza e sua relação com a esfera discursiva a que pertence, o que podem ser analisados a partir da construção de Modelo Didático de Gênero, conforme se explicita a seguir. 15 4 METODOLOGIA DE ANÁLISE: MODELO DIDÁTICO DE GÊNERO COMO PRESSUPOSTO PARA A CONSTRUÇÃO DE SEQÜÊNCIAS DIDÁTIC AS A construção do Modelo Didático do Gênero Reportagem Impressa colabora no sentido de avaliar a forma como este se constitui, apresenta-se em seu contexto de uso, em sua esfera de circulação. Além disso, permite, maior reflexão sobre ele, e uma melhor orientação para sua transposição didática, como base para a elaboração de Seqüência Didática sobre o tema, já que fornece critérios para a seleção, a elaboração deste material didático em função das reais necessidades do contexto em que será utilizado. Assim, uma das possibilidades de aprofundamento sobre determinado gênero, a fim de possibilitar sua transposição didática, é a elaboração de seqüências didáticas (SD), uma vez que trata-se de um procedimento metodológico que propõe uma maneira precisa de trabalhá-lo em sala de aula. Quanto a este procedimento metodológico, Dolz, Noverraz e Schneuwlydefinem ser “um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004, p.97). Inicia-se, normalmente, pela apresentação da situação, detalhando as tarefas que os alunos realizarão, seguidas pela produção de um texto inicial, o qual servirá de referência para o professor identificar os encaminhamentos que deverá seguir. Tendo em vista o levantamento das principais dificuldades feito a partir dos textos dos alunos, em seguida parte-se para os módulos de atividades diversificadas, os quais contemplarão os diversos elementos constituintes do gênero abordado. A SD é finalizada com outra produção, a qual dará ao aluno a oportunidade de rever a produção inicial e expor o que foi trabalhado nos módulos. A avaliação, dessa forma, constitui-se como somativa, uma vez que leva em consideração todo o processo desenvolvido ao longo da seqüência, a qual é aplicável tanto ao trabalho com a escrita, quanto com a expressão oral. O procedimento evita uma abordagem “impressionista” de visitação. Ao contrário, este se inscreve numa perspectiva construtivista, interacionista e social que supõe a realização de atividades intencionais, estruturadas e intensivas que devem adaptar-se às necessidades particulares dos diferentes grupos de aprendizes (Idem, 2004, p. 110) 16 Para melhor organizar as SD e selecionar adequadamente os gêneros com os quais se pretende trabalhar, os autores afirmam que os gêneros podem ser agrupados em função de regularidades lingüísticas e de transferências possíveis, segundo capacidades de linguagem dominantes, como mostra o quadro (resumido) abaixo: DOMÍNIOS SOCIAIS DE COMUNICAÇÃO CAPACIDADES DE LINGUAGEM DOMINANTES EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS Cultura literária ficcional NARRAR Mimeses da ação através da criação de intriga Fábula Lenda Conto Documentação e memorização de ações humanas RELATAR Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo Testemunho Notícia Reportagem Ensaio biográfico Discussão de problemas sociais controversos ARGUMENTAR Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição Texto de opinião Carta do leitor Carta de reclamação Debate regrado Transmissão e construção de saberes EXPOR Apresentação textual de diferentes formas dos saberes Seminário Conferência Relatório científico Instruções e prescrições DESCREVER AÇÕES Regulação mútua de comportamentos Receita Regulamento Instruções Fonte: SCHNEUWLY, NOVERRAZ e DOLZ (2004, p. 121) Nesse sentido, ao tomarem conhecimento das especificidades de um gênero, os alunos poderão transferir essas capacidades aos outros gêneros pertencentes ao mesmo agrupamento. Porém, cabe ressaltarmos que, para que as SD sejam bem constituídas, é imprescindível que se tenha em mente uma visão global do gênero, objeto de estudo a ser trabalhado nela. Em outras palavras, pressupõe-se que, mesmo que uma SD não venha a contemplar todos os aspectos que compõem um gênero textual, o que é comum, é importante que haja um conhecimento prévio, por parte de seu organizador, de tudo o que compõe aquele gênero, mesmo que este se mostre, de certa forma, inconstante, mutável, o que é de se esperar, uma vez que o gênero trabalhado na escola é sempre uma variação do gênero de referência, assim como este se mostra relativamente estável. Como descrever essa variação? Nesse sentido, faz-se de suma importância, se não a consulta a Modelos Didáticos do Gênero já disponíveis, a elaboração 17 prévia destes, nos moldes propostos por Schneuwly e Dolz, a fim de guiar, de verificar se o que é proposto na SD apresenta, de fato, encaminhamento adequado, permitindo, com isso, uma progressão no que se refere ao trabalho com as marcas do gênero. Segundo estes autores, (...) num Modelo Didático de Gênero, trata-se de explicitar o conhecimento implícito do gênero, referindo-se aos saberes formulados, tanto no domínio da pesquisa científica quanto pelos especialistas. (...) Um modelo didático apresenta, então, em resumo, duas grandes características: 1. ele se constitui uma síntese com objetivo prático, destinada a orientar as intervenções dos professores; 2. ele evidencia as dimensões ensináveis, com base nas quais diversas seqüências didáticas podem ser concebidas (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004, p. 82). Segundo Machado e Cristõvão (2006), a construção do Modelo Didático de Gênero implica a análise de um conjunto de textos, reconhecidos como pertencentes ao gênero, considerando-se, no mínimo, os seguintes elementos: a) as características da situação de produção (quem é o emissor, em que papel social se encontra, a quem se dirige, em que papel se encontra o receptor, em que local é produzido, em qual instituição social se produz e circula, em que momento, em qual suporte, com qual objetivo, em que tipo de linguagem, qual é a atividade não verbal a que se relaciona, qual o valor social que lhe é atribuído etc.); b) os conteúdos típicos do gênero; c) as diferentes formas de mobilizar esses conteúdos; d) a construção composicional característica do gênero, ou seja, o plano global mais comum que organiza seus conteúdos; e) o seu estilo particular, ou, em outras palavras: - as configurações específicas de unidades de linguagem que se constituem como traços da posição enunciativa do enunciador: (presença/ausência de pronomes pessoais de primeira e segunda pessoa, dêiticos, tempos verbais, modalizadores, inserção de vozes); - as seqüências textuais e os tipos de discurso predominantes e subordinados que caracterizam o gênero; - as características dos mecanismos de coesão nominal e verbal; - as características dos mecanismos de conexão; - as características dos períodos; - as características lexicais (MACHADO e CRISTÕVÃO, 2006, p. 11-12). Seguindo esta orientação (com algumas pequenas adaptações), procedemos à análise do gênero Reportagem Impressa, sobre a qual discorremos em seguida. 18 4.1 Descrição do corpus da pesquisa e dos procedimentos de análise Foram selecionadas, para a construção do Modelo Didático do Gênero Reportagem Impressa, 10 reportagens de diferentes revistas, as quais apresentavam público-alvo bastante diverso. Isto permitiu avaliar mais amplamente de que forma o suporte influencia no estilo escolhido pelo locutor, nas escolhas lexicais, nas marcas lingüísticas, uma vez que este seleciona diferentes estratégias, de acordo com o interlocutor que pretende atingir. O quadro resumido abaixo explicita a delimitação do corpus da pesquisa, o qual serviu como base para a constatação das marcas características do referido gênero, partindo de sua situação real de uso (ver quadros completos no anexo A). Texto Título da Reportagem Autor/Locutor Veículo/Revista Momento de Produção 1 Agora nem mais um gole Fel Mendes Revista Galileu Especial Vestibular outubro de 2009 2 Correr Rejuvenesce Cilene Pereira Revista Istoé 20/08/2008 3 Biblioteca Íntima Leandro Quintanilha Revista Vida Simples outubro/2008 4 Aula de Sabor Amanda Polato Revista Nova Escola Setembro/2008 5 Todas as palavras de Machado de Assis Repórter da revista (não há referência) Revista Língua Portuguesa Setembro/2008 6 Um brinde ao vinho Texto: Kátia Stringueto Reportagem Fotográfica: Camile Comandini Fotos: Eduardo Delfim Revista Bons Fluidos Julho/2005 7 Há semelhança com a crise de 29? Octávio Costa Revista Istoé 08/10/08 8 O fim do sofrimento no dentista? Elis Magarotto Revista SuperInteressante Agosto/2008 9 Educação Sexual funciona? Texto:Diogo Sponchiatto Design: Eder Redder Fotos: Eduardo Svezia Revista Saúde! É vital. Março/2008 10 A vez dos casais sem filhos Ausência de autoria da reportagem Revista da Semana 02/10/085. ANÁLISE DO MODELO DIDÁTICO DO GÊNERO REPORTAGEM IMPRESSA Quanto à constituição propriamente dita do Modelo Didático de Gênero e os critérios selecionados para análise, temos em vista que toda produção lingüística é 19 uma ação social situada, utilizada por indivíduos em formações sociais específicas, conforme pressupostos teóricos propostos por Bronckart (2003), e, posteriormente, analisado por Baltar (2004). Nesse sentido, as tabelas 01 e 02 do MDG buscaram analisar a situação de ação da linguagem, as propriedades dos mundos formais (físico, social e subjetivo) que influenciam (norteiam?) a produção do gênero discursivo reportagem. Sobre o quadro 2, cabe ressaltar ainda que se trata de analisar também a infra-estrutura geral de um texto: diante de um quadro contextual, o locutor seleciona estratégias diferenciadas de acordo com a situação de linguagem em que ele está inserido, com o conteúdo que deseja abordar, com os parâmetros dos mundos físico e sociosubjetivo. Define-se, dessa forma, o gênero discursivo , determinado, articulando os tipos de discursos, organizados através de seqüências textuais. Bronckart (2003) chama isso de folhado textual, “aspectos que tramam a organização dos textos”. (Baltar, 2004, p. 72) Já o terceiro quadro refere-se à análise de recursos como modalizadores, dêiticos, utilização de elementos coesivos, tanto referenciais, quanto seqüenciais, escolha de tempos verbais, lexicais, dentre outros itens que estabelecem relações com a intencionalidade do locutor e a constituição do gênero, sua circulação. 5.1 Contextos Físico e Sócio-Subjetivo de Produção Observamos, na análise, que o lugar de produção em si não apresenta tanta relevância, influência, em relação às temáticas abordadas nos textos. O que ganha maior relevo, diz respeito muito mais ao momento de produção (o contexto histórico imediato) das reportagens. Os locutores, normalmente repórteres das revistas (suporte do gênero em questão), buscam selecionar temas que contemplem, ou temáticas relacionadas a fatos da atualidade, ou assuntos gerais, atemporais, mas de interesse constante por parte do público-alvo (interlocutores). Por meio da análise comparativa de reportagens de diferentes revistas, constatamos que, de acordo com o público-alvo, o locutor seleciona estratégias, mecanismos lingüísticos diferenciados. Isto se mostra na escolha lexical, nos níveis de linguagem, na consideração da posição social do interlocutor, buscando contemplar expectativas deste, denunciando intencionalidades. Tanto o lugar, quanto o momento de interação aos quais as reportagens remetem, representam fatores determinantes de seu conteúdo, dos argumentos 20 utilizados pelo locutor, tendo em vista os efeitos que deseja produzir sobre seu interlocutor. Nesse sentido, concordamos com Baltar: Há que se levar em conta a situação de ação de linguagem, ou seja, as propriedades dos mundos formais (físico, social, subjetivo) que exercem influência sobre a produção textual. (...) Para produzir um texto, um agente deverá mobilizar algumas de suas representações sobre esses mundos em dois parâmetros distintos: o contexto de produção e o conteúdo temático do texto que ele quer produzir. Ele deve ter noção do contexto: em que situação de interação ou de comunicação ele está. Esses conhecimentos vão exercer papel decisivo nas tomadas de decisão sobre a organização de um texto (BALTAR, 2004, p. 68-69). Com relação ao contexto físico, ainda, cabe-nos ressaltar o papel do suporte e sua influência sobre a constituição do gênero. Nesse sentido, observamos, nas reportagens analisadas, que estas não se mostram indiferentes ao suporte em que circulam. Portanto este define, de certa forma, o formato do gênero, ao privilegiar estratégias, preferências estilísticas utilizadas na constituição do texto. 5.2 Plano Discursivo 5.2.1 Definição e Estrutura da reportagem Sendo a reportagem um gênero textual da esfera jornalística, que apresenta grande abertura quanto a temáticas e formatos, constitui-se como um objeto de estudo interessante a ser trabalhado em sala de aula. A abertura para um espaço de discussão sobre o discurso jornalístico, sua constituição, suas marcas e estratégias certamente contribuirá para a formação de cidadãos mais críticos. O objetivo básico deste gênero se constitui no propósito de trazer informações atualizadas e detalhadas sobre fatos, acontecimentos, temas ou sobre personalidades de interesse do público-alvo do veículo de comunicação, no caso, da revista. Porém, observamos que este gênero objetiva implicitamente, muitas vezes, formar a opinião dos interlocutores a respeito de determinado assunto, o que foi possível determinar na análise da utilização de modalizadores por parte do locutor. 21 As reportagens, quanto à sua estrutura, de um modo geral, podem conter os seguintes componentes: Baltar tece considerações sobre a reportagem: É o gênero mais complexo e mais elaborado do jornalismo. (...) Predominam os tipos de discurso do mundo do narrar: narração e o relato interativo, com seqüências narrativas, descritivas e dialogais. (...) Envolve coleta minuciosa de dados, entrevistas, consultas a outras mídias como rádio, tevê e internet (BALTAR, 2004, p.132). A fim de exemplificar de que forma este gênero normalmente se constitui, citamos a reportagem abaixo (para mais detalhes, consultar no MDG, reportagem nº10, Anexo A): BOXE: Tabela + linguagem não-verbal TÍTULO SUBTÍTULO OU GRAVATA L E A D BOXE: Tabela + linguagem não-verbal TÍTULO SUBTÍTULO OU GRAVATA L E A D Fonte: Revista da Semana, 02/10/08, reportagem: A vez dos casais sem filhos 1-Títulos : há implícita uma função apelativa com a finalidade de chamar a atenção do leitor. 2-Subtítulos (ou gravatas): são as linhas colocadas abaixo do título que têm a função de completar o título e de apresentar, de maneira resumida, o assunto. 3-Olho: recurso gráfico no qual é retida uma frase de efeito ou impactante e é colocada em destaque, entre aspas, dentro de um pequeno boxe ou espaço e em meio às colunas em que são escritas as reportagens. 4-Lead : relato inicial do texto, devendo informar o que é mais importante e não o mais interessante. 5-Boxes : caixa de texto diferenciada pela cor e que ganha destaque por utilizar textos combinados com tabelas, gráficos ou fotos referenciando-se ao assunto (combinação entre linguagem verbal e não-verbal ou referência a outros textos de diferentes gêneros textuais). 22 Notamos, no caso da reportagem acima, que em seu suporte, ao observar que seu público-alvo apresenta a preferência por textos mais concisos, apresentam reportagens com tal característica. Na esquematização abaixo, procuramos explicitar melhor algumas das relações gerais que se estabelecem na constituição do gênero textual referido, tomando essa reportagem como base: Faz-se necessário observarmos, com base no exposto acima, que merece maior reflexão as influências mútuas entre os gêneros e seus suportes. O que se revela é que os gêneros não são indiferentes nos diversos suportes possíveis, nem imunes a eles, assim como a percepção das influências do momento histórico e da relação entre locutor/interlocutor se fazem como imprescindíveis para uma melhor compreensão do sentido global do texto. Na construção do MDG da reportagem impressa, observamos, também, que na grande maioria dos textos analisados, há predominância da seqüência discursiva/textual narrativa (conforme exemplificado na reportagem acima), porém, a presença de outros tipos de seqüências é recorrente. Nesse sentido, Baltar concorda que “(...) há uma maioria de textos heterogêneos, compostos por mais de um tipo de discurso/modalidade discursiva, em que um tipo está em relação de predomínio e outro, ou outros tipos, em relação de subordinação”(BALTAR, 2004, p.72) É o caso desse gênero que, em geral, apresenta diferentes seqüências discursivas/textuais em sua constituição. Há, no entanto, como se observa nos JORNALISTICA [esfera] REVISTA DA SEMANA (suporte) O LUGAR/MOMENTO HISTÓRICO DA INTERAÇÃO: Brasil, EUA, momento em que analisam dados que tratam do aumento considerável do nº de casais sem filhos. REPORTAGEM JORNALÍSTICA IMPRESSA (gênero): A vez dos casais sem filhos LOCUTOR: Jornalista da Revista da Semana. INTERLOCUTORES Pessoas interessadas em obter informações atuais de forma concisa. O LUGAR SOCIAL DA INTERAÇÃO: Escolas, residências, ambientes comerciais SEQÜÊNCIA DISCURSIVA/TEXTUAL PREDOMINANTE: narrativa 23 resultados do MDG, a predominância da narrativa, aliada, em segundo plano, às seqüências argumentativas. A tendência à utilização do relato, no que se refere ao tipo de discurso, é previsível, uma vez que este gênero revela marcas do mundo atual, ou seja, do contexto físico de produção. O locutor não narra um fato fictício (se assim fosse seria narração), mas discorre sobre fatos reais, que fazem parte da situação social em curso. Normalmente, como se comprova na construção do MDG, e já exemplificado anteriormente, inicia-se por um lead narrativo (primeiro parágrafo ou, às vezes, na forma de uma gravata, subtítulo, box), aproximando-se, dessa forma, do gênero notícia, diferenciando-se desta, porém, pelo fato de a reportagem aprofundar-se na análise do tema, apoiada em dados, fatos, fontes, discursos de autoridade, que lhe conferem maior fundamentação. Difere da notícia, então, em relação ao enfoque do conteúdo, extensão, abrangência e profundidade. É interessante notarmos, porém, que alguns suportes optam por produzir reportagens mais breves, tendo em vista seu público-alvo (interlocutor), o qual busca, nesse veículo de comunicação específico, maior concisão, devido à falta de tempo, dentre outros motivos. Ainda sobre a estrutura da reportagem, destacamos que, cada vez mais, há influência das inovações quanto à diagramação, formas de distribuição dos textos nas páginas. Comumentemente, este gênero textual se caracteriza por uma certa hibridização, ao se valer de outros gêneros como a inserção de tabelas, colunas explicativas, entrevistas, infográficos, entre outros. Embora estes sejam utilizados como recursos que colaboram na progressão temática em questão, apresentam características próprias do gênero original. Isso nos leva a concluir que a reportagem, ao se valer dessa estratégia, busca ampliar os conhecimentos do interlocutor específico, fazendo com que produza inferências, determinando um posicionamento crítico, em função da abrangência com que os dados são relatados. Quanto às formas de intitular e/ou legendar as reportagens, em muitos textos há recorrência a uma linguagem de caráter mais conotativo, ambíguo, quando não irônico, humorado, conforme as pretensões interacionais escolhidas pelo locutor, tendo em vista a expectativa do interlocutor específico em relação ao conteúdo esperado. Podemos citar como exemplos disso: Agora nem mais um gole, título da reportagem nº1; Aula de Sabor, título da reportagem nº 04. 24 Nesse sentido, ainda, a própria opção pela utilização de fotos, imagens, cores, caracteriza este gênero, também, como multimodal, ao unir a linguagem verbal e a não-verbal, conforme será melhor explicitado a seguir. 5.3 Estilo Lingüístico Como a reportagem pertence ao mundo discursivo do narrar, conjunto (por revelar marcas de implicação), apresenta, conforme observamos na análise do corpus (vide anexo B), a predominância dos verbos no Presente do Indicativo e no Pretérito Perfeito do Indicativo (simples). Notamos, assim, que o locutor utiliza mais intensamente, de acordo com sua intenção de promover a continuidade e a progressão temática de uma seqüência narrativa, verbos no pretérito perfeito, quando pretende sinalizar o fim de um estado de expectativa, e, verbos no presente do indicativo, para indicar um tempo que pressupõe estabilidade. Essas escolhas justificam-se, conforme o que se pretende sinalizar, ou seja, a intencionalidade do locutor em relação aos efeitos que deseja causar no interlocutor. Para Koch: A recorrência de tempo verbal tem função coesiva, indicando ao leitor/ouvinte que se trata de uma seqüência de comentário ou de relato, de perspectiva retrospectiva ou zero, ou ainda, de primeiro ou segundo plano, no relato (KOCH, 2008, p. 58). Outro aspecto que detectamos, diz respeito, praticamente, à ausência da utilização de pronomes de 1ª ou de 2ª pessoa. Quando isto aparece nas reportagens, estão inseridos nos discursos diretos, depoimentos, utilizados como estratégia argumentativa (discurso de autoridade). Ao optar por isso, entendemos que o locutor pretende marcar uma certa impessoalidade ao texto, no sentido de estabelecer uma “veracidade” aos fatos detalhados, o que se faz, de certa forma, também como elemento modalizador. Além disso, a utilização freqüente de discursos diretos na manifestação das muitas vozes que constam no gênero reportagem fazem com que ele se constitua como um texto polifônico. Segundo Bezerra, “a polifonia se define pela convivência e pela interação, em um mesmo espaço, (...) de uma multiplicidade de vozes e consciências independentes, (...) todas representantes de um determinado universo e marcadas pelas peculiaridades desse universo.” (BEZERRA, 2005, p.194). É interessante observar, porém, que, embora essas vozes sejam sujeitas de seus 25 próprios discursos, mostram-se, a partir da utilização do locutor da reportagem, como um recurso argumentativo. Nesse sentido, “o que caracteriza a polifonia é a posição do autor como regente de coro de vozes que participam do processo dialógico” (Idem). Constatamos, também, em diversas reportagens, o uso de figuras de linguagem, de certas expressões com valor conotativo, irônico, o que demonstra uma intencionalidade por parte do repórter em causar um efeito de descontração, buscando que o leitor se sinta instigado a continuar a leitura. Ainda, em alguns textos, há referências explícitas ao interlocutor (“você”), o que pode ser interpretado como um discurso pretensamente interativo, no sentido de buscar, por meio de uma “aproximação” entre locutor/interlocutor, certa adesão ao tema relatado. Durante a construção do MDG, verificamos a utilização intensa de expressões que revelavam a posição do locutor em relação ao que se dizia, expressões as quais são denominadas, pela Análise do Discurso, de modalizadores. No trecho “Mas, segundo os especialistas, a educação sexual ainda deixa a desejar” (reportagem nº 9, anexo B), as expressões mas e ainda classificam-se como modalizadores ao se mostrarem como uma tentativa de induzir o leitor, no sentido de determinar o posicionamento deste. Estas expressões exercem, dessa forma, função argumentativa, isto é, orientam os enunciados em que figuram para determinadas conclusões. Classificam-se, assim, como mais do que simples elementos coesivos. Sobre as formas de coesão verificadas nos textos, notamos a utilização da elipse de maneira intensa, como forma de manutenção do tópico em foco. Além disso, o uso de paráfrases, cadeia de sinônimos, hiperônimos, associação semântica entre as palavras, caracterizam-se como recursos utilizados com a finalidade de manutenção temática, progressão desta, ou até mesmo como forma de modalização, ao promover a retomada constante das mesmas idéias. Um exemplo de como isso ocorre nos textos pode ser analisado considerando sua utilização na reportagem nº 06 Um brinde ao vinho. Nela, termo vinho é retomado durante o texto através da utilização de diversos termos, como: a bebida; néctar eleito pelos deuses; esse líquido púrpura ou branco; mais um presente dos céus; tinto respeitável,dentre outras formas. (para mais detalhes, consultar no MDG, reportagem nº06, Anexo A) Já a função das conjunções, preposições, advérbios, pronomes, articulando a coesão seqüencial e referencial nas reportagens, se mostra a partir da sua utilização 26 em períodos normalmente breves, de forma a facilitar a compreensão imediata do conteúdo. Destacamos, além de diversos outros conectivos, o uso recorrente da conjunção aditiva “e” e do pronome relativo “que”. O efeito disso se mostra na construção de frases bem elaboradas, mas que primam pelo tom de simplicidade, coloquialidade, de acordo com as intenções do locutor e com a esfera de circulação da revista. Uma análise também poderia ser feita em relação à forma recorrente da utilização do termo “se”, como expressão que indetermina o sujeito, ocorrida em passagens nos textos analisados. Ou, ainda, cabe citar a quase nula utilização de pronomes de primeira pessoa (exceto nos discursos diretos). Essas opções podem indicar que o que é dito, relatado, afirmado, não são opiniões particulares de quem fala (locutor); são idéias definidas como verdades. Estabelece-se, então, uma relação entre a escolha léxico-gramatical e os efeitos discursivos que o locutor pretende atingir. (para mais detalhes, consultar MDG, Anexo A) A preferência por parágrafos relativamente curtos, mostra-se como uma tendência à aceitação (exigência?) dos interlocutores por textos mais concisos, simples, dado o curto espaço de tempo que uma grande parcela destina à leitura de reportagem impressa. Com efeito, o que observamos é uma tendência adotada por alguns suportes por privilegiar/disponibilizar reportagens, muitas vezes, com caráter mais breve. Isto causa, conseqüentemente, uma aproximação entre as fronteiras da notícia e da reportagem. Reportagem: Consideramos reportagens em nossos jornais escolares matérias que, em forma de notícia, tiveram um tratamento diferenciado. (...) Notícia é o gênero básico do jornalismo, em que se relata um fato cotidiano considerado relevante, mas sem opinião. É um gênero genuinamente informativo, em que, em princípio, não se posiciona, pois o que vale é o fato (BALTAR, 2004, p.132-133). Dessa forma, confirmamos, como citado anteriormente, que a reportagem apresenta um caráter de aprofundamento da notícia, podendo, ainda, apresentar, implícita ou explicitamente, posicionamento por parte do locutor. Isto se comprova, por exemplo, na reportagem nº 10.(para mais detalhes, consultar no MDG, reportagem nº10, Anexo A) Em geral, o vocabulário utilizado nos textos pode ser analisado em função do gênero e das finalidades pretendidas. Nas reportagens, raramente encontramos termos demasiado eruditos, técnicos, científicos (a não ser as que circulam em 27 suportes específicos dessas áreas), restritos demais. A linguagem escolhida normalmente não corresponde a usos informais de conversa coloquial (exceto quando a reportagem apresentada em suporte específico, tem como público-alvo, interlocutores que exigem essa linguagem). A opção por parágrafos relativamente curtos na grande maioria dos textos analisados, assim como a preferência por frases mais simples, períodos não muito complexos, mostra-se como uma forma de manter a atenção do interlocutor ( ou exigência deste?). Ainda em relação à utilização de recursos coesivos referenciais, observamos a predominância de mecanismos de referência, em sua grande maioria, anafóricos. Veja exemplo, presente na reportagem nº 04: “(...) as merendeiras montavam o prato dos pequenos, um por um. Com a instalação da pista de alimentação, elas e as professoras ensinam a garotada a colocar nos pratos de vidro, a quantidade que realmente vai comer, sem derrubar nada no chão.” (para mais detalhes, consultar no MDG, reportagem nº04, Anexo A) Quanto aos recursos de coesão seqüencial, que diz respeito aos procedimentos lingüísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas, à medida que faz o texto progredir, observamos a recorrência, dentre outras expressões, à utilização de conjunções aditivas, utilizadas no sentido de somar argumentos/idéias/fatos a favor de determinada conclusão. Observa-se, em alguns casos, que a utilização de elementos como o termo também, utilizado na reportagem nº 02, por exemplo: “Também não foram observados grandes prejuízos às articulações daqueles que corriam.” Sua utilização se mostra muito além do que mero recurso que dá seqüência ao que é dito. Este e outros recursos coesivos se apresentam em alguns textos com função argumentativa, isto é, orientam os enunciados em função de determinada conclusão. São chamados modalizadores ou operadores argumentativos (para mais detalhes, consultar no MDG, reportagem nº02, Anexo A) Além disso, em alguns textos observamos que o locutor utilizou marcadores do nível conversacional, assinalando uma certa tentativa de aproximação entre locutor/interlocutor, como se mostra no exemplo da reportagem nº 03, Biblioteca Íntima: 28 (...) outros que você ganhou de um grande amor – ou até comprou para impressionar alguém. Livros sobre quem você foi, quem você é e quem gostaria de ser ( sim, há também aqueles que você jura que ainda vai ler, lembra?) (para mais detalhes, consultar no MDG, reportagem nº03, Anexo A) Frequentemente recorre-se, nos textos analisados, à tentativa de se chamar a atenção para a necessidade de mobilizar o conhecimento de mundo do interlocutor para vincular referências. Isso se constata quando observamos a utilização de frames, dêiticos em diversas reportagens, o que nos leva a refletir sobre a insuficiência do conhecimento lingüístico na compreensão do sentido global dos textos. Notamos, também, que a grande maioria das reportagens analisadas exploraram tanto recursos da linguagem verbal, quanto da não-verbal. Isto nos leva a refletir sobre os conceitos de letramento e de multimodalidade. Sobre estes conceitos, Dionisio afirma: A noção de letramento como habilidade de ler e escrever não abrange todos os diferentes tipos de representação do conhecimento existentes em nossa sociedade. Na atualidade, uma pessoa letrada deve ser uma pessoa capaz de atribuir sentidos a mensagens oriundas de múltiplas fontes de linguagem, bem como ser capaz de produzir mensagens, incorporando múltiplas fontes de linguagem.(...) A multimodalidade discursiva da escrita ainda é uma área carente de investigações. Na sociedade contemporânea, à prática de letramento da escrita, do signo verbal, deve ser incorporada a prática de letramento da imagem, do signo visual. (...) Faz-se necessário ressaltar, também a diversidade de arranjos não-padrões que a escrita vem apresentando na mídia em função do desenvolvimento tecnológico. Em conseqüência, os nossos habituais modos de ler um texto estão sendo re-elaborados constantemente. Não se salienta aqui a supremacia da imagem ou da palavra na organização do texto, mas sim sua harmonia (ou não) visual estabelecida entre ambos (DIONISIO, 2006, p. 131-132). Um aspecto interessante observado na análise do corpus diz respeito ao hibridismo encontrado neste gênero. Isto se explicita no fato recorrente neste gênero a diversos outros gêneros durante a constituição/desenvolvimento geral da reportagem. Um exemplo disso pode ser observado na reportagem nº 01, ao se valer de outros gêneros (tabelas, entrevistas, etc) para a constituição geral desta. (para mais detalhes, consultar reportagem nº 01, Anexo B) Nesse sentido, Marcuschi comenta: A intergeneicidade de funções e formas de gêneros diversos num dado gênero deve ser distinguida da questão da heterogeneidade 29 tipológica do gênero, que diz respeito ao fato de um gênero realizar seqüências de vários tipos textuais.(...) Em principio, isso não deve trazer dificuldade algumade interpretabilidade, já que impera o domínio da função sobre a forma na determinação interpretativa do gênero, o que evidencia a plasticidade e dinamicidade dos gêneros. (MARCUSCHI, 2008, p.166) 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Observamos, a partir da análise do Modelo Didático de Gênero, que o conceito de multimodalidade do discurso também propicia uma abertura de espaço a perspectivas interdisciplinares, o que encontra respaldo tanto pela abordagem temática, quanto pelos conhecimentos gerais mobilizados para a compreensão de suas marcas lingüísticas. Percebemos, portanto, que a percepção da multimodalidade, apresentada de forma intensa no gênero reportagem impressa, não pode passar despercebida pelo leitor crítico, cabendo ao professor a orientação de práticas de leitura que considerem os elementos verbais e não-verbais, suas intencionalidades e inferências. Os pressupostos teóricos levantados sobre os propósitos comunicativos neste trabalho nos levou a observar um aspecto decisivo de sua dimensão discursiva: a idéia de que o conhecimento da dimensão lingüística não é suficiente para compreender a totalidade da constituição de um enunciado. Compreendemos, assim, que a consideração do conjunto de características discursivas de um gênero, neste caso da reportagem, antes mesmo da apreciação do texto propriamente dito e de seu conteúdo, deve constar entre os encaminhamentos iniciais de leitura, uma vez que indica parâmetros de avaliação mais ampla do texto quanto: à forma de abordagem do tema; às relações com outros enunciados; à quantidade e qualidade das informações; ao estilo selecionado pelo locutor; à recorrência ao uso de recursos verbais e não-verbais. Entendemos, também, que, o encaminhamento metodológico adequado em relação ao trabalho em sala de aula com os gêneros textuais/discursivos, neste caso, delimitado pela reportagem, pressupõe, de antemão, a defesa de um conceito de leitura que parta do mais amplo – o âmbito discursivo das produções de textos, conhecimento dos elementos que constituem as situações de produção e circulação do gênero – para o mais específico – seus elementos composicionais, escolhas discursivas, recursos específicos. Dessa forma entendemos que o texto se constitui 30 sempre como um evento interativo, não se constituindo como ação solitária, sendo sempre algo processual. Os resultados dessa pesquisa buscaram indicar perspectivas discursivas de leitura de reportagens impressas em revistas, adequadas à sala de aula, ao considerar a viabilização de práticas que proporcionam o conhecimento das principais marcas constitutivas neste gênero textual. Esperamos, assim, que contribua para uma leitura além do conteúdo proposicional básico das reportagens e para a formação de um leitor mais proficiente, de certa forma mais letrado. Nesse sentido, a consulta a Modelos Didáticos de Gênero (MDG) sobre os textos a serem trabalhados (disponíveis em materiais teóricos, fontes diversas), e/ou a prévia elaboração destes, mostra-se como um caminho não somente viável, mas também imprescindível no que se refere às propostas de encaminhamento da textualidade em sala de aula. Assim, a elaboração de Modelo Didático deste gênero, como pressuposto para posterior construção de Seqüência Didática, ao estabelecer como ponto essencial o trabalho com o gênero textual, parece ser uma estratégia que pode guiar a intervenção do professor em sala de aula. Tal encaminhamento privilegia diferentes vias de acesso à escrita, diversificação dos gêneros trabalhados, regulada por agrupamentos destes. Pressupõe um trabalho que permite desenvolver as capacidades dos alunos de forma diversa, fazendo com que reflita sobre sua relação com o mundo, considerando situações de uso da textualidade. 31 7 REFERÊNCIAS AMOP, Associação dos Municípios do Oeste do Paraná. Seqüência didática: uma proposta de ensino de Língua Portuguesa para as séries iniciais. [Organizadoras: Carmem Terezinha Baumgärtner; Terezinha da Conceição Costa-Hübes]. Cascavel: Assoeste, 2007. Caderno 2. ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo, Parábola Editorial, 2007. BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. _____. Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 1999. BALTAR, Marcos. Competência discursiva e gêneros textuais: uma experiência com o jornal de sala de aula. Caxias do Sul, RS: Educs, 2004. BRASIL. 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São Paulo: Cortez, 2000. 8 ANEXOS ANEXO A: MODELO DIDÁTICO DE GÊNERO: REPORTAGEM IMPRESSA QUADRO 01: ANÁLISE DO CONTEXTO DE PRODUÇÃO 1 Gênero: REPORTAGEM IMPRESSA Contexto Físico de Produção Reportagem 01 Agora nem mais um gole (Revista Galileu Especial Vestibular 2009) Reportagem 02 Correr Rejuvenesce (Revista Istoé, 20/08/2008) Reportagem 03 Biblioteca Íntima (Revista Vida Simples, out/2008) Reportagem 04 Aula de Sabor (Revista Nova Escola, set/2008) Reportagem 05 Todas as palavras de Machado de Assis (Revista Língua Portuguesa, set/2008) O lugar de produção (contexto físico imediato) Editora Globo S.A. SP/SP Três Editorial Ltda SP/SP Editora Abril – SP/SP Editora Abril, SP/SP Editora Segmento SP/SP O momento de produção (contexto histórico imediato) Outubro de 2009 20/08/2008 Nº2024 Outubro/2008 Edição 71 Setembro/2008 Setembro/2008 Locutor/Autor/Emissor Fel Mendes Cilene Pereira Leandro Quintanilha Amanda Polato Repórter da revista (não há referência) Interlocutor/Destinatário Jovens estudantes Especialmente pessoas da terceira idade e público em geral interessado na relação entre a prática de esportes e saúde. Leitores, normalmente maduros, que buscam leituras que amenizem o stress cotidiano, e interessados em dicas sobre como organizar os livros que têm em casa. Professores/estudantes preocupados com temáticas que se relacionam com a educação. Professores e estudantes Contexto Sócio-Subjetivo de Produção: - O lugar social da interação (escola, família, palanque, igreja etc) Escolas, Cursinhos Pré- vestibulares Academias, escolas, família Normalmente residências, esporadicamente consultórios. Ambientes educacionais (escolas, faculdades...) assim como residenciais. Escolas, Universidades, residências O momento/lugar histórico da interação (contexto mais amplo) Brasil, época da Aprovação/ regulamentação da Lei Seca Estados Unidos e Brasil Público em geral do Brasil Guarulhos, SP, Brasil. Brasil - SP – Museu da Língua Portuguesa A posição social do locutor (pai, professor, jornalista, aluno etc.) Meio de veiculação Repórter da Revista Galileu Especial Vestibular 2009 Repórter da Revista Istoé Repórter da Revista Vida Simples Jornalista da Revista Nova Escola. Repórter da Revista Língua Portuguesa 1 Quadros adaptados de: CRISTOVÃO, DURÃO, NASCIMENTO & SANTOS. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 9, n. 1, p. 41-76, jn./jun.2006. 34 A posição social do receptor (professor, aluno, médico etc.) Alunos, estudantes, vestibulandos interessados em assuntos da contemporaneidade. Pessoas, jovens ou não, que pretendem tomar conhecimento dos benefícios da corrida ao longo dos anos. Leitores maduros, normalmente professores, profissionais liberais, pessoas com poder aquisitivo considerável, interessados em ler sobre como organizar adequadamente acervo bibliográfico pessoal. Professores/estudantes, interessados em obter maiores esclarecimentos sobre informações/temáticas que envolvem os contextos educacionais; Professores, estudantes, leitores que buscam conhecimentos acerca de assuntos/fatos relativos à Língua Portuguesa e Literatura Objetivo (efeito que o locutor deseja produzir sobre o destinatário) Informar/argumentar com profundidade favoravelmente sobre a Lei Seca (Tolerância 0 à bebida) Convencer o receptor de que, ao contrário do que se propunha, a prática da corrida, ao longo dos anos, colabora com a saúde geral do indivíduo. Ao propiciar estratégias de organização do acervo bibliográfico pessoal, há uma intencionalidade por parte do locutor em valorizar as leituras que o interlocutor fez, promovendo implicitamente o valor da leitura, e de sua ligação com fases da vida deste, utilizando muitas vezes apelos subjetivos. O locutor pretende promover a idéia de que as merendeiras também desempenham papel preponderante no aprendizado das crianças. - Valorizar a extrema capacidade que Machado de Assis teve no que se refere à vastidão vocabular apresentada em suas obras; - Informar/promover tanto o lançamento de um livro, o qual apresenta minucioso levantamento lexical utilizado por Machado de Assis, organizado pela ABL, quanto a Exposição no Museu da Língua Portuguesa, que pretende celebrar os 100 anos da morte do mesmo autor. O conteúdo temático - Lei Seca no Trânsito (Tolerância 0 à bebida) - Divulgar pesquisa que revela os benefícios da prática da corrida ao longo dos anos. - Formas de organização do acervo bibliográfico pessoal a partir de depoimentos. - Relato de experiência realizada na CMEI Alfredo Volpi, em Guarulhos, na Grande São Paulo, a qual propõe a participação direta das merendeiras no aprendizado das crianças, no que se refere à promoção da autonomia, responsabilidade e - ABL faz levantamento lexical utilizado por Machado de Assis; - Exposição sobre Machado de Assis, no Museu de Língua Portuguesa 35 alimentação saudável destas. O suporte de circulação Revista Galileu Especial Vestibular Revista Istoé Revista Vida Simples Revista Nova Escola Revista Língua Portuguesa, nº 35 QUADRO 2: ANÁLISE DO PLANO DISCURSIVO Análise Plano Discursivo Reportagem 01 Reportagem 02 Reportagem 03 Reportagem 04 Reportagem 05 Plano textual global (organização geral do texto) 2 páginas Após a chamada inicial (Agora, nem mais um gole) o texto apresenta- se respectivamente: - Texto verbal sobre o tema; - Apresenta-se um pequeno quadro onde se disponibilizam leituras e endereços eletrônicos para quem deseja aprofundar-se no assunto; - Apresentação de 5 tabelas que abordam estatísticas relativas ao tema; - Quadro comparativo entre as Legislações de outros países quanto ao assunto; - Pequena entrevista com Cyro Vidal, Presidente da Comissão de Assuntos e Estudos sobre o Direito no Trânsito da OAB; 1 página - Chamada inicial (Correr REJUVENESCE) aparece logo abaixo de imagem de pessoas correndo. - Na seqüência, apresenta-se um texto, no qual se apresentam as informações /argumentos; - No centro desse texto, e, não coincidentemente, no centro da página, há um trecho em negrito que resume o resultado final da pesquisa: “ (...) Entre os não-corredores, o índice de mortalidade foi de 34%. No grupo dos adeptos da corrida, a taxa foi de 15%. (...) “ - Imagem de pessoa correndo numa esteira elétrica; - No lado direito da página há uma coluna 3 páginas - A reportagem inicialmente recorre à linguagem não-verbal ao se utilizar de imagem de uma sala bem decorada, onde um sofá aparece, porém, ladeado por pilhas de livros; - A chamada inicial (Biblioteca Íntima) chama a atenção pela subjetividade expressa; - Sub-título, também expressa alta subjetividade (Reserve um pedacinho da casa para os livros da sua vida); - 1º parágrafo: chama a atenção para o fato de que os livros que se tem revelam muito do que a pessoa é/foi (biografia velada), idéia retomada algumas vezes durante os parágrafos seguintes; 1 página - Apresentação de foto de uma merendeira orientando crianças no refeitório, seguida de legenda;