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HOMEOPATIA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÁTICA JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO Cond. Recanto do Vale Gravatá PE Brasil E-mail : thot@elogica.com.br thot@hotlink.com.br HOMEOPATIA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÁTICA 4a Edição Revisada e Ampliada JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO Médco Homeopata Curso de Homeopatia na Argentina, França e São Paulo Só uma classe de homens não erra: a dos que nada produzem. Fontana À minha esposa Antonia Nunes. Aos meus filhos: lOÃO PAULO, LEI/A SiMONE, ÍRIA FERNANDA. AGRADECIMENTOS Aos Grandes Mestres que me orientaram Aos colegas: Professora Dra. ANA R. KOSSAK Professor Dr. DAVID CASTRO Dr. MATIIEUS MARIM D1: CARLOS ARMANDO DE MOURA RIBEIRO D. FELIX BARBOSA Dr. ARTIIUR DE ALMEIDA REZENDE FILHO Dr. MILTON GODOY Dr. NICOLA TOMMASINO pelas críticas construtivas À bibliotecária ALDA COSTA GOMES Ao jornalista e escritor CYL GALLINDO pela grande contribuição na organização e edição deste livro. Brief discription - Sumary Thc author sces the Miasms just as a physiological rcation produced by the organism against thc "Noxa ", Myasma would simply be a series r~l symp- toms duc to natural e mechanisms of the organism cspccially elimination, ncutralization, compcnsation, and cicatrization. Miasm is mercly lrfÍ organic statc resulting jimn thc mcchanisms of cure . . ur SUMÁRIO Prológo ................................................................................................ 13 Prefácio I a Edição ............................................................................. 15 Prefácio 2• Edição .............................................................................. 19 Prefácio 3• Edição .............................................................................. 21 I - Interações Entre as Unidades Biológicas .......................................... 23 2 - A Consciência das Unidades Biológicas ........................................... 33 3 - Princípios da Unidade Orgânica ........................................................ 45 4 - A Doutrina Miasm<ltica ...................................................................... 59 Primeiro Paradoxo: O Terreno ................................................. 68 Segundo Paradoxo: O Contágio ............................................... 71 Terceiro Paradoxo: A Cura ....................................................... 72 5 - A Força Vital ....................................................................................... 75 6 - A Psora ................................................................................................ 85 Área Mental ............................................................................... 89 Área Somática ............................................................................ 92 Primeira característica da Psora: Alternância de Sintomas de um Emunctório para outro ...................... 92 Área Digestiva ........................................................................... 95 Segunda Característica da Psora: Tendência às Verminoses .............................................. 97 Pele ............................................................................................. 99 Terceira Característica da Psora: Pele Doentia .................................................................. 99 Quarta Característica da Psora: Tendência às Parasitoses Dérmicas .............................. 99 Quinta Característica da psora: Prurido Cutâneo ........................................................... 100 Mucosas .................................................................................... 1 O 1 Centro Termorregulador .......................................................... 101 Sexta Característica da Psora: Labilidade do Sistema Termorregulador (febre) ....... 101 Aparelho Cardiovascular ......................................................... 102 Sistema Nervoso ....................................................................... 103 Sétima Característica da Psora: Cansaço Mental, Fadiga e "Surmenage" ................... I 03 Causas da Psora ...................................................................... 104 Tratamento da Psora ............................................................... I I O Nona Característica da Psora: Maus Efeitos das Supressões ...................................... 11 O Característica das excreções psóricas .................................... 116 7 - A Sicose ............................................................................................ 117 Área Mental ............................................................................. 120 Características da Sicose: Desconfiança, Segredo e Mentira ............................... 121 Característica da Sicose: Idéias Obsessivas ............... 122 Característica da Sicose: Agressividade ..................... 122 Característica da Si cose: Estado Depressivo ............. 122 Característica da Sicose: Perversão de Função ......... 123 Área Somática .......................................................................... 125 Característica da Sicose: Perversão de Função ......... 125 Característica da Sicose: Estado Hidrogenóide ......... 126 Característica da Sicose: Sensibilidade à Umidade .. 126 Característica da Sicose: Derrames ............................ 126 Característica da Sicose: Formação de Concreções .. 126 Característica da Sicose: Proliferações Tissulares Benignas .............................. 127 Mucosas .................................................................................... 128 Aparelho Respiratório ............................................................. 130 Sinóvias .................................................................................... 130 Sinus ......................................................................................... 131 Pele ........................................................................................... 131 Característica da Sicose: Afecções Cutâneas, Acne .. 131 Característica da Sicose: Presença de Verrugas ........ 131 Causas da Sicose ..................................................................... 132 8 - O Sifilinismo ..................................................................................... 139 Área Mental ............................................................................. 142 Sistema Vascular ...................................................................... 147 Sistema Linfoganglionar .......................................................... 148 Epitélios .................................................................................... 148 Sistema Ósseo .......................................................................... 149 Pele ........................................................................................... 149 Causas do Sifilinismo .............................................................. 151 9- O Cancerinismo ................................................................................ 157 Área Mental ............................................................................. 163 Área Somática .......................................................................... 165 Causas do Cancerinismo ......................................................... 168 Tratamento do Cancerinismo .................................................. 172 10 -Associações Miasmáticas ................................................................. 175 Intensidade da Noxa .................................................... 177 Especificidade da Noxa .............................................. 178 Bloqueios dos Dispositivos de Eliminação ................ 179 O Tuberculinismo ..................................................................... 181 Cabeça ..........................................................................l83 Sistema muscular ........................................................ 184 Mente ........................................................................... 184 11 - Classificação Mi asmática de Sintomas ........................................... 187 Psora ...................................................................................... 190 Área Afetivo/Emotiva .................................................. 190 Excitação Psíquica e/ou Fisiológica .......................... 190 Svcosis ...................................................................................... 190 . Área Volitiva ................................................................ 190 Syphilinismo ............................................................................. 191 Área Intelectiva ........................................................... 191 12 - Análise Miasmática de Medicamentos ........................................... 197 Sintomas de Psorinum ............................................................. 201 Gerais ........................................................................... 201 Particulares .................................................................. 20 I Verrugas Peribucais ..................................................... 202 Sintomas de Suifur ................................................................... 203 Mentais ......................................................................... 203 Gerais ........................................................................... 205 Particulares .................................................................. 205 Sintomas de Thuya ................................................................... 205 Mentais ......................................................................... 205 Particulares .................................................................. 206 13 - Doenças Crônicas - Teoria Miasmática .......................................... 207 Interpretação Fisiopatológica ................................................. 209 14 -Conclusões ......................................................................................... 223 Intensidade da Noxa ................................................................ 225 Especialidade da Noxa ............................................................ 227 Bloqueios dos Dispositivos de Eliminação ............................ 227 Bloqueios Físico-químicos .......................................... 228 Bloqueios de Natureza Emocional ............................. 228 Bloqueios por "Amnésia de Função" ......................... 228 Bloqueios por Perturbações nas Vias de Interação ... 229 Bloqueios por Dissintonia ........................................... 229 Bloqueios Congénitos ................................................. 230 Bloqueios Gestacionais ............................................... 230 Bloqueios por Memória Hereditária .......................... 231 Contágio ................................................................................... 236 Hereditariedade ....................................................................... 236 Tratame11 to ................................................................................ 23 8 15 -Referências Bibliogáficas ................................................................. 241 Índice (Referências) .................................................................................. 243 PRóLOGO Q "'ndo do no"o pt;moi<o ooototo com o Mcd;c;,a Halmcm,;- ana, o que mais nos pertubou, sem dúvida, foi a idéia de miasma pois, tal como normalmente é exposta nos trabalhos de Homeopatia, dá margem a uma série de interpretações errôneas. Analisada, segundo um critério cien- tífico, simplesmente conduz o estudante por uma via empírica de fundo essencialmente místico. Após uma análise mais cuidadosa, porém. verificamos que a Teoria dos Miasmas coincidia exatamente com as relações entre os agentes mór- bidos e a resposta orgânica, conforme nossas próprias observações clínicas de quase 20 anos. Acreditamos, assim, que toda dificuldade existente em torno dos enunciados de HAHNEMANN, residia apenas no uso inadequado de determi- nados termos, pois, desde que se precise exatamentc o sentido daquilo a que o pai da Homeopatia quis referir, a teoria permanece muito clara c capaz de levar o médico a um nível muito elevado de conhecimento dos desequilíbrios orgânicos. Visando eliminar o pequeno problema que dificulta o entendimento da Teoria dos Miasmas, resolvemos redigir este trabalho, para transmitir a estudantes e estudiosos da Homeopatia o que tivemos a alegria de perceber no exercício da profissão. Analisamos apenas aqui as manifestações do desequilíbrio determina- do pelo estado miasmático, ao nível da estrutura orgânica. Abstendo-nos, no momento. de estudar o miasma no nível do ser energético, embora reconheçamos que grande parte dos distúrbios patológicos trancedentc a estrutura celular simples. 16 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÁO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA Passo a passo, desenvolveremos uma série de hipóteses que, segundo as nossas observações diárias, parecem corresponder ao modo como o estado miasmático manifesta-se organicamente. Se, em essência, este método de raciocínio não vem a ser absoluta- mente exato, mesmo assim constitui-se num meio didático muito eficiente para o estudo miasmático, pois dá um sentido lógico a uma teoria que, malgrado seja confirmada pela prática diária. até agora, esteve votada ao mais absoluto empirismo e, quando não, ridicularizada pelos fisiologistas da escola oficial. Esta, portanto, é a nossa contribuição para o estudo da Teoria dos Miasmas: aquilo que tivemos a oportunidade de constatar e concluir. En- tregamos aos homeopatas sinceros tudo o que nos foi dado saber. Malgra- do a nossa experiência ainda imatura nesse ramo extraordinário da arte de curar, recebemos, porém, uma orientação valiosa que nos levou a essas conclusões, as quais partilhamos com todos os colegas homeopatas, espe- rando que cada um possa dar a sua contribuição científica e fisiológica para a complementação deste trabalho. Não invocamos, em momento algum, hipóteses fantásticas, pois basi- camente, como premissa, admitimos apenas a existência de uma Inteligên- cia Vital, que evidentemente podemos considerar como aceita pelos estudi- osos de vários ramos do conhecimento atual. Em nada a idéia de Inteligên- cia Vital opõe-se à de "Força Vital", admitida oficialmante pela medicina homeopática. Os não-homeopatas podem substituir essa expressão por "Consenso Orgânico". Apenas usamos o termo "Inteligência Vital" por acharmos a expressão bem adequada, para complementar aquilo a que HAHNEI\tANN quis se referir. O mestre não usou a palavra "força" no sentido da energia mensurável e sim no sentido de "poder", de "princípio", confor- me asseverou o seu discípulo JAHR. Até para os homeopatas mais ortodoxos, a problemática não se altera, pois mesmo que o termo "Inteligência Vital", utilizado neste trabalho, seja substituído pela designação clássica "Força Vital", dentro do mais restrito conceito hanemaniano, em nada se modifica a teoria aqui desenvolvida. Outro conceito que parece novo e que também utilizamos foi o de "Memória Celular", pouco estudado pela fisiologia oficial, mas hoje ple- namente aceito por vários ramos do saber. Não só a memória celular como também as "células de memória" são hoje admitidas. Dessa maneira, a nossa hipótese tem um mérito especial no que tange à explicação dos estados miasmáticos, por não recorrermos a quaisquer mecanismos fisiológicos desconhecidos ou improváveis, o que dá um cu- nho menos místico e mais científico à grandiosa Teoria dos Miasmas elaborada pelo genial Pai da Homeopatia, SAMUEL HAHNEMANN. PREFÁCIO O livro do Dr. JOSÉ LAÉRCIO oo EGJTO, sobre o Força Vital e Miasmas Crónicos, traz, como não poderia deixar de ser, as característicasdo autor. Homeopata emérito, vive sua própria fé em consonância perfeita, tanto com a sua vida profissional, como em relação a toda e qualquer explana- ção que faça sobre a Homeopatia. Seu livro sobre estes magnos assuntos da doutrina hahnemaniana, foi escrito de forma feliz e incisiva, abordando o que é a própria pedra angular do edifício da Homeopatia, isto é, a Força Vital. Só poderá entender e praticar a Homeopatia, quem penetrou pelos arcanos da difícil Filosofia Vitalista, base de todo o sistema hahnemaniano. Na primeira parte do seu livro, o autor discorre de maneira plena sobre o apaixonante tema da Força Vital, isto é, sobre o próprio mistério da vida manifestada. Assunto tão fundamental, que HAHNEMANN diz no § 9 do Organon: "No estado de saúde, a força vital espiritual que, dinamica- mente, anima o corpo material, reina com poder ilimitado e mantém todas as suas partes em admirável atividade harmónica, nas suas sensações c funções etc.". E para completar o conceito, o parágrafo seguinte explica: .. O organismo material, destituído da força vital, não é capaz de nenhuma sensação, nenhuma atividade, nenhuma autoconservação; é somente o ser imaterial, animador do organismo material no estado são e no estado mórbido (o princípio vital, a força vital), que lhe dá toda a sensação e estima suas funções vitais". Diante do exposto podemos concluir que o organismo sem a força vital é inerte e que a vida é comunicada por uma força que HAHNEMANN chamava de Força Vital. Portanto, esta força, é um ser imaterial. A doutrina frisa bem que há uma só força e não várias forças (atuando no organismo vivo) e por ser assim, compreende-se que a multi- 18 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA plicidade de nossas funções orgânicas se desenvolvam em uma unidade harmoniosa tão notável. Cabe a essa força. antes de mais nada, realizar a própria integração do organismo, fazendo com que o conjunto dos órgãos funcione como se fosse uma só unidade. engendrando a conservação do todo. Sua manifestação, permanente e inalterada, dentro do ser vivo, ao lado dos múltiplos aspectos que este adquire a cada instante, através de todos os fenômenos vitais, demonstra a sua "existência essencial", isto é, demonstra a nítida distinção entre "o ser e o estar". O Estar, ou fenomenal, é transitório, mutável, diferindo a cada instante. O Ser é permanente, não cessando de agir também em instante algum, sem deixar de existir. A Força Vital é constante e presente, até o momento da morte do organismo vivo. como um fenômeno qualitativo. Como força que é, não se pode senti-la a não ser através dos fenômenos que provoca. Desse conceito de Força Vital, decon·e toda a doutrina homeopática, quanto à patologia, etiologia dos estados mórbidos, compreensão e hierar- quização dos sintomas, na prática clínica, assim como os mecanismos de cura do enfermo. Médico algum poderá exercer, de maneira cabal e segura, a Homeo- patia, sem antes ter-se capacitado profundamente na Filosofia Vitalista. Progresso algum será possível, na teoria e na prática, sem uma profunda meditação sobre o assunto e, portanto, seu completo entendimento. Já no terreno da colaboração, o autor faz a análise percuciente da Força Vital, acentuando, por exemplo: "'O fato de existir doença não indi- ca, de forma alguma, que a Força Vital seja desprovida de inteligência". E conclui de forma feliz quando se refere "ao não inteligente" de HAHNE- 1\!ANN. como '"subconsciente". uma vez que, na época, este termo não era conhecido com o seu conteúdo psicanalítico atual. O autor lembra que a Força Vital deve ser entendida como um princípio dirctor, "algo como um regente de orquestra", mas não corresponde à alma, por isso, propondo o termo de "'inteligência vital" ou "consciência vital". A natureza da energia é dinâmica e este dinamismo irradia por todos os tecidos, células ou elementos das células. de modo que qualquer distúr- bio desta energia vital resulta num distúrbio de toda a economia do ser vivo. Assim, torna-se fácil entender porque um grande susto ou mágoa profunda possa atingir qualquer setor da economia do ser vivo, uma vez que a força que anima todo o ser é única e indivisível. Qualquer distúrbio desta energia vital reflete-se como falta de harmonia através de manifesta- ções na periferia do ser, isto é, no aparecimento dos sintomas. Quando o funcionamento hannônico da energia é perturbado, o ser adoece como conseqüência, uma vez que o fluxo da energia através do corpo também se altera. Por isso, tratar apenas um sintoma periférico, removendo-o artificialmente, será o mesmo que impedir a livre expressão individual da desarmonia da Força Vital. PREFACIO 0 19 No estado de saúde, a total expressão da Força Vital pode ser expressa por um funcionamento perfeito de todas as partes do organismo vivo, assim como, no homem, por uma inconfundível sensação de bem-estar geral. A expressão Força Vital e Princípio vital, foi discutida pelo próprio HAHNEMANN que adotou, a partir da sexta edição do Organon, a expressão de Princípio vital, em lugar de força Vital, chegando mesmo, em certo momento. a falar em "a força vital do Princípio Vital". A segunda parte do livro trata da Doutrina dos Miasmas Crônicos de Hahnemann. Se os conceitos sobre Força Vital se constituem na pedra angular do edifício da Homepatia, diríamos que os referentes aos Miasmas Crônicos formam a viga mestra da clínica homeopática. Há mais de trinta e três anos aprendemos a raciocinar cm termos de Miasma Crônico, quan- do diante de um caso clínico. Por esse motivo exultamos de alegria ao tomarmos conhecimento de um livro de autor brasileiro sobre tal assunto. O autor traz valiosa e extensa colaboração a respeito, não só pelos conceitos que já são clássicos, como por outros elaborados por curiosas observações e indagações de seu espírito de pesquisador nato. Além de dizer-nos que a Psora é estritamente caracterizada pela an- gústia existencial e pelos mecanismo de defesa do Ego, ele apresenta uma inteligente análise dos mecanismos intrínsecos determinantes dos sintomas de cada quadro miasmático. Afirma também. que Miasma não pode ser considerado agente mórbi- do, mas sim um estado orgânico que caracteriza a resposta do organismo à ação das noxas. Da importância da doutrina dos miasmas inteiramo-nos através do § 204 do Organon (a partir da 5" edição) e dos §§ 45 e 46 do Tratado das Moléstias Crônicas, de HAHNEMANN; nestes dois últimos parágrafos o Mes- tre relata que lhe foram necessários "II anos de pesquisas assíduas c árduas, observações fiéis e experiências rigorosamente científicas, para a solução deste grave enigma para o maior bem do gênero humano". Também tomamos a liberdade de lembrar HENRY ALLEN, um dos clás- sicos da Homeopatia, que, em seu livro Medicina Homeopática, capítulo I 0 , escreveu: "O dcscobrimcno dos Mi asmas Crônicos por Hahnemann foi um golpe mortal para os conceitos crrôncos de etiologia das enfermidades em sua época, c não o é menos cm nossos dias (1906), apesar de já se ter passado um século ... etc." O que se nota neste livro é que o autor sabe pensar e meditar (qualida- des que vão se rareando em nossos dias) e traz na bagagem de seus conhe- cimetos os mais puros e profundos conceitos sobre Filosofia Vitalista, moti- vos que fazem dele um grande homeopata, na teoria e na prática. Não apenas citou fatos clássicos, mas de maneira muito didática valeu-se de conhecimentos modernos de Biologia para explicar c exemplificar muito a 20 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA respeito de tão notável doutrina. A pureza de seu ideal fê-lo voar alto e, qual águia altaneira, ele teve aquela visão aguda capaz de abraçar o panorama magnífico da realidade médica, no estágio atual de nossos conhecimentos. O autor, a nosso ver, tem esse mérito muito grande que o dignifica, assim como a Medicina Homeopática Brasileira, como seja o de reforçar com argumentosinéditos tão sublime doutrina, falando na linguagem do século, facilitando assim, as comunicações entre escolas diferentes. Felicito o autor por este seu livro que aborda matéria de tão grande e transcendente importância para compreensão da Doutrina Homeopática augurando a feliz utilização do texto por todos os homeopatas de nosso país, máxime os que estão iniciando o estudo da Homeopatia. Carlos Armando de Moura Ribeiro Médico Homeopata PREFÁCIO , DA 2a EDIÇÃO A 2• edição de "Homeopatia - Contribuição ao Estudo da Teoria Miasmática", fruto da privilegiada clareza de raciocínio do médico home- opata .JOSÉ LAÉRCIO oo EGITO, recolocará ao alcance dos médicos um traba- lho sinóptico sobre o discutido tema dos miasmas, de leitura imprescindí- vel para quem se interessa pela Homeopatia. Jamais nenhum outro autor usou de tamanha lógica ao conciliar este infinita ou aparentemente com- plicado assunto, motivo de tanto desgaste intelectual por parte de professo- res e estudantes, na buscq de mistérios inexistentes. Na interpretação fisiopatológica dos diferentes mi asmas como pa- drões reacionais do doente dentro de suas possibilidades de defesa, tão claras na imunopatologia moderna, o autor consegue estabelecer a conjun- ção de conceitos recentes àqueles que HAHNEMANN. com as possibilidades do seu tempo, tentou ilustrar com exemplos clínicos no seu tratado sobre doenças crônicas. Ainda que o leitor não compactue com as idéias de .JOSÉ LAÉRCIO no EGITO, o conhecimento da sua obra tornará assombrosamente compreensí- vel qualquer outro texto já existente ou que venha a ser escrito sobre o palpitante tema. São Paulo, março de 1997 Anna Kossak-Romanch CAPÍTULO INTERAÇÕES ENTRE AS UNIDADES BIOLÓGICAS Evidentemente não somos ilhas no Universo, pois, juntamente com todos os seres vivos, fazemos parte de uma estrutura mais ampla, numa estreita interdependência com seus componentes. Ao mesmo tempo, como um todo orgânico, somos constituídos por organismos menores que intera- gem entre si, assegurando e mantendo a unidade que constitui o indivíduo. Qualquer organismo interage de modo intenso c permanente com todos os elementos constitutivos de suas partes e, concomitantemente, com o meio onde vive. Por isso mesmo. ele não é apenas um aglomerado de células independentes. Há, portanto, um intercâmbio permanente c intenso entre o todo e as suas partes constitutivas, visando assegurar um funcionamento harmônico integrado. Do contrário, estabelece-se um estado de desarmonia, que se revela sobre a forma de doença. Nessas condições é impossível para um fator qualquer agir unicamente cm uma parte isolada. Qualquer ação sobre uma unidade repercute nas demais, em grau de intensidade variável. Por sua vez, o organismo tem também que interagir constantemente com seu meio ambiente, estabelecendo com ele um estado de equilíbrio harmônico, sem o qual a vida é impossível. A condição denominada saúde, nada mais é que o resultado dessa harmonização entre as partes c o todo e deste com o seu meio exterior. O estado de desarmonia em qualquer um desses sctores determina, inevita- velmente, algum tipo de doença, mesmo que inexistam ainda alterações funcionais conscientemente evidenciáveis. Tudo aquilo que a medicina clássica considera como doença, ou seja, todos os estados patológicos, são condições secundárias resultantes de algu- ma causa anterior. Antes, por exemplo, de o pus acumular-se, antes de um abscesso fom1ar-sc, um estado de desequilíbrio orgânico mais sutil já deve 26 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMÃT/CA existir. Um processo inflamatório, que é considerado como uma doença, realmente provém de uma condição precedente de natureza mais sutil. Durante a sua existência, o organismo é sede de um intercâmbio intenso e permanente, não somente com as suas partes constitutivas, como também com o seu meio ambiente, havendo rcações constantes entre todos esses fatores e o estado de saúde manifesta o equilíbrio existente entre os diversos fatores em jogo. Do meio exterior, isto é, de fora do organismo, são inúmeras as condições que podem, sob uma forma ou outra, atingi-lo. Muitas dessas condições lhe são desfavoráveis. Os fatores exteriores, portanto, podem favorecer o equilíbrio orgânico ou prejudicá-lo. Qualquer organismo sofre agressões permanentes do seu meio exterior. Por isso, ele está cm luta constante para defender-se ou para tirar proveito, na medida do possível. daquilo que o atinge. O estudo desses fatores evidencia as seguintes condições básicas: a) O fator em nada influi sobre o organismo. Mesmo que exista uma ação, ela ocorre como se não existisse; é a chamada imunidade natural. denominada por alguns autores, rcfratariedade orgânica. Neste caso. os mais diversos elementos estão atingindo de modo permanente, sob uma forma ou outra, determinado organismo sem causar-lhe distúrbios de qualquer natureza. É o caso do nitro- gênio do ar inalado, que não é aproveitado, mas que também não provoca nenhum distúrbio. Igualmente, existem inúmeros fatores dos quais um determinado organismo não sofre influência algu- ma. Esses agentes têm as mais diversas origens: certas irradiações do mundo sideral, certos gases atmosféricos, alimentos, excreções e secreções de microorganismos etc. Uma toxina muito nociva para determinada espécie pode ser totalmente inócua para outra. b) O fator que atinge o organismo é aproveitado de modo construti- vo. O organismo utiliza-o cm benefício próprio. Pertencem a este grupo não apenas os alimentos, como também o oxigênio e mui- tos outros elementos indispensáveis à vida. Em verdade, nesta categoria estão incluídos muitos elementos além dos admitidos pela ciência oficial. c) Fatores nocivos. ou sejam, os que causam danos ao organismo, são fatores contra os quais o organismo tem que lançar mão de algum mecanismo para neutralizar a ação do agente. A estes pode ser dado o nome grego "Noxa". Não existe limite preciso no qual se possa dizer que termina uma ação benéfica e começa uma ação prejudicial, pois isto depende muito das condições da faixa individual de tolerância, geneticamente condicionada. INTERAÇÕES ENTRE AS UNIDADES 8/0LOG/CAS • 27 Os prejuízos acarretados por esses fatores dependem da capacidade de resposta do organismo condicionada pelos diversos mecanismos fisiológi- cos regidos por três elementos essenciais: a) uma estrutura funcional geneticamente estabelecida; b) uma disponibilidade de energia; c) um comando inteligente que se manifesta através da chamada Força Vital. Toda forma de defesa orgânica, deve, portanto, contar com uma estru- tura funcional adequada, isto é, órgãos apropriados que dependam da con- dição genética de cada um; energia disponível e uma orientação inteligen- te para assegurar a integração funcional do organismo. Por outro lado, ante a ação de um agente qualquer, o organismo pode situar-se em uma das três faixas seguintes: a) uma faixa em que nada o afeta, por ser ele capaz de livrar-se automaticamente e sem qualquer distúrbio, do agente ou do que este introduz na sua estrutura orgânica. (Faixa Homeostásica). Homeostase -Walter Cannon; b) uma faixa em que se manifestam, com grau de intensidade variá- vel, os distúrbios mais diversos, mas contra os quais o organismo pode defender-se. Aqui são identificados os meios que o organis- mo lança mão para eliminar, sob uma forma ou outra, o elemento perturbador. Todos os mecanismos de defesa estudados pela fisio- logia desempenham seus papéis no estabelecimento dessa segun- da faixa (Faixa Patológica Reversível). As duas faixa citadas, constituem, cm conjunto, a chamada Faixa Existencial. A atuação da Inteligência Vital tem por objetivo manter constante- mente o organismo dentro da Faixa Existencial, sempre que agentes inde- sejáveis fizerem-se presentes e, para tal, dispõe de um acervo muito gran- de de mecanismos defensivos que, como veremos adiante, podem seragru- pados segundo suas formas reativas particulares. c) uma faixa em que a perturbação provocada no organismo pela "Noxa" é tamanha que ele é incapaz de defender-se adequada- mente, acabando por sucumbir logo, ou após uma série de tenta- tivas que procuram restabelecer o equilíbrio perdido. (Faixa Paro- lógica Irreversível). A Faixa Existencial é própria para cada espécie c, dentro de uma mesma espécie, varia de um elemento para outro. 28 ° HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA Neste particular, devemos admitir que o grau de eficiência é inegavel- mente condicionado geneticamente. Discordamos, apenas, da opinião que o código genético seja um condicionador inteligente dos processos bioló- gicos, pois aquele condicionador inteligente não está contido no gene. O padrão genético de um indivíduo deveria lhe permitir atuar em ótimas condições de eficiência, mas isso nunca acontece, por causa da variabilidade das condições ambientais. Nessas condições, jamais se pode dizer que uma pessoa tem um padrão genético perfeito e apropriado para atuar de forma satisfatória em quaisquer circunstâncias. Se um indivíduo tem, graças ao seu condiciona- mento genético, um enzima que lhe permite decompor determinado ali- mento, isto não quer dizer que seu organismo o possa fazer sem dificulda- de em qualquer ocasião. Basta que se alterem as condições externas para que alterações ocorram ao nível das reações enzimáticas e que o indivíduo apresente problemas provocados por aqueles mesmos alimentos que, antes, eram naturalmente aceitos. Se nunca surgissem interferências anômalas, o organismo continuaria funcionando perfeitamente. No entanto, as alterações que ocorrem cons- tantemente no meio são suficientes para criar condições para as quais, geneticamente, o ser, não estando condicionado ou em circunstâncias favo- ráveis, tenha que se adaptar se a nova situação for uma das· opções já previstas no seu patrimônio genético. Isto é importante, quando se sabe que um organismo não tem um destino biológico absoluto, e sim, relativo. Mudando as condições, muda- se o destino biológico e mantendo-se as condições, mantém-se o destino biológico. Mantendo-se os parâmetros próprios para determinada espécie, por certo, aquele organismo manter-se-á dentro de sua programação ideal mas, variando os parâmetros, mudarão por isso mesmo as suas condições de equilíbrio vital. Dentro da faixa existencial, o organismo sempre vence qualquer agres- são noxal. Assim sendo, a doença surge quando ele é atingido por uma noxa e os mecanismos de defesa ainda não foram ativados ou não atingiram limiares eficientes ou, por algum outro motivo, mantiveram-se inativos. Quando um agente noxal atua, o indivíduo ou defende-se sem preju- ízos ou defende-se com prejuízos, ou então é destruído. O que decorre da ação da noxa depende sempre do limite de tolerância individual para as diversas condições, quer tisícas, químicas, biológicas ou mentais e, mesmo para algumas outras de natureza diferente, ainda não-mencionadas nas ciências clássicas. Esse limite de tolerância é função da estrutura biológica e da intensidade da noxa. Antes da ação de um fator qualquer, o organismo responde, não só de acordo com a sua natureza intrínseca, mas também conforme a intensidade do agente. INTERAÇOES ENTRE AS UNIDADES BIOLÓGICAS • 29 Quando um agente atinge o indivíduo, se a sua ação for muito intensa e brusca e não houver destruição da individualidade, ocorrerá, no mínimo, uma mutação genética. Ante uma ação de pequena intensidade e lenta ocorrerá uma adaptação e, finalmente, numa situação intermediária, a ten- tativa de adaptação do organismo far-se-á sentir, poém sob a forma de um desconforto, que corresponde ao estado de doença. Aceitando a premissa de que a "'Força Vital" é regida de forma inteli- gente, logicamente necessitaremos saber como atua no controle dos diver- sos planos orgânicos. Tem que haver uma maneira de integração mediante a qual o Princípio Inteligente se faz sentir em cada setor do organismo e como ele integra o todo orgânico às suas partes constitutivas. Se as ativida- des das células são mantidas sob um controle inteligente, se existe uma coordenação funcional inteligente centralizada, é válido procurar determi- nar como se exerce esse controle e se é possível ocorrerem distúrbios orgânicos em conseqüência disso. Concordamos plenamente com as teorias clássicas quanto aos meca- nismos e funções celulares, porém aventamos a hipótese que existem mui- tos fenômenos biológicos que, de modo algum, podem ser explicados pelos mecanismos conhecidos da biologia atual. Assim, sem negarmos os mecanismos de ação patogénica entre os organismos vivos, afirmamos apenas que existe pelo menos outro proces- so não-referido pelos biológos, mas cuja existência a prática evidencia claramente. Conhecem-se duas vias fisiológicas fundamentais, graças às quais se realizam as interações entre as partes de um organismo: o mecanismo humoral e o mecanismo nervoso. O mecanismo humoral exerce-se por meio dos líquidos orgânicos, as intcrações entre as partes ocorredo graças às diversas substâncias veiculadas pelos fluidos orgânicos em geral. O mecanismo nervoso ocorre por impulsos nervosos de natureza elétrica, transmitidos pelos nervos e outros elementos condutores. Porém, existe outro mecanismo, desvendado aos poucos pela ciência, de natureza pouco conhecida por não ter sido ainda objeto de estudos apro- fundados. Assemelha-se, por analogia, ao eletromagnctismo, tal como as emissões de rádio e fenômenos de igual natureza. Estudos recentes revelam que as células integram-se entre si por meio de emissões vibratórias. Inúmeros são os processos na esfera psíquica que exigem outra via de interação, pois só assim podem ser explicadas as interações mentais entre seres diferentes, conforme afirma a Parapsicologia. Sem a existência de uma terceira via de interação entre as estruturas vivas, certos fenômenos não podem ser explicados devidamente. Vamos apresentar, a título de exemplo, um desses fenômenos, pois é suficiente para demonstrar que uma via especial de interação entre os elementos celulares deve realmente existir, além das vias já conhecidas. 30 ' HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA Referimo-nos ao fenômeno que pode manifestar-se no indivíduo sub- metido à indução hipnótica, o de queimadura induzida psiquicamente. Um paciente em transe hipnótico pode facilmente ser induzido a aceitar que um estilete frio está rubro e que ele lhe provocará uma queima- dura. Ao ser tocado pelo estilete, o paciente apresentará uma série de reações, sendo a primeira delas de natureza puramente reflexa: um contra- ção muscular que afasta do estilete a parte tocada. Trata-se, evidentemente de um mecanismo comandado por via nervosa. Em seguida ocorrerá o rubor local, que, no caso em apreço, já não se adequa àqueles mecanismos preconizados pela fisiologia que explicam a hiperemia, por via humoral. Em se tratando de queimadura clássica, há alteração das proteínas in situ e o organismo libera substâncias que, por via humoral, provocam aquele tipo de reação. Ao nosso ver, esta etapa pode ser afastada, pois o processo realmente deve ser tal qual explica a fisiologia, diferindo apenas quanto ao mecanismo determinante da alteração tecidual. A terceira fase não pode ser explicada pelos mecanismos clássicos. Ocorrem sucessivamente a coagulação das proteínas do tecido tocado pelo estilete frio, rompimento dos linfáticos, exsudação e formação de vesícula. E perguntamos: qual o mecanismo que provoca a coagulação das proteínas e destrói as células do local tocado pelo estilete frio. sem transferência de calor? Algum tipo de impulso nervoso? Mas nenhum mecanismo, nenhum tipo de condução nervosa de tal magnitude e de ação tão rápida é conhe- cido da fisiologia, pois a lesão processa-se em poucos instantes. Um meca- nismo que se exerce por via humoral, alguma substâncialiberada na circu- lação? Mas nenhuma substância com tal capacidade produzida por qual- quer glândula jamais foi identificada. Se este é um fenômeno real, assim como demonstra a prática diária dos hipnotizadores, deve haver necessariamente uma "ordem" que, emanada do cérebro hipnoticamente induzido, vai até a parte que o estilete tocou, mani- festando-se assim a lesão, com a formação instantânea de uma vesícula, em tudo idêntica àquela que apareceria se o estilete, realmente quente, transfe- risse o calor causador da ruptura dos linfáticos. A ciência ignora por comple- to qual seja a via utilizada para esse tipo de transferência de energia. Na queimadura comum, a energia é transferida do estilete quente para o tecido, quando os átomos do estilete aquecido, vibrando com maior intensidade, ao tocarem uma área do corpo, transferem parte daquela energia para o tecido orgânico, que não supm1ando esse nível de energia térmica, tica conseqüen- temente lesado. Mas com um estilete frio, esse tipo de transferência não ocorre. Portanto, qual o mecanismo em jogo? Isto prova que, além dos mecanismos clássicos de interação entre unidades biológicas, existe outro que se comporta cm tudo de conformida- de com os princípios próprios das ondas eletromagnéticas, isto é, das radioemissõcs. INTERAÇOES ENTRE AS UNIDADES BIOLÓGICAS • 31 Quando, sob hipnose, uma parte do corpo é tocada por um estilete frio, mas sendo o cérebro induzido a tê-lo como aquecido, tudo indica que este emite uma informação às células da região interessada, para iniciarem um processo de reparação. A informação emitida dá imediatamente ori- gem a uma atividade adequada ao nível do local atingido: as células começam a reproduzir-se, obedecendo ao padrão genético existente em cada uma delas, que já possibilita as reações específicas da restauração. O cérebro induz as células a crer que ali houve um dano que deve ser reparado conforme o padrão codificado. As ordens que o cérebro envia aos tecidos não são transmitidas apenas por vias humoral e nervosa, mas tam- bém por uma espécie de irradiação cletromagnética. Isto torna-se possível porque toda célula, além das funções estudadas pela fisiologia clássica, desempenha um papel pouco conhecido. o de funcionar como um verda- deiro sintonizador eletromagnético. Em decorrência dessa capacidade, as células podem ser denominadas Biossintonizadores. Essa interação por via eletromagnética em ondas de altas freqüências, é, ao que tudo indica, muito mais sensível, eficiente e ativa que todas as demais vias geralmente aceitas. No exemplo da queimadura por indução hipnótica, pode-se sentir que todos os mecanismos clássicos, todas as reações bioquímicas, como a inflamação e subseqüente cicatrização, manifestam-se em decorrência de uma ação precedente que, evidentemente, não é a ação calorífica do estile- te, por estar ele naturalmente ti·io. Somente após a lesão haver sido provocada por algo veiculado por uma via desconhecida é que se sucedem todos os processos histofisiológi- cos conhecidos: o rubor, dor, calor, necrose tccidual, ação das bactérias, mecanismos de defesa local e reparação tecidual; mas, antes, deve eviden- temente ter havido algo mais sutil que lesou de fato o tecido. Esse "algo mais sutil" está sempre presente em qualquer atividade biológica, porém raramente toma-se conhecimento dele, porque cm medicina, atualmente, tudo é reduzido sempre a análises laboratoriais, a sinais objetivos e, quan- do algo já está ocorrendo nesses níveis, a causa primeira, o comando cerebral por uma outra via diferente daquelas classicamente aceitas, prati- camente já deixou de atuar, pelo que nunca ela é detectada. Para evidenci- ar essa ação primeira, seria preciso detectar a onda que interliga as unida- des biológicas entre si, o que ainda não se tornou possível. Contudo, sente- se claramente a sua existência ao analisar casos como o da queimadura. Trata-se de um fenômeno apropriado para se descobrir a existência desse mecanismo de comando. Esse comando também ocorre em toda e qual- quer atividade biológica, como na reparação tecidual, na simples reprodu- ção celular, na etetivação de uma atividadc funcional orgânica. Apenas nessas atividades usuais, tudo pode ser n01malmente explicado pelas vias clássicas de interação entre o todo e as partes. Porém, embora não seja 32 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA necessário invocar outros mecanismos para justificar certas atividades co- muns aos organismos vivos, isto não exclui a possibilidade que, além deles, outros mecanismos participam de qualquer atividade histofuncional. A harmonia entre as partes c o todo cfetiva-se, portanto, pelas vias fisiológicas e, em nível mais sutil e profundo, por justaposição eletrônica, através de células que funcionam como biossintonizadores vibratórios. Algumas décadas atrás LAKOWSKY já considerava a célula como sendo um microcircuito oscilador. Para ele, a doença celular seria resultante de um desequilíbrio na oscilação característica das células. Em 1973, OS Drs. J, BIDU DEL BLANCO E CESAR ROMERO SIERRA, da Universidade de Ontário, demonstraram que os animais emitem ondas vibratórias. Formularam a hipótese que as células funcionam também como microssintonizadores de radiofreqüências c que as moléculas do Ácido Desoxirribonucléico (ADN) se constituem em microcircuitos oscila- dores: o Ácido Ribonucléico (ARN) em amplificador das radiofreqüências, e a membrana em filtro. Por métodos diferentes. outros cientistas estão chegando também à mesma conclusão. Diante dos resultados obtidos por aqueles cientistas, temos de admitir que um órgão, para funcionar a contento, deve manter as suas células cm perfeito estado de sintonização para assegurar a adequada transmissão e recepção das mensagens integradoras entre elas e o todo orgânico, porém, em um nível subconsciente. Em resumo, podemos concluir que, nos organismos complexos existe uma interação visando o estabelecimento de um equilíbrio harmônico entre o todo e as suas unidades constitutivas, realizada por algumas vias clássicas estudadas e pelo menos, por uma via muito mais sutil, de natureza vibrató- ria, que somente nos últimos anos vem sendo evidenciada por alguns cientis- tas pioneiros. É exatamente aquela via a responsável pelo controle inteligen- te presente em qualquer atividade biológica, por mais simples que ela seja. Em qualquer processo de cura, entram em jogo não somente as vias conhecidas da fisiologia como, particularmente, aquela terceira via de que tratamos, cuja função é transmitir ordens inteligentes do todo para as partes e vice-versa. CAPÍTULO A CoNSCIÊNCIA DAS UNIDADES BIOLÓGICAS Inegavelmente, para nós, a mais deslumbrante manifestação da na- tureza é a vida orgânica, que integra miríades de processos altamente complexos para culminar com a estruturação de um ser; talvez, a obra máxima do universo material. Quanto mais nos aprofundamos na análise dos processo vitais, tanto mais admiramos a obra monumental que é o organismo vivo, por mais simples que ele seja e, de forma alguma, podemos aceitar a não-existência de um princí- pio inteligente, diretriz da vida, onde quer que esta se manifeste. O ser vivo, assim como qualquer mecanismo integrante do Universo, não pode perdurar se, durante certo período, não satisfizer um determinado padrão de ordem estável, quer o sistema seja em escala microscópica, ou em escala sideral. Nem os seres vivos em geral, nem o homem em particular, poderiam fugir à regra; portanto, este deve ser também um sistema em equilíbrio estável, tanto físico quanto psíquico e, como tal, funcionar durante um período de tempo de duração variável. Se os fatores que atuam a todo instante sobre os organismos fossem sempre estáveis e estes, por sua vez, estivessem, pela própria constituição orgânica, geneticamente condicio- nados, plenamente adaptados a eles, o equilíbrio seria garantido e, por certo, não haveria doençasnem sofrimentos de espécie alguma. Existiria, sim, uma condição que poderia ser comparada a um estado paradisíaco. Mas, na realidade, as condições variando sem cessar, os organismos têm de lançar mão a todo instante de mecanismos diversos para restabelecer o equilíbrio destruído. Nesses casos, a doença, tanto física como mental, sempre surge quando esse equilíbrio é rompido e o organismo, então, procura alguma forma de adaptação. 36 ' HOMEOPATIA- CONTR/BU/ÇAO AO ESTUDO DA TEORIA M/ASMATICA Isto confirma uma verdade imutável. No Universo só há lugar para dois estados: ordem e desordem. Em tudo o que se considera, constata-se que há ou não há organização. Organização é sinônimo de sentido de ordem, plani- ficação, finalidade, objetivação, programação etc., enquanto a desordem é caótica, o oposto de tudo isto e, por não ser finalista, não leva a nada que seja aproveitável. Sendo assim, temos de admitir que todo o organismo é uma estrutura que funciona sempre regida por um padrão de ordem. É oportuno indagar se esse padrão de ordem, presente em todas as coisas e nos organismos vivos, em particular, é regido por um estado consciente e inteligente ou, simplesmente, obra de um mecanismo auto- mático próprio de interações físico-químicas. Diante desta hipótese, desde muito cedo, os estudos dividiram-se em dois grupos antagônicos: de um lado, os que admitiam a existência de uma forma inteligente que dirige todos os processos da natureza; do outro, os defensores da doutrina contrária, afirmando que o padrão de ordem de todos os sistemas é oriundo tão-somente de uma cadeia automática de reações físico-químicas. Certamente este conceito sofreu a forte influência do pensamento filosófico de KANT, CONDORCET e SAINT·STMON. Inegavelmen- te, a influência decisiva exercida por esses pensadores sobre nossa ciência atual, mormente os escritos de AUGUSTO COMTE, o pai de um movimento filosófico - o positivismo - que nega toda conotação transcedental dos fenômenos da natureza. O positivismo proclama a necessidade de conhecer, de modo racional e objetivo, todos os fenômenos. Porém, pelo raciocínio, chegamos à conclusão de que muitos fenômenos inerentes à vida não podem ser explicados exclu- sivamente por simples reações químicas, como quer o positivismo, para o qual a vida seria apenas resultante de uma cadeia longa e complexa de reações físico-químicas. Assim, o organismo seria fruto de um complexo processo reativo abrangendo substâncias energéticas, e a vida tão somente resultante final das interações das estruturas macromoleculares existentes na primeira célula germinal, conforme determinado padrão constante da estru- tura dos genes. As estruturas químicas complexas contidas nos genes intera- giriam sucessivamente até produzirem o ser vivo, conforme as informações contidas na célula-mãe. Para um processo dessa natureza, nada mais seria preciso que a realização de certas condições ambientais, dispensando-se, por completo, a intervenção de qualquer diretriz inteligente. Assim, nada mais seria preciso que a estrutura química dos genes, a presença de material plástico-energético e condições físicas adequadas. Não se pode negar que todos os fatores anatômicos do ser vivo, bem como sua capacidade reativa ante os fatores somáticos e psicológicos e mesmo, as predisposições mórbidas, são dependentes da programação gê- nica mas, como veremos, isto só não dá conta de certos processo sutis que envolvem o fenômeno da vida orgânica. A CONSCIÊNCIA DAS UNIDADES BIOLÓGICAS • 37 Há várias décadas sabe-se que a estrutura do gene da célula geminai traz impressa, ou por assim dizer, gravada uma espécie de mensagem que contém todas as informações sobre o organismo que dela poderá se originar. Os conhecimentos sobre a estrutura gênica dos seres vivos evoluíram muito a partir de 1947, ano em que OS Drs. MAX PERUTZ e JOHN KENDREW, da Universidade de Cambridge, deram os passos fundamentais na elucida- ção da estrutura das macromoléculas responsáveis pela hereditariedade. Então já era sabido que os cromossomas consistiam de uma substân- cia química complexa denominada Ácido Desoxirribonucléico (ADN) e que, ao nível desse ADN, ocorre o arquivamento dos milhões de informa- ções sobre a estrutura do novo organismo. No óvulo fecundado, em uma ínfima quantidade de ADN encontram-se todas as mensagens químicas necessárias para, através de uma série de reações, dar origem a um orga- nismo potencialmente desenvolvido. O organismo resulta sempre no que está prefigurado na "planta arquitetônica gênica" contida no ADN. A po- tencialidade hereditária é representada como se fosse a gravação, no ADN, de tudo o que constituirá o ser até o fim de sua existência física. Procurando o modo de arquivamento dessas informações, PERUTZ e KENDREW, com O auxílio de WILKIN e JAMES WATSON, descobriram que, no gene, a estrutura do ADN tem a forma de uma escala em espiral, daí o qualificativo dado à estrutura gênica dos seres vivos: Espiral da Vida. Naquela "escada em caracol", os corrimãos, em número de dois, são cons- tituídos por açúcares-fosfatos e os degraus, por quatro bases: adenina, guanina, citosina e timina. Basicamente, sob o ponto de vista da biologia molecular, nada mais é necessário à gênese da vida além daquela estrutura aparentemente simples: dois açúcares agrupando as quatro bases. Mas, em cada espiral, o número das bases é muito elevado e as suas posições relativas, podem variar; assim sendo, posições alternadas originam arranjos diferentes. Combinando-se as quatro bases entre si é possível obter 24 resultados diferentes mas, como na "espiral da vida" essas quatro bases repetem-se milhões de vezes, as combinações com repetições possíveis são enormemente elevadas, tenden- do ao infinito. Tudo seria muito simples se houvesse apenas um número reduzido de combinações das quatro bases, mas o seu número é muito grande, a ponto de haver num simples vírus, estrutura viva mais simples, como o tipo T-4, por exemplo, cerca de 200 mil pares de bases. Quantas, então, não devem existir num ser complexo como o Homem? Geneticamente falando, a diferença entre um elefante e um rato, entre uma bactéria e uma baleia, entre um morcego e uma borboleta, entre a cor dos olhos de duas pessoas, entre um fígado e um estômago, entre todas as estruturas vivas, enfim, reside, essencialmente, sob o ponto de vista da biologia molecular, nas variações daquelas bases dentro da "espiral da vida". 38 ' HOMEOPATIA- CONTRIBU/çAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA A distribuição daquelas bases que, esquematicamente, formam os de- graus da "escala espiral da vida", estabelece uma espécie de código cor- respondente a uma "mensagem química" que determinará as característi- cas de uma determinada forma viva e. se for alterada a posição de qual- quer uma delas, resultará numa mutação. Assim como acontece com qual- quer tipo de código, alterando-se alguns elementos do código genético, altera-se completamente a mensagem codificada. Assim, uma vez alterada as posições de certas bases da espiral gênica de um rato, poder-se-ia criar uma espécie completamente diferente, como um dinossauro, por exemplo. Em consonância com o pensamento materialista, o biólogo dirá que tudo o que se precisa para a organização da vida é um código genético, certa quantidade de energia veiculada por algumas substâncias nutrientes e condições físicas adequadas, para que o organismo possa ser criado e funcionar adequadamente, pois, para ele, a vida é apenas resultante de um constante interagir químico. Para existir biologicamente o ser vivo nada mais requer que um código genético contido na espiral do ADN, nutrição e condições físicas adequadas, dispensando-se qualquer princípio inteli- gente para dirigir aquela sucessão de reações químicas que culmina com o organismo prefigurado na estrutura gênica da primeira célula embrionária. Embora esteja-se ainda caminhando a passos lentos na esfera dos conhecimentos da biologiamolecular, há indícios evidentes que o código genético serve como modelo básico orientador dos demais aminoácidos que se formam na célula e orientam a organização do novo ser, segundo o que está codificado. Não se pode negar a existência de uma série de mecanismos físico- químicos graças aos quais, a partir da célula inicial, o organismo vai se diferenciado embriologicamente. No primeiro instante existe apenas uma célula, com todas as potencialidades inerentes ao futuro ser que, por ocasião do nascimento, contará com trilhões de células altamente especializadas. Os biólogos dizem que toda diferenciação e especialização celular já são condições programadas no ADN. A biologia explica muito bem como ocorrem todas as etapas da diferenciação celular, desde o óvulo até o organismo completo. A vida orgânica, quando vista sob certos ângulos, nada mais parece ser que uma seqüência extremamente complexa de reações que se iniciam na célula-mãe e terminam com os órgãos e tecidos prestes a funcionar de maneira muito especializada. A vida seria algo mais fácil de ser entendido se os processos vitais pudessem ser explicados unicamente como resultado de interações bioquí- micas, mas, na realidade, a vida envolve certas atividades que transcendem o que pode ser demonstrado racionalmente, apenas com o apoio das teori- as clássicas. O processo evolutivo requer estímulos iniciais para assegurar a con- A CONSCIÊNCIA DAS UNIDADES BIOLÓGICAS ' 39 flagração das reações, isto é, para desencadear os mecanismos reativos intracelulares. A natureza desses estímulos varia muito, pois a própria penetração do óvulo pelo elemento masculino já provoca inúmeras agres- sões, que originarão modificações sucessivas até a elaboração total do novo ser, com seus órgãos altamente especializados. O código genético assemelha-se, pois, a uma planta arquitetônica que comporta muitas alternativas de acordo com a natureza dos estímulos que se manifestarem. Ele não comporta uma solução única. Dependendo da natureza da agressão, o resultado final pode não corresponder à condição mais favorável impressa no código genético; em conseqüência, a célula pode ter sua funcionalidade modificada ou incompleta. Diante de diferen- tes estímulos, as unidades celulares respondem segundo as diferentes op- ções funcionais, embora todas elas estejam codificadas no ADN. Ante diferentes estímulos a resposta jamais será idêntica, nem sempre ocorren- do a mais indicada para atender a determinada situação, devido a inúmeras interferências possíveis. Mas é exatamente isto que permite aos organis- mos vivos amoldarem-se às mais diversas condições que lhes são impos- tas, mas sempre de uma maneira que não acarrete prejuízos. Nessas condições, podemos aceitar que o resultado final do desenvol- vimento do ser admite uma certa faixa de opções para o atendimento das variações das condições ambientais. Todo ser é condicionado a ter um tipo estrutural e funcional adequado que lhe permite atender às necessidades impostas pelo meio, isto é, responder adequadamente a todos os estímulos e agressões que a vida lhe oferece, visando a uma forma de equilíbrio estável durante um espaço de tempo de duração variável, embora nada indique que isso sempre possa ocorrer de forma inócua. Se as condições do meio não variassem, se a natureza e a intensidade dos estímulos mantivessem-se sempre constantes, o indivíduo, tendo nasci- do com uma estrutura somática adequada àqueles estímulos, jamais preci- saria utilizar mecanismos adaptativos e, portanto, não sofreria qualquer tipo de distúrbios. Mas nem sempre é assim. O organismo nasce preparado para enfrentar numerosos e variados fatores sem qualquer dificuldade, mas, como estes variam constantemente em qualidade e intensidade, me- canismos adaptatitivos são utilizados a todo instante, para assegurar a manutenção do equilíbrio com o meio. Como já dissemos, se as condições não sofressem alterações, o ser viveria num paraíso adâmico, pois todas as intervenções surgidas seriam descartadas naturalmente, sem que aparecesse nenhuma situação adicional para perturbar sua funcionalidade. O ser teria uma estrutura anatomofisio- lógica capaz de eliminar sempre, pelos mecanismos naturais, sem danos ou sofrimentos, tudo o que lhe fosse incômodo. Em resumo, podemos dizer que o código genético funciona como uma planta arquitetônica de múltiplas opções, de acordo com a qual o 40 1 HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA organismo é construído. Mas veremos a seguir que essa construção não obedece a nenhum processo cego, que dispensa a ação de outro princípio, necessariamente inteligente, representado pela Força Vital, que denomina- mos "Inteligência Vital". Um estímulo adequado desencadeia o processo evolutivo que se inicia com a diferenciação celular, segundo a mensagem codificada. Sabe-se que, no processo diferenciativo celular, intervêm inúmeros fatores bem conhecidos da biologia, como luz. força de gravidade, temperatura, umidade, atuação de substâncias mais diversas oriundas do meio ambiente e provenientes da elabo- raçãodas próprias células já formadas, como hormônios, enzimas etc. Não duvidamos da importância de todos aqueles fatores que, evidentemente, têm papel preponderante na utilização da mensagem gênica contida no ADN. Mas haverá apenas mecanismos físico-qímicos envolvidos no proces- so da genese orgânica? Admitindo-se que sim, indagamos se, por si só, esses fatores conseguem desvendar todos os enigmas inerentes à vida. Será que apenas por meio desses mecanismos todos os fenômenos e condições encontrados no desenvolvimento, funcionamento e comporta- mento dos seres vivos podem ser explicados racionalmente? Acreditamos que não. pois já certas situações são impossíveis de serem compreendidas quando se admite que os processos vitais resultam exclusivamente de inte- rações químicas. Com efeito, a análise minuciosa de alguma situação evidencia a ne- cessidade de outro elemento para que possa ser compreendido o que ocor- re. Trata-se de situações impossíveis de serem entendidas, quando se ex- clui dos processos vitais a presença de uma diretriz inteligente. Para fins de análise, vejamos o caso da reprodução dos vegetais, a partir dos meristemas (meristema é o agrupamento de células capazes de dar origem a todos os demais tipos de tecidos do vegetal a que pertence). São células indiferenciadas e totipotentes que contêm o código genético do vegetal considerado e, portanto, capazes de originar uma planta viva completa, com suas diferenciações teciduais. Situam-se as células meristemáticas em quase todas as partes do ve- getal. A partir delas desenvolve-se o que vulgarmente denomina-se "olho vegetativo", que evolui para dar origem a um broto. Embora existam no vegetal milhares desses agrupamentos de células capazes de dar origem a uma nova planta ou a um broto, a atividade dos meristemas é contida por algum mecanismo desconhecido. Capazes de desenvolverem-se a qualquer momento, em realidade não o fazem. Os "olhos" esperam às vezes, longo tempo, adormecidos; dado momento. um ou alguns iniciam o processo diferenciativo. Ora, se existem milhares de grupos de células meristemáti- cas em condições de desenvolverem-se, por que somente uns poucos, na mesma época, entram em processo diferenciativo de evolução? A ciência afirma que eles são despertados por vários fatores, como A CONSCIÉNCIA DAS UNIDADES BIOLÓGICAS • 41 certos hormônios, a intensidade luminosa, fatores atmosféricos e outros elementos bem-determinados. Não cabe indagar aqui quais os fatores que participam ou quais são capazes de estimular o início da atividade diferenciativa, mas sim por que uns meristemas são despertados e outros não. Por que, entre elementos aptos, uns despertam e não todos eles simultaneamente? Na árvore podada, entende-se que, ante a nova situação, atuam vários fatores para estimular o brotamento, como, por exemplo, os fito-hormôni- os e outros,mas não se pode dizer por que razão todos os núcleos meris- temáticos não eclodem simultaneamente. Outro exemplo apropriado diz respeito à ovulação. Sabe-se que o ovário da mulher contém milhares de folículos donde originar-se-ão óvulos e que todos eles foram gerados na mesma época, tendo todos, portanto, a mesma idade. Estão muito próximos uns dos outros e são influenciados pelos mesmos níveis de substâncias veiculadas pela circulação dos diversos humores. Encon- tram-se em idênticas condições de gravidade, temperatura, pressão etc. Por- tanto, não se pode afirmar que haja condições físicas, químicas ou topológicas diferentes para cada folículo que atuem em um deles e não em todos. Não se pode dizer que todos aqueles fatores conhecidos da ciência não desempenham seu papel nos mecanismos da germinação, mas também não se pode atribuir a algum deles a responsabilidade pela ruptura mensal de um único folículo. Os estímulos são idênticos para todos, a idade de todos a mesma, assim como o grau de maturidade, e o exame histológico é incapaz de detectar quaisquer diferenças entre eles. Mas, por qual razão somente um deles rompe-se cada mês e não todos eles? Isto a ciência não explica. A maturação, a diferenciação etc., podem ser explicadas somente pelas interações químicas, mas a escolha do elemento que deverá amadurecer não pode ser explicada como provocada por ação química não-inteligente. Diante disso, é mister admitir que existe, ao que tudo indica, um processo inteligente que orienta o fenômeno. Se, em vez de permanecerem no ovário, aqueles folículos adormeci- dos forem cultivados in vitro e submetidos à ação daqueles mesmos ele- mentos estimulantes, por que então todos eles despertam simultaneamen- te? Como explicar aquela escolha "dirigida" que chega ao extremo de determinar uma alternância de ovário mensalmente? Num mês ovula o direito e no mês seguinte, o esquerdo. Além da escolha de um folículo entre milhares, ainda ocorre mensal- mente a escolha alternada de ovários. Tudo acontece como se os folículos escolhessem um deles.,Apenas o escolhido responde, portanto, somente um "sabe" que chegou a sua vez de amadurecer, enquanto os demais aguardam outra oportunidade. Vejamos agora o que normalmente acontece em certos experimentos realizados com planárias (Platelmintos). 42 1 HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇAO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA Esses seres têm reações deveras interessantes, pois se seccionamos um deles pelo meio, a metade que contiver a cabeça regenerará a extremi- dade que lhe falta e a outra substituirá a parte da qual foi separada. Sabe- se que o estímulo mecânico ao nível do corte desencadeia o processo de reparação; sabe-se também que no ADN de qualquer célula do platelminto existe um modelo completo do mesmo, mas o que se explica é como as células "sabem" o quanto devem se reproduzir, o quanto devem crescer, mesmo usando para a regeneração a mensagem em código gravada nas espirais do ADN. Por que a parte anterior começa a desenvolver a posteri- or que lhe está faltando, e não outra idêntica a ela? Evidentemente, a regeneração está programada, mas se forem examinadas todas as células ao nível do corte, será fácil verificar que todas são absolutamente idênti- cas, tanto as da parte anterior quanto as da posterior. Ambos os grupos têm uma pla_nta programada a seguir, sofrem estímulos iguais, são banhadas por idênticos humores etc., mas, mesmo assim, começam logo a diferenci- ar-se para a restauração exata da parte perdida. Como essas células "sa- bem" exatamente o quanto falta da planária inteira? Há como que um princípio inteligente que dirige essa atividade, utilizando o código genéti- co apenas como se fosse uma planta arquitetônica. Se um fenômeno desta natureza não for inteligente, indagamos, então: o que é inteligência? O químico que reflete no caso, sabe que um fenômeno dessa natureza não acontece unicamente por um desencadear de reações. A teoria dos estímulos por si só, não pode ser invocada como explicação, pois em ambos os segmentos da planária eles são idênticos. A existência nas células de um modelo completo da planária tampouco explica o fenômeno, se houvesse um desencadear inconsciente de reações químicas, as células estimuladas regenerariam uma planária inteira e não apenas uma parte perdida. Pelo fato de um órgão regenerar uma de suas partes com células idênticas ainda se pode admitir a ocorrência de um simples processo reati- vo, porque as células já diferenciadas multiplicariam-se a partir da parte seccionada. Mas no caso da planária, é um hemi-ser que é regenerado a partir de células embriologicamente primitivas. São tão primitivas essas células quanto as células originais que deram origem à planária mutilada; contudo não desenvolvem um platelminto inteiro e sim uma parte dele. Tudo isto, evidentemente, reforça a convicção que quanto mais primi- tiva e mais indiferenciada for a célula, mais será capaz de entrar em atividade e reparar uma lesão, segundo um modelo preexistente. Apesar disso, a pergunta persiste: como a célula "sabe" qual a alternativa a seguir, mesmo existindo um modelo implícito no ADN, se esse modelo não é único, se há alternativas possíveis e, nesse caso, as células precisando tomar uma decisão, escolher precisamente a alternativa apropriada? Após a secção, ocorre como que uma avaliação do dano sofrido, para, em segui- da, processar-se a regeneração de acordo com a planta genética. A CONSCIÉNCIA DAS UNIDADES BIOLÓGICAS • 43 A regeneração de partes amputadas assemelha-se ao caso de um edi- fício danificado, cuja reconstrução foi confiada a um arquiteto. Ele apro- veitará, para isso, a planta da obra original, mas, antes de iniciar a restau- ração, ele deverá possuir não só a planta arquitetônica como também a consciência do dano ocorrido. A planta por si só, sem a consciência do dano, não possibilitará a reparação adequada. O arquiteto deverá, impres- cindivelmente, tomar ciência do dano para poder utilizar a planta de uma maneira adequada, até efetuar a restauração necessária. Do mesmo modo, num tecido localizado e fixo, como as células podem "saber" o dano causado no organismo para iniciarem a restauração? O estímulo ao nível da lesão é suficente para que as células comecem a se reproduzir; mas por que a simples reprodução não assegura apenas uma multiplicação ininterrupta de células idênticas? Em qualquer processo reconstrutivo é necessário saber a partir de que ponto o processo deve ser iniciado e todas as etapas a serem realizadas. Os mecanismos das reações químicas são irreversíveis, se uma reação química for interrompida e depois, reiniciada ela não retrocederá. Nenhuma cadeia de reações químicas volta à reação inicial, ao contrário do que ocorre na reparação orgânica na qual essas reações ocorrem como se estivessem se realizando as primeiras etapas do desenvolvimento embrionário. A reação química prossegue, no máximo, a partir do ponto em que foi interrompida. Nas células. o processo sempre que necessário, e as reações iniciais se repetem. Isto sugere a existência de um comando inteligente. Muitos pensam que a totipotencialidade das células embrionárias pode explicar o fenômeno da reparação e, em particular, a gênese orgâni- ca, mas, em realidade permanecem numerosos pontos obscuros sobre os quais as teorias elaboradas pela embriologia e pela biologia molecular nada explicam de forma convincente. As células embrionárias totipotentes apenas são mais responsáveis, isto é, respondem melhor aos estímulos que as demais já diferenciadas. Todas essas indagações, bem como muitas outras, pedem explicações lógicas aos pesquisadores que analisam c procuram encontrar soluções adequadas para os fenômenos biológicos, para explicar os mecanismos envolvidos nos exemplos citados. Por certo, acharão que na evolução em- briológica, ou mesmo na funcionalidade orgânica, fazem-se necessários outros fatores não-mencionados pela ciência oticial. O princípioque man- tém a vida - Força Vital - é dirigido de forma inteligente. Se esta premissa for aceita, tudo torna-se claro, sem que haja necessidade de se invocar outros mecanismos além dos que são cientificamente determinados. Portanto, aceitamos a necessidade de existência de uma forma de consciência diretora e mantenedora da atividade vital ao ser vivo. Todos os seres vivos, inclusive a célula mais simples, possuem algo como uma forma de consciência que dirige os dispositivos bioquímicos 44 • HOMEOPATIA- CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMATICA utilizando, para esse fim, a planta do ADN, e as substâncias necessárias às atividades vitais. Por sua vez, esse mecanismo consciente unitário está integrado, isto é, está sintonizado harmonicamente, com uma inteligência maior à inteli- gência do organismo inteiro, mesmo que isto aconteça cm nível subconsci- ente. Quando uma lesão ocorre num tecido, quando um corpo estranho nele penetra, a inteligência diretora das atividades celulares entra em ação, utilizando as substâncias plástico-energéticas como material e o código do ADN como planta, para iniciar a reparação ou a liberação que se fizerem necessárias. Graças a esse princípio inteligente através da Força Vital, as células "sabem" quando devem continuar um processo, a partir de onde iniciá-lo e até a que ponto conduzi-lo, graças ao comando inconsciente do organismo que dirige as reações, que ordena todas as atividades bioquímicas segundo o que está registrado no código genético. A Força Vital, tal como é aceita pela Homeopatia, que comanda todos os mecanismos da vida orgânica não é uma força dirigida cegamente como veremos adiante. Ela é inteligentemente dirigida para a integração de cada célula do organismo mediante uma espécie de sintonia vibratória. Se esse equilíbio harmônico do "consenso orgânico" não se fizer sentir, cada célu- la passa a agir mecanicamente e a reconstrução se faz de maneira caótica, sem o padrão de ordem próprio a todos os sistemas estáveis. A planta arquitetônica continua a ser utilizada, mas sem uma diretriz inteligente, numa autoperpetuação automática destituída de controle racional. CAPÍTULO PRINCÍPIOS DA UNIDADE ORGÂNICA Para ter uma compreensão perfeita do funcionamento orgamco é mister considerar, de início, a aplicação aos organismos vivos de dois conceitos filosóficos. Um deles, o dualismo cartesiano, considera o indivíduo constituído de corpo e alma. O outro diz respeito ao princípio holoísta da vida que considera os organismos como constituídos por unidades entre si, destas com o soma, e deste com o seu dade, e afirma que a natureza desta unidade não represen- ta apenas o somatório de todas as qualidades dos seus elementos constitu- tivos. No indivíduo, além da coexistência corpo/alma, deve haver uma harmonia total e perfeita entre os elementos de sua parte somática. Como afirma GoLDSTEIN: "O organismo está constituído por elementos diferenciados articulados entre si, que não funcionam jamais separada- mente, salvo em certas circunstâncias patológicas, ou em determinadas condições experimentais". Já vimos nos capítulos anteriores que as unidades orgânicas interagem por meio de certas vias associativas e que, somente o equilíbrio perfeito de todas as unidades entre si. destas com o soma e deste com o seu universo exterior, condiciona um estado ideal de saúde. Como estruturas holísticas, os organismos em geral e o humano em particular devem conservar-se dentro dos parâmetros de viabilidade vital, para o que cada um conta uma estrutura adequada. Contudo, como as condições variam dentro e fora dele, o organismo vive em luta constante, procurando restabelecer a todo custo o equilíbio perturbado, ou seja, ten- tando manter a homeostase. 48 • HOMEOPATIA - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA TEORIA MIASMA TICA Desde o nascimento, ele está apto a aproveitar ou rejeitar tudo o que o atinge, quer provenha do próprio meio interno ou do ambiente, graças a um conjunto de aparelhos que a fisiologia denomina emunctórios. Tudo o que penetra na unidade orgânica, se não for aproveitado de alguma forma, será por certo eliminado, quer diretamente, sem transtorno, quer após ter sofrido algum tipo de transformação; ou, em última instân- cia, o elemento estranho será localizado e bloqueado em algum ponto, o que quase sempre acarreta transtorno físico ou psíquico. Caso contrário, haverá sempre algum prejuízo importante para a estrutura orgânica, ocor- rendo, então, situações incômodas, denominadas doenças. Ao citarmos a dualidade proposta por RENÊ DESCARTES, não nos referi- mos necessariamente a uma personalidade independente coexistente com o corpo físico. Talvez isto realmente ocorra, mas deixemos este aspecto para as análises metafísicas e as religiões. Aqui, consideraremos a parte não- corpórea da individualidade, apenas como uma forma de consciência ou inteligência, porém muito mais ampla que cerebral e que pode derivar ou não da própria vida orgânica. Na tentativa constante de assegurar a homeostase, o organismo lança necessariamente mão de três sistemas defensivos. Inicialmente, entram em ação inúmeros dispositivos básicos que visam a expulsar o supérfluo, ou o que já cumpriu a sua finalidade, ou que possa causar prejuízos ao oganismo. Essa função é desempenhada pelos emunctó- rios, que efetuam as eliminações fisiológicas. Assim, o agente indesejável, em condições bioquímicas possíveis, será eliminado naturalmente, graças à atividade emunctorial, mas, muitas vezes, certas transformações bioquími- cas fazem-se necessárias para que o agente possa ser eliminado sem envol- ver qualquer processo adicional que acarrete transtornos. Há casos em que entra em jogo o mesmo sistema emunctorial, mas com sua funcionalidade ampliada ou, quando não, em regime de sobrecar- ga. Aqui também o agente estranho tende a ser eliminado, diretamente ou após alterações bioquímicas propícias à sua eliminação. Em essência, os mecanismos de transformações acarretam o estado co- nhecido como processo alérgico que, segundo o eminente mestre W.E MAFFEI \Xl, é uma ação modificada do organismo. Normalmente a eliminação emunctori- al é direta, mas, nos casos em que isto não é possível, o organismo passa a funcionar de forma diferente para eliminar a causa que perturba a homeostase. É fácil compreender por que, em tais casos, o organismo afasta-se daquela condição ideal de funcionabilidade e torna-se doente. Inicialmente, o processo alérgico decorre exclusivamente da tentativa orgânica de transformar o elemento perturbado do sistema em algo suscep- tível de ser eliminado naturalmente, mesmo que isto implique, muitas vezes, situações incômodas, constituindo-se o mecanismo defensivo alér- gico numa forma de doença. PR/NC{P/05 DA UNIDADE ORGÁNICA • 49 Finalmente, o organismo lança mão de meios mais possantes que não mais podem ser considerados como formas de eliminação natural, causan- do sempre transtornos mais acentuados e graves que se manifestam sob a forma de doenças que estudaremos nos próximos capítulos. Isto ocorre quando o agente não pode ser eliminado direta ou indiretamente pelos emuncórios, ou quando as reações de transformações são de tal natureza que ocorrem alterações estruturais. Vejamos o que ocorre na ingestão de certas substâncias, como o álcool, por exemplo. Se em proporções pequenas, o organismo vai utilizá- lo em benefício próprio, simplesmente; se em maior proporção, na impos- sibilidade de eliminá-lo diretamente, ele o transformará em outras substân- cias, que serão excretadas facilmente. Se a quantidade, porém, for maior ainda, haverá sobrecarga do sistema por incapacidade de eliminação e tal condição, por certo, acabará prejudicando seriamente algum órgão. Até a própria água, ingerida em quantidade normal, cumprirá a sua finalidade e será eliminada. Se em quantidade maior, o excesso logo será eliminado pelo incremeno da diurese; mas, se introduzida em quantidade ainda