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Volume 1 Capítulo 1 Números Reais 1. Por volta do século V a.C., os pitagóricos defendiam que quaisquer dois segmentos eram sempre comensuráveis, ou seja, múltiplos de um segmento comum. Em outras palavras, afirmavam que dados dois segmentos não nulos medindo a e b respectivamente, sempre era possível encontrar um novo segmento medindo < ,c a b de modo que =a mc e =b nc, com ,m n∈. Forneça um contraexemplo mostrando que os pitagóricos estavam equivocados em sua afirmação. Solução Vamos inicialmente admitir como verdadeira a afirmação dos pitagóricos, ou seja, quais- quer dois segmentos não nulos são comensuráveis, e a partir daí vamos considerar a diagonal de um quadrado unitário (de lado igual a 1), cuja medida denotaremos por d. Pela afirmação supracitada, essa diagonal e um lado qualquer do quadrado deverão ser comensuráveis. Em outras palavras, deverá existir um terceiro segmento medindo c, sa- tisfazendo = e 1 = , , .d nc mc m n∈ Desta forma = = . 1 d nc n mc m Naturalmente é possível supor, sem perda de generalidade, que n e m não possuem fatores primos em comum, caso contrário basta simplificar a fração m/n pelos fatores primos comuns. Assim, podemos afirmar que = , mdc( , ) = 1.nd n m m Elevando ambos os membros ao quadrado e observando pelo teorema de Pitágoras que 2 = 2d , obtemos 2 2 2 2 22 = = = 2 , nd n m m ⇒ (1) Problemas e Desafios PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 1 17/07/2018 15:28:21 2 Problemas e Desafios e desta forma n2 é par, donde n é par. Ora, se n é par, então = 2 ,n k k ∈ e, assim, segue de (1) que 2 2 2 2 2 2(2 ) = 2 4 = 2 = 2 ,k m k m m k⇒ ⇒ donde m2 é par e portanto m também é. Chegamos assim à conclusão de que m, n são pares, o que contradiz o fato de m e n não pos- suírem fatores primos em comum (sendo pares, ao menos o primo 2 seria um fator comum). Note que tal contradição surgiu do fato de admitirmos a veracidade da afirmação dos pitagóricos, logo, este contraexemplo mostra que nem sempre dois segmentos são co- mensuráveis, ou seja, que os pitagóricos de fato estavam equivocados em sua afirmação. 2. Prove que, dados ,a b∈ com <a b, existe c∈ satisfazendo < < .a c b Solução Sabemos que <a b. Somando-se a em ambos os membros desta desigualdade e em se- guida multiplicando ambos os membros por 12− , utilizando para tanto as propriedades da compatibilidade da ordem dos números reais com a adição (OA) e com a multiplicação (OM), vem que 2 < ( ) < . 2 a ba a b a ++ ⇒ (2) De modo análogo, somando-se b em ambos os membros da desigualdade original e em seguida multiplicando-se os membros da desigualdade resultante por 12− , obtemos ( ) < 2 < . 2 a ba b b b++ ⇒ (3) Finalmente, de (2) e (3), obtemos < < , = . 2 a ba c b c + 3. Um determinado posto de combustível cobrava R$ 2,00 o litro do etanol e com isso vendia uma média de 24000 litros do combustível por mês. Ao reajustar o preço do combustível, o dono do posto observou que a cada R$ 0,10 de incremento no preço do litro o posto deixava de vender 1000 litros mensais. Nestas condições, determine o valor máximo que o dono do posto pode cobrar pelo litro do etanol para que não tenha sua receita com as vendas diminuída. Solução Observemos inicialmente que, cobrando 2 reais o litro do etanol e tendo com isso, uma venda mensal de 24000 litros do respectivo combustível, o dono do posto conseguirá uma receita mensal de 48000 reais. PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 2 17/07/2018 15:28:21 3 Números Reais Agora, de acordo com o enunciado, a cada acréscimo de R$ 0,10 no litro do combus- tível ocorre uma baixa de 1000 litros nas vendas mensais. Pois bem, se denotarmos por x a quantidade de incrementos de R$ 0,10 que serão aplicados no litro do etanol (note que 0x ≥ ), então, de acordo com os dados, a receita mensal R obtida com a venda do respec- tivo combustível já com o preço reajustado, será dada por quantidade de litros vendidos com o reajuste 2 valor reajustado por litro = (2 0,1 ) (24000 1000 ) = 100 400 48000.R x x x x+ ⋅ − − + + Nosso objetivo é determinar qual deve ser o maior valor possível que podemos atribuir para a variável x, de modo que a receita obtida com as vendas não seja inferior ao que era antes do reajuste (48000 reais no caso). Note que, para isso, devemos impor que 48000R ≥ , ou seja, 2100 400 48000 48000x x− + + ≥ 2100 400 0x x− + ≥ ( 100 400) 0x x− + ≥ Para que a desigualdade acima se verifique, temos dois casos a considerar. CASO I: Quando 0x ≤ e ( 100 400) 0x− + ≤ . Note que este caso não deve ser considerado, pois 0x ≥ , como já evidenciamos. CASO II: Quando 0x ≥ e ( 100 400) 0x− + ≥ . Nesse caso, devemos ter 0x ≥ e 100 400 0x− + ≥ 100 400x− ≥ − 100 400x ≤ 4.x ≤ Assim, para que não haja prejuízo na receita obtida com as vendas, devemos ter 0 4x≤ ≤ , ou seja, o maior valor possível que pode ser cobrado pelo litro do etanol é 2 0,10(4) = 2,40+ reais. 4. Um professor de Cálculo aplica dois instrumentos de avaliação ao longo de um semestre, um teste que tem peso de 1/3 no cálculo da média final e uma prova que tem o restante do peso. Para obter conceito B, a média final deve estar entre 70 e 80, incluindo essas notas, acima disso o conceito é A. Se um aluno tirou 72 no teste, qual deve ser a menor nota que ele pode tirar na prova para conseguir ficar com conceito B? E com conceito A? Solução Denotaremos por T a nota do teste, por P a nota da prova e por MF a média semestral. De acordo com os dados fornecidos, temos que 1 2= 3 3 MF T P+ PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 3 17/07/2018 15:28:22 4 Problemas e Desafios Para que o conceito obtido seja B é necessário que 70 80MF≤ ≤ , ou seja, 1 270 80. 3 3 T P≤ + ≤ Como o aluno tirou 72 no teste, a nota da prova que contempla o conceito B deverá satisfazer 1 2 270 72 80 70 24 80 3 3 3 P P≤ ⋅ + ≤ ⇒ ≤ + ≤ 246 56 3 P⇒ ≤ ≤ 3 346 56 2 2 P⇒ ⋅ ≤ ≤ ⋅ 69 84.P⇒ ≤ ≤ Assim, a menor nota que o aluno em questão pode tirar para obter conceito B deve ser 69, e, para obter conceito A, 85. 5. O resto da divisão de um polinômio ( )P x por ( 1)x + é 2, ao passo que o resto da sua divisão por ( 2)x − é 8. Nessas condições, determine qual deve ser o resto da divisão de ( )P x pelo produto ( 1)( 2)x x+ − . Solução Observemos inicialmente que, como a divisão de ( )P x por ( 1)x + deixa resto 2, então 1( ) = ( )( 1) 2 ( 1) = 2.P x Q x x P+ + ⇒ − (4) Da mesma forma, como a divisão de ( )P x por ( 2)x − deixa resto 8, então 2( ) = ( )( 2) 8 (2) = 8.P x Q x x P− + ⇒ (5) Seja agora, R(x) o resto da divisão de P(x) por ( 1)( 2)x x+ − . Então ( ) = ( 1)( 2) ( ).P x x x R x+ − + Como o grau do resto R(x) deve ser estritamente menor que o grau do quociente ( 1)( 2)x x+ − , que é 2, segue que ( ) =R x ax b+ e, portanto, ( ) = ( 1)( 2) .P x x x ax b+ − + + Assim (4) (4) = ( 1) = 2 = 2 2 = (2) = 8 = 4 a b P a a b P b − + − ⇒ + Portanto ( ) = 2 4.R x x + PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 4 17/07/2018 15:28:24 5 Números Reais 6. Determine o valor da constante a para que possamos estabelecer o valor da função 3 2 3 2( ) = 5 7 3 x x ax af x x x x + + + − + − em = 3x e em seguida determine (3)f para o valor de a determinado. Solução Note que, ao tentarmos determinar (3)f , nos deparamos com o problema de anular o denominador. Isso sugere que = 3x é uma raiz do polinômio 3 25 7 3x x x− + − e que portanto ele é divisível pelo fator ( 3)x − . De fato, efetuando a divisão de polinômios, é fácil ver que 3 2 2 3 2 25 7 3 = 2 1 5 7 3 = ( 3)( 2 1) 3 x x x x x x x x x x x x − + − − + ⇒ − + − − − + − (6) Desta forma, observe que para que seja possível calcular (3)f é fundamental que o numerador dessa função racional apresente também um fator ( 3)x − em sua decomposi- ção para que ele possa ser cancelado ao fator ( 3)x − do denominador, eliminando a in- determinação existente.Mas, impor que ( 3)x − seja um fator presente na decomposição do numerador 3 2x x ax a+ + + equivale a impor que = 3x seja raiz desse polinômio, ou seja, que 3 23 3 3 = 0 36 4 = 0 = 9.a a a a+ + + ⇒ + ⇒ − E assim 3 2 3 2 9 9( ) = 5 7 3 x x xf x x x x + − − − + − Efetuando a divisão do polinômio 3 2 9 9x x x+ − − por ( 3)x − , que já sabemos ser um de seus fatores, obtemos 3 2 2 3 2 29 9 = 4 3 9 9 = ( 3)( 4 3). 3 x x x x x x x x x x x x + − − + + ⇒ + − − − + + − (7) Obtemos assim, de (6) e (7), 2 2 2 2 ( 3)( 4 3) 4 3( ) = = ( 3)( 2 1) 2 1 x x x x xf x x x x x x − + + + + − − + − + e agora, eliminada a indeterminação existente em = 3x , podemos calcular (3)f , obtendo o valor 2 2 3 4(3) 3 24(3) = = = 6. 43 2(3) 1 f + + − + 7. Simplique as expressões dadas abaixo, tornando possível estabelecê-las para os valores de x especificados: PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 5 17/07/2018 15:28:26 6 Problemas e Desafios a) 2 2 25 5 , = 0x x x + − b) 2 3 , = 9 9 x x x x − − c) 2 13 7 , = 6 6 x x x + − − d) 2 1 1 25(5 ) , = 0x x x − + e) 10 3 , = 1 5 2 x x x − − − − Solução a) Neste caso, para eliminar a indeterminação existente, vamos multiplicar o numerador e o denominador pelo conjugado do numerador, obtendo ( ) ( ) ( ) 2 2 2 2 2 2 25 5 25 525 5 = 25 5 x xx x x x + − + ++ − ⋅ + + ( ) 2 2 2 2 2 ( 25) 5= 25 5 x x x + − + + ( ) 2 2 2 = 25 5 x x x + + ( )2 1= . 25 5x + + Observe que agora podemos substituir = 2x na expressão acima, obtendo o valor ( )2 1 1= . 5 292 25 5 ++ + b) Aqui, para eliminar a indeterminação, vamos fatorar o polinômio do denominador e em seguida multiplicar o numerador e o denominador pelo conjugado do numerador, obtendo ( ) ( ) ( )2 3 33 = (9 )9 3 x xx x xx x x − +− ⋅ −− + PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 6 17/07/2018 15:28:27 7 Números Reais ( ) 2 23 ( )= (9 ) 3 x x x x − − + ( ) 9= (9 ) 3 x x x x − − + 1= . (3 )x x+ Observe que agora podemos substituir = 9x na expressão acima, obtendo o valor 1 1= . 549(3 9)+ c) Neste caso, para eliminar a indeterminação existente em = 6x , precisaremos mul- tiplicar o numerador e o denominador pelo conjugado do numerador e em seguida fatorar o polinômio obtido no denominador, obtendo ( ) ( ) ( ) 2 2 2 2 13 7 13 713 7 = 6 ( 6) 13 7 x xx x x x + − + ++ − ⋅ − − + + ( ) ( ) 2 2 2 2 13 7 = ( 6) 13 7 x x x + − − + + ( ) 2 2 36= ( 6) 13 7 x x x − − + + ( ) 2 ( 6)( 6)= ( 6) 13 7 x x x x + − − + + ( ) 2 6= . 13 7 x x + + + Observe que agora podemos substituir = 6x na expressão acima, obtendo o valor ( ) 12 12 6= = . 14 749 7+ d) Neste caso, para eliminarmos a indeterminação, basta efetuarmos a diferença existen- te no numerador da expressão e efetuar algumas manipulações algébricas, obtendo 2 2 2 1 1 25 (5 ) 25(5 ) 25(5 )= x x x x x − + − + + PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 7 17/07/2018 15:28:31 8 Problemas e Desafios 2 2 25 (5 )= 25 (5 ) x x x − + + 2 2 25 (25 2 )= 25 (5 ) x x x x − + + + 2 (2 )= 25 (5 ) x x x x + + 2 2= . 25(5 ) x x + + Observe que agora podemos substituir = 0x na expressão acima, obtendo o valor 2 2 2= . 62525(5) e) Note que neste caso, se simplesmente multiplicarmos o numerador e o denominador da expressão pelo conjugado do numerador ou então pelo conjugado do denominador, a in- determinação se mantém (verifique). Neste caso, a estratégia é multiplicar o numerador e o denominador da expressão pelo produto desses conjugados. Fazendo isso, obtemos ( ) ( ) ( )( ) ( )( ) 10 3 10 3 5 210 3 = 5 2 5 2 10 3 5 2 x x xx x x x x − − − + − +− − ⋅ − − − − − + − + ( )( ) ( )( ) 2 2 2 2 ( 10 ) 3 5 2 = ( 5 ) 2 10 3 x x x x − − − + − − − + ( ) ( ) (1 ) 5 2 = (1 ) 10 3 x x x x − − + − − + ( ) ( ) 5 2 = . 10 3 x x − + − + Observe que agora podemos substituir = 1x na expressão acima, obtendo o valor ( ) ( ) 5 1 2 4 2= = . 6 310 1 3 − + − + 8. Resolva as inequações modulares abaixo: a) 2 2| 16 |x x− ≥ b) 2| 2 |x x x+ − ≤ c) | 3 | | 3 6 | < 1x x− − − PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 8 17/07/2018 15:28:31 9 Números Reais Solução a) Temos que 2 2 2 2 2 16, se ( 16) 0 | 16 | = 16 , se ( 16) < 0 x x x x x − − ≥ − − − 2 2 16, ( , 4] [4, ) (CASO I) = 16 , ( 4,4) (CASO II) x x x x − ∈ −∞ − ∪ +∞ − ∈ − CASO I: Para ( , 4] [4, )x∈ −∞ − ∪ +∞ : 2 2 2 2| 16 | 16 ,x x x x− ≥ ⇔ − ≥ o que não ocorre para nenhum valor de x, e portanto neste caso SI = ∅. CASO II: Para ( 4, 4)x∈ − : 2 2 2 2| 16 | 16x x x x− ≥ ⇔ − ≥ 2 8x⇔ ≤ ( 2 2,2 2)x⇔ ∈ − e neste caso a solução é dada por = ( 4,4) ( 2 2,2 2) = ( 2 2,2 2)IIS − ∩ − − . Portanto, a solução geral é dada por = = ( 2 2,2 2).I IIS S S∪ − b) Temos que 2 2 2 2 2 2, se ( 2) 0 | 2 | = 2, se ( 2) < 0 x x x x x x x x x x + − + − ≥ + − − − + + − 2 2 2, ( , 2] [1, ) (CASO I) = 2, ( 2,1) (CASO II) x x x x x x + − ∈ −∞ − ∪ +∞ − − + ∈ − CASO I: Para ( , 2] [1, )x∈ −∞ − ∪ +∞ : 2 2| 2 | 2x x x x x x+ − ≤ ⇔ + − ≤ 2 2x⇔ ≤ [ 2, 2]x⇔ ∈ − e neste caso a solução é dada por [ ]= ( , 2] [1, ) [ 2, 2] = [1, 2].IS −∞ − ∪ +∞ ∩ − CASO II: Para ( 2,1)x∈ − : 2 2| 2 | 2x x x x x x+ − ≤ ⇔ − − + ≤ 2 2 2 0x x⇔ + − ≥ ( , 1 3] [ 1 3, )x⇔ ∈ −∞ − − ∪ − + +∞ PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 9 17/07/2018 15:28:31 10 Problemas e Desafios e neste caso a solução é dada por = ( 2,1) ( , 1 3] [ 1 3, ) = [ 1 3,1).IIS − ∩ −∞ − − ∪ − + +∞ − + Portanto, a solução geral é dada por = = [ 1 3, 2].I IIS S S∪ − + c) Temos que 3, se 3 3 6, se 2 | 3 | = e | 3 6 | = 3 , se < 3 6 3 , se < 2 x x x x x x x x x x − ≥ − ≥ − − − − Note que há uma mudança de comportamento nos módulos estudados nos pontos = 2x e = 3x . Esses pontos dividem a reta real em 3 intervalos, a saber CASO I CASO II CASO III ( ,2], (2,3) e [3, )−∞ +∞ CASO I: Para ( , 2]x∈ −∞ | 3 | | 3 6 | < 1 (3 ) (6 3 ) < 1x x x x− + − ⇔ − + − 4 < 8x⇔ − − (2, )x⇔ ∈ +∞ e neste caso a solução é dada por = ( ,2] (2, ) = .IS −∞ ∩ +∞ ∅ CASO II: Para (2,3)x∈ | 3 | | 3 6 | < 1 (3 ) (3 6) < 1x x x x− + − ⇔ − + − 2 < 4x⇔ ( , 2)x⇔ ∈ −∞ e neste caso a solução é dada por = (2,3) ( ,2) = .IIS ∩ −∞ ∅ CASO III: Para [3, )x∈ +∞ | 3 | | 3 6 | < 1 ( 3) (3 6) < 1x x x x− + − ⇔ − + − 4 < 10x⇔ 5, 2 x ⇔ ∈ −∞ e neste caso a solução é dada por 5= [3, ) , = . 2III S +∞ ∩ −∞ ∅ Portanto, a solução geral é dada por = = .I II IIIS S S S∪ ∪ ∅ PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 10 17/07/2018 15:28:32 11 Números Reais 9. Em qual intervalo real se encontra a solução da inequação modular | | < , > 0,ax b c c− se a < 0? E se a > 0? Solução Sabemos que | | < < <ax b c c ax b c− ⇔ − − < <b c ax b c⇔ − + (8) Se a > 0, multiplicando os membros de (8) por a, segue da propriedade OM da compa- tibilidade da ordem com a multiplicação que < <b c b cx a a − + e neste caso a solução se encontra no intervalo real ,b c b c a a − + . Por outro lado, se a < 0, multiplicando os membros de (8) por a, obtemos > >b c b cx a a − + e neste caso a solução se encontra no intervalo real ,b c b c a a + − . Note que tal fato nos alerta para o cuidado que devemos tomar ao “multiplicar em cruz” uma desigualdade. Veja por exemplo que uma expressão da forma 2 > 4 3x − não implica que 2 > 4( 3)x − , a menos que tenhamos ( 3) > 0x − , ou seja, > 3x . 10. Sabendo que | 5 | < 3x + , prove que | 5 28 | < 18x + . Solução Para conseguirmos utilizar a informação de que | 5 | < 3x + , devemos tentar isolar a va- riável x no argumento do módulo | 5 28 |x + . Isto é possível se conseguirmos colocar em evidência o coeficiente 5. Paratanto, precisamos decompor 28 numa soma em que uma das parcelas seja múltipla do coeficiente 5. Em outras palavras, basta fazermos | 5 28 | = | 5 25 3 | = | 5( 5) 3 |x x x+ + + + + Agora, fazendo uso da desigualdade triangular e do fato de | 5 | < 3x + , obtemos | 5 28 | | 5( 5) | | 3 | = 5 | 5 | 3 < 5(3) 3 = 18,x x x+ ≤ + + + + + e portanto | 5 28 | < 18x + , como queríamos. PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 11 17/07/2018 15:28:32 12 Problemas e Desafios 11. Considere um quadrado de vértices A, B, C, D e marque um ponto O no seu interior. Usan- do a desigualdade triangular, mostre que a distância de O a um dos vértices do quadrado é sempre menor que a soma de suas distâncias aos vértices restantes. Solução A abordagem geométrica da desigualdade triangular nos diz que em todo triângulo o comprimento de um lado é sempre menor ou igual à soma dos comprimentos dos outros dois lados. Utilizaremos essa caracterização da desigualdade triangular na resolução des- te exercício. Consideremos o quadrado de vértices A, B, C, D representado na figura abaixo e mar- quemos um ponto O em seu interior. Fixaremos sem perda de generalidade o vértice A e provemos que < .OA OB OC OD+ + A B CD O 1_11 Usando a desigualdade triangular no triângulo AOC, obtemos, em particular: < .OA AC OC+ (9) Usando agora a desigualdade triangular no triângulo OBD, obtemos, em particular: < .BD OB OD+ (10) Somando as desigualdades (9) e (10), obtemos < .OA BD AC OC OB OD+ + + + Finalmente, como BD = AC, obtemos o desejado. 12. Dados dois números reais positivos x, y, a média harmônica de x e y é definida por 2 1/ 1/x y+ , ao passo que a média geométrica é definida por xy . Nessas condições, prove que a média harmônica é sempre menor ou igual à média geométrica. Solução Dados dois números reais positivos x, y, denotaremos por MH a média harmônica desses números, por MG a média geométrica e por MA a conhecida média aritmética, definida por = . 2A x yM + PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 12 17/07/2018 15:28:34 13 Números Reais Antes de demonstrarmos o que o exercício pede, precisamos demonstrar um resulta- do auxiliar acerca da desigualdade existente entre as médias MA e MG, que nos diz que G AM M≤ . De fato, observe inicialmente que 2 2 2 2 2 2 2 2 ( ) ( )( ) ( ) = ( 2 ) ( 2 ) = 4 = 4 4 x y x yx y x y x xy y x xy y xy xy + −+ − − + + − − + ⇒ − Assim 2 2 2( ) ( ) ( )= = = . 4 4 4 2G A x y x y x y x yxy M xy M+ − + +− ≤ ⇒ ≤ De posse desse resultado, passemos à demonstração de que H GM M≤ . Para isso, apli- caremos a desigualdade demonstrada acima para o par de números reais positivos 1 1, x y , obtendo 1 1 1 1 1 1 1 1 . 22 1 1 G H G H x y M M x y M Mxy x y + ≤ ⇒ ≤ ⇒ ≤ ⇒ ≥ + 13. Dados dois números reais x e y, definimos sua média quadrádica pela expressão 2 2 = 2Q x yM + Nessas condições, prove que Q AM M≥ , em que MA denota a média aritmética dos núme- ros x, y, e use essa desiguladade para encontrar as coordenadas de um ponto (x, y) sobre uma esfera unitária centrada na origem, de modo que a soma x + y seja a maior possível. Solução Vamos inicialmente provar a desigualdade Q AM M≥ . Observemos que 2 2 2 2( ) ( ) 0 ( ) 2 ( ) 2 0.A A A Ax M y M x y M x y M− + − ≥ ⇒ + − + + ≥ Agora, como 2 = ( )AM x y+ , obtemos da desigualdade acima 2 2 2 2 2 2( ) 4 2 0 ( ) 2A A Ax y M M x y M+ − + ≥ ⇒ + ≥ 2 2 2 2 A x y M+⇒ ≥ 2 2 2 A x y M+⇒ ≥ .Q AM M⇒ ≥ PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 13 17/07/2018 15:28:34 14 Problemas e Desafios De posse dessa desigualdade, vamos agora encontrar um ponto (x, y) sobre a circunfe- rência 2 2: = 1C x y+ de modo que a soma de suas coordenadas seja a máxima possível. Aplicando a desigualdade demonstrada acima para as médias quadrática e aritmética das coordenadas de um ponto (x, y) sobre a circunferência dada, obtemos 2 2 ( , ) 1= 2, 2 2 2x y C x y x y x y ∈ + + ≤ ⇒ + ≤ o que nos sugere que o maior valor possível para a soma das coordenadas de um ponto (x, y) sobre a circunferência C é 2 . Desse modo, basta tomarmos 2 2= , 2 2 P . 14. Uma grande extensão de terra deve ser coberta de grama, de modo a formar um retângulo em que um dos lados deve medir exatamente 2 km a menos que o dobro do outro. Nessas condições, determine qual deve ser o perímetro máximo dessa região retangular para que a área não exceda 12 km2. Solução Como um dos lados da região retangular recoberta deve medir 2 km a menos que o dobro do outro lado, os lados distintos do retângulo medirão 2l – 2 e l, respectivamente. Agora, como a área não pode exceder 4 km2, devemos ter 2 2(2 2) 4 2 2 12 0 6 0l l l l l l− ≤ ⇒ − − ≤ ⇒ − − ≤ Resolver a inequação acima consiste em estudar o sinal da parábola 2= 6y l l− − . 1 1 2 2 3 4 5 6 7 8−1 −1 −2 −2 −3 −3 −4 −4 −5 −5 −6 0 −6 1_14 Analisando a figura acima, fica fácil ver que 2 2 0 2 3.l l l− − ≤ ⇔ − ≤ ≤ PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 14 17/07/2018 15:28:35 15 Números Reais Como queremos obter o maior perímetro possível, devemos tomar o maior valor pos- sível para l, no caso l = 3. Dessa forma, o perímetro máximo deverá ser 2= 2 2(2 2) = 6 8 = 14 km .+ − +P l l 15. Seja S o conjunto solução da inequação 2 2 2 < 0.x x a − − Qual é o menor valor de a para que se tenha 52, 2 S ⊆ ? Solução Temos que 2 2 2 2 2 2 ( 2) > 0 e ( < 0) (CASO I) 2 < 0 ou ( 2) < 0 e ( > 0) (CASO II) x x a x x a x x a − − − ⇔ − − − CASO I: 2 2 ( 2) > 0 > 2 (2, ) (2, ), se > 2 e ∅, se < 2 ( ) < 0 < < ( , ) x x x x a a a x a a x a x a a − ⇒ ⇒ ∈ +∞ ∈ ⇒ − ⇒ − ⇒ ∈ − CASO II: 2 2 ( 2) < 0 < 2 ( ,2) e ( , ) ( ) > 0 < ou > ( , ) ( , ) x x x x a x a x a x a x a a − ⇒ ⇒ ∈ −∞ ⇒ ∈ −∞ − − ⇒ − ⇒ ∈ −∞ − ∪ +∞ Analisando os dois casos, concluímos que, para que tenhamos 52, 2 S ⊆ , devemos ter a > 2, e neste caso o menor valor de a para que tenhamos 52, = ( , ) (2, ) 2 S a a ⊆ −∞ − ∪ é 5= 2 a . 16. Uma desigualdade bastante conhecida na Matemática é a desigualdade existente entre a média aritmética de dois números reais positivos a e b, definida por 2 a b+ , e a média geo- métrica desses mesmos números, definida por xy, que afirma que PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 15 17/07/2018 15:28:35 16 Problemas e Desafios . 2 a b ab+ ≥ (11) Essa desigualdade é extremamente interessante, uma vez que nos possibilita estimar a soma de dois números possitivos em razão do seu produto. Estenda esse importante resultado para as médias aritmética e geométrica de quatro números reais positivos. Em outras palavras, prove que, dados , , , 0a b c d ≥ 4 . 4 a b c d abcd+ + + ≥ É importante observar que esse resultado pode ser generalizado para uma quantidade qualquer de números reais positivos. Solução A ideia, naturalmente, é fazer uso da desiguladade existente entre as médias aritmética e geométrica de dois números reais positivos. Para tanto, precisamos expressar a média aritmética dos números , , ,a b c d em termos da soma de duas médias aritméticas. Isso é feito da seguinte maneira ( ) ( ) 1= = . 4 4 2 2 2 a b c d a b c d a b c d+ + + + + + + + + Agora, aplicamos a desigualdade (11) duas vezes seguidas, obtendo ( ) 41 = = .4 2 a b c d ab cd ab cd abcd abcd+ + + ≥ + ≥ 17. Prove que, dados , , 0x y z ≥ , temos 2 2 2 .x y z xy yz xz+ + ≥ + + Solução Aplicando a desigualdade existente entre a média aritmética e a média geométrica aos números reais x e y, obtemos 2( ) 2 4 x y x yxy xy+ +≥ ⇒ ≥ 2 22 4x xy y xy⇒ + + ≥ 2 2 2x y xy⇒ + ≥ 2 2 2 x y xy+⇒ ≥ (12) De maneira análoga, constatamos que 2 2 2 y z yz+ ≥ (13) PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 16 17/07/2018 15:28:35 17 Números Reais e 2 2 . 2 x z xz+ ≥ (14) Finalmente, somando as desigualdades (12), (13) e (14), obtemos o desejado. 18. Dizemos que um número real c é uma cota inferior para A ⊆ se< , .c x x A∀ ∈ Seja 1= ,A n n ∈ . Use a propriedade de Arquimedes para mostrar que c = 0 é a maior das cotas inferiores do conjunto A. Solução Observemos inicialmente que 10 < , ,n n ∀ ∈ donde c = 0 é cota inferior do conjunto A. Provemos agora que c = 0 é a maior de todas as cotas inferiores. Para isso, suponhamos que existe c′ > 0 que seja uma cota superior do conjunto A. Como c′ > 0, aplicando a propriedade de Arquimedes para os números reais c′ e 1, segue 0n ∈, satisfazendo 0 0 >0 1' > 1 > . c n c n c′ ⇒ ′ Assim 0 1 1< = .1 cn c ′ ′ Dessa forma 0 1 A n ∈ e 0 1 < c n ′, donde c′ não pode ser cota inferior de A (absurdo!). Portanto, c = 0 é a maior das cotas inferiores de A, como queríamos demonstrar. 19. Seja , 0 < < 1r r∈ . Prove que (1 ) 1rx rx+ ≤ + , para todo 1x ≥ − . Dica: Use a desigualdade entre as médias aritmética e geométrica. Solução Como r∈ , temos que = , ,pr p q q ∈ , 0q ≠ e <p q já que < 1r . Consideremos o conjunto ( ) = (1 ), (1 ), , (1 ) ,1,1, ,1 q p vezesp vezes X x x x − + + + PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 17 17/07/2018 15:28:36 18 Problemas e Desafios Temos que a média aritmética dos elementos de X é dada por (1 ) ( )= = 1 = 1.A p x q p pM x rx q q + + − + + e a média geométrica é dada por ( )= (1 ) 1 = (1 ) = (1 ) = (1 ) . p q qp q p p rq GM x x x x −+ ⋅ + + + Aplicando a desigualdade existente entre as médias aritmética e geométrica, obtemos (1 ) = = 1 ,r G Ax M M rx+ ≤ + o que conclui a demonstração. 20. Dado y∈, > 0y , use a propriedade de Arquimedes e o fato de que todo subconjunto não vazio de números naturais possui um elemento mínimo, para mostrar que existe n∈, satisfazendo 1 < < .n y n− Solução Começamos definindo o conjunto = { : > }.A m m y∈ Pela propriedade de Arquimedes podemos afirmar que A ØA ≠ ∅ (basta aplicá-la para os números reais 1 e y). Assim, como ØA ≠ ∅, seja n o menor elemento de A. Então , .n m m A≤ ∀ ∈ Como n S∈ , temos que >n y (15) Agora, vamos considerar dois casos separadamente, quando n = 1 e quando n > 1. Quando n = 1, temos n – 1 = 0, e assim hip (15) 0 > < = 1 0 < < 1.y n y⇒ Quando n > 1, temos ( 1)n − ∈, mas, pela minimalidade de n em S, temos que ( 1)n − ∉ e portanto n – 1 < y, donde (15) 1 < < < ,n y n− o que conclui a demonstração. PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_1.indd 18 18/07/2018 09:08:41 GrindEQequation3 GrindEQequation5 GrindEQequation14