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Trabalho Escrito - Difusos e Coletivos II

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INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por finalidade analisar a ação popular, bem como se desnvolve esse tipo de litígio , apontando jurisprudências acerca do tema, as perspectivas da legislação e sua aplicação na prática, destacando os pontos de relevância do texto legal e sua aplicação no caso concreto.
Abordaremos as características presentes em duas ações distintas com o intuito de destacar os principais elementos presentes em cada uma delas e de relevância para o nosso ordenamento jurídico.
A realização deste trabalho proporcionará aos acedêmicos o reconhecimento dos pressupostos da ação popular e dos mecanismos adequados para o amplo conhecimento acerca dos interesses coletivos e da garantia dos direitos aos cidadãos, assegurados em lei, além de possibilitar o entendimento quanto ao desenvolvimento do processo jurídico que envolva direitos coletivos, oportunizando a aproximação acadêmica da realidade jurídica presente nos tribunais, com o intuito de despertar no futuro profissional os hábitos de busca constante pelo conhecimento e o interesse pelas questões políticas e sociais existentes, admitindo uma postura impositiva diante das diversidades enfrentadas no mundo globalizado.
ORIGEM DA AÇÃO POPULAR
O direito romano é considerado, por alguns estudiosos (MANCUSO, 2003, p. 42; LEONEL, 2002, p. 42; SIDOU, 1998, p. 303-317), o marco da tutela coletiva, referindo-se, especificamente, ao berço da ação popular. Em Roma, a concepção de Estado ainda não estava bem delineada, mas havia um forte vínculo entre o cidadão e a proteção da coisa pública. Prevalecia a ideia de que a res publica pertenceria ao cidadão romano e, por isso, cada um poderia pleitear tutelá-la em juízo. Porém, estava excluída a legitimidade das mulheres e dos menores, salvo se fosse demonstrado um excepcional interesse no caso concreto (LEONEL, 2002, p. 45).
A actio popularis romana não se situava nem no campo do interesse privado, nem propriamente no interesse público, sendo que a maioria possuía natureza penal, semelhante às atuais contravenções, com a cominação de pena pecuniária. As pouco frequentes demandas de natureza cível muito se assemelham hoje às ações cominatórias ou aos interditos proibitórios (MANCUSO, 2003, p. 45).
O sentido original das ações populares romanas parece, porém, ter se perdido no direito intermediário, já que a simbiose entre cidadão e Estado não prosperava durante a Idade Média, com o regime feudal, ou durante as monarquias absolutistas (ALMEIDA, 2007, p. 346). O instrumento só foi ressurgir na Bélgica, com um perfil distinto, com a lei comunal de 30 de março de 1836, seguida pela lei comunal francesa de 1837 e, em matéria eleitoral, pelas leis italianas de 20 de setembro e 26 de outubro de 1859 (RAMOS, 1991, p. 346).
AÇÃO POPULAR NO BRASIL
No Brasil, a ação popular é considerada o marco da tutela coletiva, através disposição do artigo 113, n. 38,da Constituição da República de 1934, ao possibilitar que qualquer cidadão pleiteasse a declaração de nulidade ou anulação de ato lesivo ao patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios. Antes, a Constituição de 1824, no artigo 157, limitava-se a tratar da ação popular penal, que não mais subsiste e nem é retratada pela doutrina como mecanismo para a atuação na tutela coletiva.
Porém, não apenas essa disposição logo acabou retirada do ordenamento jurídico brasileiro, como a regulamentação do instrumento processual ocorreu apenas anos mais tarde. A previsão da ação popular foi suprimida pela Constituição de 1937, sendo reintroduzida pela Carta de 1946, no artigo 141, §38, e regulamentada pela Lei nº 4.717/1965, denominada Lei da Ação Popular, mantendo, a partir deste momento, sua previsão em todas as Constituições seguintes.
A Lei da Ação Popular estendeu, ainda, a redação do artigo 141, § 38 da Constituição de 1946, em vigor na época de seu advento, que só incluía atos lesivos ao patrimônio da União, dos Estados, dos Municípios, das entidades autárquicas e das sociedades de economia mista. Foi incluída a tutela do patrimônio “de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos”.
Mais tarde, a Constituição de 1967, no artigo 150, § 31 não reproduziu a redação ampliada pela Lei nº 4.717/65 em relação aos entes com patrimônio tutelável pela ação popular, tendo sua previsão constitucional se alterado em 1988.
A Constituição de 1988, no artigo 5º, inciso LXXIII, além de isentar de custas a ação popular, não recepcionando o artigo 10 da Lei nº 4.717/1965, alargou o cabimento do instituto (BARBOSA MOREIRA, 1991, p. 192), para abranger a moralidade administrativa e o meio ambiente.
DIREITOS COLETIVOS
A partir da regulamentação da ação popular em 1965 no Brasil, o estudo dos direitos coletivos ou difusos surgiu e floresceu na Itália na década de 70, sendo discutido no Congresso de Pavia em 1974 por, dentre outros estudiosos, Denti, Cappelletti, Proto Pisani, Vigoriti e Trocker. Destacaram-se a indeterminabilidade de sua titularidade e a indivisibilidade em relação ao objeto, colocados no meio do caminho entre o público e o privado, próprios de uma sociedade de conflitos de massa (GRINOVER, 2000, p. 9-15).
Em 1990, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) teve grande destaque enquanto um modelo estrutural para as ações coletivas, não se limitando à proteção do consumidor em juízo, ao regular os aspectos mais importantes da tutela coletiva, em uma aplicação integrada à tutela coletiva (ALMEIDA, 2007, p. 20). Foi, ainda, o artigo 81, parágrafo único, do CDC que trouxe a previsão de que a defesa coletiva em juízo será exercida quando se tratar de direitos ou interesses difusos (inciso I), coletivos (inciso II) ou individuais homogêneos (inciso III),definindo estes direitos.
Porém, a falta de clareza da distinção entre os direitos difusos e coletivos e os equívocos cometidos na caracterização dos fatos vêm causando confusão na doutrina e na jurisprudência (MENDES; SILVA, 2014, p. 1.072-1.074). Barbosa Moreira já havia alertado que direitos difusos e coletivos são expressões que “durante muito tempo foram usadas, e não apenas no Brasil, em forma, por assim dizer, promíscua, isto é, sem preocupação nítida entre os dois conceitos” (MILARÉ (coord.), 1995, p. 188).
A meta-individualidade caracteriza os direitos difusos, mas nem todos os interesses meta-individuais são difusos. Como destaca Ada Pellegrini Grinover, os interesses difusos possuem ampla área de conflittualitá (GRINOVER, 2014, p. 42). Algumas pretensões às vezes recebem a qualificação errônea de direitos difusos ou coletivos, mas a simples formulação de pedido(s) comum(ns) não significa que não haja a possibilidade de fracionamento da solução. A distinção entre direitos difusos e coletivos abrange, segundo a explicação de Aluisio Gonçalves de Castro Mendes (MENDES, 2014, p. 221-222), dois aspectos: um aspecto subjetivo e outro objetivo.
O primeiro aspecto, subjetivo, diz respeito à transindividualidade, ou seja, está além do indivíduo, no sentido de que não lhe pertence com exclusividade, mas, sim, a uma pluralidade de pessoas, que poderão ser, conforme sejam os interesses difusos ou coletivos, respectivamente, indeterminadas ou determinadas, bem como ligadas por circunstâncias de fato ou por uma relação jurídica base. Há, portanto, identidade quanto à transindividualidade, mas distinção no que diz respeito à determinação e à natureza do vínculo ou da relação entre os interessados.
O segundo elemento, objetivo, é caracterizado pela indivisibilidade do interesse ou direito. A impossibilidade de separação não está afeta ao elemento subjetivo, na medida em que não seexige vínculo direto e precedente entre as pessoas afetadas, até porque a presença de relação jurídica entre elas não existirá no caso dos interesses ou direitos difusos. Por outro lado, o vínculo de direito entre os interessados não constitui condição sine qua non para a caracterização do interesse ou direito como coletivo, em sentido estrito, na medida em que a relação pode ser, tão somente, com a parte contrária, nos termos da parte final do inciso II do parágrafo único do art. 81. Consequentemente, a indivisibilidade figura como qualidade do objeto que se quer buscar para a realização das necessidades, pertinentes à coletividade, ao grupo, categoria ou classe.
AÇÃO POPULAR DE REPARAÇÃO POR DANOS AMBIENTAIS E DANOS MORAIS COLETIVOS
A parte autora é CARLOS ALEXANDRE KLOMFAHS, brasileiro, casado, advogado, registrado na OAB/SP sob o número 346.140, com e-mail que declina klomfahsadvocacia@gmail.com.br, vem, em nome dasociedade brasileira (legitimidade extraordinária) com fundamento no artigo 5, inciso LXXIII,da Constituição Federal, e artigo 1, da Lei no 4.717, de 1965, propor AÇÃO POPULAR (artigo 5o, § 4o) POR DANOS AMBIENTAIS E MORAIS COLETIVOS c/cOBRIGAÇÃO DE FAZER com requerimento de TUTELA DE URGÊNCIA, nos termos do art. 301,do Código de Processo Civil (autorizado pelo microssistema de tutela coletiva por aplicação analógica doart. 84 do Código de Defesa do Consumidor, em face deCOMPANHIA VALE DO RIO DOCE S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MFsob o n° 33.592.510/0001-54, com endereço na R. Corrego do Feijao, 0. Brumadinho. MG. CEP 35460-000. 31- 3571-5420, ESTADO DE MINAS GERAIS, CNPJ sob n. 18.715.615/0001-60. Praça da Liberdade, s.n. Belo Horizonte. CEP 30.160-012, PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE BRUMADINHO, CNPJ sob n. 18.363.929/0001-40. Rua DoutorVictor de Freitas, 28. Centro. CEP 35.460.000.Brumadinho/MG. Pelas seguintes razões de fato e dedireito a seguir aduzidas.
I - DOS FATOS
É fato público e notório (cf. art. 374, I, do Código de Processo Civil) que em 25 de janeiro de 2019, aproximadamente às 12:15 min, houve o rompimento e galgamento dos rejeitos de mineração sobre abarragem operada pela Companhia Vale do Rio Doce, do Córrego do Feijão, localizada no distrito deBrumadinho (MG). (vide https://www.estadao.com.br/ao-vivo/rompimento-barragem-brumadinho)Inclusive com multa aplicada pelo IBAMA (vide https://g1.globo.com/politica/blog/andreia-sadi/post/2019/01/26/ibama-vai-multar-vale-em-r-250-milhoes-pela-tragedia-de-brumadinho-diz-ministro.ghtml). Veiculado pelo site do G1.
O citado rompimento gerou ondas de rejeitos de minérios de ferro, sílica entre outros, que deixou até o presente 154 mortes e 182 pessoas desaparecidas, sendo 21 pessoas internadas em serviços de saúde de Belo Horizonte e Brumadinho. Atingindo o refeitório e a parte administrativa da empresa, bem como parte da área rural do município.O Ministério do Meio Ambiente prestou informações de que foram três as barragens rompidas.
O Corpo de Bombeiros informou que a empresa Vale não conseguiu contato com 413 funcionários.
Os rejeitos da mineração contém sílica e amônia dentre outros, todos tóxicos para consumo e fatal para fauna e flora.
Dados preliminares da tragédia:
a.154 mortes confirmadas oficialmente
b. 182 desaparecidos
c. 81 desabrigados
d. 23 sobreviventes
Os rejeitos atingiram o Rio Paraopeba, com 510 km de extensão, atravessa 35 municípios mineiros. Importante para os Estados de BA, PE, SE, AL. Sua nascente é em Cristiano Otoni e a foz na Represa de Três Marias.É um dos principais afluentes doSão Francisco. A tragédia causou uma grande mortandade de peixes no Paraopeba. 1/3 da regiãometropolitana BH - deságua rio são francisco. Não obstante, a licença (para reaproveitamento dos rejeitos dispostos na barragem, expansão dasatividades, colocação de rejeito em cava, reaproveitamento de bens minerais, instalação de mineroduto,seu descomissionamento) da Vale, recebida em dezembro de 2018, era questionada pela comunidadelocal.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMAD) afirmou a comunidade (Movimento Águas e Serra de Casa Branca) especialmente a representante Carolina de Moura que estavam "devidamentelicenciados" e detinha estabilidade garantida por auditoria.
 Não obstante, há informações preliminares de que não havia sirenes de avisos monitorando as portas dos reservatórios. Tanto que, foi veiculado na imprensa que somente às 13:37 a SEMAD recebeu chamado do gerente desegurança e emergências ambientais da Vale de que houve o rompimento. Pode-se observar do que veiculado pela imprensa nacional é a falta de planejamento e gerenciamento de riscos ambientais, tais como: Colocação das famílias em locais específicos para auxilio disponibilização de equipe multidisciplinarcom psicólogos e assistentes sociais; Cadastro das famílias e busca das informações da quantidade de funcionários;Fornecimento de primeiros socorros, água, alimentação etc.
Portanto, essa ação popular objetiva se antecipar às ações do Ministério Público e sem prejuízo delas, uma vez que em ação popular não cabe acordo ou TAC, que, como visto em outra ação que distribuímos, protrai-se no tempo em funçãodos acordos, no minimo 'suspeitos'. E também que a responsabilidade solidária (U,E,M, iniciativa privada) nestes casos de dano ambiental, éobjetiva, independente de culpa. Um dos bairros mais atingidos, o Parque da Cachoeira ainda necessita de cuidados urgentes, há um alistade reivindicação não atendida e protelada, cuja responsabilidade é solidária.A lista inclui itens que, segundo os atingidos, são de primeira necessidade para aqueles que tiveramprejuízos no comércio, na agricultura ou na pecuária devido à avalanche de lama que vazou da estrutura da mineradora. Eles incluem: doação de R$ 5 mil a todos os membros da comunidade; doação de R$ 15 mil a todos que perderam renda; pagamento de um salário mínimo para cada adulto afetado; meio salário mínimo a cada adolescente de até 14 anos;um quarto de um salário mínimo a cada criança; cesta básica mensal de R$ 400; isenção de água, luz, IPVA, IPTU;quitação de dívidas contraídas de agricultores que perderam seu sustento, como empréstimos ligados àatividade rural.
Há ainda a necessidade de aporte da Mineradora Vale quanto a reconstrução de estruturas danificadas. Há um cálculo de aproximadamente 150 milhões para retirada da lama, recuperação do meio ambiente, e departe da cidade.
Há ainda a necessidade de reconstrução de um aponte, orçada preliminarmente em 10 milhões. Sabe-se que o caso anterior de Mariana, há pedidos que esperam apreciação e consenso há 40 meses.Portanto, a preocupação imediata após a tragédia de Mariana foi rever os procedimentos de alerta em casode rompimento. Não havia qualquer sistema de sirenes nas barragens da Samarco que romperam em 2015.Na época, os próprios moradores tiveram que alertar uns aos outros ao perceberem que uma tragédiaestava prestes a ocorrer. Mas 19 pessoas não tiveram tempo de se salvar.
Após a tragédia, foi aprovada uma lei que exige a instalação de sistema de alerta por sirenes nas barragens. No caso de Brumadinho, elas foram instaladas nas comunidades próximas à barragem. Mas osmoradores dizem que as sirenes não tocaram! A lama pegou centenas de pessoas de surpresa, na hora do almoço. Quem sobreviveu teve poucos minutospara escapar.
Daí a necessidade dessa ação popular distribuída no município, exatamente por estar mais próxima das vítimas é que tem melhores condições de viabilizar a efetiva reconstrução, reparação e as medidasnecessárias para se evitar novas tragédias no entorno.
II - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO
A Constituição prevê a hipótese do cidadão intervir judicialmente diante de ações do poder público ou de particular que lese o meio ambiente, o mesmo está no art. 5., LXXIII c/c art. 225, caput da Constituição
Federal de 1988, verbis:
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,ao meioambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custasjudiciais e do ônus da sucumbência;
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo epreservá- lo para as presentes e futuras gerações.
A responsabilidade solidária do Estado, Município e da Vale parte de tantas variáveis quantos foram as vítimas: falta ou ineficiência do sistema de sirenes, colocação de parte administrativa e refeitório próximoà jusante, falta de plano emergência/contingência/gestão de riscos/evacuação e treinamento dosfuncionários, caminhos de fuga que levassem os moradores e funcionários a (rotas de fuga e áreas desegurança) locais protegidos, aprovação dos EIA/RIMA sem as previsões do rompimento e inúmeras outras questões técnicas que fogem à este autor. O pacto federativo atribuiu competência aos quatro entes da federação para proteger o meio ambienteatravés da fiscalização.
Vejamos jurisprudência do STJ neste sentido (considerações produzidas pela Assessoria Jurídica do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente do MP/GO. 2. Passos de Freitas, V. DireitoAdministrativo e Meio Ambiente, Curitiba, Juruá, 3a Edição, pp. 38 e 39):PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - AMBIENTAL - MULTA - CONFLITO DEATRIBUIÇÕES COMUNS - OMISSÃO DE ÓRGÃO ESTADUAL - POTENCIALIDADE DE 1.DANO AMBIENTAL A BEM DA UNIÃO - FISCALIZAÇÃO DO IBAMA - POSSIBILIDADE. 1.Havendo omissão do órgão estadual na fiscalização, mesmo que outorgante da licença ambiental, pode oIBAMA exercer o seu poder de polícia administrativa, pois não há confundir competência para licenciarcom competência para fiscalizar. 2. A contrariedade à norma pode ser anterior ou superveniente à outorgada licença, portanto a aplicação da sanção não está necessariamente vinculada à esfera do ente federal quea outorgou. 3. O pacto federativo atribuiu competência aos quatro entes da federação para proteger o meioambiente através da fiscalização. 4. A competência constitucional para fiscalizar é comum aos órgãos domeio ambiente das diversas esferas da federação, inclusive o art. 76 da Lei Federal n. 9.605/98 prevê apossibilidade de atuação concomitante dos integrantes do SISNAMA. 5. Atividade desenvolvida comrisco de dano ambiental a bem da União pode ser fiscalizada pelo IBAMA, ainda que a competência paralicenciar seja de outro ente federado. (STJ, Agravo Regimental no Recurso Especial nº 711.405 – PR, 2ªTurma, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 28/04/2009, DJ de 15/05/2009)
Por corolário, denota-se que o Município tem competência legislativa (editar normas) e executiva (poder de polícia), quando se trata de matéria ambiental.
Neste contexto, devem os Municípios cuidar da disciplina do uso do solo, que abrange todas as atividades exercidas no espaço urbano, incluindo, pois, aquelas que, de alguma forma, provocam alterações no meioambiente. Cumpre, assim, mencionar a importância do Plano Diretor, previsto no artigo 182, §2° daCF/88, um dos alicerces da política de desenvolvimento e de expansão urbana que, juntamente com asconseqüentes leis de uso do solo, contribui para a efetivação da proteção do meio ambiente por buscararticular e coordenar a matéria ambiental com os demais assuntos de interesse local.Ipso facto, o Plano Diretor não é mera lei de uso do solo, mas instrumento definidor de toda a política dedesenvolvimento, em todo o território municipal e não apenas na área urbana. É de desejar que sejaincorporada a ótica do desenvolvimento sustentável. No mesmo sentido, verifica-se que os Municípiossão, inclusive internacionalmente, reconhecidos como peças chaves na gestão ambiental. Por conseguinte,tem-se que um dos mais importantes instrumentos desta gestão é o processo de licenciamento ambiental.Os Municípios devem, pois, se estruturar de forma a poder fazer uso deste tão importante instrumento datutela preventiva do meio ambiente.
"Para fins específicos de habilitação, será necessário ao Município a implantação do Fundo Municipal de Meio Ambiente, do Conselho Municipal de Meio Ambiente, possuir profissionais legalmente habilitadospara a realização do licenciamento ambiental e servidores municipais com competência para exercício dafiscalização ambiental. O órgão ambiental municipal deverá investir tanto em equipamentos quanto na habilitação profissional deseu quadro de recursos humanos, com equipe técnica multidisciplinar capacitada para analisar osprocessos de licenciamento. Isso importa dizer que de nada adianta ao Município formar o ConselhoMunicipal se ele se demonstrar incapaz de analisar o conteúdo dos respectivos Estudo de ImpactoAmbiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).
O ideal seria o Município dispor, em seu quadro profissional, no mínimo, de um geólogo ou engenheiro de minas, biólogo, engenheiro agrônomo ou civil, engenheiro florestal, sociólogo, entre outrosprofissionais considerados imprescindíveis de acordo com as peculiaridades locais.Se o quadro efetivo do órgão não possuir esta equipe multidisciplinar, poderá efetuar a análise doslicenciamentos através de contratação de serviços terceirizados junto a consultorias, universidades, agências de desenvolvimento, ou mesmo através de consórcios municipais.Devidamente equipado e habilitado, o Município passa a ser detentor da autonomia efetiva em relação aolicenciamento ambiental, podendo, a partir de então, elaborar as leis que disciplinem a atividade delicenciamento, as taxas a serem cobradas e a previsão de sanções, bem como fornecer todos os três tiposdistintos de licenças: a licença prévia (LP), a licença de instalação (LI)33 e a licença de operação (LO).
Os profissionais que compuserem a equipe são responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e criminais - os dados constantes no EIA e no RIMA são de responsabilidade solidária entre o contratante e o profissional ou a empresa designada para realizar osestudos.Os pareceres e opiniões não são o principal alvo da responsabilidade técnica, mas sim o erro, sejadecorrente de imperícia, negligência ou imprudência - isto visa coibir a introdução de dados inexatos oumanipulados, a fim de obter o almejado licenciamento do órgão competente.
Na prática, constata-se que profissionais das áreas de arquitetura, agronomia, engenharia, biologia e geologia são os que geralmente compõem a equipe multidisciplinar, sem, no entanto, haver umaespecificação acerca de quais os profissionais de fato consideram-se capacitados para a elaboração dosEstudos.
Não há na legislação vigente, nacional ou estadual, qualquer especificação de quais são os profissionais que poderão elaborar os estudos, o que sugere que para a verificação da habilitação legal se tornanecessária a análise das especificações dos Conselhos Profissionais envolvidos". (a citação é de passagemdo texto de João Telmo Vieira (Advogado, Doutor em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos– UNISINOS, Professor da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC) e Eliana Weber (Advogada,Mestranda em Direito pela Universidade de Santa Cruz do SUL) Para a lei (Resolução 001, CONAMA, art. 1º), o termo “impacto ambiental” faz referência a qualquer tipode alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, oriunda de qualquer formade matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
- a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
- as atividades sociais e econômicas;
- a biota;
-as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
- a qualidade dos recursos ambientais.
Esse é o papel do EIA, qualificar e, quando possível, quantificar antecipadamente o impacto ambiental,funcionando como um suporte para um adequado planejamento de obras ou atividades que venham ainterferir no meio ambiente.
De fato, o EIA caracteriza-se pelo estudo das possíveis modificações, não sendo capaz, muitas vezes, de prevertodos impactos possíveis, tanto é que o Doutrinador Paulo Affonso Leme Machado, denomina oEIA como “Procedimento administrativo de prevenção e de monitoramento dos danos ambientais”, ou seja, é necessário que exista o monitoramento, mesmo após a realização do EIA, garantindo-se que o meioambiente não seja afetado, além do previsto no estudo.
Assim, conclui-se que o EIA, em síntese, nada mais é do que “um estudo das prováveis modificações nas diversas características socioeconômicas e biofísicas do meio ambiente que podem resultar de um projetoproposto.
O EIA, no Brasil, surgiu a partir da Resolução 001 do CONAMA de 1986, que em seu art. 2º define:
Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA emcaráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:
(...)
IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração;
Assim, o objetivo de se protocolar essa ação popular de forma antecipada aos resultados a serem coligidos (ambientais e humanos) da tragédia é evitar os "ineficientes acordos" realizados no campo da açãocivil pública, onde em regra ocorre a procrastinação do processo, culminando com a diminuição dosvalores da reparação etc.
O pedido de medida cautelar tem fundamento nos art. 303, ss. do Código de Processo Civil e é aplicável a Lei de Ação Popular, parte do microsistema de tutela coletiva, por analogia, o art. 84 do Código deProcesso Civil. 
III - DA LIMINAR NA AÇÃO CAUTELAR EM AÇÃO POPULAR E DOS PEDIDOS FINAIS.
Os fundamentos jurídicos para a concessão da medida são o art. 5. parágrafo 4º da Lei 4.717/65 c/c art.294 ss. e 303 do CPC.
Pretende-se a obtenção de medida liminar nesta ação cautelar, inaudita altera pars, considerando que não há tempo suficiente para a manifestação dos órgãos responsáveis.
O fumus boni iuris está devidamente demonstrado com os dados citados acima e a documentação que acompanha a presente demanda.
O periculum in mora é notório, reforçado pela informação da iminência da chegada da onda de rejeitos em outras cidades, rios etc.
Por todo o exposto, requer, com fundamento no art. 5. parágrafo 4º da Lei 4.717/65 c/c art. 294 ss. e 303 do CPC do Código de Processo Civil:
A concessão de ordem liminar de obrigação de fazer, determinando-se pelo sistema BACENJUD em desfavor da VALE, do Governo de Minas Gerais e do Município Brumadinho:
Condenação solidária a cumprir a lista de itens de primeira necessidade para aqueles que tiveramprejuízos no comércio, na agricultura ou na pecuária devido à avalanche de lama que vazou da estrutura da mineradora, com:
1.A doação de R$ 5 mil a todos os membros da comunidade;
2.A doação de R$ 15 mil a todos que perderam renda;
3.O pagamento de um salário mínimo para cada adulto afetado;
4.O pagamento de meio salário mínimo a cada adolescente de até 14 anos;
5.O pagamento de um quarto de um salário mínimo a cada criança;
6.O pagamento de uma cesta básica mensal de R$ 400; isenção de água, luz, IPVA, IPTU;
7.A quitação de dívidas contraídas de agricultores que perderam seu sustento, como empréstimos ligados à atividade rural;
8.A retirada da lama de rejeitos da região.
9. O aporte da Mineradora Vale quanto a reconstrução de estruturas danificadas. preliminarmente no valor de 150 milhões para retirada da lama, recuperação do meio ambiente, e de parte da cidade, a sercontraditada e referendada por expert do juízo.
10. E por fim, a reconstrução da ponte, também orçada preliminarmente em 10 milhões.
Para isso digne vossa excelência:
Determine o bloqueio judicial e/ou transferência de recursos financeiros aos Municípios e Estados afetados por Desastres.
O repasse pode ser feito por meio do Cartão de Pagamento de Defesa Civil – CPDC, em desfavor da:
Estado de Minas Gerais = cinquenta milhões de reais
Município de Brumadinho = cem mil reais
Quanto à Empresa Vale do Rio Doce, requer o bloqueio de quinhentos milhões de reais. O critério do quantum - valor indenizatório/reparatório preliminar - são os PIB's/Receita líquida dos réus em 2018.Vez que a atuação federal complementa as ações municipais, estaduais e distritais, também entrando nocômputo, conforme previsto no art. 1 do Decreto 7.257/10 e art. 2 e 10 da Lei 12.608/12, e devem prestarassistência às populações afetadas pelos desastres.
Portanto, o estado, a Vale e o município, sob o entendimento de que todas as populações deverão receber em obrigação de fazer atendimento de acordo com a proporcionalidade do seu desastre e suascaracterísticas socioeconômicas para resposta imediata e eficaz a fim de evitar ou aliviar osofrimento humano e restabelecer a normalidade.
IV - DOS REQUERIMENTOS E DOS PEDIDOS
Ex positis, requer que a decisão liminar seja comunicada imediatamente, por oficial de justiça de plantão, aos responsáveis pelos réus, sob pena de frustração da ordem concedida. Após o deferimento das liminares pleiteadas, que o Ministério Público seja INTIMADO da presente ação e emita parecer.
No mérito seja julgado PROCEDENTE in totum os pedidos para o fito de:
a) conceder, em caráter definitivo o pedido liminar bloqueio via BACENJUD de ativos reparatório/obrigação de fazer;
b) condenar os réus ao pagamento das custas processuais e demais ônus de sucumbência, a seremrevertidos ao Fundo de que trata a Lei da Ação Civil Pública, dentro do microssistema de tutela coletiva;
Requer, ainda, seja a presente autuada, determinando a citação dos réus, para, querendo, se defenderem, sob pena de revelia e confissão, na forma do Código de Processo Civil.
Na oportunidade, protesta pela produção de todos os meios de prova em direito admitidos, ressalvando a possibilidade de apresentação de outros documentos que se fizerem necessários no transcorrer da ação,caso estes venham a surgir após a propositura da presente e a ratificação dos valores preliminares pelaperícia do juízo.Especialmente a súmula 618 do STJ "inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradaçãoambiental".
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), para efeitos legais, por se tratar de direito difuso e, pois,de valor inestimável.
SEGUNDA AÇÃO POPULAR TRANSITADA EM JULGADO
Cuida-se de ação popular em que a parte requer seja condenado o Estado de São Paulo em obrigação de não fazer, consistenteem abster-se de lançar o esgoto in natura ou com potencial poluente produzido pela PenitenciáriaEstadual de Presidente Bernardes, e também a pagar indenização pelos danos causados aos recursoshídricos, a ser recolhida ao Fundo Especial de Recuperação dos InteressesDifusos Lesado (LeiEstadual nº 6.536/89).
A fundamentação legal foi a seguinte: O art. 5º, inc. LXXIII, da Constituição Federal estabeleceu que qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular ato lesivo aopatrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural...
A norma constitucional, ao se referir também ao meio ambiente como objeto da ação popular, ampliando, pois, o disposto no art. 1º da Lei da Ação Popular, assumiuque constitui ato lesivo ambiental qualquer ato praticado com essa conseqüência pelaAdministração Pública e suas entidades. Incluiu, por isso, a obrigação de restaurar omeio ambiente ao estado anterior, interpretação que está em consonância com odisposto no inciso I, do art. 225 da Carta da República, segundo o qual, para assegurar a efetividade dessa proteção, incumbe ao Poder Público 'preservar e restaurar osprocessos ecológicos essenciais...'
Depois, a legislação federal proíbe qualquer tipo de poluição, com a correlata responsabilização e prevenção dos danos (arts. 3º e 14, § 1º, da Lei Fed. nº 6.938/81).Significa, pois, que o dano ambiental exige uma reparação específica que ultrapassa o conceito de anulação de ato formal administrativo, reparação essa queconsiste na prática de ato positivo, seja para reparar, seja para impedir o danoambiental.Por conseguinte, não fosse possível essa tutela pela via da ação popular, anorma constitucional, que a incluiu como via de proteção ao meio ambiente, serialimitada, o que por certo não foi a visão do legislador constituinte.
Por isso, a nosso ver, data vênia de doutas opiniões em sentido contrário e revendo-se o decidido no AI 140.381.5/8, em apenso - fls. 103/107 - o objeto da açãonão pode ser limitado pelo disposto no art. 1º e nem a condenação ao disposto no art. 11da lei da ação popular, no que se refere à ação que tenha por objeto o dano ambiental.
Rejeita-se, por isso, a argüição de inadequação da via eleita e falta de interesse legítimo para agir.No mérito, a r. sentença bem decidiu a questão, para o que não se exigia a'prova pericial reclamada pela apelante, bastando verificar as fotografias anexadas àinicial e a prova documental, notadamente as constatações efetuadas pela CETESB,entidade do próprio governo estadual, para se concluir sobre a veracidade das alegaçõesdo autor popular.
E, como ponderou o Dr. Promotor de Justiça, o pedido foi correta e precisamente feito, vez que consiste na condenação da acionada na obrigação de nãofazer, isto é, na abstenção em lançar o esgoto sem o devido tratamento e com potencialpoluente no Córrego Garucaia.
Não se reconhece nessa obrigação invasão no campo discricionário do Administrador Público que terá ampla liberdade em como interromper a poluição,utilizando-se de seus critérios de oportunidade e conveniência. O que não lhe épermitido é continuar com a poluição e o conseqüente desrespeito à norma constitucional e legislação federal anteriormente citada. E o argumento da requerida no sentido de que as reformas necessárias paracessação da poluição estão sendo executadas, não se revestem da celeridadenecessária, vez que o documento de fls. 218 faz previsão para início da obra em janeiro(de 2001). Nesse ponto, se, agora, já cessada a poluição córrego, a requerida nada maisfez do que antecipar-se ao cumprimento da ordem judicial emanada da r. sentença, oque deverá ser objeto de aferição na execução do julgado. Por fim, tem cabimento o pedido indenizatório que, no caso, deverá ser apurado em execução de sentença, a teor do art. 14, 'caput', da Lei 4.717/65" (fls.293-297).
MOMENTO ATUAL DA AÇÃO POPULAR
Essa ação popular se refere a direitos difusos, ou seja, direito de um meio ambiente equilibrado. Essa ação transitou em jugado após a apelação no Superior Tribunal de Justiça, em 04 de outubro de 2007, numero Registro 2006/0211354-5, Resp 889766/SP, quando a Fazenda do Estado de São Paulo, com apoio na alínea "a" do permissivo constitucional, interpôs recurso especial, alegando que o acórdão recorrido contrariou os artigos 267, inciso VI, doCódigo de Processo Civil, 5º, incisos LXXIV e LV, da Constituição Federal, 1º, 11 e 14 da Lei nº4.717/65. Pugna seja declarada a carência de ação por falta de interesse de agir dos autores. Diz que aação popular visa a anulação de ato e que "é vedada a possibilidade do cidadão, através da açãopopular, buscar ação inibitória com obrigação de não fazer ou fazer". Assevera que houve cerceamentode defesa ao ser negado ao Estado o direito de produzir prova pericial. Transcorreu o prazo legal sem que tenham sido apresentadas contra-razões.Foi interposto, simultaneamente, recurso extraordinário, não admitido na origem, decisãoque motivou a interposição de agravo de instrumento.
CONCLUSÃO
A ação popular, no mesmo patamar da ação civil pública, é de extrema relevância para a tutela de direitosfundamentais, essencialmente difusos, incluindo o direito a uma administração pública proba, ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e ao patrimônio histórico e cultural.
Ação popular e ação civil pública coexistem no ordenamento brasileiro, em uma relação de complementariedade de atuação entre os cidadãos, legitimados para a ação popular, e associações e órgãos públicos, legitimados para a ação civil pública, para possibilitar uma atuação plural quando o objeto das duas garantias se sobrepõe, sem qualquer exclusão (GARCIA, 2015, p. 27) e, acrescenta-se, sem prevalência de uma sobre a outra.
Sintetizando de forma precisa e brilhante o tema, o Ministro Luiz Fux, ainda no Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do REsp. 406.545/SP, em 26 de novembro de 2002, consignou que:
“a nova ordem constitucional erigiu um autêntico ‘concurso de ações’ entre os instrumentos de tutela dos interesses transindividuais e, a fortiori, legitimou o Ministério Público para o manejo dos mesmos. A ação civil pública não veicula bem jurídico mais relevante para a coletividade do que a ação popular. Aliás, a bem da verdade, hodiernamente, ambas as ações fazem parte de um microssistema de tutela dos direitos difusos onde se encarta a moralidade administrativa sob seus vários ângulos e facetas”.
Trata-se de instrumento complementar à ação civil pública e que, eventual desempenho inferior a outras ações coletivas é atribuído muito mais ao desconhecimento do direito, ao distanciamento da coisa pública e ao desequilíbrio da relação processual. 
A ação popular precisa adquirir maior atenção no ordenamento nacional e seu aprimoramento depende, apenas, de uma maior atenção da doutrina e dos tribunais, além de que se fortaleça, na sociedade, a educação política dos cidadãos e a transparência administrativa para a sua efetiva utilização em prol da tutela coletiva.
	
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