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anotações | direito dos contratos (vicente)

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Direito dos Contratos
Professor: Vicente da Cunha 
E-mail: vcpjunior@faculdadebaianadedireito.com.br 
Bibliografia: Ver ementa. 
1. Conceito e Noções Gerais
Os grandes eixos que trabalharemos é o econômico e o jurídico. Toda e qualquer parte das normas tem seu eixo econômico, como a questão dos efeitos do Plano Collor que recentemente ainda era debatida no Supremo. Uma confluência muito grande entre direito e economia. 
Conexão entre a conduta jurídica e a consequência econômica, ou seja, o contrato relaciona-se diretamente com a economia. A ligação entre direito e economia é muito forte. 
Podemos dizer que contrato é um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos – definição de Caio Mário da Silva Pereira. 
Do ponto de vista econômico o contrato é um instrumento para trocas patrimoniais, para a circulação de riquezas – Enzo Roppo. 
O contrato é visto como circulação de riquezas quando está apto para regular situações que tem influência econômica. A partir do momento em que um advogado firma contrato com um cliente, ou um professor com uma faculdade, temos transferência de patrimônio, por isso é uma circulação. 
O seguro, o fiador são exemplos de contratos que asseguram a antecipação de um risco. O objetivo do fiador é ampliar a garantia do credor, visando evitar o risco. 
Um outro efeito é a situação do contrato que promove a colaboração entre as partes. Costuma-se defender a ideia de que o contrato deve ter cunho colaborativo, ser interessante para todas as partes. A função colaborativa, na maioria das vezes, influencia na questão patrimonial. 
A situação de prevenir uma controvérsia, quando se estabelece uma cláusula arbitral, é um outro efeito, como quando se abdica de levar uma questão ao Judiciário. 
Os contratos fornecem créditos, fazem circular créditos. 
Por fim, um outro efeito é estabelecer direitos reais. O usufruto é um direito real em coisa alheia, os pais fazem uma doação com cláusula de usufruto para evitar desavenças entre os filhos. Ou seja, embora a propriedade seja de um, quem usufrui do bem é outro. A casa é dos filhos, mas quem mora são seus pais. A hipoteca também eh um direito real de garantia, assim como o usufruto. São direitos estabelecidos por conta, através, de um contrato, portanto precisam ser registrados. Aqui o contrato vai ser uma escritura pública registrada no Cartório de Imóveis. 
Todo contrato é um negócio jurídico mas nem todo negócio jurídico é um contrato. Precisamos lembrar aqui dos elementos do plano de existência: manifestação de vontade, agente, objeto e forma. E no plano de validade: livre (associada a manifestação de vontade), capacidade (agente), lícito/possível tanto no plano jurídico quanto no plano fático (objeto) e livre ou prescrita em lei (forma). O testamento é um negócio jurídico que não é contrato. 
A regra da forma no negócio jurídico é que seja livre. 
A venda de um imóvel acima de 30 salários mínimos requer registro através de escritura pública. 
2. Princípios Liberais Clássicos do Contrato
2.1. Autonomia: 
O princípio da autonomia remete a ideia de liberdade, dentro do ordenamento jurídico temos uma margem de normas impositivas (cogentes), cujo conteúdo não é objeto de possibilidade de atuação da vontade do indivíduo. E de forma análoga, normas dispositivas, que encontram limitação nas normas impositivas. 
A autonomia nada mais é que uma margem de escolha disponível às partes. Um espaço de liberdade para manifestação de vontade, desde que essas manifestações não colidam com normas de ordem pública (normas impositivas). 
Em regra, tem sido estabelecida como sinônimo de liberdade, e, no campo contratual, está associada a liberdade contratual. Isto é, tanto a margem de liberdade para contratar quanto a margem de liberdade para o que contratar. 
O negócio jurídico é derivado da manifestação de vontade das partes. 
O contrato é o elemento jurídico que dá o ganho do comerciante. Nesse espaço, o sujeito necessita de garantias. Um elemento jurídico que permaneça seus ganhos, aqui essa ideia de autonomia é elevada ao topo. Na Revolução Francesa, o comerciante recorre ao contrato para que o Estado não atrapalhe suas relações comerciais, por isso, a importância dessa blindagem contratual, a autonomia. O Estado não pode por meio do processo, ou qualquer outro instrumento, modificar o que é pactuado no contrato. O Estado só intervém quando há vício de vontade. 
Quem tem poder econômico determina a regra do contrato, é a lógica da vida. O problema dessa situação de aparente igualdade entre as pessoas é que se revelava uma tremenda injustiça. Aqui não se podia recorrer ao Estado, porque teoricamente, o contrato tinha sido firmado livremente entre as partes. É a lógica do capitalismo, panorama da Segunda Revolução Industrial. Não é à toa que a dita força obrigatória do contrato é o pacta sunt servanda. É o caso do mercador de Veneza, em que se discute se o Estado poderia interferir em certas deliberações consideradas abusivas. 
Os movimentos socialistas, comunistas e sindicalistas fizeram com que houvesse a modificação de alguns negócios jurídicos, como é o caso da função social do contrato. No momento em que se muda a perspectiva de um contrato baseado exclusivamente na vontade, ocorre a transição da noção de autonomia de vontade para a de autonomia privada. Representa uma limitação do dogma da vontade, colocada como única em um primeiro momento. A constitucionalização também é uma balizadora dessa circunstância. A ideia de autonomia não foi revogada, mas agora existem limites mais claros, mais fortes. A limitação antes era só pela ilicitude ou pelo vício de vontade, mas aqui se colocam mais hipóteses. 
A intervenção do Estado no contrato é chamada de dirigismo contratual. É a possibilidade do Estado de invalidar uma cláusula que não se coaduna com a realidade. O Estado aqui subverte a ordem de não interferir em prol de uma razão maior, é o caso do Código de Defesa do Consumidor. 
E quais os desdobramentos dessa transição de autonomias? A liberdade de contratação prevê os contratos atípicos (contanto que não desrespeite nenhuma norma impositiva). Um exemplo de contrato atípico é o contrato de hospedagem celebrado com o Booking, Airbnb, etc. No código essa modalidade é inexistente, mas nem por isso os indivíduos deixam de celebrá-lo. Não existe necessidade de uma previsão específica, é uma derivação das vontades das partes. 
Essa autonomia também pode afastar a aplicação da lei para a utilização de normas pretendidas entre as partes. É a questão da lei de locação, que estabelece quem é incumbido de pagar o IPTU, por exemplo. Aqui a norma precisa ser dispositiva e não impositiva. A recolha do FGTS é um caso de norma cogente, um fundo que tem finalidades específicas impedindo que o empregado modifique a destinação dessa quantia. 
2.2. Força Obrigatória:
O contrato é um instrumento de ajuste de vontade entre as partes. Estabelece-se a ideia de garantia que o contrato será cumprido. Consequentemente, isso significa um ganho econômico porque não é mais necessário firmar contrato com ninguém. 
No momento que o contrato é firmado, se torna obrigatório. Contudo, a eficácia de alguns negócios jurídicos só passam a ter validade depois de algum tempo existindo ou submetido a um evento futuro incerto, pendente de algo para sua exibilidade. 
Essa ideia de força obrigatória é intuitiva. Seria uma norma sem sanção o contrato que não possui obrigatoriedade. Eu só não cumprirei o contrato se houver alguma situação que legitime esse não cumprimento. 
2.3. Relatividade: 
O contrato só obriga a quem está à ele vinculado. Os direitos pessoais tem eficácia relativa, exibilidade somente a quem está vinculado aquilo ali. Já os direitos reais são exercidos erga omnes, isto é, contra todos. 
Aqui temos que chamar atenção para algumas situações: possibilidade de haver um terceiro prejudicado pelo descumprimento de uma obrigação contratual. O contratotem uma repercussão interna e externa (afetar um terceiro ou ser afetado por um terceiro). Ambas devem ser analisadas. O contrato não está limitado apenas às partes ali envolvidas. 
Se encaixa aqui a Teoria do Terceiro Ofensor. A ideia de que o contrato pode ser defendido contra um terceiro, para que não atrapalhe, não interfira naquela relação. 
3. Dirigismo Contratual 
O que vigora hoje é a ideia de um Estado liberal, não-intervencionista no tocante as relações jurídicas. O Estado não vai interferir na esfera privada, pois havendo liberdade e igualdade entre as partes podem elas decidir sozinhas. O Estado só intervém em situações patológicas, atípicas, que resulta em algum incumprimento do contrato. 
Entretanto, a mudança de autonomia da vontade como algo intocável para uma autonomia com limites, a autonomia privada, onde o Estado evita coibir um pouco a disparidade existente entre os poderes econômicos entre as partes, começa-se a se meter o Estado nas relações tipicamente privadas. Nasce o Welfare State, o Estado de bem-estar social. 
O Estado passa a criar leis e buscar outras maneiras afim de evitar irregularidades provenientes dos contratos. 
A cláusula penal tem importância no contrato para quantificar perdas e danos, estabelecer futuros riscos. A quantificação exata facilita a conduta das partes. A cláusula penal funciona com o mesmo intuito do contrato. 
O dirigismo contratual nada mais é que a intervenção do Estado no contrato, a presença estatal estabelecendo limites para as partes contratuais. É o caso do direito do consumidor, que é um balizador da ordem efetiva. 
O dirigismo contratual estabelece uma contrariedade a liberdade plena. E como o Estado realiza essa interferência?
3.1. Revisão Judicial do Contrato
3.1.1. Considerações iniciais: 
A alteração de um contrato só acontece com a vontade de ambas as partes. Não pode ser uma iniciativa unilateral. 
A resilição reforça a força obrigatória do contrato. 
O contrato pode ser alterado não apenas por conta da vontade, mas haverão casos que legitimam que as partes possam pedir alteração do contrato sem que haja um motivo derivado da vontade das partes. 
E quais são esses casos que não tem nada a ver com a vontade e sim com situações que imputam de tal forma a ponto de ser necessária a sua modificação? 
É o caso da paridade cambial entre o dólar e o real. A economia tem sua vida própria, nem tudo pode ser estabelecido por lei e dar certo. Foi assim que o dólar triplicou. Houve um elemento externo que independe da vontade das partes que fez com que se comprometesse a possibilidade de cumprir esse contrato. E quais as teorias que justificam essa possibilidade de revisão? Algumas estão pautadas em um elemento subjetivo e outras em um elemento objetivo. 
As teorias de elemento subjetivo se pautam na questão da vontade e as teorias de elemento objetivo analisam se há um elemento que justifique a mudança desse contrato, que é o fato determinante dessa modificação. 
No caráter subjetivo se faz a seguinte pergunta: e eu tivesse pensando A teria mesmo firmado o contrato B? Uma ideia de presuposição, presunção. 
No fundo o que se busca é uma justificativa para a modificação do contrato.
3.1.2. A cláusula rebus sic stantibus: 
A cláusula rebus sic stantibus estabelece que enquanto as coisas permanecem como as imaginadas, antecipadamente estabelecidas, devem ser respeitadas. Surge como uma forma de atenuar essas modificações de contrato. 
É antiga, porém recente no nosso ordenamento. 
A ideia de liberalismo enfraqueceu um pouco a cláusula, que ficou adormecida por um certo tempo. 
Um deputado francês cria a Lei Faillot (1918) que estabelecia que nos contratos de fornecimento de mercadoria, por conta da guerra, se essa causou alguma dificuldade extrema de cumprimento da obrigação, o contratante pode resolver, isto é, extinguir o contrato. Uma escapatória para o contratante que não conseguia cumprir com a sua obrigação. 
Isso ai acabou dando margem para novas situações. A cláusula dá origem a Teoria da Imprevisão. 
3.1.3. A Teoria da Imprevisão: 
Diante de fatos excepcionais e imprevisíveis eu tenho a possibilidade de resolver, extinguir o conteúdo do contrato. 
A imprevisão conta com uma divergência doutrinária no Brasil. Uma parte da doutrina admite a teoria da imprevisão, outros entendem-a como uma onerosidade excessiva (pesada de cumprimento). A ideia de que aquela prestação não pode mais ser cumprida. 
O art. 478º do CC menciona a onerosidade excessiva na resolução do contrato (resolução = extinção). 
Já o 317º não trata da onerosidade excessiva, mas fala em uma desproporcionalidade entre prestação e contra-prestação. 
Ou seja, o 317º está melhor disposto que o 478º, que na verdade refere-se a extinção. 
Os contratos aleatórios tem funcionamento distinto dos contratos comutativos. 
3.1.4. Critérios para aplicação dessa teoria: 
A ideia de revisão contratual se aplica aos contratos bilaterais como regra geral. Os contratos bilaterais são, em tese, comutativos, se sabe qual é o seu ônus e o seu bônus. A teoria determinante é de que não é possível pedir revisão de contrato aleatório, aquele tem o alea, o risco. 
Todavia, o art. 480º prevê a possibilidade de se revisar contratos unilaterais. 
3.1.5. Outros elementos: 
O enunciado do art. 478º, de péssima redação, estabelece que se houver fato excepcional e imprevisível de excessiva onerosidade que causa desvantagem para alguma das partes é possível pedir a resolução do contrato. O dispositivo cria inúmeras hipóteses de aplicação. 
O 479º estabelece que a resolução pode ser evitada se o réu, o prejudicado que quer extinguir o contrato, aceitar reduzir a desproporção existente no contrato. O artigo não tem lógica, de pouca aplicabilidade. 
A ideia vai de encontro ao princípio da conservação do negócio jurídico. 
O enunciado 176, 3ª jornada dá disposição contra legem. Apesar do artigo 478 falar em extinção do contrato, é preciso entendê-lo como conservação do contrato. 
Por conseguinte, o enunciado 17, 1ª jornada, ainda que seja possível prever a hipótese, a extensão dessa consequência é imprevisível. 
O artigo 478º não pode ser interpretado a ponta de faca. 
A prova do prejuízo não é necessária de ser provada. A extrema vantagem do 478º deve ser entendida como elemento acidental da alteração de circunstâncias. 
Os enunciados estão cada vez mais sendo aplicados pelo STJ, uma integração da doutrina brasileira. O enunciado é a consolidação de um julgado com cunho prático muito grande. 
Preciso estar em dia para que eu possa pedir a revisão judicial? Estando inadiplente é possível solicitar a discussão do contrato? A princípio não. Contudo, o fato de propor revisão contratual não impede os efeitos da mora. O inadiplente continua inadiplente, mesmo que seja quem solicita o ato revisional. O fato de ingressar com a revisional, sem o depósito do valor, nada se relaciona com a mora.
A súmula 380, STJ estabelece essa ideia. 
O enunciado 354, 4ª jornada trás a situação da mora proveniente de um vício do contrato. O devedor que deixa de pagar por efeito de uma incoerência contratual. 
Não são abusivos os juros que refletem reajustes de mercado. 
O professor entende que o depósito do valor é alternativa ideal nessa hipótese. 
O art. 330º, §2 CPC tenta evitar que o cara queira depositar qualquer valor e levar o contrato adiante. 
3.1.6. A revisão no CDC: 
Boa parte das relações contratuais são relações do consumidor. E como estabelecer essa distinção? Como saber se tenho que aplicar o CC ou o CDC? 
O CDC estabelece que é necessário ter um destinatário final em uma ponta e um fornecedor na outra. O sujeito que compra produto para revenda não é protegido pelo CDC e sim pelo CC, que prevê uma situação de paridade contratual. 
O art. 6º, V estabelece que é direito básico do consumidor revisão de cláusulas abusivas, extremamente onerosas. Não tem que haver fato excepcional, imprevisível, nada disso. Tratamos aqui de uma relação de disparidade entre as partes. 
O art.51º do CC lembra a importância de manutenção do contrato. 
3.2. Equilíbrio Econômico e Justiça Contratual: 
Os princípios tradicionais passam a não ser mais suficientes a partir da ideia da funcionalização dos ideais do direito contratual, uma ideia de funcionalização dos institutos a partir da sua socialização. 
Quando falamos em relação contratual com a presença de uma parte mais vulnerável é preciso ter uma atenção maior. As relações entre fornecedor e consumidor final são sempre relações regidas pelo direito do consumidor. Aqui não é possível a paridade porque há um descompasso entre as duas partes. Essa disparidade não é necessariamente uma disparidade econômica. 
Nas relações cíveis tem-se a ideia que existe um equilíbrio entre as forças que se equilibram ali. Logo, não haveria sentido uma intervenção estatal aqui. 
3.2.1 Princípio da boa-fé: 
A boa-fé subjetiva envolve um elemento relacionado a percepção do sujeito. Mas é algo que parte do sujeito ou chega até ele? É a percepção, a consciência, a impressão dele em relação a exatidão do seu direito, partindo de um ponto de vista individual A velha ideia do bom pater família, que agiria conforme os padrões estabelecidos pela sociedade. 
O elemento subjetivo leva em consideração o conteúdo da relação jurídica. Aqui teremos que analisar o coletivo. A boa-fé sai do plano individualista para uma análise social. É um padrão médio de conduta a ser observado pelas partes nas relações jurídicas, no nosso caso contratuais, buscando alcançar as justas e razoáveis expectativas das partes. 
E o que é considerado razoável em uma dada situação? 
Art. 422/CC: Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Aqui perde-se a ideia de pessoa e passa-se a analisar o tipo do contratante. É preciso observar qual o objetivo do sujeito que contrata ao criar aquela obrigação contratual. A pessoa contratada deve buscar cumprir a obrigação da forma esperada pelo contratante, mesmo que não seja a mais tradicional. 
Tem-se que analisar o caso concreto para verificar se houve ou não uma situação de irregularidade. 
3.2.2. Funções: 
a boa-fé serve para integrar e interpretar as relações contratuais. O art. 113º faz remissão expressa a essa ideia. A interpretação aplica-se a situações de dubiedade. Já a integração é aplicada quando se precisa preencher algum espaço no contrato que tenha ficado em aberto, uma lacuna contratual. 
Formação de Deveres Laterais: em cada contrato temos deveres principais, que estão relacionados a obrigação principal do contrato e deveres laterais, utilizados para buscar satisfazer as dificuldades enfrentadas pelas partes. Todos os contratos enfrentam barreiras. No direito brasileiro a renegociação não é um dever, é visto de uma forma colaboracional. A formação de deveres laterais é uma sucessão dessa ideia. Dever de não aumentar o prejuízo, o sigilo, etc. são exemplos desses deveres. Não surgem por vontade, decorrem da boa-fé objetiva independentemente da vontade das partes. 
Limitação da Autonomia: com a ideia da boa-fé eu vedo os atos que extrapolem a proporcionalidade e possam significar o abuso excessivo do direito. 
3.2.3. Os deveres de conduta: 
Deveres Laterais = Deveres de Conduta
ideia de não causar prejuízo, dano. Quando se tem um produto nocivo tem-se que informar o seu risco ou até mesmo retirá-lo de comercialização. 
b) Colaboração: dever de reduzir o próprio risco. Eu não posso agravar o prejuízo. Exercer condutas e evitar condutas se encaixam aqui, tanto os atos comissivos quanto omissivos. 
c) Informação: a partir da informação eu estabeleço se quero ou não fazer parte do contrato. Quanto mais informação mais se tem certeza do que está sendo estabelecido. A falta da informação adequada pode gerar um problema futuro muito maior. 
3.2.4. Enunciados relacionados a boa-fé: 
Na 1ª jornada, art. 24ª se estabeleceu que os deveres laterais devem ser analisados de forma objetiva. Não interessa dolo ou culpa. Se descumpriu já é espécie de inadiplemento, já pode ser punido. 
Ainda na 1ª jornada os arts. 25º, 26º e 27º também são importantes (fazer a leitura depois). 
O enunciado da 3ª jornada, arts. 166º ao 170º fala do dever de reduzir o próprio prejuízo. 
Na 4ª jornada, arts. 361º e 362º trata-se da responsabilização da viabilidade do contrato. 
Por fim, o art. 5ª jornada, art. 432º também aborda outra questão importante (fazer leitura depois). 
4. Função Social do Contrato 
Previsto no art. 421º/CC, tem trazido muita discussão até hoje. Foi modificada em 2019 com a Lei da Liberdade Econômica. 
E o que seria essa função social? Flávio Tarturce diz que seria um regramento contratual de ordem pública em virtude do qual o contrato deve ser analisado e interpretado de acordo com o contexto da sociedade. 
Art. 2035. Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.
Isto é, sendo norma de ordem pública o particular não tem poder de ingerência. todavia, eu não posso afastar a função social. 
O princípio por si só sempre foi entendido associado a ideia da função social da propriedade. A função social do contrato seria, basicamente, transferir propriedade. Hoje, entende-se que o contrato tem a obrigação principal de circulação de riquezas. Contudo, eu não posso entender o contrato como algo dissociado da sociedade. 
Situações como realização de empreendimentos que possam causar danos ambientais, monopólio de uma empresa em um determinado ramo devem ser evitadas através da função social do contrato. 
A quebra do contrato de seguro de vida de uma pessoa com idade elevada consiste em um caso de não cumprimento da função social do contrato. 
E qual o problema básico que temos aqui? Houve uma modificação sensível do art. 421º, com a inclusão do 421º, A. Muda-se o perfil ideológico do dispositivo em função da guinada de um Estado mais liberal. A doutrina entendia que o artigo, anteriormente a mudança, limitava a autonomia da vontade. Ainda que tenha havido a mudança, não podemos desconsiderar a função social. 
4.1. Bipartição/Estrutura: 
A) Interna: efeito entre os contratantes. Se houver excesso naquela contratação, a função social pode ser um balizador para regularizar a distorção. 
B) Externa: o contrato não pode causar prejuízo a terceiros. O contrato pode ser invalidado caso prejudique outros sujeitos, que não sejam as partes. Mas o terceiro também não pode atrapalhar o contrato. 
4.2. Enunciados da função social: 
1ª jornada- 21º-23º, 3ª jornada-166º e 167º, 4ª jornada- 360º e 361º e 5ª jornada- 431º e 432º (fazer leitura depois). 
5. Classificação dos Contratos
5.1. Quanto à geração de efeitos: 
Todo contrato em sua formação, necessariamente, é bilateral. Para ser formado precisa de dois pólos: o polo contratante e o polo contratado. Mesmo na situação do art. 117º, que prevê o auto-contrato, um mesmo sujeito atua na função dos dois pólos. 
 
gera obrigações apenas para uma das partes. Existe uma imposição de obrigações apenas para um lado. Exs. comodato, fiança, mútuo (financiamento). 
B) Bilaterais: gera obrigações para ambas as partes. São os chamados contratos sinalagmáticos. Boa parte dos contratos são bilaterais porque estabelecem isso ai. Existe uma correspondência do que eu faço para o que eu vou receber. Ex. Compra e venda. 
Obs. 1. Para que haja um contrato sinalagmático é necessário que pelo menos um dever corresponda a uma contra-prestação. No contrato de compra e venda há um pagamento que corresponde a entrega da coisa. Não significa que todas as prestações precisam ter um correlato, pelo menos uma. 
Obs. 2. O contrato bilateral imperfeito é aquele que nasce unilateral, mas em virtude de alguma situação específica passa a gerar dever também para a outra parte. É o caso do sujeito que precisa viajar e pede a alguém para guardar seu veículo na garagem de outrem(contrato unilateral de depósito, a obrigação é só de quem guarda o veículo, apesar da entrega servir para aperfeiçoar a relação). O automóvel começa a vazar óleo e o dono da garagem conserta e gera a obrigação de ser ressarcida pela benfeitoria, tornando-se um contrato bilateral imperfeito. 
C) Multilaterais: são aqueles em que não há divergência de interesses para a realização do contrato. Na compra e venda existem vetores distintos: um quer comprar e o outro quer vender. No caso dos plurilaterais, todos os interesses estão na mesma direção. É o caso da formação de uma sociedade, uma associação, etc. Todos estão compactuando a mesma coisa. 
5.1.1. Efeitos da distinção: 
Apenas nos contratos bilaterais é possível utilizar a regra da exceção do contrato não cumprido. Se uma parte não cumpre a sua obrigação a outra não está obrigada a cumprir a sua. Apresenta-se uma defesa, uma exceção para um não cumprimento. 
Apenas nos contratos bilaterais é possível falar da cláusula resolutiva tácita (extingue o contrato com uma condição - é o caso do inadiplamento, quando o sujeito para de trabalhar para alguém que não está lhe pagando). A condição resolutiva pode estar expressa (escrita ou verbalmente) ou tácita. 
3. Apenas nos contratos bilaterais é possível a parte alegar que não vai cumprir sua obrigação por conta de um acontecimento duvidoso que coloca em risco o cumprimento da obrigação pela outra parte. 
4. A cláusula solve et repete só pode ser aplicada a contratos cíveis de natureza paritária. Diz que mesmo que o outro não cumpra, você precisa cumprir a sua obrigação. Renúncia a exceção do contrato não cumprido. 
5.2. Quanto às vantagens patrimoniais: 
A) Onerosos: o contrato oneroso é aquele em que há uma retirada para a aquisição de determinado direito. Há um sacrifício patrimonial. Em regra, os contratos bilaterais são onerosos. 
B) Gratuitos/Benéficos: não há uma saída patrimonial para alcançar determinada objeto. Em regra, os contratos unilaterais são gratuitos. 
A imposição de certos deveres nesses contratos não muda a sua natureza. É o caso do empréstimo gratuito de um imóvel, mas onde o dono do apartamento estabelece que o sujeito tem que pagar o IPTU de um imóvel, a taxa condominial e manter a limpeza. 
C) Bifrontes: podem ser tanto gratuitos quanto onerosos. É o caso do contrato de depósito, que pode ser remunerado ou não. Pode ser uma coisa ou outra sem mudar o tipo do contrato. 
5.2.1. Efeitos da distinção: 
no contrato oneroso ambos os contratantes respondem por simples culpa, basta que haja culpa leve. No gratuito o contratante beneficiado responde por simples culpa, porém o que não é beneficiado só responde se houver dolo, com intenção. 
2. A interpretação: não se admite interpretação ampliava dos contratos gratuitos. Se eu efetuo o doação da CPU de um computador, não posso exigir o monitor também. Nos onerosos, como existe uma perda, não funciona dessa forma. 
5.3. Quanto aos riscos assumidos: 
5.3.1. Contratos comutativos e aleatórios: 
Constituem uma espécie de contrato oneroso. Todo contrato comutativo e aleatório é, necessariamente, oneroso. 
Contrato comutativo é aquele em que há uma correspondência, exata ou aproximada, entre a prestação e a contra-prestação. O sujeito tem consciência de que o que vai receber é equivalente ao que está dando. É a espécie de contrato mais usual, pois é comum realizar uma pesquisa de mercado antes de adquirir um produto, na busca de um equilíbrio entre o que é dado e o que é recebido. Todo o papo sobre revisão contratual vamos ver aqui. 
Já o contrato aleatório, alea = sorte, é aquele contrato oneroso em que as partes admitem a possibilidade de receber uma contra-prestação diversa (no sentido de inferior) ou até mesmo inexistente por conta do risco que envolve o contrato. Não existe a possibilidade de pedir a resolução do contrato, pois foi assim que as partes estabeleceram. A pedra de toque aqui é o risco. 
O normal é que o contrato seja comutativo. O aleatório foge da normalidade. É importante também que quem arque com a contra-prestação não aja de má-fé. Precisa haver uma postura de colaboração do contratante. O contratante compromete-se a entregar algo, mesmo que em menor quantidade que o esperado. O risco ocorre dos dois lados. 
5.3.2. Tipos de aleatórios: 
Emptio spei: 
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. 
B) Emptio rei sperataf: 
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
C) Coisas sujeitas à risco: 
Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.
Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa.
É a situação típica de contratos empresariais. Ex. Um navio mercador que sofre uma anomalia da natureza. O contratante que se comprometeu a repassar a mercadoria ali precisa arcar com o que prometeu, a menos que invalide o contrato, torne o negócio jurídico inexistente. 
Aqui quebra-se a possibilidade de venda de coisa inexistente e a assunção do risco pelo adquirente. O objeto aqui não existe e pode não existir. Subverte-se o risco para o alienante, modificando o entendimento do contrato clássico que foi visto em obrigações. 
Observações: 
Muda-se a perspectiva tradicional, transfere-se o risco para o adquirente e a coisa inexistente pode agora ser comercializada. 
Não se admite nos contratos aleatórios a revisão contratual, pois não existe lesão, uma espécie típica dos comutativos. 
Existem contratos naturalmente aleatórios, como a aposta, o contrato de seguro, etc. Já outros podem se tornar aleatórios, por vontade das partes. 
Se houver dúvida, entende-se que o contrato é comutativo. Não se assume risco a toa. 
A evicção (perda parcial ou total de um bem porque é feito por um sujeito sem legitimidade) e os vícios redibitórios (vícios mascarados nas coisas, defeitos, problemas) só se aplicam aos contratos comutativos. 
5.6. Quanto à previsão legal: 
A) Típicos: previsto, regulamento na lei. Possui uma normatividade legal. 
B) Atípicos: não tem regulamentação legal. O art. 425º gera a possibilidade das partes criarem contratos conforme as suas vontades. Aqui deve-se respeitar os limites da autonomia privada. 
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. 
Alguns doutrinadores entendem que contratos nominados e inominados são sinônimos de típicos e atípicos. Professor não entende dessa forma. O contrato pode ser nominado, mas atípico como o caso da regulação da vaga de garagem. A situação é mencionada no código, na lei de locação, mas não possui formatação legal. 
5.7. Quanto ao momento de aperfeiçoamento: 
A) Consensuais: basta o acordo de vontade para a formação do contrato. Basta o acordo, o consenso para que o contrato se concretize, independente do momento de cumprimento da prestação. 
B) Reais: necessitam da entrega da coisa para que o contrato se concretize. É o caso do depósito, comodato, etc. Havendo a entrega da coisa se concretiza o negócio jurídico. Mas a entrega é uma obrigação do contratante? Não, é apenas um elemento de concretização do negócio. Se não houver a entrega da coisa o que existe é a promessade uma obrigação. 
5.8. Quanto à necessidade de formalidade: 
A) Informais: é a regra. É aquele que dispensa qualquer rito ou forma para sua validade. O art. 107º do CC diz que a validade do negócio jurídico não dependerá de forma especial, a menos que a lei estabeleça. 
B) Formais e solenes: precisam de uma forma, acatar uma determinada formalidade para serem válidos. Parte da doutrina entende que os dois termos são equivalentes, mas o professor discorda. O contrato solene é aquele que precisa ser levado a cartório, ser firmado via escritura pública. O formal requer somente uma formalidade escrita. A violação da solenidade significa uma violação da validade, diferentemente do formal. 
5.9. Quanto ao momento de cumprimento da obrigação relativa ao contrato: 
De execução instantânea: é aquela que ocorre em um só ato. Se o ato for no momento da celebração do contrato a execução é instantânea imediata. Um só ato no presente. Se o ato for no futuro, mesmo que único, chama-se de execução instantânea diferida. 
B) De execução continuada/trato sucessivo: o continuado possui uma repetição cíclica das obrigações e o de trato sucessivo possui obrigações a disposição para serem exigidas pontualmente. 
Obs. Só será possível revisão contratual de contrato de execução continuada ou de trato sucessivo, pois entre a formação e a execução do contrato existe um lapso temporal entre eles. É o caso do notebook que é vendido, mas o vendedor precisa de um tempo para retirar seus arquivos do aparelho. 
Obs.2. Se o contrato for de trato sucessivo é preciso respeitá-lo até o momento que for resolvido. A resolução tem efeito ex tunc, não retroagirá. O que foi pago continua sendo pago. Se for execução imediata, é possível o efeito retroativo e a quantia ser devolvida. 
Obs.3. O contrato de trato sucessivo a prescrição incide a cada parcela, posto que as obrigações são cíclicas, vai se renovando a cada mês. Lembrar que a prescrição é instrumento de ordem pública, que não pode ser prorrogado. 
5.10. Quanto ao prazo: 
A) Por prazo determinado: o contrato tem data certa para começo e final. Em regra, no prazo se estabelece cláusulas penais de mora e compensatórias (também podem existir no prazo indeterminado, mas é mais comum aqui). 
B) Por prazo indeterminado: ocorre tanto quando as partes não estabelecem um final, como o caso da prestação de serviços, já nasce indeterminado, quanto quando nasce indeterminado e é tacitamente prorrogado com a continuidade do serviço, as cláusulas permanecem as mesmas, só a vigência do contrato que torna-se sem determinação. Aqui analisa-se não só o cumprimento para o esforço para cumprir o contrato. 
5.11. Quanto à pessoalidade: 
A) Pessoais/personalíssimas (intuito personae): analisa-se a vinculação específica de alguém. O contrato pessoal é aquele firmado com o objetivo de que seja cumprido por uma pessoa determinada em virtude de uma característica que lhe seja peculiar. O efeito natural dos personalíssimos é a não-transferência. Com o falecimento do contratante ou do contratado o contrato se resolve, não existe substituição quer seja mortis-causa ou inter-vivos, a menos que haja anuência expressa do credor. 
B) Impessoais: são aqueles contratos em que não há necessidade de realização por pessoa específica. Claro que se houver necessidade de transferência o credor precisa ser informado, mas não há prejuízo por conta disso. 
5.12. Quanto à interdependência: 
A) Principais: o contrato principal tem existência por si-só. Tem autonomia e independência.
B) Acessórios: só haverá contrato acessório quando haver contrato principal. No vínculo acessório pactua-se um contrato de uma parte estabelecendo um benefício a outra parte. Sempre concomitante ou posterior (não entra contrato-promessa) É o típico exemplo da fiança, da hipoteca, etc. Existe uma ideia de gravitação jurídica, onde o acessório segue o principal. Se for declarada a nulidade do principal obviamente a acessória deixa de existir. 
A prescrição do contrato acessório precisa ser a mesma do contrato principal, pois existe uma vinculação. Alguns contratos acessórios recebem o nome de derivados, como o caso da locação. 
Obs. Os contratos coligados (enunciado 420, 5ª jornada) é uma nova espécie contratual onde existe uma junção de contratos afim de se alcançar determinado objetivo. É o caso do cartão de crédito, onde firma-se uma coligação entre a administradora (o banco) e o lojista. É uma relação triangular. A venda coligada é preocupante nas vendas realizadas online. São aqueles que embora distintos estão ligados por uma cláusula acessória implícita ou explícita em virtude de um nexo funcional, a perda da eficácia de um repercute na eficácia do outro. 
5.13. Quanto ao objeto: 
Civis: além do objeto em si também se analisa o papel que as pessoas exercem na relação com o objeto. Aqui a relação ocorre entre particulares e tem-se uma ideia de paridade de forças. 
B) De consumo: temos sempre um fornecedor e um destinatário final. As regras de liberdade aqui são bem mais dispostas à uma intervenção estatal. Ganham espaço a medida que os cíveis se resumem cada vez mais. A maior dificuldade do direito do consumidor é identificar quem de fato é esse consumidor, são várias teorias. 
C) Empresariais: não tem ideia de colaboração, postura egoísta. Diante de uma igualdade de forças é possível uma série de instrumentos.
É possível que um mesmo sujeito exerça todos os tipos contratuais, a depender de que posição adote. A compra e venda é regulada pelo CC, mas sua interpretação se realiza de acordo com o que está posto no CDC. 
6. Formação dos Contratos 
6.1. Noções gerais: 
É o momento da chamada conclusão do contrato. Embora dê a ideia de final, aqui atua no sentido de aperfeiçoamento no sentido que o contrato foi concluído, é existente, e não necessariamente cumprido como a palavra remete. 
Existindo, devemos analisar se aquilo que foi manifestado tem correspondência no ordenamento jurídico, ou seja, verifica-se o plano da validade em cinco aspectos: 1. A manifestação de vontade, 2. A capacidade dos agentes, 3. Se o objeto contém a ilicitude, 4. Se é materialmente possível, 5. Sua determinabilidade e a 6. Questão da forma. 
E por fim, o último plano, que pode acontecer ou não, é o plano da eficácia. É possível que a eficácia seja plana, ou seja, não seja atrelada a nenhuma situação. Contudo, é possível estabelecer requisitos para que o contrato seja eficaz. 
Aqui vamos analisar o processo de formação. O contrato não se forma instantaneamente ou através de ato isolado. Mesmo nas situações mais simples, há uma fase de análise de conveniência antes da celebração contratual. Uma fase de reflexão, que pode ser um procedimento rápido ou demorado. 
6.2. Fases: 
Puntuação (negociações preliminares): 
Pode ser entendida como negociação, mas também como fase de análise. É a coleta de informações. Eu analiso a questão do preço, da qualidade, da viabilidade do negócio, da segurança econômica. A questão de informação é essencial para que eu possa deliberar se eu quero ou não viabilizar esse contrato. 
Proposta (oblição): 
Tendo analisado que aquilo me interessa, eu realizo a proposta para haver a aquisição de determinado produto. 
O art. 427 estabelece como a proposta de contrato vincula o proponente e estabelece a sua força obrigatória. 
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
O art. 428 estabelece a possibilidade de retratação entre presentes ou entre ausentes e a duração da proposta. 
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro doprazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. 
No direito brasileiro existe uma dúvida quanto ao momento que é celebrado o contrato. Se é no momento da expedição ou no momento de aceitação. 
Entende-se que o direito brasileiro adota a teoria da expedição, conforme o art. 434. Contudo, existem tantas exceções a teoria principal que existe certa dúvida quanto a observância dessa teoria no mundo prático. O próprio artigo, que lista essas exceções, se contradiz. (Oblato = pessoa a quem se direciona a proposta). 
Se a resposta for expedida e chega fora do prazo, por um erro técnico, como uma greve de Correios, cabe a quem recebe a correspondência comunicar a pessoa que mandou para que ela saiba que apesar de enviada no prazo, não foi recebida na data coerente. 
C) Contrato preliminar: 
(lembrar de contrato-promessa). 
Está previsto dos artigos 462 ao 469 do CC. O contrato preliminar serve para estabelecer o conteúdo do contrato definitivo a ser celebrado. E por que não seria possível celebrar o contrato definitivo? Devido a alguma circunstância que não o torne possível. Seu objeto é sempre o mesmo: celebrar o contrato definitivo. Ele é uma forma de celebração. 
A diferença da carta de intenção (ou mesmo o memorando) para o contrato preliminar é que os atos da carta não estabelecem a obrigatoriedade do contrato definitivo, como aqui. O que se coloca são questões relevantes, mas sem força vinculativa. No contrato preliminar já existe toda a formatação do contrato futuro, com obrigatoriedade. 
O contrato preliminar, exceto quanto a questão da forma, deve conter todos os elementos essenciais ao contrato definitivo. Porque, em tese, seu objetivo é chegar ao contrato definitivo. O efeito prático disso é a possibilidade da exigência do que foi estabelecido no contrato preliminar quando houver discussão das cláusulas do definitivo. Caso o contrato definitivo não seja cumprido, tem-se todos os elementos já previamente pactuados. 
O art. 463 assegura que uma vez celebrado o contrato preliminar, com os requisitos do 462, eu posso exigir o cumprimento da obrigação, por isso o contrato preliminar pode comportar qualquer tipo de contrato, pois atua como uma forma de contratação, se amolda a qualquer tipo de situação. 
O contrato preliminar pode estabelecer um prazo para o cumprimento definitivo da obrigação ou no caso de não contar com esse lapso temporal, ser estabelecido pelo juiz. 
O contrato preliminar deve ser levado ao registro competente. Se se trata de imóvel, leva-se ao cartório de imóvel, se for móvel leva-se ao contrato de títulos e documentos. O principal exemplo do preliminar é a promessa de compra e venda do imóvel. Vitor e Vicente pactuam, com cláusula de irrevogabilidade, a venda de um apartamento. Vitor vende o apartamento para Pedro, e como não existe o registro do contrato preliminar, resta tão somente a possibilidade de pleitear perdas e danos pelo descumprimento do contrato. Não cabe aqui a invalidação. O contrato tem efeito somente inter-partes, logo, não afeta Pedro.
Se o contrato tivesse sido celebrado em cartório, com eficácia absoluta/ergma ormnes e não mais relativa, cria-se o direito real de aquisição, de exercer direito como se fosse o proprietário, o futuro proprietário do imóvel. O registro dá publicidade ao contrato. 
O registro muda a natureza do contrato. A obrigação deixa de ser meramente obrigacional e torna-se uma obrigação erga-omnes, cria-se um direito real através do registro no cartório de imóveis. 
O STJ tem entendido que o fato de eventualmente não ter sido registrado no cartório não impede a exigibilidade do que foi contratado. Ao deixar de se registrar emerge o risco em relação a terceiros. Não se perde a natureza de relação obrigacional e o direito de se exigir o cumprimento da obrigação, na relação inter-partes. 
E no caso do sujeito que vende não querer passar a escritura, mesmo já tendo sido pagos todos os tributos? Se não houver escritura para que eu possa levar ao cartório o contrato definitivo eu não serei proprietário. Nesse caso, recorre-se ao juiz e pede-se a adjudicação compulsória do bem. O juízo expede sentença que realiza a transferência de propriedade e o escrivão faz o registro da mesma forma que faria com o contrato. 
Caso o sujeito venha a desistir do contrato definitivo, é possível pedir somente a declaração de rescisão daquele contrato, perdas e danos. 
E se apenas um sujeito se comprometer a cumprir uma obrigação? É possível estabelecer prazo para que se cumpra com aquele vínculo obrigacional? 
D) Contrato definitivo/conclusão do contrato: 
Essa ideia de contrato abordada até aqui combina com o modelo de contrato paritário, numa formatação mais clássica, com as partes ocupando o mesmo patamar. São exemplos os contratos cíveis, como a compra de um produto na internet, contratos empresariais, etc. 
O comum é que após a proposta (segunda fase, seguimento da negociação), o contrato se torne um contrato preliminar ou mesmo um contrato definitivo, que promove a conclusão do contrato. Todavia, ainda pode ser o contrato se extingua. 
Com o contrato definitivo conclui-se o contrato. Vale salientar que aqui conclusão não significa cumprimento do que foi estipulado pelas partes no texto contratual, e somente a conclusão no sentido de aperfeiçoamento: agora o contrato existe, está completo o seu processo de formação. 
O contrato preliminar é uma opção. O definitivo pode ser estabelecido independente de sua atuação. 
6.2.1. Fase pré-contratual: 
As tratativas da puntuação não são consideradas como oferta ainda. Não vincula as partes eventualmente celebrantes do contrato. 
Já os acordos provisórios são bailadores de uma eventual contratação futura, podendo ser cartas de intenção ou memorando de entendimentos. É o ponto de partida com base no que já foi manifestado pela vontade das partes. 
As cartas de intenção são de suma importância para a interpretação do contrato. As partes comumente estabelecem a forma de se interpretar o contrato em caso de conflito, dá-se um norte. Se isso for discutido judicialmente o juiz já possui uma base do que se pretendia contratar ali. 
Os memorandos de entendimentos ja é uma fase mais madura da negociação, onde as partes já estabeleceram alguns critérios que devem ser respeitados caso o contrato seja celebrado. É comum que as partes estabeleçam uma cláusula de confidencialidade, um tempo específico para negociar com aquela empresa (no período de 1 ano eu não quero que Vicente negocie com outras empresas), etc. Se impõe inclusive multas no caso de eventuais desconformidades com esses critérios. 
São instrumentos prévios a ideia de contratação, que servem de norte de interpretação, um leque de deveres. 
O caminho normal da contratação são 2: ou contrata ou não contrata. Espera-se que as partes ajam com probidade e boa-fé para que o contrato seja celebrado. É preciso ser sério, transparente com suas intenções. 
Obs. A responsabilidade civil pré-contratual é estabelecida quando se cria a expectativa razoável que algo que se efective posteriormente. Caso não seja cumprido, da forma que foi estabelecido, pode gerar a responsabilização civil. 
Eu só terei responsabilidade civil se houver carta de intenção ou memorando de entendimento? Não, apesar de torná-la mais comum. 
O art. 422 fala da boa-fé objetiva tão somente no momento da conclusão do contrato e durante a execução do contrato. O Código fala muito menos do que ele deveria dizer, mas nenhum doutrinador ousa discordar dessa responsabilidade civil pré-contratual, que também é reconhecida pela jurisprudência. 
Se eu violo os princípios da boa-fé objetiva ou qualquer dever geral de conduta associado a essa negociação eu estarei cometendo um ato ilícito, um abuso de poder. A não vinculação é lícita, mas o descumprimento contratual não. É o caso da pessoa que desiste de casar no dia da cerimônia. Houve um espaço de tempo para que se decidisse, se pensasse. 
O enunciado 25, 1ª jornadadiz que o art. 422 não inviabiliza pelo julgador a aplicação do princípio da boa-fé na fase pré-contratual ou pós contratual. Tem que se assegurar que um carro terá peças para troca disponíveis por um tempo razoável, garantindo-se toda assistência necessária em nome de uma boa-fé pós contratual. Não basta penas ter boas intenções antes da assinatura do contrato. 
O enunciado 170, 3ª jornada diz que a boa-fé também precisa ser observada após a celebração do contrato. Não só na sua fase preliminar. É importante lembrar que para analisar a boa-fé objetiva é fundamental analisar o caso concreto, especificamente. 
E como eu vou apurar essa responsabilidade prévia? Qual a sua natureza? Na responsabilidade contratual eu tenho a ideia que vou apurar se o contrato foi cumprido ou não e não preciso comprovar o não cumprimento do contrato. 
Já na responsabilidade pré-contratual é a vítima que possui o ônus da prova (dever de comprovar incumprimento). Aquele que não cumpriu o contrato que precisa comprovar o porque de realizar aquele incumprimento. 
Na responsabilidade extra-contratual o ônus é do prejudicado. Deve-se comprovar a conduta do outro com base nos 5 pressupostos da responsabilidade civil. 
Alguns doutrinadores afirmam que a responsabilidade civil pré-contratual nada mais é que uma responsabilidade contratual. Mas como falar de contrato se essa é uma fase preliminar? Se o contrato não existe não dá pra realizar essa analogia. Aqui o respeito é à aqueles deveres impostos ali. 
O fundamento dessa responsabilidade está na confiança inserida no outro. O prejudicado pode pedir tanto os danos emergentes, que decorreram daquela contratação, quanto o lucro cessante, que decorrem do não-lucro. 
O enunciado 24, 1ª jornada diz que a violação dos deveres anexos devem ser analisados independentemente de dolo ou culpa. O simples fato de violar qualquer situação dessa deve causar algum tipo de prejuízo, responsabilização a ele. 
O enunciado 37, 1ª jornada fala que independe de culpa ou dolo essa responsabilidade pré-contratual e baseia-se apenas no critério finalista do ato. Ou seja, segue a mesma linha de raciocínio dos deveres anexos: se existiu violação de dever que gere responsabilidade pré-contratual ou de dever anexo que seja, o sujeito precisa sofrer dano. 
O enunciado 363, 4ª jornada estabelece que os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, são normas cogentes, de vinculação obrigatória, estando a parte lesada apenas obrigada a comprovar a existência do incumprimento para obter algum tipo de ressarcimento. 
6.2.2. Oferta: 
A policitação ou oblação são sinônimos para oferta. Aqui temos algo mais concreto, não estamos mais na fase pré-contratual. 
Proposta e aceitação são negócios jurídicos unilaterais. A proposta já me obriga, conforme o 427. A aceitação, obviamente, também. 
No momento que há uma união entre a proposta e a aceitação temos de fato a celebração do contrato. E quando a proposta não é cumprida 2 correntes se estabelecem: uma que diz que haveria apenas perdas e danos e outra que exige o cumprimento específico da obrigação. 
Totalmente diferente do CDC, que diz que quando existe uma situação de proposta o consumidor pode exigir o cumprimento da obrigação. 
7. Contratos de adesão:
Os contratos de adesão são aqueles onde não há ajuste do conteúdo contratual firmado por ambas as partes, mas essencialmente por uma delas que estabelece o conteúdo do contrato. Surge como uma necessidade de uma sociedade massificada. É o caso do contrato de plano de saúde, cartão de crédito, etc. isso está ligado, sobretudo, a questão econômica. 
Representam uma forma de contratação e não um tipo de contrato. Ou você adere ou não adere. Cria uma posição favorável ao aderente, que não teve possibilidade de estabelecer o conteúdo. 
O CC ao tratar do contrato de adesão prevê apenas dos artigos 422 ao 424. O que se observa é uma rigidez nas suas cláusulas, uma unilateralidade e uma predisposição. Mudar uma clausula ou outra não modifica a natureza do contrato. 
Quando haver clausulas ambíguas ou contraditórias, prevalece o interesse do aderente. Diante da dubiedade, visa se proteger quem não teve possibilidade de escolha. 
A regulação do contrato de adesão no CDC tem outra perspectiva, bem diferente da que se coloca no CC. Nos contratos cíveis normais é possível abrir mão de garantias, de proteções e regalias afins, que no direito do consumidor não é uma possibilidade. 
8. Contratos eletrônicos: 
É tratado no art. 425. Eu posso celebrar contratos atípicos, sem uma formatação específica. Nos contratos eletrônicos é possível que eu firme o contrato de forma electrônica, sem que haja contato entre as partes. 
As fases contratuais que vimos anteriormente perdem sua força. Em regra, boa parte deles serão contratos de consumo, que por sua própria formatação, serão de adesão. 
9. Efeitos dos contratos: 
9.1. Vícios redibitórios: 
Está previsto nos arts. 441-446/CC como um vício, um defeito oculto, que ou impede a fluição da coisa ou impede substancialmente o seu valor. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo - pressupõe-se onerosidade, pode ser rejeitada por vícios ou defeitos ocultos por esses dois motivos. 
Esse tipo de vício compromete a ideia da comutatividade contratual (equilíbrio). A regra é específica a situação de coisa, só incide nas obrigações de dar coisa certa ou coisa incerta. Sendo assim, existe uma expectativa de qualidade do produto. 
O vício redibitório gera um direito potestativo da pessoa prejudicada a ponto de devolver a coisa e extinguir o contrato ou mesmo exigir remunerações adicionais. O direito subjetivo admite contraposição enquanto o potestativo não possibilita essa alternativa. Nenhum direito pode ser exercido sobre o direito potestativo. O divórcio é um direito potestativo. Não existe nada que possa ser feito para impedir um divórcio. Todavia, os direitos potestativos exercem efeitos. 
O vício redibitório gera o direito potestativo de aceitar a coisa defeituosa ou permanecer com a coisa prejudicada, contudo pedindo abatimento em relação ao valor do bem. 
A função do redibitório é de garantia. Eu preciso estabelecer uma garantia que a coisa entregue através de um contrato comutativo seja adequada para aquela finalidade. O fundamento do vicio redibitório é a comutatividade do contrato. 
Não é relevante para a caracterização do vício redibitório que o alienante tenha conhecimento do vício. Será caracterizado somente pelo fato de existir, é dispensável a análise da culpa ou dolo na transferência. Basta que haja o defeito. 
Aplica-se tanto em contratos onerosos comutativos, notadamente, sendo sua situação mais usual o contrato de compra e venda, mas podendo incidir sobre outras modalidades, quanto as doações onerosas, aqui dois tipos: a doação com encargo (encargos são condições indispensáveis - privado II) e a doação remuneratória, aquela que se faz em compensação à um serviço realizado, onde não é mais possível aplicar pagamento. Se excedeu o prazo deixa de ser pagamento e chama-se de doação. 
O vício redibitório não se confunde com a responsabilidade civil porque aqui é possível dispensar dolo e culpa. A incidência dos vícios redibitórios está em um campo diferente da responsabilidade civil, que decorre tanto do contrato quanto de uma questão extra contratual. Contudo, se existe algum tipo de prejuízo causado pelo vício redibitório pode incidir o problema no campo da responsabilidade civil. 
É importante salientar também que o vicio redibitório não se confunde com o vício de consentimento. O erro, situação típica do vicio de consentimento, é gerado por uma falsa percepção da realidade. É causado pelo próprio declarante, não induzido por terceiro, como o caso da moto 2018 que é vendida como 2019. A coisa não desempenha o papel que deveria desempenhar. O caso da moto é uma situação de inadiplemento contratual e não vício redibitório. 
9.1.1. Requisitos: 
Coisa recebida através de contrato comutativo ou doação modal/remuneratória: 
Sóé vício redibitório se se tratar de defeito em coisa estabelecida por meio de contrato comutativo ou doação com encargo ou remuneratória. Não admite-se vício redibitório em outras espécies contratuais. 
B) Defeito oculto: 
O defeito precisa ser oculto para ser considerado redibitório. Se puder ser percebido de forma plena, fácil, não é oculto, não está escondido. 
C) Defeito grave: 
Eu não posso por qualquer situação pedir a devolução do bem com ressarcimento do valor ou o abatimento se o dano for menor. Aqui preserva-se a força do contrato. 
Uma parte da doutrina defende que a devolução só deveria ser possível caso o sujeito realmente não pudesse permanecer com a coisa. O professor se filia a doutrina tradicional e discorda dessa ideia. 
D) Desconhecimento do adquirente: 
Se o adquirente sabe do defeito o vício não é oculto, não é redibitório. 
E) Preexistência do defeito: 
O defeito precisa existir anteriormente a transferencia para o atual proprietário. Aqui está o problema. Como provar se o problema já existia ou adveio do mau uso do proprietário? O adquirente precisa provar, quase sempre através de provas periciais, a preexistência do defeito na coisa adquirida. 
9.1.2. As ações edilícias: 
Redibitória: 
Ideia de resolução, o prejudicado pedirá a devolução do bem e a sua restituição corrigida monetariamente cumpridos todos os requisitos do 441. 
B) Estimatória (quantis minoris): 
O prejudicado deseja permanecer com o bem. Extima-se o valor de seu prejuízo para que seja abatido do valor que o sujeito pagou. 
9.1.3. Prazos decadenciais: 
Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
§ 1º Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
§ 2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.
O § 1º possibilita situações distintas: 
Se o adquirente não estava na posse bem: 
Se a natureza do bem for móvel o prazo para propor ação é de 30 dias com contagem a partir da entrega efetiva. 
Se a natureza do bem for imóvel o prazo para propor ação é de 1 ano com contagem a partir da entrega efetiva também. 
2. Se o adquirente já não estava na posse do bem: 
Se a natureza do bem for móvel o prazo para propor ação é de 15 dias com contagem a partir da alienação. 
Se a natureza do bem for imóvel o prazo para propor ação é de 6 meses com contagem a partir da alienação também. 
É o caso do sujeito que já alugava um apartamento, já estava em contato com o bem, e resolve comprá-lo. A lei reduz para metade do prazo porque é menos grave que o caso do indivíduo que nunca tinha estado com a coisa anteriormente. 
O problema aqui está nos prazos muito reduzidos, como o sujeito que aluga um carro por 15 dias e resolve comprá-lo. Parte da doutrina diverge dessa redução nesses prazos muito curtos, mas a crítica não é aceita. 
O prazo decadencial, em regra, não é prorrogável é prazo de direito material, do direito civil. Se o prazo acabar em um feriado tem que propor ação um dia antes. 
3. Defeitos que só podem ser contestados futuramente: 
Se a natureza do bem for móvel o prazo para surgimento do vício é de 180 dias e o prazo para ação é de 30 dias a partir do surgimento do vício. 
Se a natureza do bem imóvel o prazo para surgimento do vício é de 1 ano e o prazo para ação é de 1 ano com contagem a partir da data do surgimento do vício. 
Obs. O direito não é 180 + 30 no primeiro caso ou 2 anos no segundo caso. A contagem do prazo para interpor ação é SEMPRE a partir da ciência do vício. Essa é uma cautela para a eventual possibilidade de surgimento de vários defeitos na coisa. 
É o caso da máquina de lavar em que só pode ser percebido defeito após a instalação. Estipula-se dois prazos: um para surgir o vício e outro para interpor a ação, o que exige uma atenção maior. Claro que no mundo prático o prazo do surgimento do vício vai ser uma questão de prova. 
Caso o vendedor da máquina de lavar comprove que o adquirente já tinha ciência do vício em determinada data mas só interpõe ação na data limite, o sujeito perde a ação. 
E ainda o § 2º trás uma quarta possibilidade: 
4. Semoventes: 
Estabelece o prazo de 180 dias a contar da descoberta do vício. 
9.1.4. Prazo de garantia contratual:
Está previsto no art. 446 e estabelece que se eventualmente as partes quiserem estabelecer uma garantia adicional, um prazo extra, os prazos previstos no CC não vigorarão. Esses prazos só começam a correr ao cessar a garantia do prazo contratual. 
9.1.5. Alienação em hasta pública e em leilões extrajudiciais: 
A hasta pública é o leilão judicial. É quando a justiça penhora bens do sujeito que tem dívidas, é uma expropriação. E o sujeito que adquire o bem nesse leilão e o bem vem defeituoso? A doutrina diverge. Apenas uma decisão do TRT que não se aplica em uma perspectiva civilística de análise do risco. 
Parte da doutrina entende que o vício redibitório não se aplica aqui, porque a pessoa se arrisca ao comprar um bem em leilão e não existe espaço para negociação. Outra parte entende que se o Código não interfere e o vício redibitório se aplica. 
E o leilão extrajudicial? Aqui não há dúvida alguma. Nessas situações, em que o sujeito está obtendo ganhos com aquilo ali, se aplicam os vícios redibitórios normalmente, independente de dolo ou culpa do alienante. 
9.2. Evicção:
Está no art. 447 e pode ser considerada como a perda total ou parcial da propriedade de um bem em virtude de decisão judicial ou administrativa que reconhece a anterioridade do direito de um terceiro sobre o bem transferido. 
Alguém adquire o bem, só que o alienante não poderia realizar tal transferência, conforme as normas legais da propriedade. consequentemente, o adquirente perde parte daquele bem ou todo aquele bem. O evicto é aquele que sofre a evicção, é o adquirente que sofre a perda. Já evictor é o real proprietário. 
Boa parte da doutrina considera a decisão judicial, mas também pode ser administrativa. É o caso do bem que se descobre que é advindo um furto, um roubo. 
A jurisprudência mais nova tem abrandado muito essas situações. É tão clara a situação que o sujeito muitas vezes busca somente o ressarcimento e não vai adiante na ação judicial, posto a demora do desenrolar desses processos. 
O fundamento é o mesmo: o princípio da garantia. O vicio redibitório exige que se entregue a coisa em bom estado, a evicção exige que se entregue o direito em bom estado. 
A incidência aqui é mais ampla. Nos contratos onerosos o alienante responde pela evicção. A compra e venda, contratos de permuta/parceria/transação mas também nos contratos aleatórios, já que aqui não existe a restrição de ser em contrato comutativo. Eventualmente, incide na doação modal. O alienante responde da mesma forma: independente de boa-fé. 
9.2.2. Exclusão e reforço da garantia:
As partes possuem autonomia para excluir ou reforçar a garantia da evicção. Na situação da garantia, estipula-se medidas a serem tomadas no caso da evicção vir a acontecer. Já na exclusão, retira-se a garantia da evicção em situações de instabilidade da chegada do produto, negocia-se um preço de menor valor posto o risco em questão. 
Ou seja, a garantia da evicção pode ser flexibilizada a partir de uma análise econômica do que for mais vantajoso às partes. 
Obs. Essa exclusão de responsabilidade só é possível de ser feita no contrato cível ou empresarial, de natureza paritária. Nunca no direito do consumidor. 
Obs.2. A exclusão só existe quando expressamente o adquirente concorda. Não bastaque tenha apenas ciência, precisa assumir o risco da perda do bem. Aqui conjulga-se a interpretação com a ideia da parte geral de que a renúncia de direito se estabelece expressamente. 
Obs.3. A cláusula não pode ser genérica. Tem que ser específica. 
Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto além da restituição integral do valor pago, o ressarcimento de perdas e danos, que estão previstos no art. 450. 
A regra geral é que quem vendeu o imóvel, que não era de fato seu, arque com o valor somado de perdas e danos. Contudo, é possível que haja modificação na cláusula da garantia desde que seja estipulada expressamente, mas nada podendo ser feito em relação a perdas e danos, que deixam de ser recebidos. 
9.2.2. Requisitos da evicção:
Perda total ou parcial da propriedade:
Ou se perde toda ou parte da propriedade. A perda parcial possibilita que se desfaça o contrato ou se solicite um abatimento, de forma similar aos vícios redibitórios. 
A perda parcial da propriedade ocorre quando o sujeito perde uma parcela da propriedade, que fisicamente não é relevante, mas é relevante perante ao todo que foi comprado, como é o caso do açude que é retirado do todo de uma fazenda recém-adquirida, ou seja, que é economicamente impactante para pedir a rescisão do contrato. 
Aquisição onerosa:
Precisa haver dispêndio econômico. Se for doação, com exceção das espécies de doação já referidas acima, a aquisição não é onerosa e portanto, não é possível de evicção. 
Desconhecimento do adquirente acerca da litigiosidade do bem: 
O adquirente precisa desconhecer que haja qualquer discussão sobre a litigiosidade do bem. Se eu conheço a causa eu não posso alegar evicção.
D) Anterioridade do direito:
O direito de terceiro precisa ser anterior a transferência. Se eu compro um imóvel que é desapropriado pelo Estado a situação é posterior, não se aplica. Mas se o decreto de expropriação é publicado antes da venda e o alienante silencia em relação ao fato, tem-se um caso de dolo omissivo anterior ao fato. Ou o imóvel que é vendido mesmo estando sendo utilizado como usucapião. 
As consequências da evicção estão no art. 450 e são todas as perdas e danos. 
A evicção em hasta pública também é uma possibilidade, quando se compra um imóvel em leilão, podendo ser pedido a devolução do valor. 
No caso da empresa A que deve ao funcionário B, e para tal penhora um carro. C adquire esse carro em hasta pública e posteriormente descobre que o veículo pertence a B. Nesse caso, parte da doutrina entende que C deve receber ressarcimento da empresa, que se utilizou de bem de terceiro. Posteriormente, cobra-se de quem vendeu o carro, quem organizou o leilão e assim acaba-se a responsabilidade aqui. Cristiano Chaves, de doutrina minoritária, defende que ainda seria possível a cobrança do Estado, porque cria-se através da perspectiva do Estado-juiz que aquele bem era legal e não fruto de evicção. Vicente discorda de Cristiano. 
Quanto as possíveis benfeitorias realizadas no bem que é objeto de evicção, o benfeitor tem que ressarcido por pelas benfeitorias necessárias ou úteis por parte do alienante. O real dono do imóvel só o readquire posteriormente ao pagamento das benfeitorias, conforme o direito de retenção. Se eu sair do imóvel desprovida de indenizações, ganho eu a possibilidade de pedir o ressarcimento de quem me vendeu. Essa é a ideia expressa no art. 453. 
Por fim, o art. 454 expressa que as indenizações provenientes das benfeitorias devem ser consideradas no momento da restituição devida, não sendo possível a duplicidade de pagamento. 
10. Efeitos dos contratos em relação a terceiros:
Um dos princípios da teoria dos contratos é que só ele gerará efeitos a quem a ele está vinculado. Mesmo o fiador é um sujeito que está vinculado, quase sempre um devedor solidário. 
A) Estipulação em favor de terceiro (art. 436- 438): situações em que eu tenho um contrato onde eu o estabeleço com uma pessoa. 
A doutrina considera é o contrato em favor de terceiro ocorre quando o estipulante, sujeito que tem interesse em estabelecer uma obrigação ao terceiro, e o outro contratante que aceita a estipulação. 
É a situação do seguro de vida. O beneficiário, em regra, é o terceiro. Contudo, é possível que o sujeito faça um seguro para si mesmo no caso de viver X anos. Mas o que normalmente ocorre é que o contratante pague um valor por determinado tempo, e com sua morte, a seguradora pague a um beneficiário ou até mais de um. 
O beneficiário não é obrigado a concordar com o contrato de seguro de vida, logo, só é necessário analisar a capacidade dos contratantes: aquele que estipula e aquele que promete efetuar a liberalidade. O beneficiário, muitas vezes, pode ser um filho menor de idade. 
Não é possível que essa estipulação seja destinada a concubina de um sujeito, o caso da amante. O concubinato não é protegido legalmente pelo direito brasileiro, é a situação do indivíduo que é casado, mas nutre relação paralela com outra pessoa. Aqui não se encaixa a pessoa que não vive mais um casamento na prática, apesar de no papel, mas já nutre relação com outra pessoa. 
Não é possível estabelecer uma contraprestação para que haja uma ideia de aceitação desse benefício, pois seria um caso de contrato bilateral. 
Como é um ato de liberalidade o estipulante pode ainda modificar o beneficiário. Coloca-se a esposa como beneficiária, mas ainda é vida o casal se separa, e o marido informa que quer excluir a cônjuge do rol dos beneficiários daquele benefício. 
Estando ele possível de fazer essa modificação, só haverá impossibilidade de modificar se ele permitir que o beneficiário possa efetuar a cobrança desse valor. Cria-se uma expectativa, consolida a figura do sujeito como beneficiário final. O sujeito estabelece a irretratabilidade da situação, cria-se um direito subjetivo. Aqui a estipulação não tem volta. 
Por fim, a modificação pode ser feita por contrato, maneira mais comum, ou por meio de testamento. 
B) Promessa de fato de terceiro (art. 439-440): situação atípica quando uma pessoa promete que um terceiro praticará um ato que foi prometido por essa pessoa. Se eu prometo que Vicente vai fazer um show, o indivíduo não se vincula com ninguém, eu que me vinculo. É diferente do caso do agente do artista que assume a obrigação de levar o cantor para fazer um show, respondendo em seu nome caso o sujeito não compareça. 
Não é possível prometer que terceiro praticará ato se esse terceiro for seu cônjuge. Se Vicente promete que Leticia vai dar uma entrevista, e ela não vai, quem assume a responsabilidade é Vicente. Se o regime de bens do casal for de fusão patrimonial, ainda que haja a promessa e não seja cumprido o contrato, não existirá responsabilidade. É um mal menor. 
Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação. A situação não se confunde a figura do representante, nem da gestão de negócios. É o caso do sujeito que promete um show alegando ser amigo do cantor fulano. 
O informativo do 444 do STJ, envolvendo transmissão de jogos de futebol, um canal de TV prometeu a divulgação de certos jogos sem a autorização da Confederação. Não obtém essa autorização pelos clubes e por ele recai a responsabilidade. 
C) Contrato com pessoa a declarar (art. 467-471): Vicente firma um contrato com Gabriel, no lugar de um comprador que é famoso e não quer se expor. Vicente alega: Gabriel, no momento da assinatura do contrato não serei eu que assinarei. 
Essa indicação deve ser comunicada a outra parte no prazo de 5 dias da conclusão do contrato, no caso de não se estabelecer prazo decadencial (só existe prazo prescricional no Código Civil nas hipóteses do art. 205 e 206, todos os outros são decadenciais). 
Se o famoso não assume a obrigação, a responsabilidade recai sobre Vicente, porque Gabriel não tem nada a ver e não deve ser responsabilizado. 
O contrato só será eficaz entre os contratantes originais se não houver indicação de terceiro, se houver indicação de terceiro eele se recusar a aceitar a obrigação ou no caso de indicação de terceiro incapaz ou insolvente. 
Não se deve confundir com a cessão de contratos. Aqui o contrato nasce com uma ideia de transitoriedade subjetiva, sabendo que haverá uma substituição. Já na cessão de contrato essa substituição pode ou não acontecer, é uma hipótese que ocorre por uma situação superveniente, é uma patologia. Compro um imóvel financiado, me aperto financeiramente, e transfiro meu crédito e débito, aqui não existe um planejamento inicial, só ocorre por efeito dos fatos. No contrato com pessoa a declarar eu sou o start. 
D) Previsões do art. 17 e 29 do CDC: aqui também existe uma quebra da situação tradicional, porque eu posso responsabilizar alguém que não participa da relação contratual, que não contratou diretamente. 
Se eu compro um produto no Amazon, e ele vem com defeito, estou apto a reclamar com o fabricante, apesar de não ter comprado com ele e sim no site da grande empresa. 
O consumidor por equiparação é aquele que não sendo consumidor, não efetuou o contrato, mas foi atingido pela relação de consumo. Não há nenhuma relação contratual entre o sujeito que é atingido por um refrigerante que explode na mão de outra pessoa ao seu lado, mas a nova teoria do direito do consumidor o protege, mesmo assim. Na teoria tradicional seria necessário provar culpa ou dolo do fabricante. 
11. Interpretação dos contratos: 
A partir do art. 110, tem-se algumas fórmulas de interpretação contratual. A interpretação atua, sobretudo, nas situações de crise, quando se entende que o cumprimento da obrigação foi inadimplida. Esse descumprimento nem sempre ocorre por má-fé, algumas vezes é somente uma questão de má interpretação. 
Como descobrir o que as partes queriam se elas não são claras? 
Nos atos jurídicos negociais, os atos jurídicos em sentido estrito, eu tenho uma demonstração de vontade que decorre da lei. Eu não posso modular os efeitos, é o caso do reconhecimento da paternidade, a adoção, a emancipação, etc. 
Nos negócios jurídicos muda-se a perspectiva, porque aqui existe manifestação de vontade. Em uma situação de dificuldade de se interpretar o que é prioritário? A minha vontade, o que eu quero ou o que eu estabeleci?
A Teoria Voluntarista ou Da Vontade - Willenstheorie que defende que o que importa é a vontade. Mas como eu vou entrar no íntimo da pessoa para saber sua vontade se a sua declaração era contrária? 
Já a Teoria Objetivista ou Da Declaração - Erklärungstheorie que afirma que o que realmente importa é a declaração, mas não deixa de considerar a vontade, posto o caso do sujeito coagido. 
O direito brasileiro adota a Teoria da Vontade, conforme exprime o art. 112. Antônio Junqueira defende que não existe declaração e vontade. O que realmente existe é a declaração de vontade, o processo mental para chegar aquela demonstração. 
Se eu sei que aquela declaração não corresponde a real vontade ela não é válida, conforme o art. 110. 
O silêncio importa anuência quando é oportuno, favorável a quem silencia, conforme o art. 111. Se o silencio implica na imposição de um encargo, prestação de uma obrigação, o silêncio significa a não-aceitação. 
A declaração de vontade representa muito, mas não representa tudo. Não basta tão somente o que foi escrito. Poderão as partes assumir condutas que modifiquem as condutas inicialmente pactuadas, e mesmo estando previstas, são esquecidas, substituídas. Não necessariamente o que está escrito sobrepõe o que ocorre na prática, é o que diz o art. 112. 
O art. 113 estabelece em seu caput. que os negócios jurídicos precisam ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar da sua celebração. Posteriormente, estabelece alguns sentidos majoritários para a interpretação dos negócios jurídicos: 
§ 1º  A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: 
I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; 
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo do negócio; III - corresponder à boa-fé; 
III - corresponder à boa-fé;
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e 
V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração. 
Essas regras servem tanto para interpretação quanto para integração dos contratos, o preenchimento de lacunas. 
Por fim, o § 2º expressa que as partes são livres para estabelecer regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração de negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. Dentro da ideia de liberdade contratual, é possível criar contratos atípicos e regras atípicas de interpretação. 
O art. 114 expressa que os negócios jurídicos benéficos e a renúncia se interpreta de forma restrita, é apenas aquilo que está vinculado aquela ideia. Se eu prometo a doação de um CPU, não tenho obrigação de doar um mouse. 
Art. 421-A.  Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que: 
I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução; 
II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e 
III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. 
No contrato de adesão, cláusulas ambíguas ou contraditórias deverá se adotar a interpretação mais benéfica ao aderente, posto o art. 423, último a se considerar nesse tema. 
Nos acórdãos enviados pelo professor tem-se duas questões em que a interpretação do contrato é utilizada como instrumento de resolução do caso: 
No acórdão do STJ sobre a utilização da Tabela Price chega-se ao entendimento que em contratos cuja capitalização de juros seja vedada, é necessária a interpretação de cláusulas contratuais e a produção de prova técnica para aferir a existência da cobrança de juros não lineares, incompatíveis, portanto com financiamentos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação. 
Glossário: 
TABELA PRICE = sistema de amortização de dívida mensal não constante. 
PROVA TÉCNICA = é a que se faz mediante exames por peritos ou técnicos, pois o juiz não é obrigado a deter todo tipo de conhecimento necessário para dar decisão em um processo. 
JUROS NÃO LINEARES = juros que não são simples. 
Já no acórdão da Nativa Engenharia S/A contra o Banco do Brasil entendeu-se que o Poder Judiciário não teria o dever de responder a mera consulta, alusiva à interpretação de cláusula de contrato de abertura de crédito. A interpretação contratual, a cujo respeito dissentem concretamente os contratantes, dirá se a parte autora está ou não sujeita aos efeitos jurídicos pretendidos pelo outro contratante. 
12. Disponibilidade dos contratos:
12.1. Modificações contratuais consensuais:
São os aditivos contratuais. Quase sempre, os contratos que regulam as relações de consumo são contratos de adesão, logo, as modificações contratuais consensuais são bem mais comuns nos contratos de relação privada, os cíveis e empresariais, sendo nos empresariais ainda mais recorrentes. Nos contratos de consumo não existe muita margem. Nos cíveis e empresariais, notadamente os empresariais, teremos as possibilidades de proposta/contra-proposta, carta de intenções, memorandos, etc. Situações que possibilitam um desdobramento contratual mais longo. 
Todavia, nos contratos de execução deferida (momento da conclusão do contrato até o seu cumprimento) e de trato sucessivo (atos repetidos durante um certo tempo) as condutas podem variar em função de uma gama de situações. É o caso dos efeitos do COVID-19, que impossibilitou muitas obrigações de serem realizadas. Sendo assim,