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RESENHA: A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO WEBER, M. A Ética Protestante e O Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia Das Letras, 2007 A obra de Max Weber tece relações diretas entre a reforma protestante e a formação e consolidação do capitalismo moderno, todavia, a abordagem realizada não se trata de uma análise do capitalismo como sistema econômico, mas sim como uma conduta de vida. É nesse contexto que surge a indagação de Weber a respeito da predisposição acentuada de que regiões com maior desenvolvimento econômico sejam palco de uma revolução religiosa. Concomitantemente, a obra nos apresenta a predominância do pensamento protestante em proprietários do capital e empresários. Ao longo do texto Weber expõe alguns motivos para isto, dentre eles: aderência do protestantismo líderes (imperadores) em regiões com desenvolvimento econômico superior; o domínio exercido sobre os indivíduos pela Igreja Católica limitava as chances de progressão econômica; dentre os estudantes de ensino superior católicos, há somente uma pequena parcela que se formaram em instituições especializadas em ocupações técnicas, comerciais e industriais, quando comparada com a dos protestantes, ou seja, nota-se um grau de interesse mínimo de católicos pelas aquisições capitalistas. Ademais, os católicos são mais predispostos a exercer a arte do artesanato, enquanto os protestantes afluem em medida maior para as fábricas para ocupar os escalões superiores do operariado qualificado e dos postos administrativos. A partir desse cenário começamos a vislumbrar que a direção conferida à educação pela atmosfera religiosa determinou a escolha da profissão e o consequentemente o destino profissional. É importante ressaltar também que os protestantes recebem na educação domiciliar a sua predestinação a uma área específica, sendo comum continuarem na gerência de um negócio familiar. Por outro lado, o catolicismo prega uma indiferença maior pelos bens mundanos, consequentemente, os católicos têm menor impulso aquisitivo. Ou seja, em linhas gerais prega-se a o oposição existente entre o desapego do catolicismo e a suposta alegria materialista do protestantismo. Ademais, Weber aprofunda o termo “espírito do capitalismo” com um texto de Benjamin Franklin, apresentando princípios: tempo é dinheiro, dinheiro pode gerar dinheiro e seu produto gerar mais dinheiro, logo, Weber constata que no contexto do espírito do capitalismo os valores são reduzidos a meios de obtenção de capital, fazendo alusão a honestidade que, segundo ele, é apenas caminho para credibilidade financeira, ou seja, a honestidade não seria um valor humano propriamente dito, mas sim um valor instrumental, isto é, útil para a obtenção de lucro. Todo esse cenário trata da visão da ordem econômica moderna em que o acúmulo de riquezas é resultado e expressão da virtude, da eficácia e da habilidade na profissão. Inclusive, o autor afirma que na modernidade as pessoas praticamente nascem dentro das empresas, crescendo e se desenvolvendo nelas em sua vida, contudo, também enuncia que o trabalho não deve ser visto como meio capitalístico para se obter mais dinheiro, mas sim deve ser feito como vocação. A ideia da profissão como dever, pouco importa se isso aparece à percepção espontânea como pura valorização de uma força de trabalho ou então de propriedades e bens, é característica da “ética social” da cultura capitalista, afinal, o indivíduo já nasce dentro da ordem econômica capitalista e ele não pode alterar dentro da qual tem que viver. Sendo assim, há uma imposição ao indivíduo, preso nas redes do mercado, as normas de ação econômica. No período pré-capitalista, a valorização racional do capital e a organização racional do trabalho ainda não haviam se tornado as potências dominantes na orientação da ação econômica. Por isso, um dos adversários com qual teve de lutar o “espírito” do capitalismo foi o chamado tradicionalismo, no qual, o ser humano não quer ganhar mais dinheiro, mas simplesmente ganhar o necessário para viver. Por conseguinte, assim como o Iluminismo, o Capitalismo rompe com a visão tradicionalista, na medida que esse tradicionalismo apresenta algumas dificuldades no contexto em que se encontra, principalmente, nos casos em que se exige um trabalho qualificado, ou seja, o tradicional não possui a mínima chance de sobrevivência se não romper com o seu tradicionalismo a se tornar capitalista. Nessa situação, busca-se o trabalho como vocação, através de um processo educativo. Ao finalizar o raciocínio que construiu, Weber enuncia que a relação atual entre a religião e o “espírito” do capitalismo distinguiu-se da original. As pessoas imbuídas do espírito do capitalismo tendem hoje a serem indiferentes à igreja. Ou seja, o “espírito” do capitalismo não necessita de suporte de qualquer força religiosa, afinal, o homem moderno existe em razão de seu negócio. Além disso, é necessário compreender que o espírito do capitalismo não é consequência direta da reforma, mas indireta a partir das influências que sofreu ao longo do tempo. Portanto, desejou-se constatar em que medida as influências das religiões e das reformas religiosas deram molde a esse espírito e, partindo para uma perspectiva mais moderna, analisar em que medida os fenômenos culturais atuais são relacionados às concepções religiosas apresentadas. Por fim, podemos extrair a importância de realizar essa análise da obra. É evidente que o capitalismo foi criado com a necessidade de suprir os desejos humanos, todavia, a ganância, a ambição e a busca ilimitada por dinheiro não são suficientes para descrever a complexidade de um sistema que ultrapassa a esfera econômica e social, o capitalismo consolidou-se como um espírito racional movido pela busca contínua e permanente pelo trabalho e pelo lucro. Portanto, sendo o capitalismo fruto desse tão primitivo instinto humano, é notória a sua presença em todo o contexto humano, já que a subsistência das sociedades sempre visou a vantagem nas trocas e nos comércios.