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0 “Evolução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias” por Pollyana Rocha de Araújo Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre Modalidade Profissional em Epidemiologia em Saúde Pública. Co - orientador: Prof. Dr.Arthur Orlando Correa Schilithz Orientador principal: Prof.ª Dr. Silvana Granado Nogueira da Gama Teresina, outubro de 2015. 0 Esta dissertação, intitulada “Evolução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias” apresentada por Pollyana Rocha de Araújo foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: Prof.ª Dr.ª Sonia Duarte Azevedo Bittencourt Prof. Dr. Paulo Roberto Borges de Souza Júnior Prof. Dr.Arthur Orlando Correa Schilithz – Co-orientador Prof.ª Dr.ª Silvana Granado Nogueira da Gama – Orientador principal Dissertação defendida e aprovada em 06 de outubro de 2015. 0 Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca de Saúde Pública P777e Araújo, Pollyana Rocha de Evolução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias. / Pollyana Rocha de Araújo. -- 2015. 61 f. : tab. ; graf. Orientador: Silvana Granado Nogueira da Gama Arthur Orlando Correa Schilithz Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2015. 1. Doenças Transmissíveis - mortalidade. 2. Doenças Parasitárias - mortalidade. 3. Registros de Mortalidade. 4. Anos Potenciais de Vida Perdidos. 5. Vigilância Epidemiológica. I. Título. CDD – 22.ed. – 616.96 1 Dedico esta dissertação... Aos meus pais, Manoel Vicente Brito de Araújo (in memorian) e Maria de Fátima Rocha de Araújo Pelos valores repassados, pelo incentivo, pelas renuncias que fizeram por mim e meus irmãos. 0 Agradecimentos À Deus, energia que sempre ilumina minha vida com grandes desafios e oportunidades Aos meus orientadores, pelo aprendizado e ajuda durante toda a construção deste trabalho. O Arthur pela competência e generosidade com que repassou um pouco dos seus conhecimentos em estatística, e a professora Silvana Granado, pela compreensão, dedicação e paciência que teve comigo ao longo desse período. Aos meus colegas de turma, pelos momentos inesquecíveis juntos Às amigas que conquistei nessa jornada, que me apoiaram e me incentivaram em momentos difíceis, Mohema e Margarete A todos os professores do mestrado, que se deslocaram de tão longe para repassar um pouco de conhecimento. A FIOCRUZ, pela oportunidade oferecida À minha família, que sempre acreditou, incentivou e esperou o melhor de mim. 0 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09 2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 11 3 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 22 4 OBJETIVOS ............................................................................................................... 23 4.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 23 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 23 5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO .................................................................................... 23 6 METODOLOGIA ....................................................................................................... 23 6.1 ANOS POTENCIAIS DE VIDA PERDIDOS .......................................................... 24 7 RESULTADOS ........................................................................................................... 25 8 DISCUSSÃO ............................................................................................................... 30 9 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 46 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 48 APÊNDICE .................................................................................................................... 60 1 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Percentual de óbitos por causas mal definida ................................................ 21 Figura 2 – Anos potenciais de vida perdidos ................................................................... 26 Figura 3 – Número de óbitos por diarreia e gastroenterites ............................................ 29 0 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Número absoluto de óbitos e taxa de mortalidade ......................................... 26 Tabela 2 – Características dos óbitos por doenças infecciosas e parasitárias ................. 27 Tabela 3 – Anos potenciais de vida e taxa de mortalidade das doenças infecciosas e parasitárias mais prevalentes .......................................................................................... 28 Tabela 4 - Anos potenciais de vida e taxa de mortalidade das doenças negligenciadas e parasitárias mais prevalentes ........................................................................................... 29 Tabela 5 - Óbitos por doenças infecciosas e parasitárias considerando a causa básica e a causa mencionada no Piau ........................................................................................................... 30 0 RESUMO A taxa de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias - DIP tem sofrido um acentuado declínio nos últimos anos, entretanto, verifica-se no Brasil que essas enfermidades ainda ocupam papel relevante entre as causas de morte, levando a um grande número de óbitos prematuros, o que justifica a utilização do indicador anos potenciais de vida perdidos. Esse indicador quantifica o número de anos de vida desperdiçados quando a morte ocorre prematuramente, ou seja, antes da idade média prevista (expectativa de vida ao nascer) para o local estudado. OBJETIVO: analisar a evolução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias no estado do Piauí e os anos potenciais de vida perdidos no período de 2001 a 2012. Os objetivos específicos foram: descrever a evolução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias no estado do Piauí por idade e por sexo; caracterizar a mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias considerando as causas mais incidentes e as doenças negligenciadas; analisar os anos potenciais de vida perdidos por doenças infecciosas e parasitárias. METODOLOGIA: foi realizado um estudo ecológico a partir dos dados do DATASUS, provenientes do sistema de informação de mortalidade - SIM. Os dados coletados foram referentes ao período de janeiro de 2001 a dezembro de 2012. Foram incluídos todos os óbitos por doença infecciosa e parasitária do capítulo I da 10ª revisão da classificação internacional de doenças. Foram descritas as DIP com maior taxa de mortalidade no período de estudo e as doenças negligenciadas mais relevantes no tocante à mortalidade no Piauí. Finalmente, foram calculados os anos potenciais de vida perdidos por essas morbidades, considerando 70 anos a expectativa de vida ao nascer. RESULTADOS: foramregistrados 5.779 óbitos por doenças infecciosas e parasitárias, que geraram 105.483 anos potencias de vida perdido. As doenças infecciosas e parasitárias com maiores taxas de mortalidade foram: diarreia e gastroenterite, AIDS, doença de chagas, tuberculose e leishmaniose. Com relação às doenças negligenciadas se destacaram a doenças de chagas, a leishmaniose, a hanseníase, a dengue e a cisticercose. Quanto aos anos potenciais de vida perdidos se destacaram a AIDS, a dengue e a leishmaniose. CONCLUSÃO: verificou-se aumento discreto da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias ao longo do período estudado, no entanto os anos potenciais de vida perdidos diminuíram, apontando aumento na idade média dos óbitos. O resultado encontrado leva à reflexão sobre a necessidade de controle dessas doenças, fortalecimento da vigilância epidemiológica e avanço no diagnóstico precoce e tratamento oportuno dessas morbidades. Nesse sentido, utilizar dados sobre mortalidade aliado aos anos potenciais de vida perdidos para definir prioridades no âmbito da saúde pública pode alcançar maior impacto nos resultados em saúde. PALAVRAS CHAVES: Doenças infecciosas e parasitárias. Mortalidade. Anos Potencias de Vida Perdidos. 0 ABSTRACT The mortality rate from infectious and parasitic diseases - DIP has suffered a sharp decline in recent years, however, there is in Brazil that these diseases still occupy an important role among the causes of death, leading to a large number of premature deaths, which justifies the use of the indicator potential years of life lost. This indicator quantifies the number of years of wasted life when death occurs prematurely, in other words ,before the average expected age (life expectancy at birth) to the location studied. OBJECTIVE: To analyze the evolution of mortality from infectious and parasitic diseases in the state of Piauí and the potential years of life lost from 2001 to 2012. The specific objectives were to describe the evolution of mortality from infectious and parasitic diseases in the state of Piauí by age and sex; characterize the mortality from infectious and parasitic diseases considering the most incident causes and neglected diseases; analyze the potential years of life lost due to infectious and parasitic diseases. METHODS: We performed an ecological study based on data from the DATASUS, from the mortality information system - SIM. The data collected were for the period from January 2001 to December 2012. We included all deaths from infectious disease and parasitic of Chapter I of the 10th revision of the International Classification of Diseases. DIP been described with higher mortality rate during the study period and major neglected diseases in relation to mortality in Piauí. Finally, the potential years of life lost were calculated for these morbidities, considering 70 years life expectancy at birth. RESULTS: There were 5,779 recorded deaths from infectious and parasitic diseases, which generated 105,483 years of potential life lost. Infectious and parasitic diseases with higher mortality rates were: diarrhea and gastroenteritis, AIDS, Chagas disease, tuberculosis and leishmaniasis. With respect to neglected diseases stood out Chagas disease, leishmaniasis, leprosy, dengue and cysticercosis. As for the lost years of potential life stood AIDS, dengue and leishmaniasis. CONCLUSION: There was a slight increase in mortality from infectious and parasitic diseases during the study period, however the lost years of potential life decreased, indicating increase in the average age of death. The results found leads to reflection on the need to control these diseases, strengthen epidemiological surveillance and advances in early diagnosis and timely treatment of these morbidities. In this sense, using mortality data combined with the potential life lost years to set priorities in public health can achieve greater impact on health outcomes. KEY WORDS: Infectious and parasitic diseases. Mortality. Potential Years of Life Lost. 9 1 INTRODUÇÃO A taxa de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias (DIP) tem sofrido um acentuado declínio nos últimos anos, entretanto, verifica-se no Brasil que essas enfermidades ainda ocupam papel relevante entre as causas de morte. Há uma relação direta entre sua ocorrência e o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, com um maior número de pessoas afetadas nas áreas de maior pobreza no país, havendo maior frequência dessas doenças nas regiões Norte e Nordeste (LINDOSO; LINDOSO, 2009). A ocorrência dessas doenças revela os níveis de saúde e de vida da população e podem ser utilizados como indicadores de saúde para o planejamento de políticas públicas. O padrão de mortalidade de uma dada região, definido pela mortalidade específica por determinadas causas, pode refletir o grau de qualidade de vida existente e o acesso à assistência à saúde, podendo fornecer subsídios para uma política de saúde mais eficiente e eficaz à medida que permite estabelecer normas e metas prioritárias (PAES; GOUVEIA, 2010). As informações sobre as taxas de mortalidade, o local onde ocorrem e quem é mais afetado proporciona uma contribuição crucial para debates sobre políticas, planejamento, intervenções, e para a priorização de novas pesquisas em tecnologias de saúde, sendo sem dúvida uma medida fundamental para análise de saúde de uma população (LOZANO et al, 2012). No entanto, a utilização pura e simples da taxa de mortalidade como uma medida para informar prioridades de saúde tem algumas limitações, uma vez que a taxa de mortalidade dá um peso igual a uma morte na idade de 90 anos, 25 anos ano ou 5 anos de idade. Considerando o fato que as doenças crônicas matam um maior número de pessoas, mas geralmente em idades mais avançadas, sua relevância pode estar superestimada. Por outro lado, muitas DIP costumam afetar parcela considerável de pessoas ainda na infância e na juventude (LOZANO et al, 2012). A utilização dos Anos Potenciais de Vida perdidos para avaliação das condições de saúde de uma população e prioridades de saúde torna-se assim uma medida mais fidedigna. Este indicador é capaz de medir a mortalidade prematura conseguindo associar a quantidade de óbitos e o valor social dessa morte, expresso pela idade (PEIXOTO, 1995). 10 Apesar da redução crucial da mortalidade por doenças infecciosas, algumas dessas doenças continuam impactando sobremaneira o cenário mundial. Em 2010, ocorreram 7,6 milhões de mortes em crianças de 0 a 5 anos no mundo, sendo 64% devido a causas infecciosas, a maioria por pneumonia, diarreia e malária, especialmente em regiões da áfrica e sudeste da Ásia (LIU, 2012). Nesse mesmo ano, em adultos jovens de 15 a 49 anos, a mortalidade global por tuberculose foi responsável por 4,6% das mortes em mulheres e 5,1% das mortes em homens em todo mundo. Também a AIDS tem papel relevante nesse cenário, sendo responsável por 14,4% das mortes em mulheres e 10,7% em homens nessa mesma faixa etária (LOZANO et al, 2012). Além do número de mortes e dos anos potenciais de vida perdidos relacionados às doenças infecciosas e parasitárias, as alterações nos padrões dessas doenças tem aumentado ainda mais sua relevância. Estudos têm demonstrado aumento dos distúrbios metabólicos em pacientes com HIV/AIDS, hanseníase, tuberculose, leishmaniose e hepatites virais, o que torna a análise dessas doenças ainda mais importantes (PONTE, 2010). A interação entre esses dois processos está associada a maiores complicações. A infecção pelo HIV/AIDS está associada a distúrbios metabólicos, ao maior risco para doenças cardiovasculares, e também ao aumento de colesterol total e triglicerídeo em pacientes submetidos à terapia antirretroviral (DOMINGOS, 2009). Estudos evidenciaram risco quatro vezes maior para o surgimentodo diabetes mellitus tipo 2 - DM2 em homens portadores do HIV quando comparados a pacientes soronegativos (BROWN, 2005). Existe aumento de risco de DM2 e de resistência à insulina em pacientes infectados pelo vírus da hepatite C (ROUAIBHIA, 2010) e uma maior prevalência de DM2 em pacientes com hanseníase (PONTE, 2010). A relação entre a tuberculose e o diabetes é bidirecional, existindo evidências que demonstram que há aumento de risco para desenvolvimento de diabetes em indivíduos com tuberculose e vice-versa (PICKUT, 2004). Além dos distúrbios metabólicos, as DIP têm ganhado notoriedade pela própria associação entre elas, modificando o curso e a gravidade de muitas doenças. A infecção pelo HIV é hoje importante fator de risco para desenvolvimento de várias doenças infecciosas. Entre elas a associação com a tuberculose está entre as mais importantes, não apenas pela interação patológica, mas por uma combinação de fatores que favorecem a evolução da doença em ambas as condições (MUNIZ, 2006). 11 O aumento da tuberculose em portadores de HIV/AIDS traz aos serviços de saúde uma sobrecarga e apresenta aos profissionais de saúde desafios na definição do diagnóstico, na avaliação e no tratamento devido às modificações da tuberculose nesses pacientes, desde sua sintomatologia e evolução clínica até a resposta ao tratamento preconizado (REID, 2006). Esse conjunto de fatores colocam as DIP em um local de destaque no cenário mundial e nacional entre as causas mortes e, dessa forma requerem medidas de controles mais efetivas e, sobretudo estudos abrangendo essa temática, o que justifica compor o sexto 6° objetivo do milênio, que visa combater a AIDS, a malária e outras doenças (PNUD). 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA As doenças infecciosas e parasitárias têm apresentado comportamento heterogêneo nas últimas décadas em todo o mundo. Por trás das mudanças estão, entre outros aspectos, o próprio progresso científico e tecnológico, as transformações econômicas e sociais de caráter mundial, que determinam modificações radicais na vida do homem, influenciadas pelas tecnologias clínicas (WALDMAN; SILVA; MONTEIRO, 1999). Os países industrializados e considerados pólo centrais da economia mundial, apresentaram mudanças significativas em seu perfil epidemiológico a partir da segunda metade do século XX (ARAÚJO, 2012). Essas mudanças ocorridas ao longo do tempo nos padrões de mortalidade e morbidade das populações foram denominadas de transição epidemiológica por OMRAM, 2001. E foram norteadas por dois fatores principais: as alterações associada à estrutura etária da população ocorrida ao longo do processo de transição demográfica; e as alterações nos padrões de morbidade e mortalidade, havendo a substituição gradual das doenças infecciosas e parasitárias e das deficiências nutricionais pelas doenças crônico-degenerativas e aquelas relacionadas às causas externas. Segundo a teoria da transição epidemiológica de OMRAM, a humanidade teria atravessado três fases epidemiológicas ao longo da sua história: A 'Era da Fome das Pestilências', que durou desde o início dos tempos históricos até o fim da Idade Média, 12 foi caracterizada por uma mortalidade e fecundidade elevadas, sendo essas altas taxas de mortalidade relacionadas com as doenças infecciosas e parasitárias, em caráter endêmico e epidêmico que, assumiam, com frequência, caráter pandêmico, com grande impacto na dinâmica das populações. A expectativa de vida estava era muito baixa, em torno de 20 anos, e o crescimento demográfico era lento. A 'Era do Declínio das Pandemias', correspondeu historicamente ao período que vai da Renascença até o início da Revolução Industrial, foi caracterizado pela progressiva redução das grandes pandemias e epidemias, embora as doenças infecciosas continuassem a ser a principal causa de morte. Nesse período verificou-se uma gradual melhora no padrão de vida e a expectativa de vida alcançou os 40 anos. Com a queda das taxas de mortalidade e a manutenção das altas taxas de natalidade iniciou-se um longo período de crescimento populacional. As doenças infecciosas e parasitárias e a fome de caráter endêmico, apesar de terem reduzido, mantinham entre os principais problemas de saúde pública. A 'Era das Doenças Degenerativas e das Causadas pelo Homem' estende-se da Revolução Industrial até o período contemporâneo. Caracterizou-se pala redução e estabilização da mortalidade, diminuição da fecundidade e declínio das doenças infecciosas, que se iniciaram várias décadas antes do aparecimento das sulfas e dos antibióticos, acentuando-se com os progressos da medicina. As doenças infecciosas deixam de ser a principal causa de óbitos, lugar ocupado pelas doenças cardiovasculares e as neoplasias malignas. Nessa fase, houve uma desaceleração no crescimento demográfico, a expectativa de vida aumentou progressivamente até atingir os 70 anos, nos meados daquele século. Tudo isso relacionado a uma progressiva melhora do padrão de vida das populações, com a ampliação do saneamento básico, melhoria das condições de nutrição, habitação e educação, além do avanço de novas tecnologias em saúde e ampliação da cobertura de serviços clínicos e de diagnóstico. Segundo Chaimowicz (1997), existe uma correlação direta entre os processos de transição demográfica e epidemiológica. De um modo geral a queda inicial da mortalidade concentra-se seletivamente entre as doenças infecciosas e tende a beneficiar os grupos mais jovens da população que, por sua vez, passam a conviver com fatores de risco para as doenças crônico-degenerativas. Na medida em que cresce o número de idosos e aumenta a expectativa de vida, tornam-se mais frequentes as complicações dessas enfermidades, modificando-se, assim, o perfil de saúde da população. 13 Uma curiosidade sobre a transição epidemiológica no Brasil, assim como em toda a América Latina é que essa não tem seguido o mesmo modelo dos países industrializados e centrais do capitalismo de substituição das doenças infecciosas e parasitárias por doenças crônico-degenerativas, acidentes e violência. Observa-se uma transição prolongada ou polarizada, com a superposição de contextos epidemiológicos no qual permanece como desafio para a saúde pública as doenças infecciosas e parasitárias e o aumento das doenças crônico-degenerativas e outros agravos não infecciosos. A reintrodução de processos infecciosos, como dengue e cólera, ou a persistência e o recrudescimento de outras, como a malária, a tuberculose, a hanseníase e as leishmanioses, e o surgimento de novas endemias como a AIDS, mostram a natureza não unidirecional, diferente do modelo proposto por Omram, que pode ser denominada de “contra transição” (PONTES ET AL, 2009). Essa ideia de polarização e contra transição foi primeiramente defendida por Frenk (1991). Segundo Araújo (2012) o Brasil é um exemplo da polarização epidemiológica, combinando elevadas taxas de morbidade e mortalidade por doenças crônico- degenerativas com altas incidências de doenças infecciosas e parasitárias, e a prolongada persistência de níveis diferenciados de transição entre grupos sociais distintos. Segundo Pontes et al (2009), apesar da acentuada queda da mortalidade as DIP ainda constituem a terceira causa de internação hospitalar, a frente das causas externas e das neoplasias. Isso é um indicador indireto de que a despeito de menor importância relativa em termos de mortalidade, as DIP continuam a apresentar um papel relevante em termos de morbidade, o que evidencia a persistência de uma situação de polarização epidemiológica no país. Este contexto está associado a aspectos como as grandes desigualdades econômicas e sociais, ao processo migratório para as grandes cidades, aos problemas ambientais e outros problemas de ordem estrutural quegerou um panorama complexo para a saúde pública, dificultando a erradicação e/ou eliminação das doenças infecciosas e parasitárias em curto prazo (WALDMAN, 1999). Todo esse processo bem como a maneira heterogênea como ele vem ocorrendo nas diversas regiões do país, decorrente das desigualdades sociais e econômicas, torna-se um grande e complexo desafio para a saúde pública. Diferentemente dos países industrializados, onde a queda das taxas de fecundidade e mortalidade foi acompanhada da ampliação da cobertura dos sistemas de proteção social 14 e melhorias nas condições de vida da população como habitação, alimentação, trabalho e saneamento básico, no Brasil, o declínio da mortalidade que deu início à transição demográfica e epidemiológica foi determinado pela ação médico-sanitária do Estado, por meio de mudanças estruturais e políticas urbanas de saúde pública como as campanhas de vacinação, higiene pública e outras campanhas sanitaristas (YAZAKI; SAAD, 1990). As desigualdades sociais em saúde resultam das diferenças produzidas pelas formas de inserção dos indivíduos nas sociedades e encontram-se relacionadas com a forma de divisão social da riqueza (BARATA, 2006). A desigualdade em que se processa a queda da mortalidade em diferentes regiões e classes sociais no Brasil comprova a importância dessa dinâmica de intervenção do estado, em detrimento da real conquista de direitos sociais pela população (OLIVEIRA; FELIX, 1995). 2.1 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS - DIP Existem muitas doenças infecciosas e parasitárias que ainda estão entre as principais causas de morte no mundo. No ranking global das causas de mortes, de 1990 a 2010, a maior mudança foi à mortalidade por HIV/AIDS, subindo da 35ª posição para 6° principal causa de morte no mundo, a diarreia passou da 5° para a 7° posição, a tuberculose da 6° para a décima e a malária da 9° para 11° (LOZANO et al, 2012). Com relação aos APVP, este mesmo estudo mostra o impacto das DIP. Em 1990, no ranking, a diarreia ocupava o 2°, a tuberculose o 9°, a malária o 6° e o HIV/AIDS o 24°. Em 2010, a diarreia passou a ocupar o 4°, a tuberculose o 11°, a malária o 5° e o HIV/AIDS O 6° em anos potenciais de vida perdidos. Assim temos que de 1990 para 2010, essas doenças mudaram de posição, mas ainda estão entre as principais causas de mortes no mundo. Segundo dados do DATA/SUS (2013) as doenças infecciosas e parasitárias constituem a terceira causa de morte em crianças de 1 a 4 anos de idade no estado do Piauí e a quarta causa de óbito no Brasil nessa mesma faixa etária. De acordo com Caldeira et al (2005), as doenças infecciosas e parasitárias consistem em uma causa de óbito infantil intimamente relacionada com fatores socioeconômicos e ambientais. Ainda segundo este autor, para determinados grupos populacionais a sua ocorrência é mais expressiva devido às precárias condições de vida. Esse grupamento de 15 doenças destaca-se como uma das principais causas de internações hospitalares e mortalidade infantil no Brasil e no mundo. A proporção de óbitos por DIP no estado do Piauí no ano de 2013 foi 3,79%, sendo esta a 8° (oitava) causa de óbito no estado. (DATASUS/SIM, 2014). No tocante a morbidade, as doenças infecciosas e parasitárias foram no ano de 2012 a 6° (sexta) causa de internação hospitalar no Brasil, estando ainda como uma das principais causas de internações do país. No estado do Piauí e na região Nordeste, neste mesmo período, essas doenças foram à segunda causa de internação ficando atrás apenas do capítulo XV da Cid 10 (gravidez, parto e puerpério) (DATASUS/SIH, 2014). Essas informações mostram a magnitude dessas doenças nas regiões mais pobre do país e chama a atenção para a relação direta dessas doenças com as iniqüidades sociais e econômicas do país Diferenças importantes são verificadas quando se analisam as diversas regiões do país, mostrando que mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, maternas, perinatais e nutricionais ainda são marcantes no Norte e Nordeste e a mortalidade por causas externas atinge maiores proporções nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Este cenário demonstra a manifestação dos agravos segundo grupos de causas de doenças ocorre de maneira diferente nas regiões do país. As doenças relacionadas à pobreza e/ou precárias condições de atendimento à saúde acometem principalmente as mulheres e as regiões Norte e Nordeste (SCHARAMM et al, 2004). Campelo, Gonçalves e Donadi (2005), observaram em Teresina-PI, que 63,8% dos óbitos por DIP que ocorreram no ano 2000 foram por septicemia (25,6%), doenças infecciosas intestinais (21,6%) e tuberculose (16,6%). No Brasil, o Ministério da Saúde tem classificado as DIP segundo três tendências principais no sentido de orientar as ações de controle: doenças com tendência decrescente, doenças com quadro de persistência e doenças emergentes e reemergentes. O primeiro grupo são aquelas que apresentam reduções drásticas nos coeficientes de incidência composta principalmente pelas doenças imunopreveníveis controladas pelo Programa Nacional de Imunização criado em 1973. Inclui-se a varíola, poliomielite, sarampo, raiva humana, tétano acidental, difteria, rubéola, e ainda outras doenças não imunopreveníveis como a doenças de Chagas, febre tifoide, oncocercose, filariose e a peste (BRASIL, 2010a). Entre as doenças caracterizadas com tendência de persistência encontra-se a malária, a tuberculose, as leishmanioses, a hanseníase, a esquistossomose, a doença de Chagas, a febre amarela silvestre, as hepatites virais, a leptospirose, a meningite por Neisseria 16 Meningitidis B e C, a meningite por Haemophilus influenzae tipo B e os acidentes por animais peçonhentos. Algumas dessas doenças ainda apresentam elevados coeficientes de incidência, com tendência de aumento nos últimos anos. E por último, o grupo das doenças emergentes e reemergentes no qual se destacam o surgimento da AIDS em 1980, a dengue em 1982, a cólera reintroduzida em 1991, e a hantavirose, 1993 (BRASIL, 2010a). 2.4 DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIAS No sentido de coordenar as ações relacionadas ao controle das doenças transmissíveis, o Ministério da Saúde, através da Lei n.6259 de 30 de outubro de 1975, regulamentada pelo Decreto n.78.231 de 12/08/1976, tornou obrigatória a notificação de algumas doenças transmissíveis e assim, a primeira lista nacional de doenças de notificação compulsória foi estabelecida, incluindo aquelas evitáveis por imunizações, transmitidas por vetores, tuberculose, hanseníase e, posteriormente, doença meningocócica e raiva humana. Segundo Silva (2005), os princípios da vigilância epidemiológica foram inicialmente utilizados em programas de controle de malaria, febre amarela e, principalmente, na Campanha de Erradicação da Varíola, de 1966 a 1973 com grande sucesso. Nesse sentido, foi organizado em 1969, um sistema de notificação semanal de doenças, baseado na rede de unidades permanentes de saúde, sob a coordenação das Secretarias Estaduais de Saúde e as informações de interesse desse sistema passaram a ser divulgadas regularmente pelo Ministério da Saúde, por meio de um boletim epidemiológico de circulação quinzenal. A lei orgânica da saúde, Lei 8080/90, define vigilância epidemiológica como um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. Na década de 80, junto ao processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS), houve também a descentralização das ações de vigilância e o fortalecimento dos sistemas municipais de vigilância epidemiológica, com uma reestruturação do Sistema Nacional Vigilância Epidemiológica paradar conta da heterogeneidade do rol de eventos sob vigilância na esfera municipal, frente às transformações do perfil 17 epidemiológico das doenças transmissíveis no Brasil, com isso, a relação de doenças de notificação compulsória passa a ter revisões sistemáticas, com vistas a englobar outros problemas de saúde e não somente aqueles voltados às doenças evitáveis por imunização ou causados por vetores. Sendo incluídos outros critérios para a inclusão de doenças como magnitude, potencial de disseminação, transcendência, vulnerabilidade, compromissos internacionais (PENNA et al, 2011). A portaria nº 1.271, de 06 de junho de 2014, define a mais atual Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, incluindo conceitos, responsabilidades e agravos novos no âmbito da notificação compulsória. 2.5 PLANO DE AÇÕES ESTRATÉGICAS Com intuito de reverter esse quadro de desigualdade na morbimortalidade por doenças infecciosas e parasitárias nas regiões brasileiras, o Ministério da Saúde lançou em agosto de 2011 o Plano Integrado de Ações Estratégicas em que foi definido um conjunto de endemias que demandam ações estratégicas para eliminação como problema de saúde pública ou para redução drástica da carga dessas doenças. Segundo a classificação das doenças negligenciadas e outras relacionadas com a pobreza, essas formam um conjunto de doenças que tendem a coexistir em áreas em que a população apresenta precárias condições de vida. Apesar de se reconhecer a importância dessas morbidades no adoecimento e morte da população, a carga das doenças negligenciadas é subestimada no Brasil, por isso assim são chamadas. Neste grupo estão incluídas a hanseníase, esquistossomose, filariose linfática, geohelmintíases, oncocercose e tracoma (BRASIL, 2012) De acordo com esse Plano, o governo do Brasil assume o compromisso público de eliminar esses agravos ou reduzir drasticamente a carga dessas doenças. Este plano integrado de ações estratégicas de eliminação da hanseníase, filariose, esquistossomose oncocercose como problema de saúde pública, tracoma como causa de cegueira e controle das geohelmintíases caracteriza-se principalmente pela proposição de estratégias de busca ativa de casos novos e tratamento oportuno, considerando-se, neste contexto, quando indicado, as intervenções de tratamento coletivo. A oferta de serviços de saúde de atendimento da demanda espontânea de casos de tais endemias não tem sido suficiente para sua eliminação e redução da carga da doença. Portanto, esforços 18 dirigidos especificamente para a detecção precoce de casos, bem como para o tratamento do maior número de indivíduos, impactarão na redução da circulação ambiental dos agentes etiológicos dessas endemias, na redução do surgimento de novos casos e de suas conseqüências (BRASIL, 2012). 2.6 DOENÇAS NEGLIGENCIADAS Segundo a OMS (2006), cerca de 1 bilhão de pessoas (um sexto da população mundial) sofrem de uma ou mais tipo de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN), essas doenças têm afligido a humanidade desde os tempos antigos e adquiriram notoriedade por serem incapacitantes e deformantes. As doenças tropicais negligenciadas têm uma maior prevalência nas regiões entre as latitudes 35º N e 35º S, com altitudes inferiores a 2.200 metros e temperaturas que variam de 15º C a 40º C. Estas doenças são prevalentes em áreas tropicais e subtropicais, em países com um alto índice de pobreza, e onde a maioria dos habitantes vive com menos de dois dólares por dia. No Brasil, as DTN são mais prevalentes nas regiões Norte e Nordeste, que apresentam os mais baixos IDH do país. A pobreza está intimamente associada à prevalência de DTN e com a maior vulnerabilidade a essas doenças. A infecção pelos agentes causadores de DTN provoca profundo impacto econômico, social e político (LINDOSO; LINDOSO, 2009). Um diferencial importante das DTN é que elas frequentemente provocam morbidades crônicas, sem causar a morte. A baixa mortalidade global dessas doenças é considerada uma das principais razões para que essas condições sejam negligenciadas por tanto tempo. Sem o grande número de mortes anuais, os formuladores de políticas internacionais, não podem contar com essa métrica tradicional para expressar a importância global de saúde pública das DTN (BETHONY, 2011). No entanto usando os anos potenciais de vida perdidos por incapacidade (DAYLE) as estimativas indicam que as DTN podem ser tão importantes quanto à malária e o HIV no âmbito da saúde pública (HOTEZ, 2006). No Brasil, as populações mais afetadas por DTN vivem em áreas rurais e nos subúrbios das grandes cidades, onde há a maior prevalência de pobreza (MATHERS, 2007). O Brasil responde por mais de 50% de todas as DTN nas Américas segundo Hotez (2008). Quase 1 milhão de casos de filariose linfática ainda ocorrem em quatro países da região da América Latina, liderados pelo Haiti, com 80% dos casos, seguido 19 pelo Brasil, República Dominicana e Guiana (HOTEZ, 2008 II). Estima-se que 1 milhão de casos de tracoma ocorrem principalmente na região amazônica do Brasil. (GAUTAM, 2009). A leptospirose é uma importante infecção bacteriana zoonótica de ratos que afeta os moradores das favelas brasileiras (KO AL; PICARDEAU, 2009). A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou em 2010 o seu primeiro relatório sobre doenças tropicais negligenciadas no mundo hoje no qual foram citados: dengue, hidrofobia, tracoma, úlcera de Buruli (infecção por Mycobacterium ulcerans), reponematoses endêmicas, Lepra (hanseníase), doença de Chagas (tripanossomíase americana), tripanossomíase humana africana (doença do sono), Leishmaniose, Cisticercose, dracunculíase (infecção pelo verme da Guiné), equinococose, infecções alimentares por trematódeos, filariose linfática, oncocercose (cegueira dos rios), esquistossomose (bilharziose) e helmintíases transmitidas pelo solo. Segundo Camargo (2008) a designação "doenças tropicais" não foi invenção da OMS, pois já constava do vocabulário médico desde o século XIX. Surgiu sem data fixa e foi se consolidando na medida em que microrganismos eram reconhecidos como causadores de doenças e tinham seus mecanismos de transmissão elucidados. Essas doenças são assim denominadas negligenciadas porque os investimentos em pesquisa geralmente não se revertem em desenvolvimento e ampliação do acesso a novos medicamentos, diagnóstico ou vacinas para sua prevenção e controle. Considerando o fato de que as indústrias farmacêuticas são principalmente movidas pelo lucro a disponibilidade de medicamentos torna-se um problema grave já que essas doenças atingem populações marginalizadas, de baixa renda e pouca influência política, localizadas em sua maioria nos países em desenvolvimento (WERNECK, 2011). 2.7 QUALIDADE DOS DADOS DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE MORTALIDADE - SIM A qualidade dos dados disponíveis nos sistemas de informação sobre mortalidade – SIM, depende diretamente do preenchimento correto das declarações de óbito e refletem a capacidade resolutiva diagnóstica dos serviços de saúde (SILVA ET AL, 2011). Um dos fatores que afetam diretamente os dados do SIM são os óbitos por causas mal definidas. As causas mal definidas são aquelas declaradas como “sintomas”, “sinais” ou por expressões como “causa indeterminada” ou “causa ignorada” e na CID- 10 estas causas de morte estão agrupadas no Capítulo XVIII. Quanto maior a proporção 20 de óbitos por causas mal definidas, menor a exatidão dos dados sobre mortalidade por causas, no entanto é importante lembrar que sempre haverá alguns óbitos por causas mal definidas (BORGES E COSTA, 2008). Os óbitos por causas mal definidas têm diminuído nas últimas décadas em todas as regiões brasileiras, o quesugere uma melhoria na qualidade da informação registrada no SIM. Todavia, nas regiões Norte e Nordeste, ainda há valores expressivos de óbitos por causas mal definidas (BRASIL, 2005). De acordo com Lima e Mota (2011), os estudos desenvolvidos sobre a Região Nordeste observaram que a proporção de óbitos por causa mal definida tem se mantido acima de 20,0% da totalidade de óbitos da região, nas últimas três décadas, e historicamente o Piauí tem uma das situações mais críticas. Lima e Mota (2011), em um estudo sobre tendência da mortalidade por causas mal definidas no estado do Piauí de 2000 a 2006, observaram que após a redistribuição dos óbitos por causas mal definidas investigados 31,44% dos óbitos permaneceram indefinidos e os demais foram recodificados e migraram para 17 dos 21 grupos de causa básica, sendo os principais grupos receptores: doenças relacionadas ao aparelho circulatório (41,0%); neoplasias (13,0%); causas externas de morbidade e mortalidade (9,5%); doenças do aparelho respiratório (7,5%); e algumas doenças infecciosas e parasitárias (5,7%). Nos demais grupos 22,3% dos óbitos foram recodificados. Esses resultados foram encontrados calculando-se a proporção de óbitos migrados para cada grupo de causa em relação ao total de óbitos recodificados. Apesar dos resultados os autores do estudo afirmam que se todos os óbitos por causa mal definidas tivessem sido investigados, não haveria alteração do quadro sanitário quanto ao perfil de óbito do estado. O estudo observou também que com a intervenção (implantação da ficha de investigação de óbito), a partir de janeiro de 2006, observou-se no estado do Piauí, acentuada redução na mortalidade proporcional por causa mal definidas, de 22,3% em 2005 para 7,3% no ano de 2006. Tal redução também foi verificada na freqüência absoluta de óbitos dos dois anos: em 2005 foram registrados 3.141 óbitos por causa mal definida, enquanto no ano de 2006 registraram-se apenas 1.408 óbitos nesse grupo de causa básica. O estudo mostrou ainda que a capital, Teresina, por contar com serviço de verificação de óbito (SVO), e um maior número de profissionais médicos, encontra-se em uma situação mais confortável que os demais municípios do estado com relação aos óbitos mal definidos. 21 Laurenti et all (2008), afirma que apesar de não ser totalmente fidedignos, as estatísticas de mortalidade por causa trazem relevante contribuição à característica do perfil epidemiológico de uma população. De acordo com Laurenti (2004), sempre haverá óbitos por causas mal definidas, porém idealmente, esta proporção deve ser baixa, entre 4% e 6%. Em 2013, a proporção de óbitos por causas mal definidas no estado do Piauí foi de 3,19% segundo dados do DATASUS, o que mostra uma maior confiabilidade das informações do SIM no estado. FIGURA 1. Percentual de óbitos por causa mal definidas no estado do Piauí, 2001 a 2013. FONTE: Sistema de Informação de Mortalidade - SIM Outro fator importante do trabalho diz respeito ao sub-registro de óbitos. Segundo Justino & Freire (2012) para uma boa mensuração do número de óbitos e padrão de mortalidade é fundamental diminuir a estimativa de sub-registro de óbitos no país. De acordo com dados do IBGE o sub-registro de óbitos vem diminuindo em todo Brasil na última década, o seu valor estimado para o conjunto do país em 2001, foi de 16,3%, declinando para 6,2%, em 2011. Na região Nordeste, apesar estar entre as piores situações juntamente com a região Norte, também se observa melhorias na cobertura dos óbitos, mas a magnitude do sub-registro ainda é elevada, sendo de 38,7% em 2001 e 20,6%, em 2011. O estado do Piauí apresenta a quinta maior proporção de sub-registro de óbitos do nordeste, com 25,6% em 2011. 22 O sub-registro de óbitos provém primordialmente das desigualdades de acesso aos serviços de saúde, de fatores culturais e socioeconômicos, e das dificuldades de acesso geográfico ocasionado pelas grandes distancias entre comunidades e cartórios que estão frequentemente mais localizados nas áreas de maior densidade populacional (IBGE, 2011). 2.8 PIAUÍ Segundo dados do IBGE (2010), o Piauí tem uma população 3.160.748 habitantes, área de 251.529,19 km², e 223 municípios. Considerado historicamente como um dos estados mais pobre do Brasil possui uma renda per capita baixa (R$ 408,27 reais), superior apenas a do estado do Maranhão, com uma proporção de pessoas com baixa renda de 60,84% (pessoas ocupadas com rendimento até dois salários mínimos); possui a segunda maior taxa de analfabetismo do país, 22,24%, perdendo apenas para o estado de Alagoas e uma taxa de mortalidade infantil 20,8 por mil nascidos vivos, a segunda maior do país (DATASUS, 2011). O estado do Piauí aparece no Plano de Ações Estratégicas com alguns municípios considerados estratégicos para a eliminação da hanseníase, tracoma como causa de cegueira e redução drástica da carga das geohelmintíases. 3. JUSTIFICATIVA As doenças infecciosas e parasitárias ainda têm grande relevância como causa de morbidade e mortalidade no Brasil, em especial por se tratar de doenças potencialmente evitáveis. No estado do Piauí, devido à estreita relação das DIP com as condições sociais e econômicas da população, o estudo da mortalidade por essas doenças se mostra pertinente considerando seu grande contingente populacional vivendo em situação de pobreza. Além disso, as doenças infecciosas e parasitárias constituem a terceira causa de morte em crianças de 1 a 4 anos de idade no estado do Piauí e a quarta causa de óbito no Brasil segundo dados do DATASUS. Outra questão relevante foi mostrar o impacto das DIP na mortalidade do estado do Piauí, expondo os anos de vida desperdiçados por essas morbidades. 23 4. OBJETIVOS 4.1 OBJETIVO GERAL O objetivo geral deste estudo foi analisar a evolução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias no estado do Piauí e os anos potenciais de vida perdidos. 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrever a evolução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias no estado do Piauí por idade e por sexo, 2001-2012; Caracterizar a mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias considerando as causas mais incidentes e as negligenciadas do Piauí; Analisar os anos potenciais de vida perdidos por doenças infecciosas e parasitárias no estado do Piauí, 2001-2012. 5. LIMITAÇÕES DO ESTUDO Por se tratar de um estudo com dados secundários, não há controle do pesquisador em relação a erros decorrentes de digitação, registro e confiabilidade das informações prestadas. 6 METODOLOGIA Foi realizado um estudo ecológico a partir dos dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Os dados coletados foram referentes ao período de janeiro de 2001 a dezembro de 2012. Utilizou – se o CENSO de 2010 e as estimativas populacionais para os anos intercensitários para obtenção da população utilizada, disponível no site do DATASUS (DATASUS, 2015). Foram incluídos todos os óbitos por doença infecciosa e parasitária (capítulo I da 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças - CID 10) de pessoas residentes no estado do Piauí. 24 Utilizou-se como critério de exclusão os óbitos por septicemia para não comprometer a fidedignidade e não superestimar o número dos óbitos. A septicemia não é propriamente uma doença, mas é decorrente de uma doença complicada por infecção generalizada (PAES, 2004). Para o cálculo considerando as causas básicas foram excluídos todos os óbitos que tinha a septicemia aparecia como causa básica, e nas causas mencionadas foram excluídos todos os óbitos em que foi mencionado apenas septicemia como DIP. Foram descritas as DIP com maior taxa de mortalidade no período de estudo. E as doenças negligenciadas com maior taxa de mortalidadeno estado: dengue, doença de chagas, hanseníase, leishmaniose e cisticercose. Para o cálculo da taxa de mortalidade e dos anos potenciais de vida perdido (APVP) na análise dessas doenças foi considerada primeiramente a causa básica da declaração de óbito. Dividiu-se o período em quadriênios a fim de evitar possíveis flutuações: 2001-2004 (primeiro quadriênio), 2005-2008 (segundo quadriênio) e 2009-2012 (terceiro quadriênio). Posteriormente foi feito uma análise comparativa das doenças segundo a causa básica e a causa mencionada. Para a causa mencionada foi considerado as doenças infecciosas e parasitárias citadas em qualquer parte da declaração de óbito. A apresentação dos resultados foi feita por meio de tabelas de frequências e de contingência e gráficos de linhas. As ferramentas computacionais utilizadas para preparo e análise de dados foram o Tabwin 3.6b, o Tabnet (DATASUS), Microsoft Excel 2010 e o SPSS Statistics 20. A Pesquisa seguiu resolução N° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que regula a pesquisa com seres humanos. Não foi necessária a utilização de Termo de Consentimento Livre Esclarecido – TCLE, uma vez que o estudo se restringiu aos dados disponíveis em base de dados de acesso livre. 6.1 ANOS POTENCIAIS DE VIDA PERDIDOS – APVP Os anos potenciais de vida perdidos (APVP) medem o impacto da mortalidade, porque dão maior peso às mortes em idades mais jovens e são úteis na priorização de 25 intervenções de saúde pública (RODRIGUEZ, 2015). São também importantes para comparar a importância relativa das diferentes doenças, para monitorizar as diferenças nas tendências entre os países e as tendências ao longo do tempo (MURRAY, 2002). Esse indicador quantifica o número de anos de vida perdidos quando a morte ocorre de forma prematura, ou seja, em idade menor do que a expectativa de vida ao nascer da região estudada. Nesse caso utilizou-se a expectativa de vida do IBGE para cada sexo do estado do Piauí. Para cada morte ocorrida se contabiliza a quantidade de APVP subtraindo da idade esperada de vida (segundo a projeção populacional do IBGE) a idade em que a morte ocorreu. Assim, uma pessoa que morreu aos 30 anos, perdeu 40 Anos Potenciais de Vida, considerando que a expectativa de vida fosse 70 anos para sua faixa etária. O total de APVP foi calculado para total dos óbitos por DIP, para as doenças infecciosas e parasitárias mais prevalentes e as doenças negligenciadas mais relevantes no estado. A fórmula utilizada foi de Romeder e Whinnie (1988): Limite superior APVP = Ʃ aidi I = limite inferior Onde: ai = número de anos que faltam para completar a idade correspondente ao limite superior considerado, quando a morte ocorre entra as idades i e i+1 anos; di = número de óbitos ocorridos entre as idades de i e i+1 anos. 7 RESULTADOS Foram identificados no sistema de informação sobre mortalidade (SIM) 12.630 óbitos por doenças infecciosas e parasitárias – DIP, considerando as causas mencionadas, e 5.779 óbitos por DIP registrados pela causa básica, no estado do Piauí, no período de 2001 a 2012. A taxa de mortalidade por DIP apresentou um discreto aumento no período analisado passando de 14,55 óbitos /100.000 habitantes no primeiro quadriênio para 16,09 óbitos /100.000 habitantes no terceiro considerando as DIP como causa básica. No que concernem as causas mencionadas, esse aumento foi bem mais significativo, 26 passando 21,43 no primeiro quadriênio para 49,21 óbitos por /100.000habitantes no terceiro quadriênio. As taxas foram padronizadas pelo método direto e a população padrão utilizada foi a de Teresina, no entanto a padronização não mostrou grandes alterações nas taxas originais. Tabela 1. Número absoluto de óbitos e taxa de mortalidade considerando as DIP como causa básica e causa mencionada, no Piauí, 2001 - 2012. (por 100.000 habitantes) Óbitos por causa 2001-2004 2005-2008 2008-2012 TOTAL N Taxa N Taxa N Taxa N Taxa Básica 1695 14,55 2062 16,86 2022 16,09 5779 15,86 Mencionada 2493 21,41 3953 32,32 6184 49,21 12630 34,66 FONTE: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM N: número de óbitos Com relação aos anos potencias de vida perdidos (APVP) foram 105.483 APVP tendo como causa básica as DIP. Diferentemente da taxa de mortalidade, os anos potencias de vida perdidos no Piauí diminuiram ao longo do período passando de 10.427 em 2001 para 7.855 em 2012 APVP (figura 2). Figura 2. Número de anos potencias de vida perdidos - APVP por doenças infecciosas e parasitárias seundo a causa básica, no Piauí, 20012 a 2012. FONTE: Sistema de Informação de Mortalidade - SIM 27 Os resultados apresentados na tabela 2 são referentes aos óbitos cuja causa básica foi uma doença infecciosa parasitária no período de 2001 a 2012 Com relação às características dos óbitos, 3.465 eram do sexo masculino e 2.314 do sexo feminino. A faixa etária com maior percentagem de óbitos foi a de 60 anos ou mais (43,4%) e a raça/cor com maior percentagem foi a parda (58%). Mais de um quarto dos óbitos foram de residentes da capital e 73,25% das demais cidades do estado (tabela 2). Tabela 2. Características dos óbitos por doenças infecciosas e parasitárias no Piauí, 2001 a 2012 2001-2004 2005-2008 2009-2012 TOTAL N % N % N % N % FAIXA ETÁRIA 0 - 4 anos 409 24,2 319 15,6 139 6,9 867 15,1 5-14 anos 35 2,1 35 1,7 35 1,7 105 1,9 15-24 anos 68 4,1 53 2,6 57 2,8 178 3,0 25-39 anos 220 13,0 268 13,1 314 15,6 802 14,0 40-59 anos 364 21,6 438 21,3 501 25,0 1303 22,6 60 ou + 593 35,0 940 45,7 963 48,0 2496 43,4 SEXO Feminino 658 39,3 827 40,1 829 40,5 2314 40,03 Masculino 1037 60,7 1235 59,9 1193 59,5 3465 60,0 RAÇA/COR Branca 348 20,6 390 19,0 369 18,2 1107 19,1 Preta 187 11,0 215 10,4 214 10,6 616 10,6 Amarela 6 0,4 13 0,6 5 0,2 24 0,4 Parda 874 51,5 1256 60,9 1294 64,0 3424 59,3 Indígena 5 0,3 3 0,1 2 0,1 10 0,2 Ignorado 275 16,2 185 9,0 138 6,9 598 10,4 CAPITAL Sim 500 30,0 550 26,7 589 28,7 1639 28,4 Não 1165 70,0 1512 73,3 1463 71,3 4140 71,6 FONTE: Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM Na tabela 3, podem ser observados o número de óbitos e a taxa de mortalidade por 100.000 habitantes. As DIP com maior número de óbitos foram a diarreia e as 28 gastroenterites, 1.817 óbitos (31,4‰), o HIV/AIDS, 942 óbitos (16,3‰), a doença de chagas, 848 (14,7‰), tuberculose, 838, (14,50‰) e a leishmaniose, 241 óbitos (4,2‰). Do mesmo modo, em relação aos anos potenciais de vida perdido – APVP calculado de acordo com as projeções populacionais do IBGE, a diarreia e gastroenterites ocuparam o primeiro lugar (39.194 anos), seguido do HIV/AIDS (27.453 anos). A leishmaniose, apesar de ter sido a quinta causa de óbito por DIP, na análise dos APVP ficou em terceiro lugar com 8.975 anos perdidos de vida. A doença de chagas apresentou 1.871 APVP e a tuberculose 822 APVP (tabela 3). Tabela 3. Anos Potenciais de Vida Perdido – APVP e Taxa de Mortalidade das doenças infecciosas e parasitárias mais prevalentes no Piauí – 2001 a 2012. A figura 3 mostra a evolução dos óbitos por diarreia e gastroenterites nas diversas faixas etárias. As faixas etárias de 0 a 4 anos e acima de 60 anos foram as mais acometidas, mas ao longo do período se observa uma inversão do número de óbitos nas duas faixas etárias, com uma clara redução desses óbitos nas crianças de 0 a 4 anos. DIP 2001-2004 2005-2008 2009-2012 TOTAL N° Taxa APVP N° Taxa APVP N° Taxa APVP N° Taxa APVP Diarreia e gastroenterites 556 4,8 18541 722 5,9 15700 539 4,3 4952 1817 4,9 39193 HIV/AIDS 213 1,8 5941 293 2,4 8606 436 3,5 12906 942 2,58 27453 Doença deChagas 220 1,9 525 314 2,6 764 314 2,5 583 848 2,32 1871 Tuberculose 270 2,3 2766 307 2,5 2466 261 2,1 2784 838 2,29 8016 Leishmaniose 83 0,7 3990 87 0,7 3034 71 0,6 1951 241 0,66 8975 FONTE: Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE N: número de óbitos 29 Figura 3. Número de óbitos por diarreia e gastroenterites nas diversas faixas Etárias, no Piauí de 2001 a 2012. FONTE: Sistema de informação de mortalidade – SIM No que concernem as doenças negligenciadas, a doença de Chagas apresentou a maior taxa de mortalidade (2,3‰), seguida da leishmaniose (0,66‰), hanseníase (0,26‰), dengue (0,12‰) e cisticercose (0,05‰). Entretanto, no tocante aos APVP, a leishmaniose foi a DIP que apresentou o maior número de anos perdidos (8.975) e a dengue ocupou o terceiro lugar, com 1.566 anos potenciais de vida perdido. Tabela 4. Número absoluto, taxa de Mortalidade e anos potenciais de vida perdido por doenças negligenciadas mais incidentes no Piauí, de 2001 a 2012 (por 100.000 hab.) 2001-2004 2005-2008 2009-2012 TOTAL N° Taxa APVP N° Taxa APVP N° Taxa APVP N° Taxa APVP D. de Chagas 220 1,89 525 314 2,56 764 314 2,49 583 848 2,32 1871 Leishmaniose 83 0,71 3990 87 0,71 3034 71 0,56 1951 241 0,66 8975 Hanseníase 26 0,22 390 43 0,35 178 28 0,22 312 97 0,26 879 Dengue 03 0,03 79 18 0,15 591 25 0,19 895 47 0,13 1566 Cisticercose 04 0,03 116 07 0,06 177 09 0,07 181 20 0,05 475 FONTE: Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE A tabela 5 mostra uma comparação da taxa de mortalidade dessas doenças considerando a causa básica e a causa mencionada. Os dados revelam que a diarreia e a gastroenterites apresentaram um aumento considerado da taxa de mortalidade de 4,98 30 para 7,1. O HIV/AIDS, a doença de chagas e a tuberculose apresentaram um discreto aumento. A taxa de mortalidade da dengue e da cisticercose permaneceu quase inalterada. Tabela 5. Óbitos por doenças infecciosas e parasitárias considerando a causa básica e a causa mencionada no Piauí, 2001 a 2012. TOTAL N° de óbitos por causa básica Taxa de mortalidade por causa básica N° de óbitos por causa mencionada Taxa de mortalidade por causa mencionada Diarreia e gastroenterites 1817 4,98 2590 7,10 AIDS 942 2,58 966 2,65 Doença de Chagas 848 2,32 999 2,74 Tuberculose 838 2,29 1056 2,89 Leishmaniose 241 0,66 289 0,79 Hanseníase 97 0,26 219 0,60 Dengue 47 0,12 55 0,15 Cisticercose 20 0,05 26 0,07 FONTE: Sistema de Informação Sobre Mortalidade Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 8 DISCUSSÃO O aumento da taxa de mortalidade por DIP no estado do Piauí é um dado que surpreende, uma vez que nos últimos anos vem se observando uma redução na mortalidade por essas doenças em todo o mundo, inclusive no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde (2012) a mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias vem declinando desde a década de 1940, inicialmente de forma acelerada, e atualmente mais lenta, embora persistente. Entre 2000 e 2010, a mortalidade proporcional por DIP no país caiu de 4,7 para 4,3%, muito embora, essa redução tenha sido mais pronunciada em algumas doenças infecciosas do que em outras (MS, 2012). Campelo et al (2005) em estudo da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias na população residente em Teresina de 1971 a 2000, utilizando como base de dados o SIM, observaram redução acentuada no coeficiente de mortalidade de 168,8 para 27,8 /100.000 ao longo do período. No entanto, apesar da redução acentuada da mortalidade por DIP ao longo desses anos, no final do período, a partir de 1995 observa-se discreta elevação na taxa, como evidenciado no presente estudo. Ressalta-se que o estudo de Campelo foi em período bem anterior ao estudo atual. 31 Para esses autores, o que pode ter contribuído para o aumento na taxa de mortalidade por DIP foi o processo de urbanização da cidade, associado às questões econômicas e ecológicas favorecendo a endemicidade de algumas doenças como a leishmaniose e a dengue. Também a falta de um programa efetivo para o controle da tuberculose, que permitiu que ocorresse um número cada vez maior de acometidos, além do seu deslocamento para indivíduos acima de 60 anos e à expansão da epidemia da AIDS. Teixeira et al (2002) em estudo sobre mortalidade por doenças infecciosas em Salvador no período de 1991 a 1998 com os dados do SIM, observaram aumento discreto na proporção de nos óbitos por DIP, passando de 43% em 1991 para 44, 6% em 1998. Segundo este autor o modelo excludente de desenvolvimento social e econômico adotado nos países menos desenvolvidos, a emergência e a reemergência de algumas doenças infecciosas têm influenciado na mortalidade e principalmente na morbidade em todo o mundo. A despeito das causas elencadas pelos autores citados acima, é importante destacar que outros fatores podem ter influenciado no aumento da taxa de mortalidade e nos APVP, considerando que houve grandes avanços sociais, econômicos e no acesso à assistência à saúde da população ao longo desse período. Segundo Hoffman (2008), os programas de transferência de renda para as populações mais carentes no Brasil ajudaram a reduzir a pobreza e as desigualdades sociais e econômicas pela primeira vez na história do Brasil, o que contribuiu, sem dúvida, para o controle de muitas doenças infecciosas. No entanto, apesar desses avanços, os resultados deste estudo mostram que se por um lado o óbito por algumas doenças infecciosas diminuíram, outras apresentaram um aumento substancial como a AIDS, o que impulsionando, consideravelmente, o aumento no número de mortes DIP. Outros fatores a serem considerados são os avanços no campo da vigilância em saúde com investigação de casos suspeitos, aumento do diagnóstico de muitas doenças, melhoria no preenchimento da declaração de óbito e dos dados do SIM dos estados do Nordeste. Segundo DATASUS no ano de 2001 a proporção de óbitos por causas mal definidas no estado do Piauí era 29,58% e no ano de 2012 essa proporção caiu para 4,76%. A redução proporcional das causas mal definidas se constitui em uma das principais medidas para o aprimoramento da qualidade das estatísticas de mortalidade 32 no país (SANTO, 2008). No entanto, na medida em que se diminuem os óbitos por causas mal definidas, tem-se ao aumento das demais causas de óbitos. Além disso, mesmo com os avanços da última década, as condições de vida em alguns locais, como nas favelas urbanas permanecem com ambiente favorável à transmissão de muitas doenças infecciosas, como por exemplo, a dengue, a leishmaniose e a tuberculose (RILEY, 2007). Com relação às características dos óbitos, Campelo et al (2005) observaram a redução dos óbitos por DIP na faixa etária de 0-4 anos de 695,6/100.000 em 1971 para 73,8/100.000 em 2000, enquanto na faixa etária de 50 anos e mais a redução foi de menor intensidade, de 221,4 para 100,5 (por 100 mil hab.) no mesmo período. Também no presente estudo a maior queda proporcional de óbitos se deu na faixa etária de 0-4, corroborando com os achados de Campelo. Essa foi à faixa etária que apresentou a maior redução. No entanto, na faixa acima de 60 anos a proporção de óbitos aumentou de 35% para 48%. Como exemplo tem-se os óbitos por diarreia e leishmaniose que aumentaram nas faixas etárias maiores. Reduzir a taxa de mortalidade em menores de cinco anos é o quarto objetivo do milênio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. O Brasil alcançoua meta antes do prazo, reduzindo de 52,7 em 1990 para 17,7 óbitos/1000 habitantes em 2011 (PNUD, 2015). Também a mortalidade infantil vem diminuindo por todas as causas no Brasil nos últimos anos e em especial pelas doenças infecciosas e parasitarias (ALMEIDA & SZWARCWALD, 2012). A melhoria das condições sanitárias aliada ao maior acesso aos serviços de saúde e o aumento na cobertura da Estratégia de Saúde da Família tiveram efeitos importante na redução da mortalidade infantil em todo país (CARVALHO et al, 2015). As infecções em idosos apresentam características diferenciadas da população jovem, isso decorre das alterações imunológicas ou mau funcionamento orgânico dos idosos. As doenças infecciosas são causas comuns do aumento de morbidades e mortalidades em pacientes idosos e se revelam como problema frequente na prática diária da Geriatria (CHANTRI, 2007). Ademais, deve-se levar em conta o crescimento da população idosa no Brasil nas últimas décadas, com o aumento da expectativa de vida no país. No tocante ao sexo o estudo mostrou ao longo de todo período uma maior proporção de óbitos no sexo masculino. 33 Do mesmo modo, Silveira & Franch (2013) ao estudar os riscos das doenças infecciosas nos sexos encontraram maior vulnerabilidade no sexo masculino para quase todas as doenças infecciosas. Esses autores atribuem esse fato aos hábitos e comportamentos masculinos na idade adulta como, exposição a fatores de riscos, consumo de álcool e menor procura por serviços de saúde, dado que na infância não são foram encontradas diferenças na vulnerabilidade entre os sexos por doenças infecciosas e nos idosos essas diferenças tendem a cair. O fato da maior incidência de óbitos por DIP ter como causa básica a diarreia e gastroenterites pode estar relacionado às condições precárias de vida da população do Piauí, especialmente nas cidades do interior. Associado a essas causas tem-se ainda a doença de chagas e a tuberculose, também associadas às condições adversas de vida da população. Teixeira et al (2002), verificou que 70% dos óbito por DIP em Salvador de 1991 a 1998 eram por diarreia, tuberculose, doenças de chagas e septicemia, problemas para os quais segundo este autor, se dispões de recursos para tratamento e prevenção. A proporção de óbitos encontrada por Teixeira et al foi semelhante, diarreia 14,3%, tuberculose, 19,8%, doença de chagas 15,5%, AIDS, 16,3%. . Buchalla (2003) em um estudo sobre mortalidade por doenças infecciosas no início e no final do século XX em São Paulo (1901 a 2000) afirma que, apesar dos coeficientes de mortalidade terem diminuído substancialmente no último século, a tuberculose, as septicemias, a doenças de Chagas e as diarreias infecciosas juntamente com a AIDS ainda constituem principais causas de morte por DIP. DIARREIA E GASTROENTERITES A diarréia é responsável por um número elevado de hospitalizações e mortalidade em todo o mundo principalmente nos países em desenvolvimento. De acordo com a OMS (2012), a cada ano se registram no mundo dois bilhões de casos de doença diarréica, e 1.9 milhões de mortes em crianças com menos de 5 anos de idade por diarreia, fundamentalmente nos países em desenvolvimento. Entretanto esse número vem diminuindo, segundo Lozano (2012) a taxa global de mortalidade padronizada por idade por doenças diarréicas caiu em 49% no mundo de 1990 para 2010. Nesse trabalho, apesar de ser observada redução na mortalidade por diarreia e gastroenterites, esta ainda foi a causa que apresentou a maior taxa de mortalidade e o maior número de APVP no Piauí de 2001 a 2012 entre todas as doenças infecciosas. 34 De acordo com os resultados deste estudo pode se observar que do primeiro para o segundo quadriênio houve um aumento na mortalidade e a partir desse período a mortalidade por diarreia e gastroenterites reduz. Já os APVP, tendem sempre a cair de maneira acentuada indicando que as mortes por diarreia diminuíram mais nas faixas etárias menores que na população idosa. Oliveira (2010), ao estudar a tendência da internação e da mortalidade infantil por diarreia Brasil de 1995 a 2005, encontrou uma redução da mortalidade por diarreia em quase todas as capitais brasileiras, incluindo Teresina, capital do Piauí. Até meados dos anos 90, a dirreia foi responsável por um altíssimo número de mortes, e foi exatamente a redução desses óbitos, especialmente em menores de cinco anos, que mais impactaram na redução da mortalidade por doenças infecciosas contribuindo para aumento da esperança de vida e envelhecimento da população (BUCHALLA et al, 2003). A mortalidade global por diarreia diminui 4% de 2000 para 2010, neste mesmo período a redução nos países americanos foi maior, 10,2%. (LIU, 2012). A evolução dos indicadores socioeconômicos, demográficos e de saúde, como a ampliação da cobertura dos serviços de saneamento básico, diminuição da desnutrição infantil, aumento da cobertura vacinal e do aleitamento materno, melhoria do nível de escolaridade materna, do acesso a serviços de saúde, oferta de terapia de reidratação oral e o acesso à informação são apontados em diversos estudos como responsáveis pela redução morbimortalidade por doenças diarreicas na infância. (MELI & WALDMAN, 2011; OLIVEIRA & LATORRE, 2010;). Além disso, Silva (2005) cita a implantação de programas de saúde, como o Programa de Agentes Comunitários de Saúde e o Programa de Saúde da Família como principais responsáveis por essa redução. O manejo por meio de ações de Atenção Básica de Saúde contribuiu de maneira substancial para a diminuição da mortalidade infantil, especialmente por diarreia (TORRES, et al, 2013). Houve ainda a disponibilização da vacina contra Rotavírus a partir de 2006, que se mostrou bastante eficaz na redução da mortalidade infantil por diarreia aguda. (GURGEL et al, 2011). Existem muitos estudos sobre a morbimortalidade por diarreia em crianças, mas poucos estudos nas demais faixas etárias. Um dos fatores que pode estar relacionado à maior redução da mortalidade por diarreia nas crianças em comparação aos idosos, pode ser o fato de haver maior investimento em tempo e dinheiro para o cuidado de crianças, 35 devido à sua maior vulnerabilidade, além de serem mais cuidadas por seus responsáveis, o que nem sempre se observa no cuidado com o idoso, inclusive porque muitos são independentes e vivem sem assistência de adultos mais jovens. Assim, muitos idosos não devem considerar episódios de diarreia importante o suficiente para leva-lo a procurar tratamento profissional (CHOWDHURY, 2015). Há de questionar também o preenchimento correto da causa básica de morte, Jorge et al (2008) sugerem que pode haver maior dificuldade em diagnosticar a verdadeira causa básica da morte quando se trata de idosos, tendo em vista que ao envelhecerem, passam a apresentar, concomitantemente, várias morbidade. HIV/AIDAS A AIDS foi a causa de óbito que mais cresceu no período estudado, sua taxa de mortalidade quase dobrou do primeiro para o terceiro quadriênio e anos potenciais de vida perdidos aumentaram 117% no mesmo período discordando da tendência mundial de redução da mortalidade por AIDS. Segundo dados da OMS (2011) a mortalidade global por AIDS tem diminuído substancialmente, fato que vem sendo observado desde 2005, e que foi impulsionado por dois fatores principais: a maior disponibilidade de terapia antirretroviral e o menor número de pessoas infectadas desde o final dos anos 90 (OMS, 2011). No Brasil, de 2002 a 2011, o coeficiente de mortalidade por AIDS vem apresentando tendência de queda, com uma média de redução anual de 1,3%, no entanto essa redução não foi homogênea em todo o país. Em 2011, o coeficiente padronizado de mortalidade no Brasil foi de 5,6 óbitos por 100.000 habitantes. As regiões Sudeste, Sul e Centro-Oesteapresentaram a mesma tendência nacional, entretanto com intensidades diferentes, sendo as maiores reduções na região sudeste. Já os coeficientes de mortalidade das regiões Norte e Nordeste apresentam tendência de aumento nos nesse mesmo período (BRASIL, 2012). O grande aumento nos APVP chama atenção uma vez que implantado a terapia antirretroviral gratuita esperar-se-ia que as mortes ocorressem em uma idade mais avançada impactando menos nesse indicador. Dourado e Barreira (2006) apontam alguns fatores que podem explicar as diferenças na tendência na epidemia da AIDS nas macrorregiões do Brasil, como o grau de implementação das medidas de prevenção e tratamento, o conhecimento da 36 população sobre a doença, a desigualdade no nível de escolaridade e dos fatores socioeconômicos, diferentes categorias de exposição, adesão ao tratamento. Todos esses fatores podem estar relacionados com tendência diferenciada da epidemia de AIDS no Piauí. Lucena e Sousa (2009), em estudo sobre anos potenciais de vida perdidos por AIDS em Pernambuco em 1996 e 2005, observaram redução de 0,75% no número de óbitos e 6,20% nos APVP naquele estado. Entretanto, quando analisado as mesorregiões, observaram variação acentuada entre as tendências, com algumas mesorregiões apresentando aumento de até 92% no número de óbitos e 58% nos APVP, o que corrobora com as afirmações anteriores de que não se pode esperar uma tendência uniforme na epidemia de AIDS, onde as desigualdades sociais e de acesso ao cuidado com a saúde ainda persistem. De acordo com Lucena e Sousa (2009), no ano de 2005, a AIDS foi responsável por 12.744,5 APVP no estado de Pernambuco, sendo a idade média ao morrer 37,98 anos. No Piauí, nesse mesmo ano a AIDS foi responsável por de 2.200 APVP, bem abaixo do encontrado em Pernambuco. Com relação ao aumento da mortalidade em algumas mesorregiões do Pernambuco, os autores ressaltam a redução das proporções de óbitos por causa mal definidas, a melhora no sistema de vigilância epidemiológica e no preenchimento da declaração de óbito e, consequentemente, na codificação da causa básica. Possivelmente, esses fatores podem ter sido responsáveis pelo aumento na taxa de mortalidade e nos APVP no estado do Piauí, onde também ocorreu grande redução dos óbitos por causa mal definidas, especialmente a partir de 2005. Apesar da tendência mundial de redução no número de óbito por AIDS, estudos mostram que há locais onde essas mortes têm aumentado igualmente ao estado do Piauí. Na china, por exemplo, a taxa de mortalidade por AIDS aumentou de 0,10 em 1999 para 1,01 casos por milhão em 2005, em seguida, para 4,58 casos por milhão em 2008, correspondendo a uma taxa de crescimento anual de 44% (LEI, 2012). Rodriguez (2015) também encontrou aumento nos APVP por AIDS na Colômbia, de 1998 a 2011 os APVP passaram de 64.282 para 101.344. Deeks (2009) cita estilo de vida (uso de drogas, tabagismo e abuso de álcool), a co-infecção com outros vírus (hepatites B e C, vírus do papiloma humano) e com outras doenças (tuberculose) e a toxicidade específica de drogas utilizadas no tratamento da 37 AIDS, como fatores contribuem para o maior risco relativo de mortalidade relacionada ao AIDS. A OMS traz o teste e o aconselhamento como essenciais para a expansão do acesso ao tratamento e prevenção do HIV. O acesso ao teste diagnóstico avançou muito especialmente para gestantes, no entanto, a maioria dos que vivem com AIDS, em países de baixo e médio nível de desenvolvimento, não conhece seu estado sorológico. Em muitos casos, mesmo após receber um teste positivo, muitas pessoas não procuram o serviço para iniciar o tratamento, fato decorrente de aconselhamento inapropriado (OMS, 2011). No estado do Piauí, o acesso ao diagnóstico e fundamentalmente ao tratamento da AIDS está vinculado aos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), serviços de saúde onde se realizam ações de diagnóstico e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Todavia, a procura por esse serviço é tida para muitos usuários como constrangedora pelo medo de ser reconhecido e pelo estigma (SOUZA, 2008). Os CTA foram criados em 1997, a partir do Centro de Orientação e Apoio Sorológico (COAS) e tem como meta a incorporação da prática de aconselhamento, nas atividades assistenciais já existentes nos serviços de saúde (BRASIL, 2015a). Apesar do crescimento das ações de combate e controle do HIV/AIDS, atualmente os CTA encontram-se localizado em apenas 5 cidades do estado do Piauí o que restringe o acesso ao tratamento da AIDS (BRASIL, 2015b). Esses serviços de atendimento especializado que contam com unidade dispensadora de antirretrovirais, são compostos por uma equipe multidisciplinar e não demanda tecnologia sofisticada para funcionarem, mesmo assim, estão concentrados nos grandes centros urbanos (REIS, 2008). Para este autor, isso ocasiona dificuldades de acesso ao tratamento dos doentes residentes em regiões mais distantes dos grandes centros urbanos e constituem um desafio para a universalização dos avanços terapêuticos alcançados na luta contra a epidemia. A interiorização da doença tem sido descrita, como um fenômeno que dificulta o tratamento e acompanhamento desses indivíduos, devido à distância dos grandes centros urbanos, deixando os moradores infectados pelo HIV dessas áreas mais vulneráveis à doença (REIS, 2008), uma vez que a transmissão em baixo nível ainda ocorre em municípios de pequeno e médio porte, o que sugere que os que as ações de controle da doença não são uniformes (GRANJEIRO, 2010). 38 TUBERCULOSE A taxa de mortalidade e os APVP por tuberculose (TB) permaneceram quase sem alterações no Piauí apresentando pequena redução no final do período. Apesar de se tratar de uma doença antiga, a tuberculose configura-se como desafio para a saúde pública em níveis globais, sendo umas das metas da OMS reduzir em 95% as mortes por tuberculose e em 90% o número de casos até 2035. O controle da enfermidade tem se mostrado difícil principalmente nos países em desenvolvimento, os quais concentram aproximadamente 95% dos casos (OMS, 2014). Resultados semelhantes a esses foram encontrados em outros estudos. Bierrenbach et al (2007) estudaram a evolução da tuberculose no Brasil de 1980 a 2004 e observaram redução da mortalidade por TB no início do estudo, mas ao final do período a taxa de mortalidade permaneceu quase inalterada. Fiuza (2011) em um estudo sobre a tuberculose nos estados brasileiros de 2001 a 2010 encontrou nos estados do nordeste as maiores taxas de mortalidade e os menores percentuais de redução da mortalidade. A redução encontrada por Fiuza para o nordeste foi à mesma do presente trabalho para o Piauí, aproximadamente 9%. A análise dos óbitos de TB por causa mencionada apontou um aumento de 0,7% no estudo de Fiuza. No trabalho atual, foram encontrados valores muito semelhantes, aumento de 0,6% nos óbitos comparando-se a causa básica e a mencionada no período de no estudo, no Piauí. Mesmo com a implantação do Plano de Combate à Tuberculose em 2004, com distribuição gratuita de medicamentos e dos investimentos no controle da doença, essas informações vêm corroborar os dados encontrados no estudo atual que mostra uma tendência à estabilização da taxa de mortalidade por TB entre 2001 e 2012. Segundo Murray (2013) apesar de se dispor de tratamento estabelecido e eficaz contra as formas sensíveis de TB, o declínio das mortes parece ter estabilizado nos últimos anos em vários países. Entre os fatores contribuintes para a estabilização da mortalidade por TB estão principalmente a co-morbidade como a AIDS, o atraso no diagnóstico e o uso irregular aliado ao abandono da quimioterapia (Oliveira, 2004). Além da AIDS, o diabetes mellitus, doença que anteriormente era mais identificada em países ricos, tem afetado