Prévia do material em texto
PRÁTICA PEDAGÓGICA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL I Carla Ulasowicz 2 SUMÁRIO BLOCO 1: INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ........................................... 03 BLOCO 2: EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NO ENSINO FUNDAMENTAL I ......................................................................................... 14 BLOCO 3: PRINCÍPIOS CURRICULARES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ................... 32 BLOCO 4: CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO E PRÁTICAS CORPORAIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ............................................................................... 43 BLOCO 5: REFLEXÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ........................................................... 53 BLOCO 6: OUTROS APONTAMENTOS ...................................................................... 66 3 BLOCO 1: INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Caros alunos e alunas! Nesta Unidade, estudaremos sobre a fundamentação da Educação Física no ambiente escolar, que tem experimentado, nas últimas décadas, constantes processos de mudanças e debates sobre suas concepções e possibilidades de atuação. Faremos uma discussão sobre as abordagens e teorias curriculares da Educação Física que dão suporte ao trabalho do professor na escola, cuja perspectiva de atuação centra-se na Cultura Corporal de Movimento. Como a Educação Física na escola deve planejar suas aulas em consonância com o projeto- político-pedagógico (PPP) da instituição que irá atuar, faremos uma breve revisão da construção do PPP e de como a Educação Física atua no processo de construção deste projeto utilizando-se de propostas interdisciplinares e transdisciplinares para subsidiar as aulas. A partir desta temática, você (aluno ou aluna) terá condições de integrar-se ao ambiente escolar, em um futuro próximo, tornando seu trabalho produtivo e muito frutífero. Bons estudos! 1.1 Educação Física na escola: objetivos e possibilidades A Educação Física (EF) é uma disciplina presente na matriz curricular da Educação Básica, subsidiada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) do ano de 1996 e atualmente pela Base Nacional Comum Curricular de 2017, e como tal é concebida com objetivos educacionais e possui o propósito de intervir no processo de ensino e aprendizagem dos seus alunos(as) utilizando das mais diversas práticas corporais, como por exemplo o esporte e o jogo, para realizar a intervenção neste processo. Assim, a EF na escola faz parte de uma dimensão maior que é a Educação, Os principais objetivos da disciplina na atuação escolar são o de levar o aluno a: participar das práticas corporais com atitudes de respeito mútuo; conhecer, valorizar e respeitar as 4 manifestações plurais da Cultura Corporal de Movimento; reconhecer-se como membro integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis para melhora e/ou manutenção da sua saúde e da saúde coletiva; objetivos estes vinculados a intervenções educacionais realizadas em aula para que o aluno(a) possa influenciar por meio do seu conhecimento a sociedade, a cultura e a política. Entende-se por Cultura Corporal de Movimento o conhecimento construído e reconstruído no envolvimento do corpo, cultura e história. Ou seja, o ser humano cria e recria as técnicas corporais por influência da cultura no decorrer da história. É, portanto, objetivo da Educação Física na escola proporcionar uma diversidade de saberes com aprofundamento crítico dessas práticas corporais e não apenas destinar-se ao ensino de algumas modalidades esportivas ou considerá-la como um espaço recreativo. A atual discussão da disciplina, vista como um Educação Física contemporânea, vislumbra discussões entre os conhecimentos oriundos do professor e do aluno. Assim, professor e aluno constroem os conhecimentos por serem advindos de diferentes esferas socioculturais, uma parceria colaborativa. Assim, pode-se dizer que o conhecimento é pautado numa construção coletiva de saberes visando um aprofundamento crítico e reflexivo. Não basta apenas ensinar técnicas e movimentos relacionados aos esportes e/ou capacidades físicas envolvidas no treinamento. Mas, o contexto em que essas práticas corporais ocorrem de forma a refletir sobre elas e ressignificá-las. SAIBA MAIS O autor CAGICAL, em 1966, propõe a Educação Física como área de conhecimento envolvida em uma esfera maior que é a Educação. Ela utiliza-se do Jogo e do Esporte como uma das manifestações corporais a serem contempladas em aula. 5 Fonte: arquivo pessoal Profª Carla Ulasowicz A Lei de Diretrizes e Bases da Educação elucida a definição da Educação Física na perspectiva educacional e denomina as práticas corporais a serem contextualizadas em aulas. 1.2 Concepções da Educação Física: um pouco de história A Educação Física foi inserida no ambiente escolar brasileiro em 1851 com a reforma Couto Ferraz, a qual foi entendida como o primeiro esforço oficial de sistematização e controle da instrução primária (atual 1º ao 5º anos) e secundária (atual 6º ao 9º anos) no Império do Brasil. Em 1854, a ginástica passa a ser uma disciplina obrigatória no primário e a dança no secundário. O primeiro movimento para trato pedagógico da Educação Física foi o método de ginástica Alemão, baseado em exercícios sistematizados por Friedrich Ludwig Jahn (exercícios em aparelhos e preparação para a guerra) adotado em 1860 pela escola militar e em 1870 na educação primária. Em reforma realizada por Rui Barbosa, no ano de 1882, recomenda-se que a ginástica seja obrigatória para ambos os sexos nas escolas normais. Rui Barbosa não concordava com o método alemão, criticando-o por formar acrobatas diferenciando-se do que acreditava ser a função da Educação Física, vigor físico e valorização da pátria. Até 1920 houve várias reformas com o nome de ginástica, tendo destaque, em todas, os exercícios físicos, exercícios posturais e corretivos. A Escola de Educação Física do Exército foi a principal instituição desse modelo. Considerando os modelos de formação em Educação Física, podemos citar: 6 1.2.1 Higienismo e Militarismo Era um modelo de formação em Educação Física na preocupação com os hábitos de higiene e saúde, valorizando o exercício físico como desenvolvimento físico e moral dos estudantes. Os objetivos da Educação Física na escola estavam associados a formar uma geração capaz de exercer o combate, lutar, atuar em guerras (se necessário) e por este motivo excluía os incapacitados ou os não habilidosos. Propunha uma Educação Física propriamente prática, sendo que, para ensiná-la não era necessária uma fundamentação teórica, mas ser um bom praticante ou ter sido um ex- praticante. Em 1961, é promulgada a primeira LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), no ano de 1961, que trata a Educação Física como componente curricular, porém com enfoque ao movimento ginástico. 1.2.2 Esportivista Neste modelo, devido ao sucesso da Seleção Brasileira de Futebol, nos anos de 1958 e 1962, houve uma associação da Educação Física escolar ao Esporte, mas especificamente com o futebol. Com a conquista do terceiro título na Copa em 1970, disseminou o predomínio dos conteúdos esportivos nas aulas de Educação Física com o objetivo de que novos atletas fossem formados. Assim, os governos militares começaram a investir no esporte para a promoção do país em competições de alto nível, e este enfoque recaiu sobre a Educação Física na escola. Neste período, o rendimento, a seleção dos mais habilidosos tornam as práticas da Educação Física na escola marcada pela repetição mecânica dos movimentos esportivos, e considerava-se um modelo mecanicista, tradicional e tecnicista. A partir da década de 1980, este modelo é muito criticado pelosacadêmicos devido às influências das pesquisas no campo pedagógico e científico da Educação Física (Cinesiologia, Motricidade Humana, Cultura Corporal de Movimento, Ciências do Esporte e Aptidão Física). A grande crítica que se faz ao esporte escolar, é a inversão da prioridade do educar e despertar pelas atividades físicas para a lógica do alto rendimento. 1.3 Teorias curriculares da Educação Física escolar 7 Com o passar dos anos, diversas teorias/abordagens procuraram fundamentar os preceitos da Educação Física. São elas: a) Psicomotricidade: inicialmente foi uma proposta de trabalho vinculada às escolas especiais para alunos deficientes físicos e mentais, baseada nos pressupostos de Jean Boulch (de 1986). Nesta perspectiva de trabalho a Educação Física possui como objetivo estabelecer uma ação educativa a partir dos movimentos espontâneos das crianças e das atitudes corporais, na interdependência do desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo. A grande preocupação é de que a área não possui uma especificidade, servindo de suporte às demais disciplinas da escola. Seus principais conteúdos referem-se a atividades de lateralidade, esquema corporal, coordenação motora fina e grossa, observação dos alunos(as) em atividades recreativas. b) Construtivista-interacionista: este modelo engloba aspectos dos trabalhos de Piaget e Vygotsky. Para Piaget, a construção do conhecimento dá-se a partir da interação do sujeito com o mundo em um processo de constante reorganização da informação (assimilação e acomodação). Para Vygotsky, o aprendizado do aluno dar-se-á pelo conceito da zona de desenvolvimento proximal mediada pela ajuda de um adulto. Esta teoria considera o conhecimento que o aluno já possui ao organizar a proposta de ensino-aprendizagem e faz um resgate à cultura de jogos e brincadeiras. c) Desenvolvimentista: nesta concepção, a Educação Física deve proporcionar ao aluno(a) condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido por meio de experiências de movimentos adequados à idade. Os conteúdos de aula devem ser desenvolvidos segundo uma ordem de habilidades básicas (locomotoras, manipulativas e de estabilização) e específicas (relacionadas a prática do jogo, dança e esporte). d) Crítico-superadora: é um modelo baseado nos pensamentos do marxismo e neo- marxismo, pautado na justiça social. Sua principal finalidade é o de ordenar a reflexão pedagógica do aluno de forma a pensar a realidade social por um resgate histórico, pautando- se sua avaliação da aprendizagem numa reflexão coletiva sobre o projeto histórico, as condutas humanas, a compreensão crítica da realidade. e) Crítico-emancipatória: é um dos desdobramentos da tendência crítica e valoriza a compreensão crítica do mundo, da sociedade e de suas relações. Se propõe a aumentar os graus de liberdade do raciocínio crítico e autônomo dos alunos por meio dos temas compreendidos na Cultura Corporal de Movimento, em que o professor os ensine por uma sequência de estratégias: encenação, problematização, ampliação, e reconstrução coletiva. 8 d) Saúde Renovada: possui como objetivos informar, mudar atitudes e promover a prática sistemática de exercícios por meio de conhecimentos que propiciem aos alunos entender a relação entre atividade física para o bem-estar e para a saúde. Os testes de aptidão física são os instrumentos recomendados para avaliação no meio escolar. e) Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): documento federal que constitui um referencial para a educação em todo território nacional, segue a LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação, nº 9394/96) estabelecendo que a Educação Física é um componente curricular da Educação Básica, devendo ser integrada à proposta pedagógica da escola, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar. No tocante à Educação Física, este documento procurou integrar algumas das abordagens propostas articulando-as a um amplo projeto educacional, associando-o às questões sociais, contemplando múltiplos conhecimentos relacionados ao corpo e ao movimento inseridos na Cultura Corporal do Movimento, porque estabelece que o conhecimento é uma construção histórica e social que interferem fatores de ordem antropológica, cultural, psicológica entre outros. f) Sistematização de Conteúdos Temáticos na Educação Física escolar: a sistematização foi elaborada por um grupo de professores-pesquisadores que organizam sua prática pedagógica de acordo com um conjunto de teorias da ação baseadas no seu conhecimento sobre os conteúdos, estratégias reflexivas para o ensino e métodos semelhantes à pesquisa-ação. Esta sistematização procurou interagir as abordagens existentes na Educação Física escolar. Essa prática educativa cotidiana revela valores e intenções, que nos remetem a pensar por que determinados conteúdos são selecionados, qual a importância de tais conteúdos para o aluno, e como este poderá vivenciar, compreender e saber como ser/estar presente diante daquilo que está aprendendo. 1.4 A Cultura Corporal de Movimento Estuda-se, nesta área, os conteúdos propostos da Educação Física em uma perspectiva histórica e com valorização regional dos conteúdos (jogos, esportes, ginásticas, danças, lutas). Ou seja, não são ensinados apenas as regras, as técnicas e as táticas, mas o contexto em que essas práticas acontecem. SAIBA MAIS O Prof. Dr. Marcos Garcia Neira, professor de Educação Física e atual diretor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, fará uma reflexão sobre o tema apresentando os 9 resultados de uma pesquisa realizado nos últimos três anos sobre o currículo cultural na Educação Física. Vídeo Educação Física Cultural Disponível em: https://youtu.be/gnoxQc1Mua4 1.5 Projeto Político Pedagógico e a Educação Física escolar O Projeto Político pedagógico é um documento que norteia as bases de ações da instituição escolar e deve ser realizado por uma construção coletiva envolvendo toda a comunidade escolar (equipe diretiva, docentes, pais e aluno), a qual deve ter uma participação efetiva e contextualizada na sua elaboração e adaptada à ação educativa. A instituição escolar possui autonomia para determinar a estrutura deste plano que posteriormente será encaminhado à Secretaria, mas é de suma importância que ao realizá-lo conheça-se o contexto em que o aluno(a) está inserido pois é este contexto que determinará as ações de intervenção educativas a serem realizadas durante o ano letivo. Cabe à Educação Física participar efetivamente do projeto político pedagógica, contribuindo de maneira efetiva nesta construção. É essencial propor formas eficazes de trabalho. Mas para que isso aconteça torna-se importante: conhecer a realidade dos alunos, de forma a levantar a problemática que pode ser envolvida no projeto; proporcionar um debate sobre as problemáticas envolvidas na comunidade escolar com os alunos e encaminhar estes apontamentos durante a construção do projeto (plano participativo); trabalhar em conjunto com as outras disciplinas do currículo de maneira a contribuir a uma pratica reflexiva para com os alunos; ter na disciplina objetivos que sejam comuns com o projeto não perdendo a especificidade da disciplina que é o estudo do movimento humano em uma reflexão autônoma do aluno na Cultura Corporal do Movimento, lembrando sempre que a Educação Física parte de uma proposta de educação cultural. O que se deve refletir: Como a Educação Física pode contribuir para alcançar os objetivos propostos pelo projeto político pedagógico da instituição mediante a atuação do estudo do movimento do corpo humano que é sua especificidade? 1.6 Temas transversais e projetos interdisciplinares 10 Os temas transversais foram introduzidos na Educação a partir da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 20 de dezembro de 1996, queestabelece a consolidação e ampliação do poder público e torna este o responsável pela educação em geral, principalmente para o ensino fundamental. Possui como principal objetivo: assegurar ao indivíduo a formação para o exercício da cidadania. Os Parâmetros Curriculares Nacionais incorporam no currículo novas áreas de debate, os quais deverão transpassar todas as disciplinas comuns e que receberam o nome de Temas Transversais, os quais podem ser entendidos, num sentido metafórico, como uma avenida principal que é atravessada pelas disciplinas do currículo e não devem ser tratados como disciplinas independentes, mas inseridos nos conteúdos curriculares das disciplinas. São eles: • Orientação Sexual: indica que a sexualidade é algo inerente à vida e à saúde, envolve questões como a superação de preconceitos, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, como AIDS, e da gravidez indesejada na adolescência; • Ética: vinculado à ideia de universalização dos direitos humanos, conteúdos relacionados a respeito mútuo, justiça, solidariedade e diálogo; • Trabalho e Consumo: demandas sociais urgentes, de abrangência nacional, passíveis de ensino e aprendizagem e com importante papel na promoção da participação social e política, ou seja, todo produto ou serviço consumido existe trabalho social. • Saúde: garantir a possibilidade de uma aprendizagem significativa e efetiva, a qual possibilite transformações de atitudes e obtenção de hábitos saudáveis de vida, conteúdo relacionado aos conhecimentos sobre o funcionamento do seu corpo e sobre as características das principais doenças e/ou hábitos de higiene. • Meio ambiente: relação entre os seres humanos e o uso dos recursos disponíveis na natureza, propõe que a consciência do emprego destes recursos manifesta-se, de maneira mais significativa, por meio de medidas socioeducacionais. • Pluralidade cultural: questões relacionadas à valorização das diversidades étnicas e culturais de diversos grupos que convivem em nossa sociedade e às desigualdades econômicas, sociais, raciais e religiosas. Outras propostas de trabalho na Educação Física elegem outros temas que podem ser contemplados nas aulas. A Proposta Curricular de São Paulo traz temas como a mídia, contemporaneidade, lazer e trabalho, corpo, saúde e beleza. O referencial curricular da Fundação Bradesco elenca questões sobre vida ativa, movimentos e manifestações culturais, responsabilidade pessoal e social. 11 Assim, podemos entender os temas transversais na concepção de Darido (2001, p.14) como ruas principais do currículo escolar que necessitam ser atravessadas/cruzadas por todas as disciplinas. Na proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, também estão presentes conceitos como a intersdisciplinaridade e transdiciplinaridade quando propõem relações entre as disciplinas do currículo. O conceito de interdiciplinaridade refere-se ao planejamento de trabalho sobre um tema entre duas ou mais disciplinas do currículo. Por exemplo, quando a Educação Física se une com Arte, Matemática e Geografia para trabalhar o tema Circo. Ao conceito de transdisciplinaridade refere-se a todas as disciplinas do currículo com um ou mais temas em comum para serem estruturados nas aulas. Vale ressaltar que o tema transversal é um tema vinculado ao Projeto Político Pedagógico da instituição e refere-se a um tema de grande proporção ao contexto do entorno da escola, por exemplo drogas, saúde, saneamento básico, envelhecimento entre outros que possam colaborar para a reflexão do aluno(a) e da comunidade. SAIBA MAIS Os temas transversais, de acordo com os Parâmetros curriculares Nacionais, compõem as discussões das aulas de todas as disciplinas do currículo, e entre elas a Educação Física, com o objetivo de formar o aluno(a) um cidadão crítico e reflexivo. Fonte: arquivo pessoal Prof. Carla Ulasowicz Estes temas são considerados como uma avenida principal que deve ser atravessada por todas as disciplinas do currículo, de acordo com Darido (2001). 12 Fonte: arquivo pessoal Prof. Carla Ulasowicz Conclusão Neste bloco de estudos refletimos sobre a Educação Física e seus objetivos na escola, a qual, embora tenha como especificidade o estudo do movimento humano, deve adequar-se a uma educação de cunho cultural. Diante das teorias curriculares que discutem os princípios da Educação Física, quais sejam: Psicomotricidade, Construtivista-interacionista, Desenvolvimentista, Crítico-superadora, Crítico-emancipatória, Saúde Renovada, Parâmetros Curriculares Nacionais, Sistematização de Conteúdos Temáticos na Educação Física, refletimos sobre a importância do trabalho nos preceitos relacionados à Cultura Corporal de Movimento. Discutimos sobre a importância da participação efetiva da disciplina no projeto político pedagógico da instituição escolar com o objetivo de auxiliar nas problemáticas do contexto comunitário e proporcionar reflexão do aluno(a) a tais questões. Mediante a participação do projeto político pedagógico, o professor deve elaborar projetos que estejam em consonância com os temas elencados para trabalho entre as disciplinas (interdisciplinaridade) e/ou apenas com o tema elucidado no projeto (transdiciplinaridade). É importante ressaltar que além dos temas transversais (ética, pluralidade cultural, trabalho e consumo, orientação sexual, saúde, meio ambiente) propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais outros de maior relevância podem ser discutidos. 13 Referências BETTI, M. ZULIANI, L.R. Educação Física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 2002, 1(1):73-81. BRASIL, Ministério da Educação e Desporto. Parâmetros curriculares nacionais: primeiros e segundos ciclos. Educação Física/Secretaria de Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. CASTELLANI FILHO, L. Política educacional e Educação Física: polêmicas do nosso tempo. Campinas: Autores Associados, 1998. CORREA, W.R. Planejamento participativo e o ensino de educação física no 2º grau. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, supl. 2, p. 43-48, 1996. DARIDO, S. C. et al. A educação física, a formação do cidadão e os parâmetros curriculares nacionais. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo. v. 15, n. 1, p. 17- 32, 2001. DARIDO, S.C.; RANGEL, I.C.A. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2005. FERRAZ, O. L. Referenciais Curriculares de Educação Física. Osasco, Fundação Bradesco, documento preliminar, 2004. GANDIN, D. Planejamento com prática educativa. São Paulo: Edições Loyola. 2013 KOLYNIAK FILHO C.; MELANI, R. A. H. Motricidade: um olhar sobre o movimento humano. São Paulo: EDUC, 2006. OKIMURA-KERR et al. Educação Física no ensino fundamental I: perspectivas de sistematização dos blocos de conteúdos temáticos. Curitiba: CRV, 2017. SANCHES NETO et al (orgs). Educação Física escolar e perspectivas de intervenção. Curitiba: CRV. v. 7, 2016. SÃO PAULO. Secretaria Estadual de Educação. Proposta pedagógica curricular: Educação Física e Cadernos do Professor. São Paulo: SEE, 2008. SILVA, et al (orgs). Manifestações culturais radicais nas aulas de educação física escolar. Curitiba: CRV. v. 15, 2016 VENÂNCIO, L. Projeto político pedagógico e a educação física escolar no processo de construção coletiva. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro- SP, 2005. VENANCIO, L. et al (orgs) Educação Física no ensino fundamental II: saberes e experiências educativas de professores(as)-pesquisadores(as). CURITIBA: CRV, v.29, 2017. 14 BLOCO 2: EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NO ENSINO FUNDAMENTAL I Caros alunos e alunas! Nesta Unidade, estudaremos sobre a Educação Infantil e oEnsino Fundamental I, que tem experimentado, nas últimas décadas, constantes processos de mudanças e debates sobre concepções da criança, da infância, do currículo, da avaliação, da proposta pedagógica, da formação docente e das políticas públicas. A partir das bases legais, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e para a Educação Básica, os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular, os quais serão tratados no decorrer desta Unidade, foram documentos que contribuíram para a sistematização, a normatização e as orientações do trabalho com as crianças da primeira e segunda infância, em busca da formação integral delas e da construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva visando a uma educação de qualidade. A partir das leis que fundamentam as ações da Educação Física na Educação Básica, vamos discutir como são estas crianças em relação os aspectos cognitivos, motores, afetivos e sociais de maneira que possamos elaborar as estratégias de aula de maneira mais coerente e eficaz para uma aprendizagem significativa. Bons estudos! 2.1 Aspectos legais da Educação Infantil e a Educação Física escolar Em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) o Referencial integrou a série de documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais elaborados pelo Ministério da Educação e do Desporto publicado em 1998. O documento foi construído a partir de um amplo debate nacional, com professores e diversos profissionais que trabalhavam diretamente com as crianças, contribuindo com conhecimentos diversos advindos da experiência prática, da reflexão e produção acadêmica, científica e 15 administrativa entre outros. Para BRASIL (1998), a publicação do documento representou um avanço na educação infantil ao buscar soluções educativas para a superação, de um lado, da tradição assistencialista das creches e, de outro, da marca da antecipação da escolaridade das pré-escolas. A proposta do Referencial foi instrumentalizar as práticas pedagógicas acerca de seus objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam com crianças de zero a seis anos, respeitando a diversidade cultural brasileira, a especificidade de cada instituição e propondo uma constante discussão da comunidade escolar em parceria com as famílias. Com base no Parecer CNE/CEB nº 20/2009, a Resolução CNE/CEB 5/2009 fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, como previsto no: As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil articulam-se com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos e procedimentos definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para orientar as políticas públicas na área e a elaboração, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares. O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. As propostas pedagógicas da Educação Infantil deverão considerar que a criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados, que educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. 16 As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, garantindo experiências que: I. promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais II. favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens III. possibilitem às crianças experiências de narrativas IV. recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais; V. ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas; VI. possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar; VII. possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da diversidade; VIII. incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza; IX. promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura; X. promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais; XI. propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras; XII. possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e midiáticos. O Ministério da Educação e Cultura (MEC) apresenta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, em consonância com o que define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996) e indica conhecimentos e 17 competências que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN), a BNCC soma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento na Educação Infantil proposto pela Base Nacional Comum Curricular Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. Brincar de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), de forma a ampliar e diversificar suas possibilidades de acesso a produções culturais. A participação e as transformações introduzidas pelas crianças nas brincadeiras devem ser valorizadas, tendo em vista o estímulo ao desenvolvimento de seus conhecimentos, sua imaginação, criatividade, bem como de suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolhadas brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de Elder Realce 18 cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. 2.2 Aspectos legais do Ensino Fundamental I e a Educação escolar A Educação Física na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no ano de 1961 torna-se obrigatória nos cursos de grau primário e médio até a idade de 18 anos, porém é facultativa no período noturno e para pessoas com mais de 30 anos de idade, que estejam prestando serviço militar ou que sejam fisicamente incapacitados. Desta forma, não havia nenhum comprometimento formativo educacional. No ano de 1996, a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. Neste documento não fica claro quais serão os profissionais que ministram as aulas, se será ministrada em todas as séries da Educação Básica. Em decorrência, São Paulo e alguns estados em 2002 promulgaram uma lei que estabeleceu a obrigatoriedade da Educação Física em todas as séries, e ainda, que as mesmas fossem ministradas por professores licenciados em Educação Física. Com a consolidação dos Parâmetros Curriculares Nacionais foi reconhecida que o ensino da disciplina tem objetivo e conhecimentos próprios presentes nas manifestações culturais, integrando o aluno(a) na Cultura Corporal de Movimento. Possui como proposta de trabalho formar um aluno(a) competente no uso do conhecimento sistemático, crítico em relação ao contexto, consciente no uso de diferentes linguagens, criativo, autônomo, capaz de usar a liberdade com responsabilidade, e emancipado porque é capaz de analisar e julgar as questões como ser crítico. As propostas de trabalho devem estar articuladas ao Projeto-Político-Pedagógico, construindo uma prática pedagógica centrada na participação do aluno. A ela cabem o ensino dos Elementos culturais, Práticas Corporais ou Unidades temáticas, quais sejam: Esportes, Jogos, Atividades rítmicas e expressivas, Lutas, Conhecimentos sobre o corpo, Ginásticas, os quais devem ter suas aulas elaboradas por meio das dimensões dos conteúdos: conceitual, procedimental e atitudinal. Elder Realce 19 Com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular e o Ensino Fundamental I na Educação Física, em 2017, a intervenção docente e orientações didáticas sobre as unidades temáticas devem ser estabelecidas pela dimensão dos conhecimentos, quais sejam: Experimentação: refere-se à dimensão do conhecimento que se origina pela vivência das práticas corporais, pelo envolvimento corporal na realização das mesmas; Uso e apropriação: refere-se ao conhecimento que possibilita ao estudante ter condições de realizar de forma autônoma uma determinada prática corporal. Fruição: implica na apreciação estética das experiências sensíveis geradas pelas vivências corporais, bem como das diferentes práticas corporais oriundas das mais diversas épocas, lugares e grupos. Reflexão sobre a ação: refere-se aos conhecimentos originados na observação e análise das próprias vivências corporais e daquelas realizadas por outros. Vai além da reflexão espontânea, gerada em toda experiência corporal. Trata-se de um ato intencional (...). Construção de valores: vincula-se aos conhecimentos originados em discussões e vivências no contexto da tematização das práticas corporais, que possibilitam a aprendizagem de valores e normas voltadas ao exercício da cidadania em prol de uma sociedade democrática. Análise: está associada aos conceitos necessários para entender as características e funcionamento das práticas corporais (saber sobre). Compreensão: está também associada ao conhecimento conceitual, mas, diferentemente da dimensão anterior, refere-se ao esclarecimento do processo de inserção das práticas corporais no contexto sociocultural, reunindo saberes que possibilitam compreender o lugar das práticas corporais no mundo. Protagonismo comunitário: refere-se às atitudes/ações e conhecimentos necessários para os estudantes participarem de forma confiante e autoral em decisões e ações orientadas a democratizar o acesso das pessoas às práticas corporais, tomando como referência valores favoráveis à convivência social. As unidades temáticas dos 1º e 2º anos, propostas pela Base são: Brincadeiras e jogos da cultural popular no contexto comunitário e regional; Esportes de marca e Esportes de precisão; Ginástica geral; Danças do contexto comunitário e regional. Para os 3º, 4º e 5º anos são: Brincadeiras e jogos populares do Brasil e do mundo, Brincadeiras e jogos da matriz indígena e africana; 20 Esportes de campo e taco, Esportes de rede/parede, Esportes de invasão, Danças do Brasil e do mundo, Danças da matriz indígena e africana, Lutas do contexto comunitário e regional, Lutas da matriz indígena e africana. 2.3 Aspectos cognitivos e motores dos alunos de três a dez anos Brasil (1998) discute que as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constrói em cópia da realidade, mas sim como fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação. Assim, a criança aprende a partir do significado que ela atribuíra aos diversos estímulos presentes em seu cotidiano e principalmente se partir de seu interesse, esta descoberta será muito mais explorada e cada vez mais terá novo significado. Piaget (1975) nos sinaliza que o faz-de-conta é importante pela aquisição de símbolos; alterando o significado dos objetos e situações, criam-se novos significados que desenvolvem a função simbólica, elemento que garante a racionalidade do ser humano. Concordando com o autor, utilizando-se do faz-de-conta à criança atribui ressignificados às diversas situações vivenciadas. Por exemplo, um lápis num primeiro contato tem sua própria função, mas em fração de segundos vira um avião, um super-herói etc., voltando a ser novamente o lápis quando a criança encerra a sua brincadeira. O faz-de-conta está presente no cotidiano da criança, onde o corpo na maioria das vezes é o responsável para representá-lo, sendo ele o sujeito representativo das fantasias e brincadeiras realizadas pela criança, refletindo assim no planejamento de suas ações, antecipações e aprendizagem. Piaget (1975) coloca que, quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso qualquer com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribuiu. Nesse sentido, a brincadeira como processo assimilativo é inserida no conteúdo da inteligência em que se distinguem a construção e as estruturas mentais da aquisição de conhecimento. A criança ajusta as novas informações que assimilou aos esquemas mentais já existentes, ou seja, acomoda-as. Assim as brincadeiras são importantes para o desenvolvimento cognitivo e adaptação do sujeito ao mundo. Piaget apresenta os períodos de desenvolvimentoda criança, sendo eles: 21 Período Sensório-Motor (zero a dois anos) É um período de adaptação e integração da criança ao mundo que a cerca através das percepções e das ações. Nesta fase só o corpo reage, por meio de reflexos inatos. É uma etapa de isolamento e indiferenciação (o mundo é ela). Evolutivamente, ocorre o aprimoramento dos movimentos reflexos; a criança adquire habilidades e no final desta fase a criança já se percebe como participante do mundo. A inteligência é eminentemente prática, baseada essencialmente na experiência imediata através dos sentidos e do movimento. Como ainda não existe a linguagem verbal, para que haja menção das experiências e recordação de acontecimentos e ideias, as crianças ficam restritas à experiência imediata, não conseguindo categorizá-las. Pré-operatório (dois a sete anos) Capacidades de representação de objetos. A criança já não está limitada ao seu meio sensorial. É capaz de manejar o seu ambiente simbólico através das suas representações ou pensamentos acerca da realidade. Da mesma forma, é capaz de representar os objetos por palavras e manipular as palavras mentalmente. É o período mais importante do desenvolvimento, e está dividido em simbólico e intuitivo. - Período Simbólico – (dois a quatro anos). O que determina o início deste período é o surgimento da linguagem verbal. Além da linguagem, surgem o desenho, a imitação, etc. Criam-se imagens mentais na ausência do objeto ou da ação. É também o período do animismo. A socialização é vivenciada de maneira isolada, embora dentro do grupo. Não existem líderes e os pares são invariavelmente modificados. Compreensão da causa e efeito - já são capazes de compreender além das ocorrências específicas no ambiente físico, contextos sociais mais complexos; Capacidade para classificar ou agrupar objetos – ainda fazem as classificações a partir do seu eu e da sua relação com o mundo; Coordenação motora evoluída Egocentrismo 22 Aos 4 anos, começa a expressar sua vez, brinca em pequenos grupos. Aos 5 anos, gosta de estar com outras crianças, pode facilmente ser motivada ou desmotivada. Aos seis anos, dificuldade em aceitar fracassos (construção do eu). Expressa desejos por jogos, adivinhações e pequenos jogos. Há transformações no mundo real; começa a desligar-se da família, já se relaciona com outras crianças. Período Operatório Concreto (sete aos doze anos) pensamento lógico. o Real sai do lúdico; o Maior facilidade de pensar com elementos concretos; o Pensamento baseado no raciocínio e na percepção; o Compreensão de pequenas regras. Vygotsky (1994) também estudou a construção do pensamento da criança; na concepção do autor, pensar significa lembrar. O desenvolvimento mental de uma criança pode ser determinado então a partir dos seus dois níveis: O nível de desenvolvimento proximal (o que uma criança pode fazer com assistência hoje); O nível de desenvolvimento real (o que a criança será capaz de fazer sozinha amanhã). Assim, o aprendizado é um aspecto necessário do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. A imitação é o resultado da capacidade da criança de observar e aprender com os outros e de seu desejo de se identificar com eles, ser aceita e de diferenciar. E a oposição, em certo sentido, significa diferenciar-se do outro, afirmar o seu ponto de vista, os seus desejos. A imitação é característica predominante desta faixa etária; a criança utiliza-se deste recurso para observar, e especialmente se for atrativo e partir das pessoas de seu meio afetivo, será reproduzido inicialmente com ações mais simples, à medida que for adquirindo habilidades para 23 a sua compreensão torna-se mais complexo, e com novos significados. Assim, construir o conhecimento significa reorganizar estruturas mentais, e esse processo é fruto da atividade da criança que interage com o mundo à sua volta. De acordo com Brasil (1998), no período de desenvolvimento infantil consta-se uma ampliação do repertório motor da criança, à medida que os estímulos e as oportunidades são propiciados. Estas ampliações ocorrem através da exploração do corpo com o espaço e da manipulação da criança com os objetos a sua volta, desenvolvendo assim as diversas possibilidades que o corpo poderá lhe oferecer para manipulá-los (recortar, colar, apalpar, rasgar, desmontar, encaixar pequenas peças, imitar, acariciar, rebater etc.). Aliado com estas ações estão a tendência lúdica e as ressignificações que a criança vai atribuindo a partir da interação com os objetos, ampliando as possibilidades de criação e transformação. Para Harrow (1983), o desenvolvimento motor segue uma sequência, passando pelos seguintes níveis: Movimentos reflexos, que são ações involuntárias, funcionais já ao nascimento e que se desenvolvem pela maturação; são os precursores dos movimentos fundamentais. Movimentos básicos ou fundamentais: desenvolvem-se naturalmente, com a exploração e a prática da criança. Harrow (1983) elaborou uma taxionomia (classificação) para o desenvolvimento motor. Assim: Habilidades básicas 2 a 6 anos: atividades voluntárias que permitem a locomoção e manipulação em diferentes situações, caracterizadas por uma meta geral, servindo de base para aquisição futura de tarefas mais complexas, como andar, correr, saltar, arremessar, chutar, etc. Habilidades específicas 7 aos 12 anos: atividades motoras voluntárias mais complexas e com objetivos específicos, como por exemplo o chute no futebol, o rebater no tênis, a ginga na capoeira, etc. 24 Gallahue (1982) organiza a sequência do desenvolvimento motor e faixa etária aproximada para cada fase de desenvolvimento. Vale ressaltar que o desenvolvimento dessas habilidades está em constante processo de progressão, o que dependerá muito da maturação, das experiências e dos estímulos vivenciados pela criança. De acordo com Gallahue e Ozmun (2001), as habilidades motoras fundamentais podem ser organizadas em três categorias: Habilidades Locomotoras: movimentos que indicam uma mudança na localização do corpo em relação a um ponto fixo na superfície. Ex: caminhar, correr, saltar, saltitar, etc. Habilidades Manipulativas: movimentos de manipulação motora, como tarefas de arremesso, recepção, chutes (manipulativas grossas) e costurar, cortar (manipulativas finas). Habilidades Estabilizadoras ou de Equilíbrio: a criança na tentativa é envolvida em constantes esforços contra a força da gravidade na tentativa de manter a postura vertical. Ex.: girar braços e tronco, flexionar o tronco, entre outros. A apresentação das habilidades apresentadas não sinaliza um trabalho subsidiado pela repetição e mecanismo dos gestos e ou movimentos, muito pelo contrário, as experiências anteriores devem ser consideradas neste processo, pois ao ingressarem na escola as crianças apresentam uma série de conhecimento sobre a cultura corporal de movimentos expressos em suas formas principalmente de brincadeiras e jogos. Nesta perspectiva, em cada período de desenvolvimento é esperado que a criança tenha Tabela 2.1: Idade x desenvolvimento motor Idade Característica Motora 7-11 anos Habilidades Específicas 2-6 anos Habilidades Básicas Fonte: elaborada pelas autoras. Elder Realce 25 possibilidades de realizar os movimentos básicos, mas são de suma importância as suas experiências motoras e o ambiente em que ela vem se desenvolvendo, o qual compõe sua cultura. A proposta não é a padronização dos movimentos da criança de acordo com a idade, a partir da classificação apresentada pelos autores. Assim, ao nos depararmos com crianças de diversas culturas e experiências motoras, é preciso considerar não a exatidão de movimento em cada faixa etária, mas o simples fato de realizá-lo. Independentementede estar ou não de acordo com o esperado para a sua idade, é fundamental considerar os aspectos que antecedem a realização dos movimentos (ambiente e cultura) no qual essa criança está inserida. Brasil (1994) coloca que as práticas culturais predominantes e as possibilidades de exploração oferecidas pelo meio no qual a criança vive permitem que ela desenvolva as capacidades e construa repertórios próprios. 2.4 Aspectos afetivos e sociais dos alunos de três a dez anos De acordo com Referencial Curricular Nacional (BRASIL, 1998), a criança é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. O Referencial Curricular Nacional nos apresenta ainda que a construção do conhecimento não constitui em cópia da realidade, mas sim fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação da criança. O desenvolvimento da capacidade de se relacionar depende, entre outras coisas, da oportunidade de interação das crianças com a mesma idade ou de idades diferentes em situações diversas. Dessa forma, a partir das interações com as pessoas em seu meio, a criança vai compreendendo o mundo a sua volta, construindo seu conhecimento a partir das relações que estabelecem com outras pessoas e com o meio social em que vive. De acordo com Freire (1989), a criança em sua primeira infância é muito centrada nela mesma. Esta característica egocêntrica tem uma predominância ainda maior no contato com outras crianças; surgem então os conflitos, as discussões e a disputa pelo mesmo desejo, apresentando dificuldade em dividir o mesmo espaço ou objeto. Um exemplo é quando a criança está brincando com o seu objeto e uma outra pega para também brincar, dá-se então o início do discurso (é meu, não dou, é só meu!). 26 Segundo Freire (1989), a autocentração é a marca característica da criança. Esse é um aspecto que vai sendo modificado pouco a pouco e se o espaço da escola permitir que a criança aja em liberdade e o ambiente de sua casa não comprometê-la fisicamente e intelectualmente ela chegará ao ensino fundamental razoavelmente socializada e estabelecendo troca com seus pares. O ambiente familiar estará auxiliando a criança para um melhor convívio com outras pessoas e em outros ambientes; por sua vez, se a escola permitir a liberdade corporal da criança estará também contribuindo para a modificação deste aspecto. A aprendizagem para a criança precisa ser significativa, e o significado nesta idade depende muito da ação corporal. E em relação a esta em particular o professor de Educação Física encontra-se numa situação privilegiada, pois o corpo em movimento é, sobretudo, a essência de seu trabalho. 2.5 Aprendizagem significativa e a prática reflexiva nas aulas de Educação Física A Educação Física enquanto componente curricular da Educação Básica e objeto de estudo, tem passado por longas discussões e ressignificações e apresentado diferentes abordagens que visam direcionar o trabalho do professor na escola. Ao longo da sua história, tem-se pautado em perspectivas pedagógicas de cunho procedimental (execução de movimentos - o fazer), sem a preocupação de contextualizar com os alunos o significado de tais ações, ou seja, não são oferecidas aos alunos justificativas e/ou explicações sobre o porquê fazer as atividades propostas, como e o quanto fazê-las. Nessa perspectiva de trabalho, o professor assume a característica social de um “educador do físico” (OLIVEIRA, 1993, p. 8), que objetiva a preparação de atletas, o condicionamento físico, o treinamento, etc., demonstrando e/ou verbalizando os movimentos que serão realizados pelos alunos, sem que estes tenham participação na elaboração dos conhecimentos. Este modelo tradicional de Educação Física, vigente até meados da década de 80, caracterizava-a como uma disciplina prática, que priorizava a repetição de movimentos esportivos e/ou a recreação (DARIDO & SANCHES NETO, 2005). Desta forma, ignorava a concepção da Educação Física enquanto disciplina curricular e estabelecia, segundo Neira e Nunes (2009), uma relação pedagógica hierarquizada em que o aluno é educado e treinado para seguir atentamente a exposição do professor. 27 Mesmo com o surgimento de novos referenciais teóricos, a ocorrência de aulas que priorizam a prática motora, na maioria das vezes esportivizada, ausente de sentido e significado para os alunos (MARIZ DE OLIVEIRA, 1991), parece ainda predominar em nossas escolas. Galvão (apud DARIDO, 2004, p. 63) analisou a opinião de 110 alunos que pediram dispensas das aulas de Educação Física por motivos de trabalho e saúde e constatou que 78% destes alunos acreditavam que a Educação Física na escola transmite pouco ou nenhum conhecimento. Uma das consequências desta ausência de conhecimentos na Educação Física Escolar é a de que esta, além de não atingir os objetivos propostos, pode vir a se tornar uma disciplina desinteressante sobretudo para os alunos das últimas séries do Ensino Fundamental e de todo o Ensino Médio, tal como constatado em um estudo de Ulasowicz e Peixoto (2004), com alunos de 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental II. O desinteresse pelo conteúdo proposto nas aulas desta disciplina levava-os a aproveitar este período para descansar, relaxar, bater papo, estudar ou fazer as tarefas de outras disciplinas, uma vez que a adesão às atividades da disciplina se faz pelos “mais habilidosos”. Numa breve entrevista destinada a avaliar o que os alunos pensavam sobre as aulas, as respostas revelaram algumas das maneiras pelas quais os entrevistados consideravam as aulas de Educação Física: É um momento de recreação serve para relaxar Aula que não precisa pensar para adiantar tarefas das outras disciplinas Só não é aula vaga porque tem professor. Corroborando estes dados, Mariz de Oliveira (2005) em sua exposição em dois Colóquios sobre Epistemiologia da Educação Física, promovidos pelo Conselho Federal de Educação Física, apresentou dados sobre o conceito do componente curricular Educação Física coletado durante os últimos 15 anos como professor do curso de graduação em Educação Física. Esta coleta foi realizada nos primeiros contatos com alunas e alunos ingressantes no curso, desde 1985, e como parte do programa da disciplina Introdução à Educação Física. Aos ingressantes foi solicitado que discorressem, individualmente e por escrito, sobre as aulas de Educação Física a eles ministradas enquanto alunos da Educação Escolar Básica. Verificou-se que o relato de aproximadamente 89% dessas alunas e alunos revelou uma atitude de desaprovação, descontentamento, sensação de perda de tempo, desinteresse, desmotivação, repetição de conteúdo, entre outros. Num outro estudo, conduzido por Martinelli et al. (2006), com o objetivo de identificar os motivos pelos quais 15 alunas do Ensino Médio de uma escola de ensino particular da capital de 28 São Paulo não gostavam de participar das aulas de Educação Física, verificou-se que apenas as modalidades voleibol, basquetebol, handebol e futsal são trabalhadas durante as aulas em forma de jogos, sem a vivência anterior das habilidades necessárias para a prática destes esportes, o que pode ter contribuído para a pouca motivação para a pratica destes jogos. Neste mesmo estudo, nove das 15 alunas afirmaram não praticar atividades extraescolares por considerarem-nas “inúteis” para suas vidas, demonstrando, assim, falta de conhecimento sobre os benefícios da prática de atividades físicas. Outro grande problema desta forma de organizar as aulas de Educação Física é o de que as atividades esportivas desenvolvidas têm um fim em si mesmas, o que determina a seleção apenas dos mais aptos e a exclusão dos demais alunos, talvez os mais necessitados da prática de atividades físicas regulares.Torna-se, assim, uma prática educativa não significativa e/ou excludente para a maioria dos alunos “não habilidosos”, segundo a avaliação de seus professores, contrariando o disposto dos Parâmetros Curriculares Nacionais que determina A atividade deve adequar-se ao aluno, e não o aluno à atividade. O professor que se mantiver rígido em atividades que não despertem qualquer interesse dos alunos termina por afastá-los da disciplina (BRASIL, 2006; p.157). E completa: O aprofundamento de conhecimentos não pode estar centrado somente nos interesses dos alunos, mas deve explorar as possibilidades de aprendizagens significativas (grifo nosso), que articulem simultaneamente o conhecimento e a compreensão de si mesmo, do outro e da realidade sociocultural. (p. 160). Para Libâneo (1994), o tipo de atividade que pressupõe a transmissão de informações aos alunos, reproduzindo-as por meio de repetição mecânica deve ser evitada. Este autor afirma que o trabalho docente, entendido como atividade pedagógica que assegure aos alunos um domínio duradouro dos conhecimentos ensinados, deve se fazer com que as informações aprendidas sejam utilizadas na prática da vida cotidiana dos alunos fora da instituição escolar, ou seja, no trabalho e na sociedade. Ressalta ainda que o professor deve criar condições para que os alunos desenvolvam capacidades e habilidades a fim de se tornarem autônomos no processo de aprendizagem. Freire (2001) salienta que o desenvolvimento da autonomia deriva da possibilidade de o indivíduo escolher aquilo que julga como mais adequado para si. Em se tratando do contexto escolar, decidir que informações são importantes para complementar do seu processo de aprendizagem. Afirma, também, que ter autonomia é uma condição essencial para as pessoas 29 serem livres para agir, tomar decisões, antecipar-se, regular, julgar e pensar, segundo suas próprias determinações, valores e necessidades. Para o autor, só é autônomo aquele que pode escolher dentre as opções que lhe forem oferecidas a partir de uma base de conhecimentos (grifo nosso) diversificada, ou seja, o aluno que tiver mais disponibilidade de opções terá mais possibilidades de escolha. Okuma 1, refletindo sobre o ensinar autonomia em um programa de Educação Física também considera que quanto mais conhecimento a pessoa tem maior será sua autonomia. No entanto, para que esta autonomia seja desenvolvida é necessário que o aprender seja significativo, a fim de que os alunos se sintam motivados a usar tal conhecimento em situações da vida cotidiana e decidir sobre suas escolhas. Segundo Ausubel (2003), a aprendizagem é facilitada pela organização cuidadosa das matérias e das experiências de ensino e requer uma integração entre a nova informação e os conceitos e/ou idéias já existentes na estrutura cognitiva do aluno. De acordo com Moreira (1988), a estrutura cognitiva está em constante reestruturação durante a aprendizagem significativa e é um processo dinâmico. Para este autor aprender significativamente implica atribuir significados e estes têm sempre componentes pessoais. Por outro lado, se aprendizagem é realizada sem atribuição de significados pessoais, sem relação com o conhecimento preexistente, é mecânica, não significativa. Neste tipo de aprendizagem, a nova informação é armazenada de maneira arbitrária e literal na mente do indivíduo, não interage com a estrutura cognitiva preexistente e, consequentemente, não adquire significado. De acordo com Zabala (1999), a aprendizagem significativa não é uma aprendizagem acabada, pois envolve a contribuição daquele que aprende, de seu interesse, dos conhecimentos prévios e de sua experiência pessoal. Aos conhecimentos já existentes na estrutura cognitiva do aluno(a) damos o nome de conhecimentos prévios. Esses conhecimentos são definidos por Pozo (2002, p. 39) como ...construções pessoais dos alunos, ou seja, foram elaborados de modo mais ou menos espontâneo na sua interação cotidiana com o mundo. As novas informações só podem ser aprendidas significativamente a partir de elaborações e representações pessoais, agrupando o novo conteúdo a algum conhecimento antigo, promovendo, assim, uma reorganização do conhecimento. Que seja, [...] os alunos e alunas não aprendem apesar de seus conhecimentos prévios, mas por meio deles[...] (MAURI, 1996, p.98) 1 OKUMA, S.S. (org). O Programa Autonomia para Atividade Física. Livro em fase de conclusão. 30 Segundo Freire (1989), é fundamental que o processo ensino-aprendizagem comece a partir do que os alunos já conhecem, ou seja, ensinar exige respeito aos saberes do educando (FREIRE, 2001, p. 33). As atividades propostas pelo professor devem sugerir novas situações, mas que tenham relação com algo familiar ao aluno, gerando conflitos entre a informação anterior já elaborada interiormente e a nova informação (POZO, 2002). Em resumo, a aprendizagem é uma construção pessoal que requer que o aprendiz atribua significado a um determinado objeto de ensino e somente se efetiva quando aquilo que se aprende é potencialmente significativo e é possível estabelecer vínculos com outras aprendizagens (Solé, 1996). Como afirma Velardi (1997, p. 8) o que é vivido só se efetiva enquanto aprendizagem quando se incorpora ao ser, quando é associado a outras situações cotidianas. É preciso retomar e recuperar aquilo que o aluno já conhece, fazendo o conhecimento transformar-se em algo significativo em suas vidas. Referências AUSUBEL, D.P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Lisboa: Plátano, 2003. BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Brasília: MEC/SEB, 2006. v.1. Linguagens, códigos e suas Tecnologias. DARIDO, S. C. A educação física na escola e o processo de formação dos não praticantes de atividade física. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 18, n. 1, p. 61-80, 2004 DARIDO, S.C; SANCHES NETO, L. O Contexto da Educação Física na Escola. In: DARIDO, S. C; RANGEL, I. C. A. (Org.) Educação Física na Escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 1-24. FREIRE, E. S. Educação Física e o conhecimento escolar nos quatro anos iniciais do ensino fundamental. 1999. 90 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. 31 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 19. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001. LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. MARTINELLI, C. R. et al. Educação Física no Ensino Médio: motivos que levam as alunas a não gostarem de participar das aulas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v.5, n. 2, p. 13-19, 2006. MARIZ DE OLIVEIRA, J. G. Educação física escolar: construindo castelo de areia. Revista Paulista de Educação Física, v.5, n. 1/2, p. 5-11, 1991. ____ Significado e objetivo da educação física no ensino fundamental. In: SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, 5., São Paulo, SP, 1999. Anais...São Paulo, SP: Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. p. 17-18, 1999. MAURI, T. O que faz com que o aluno e a aluna aprendam os conteúdos escolares? In: COLL, C. (Org.) O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996. MOREIRA, M. A. Mapas conceituais e aprendizagem significativa, 1988. Disponível em: http://www2.iq.usp.br/docente/famaxim/disciplina/integrada/mapasport-Moreira.pdf. Acesso em 5 novembro de 2018. NEIRA, M.G.; NUNES, M. L. F. Educação Física, Currículo e Cultura. São Paulo: Phorte Editora, 2009. POZO, J. I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: ArtMed, 2002. SOLÉ,I. Disponibilidade para aprendizagem e sentido para a aprendizagem. In: COLL, C. (Org). O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996. ULASOWICZ, C.; PEIXOTO, J. R. P. Conhecimentos conceituais e procedimentais na Educação Física escolar: a importância atribuída pelo aluno. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 3, n. 3, p. 63-76, 2004. VELARDI, M. Metodologia de ensino em educação física: as contribuições de Vygotsky para as reflexões sobre um modelo pedagógico. 1997. 186 f. Dissertação (Mestrado) - Campinas, 1997. Dissertação Mestrado UNICAMP. http://www2.iq.usp.br/docente/famaxim/disciplina/integrada/mapasport-Moreira.pdf.%20Acesso%20em%205%20novembro%20de%202018 http://www2.iq.usp.br/docente/famaxim/disciplina/integrada/mapasport-Moreira.pdf.%20Acesso%20em%205%20novembro%20de%202018 32 BLOCO 3: PRINCÍPIOS CURRICULARES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Caros alunos e alunas! Nesta Unidade, estudaremos sobre os princípios curriculares que norteiam as ações de ensino- aprendizagem na Educação Física escolar. Nos dias atuais, as orientações do trabalho a ser realizado pelos profissionais que atenderão as crianças visando seu pleno desenvolvimento (psico-sócio-cultural-motor-afetivo) estão inseridas nos documentos federais, quais sejam: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e para a Educação Básica, Parâmetros Curriculares Nacionais e, mais recentemente, Base Nacional Comum Curricular. Em ambos os documentos, estabelece-se que a criança deva ser integrada numa articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, de modo a ampliar suas experiências sensoriais, expressivas e corporais. A Educação Física, com o objetivo de ampliar tais experiências, propõe intervenções a esta população por meio de uma proposta pedagógica em que sejam enfatizadas as dinâmicas de corpo e do ambiente, relacionando-as com o movimento e a cultura. Para isto, torna-se importante estabelecer os princípios que organizam esta proposta de intervenção, chamados de princípios curriculares, os quais servem para direcionar o trabalho do professor na instituição e que serão discutidos nesta Unidade. Bons estudos! 3.1 A importância do planejamento na prática docente O planejamento de ensino é uma construção que orienta a ação docente dando direção a prática do professor para alcançar os objetivos propostos no ano letivo. O Coletivo de Autores (1992, p.31) contribui com a indicação de princípios curriculares no trato com o conhecimento, apontando princípios de seleção do conteúdo de ensino, “que remetem à necessidade de organizá-lo e sistematizá-lo fundamentado em alguns princípios metodológicos, 33 vinculados à forma como serão tratados no currículo, bem como à lógica com que serão apresentados aos alunos”. Os princípios curriculares, quais sejam: objetivos – importância do que será ensinado; conteúdos – o que será ensinado; estratégias – como será ensinado; avaliação – o que será observado; articulam-se, não podendo ser compreendidos isoladamente. Ao contrário, eles têm a função de orientar a definição e organização do currículo escolar, bem como o trabalho educativo desenvolvido nas escolas. Por sua vez, é importante salientar que o planejamento é algo flexível e deve ter contemplados no seu desenvolvimento, além dos objetivos da disciplina, os objetivos definidos no projeto político pedagógico da instituição. SAIBA MAIS O Profº Dr. Marcos Garcia Neira, professor de Educação Física e atual diretor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, reflete sobre a importância do planejamento na Educação Física Cultural. Vídeo: Planejamento na Educação Física Cultural Disponível em: https://youtu.be/PtnKPHzxs7I 3.2 Objetivos de ensino Retomando os conteúdos discutidos na disciplina Metodologia de ensino, os objetivos educacionais, segundo Libâneo (1994), podem ser de dois níveis: objetivos gerais e objetivos específicos, a serem propostos no plano de ensino. Os objetivos gerais representam o que queremos que o aluno(a) aprenda, de modo mais geral, por exemplo, conhecer e compreender os jogos e brincadeiras da cultura popular brasileira. Por sua vez, os objetivos específicos apresentam, de forma minuciosa, detalhada, as ações que se pretende alcançar e estabelecem estreita relação com as particularidades relativas à temática trabalhada, por exemplo, conhecer e compreender os jogos e brincadeiras da cultura popular brasileira; incorporando-as nas atividades do dia a dia da criança; ser capaz de ensinar e refletir sobre os jogos e brincadeiras da cultura popular e compartilhar o conhecimento adquirido; reconhecer os jogos e brincadeiras da cultura popular como atividades para seu bem-estar e qualidade de vida. 34 Discutimos no Bloco 1- Introdução à Educação Física que cada concepção da área possui um objetivo específico que representa a sua atuação na escola, por exemplo, na concepção Desenvolvimentista o objetivo é o de otimizar o comportamento; na concepção Crítico- emancipatória é o de melhorar o pensamento crítico e autônomo do aluno. Porém, a finalidade da Educação Física escolar atual é a de Inserir o aluno(a) na Cultural Corporal de Movimento. Diversos autores discutem os princípios da Educação Física na Educação Infantil, porém é primordial que estas propostas garantam à criança: acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens; direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças; tenham como princípios norteadores as interações e as brincadeiras. Em relação ao ensino fundamental I, as propostas que norteiam a área devem garantir que o processo de ensino-aprendizagem seja desenvolvido com propostas para além do “saber fazer” (conteúdo procedimental). Nas palavras dos autores Kunz e Trebels (2006, p.116), a Educação Física deve: [...] relacionar, diferenciar, aproximar semelhanças, transformar, apreciar, virtualizar, politizar, analisar, ler, ilustrar, desconstruir e construir novas possibilidades que o esporte (grifo nosso) pode proporcionar considerando o Se-Movimentar dos corpos-próprios. Considera-se que nas palavras de Kunz, o esporte possa ser substituído por práticas corporais. Os documentos federais que direcionam os princípios curriculares das disciplinas na escola são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Educação Física é um componente curricular que possui oito objetivos no contexto escolar: 1) participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; 2) adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, repudiando qualquer espécie de violência; 3) conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso para a integração 35 entre pessoas e entre diferentes grupos sociais; 4) reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de recuperação, manutenção e melhoria da saúde coletiva; 5) solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos, regulando e dosando o esforço em um nível compatível com as possibilidades, considerando que o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das competências corporais decorrem de perseverança e regularidade e devemocorrer de modo saudável e equilibrado; 6) reconhecer condições de trabalho que comprometam os processos de crescimento e desenvolvimento, não as aceitando para si nem para os outros, reivindicando condições de vida dignas; 7) conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e estética corporal que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisando criticamente os padrões divulgados pela mídia e evitando o consumismo e o preconceito; 8) conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) insere a Educação Física na área de linguagens e estabelece onze competências específicas para este componente curricular, quais sejam: 1) compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual; 2) planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo; 3) considerar as práticas corporais como fonte de legitimação de acordos e condutas sociais, e sua representação simbólica como forma de expressão dos sentidos, das emoções e das experiências do ser humano na vida social; 4) refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais; 5) identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas; 6) identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes; 7) interpretar e recriar os valores, sentidos e significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam; 8) reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos, com base na análise dos marcadores sociais de gênero, geração, padrões corporais, etnia, religião; 9) usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, 36 ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde; 10) reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário; 11) utilizar, desfrutar e apreciar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. 3.3 Conteúdos de ensino Os conteúdos de aprendizagem são instrumentos de explicitação das intenções educativas. Segundo Zabala (1998), o termo pode ser entendido como tudo quanto se tem que aprender para alcançar determinados objetivos que abrangem não só as capacidades cognitivas. Para cada modelo de formação em Educação Física, como aponta Oliveira (2017), há conteúdos específicos a serem ensinados, por exemplo, no modelo Higienista/Militarista os principais conteúdos a serem ensinados são exercícios físicos e em aparelhos, calistenia; no modelo Psicomotricista os conteúdos propostos são atividades de lateralidade, esquema corporal, coordenação motora fina, observação em atividades recreativas; no modelo Esportivista o esporte; no modelo Construtivista o jogo; no modelo Desenvolvimentista atividades de manipulação, locomoção e estabilização; no modelo Crítico-superadora e Crítico-emancipatória jogos, esportes, capoeira, danças e ginásticas; nos Parâmetros Curriculares Nacionais esportes, jogos, lutas, ginásticas, atividades rítmicas e expressivas e conhecimentos sobre o Corpo; na Base Nacional Comum Curricular brincadeiras e jogos, danças, lutas, ginásticas, esportes e práticas corporais de aventura. Em resumo, os conteúdos a serem ensinados podem ser nomeados como práticas corporais, elementos culturais ou unidades temáticas (esta definida na proposta da nova base curricular) e devem ter como conteúdo de ensino comum o movimento corporal derivado de um produto cultural que possui diversidades e características diferenciadas. A partir destes conteúdos primários (práticas corporais), outros desdobramentos podem ser considerados no processo de ensino, por exemplo, benefícios da prática ao corpo (capacidades físico-motoras, capacidades cognitivas), contextos históricos, demandas ambientais etc. A partir da proposta apresentada por Sanches Neto (2003), um grupo de professores buscou reelaborá-la e estabelecer aspectos comuns em suas práticas por meio de um planejamento coletivo envolvendo quatro blocos temáticos de conteúdos, com o propósito de reduzir a incoerência entre intenções e ações na prática pedagógica. Tal proposta foi denominada 37 Sistematização de Conteúdos (SANCHES NETO et al., 2006) e pode ser utilizada pelos diferentes segmentos de ensino (educação infantil, ensino fundamental I, ensino fundamental II e ensino médio). Os blocos de conteúdos foram sistematizados seguindo um critério de complexidade a respeito do que os alunos devem aprender/apreender na Educação Física, bem como as relações dos conteúdos com as experiências e expectativas dos alunos. Tais blocos foram organizados da seguinte forma: Bloco 1 – Elementos culturais do movimento do corpo humano: brincadeira e jogo, esporte, dança, ginástica e circo, luta e capoeira, vivências e atividade da vida diária; Bloco 2 – Movimentos do corpo humano: habilidades de estabilização, habilidade de manipulação, habilidades de locomoção, combinação e especialização de movimentos, capacidade e treinamento, ritmo; Bloco 3 – Aspectos pessoais e interpessoais do movimento do corpo humano: anatomia e biomecânica, antropologia e psicologia, bioquímica e nutrição, embriologia e fisiologia, comportamento motor, saúde e patologia; Bloco 4 – Demandas ambientais do movimento do corpo humano: administração e economia, estética e filosofia, física e natureza, história e geografia, sociologia e política, virtual. Os autores propõem que os conteúdos sejam trabalhados de forma inter-relacionada entre os blocos temáticos para que o aluno seja conhecedor do que, do por que, do para que, do como fazer suas opções de vivências corporais, além de compreender os diferentes aspectos que as constituem. Como exemplo de inter-relação entre os blocos podemos citar um exemplo de aula que trabalhe o Bloco 1 – Elemento Cultural: Circo; Bloco 2 – Habilidade de estabilização: equilíbrio estático; Bloco 3 – Aspectos Pessoais e Interpessoais: anatomia do sistema nervoso; Bloco 4 – Demandas do ambiente: estética. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (n. 9.394/96 de 20 de Dezembro de 1996), os conteúdos pode ser classificados em: conceitual - o que os alunos devem saber, por exemplo, como o bom funcionamento do coração e dos pulmões colaboram para o envelhecimento saudável; procedimental – o que os alunos devem saber fazer, por exemplo, como realizar o movimento bandeja do basquete; atitudinal – o que os alunos devem aprender a ser, por exemplo, ter um bom relacionamento com os adversários em um jogo de futebol. Assim, a avaliação da aprendizagem deve estar em consonância com estas dimensões dos conteúdos. Já, na Base Nacional Comum Curricular (2017), as dimensões dos conteúdos são substituídas por dimensões do conhecimento, e estes devem compor as propostas de ensino e avaliação do 38 ensino: experimentação, fruição, construção de valores, compreensão, uso e apropriação, reflexão sobre a ação, análise e