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João Victor Haeckel Gomes Fraga Rocha ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA Recife 2018 João Victor Haeckel Gomes Fraga Rocha ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA Monografia apresentada ao corpo docente do Centro de Ciências e Tecnologia, da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Engenheiro Civil por esta mesma entidade. Orientador: Prof. Sérgio Dias Recife 201 João Victor Haeckel Gomes Fraga Rocha ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA Monografia apresentada ao corpo docente do Centro de Ciências e Tecnologia, da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Engenheiro Civil por esta mesma entidade. Orientador: Prof. Sérgio Dias Aprovado em : _____/_____/______ Orientador: Banca examinadora: Prof. Sérgio Dias Prof. Digite aqui o prof Eng. Digite aqui o prof (DEDICATÓRIA) A quem quer que seja. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me dado a vida, saúde e as forças necessárias para alcançar meus objetivos, dia após dia. Ao meu orientador Sérgio Dias, pelas orientações constantes. À minha família, meus pais, Gilberto e Olga, minhas irmãs Clarice e Marcela. Por serem a base de tudo para mim, por terem me dado sempre o suporte que precisei, sendo minha âncora nos momentos difíceis. A eles devo tudo o que sei e o que sou. Aos meus grandes amigos que conheci ao longo do curso, Rafael Viana, Luiz Fernando Anchar, Amâncio, Osvaldo, Lucas Audz e Plínio Cardoso que seguiram esta jornada juntos comigo, pela amizade, pelas divertidas horas de estudo, pela convivência e pelo incentivo. Espero que os rumos da engenharia civil jamais nos afastem demais e que cada encontro possa ser revivido como nos velhos tempos. E, por fim, a todos aqueles que fazem parte da minha vida e que não foram citados nesta página que, direta ou indiretamente, contribuíram para minha formação e concretização deste sonho. A todos os meus professores da Universidade Católica de Pernambuco que durante estes anos contribuíram para a minha formação como Engenheiro e colegas. Muito obrigado! ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA AUTOR: João Victor Haeckel Gomes Fraga Rocha ORIENTADOR: Sérgio Dias RESUMO O objetivo do trabalho é mostrar através de dados obtidos de projetos anteriores, a importância da consideração da interação solo estrutura, no que refere a termos de estabilidade global da estrutura. Para isso são apresentadas algumas equações de cálculo desenvolvidos para a análise do Sistema de Interação Solo-Estrutura. Esta dissertação apresenta uma análise e aprofundamento do estudo da interação solo-estrutura. É feita uma ampla revisão bibliográfica sobre os principais trabalhos desenvolvidos na área e sobre os métodos para a obtenção de parâmetros e variáveis envolvidos na análise. Os resultados obtidos neste trabalho mostraram a importância da consideração da deformabilidade do solo, ainda que de forma simplificada, em substituição à hipótese de apoios indeslocáveis nos projetos estruturais. Para uma análise estrutural mais realista em edifícios de múltiplos andares, recomenda-se que a interação solo-estrutura seja considerada juntamente com a sequência construtiva. São apresentados comparativos em termos de análise da estabilidade global entre os modelos que consideram a hipótese de apoios indeslocáveis e modelos que levam em conta a ISE, estudos sobre as variações que ocorrem nos valores dos esforços dos elementos estruturais e comportamento do recalque dos apoios da estrutura. Palavras-chave: Interação solo-estrutura, modelagem, recalque, análise estrutural, estabilidade global ANALYSIS OF INTERACTION ONLY STRUCTURE AUTHOR: João Victor Haeckel Gomes Fraga Rocha ORIENTER: Sérgio Dias ABSTRACT The objective of the work is to show through data obtained from previous projects, the importance of considering the interaction soil structure, in what refers to terms of global structure stability. For this, some calculation equations developed for the analysis of the Soil-Structure Interaction System are presented. This dissertation presents an analysis and deepening of the study of soil-structure interaction. A broad bibliographic review is done on the main works developed in the area and on the methods to obtain parameters and variables involved in the analysis. The results obtained in this work showed the importance of the consideration of soil deformability, albeit in a simplified way, replacing the hypothesis of indescribable supports in the structural projects. For a more realistic structural analysis in multi-storey buildings, it is recommended that soil-structure interaction be considered along with the constructional sequence. Comparative analyzes are presented in terms of global stability analysis between the models that consider the hypothesis of indescribable supports and models that take into account the ISE, studies on the variations that occur in the values of the efforts of the structural elements and behavior of the repression of the supports of the structure . Key-words: Soil-structure interaction, modeling, repression, structural analysis, global stability Sumário Sumário ................................................................................................................................................... 8 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 11 1.1 Objetivos ................................................................................................................................ 13 1.2 Metodologia e Estratégia de ação.................................................................................................. 13 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................... 14 2.1Conceitos fundamentais ................................................................................................................. 14 2.2 interação solo-estrutura ................................................................................................................ 15 2.2 Efeitos da interação solo-estrutura ............................................................................................... 18 2.2.1 Redistribuição dos esforços .............................................................................. 18 3. FATORES QUE INFLUENCIAM A INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA ........................................ 20 3.1 Influência do tempo ...................................................................................................................... 20 3.2 Rigidez relativa estrutura-solo ...................................................................................................... 22 3.3 Número de pavimentos ................................................................................................................. 24 3.4 Edificações vizinhas ..................................................................................................................... 25 3.5 Processo construtivo ..................................................................................................................... 28 4 RECALQUES .....................................................................................................................................31 4.1 Tipos de recalques ........................................................................................................................ 31 5 HISTÓRICO ....................................................................................................................................... 32 6 MODELAGEM DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA .................................................................. 37 6.1 Método de Winkler....................................................................................................................... 38 6.2 Modelo do Meio contínuo ............................................................................................................ 41 6.2.1 Elástico ( Teoria da Elasticidade ) ................................................................... 41 6.2.2 Elastoplástico .................................................................................................... 42 7 REAÇÃO DO SOLO. ......................................................................................................................... 43 7.1 Coeficiente de reação vertical do solo (𝐤𝐯) ................................................................................... 43 7.2 Coeficiente de reação horizontal do solo (𝐤𝐡) ............................................................................... 46 8 ENSAIO DE PLACA .......................................................................................................................... 47 9 PROGRAMAS COMERCIAIS ........................................................................................................... 49 9.1 Eberick......................................................................................................................................... 49 9.2 CAD TQS .................................................................................................................................... 49 10. RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS ................................................................................. 51 11. CONCLUSÕES ............................................................................................................................... 52 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 53 LISTA DE FIGURAS Figura 1:Situações em que há o mecanismo de interação solo-estrutura ........................ 16 Figura 2 . Modelo de eixo a ser adotado .................................................................... 17 Figura 3: Distorções limites e danos correspondentes nas edificações .......................... 20 Figura 4 -. Casos de Interação solo-estrutura ............................................................. 21 Figura 5 -. Recalque x rigidez relativa estrutura solo .................................................. 23 Figura 6 - Diferentes contribuições da estrutura: (a) galpão, (b) caixa d'água e (c) edifíci0 ....................................................................................................................................... 25 Figura 7 - ???? ....................................................................................................... 26 Figura 8. ???? ........................................................................................................ 27 Figura 9 - Construção de um novo prédio entre dois já existentes ............................... 27 Figura 10: .............................................................................................................. 28 Figura 11 . Sequência construtiva para a análise incremental (considerando a ISE). ....... 29 Figura 12 - Influência da construção nos recalques ..................................................... 30 Figura 13 . Hipótese de Winkler: deformabilidade do solo através de molas discretas. ... 38 Figura 14 Modelo de Winkler ................................................................................. 39 Figura 15 Modelo de Winkler de Winkler estendido para estacas. ............................... 39 Figura 16 . Modelo contínuo elástico ....................................................................... 41 INTRODUÇÃO O avanço tecnológico ocorrido ao longo dos últimos anos se reflete em diversos setores no mundo,como por exemplo a criação de altas tecnologias para telefones celulares, as televisões de plasma e os avanços na medicina. A análise estrutural, dentro da grande área da engenharia civil, também adquiriu processos mais modernos do que as técnicas utilizadas na antiguidade, porém, ainda deixa muito a desejar. A exemplo desta condição, é notório, que ainda hoje são utilizadas simplificações para o dimensionamento de estruturas pelo fato de inexistir uma metodologia e um software capaz de aliar tecnologia e praticidade na modelagem de estruturas condizentes com a realidade. Mesmo com uma quantidade de ferramentas e recursos computacionais muito maiores do que se tinha anteriormente, ainda se calcula estruturas ignorando a presença de uma superfície deformável sob a base da edificação. Desta forma, considerações importantes como a interação entre a estrutura e o solo (ISE) acabam sendo negligenciadas pela grande maioria dos calculistas e projetistas, resultando no dimensionamento de estruturas não muito realistas. Para garantir a segurança e compreender o comportamento das estruturas, torna-se cada vez mais rotineiro a avaliação e modelagem das edificações conjuntamente com o maciço sobre o qual elas se apóiam, quando são submetidos aos carregamentos previstos em projeto. Um projeto estrutural, tradicionalmente é desenvolvido em duas fases: a primeira, onde a estrutura é julgada sob apoios indeslocáveis - rótulas ou engastes perfeitos, a partir deles será obtido os carregamentos que irão atuar na fundação. Na segunda a partir destes carregamentos e conhecendo as características do solo, o engenheiro geotécnico determina a geometria, dimensões, quantidade de estacas, cotas de assentamento, entre outras características dos elementos da fundação. Apesar de simplista, essa teoria fundamentou significativos avanços, mesmo com o empecilho de uma época prévia à chegada dos microcomputadores. Anteriormente, caso a deformabilidade do solo fosse considerada para fins de dimensionamento dos elementos estruturais de uma construção, seria constatado uma série de cálculos volumosos ,sendo assim dificilmente de serem realizados de maneira tradicional, ou seja de forma manual. No entanto, Colares (2006) afirma que a suposição de que as fundações apresentam um comportamento rígido e indeslocável não representa o comportamento real da estrutura. Portanto, o engenheiro sentia-se forçado a se basear num ensaio totalmente limitado, além disso era preciso noção, experiência e bom senso, para acreditar que a estrutura projetada responderia de acordo com as suas hipóteses. Não obstante, mesmo com a disseminação do cálculo de estruturas através de métodos mais realistas, junto com a popularização e desenvolvimento de computadores como base, ainda assim muitos profissionais da engenharia seguem a hipótese de solo rígido. Isso, torna-se preocupante pois pode levar a caminhos distintos da realidade física, porque na prática todas as fundações sofrem deslocamentos, gerando uma nova configuração de esforços, diferentes dos encontrados ao considerar a hipótese de apoios indeslocáveis. Neste caso fica claro a importância de estudar a ISE, recentemente uma série de trabalhos começaram a ser publicados, entre eles pode-se constatar as pesquisas realizadas por Reis e Aoki (2005), demonstraram que ao adotar apoios elásticos (hipótese de solo deformável) por meioda ISE, gera esforços completamente diferentes daqueles calculados considerando a fundação sobre apoios fixos. 1.1 Objetivos O trabalho tem como objetivo geral estudar a interação dos elementos estruturais, além de apresentar uma fundamentação teórica de forma coesa, que possibilite desde a definição dos parâmetros mais importantes, até uma interpelação suficientemente clara ,orientativa e objetiva. Avaliar os efeitos da interação solo-estrutura na análise estrutural de edificações, em termos de de estabilidade global, esforços internos e deslocamentos. Busca-se também compatibilizar e sistematizar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Como objetivo específico tem-se: A. Estudar as variáveis envolvidas nos projetos estrutural e geotécnico nas análises de interação solo-estrutura; B. Estudar diferentes métodos de análise da interação solo-estrutura; C. Comparar modelos de interação solo-estrutura da literatura; D. Obter os esforços através de equações E. Avaliar a variação dos esforços para estruturas com número de pavimentos diferentes; 1.2 Metodologia e Estratégia de ação Trabalho compreendendo uma revisão bibliográfica sobre o assunto, com a finalidade de aprofundar o conhecimento sobre a tese, acerca da interação solo estrutura. A coleta de dados será através da revisão sistemática de livros ,artigos e normas, de onde serão ser retiradas as informações necessárias para a efetuar uma estatística descritiva e desenvolvimento de gráficos. Também será adotado o uso de programas computacionais, para auxiliar na ilustração da importância de se considerar o solo como parte de um cálculo conjunto. A metodologia de desenvolvimento deste trabalho é dividida em 5 etapas: Etapa 1: análise da literatura por meio de livros, artigos, teses e normas; Etapa 2: comparação das diferentes teorias propostas na história da literatura; Etapa 3: exemplificação através de equações; Etapa 4: fundamentação das teorias mais relevantes; REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1Conceitos fundamentais Sistema de referência O estudo da interação solo-estrutura exige um sistema de referência comum. No entanto, é usual os engenheiros estruturais e os de fundações admitirem sistemas de referência diferentes. A superestrutura baseia sua referência conforme um sistema de coordenadas localizado na base de um dos pilares. Já a fundação é localizado a partir de eixos XYZ situados na superfície do terreno. O mais coerente é tomar um lugar geométrico dos pontos abaixo da superfície do maciço de solos, em profundidade que possa ser considerado indeslocável. Elementos da infra-estrutura Um sistema de fundação é composto por elementos isolados, os quais são definidos como conjuntos formados pelos elementos estruturais de fundação juntamente com o maciço de solo que os circunda e que serve como apoio para a superfície de contato com o solo. Os elementos estruturais são responsáveis por transmitir os esforços da estrutura para o terreno, atendendo aos seguintes . A requisitos básicos: (i) segurança com relação à ruptura e (ii) recalques compatíveis com a estrutura. O primeiro significa que o solo de assentamento da fundação não pode entrar em colapso, ou ruptura. O segundo estabelece que, mesmo que os esforços apresentem segurança com relação à ruptura, os recalques precisam ser compatíveis com aqueles tolerados pela estrutura. O fato de um sistema de fundação apresentar segurança à ruptura não garante um bom desempenho, pois há necessidade de se verificar se os recalques, absolutos e diferenciais, satisfazem as condições de funcionalidade, desempenho e segurança. 2.2 interação solo-estrutura Para se buscar uma solução estrutural otimizada para a fundação faz-se necessário o estudo criterioso e adequado da transferência de carga entre o sistema estrutural e o maciço de solos, bem como o conhecimento prévio das características físicas e mecânicas do solo em análise. Essa análise conjunta do sistema estrutural e do sistema geotécnico é conhecida por “Estudo da Interação Solo-Estrutura - ISE”. Enfim, com a interação entre o solo de fundação e a estrutura da edificação a ser construída, tem uma maior compatibilização entre a deformabilidade da estrutura como um todo, bem como uma significativa uniformização das tensões na base da edificação, garantindo-se, então, estruturas mais econômicas e seguramente estáveis, justificando-se sua utilização na análise estrutural dos projetos de alvenaria estrutural. Em projetos estruturais ocorre de forma natural a modelagem da estrutura sobre apoios indeslocáveis. No entanto, Colares (2006) afirma que a suposição na qual as fundações apresentam um comportamento rígido e indeslocável não representa o real comportamento da estrutura. Com este modelo o projetista determina quais os esforços que atuam nos apoios (reações vertical, horizontal e momentos fletores) e serão transmitidos para o solo através das fundações e, então os passa ao engenheiro de fundações para que este as dimensione e realize uma previsão dos recalques, de modo que a solução para a fundação seja estruturalmente segura e os recalques previstos sejam compatíveis com os recalques admissíveis. A partir destes carregamentos e conhecendo as características do solo, o engenheiro geotécnico determina a geometria, dimensões, quantidade de estacas, cotas de assentamento, entre outras características dos elementos da fundação. Figura 1:Situações em que há o mecanismo de interação solo-estrutura Fonte. Colares(2006) A interação solo estrutura (ISE) considera a resposta de três sistemas fortemente interligados: a estrutura, a fundação e o solo. A aplicação prática dessa teoria, enfrenta obstáculos por causa do escasso entendimento dos seus princípios fundamentais, da dificuldade para entender a literatura relacionada com o tema e do limitado tratamento nos códigos e normas de desenho estrutural. Segundo AOKI e CINTRA (2005), o objeto de estudo da interação solo-estrutura é a ação recíproca entre os corpos materiais (ou elementos), componentes do conjunto tridimensional formado pelo sistema estrutural (estrutura) e pelo sistema geotécnico (maciço de solos diversos) de uma obra de construção civil submetida às diversas ações externas. ANTUNES e IWAMOTO (2000), por meio da análise de um edifício de 15 (quinze) pavimentos sobre fundação profunda, solicitado por carregamentos vertical e horizontal (vento), concluíram que os recalques são menores, quando se considera a ISE e observaram ampliações e reduções nos momentos fletores dos pilares do edifício. A ISE exige conhecimentos tanto da área de Estruturas como da área de Geotecnia, por essa razão que normalmente se faz necessária a integração entre projetistas de fundações e de estruturas. Segundo Iwamoto (2000), uma das principais divergências entre engenheiro de estruturas e geotécnicos ocorre na escolha do sistema de referência. Isto é, considera-se o ponto da base da estrutura como sendo a origem global do sistema, porém, na visão estrutural com sentido para cima, e já para a geotécnica, esse mesmo referencial tem o sentido para baixo, separando, assim, o objeto de preocupação de cada área: para cima a estrutura e para baixo a fundação. No entanto, ambas as convenções estão equivocadas, pois esse ponto de referência adotado é deslocável, sendo mais coerente a escolha de um ponto compatível com a profundidade onde se consideraria a camada indeslocável, conforme ilustra a Figura 2. Figura 2 . Modelo de eixo a ser adotado Fonte. ????? Em alguns casos, a não consideração da ISE na análise estrutural pode trazer consequências negativas em relação à segurança, economiae surgimento de manifestações patológicas (ANTONIAZZI, 2011). Na prática, o solo quando é submetido ao carregamento de um edifício não apresenta um comportamento de acordo com o previsto nos projetos, mas sim, sofre deformação. O que acaba por gerar uma alteração no fluxo de cargas da estrutura, e assim, os valores dos esforços nos elementos estruturais são modificados. Devido a essa redistribuição de esforços, poderá ocorrer fissurações em vigas e lajes, e esmagamento de pilares. Portanto, o desempenho estrutural de uma edificação está vinculado à interação entre seus elementos e o solo (HOLANDA JR, 1998). A interação solo-estrutura é a ligação entre estrutura, fundações e o solo. O processo tem início rente a fase inicial da construção e se prolonga até que chegue ao ponto de equilíbrio, ou seja, quando as tensões e deformações tanto na estrutura e quanto no solo já estiverem estabilizadas. No geral das situações é possível considerar a comunicação entre a estrutura e o solo como um meio contínuo, uma vez que dificilmente ocorrerá deslizamento ou descolamento entre os mesmos, logo pode adotar os mesmos deslocamentos para estes pontos de contato (REIS, 2006). O tratamento dos sistemas estruturais de edifícios em concreto, considerando a interação solo-estrutura, é algo bastante complexo, uma vez que apresenta diversas dificuldades na modelagem. Para a estrutura tem-se: seqüência construtiva, propriedades reológicas dos materiais e tipo de carregamento externo. Para o elemento estrutural de fundação: transferência de carga ao solo e aspectos de execução. E, para o terreno de fundação: heterogeneidade vertical e horizontal, representatividade dos ensaios e influência do tempo nos parâmetros geotécnicos (do maciço de solos). 2.2 Efeitos da interação solo-estrutura A consideração da ISE nos modelos estruturais gera efeitos principalmente em termos de redistribuição de esforços, principalmente nos pilares e uniformização dos recalques diferenciais (JORDÃO, 2003). Gusmão (1994) comparou modelos sem e com ISE, onde obteve resultados semelhantes. 2.2.1 Redistribuição dos esforços Devido aos deslocamentos que ocorrem nos apoios de uma construção podem provocar uma redistribuição dos esforços atuantes nos elementos estruturais. Isso pode levar ao aparecimento de danos, como fissuras em vigas e lajes (JORDÃO, 2003). Um dos efeitos da ISE provocado pela redistribuição dos esforços é o alívio das cargas dos pilares que apresentam os maiores recalques e acréscimo de carregamento nos pilares que apresentam deslocamentos verticais menores, conforme foi constatado por Gusmão (1990). Juntamente com o acréscimo de tensão que ocorre em uma estrutura devido às etapas construtivas, ocorre um aumento gradativo dos recalques da fundação e redistribuição dos esforços nos elementos estruturais. Conforme Velloso e Lopes (2011) se uma edificação apresenta recalques diferenciais pequenos, praticamente não são adicionados esforços nos elementos da superestrutura. Se ocorrerem apenas recalques absolutos grandes, as tubulações de água e esgoto, escadas e rampas, serão comprometidas devido ao rebaixamento global da estrutura. No entanto, se houverem recalques diferenciais surgirão esforços não previstos convencionalmente, podendo comprometer o grau de segurança almejado e a sua estabilidade global. Tais recalques, evidenciam-se pelo desnivelamento de pisos, fissuras nas alvenarias e desaprumos da construção (SOUZA; REIS, 2008). De acordo com Moraes (1976), os recalques diferenciais limites para que não ocorra déficit da estabilidade, são aqueles que produzem distorções angulares entre 1/400 e 1/250. De acordo com Cintra et al. (2011) as distorções em torno de 1/300 podem provocar trincas em paredes de edifícios, já as de 1/500 podem gerar danos estruturais em vigas e pilares. Um modo de evitar estas distorções, é mantendo um recalque diferencial máximo de 25 mm para areias e de 40 mm para argilas. Bjerrum (1963 apud Souza e Reis, 2008) e Vargas e Silva (1973 apud Souza e Reis, 2008), após verificações em campo, estudaram melhor os danos causados por recalques diferenciais, conforme apresentado na Figura 3. Figura 3: Distorções limites e danos correspondentes nas edificações Fonte. Velloso e Lopes (2011). 3. FATORES QUE INFLUENCIAM A INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA 3.1 Influência do tempo Chamecki definiu quatro casos possíveis no comportamento da transferência de cargas da edificação para o solo em relação ao tempo transcorrido, de acordo com a rigidez da estrutura, conforme mostra a Figura 4 abaixo. Figura 4 -. Casos de Interação solo-estrutura Fonte. Chamecki (1969). ● Caso a: uma estrutura com rigidez infinita apresenta recalques uniformes. O comportamento independe do tempo. Existe a tendência do solo se deformar mais no centro do que nas bordas, pois a distribuição das pressões de contato é menor no centro e maior nas extremidades. O comportamento apresentado por este tipo de estrutura independe do tempo, exemplos: poços de elevadores, pilares parede e edifícios muito altos e com fechamento das paredes trabalhando em conjunto com a estrutura. ● Caso b: estrutura perfeitamente elástica, com rigidez independente da velocidade em que os recalques ocorrem, estes podem decorrer de forma mais rápida ou lenta, sem influenciar nos resultados, exemplo: estruturas de aço. ● Caso c: estruturas visco-plásticas, apresentam rigidez que depende da velocidade em que os recalques progridem, ou seja, está relacionada ao tempo. A viscosidade da estrutura ocorre devido ao fenômeno de fluência do concreto, que faz com que haja uma redistribuição dos esforços entre os elementos estruturais de concreto armado. Se os recalques acontecem num curto espaço de tempo, a estrutura tem um comportamento elástico (caso b), mas se esta progressão ocorre de forma muito lenta, a estrutura apresenta um comportamento como um líquido viscoso e tenderá ao caso d exemplo: estruturas de concreto armado. ● Caso d: estrutura se adapta às deformações que ocorrem no maciço de solo, e a distribuição de pressões de contato não se modifica durante os recalques, logo neste caso independe do tempo. Este comportamento pode ser visualizado em estruturas isostáticas e/ou cujo comprimento na direção horizontal é muito grande. 3.2 Rigidez relativa estrutura-solo A interação existente entre os elementos estruturais de uma edificação como vigas, lajes e pilares conferem uma rigidez à estrutura que tende a apresentar recalques menores à medida que a rigidez aumenta, consequentemente gerando uma deformada de recalques mais amena. Para avaliar os recalques, Lopes & Gusmão (1991) analisaram o comportamento de um pórtico, modelado como edifício de concreto armado, apoiado sobre meio elástico, gerando, assim, o cálculo do parâmetro rigidez relativa estrutura-solo (Kss),segundo a Equação 1. ● 𝐾𝑠𝑠: rigidez relativa estrutura-solo; ● 𝐸𝑐 : módulo de elasticidade do material da estrutura; ● 𝐼𝑏: momento de inércia da viga típica ● 𝐸𝑠 : módulo de elasticidade do solo; ● 𝑙: vão entre os pilares. A viga típica ou equivalente, com momento de inércia 𝐼𝑏, é, portanto, uma viga cuja resistência à flexão é igual a soma das rigidezes à flexão de todas as barras que constituem o pórtico. Já a rigidez do maciço de solos é expressada pelo módulo de elasticidade da camada compressível. Meyerhof (1953), também detalhou acerca da rigidez relativa, que pode ser entendida como a relação entre a rigidez do solo e a rigidez da superestrutura, conforme a Equação 2. ● Kss: rigidez relativa estrutura – solo. ● Ks : rigidez do solo ●Ke : rigidez da Superestrutura ● n : número de pavimentos ● l : comprimento dos vãos ● I : inércia da seção transversal de cada viga ● Esup : módulo de elasticidade da superestrutura ● E : módulo de elasticidade do solo. Tanto Meyerhof (1953) quanto Lopes e Gusmão (1991) concluíram que o os recalques ficam menores com o aumento da rigidez relativa estrutura-solo, conforme pode ser observado na figura 5. Figura 5 -. Recalque x rigidez relativa estrutura solo Fonte. LOPES e GUSMÃO (1991 ) 3.3 Número de pavimentos A rigidez de uma superestrutura aumenta com o número de pavimentos, mas não ocorre de forma linear. As solicitações nos elementos da superestrutura, como momentos fletores em vigas e pilares, originados do efeito da redistribuição de esforços gerado pela interação da estrutura com o solo, possuem maior relevância nos primeiros andares, diminuindo nos pavimentos acima. Os primeiros pavimentos exercem maior influência na ISE (ANTONIAZZI, 2011; COLARES, 2006), isso ocorre até um valor limite. A partir deste limite o número de pavimentos não altera mais a força que surge nos pilares devido a ISE. Sendo assim, a partir deste ponto os recalques dependem apenas da magnitude dos carregamentos, e não mais da rigidez da estrutura. Para prédios acima de 8 pavimentos, a rigidez do conjunto solo-estrutura pode provocar uma redução de 30 a 60% dos recalques diferenciais e distorções angulares, ao compararmos com aos valores obtidos convencionalmente (GUSMÃO FILHO, 2002). Com este aumento progressivo do número de pavimentos de um edifício, a rigidez da estrutura tende a um valor limite. Isto ocorre devido ao mecanismo de interação solo-estrutura, o qual faz com que os recalques, a partir desse ponto, tornem-se dependentes apenas do carregamento (GUSMÃO & GUSMÃO FILHO, 1994). Conforme pode ser facilmente entendido, uma rigidez maior da fundação acarretará recalques mais uniformes. Se essa fundação receber mais de um pilar, os recalques diferenciais entre pilares serão menores. Assim, pode-se dizer que, do ponto de vista de uma uniformização de recalques, é interessante adotar fundações combinadas e enrijecê-las. (Veloso e Lopes) . A Figura 6 mostra três situações em que a superestrutura oferece contribuições diferentes. Na primeira delas, a contribuição é pequena; na segunda ( caixa d' água ou silo com paredes de concreto), a contribuição é muito importante; na terceira, a contribuição da estrutura é importante, e essa importância aumenta com o número de pavimentos. Figura 6 - Diferentes contribuições da estrutura: (a) galpão, (b) caixa d'água e (c) edifício Fonte. Livro Veloso e Lopes Fundações Volume 1. 3.4 Edificações vizinhas O pioneiro no Brasil, nos estudos em relação à influência das construções vizinhas na formação de recalques e desaprumos de prédios, foi Costa Nunes (1956) ,onde os tipos de carregamento oriundos das edificações vizinhas foram divididos em quatro tipos, de acordo com a época de construção, conforme descrição a seguir: ● Tipo 1: são os prédios que foram construídos ao mesmo tempo. Há uma superposição das tensões no encontro das fundações dos dois prédios, gerando uma concentração de tensões nesta região, ou seja, maiores recalques, e assim induzindo o tombamento dos prédios no mesmo sentido (Figura 6 ). Figura 7 - ???? Fonte. . ???? ● Tipo 2: são os prédios vizinhos construídos em tempos diferentes. Ocorre um pré- adensamento do solo causado pelo prédio que foi construído primeiro. A construção da segunda edificação provoca um acréscimo de tensões no maciço de solo e induzindo recalques do prédio que já estava construído. Os recalques do lado oposto ao vizinho serão maiores que os do lado adjacente, de forma que o tombamento dos prédios ocorrerá no mesmo sentido como mostra na Figura 8. Figura 8. ???? Fonte ???? ● Tipo 3: construção de um novo prédio entre dois já existentes, como está ilustrado na figura 9. A nova edificação provoca um aumento das tensões do solo, gerando um aumento do recalque dos prédios já existentes, que tendem a tombar em sentidos opostos. Como o diagrama de tensões do maciço é simétrico em relação a estrutura construída após as anteriores, esta não sofrerá desaprumos, se as edificações vizinhas forem de magnitudes semelhantes. Figura 9 - Construção de um novo prédio entre dois já existentes Fonte. ???? ● · Tipo 4: construção de dois novos prédios ao lado de um já existente. A estrutura construída primeiro provocará o pré - adensamento do maciço fazendo com que os recalques das novas edificações sejam maiores próximo ao imóvel já existente, de modo que tenderão a tombar em direção a edificação inicial (Figura 10). Figura 10: . Fonte. Reis (2000) foi um dos que também analisou as causas geradas pela influência de um sobre o outro, mudando a distância entre eles de 5, 10, 15 e 20 metros. O cálculo dos recalques mostrou que, obtêm-se valores maiores quando utiliza-se a menor distância entre eles (5 metros). O efeito de grupo diminui à medida que se aumenta a distância entre o ponto de análise de recalques e os blocos vizinhos. Ribeiro (2005) através de experimentos práticos obteve resultados que confirmam o trabalho de Reis (2000), analisando primeiro um bloco isolado e, depois, dois blocos (idênticos ao primeiro) próximos um ao outro, considerando que ambos os casos encontravam-se apoiados em meio elástico, linear e semi-infinito, onde a influência de um bloco sobre o outro gerou deslocamentos, em torno de 7% maiores que para o bloco isolado. 3.5 Processo construtivo Quando se estuda interação solo-estrutura, é comum que se adote a simplificação de todo o carregamento atuar na edificação após o término de sua construção. No entanto, tanto os carregamentos quanto a rigidez da estrutura crescem de forma gradual durante o avançar de cada etapa construtiva. Logo, é de extrema importância a consideração da seqüência construtiva para fazer a análise da ISE. Considerar a seqüência de construção na análise estrutural consiste em aplicar as cargas na estrutura de forma progressiva, ou seja, aplicam-se os carregamentos na medida em que cada pavimento é estruturado. Dessa maneira, os esforços solicitantes vão se somando a cada etapa, conforme ilustra a Figura 11 . Este tipo de método aproxima-se da realidade física, sendo assim mais efetivo que o modelo convencional, pois ele considera a estrutura pronta com os carregamentos sendo aplicados instantaneamente. Juntamente com a evolução do número de pavimentos da obra, ocorre uma uniformização dos recalques e redistribuição dos esforços devido ao aumento gradual da rigidez da estrutura, o que faz com que os recalques diferenciais diminuam a cada pavimento executado, de modo que haja uma suavização da deformada de recalques (GUSMÃO e GUSMÃO FILHO, 1994). Figura 11 . Sequência construtiva para a análise incremental (considerando a ISE). Fonte: Antoniazzi (2011) No estudo, de autoria de Gusmão & Gusmão Filho (1994), realizado em Recife-PE, prédios foram monitorados do início ao fim, onde as leituras mostraram um aumento dos recalques conforme as forças atuantes nos pilares eram acrescidas. Também notou-se um aumento da rigidez da estrutura, verificando-se uma tendência de uniformização dos recalques e da redistribuição das cargas (Figura 12) Figura 12 - Influência da construção nos recalques Fonte. GUSMÃO & GUSMÃO FILHO (1994). No trabalho de Fonte et al. (1994 a,b) foram comparados resultados dos recalques obtidos in loco para um prédio de quatorze andares sobre fundaçõespor sapata, levando em conta a utilização e não utilização da ISE e do processo construtivo. Os resultados mostraram que o modelo que não levou em conta a ISE, acabou superestimando a previsão dos recalques diferencias, justamente por não considerar a rigidez da estrutura. Para o modelo que considerava a ISE, mas que o carregamento foi aplicado integralmente de uma única vez, os recalques diferenciais foram menores do que os medidos em campo pois foi considerada diretamente toda a rigidez da estrutura e, portanto, menores tendem a ser os recalques diferenciais. Já no modelo em que os apoios foram considerados indeslocáveis, os recalques diferenciais previstos foram maiores do que os medidos em campo, por não levar em consideração a rigidez da estrutura. O modelo que apresentou os resultados mais próximos Análise de edifícios considerando a interação solo-estrutura 30 dos medidos na obra foram os que consideraram a ISE e também o acréscimo de carregamento em função das etapas construtivas do edifício. Dessa forma, a rigidez da estrutura muda e aumenta a cada etapa de carregamento, aproximando-se mais do que acontece na prática 4 RECALQUES Apesar de não ser o foco primordial do trabalho, para entender o funcionamento da ISE é preciso analisar alguns aspectos dos recalques. São deslocamentos verticais para baixo que ocorrem nos pontos de apoio de uma estrutura devido à deformação do solo. Surgem devido às deformações por diminuição de volume e/ou mudança de forma do maciço de solo compreendido neste espaço (CINTRA et al., 2011). Os recalques seriam praticamente uniformes, caso os solos fossem homogêneos e as geometrias para as fundações fossem as mesmas, sem contar as inúmeras solicitações. Porém, o solo possui características variadas e as sapatas costumam mudar muito seus tamanhos a depender das diferentes cargas recebidas por cada pilar. 4.1 Tipos de recalques Na estrutura existe a possibilidade de ocorrer dois tipos de recalques, o total e diferencial ou relativo. O recalque total (ρ), corresponde ao deslocamento integral em um dos apoios da estrutura no caso daquele sofrido por uma sapata em isolado ou da estrutura como um todo. Já o recalque diferencial (𝛿) é a diferença entre os recalques totais de duas fundações, como por exemplo do recalque ocorrido entre duas sapatas. Num projeto de fundações é exigido diferentes geometrias, solicitações diversas e variações das características do solo, além disso os recalques não são uniformes e, portanto, surgem os recalques diferenciais. O que mais preocupa em uma estrutura são os recalques diferenciais, podendo serem previstos indiretamente pelos recalques absolutos, uma vez que, no geral são maiores quando estes também os são (Cintra et al., 2003). Esse mesmo autor citado anteriormente definiu que o recalque total ou absoluto de uma fundação pode ser decomposto em duas parcelas, conforme a Equação 𝜌 = 𝜌𝑐 + 𝜌i ● 𝜌: recalque total de uma fundação; ● 𝜌𝑐 : recalque por adensamento ou consolidação; ● 𝜌𝑖 : recalque instantâneo ou imediato. O recalque imediato, como o próprio nome já diz,ocorre de forma muito rápida, quase que simultaneamente à aplicação do carregamento, já o recalque por adensamento pode levar anos para ocorrer. 5 HISTÓRICO Há muito tempo que os profissionais das áreas de engenharia e geotecnia vêm estudando possibilidades de aplicação e efeitos da consideração do solo como uma estrutura deformável. Em 1867, Winkler propôs um modelo onde as cargas aplicadas na superfície do solo geram deslocamentos somente no ponto de aplicação da mesma, logo, desconsiderava o efeito da continuidade do meio. Com isso o maciço do solo foi substituído por um sistema de molas com uma rigidez equivalente, dessa forma gerando um método simples de se considerar a interação solo-estrutura, conhecido como modelo de Winkler. Muitos trabalhos anteriores utilizaram esta técnica de flexibilidade do solo por ser um modo simples e de fácil utilização, fazendo o uso de valores tabelados obtidos empiricamente. Um fator negativo é por não contemplar a continuidade do solo, torna-se pouco representativo, pois restringe a análise, não permitindo o estudo de grupos de estacas ou até mesmo a interação entre prédios vizinhos. Burmister (1945), através do uso de uma forma um pouco mais elaborada de se estudar a interação solo-estrutura e baseando-se na teoria da elasticidade, desenvolveu uma teoria para solos formados por duas e três camadas, a qual se tornou base para vários trabalhos. Com base na teoria de Mindlin (1936), estudos, incluindo os mais recentes, analisam a interação solo-estrutura considerando o solo como um maciço semi- infinito, onde, a partir de uma certa distância dos pontos de aplicação da carga, os efeitos não serão mais significativos para o maciço e assim não ocorrerão mais deslocamentos, podendo-se considerar, neste ponto, uma superfície indeslocável. Esta teoria apresenta equações relativas a deslocamento e força para a aplicação de uma carga unitária no interior de um meio semi-infinito homogêneo, elástico, linear e isotrópico. Entre os primeiros trabalhos considerando os efeitos da interação solo- estrutura em edificações, um dos que se destaca é o apresentado por Meyerhof (1953). Ao considerar as seguintes variáveis, características do solo, da infra-estrutura e a rigidez da estrutura, fez uma estimativa de recalques totais e diferenciais do elemento isolado de fundação, mostrando que o solo, a infra-estrutura e a superestrutura poderiam ser considerados de forma conjunta. O estudo salientou a importância dos recalques totais em relação à funcionalidade de uma edificação, sendo estes pouco afetados pela rigidez estrutural. No caso de recalques diferenciais, o trabalho mostra que os mesmos dependem não somente dos fatores que comandam os recalques totais, mas também do tipo e rigidez da estrutura e ainda da variação da compressibilidade do solo Ainda neste estudo, o autor mostrou que, na prática, a rigidez da infra-estrutura é geralmente muito menor que a rigidez da superestrutura, principalmente no caso de estruturas rígidas. Por este motivo, desenvolveu expressões para estimar a rigidez de estruturas rígidas, sendo elas abertas ou fechadas com painéis de vedação. Chamecki (1954) já comentava acerca do procedimento convencional de cálculo de estruturas utilizado na época era alvo de críticas, porque ao mesmo tempo em que mostrava uma teoria lúcida em função da hipótese de que os apoios das estruturas hiperestáticas se adaptam com facilidade às deformações do solo, o mesmo induzia a resultados que estavam em desacordo da realidade em vários pontos, principalmente quando se tratava de edifícios com grande número de pavimentos. Assim, ele propôs um sistema de cálculo para análise da interação solo-estrutura onde, a partir das reações de apoio da estrutura calculada como indeslocável e dos coeficientes de transferência de carga, reações verticais dos apoios provenientes de recalques unitários de cada apoio em separado são calculados os recalques da fundação. Através disso deu início a um processo, no qual leva em conta a rigidez da estrutura, e através do uso de expressões já estabelecidas, fornece as novas reações de apoio, depois são obtidos os valores dos recalques. Esse processo é feito até que os valores das reações de apoio e recalques convirjam. Com o uso desse método, foi observado que os recalques diferenciais passavam a ser menores quando considerava a rigidez da estrutura no cálculo dos mesmos, o que se equiparava aos resultados medidos em estruturas reais. Holanda Junior (1998), analisou os efeitos da ISE em edifícios sobre fundações diretaslevando em consideração a sequência construtiva e a presença de camada indeslocável no interior do solo. O autor mostrou que a camada indeslocável representa com mais fidelidade os perfis de solos, diminuindo os recalques e aproximando ainda mais os resultados da realidade. Por meio de exemplos numéricos, mostra a importância de se considerar as etapas construtivas, visto que, as modificações nos esforços entre as peças estruturais são significativas. Gusmão Filho (1998) defende a importância de se considerar a ocorrência deste remanejo entre as cargas na edificação devido aos recalques nos apoios dos pilares, a fim de não comprometer a segurança da obra. No trabalho mostra, que além dos pilares, as vigas também recebem esforços a mais devido ao deslocamento dos nós, podendo levar a inversão de momentos na peça, principalmente nos primeiros pavimentos. A pesquisa de Reis (2000) enfatizou o efeito de grupo entre fundações superficiais, a presença de edificações vizinhas e a influência da rigidez da estrutura. Por meio de uma análise paramétrica verificou a influência da rigidez da estrutura, principalmente nos valores dos recalques diferenciais e das construções vizinhas. O processo construtivo mostrou ser mais significativo quando se trata de previsões a curto prazo, pois para definir a longo prazo, a consideração de carregamento instantâneo se mostrou coerente. No mesmo ano, Iwamoto (2000) estudou um modelo de estrutura tridimensional de um edifício sob fundação profunda, levando em conta a influência da rigidez transversal à flexão das lajes, a existência de excentricidades das vigas em relação aos pilares e a hipótese de diafragma rígido no plano horizontal de cada pavimento. Realizou uma análise integrada entre a estrutura e o solo, verificou que a rigidez da estrutura contribui para diminuir os recalques diferenciais e distorções angulares. O trabalho de Jordão (2003), analisou a estabilidade global de edificações com fundações profundas considerando a deformabilidade do solo e comparando os resultados de modelos teóricos com dados reais de monitoramento de recalques. Para este trabalho, foi utilizado um programa desenvolvido em FORTRAN, que calcula deslocamentos e esforços no topo do elemento estrutural de fundação profunda. Gonçalves (2004) também monitorou recalques em edifícios, mas seu foco foi na observação da distribuição de cargas nos pilares. A deformabilidade do solo foi considerada através do monitoramento de recalques e deformações ao longo de cada etapa construtiva de um edifício localizado na cidade do Rio de Janeiro –RJ. Assim, para cada fase, foram realizadas comparações entre os esforços obtidos com esta modelagem e com o modelo de apoios indeslocáveis com o auxílio do software de elementos finitos, SAP 2000. Outro trabalho de monitoramento foi realizado por Gusmão (2004), durante o período de construção de três edifícios com fundações do tipo sapatas, localizados em João Pessoa –PB. Neste trabalho, o autor não considerou a rigidez da superestrutura e a interferência de elementos estruturais de fundações vizinhas para a previsão dos recalques. Um trabalho importante foi feito por Russo Neto (2005), onde instrumentou pilares de uma estrutura em concreto pré-moldado apoiada sob fundações do tipo estaca cravada. Foram avaliadas indiretamente, solicitações normais nos pilares através da variação de comprimento. A metodologia proposta para a interpretação das medidas, considerando as variações ambientais e a reologia do concreto, gerando concordância entre os valores medidos e os valores obtidos pelo cálculo estrutural. Além disso, a pesquisa salienta a importância de se considerar as variabilidades da formação geotécnica do local para se prever o comportamento das estruturas. Uma ferramenta computacional desenvolvida em FORTRAN foi mostrada por Colares (2006) com o objetivo de analisar edifícios com fundações em sapatas, as quais foram representadas por elementos finitos de casca planos, possibilitando uma avaliação dos efeitos gerados na superestrutura e elementos de fundação ao se considerar a deformabilidade do solo. Cavalcanti (2006) também desenvolveu um código computacional utilizando o Método dos Elementos de Contorno (MEC) e o Método dos Elementos Finitos (MEF) para obtenção de deslocamentos e tensões em estruturas em contato com o meio semi-infinito na análise do comportamento mecânico entre a estrutura e o solo. Désir e Crespo (2008) mostraram em seu projeto, além dos efeitos gerados na estrutura pela consideração da ISE como a redistribuição de esforços entre os elementos e a suavização da envoltória de recalques, a contribuição na rigidez da estrutura ao se considerar os painéis de alvenaria no modelo estrutural. Ribeiro (2009) também desenvolveu um programa para a análise estática e tridimensional dos problemas de interação solo-estrutura, modelando o solo com uso do Método dos Elementos de Contorno (MEC), soluções de Kelvin e uma técnica alternativa de sub-regiões para a consideração de maciço não-homogêneo, possibilitando a análise de diversos tipos de estruturas assentes sobre solo isotrópico, elástico e linear. O trabalho desenvolvido por Mota (2009) utiliza um método numérico em que a superestrutura e os elementos estruturais de fundação são considerados uma estrutura única, modelada pelo Método dos Elementos Finitos e implementada no código computacional PEISE (Pórtico Espacial com Interação Solo-Estrutura), desenvolvido na pesquisa. O maciço de solos é representado por um modelo geotécnico proposto por Aoki e Lopes (1975) utilizando a solução de Mindlin. São monitorados recalques (nivelamento ótico de precisão) e deformações em pilares (extensômetro mecânico removível), para obtenção indireta de suas solicitações normais, durante a fase construtiva de um edifício de 26 pavimentos, com fundação em estaca hélice contínua, considerando as variações dos fatores ambientais e a reologia do concreto. Silva (2010) elaborou um código computacional que permite a análise da interação solo- estrutura considerando o comportamento não-linear geométrico da estrutura e o solo como sendo formado por mais de um material. O programa reúne dois códigos computacionais distintos em um único, sendo o primeiro baseado no Método dos Elementos de Contorno e, o segundo, no Método dos Elementos Finitos, acoplados por meio da formulação algébrica baseado em Venturini (1992). O tema também vem sendo bastante pesquisado e discutido em diversos outros países. No contexto internacional, vale salientar as pesquisas elaboradas nos últimos anos por Kocak e Mengi (2000), Nakhaei e Ghannad (2008), Spyrakos et. al. (2009), Tabatabaiefar e Massumi (2010) e Kausel (2010), as quais abordam a interação solo-estrutura em edifícios voltada para análises dinâmicas, focando muito a resposta sísmica das estruturas, por se tratar de um assunto crítico em muitas regiões do mundo expostas à ação destes fenômenos. Dutta e Roy (2002) discutem em seu trabalho diferentes métodos para a modelagem da interação solo-fundação-estrutura, apontando os pontos fortes e as limitações de cada modelo presente na literatura. Defendem a idéia de que os projetos devem considerar a ISE pelo menos com a hipótese de Winkler, a qual, apesar de apresentar limitações, é de fácil aplicação e proporciona resultados razoáveis, isto é, mais realistas do que os apresentados pela idealização de estruturas com base fixa. 6 MODELAGEM DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA A complexidade do comportamento real dos solos tem levado ao desenvolvimento de inúmeros modelos de previsão, existem na literatura diferentes maneiras de modelar o solo. O comportamento do maciço de solos submetido a carregamentos externos constitui um fator de fundamental na análise da interaçãosolo-estrutura. Em geral o solo se comporta como um material elástico linear, elástico não-linear ou elastoplástico Os modelos de previsão são muito efetivos na análise dos problemas de interação solo- estrutura. A escolha do modelo depende de fatores como tipo de solo, condições in situ, tipo de fundação e natureza do carregamento externo. A resposta de cada modelo ocorre através da deformação da superfície quando aplicada a um sistema de forças externas. A superfície deformada representa os deslocamentos da superfície do solo que está em contato com o elemento estrutural de fundação. Com a finalidade de propor uma explicação que expresse o solo de maneira adequada, de forma simplificada e com eficiência são propostos segundo VELLOSO e LOPES (2002), dois modelos principais de representação do solo, Método de Winkler e Modelo do meio contínuo. Estes modelos são simplificações, uma vez que o comportamento do solo é bastante complexo e depende da distribuição de pressões existente no contato da fundação com o solo, influenciada pela rigidez da fundação (rígida ou flexível) e também pelo tipo de solo (argila, silte, areia, etc.) (CRESPO, 2004). 6.1 Método de Winkler É comum chamar esta metodologia de Hipótese de Winkler, Método de Winkler, ou ainda Modelo do Fluido Denso, uma vez que o comportamento é similar ao de uma membrana assente sobre um fluido denso. Winkler (1867) foi o primeiro a representar o solo por um sistema de molas com resposta linear. Neste método o solo é visto como um conjunto de molas lineares e independentes entre si. Além disso, somente considera as deformações ocorridas sob as fundações. A Figura 13 mostra estas molas, ou seja, o solo se deformando somente na região de aplicação da carga, sem levar em conta o efeito de carregamentos no entorno da estrutura. Figura 13 . Hipótese de Winkler: deformabilidade do solo através de molas discretas. Fonte: Antoniazzi (2011). Em um solo de Winkler, as pressões de contato são proporcionais aos deslocamentos, logo pode ser aplicado tanto para carregamentos verticais, como por exemplo, radiers, sapatas e vigas de fundação, quanto para ações horizontais, no caso de estacas sob forças horizontais e estruturas de contenção. Considerando a teoria da flexão de uma viga sobre base elástica desenvolvida por WINKLER (1867), sujeita a um carregamento transversal ela irá sofrer deflexões ao longo do seu comprimento,gerando uma reação distribuída e de sentido oposto exercida pelo solo sobre a viga. A reação por unidade de comprimento resultante do solo sobre a viga ocorre em função do deslocamento daquele ponto da viga na direção correspondente. Assim, o Modelo de Winkler prevê que as pressões de contato (q) são proporcionais aos deslocamentos verticais (w), de acordo com a equação 3 e ilustrada na Figura 14 . q = kv.w Figura 14 Modelo de Winkler Fonte: Velloso e Lopes (2010) No caso de uma estaca submetida a carregamento horizontal, é utilizada uma ampliação da hipótese de Winkler formulada para o estudo de vigas de fundação (Figura 15). Assim, as pressões de contato (p) são proporcionais aos deslocamentos horizontais (y), de acordo com a equação 4, para o caso de carregamento horizontal. q = kh . y kh = coeficiente de reação horizontal ou módulo de reação horizontal. Figura 15 Modelo de Winkler de Winkler estendido para estacas. Fonte. Velloso e Lopes (2010) Serão definidos valores de coeficiente de reação para cada tipo de solo e de fundação, levando em conta que para cada deslocamento a rigidez do solo é diferente e, portanto, diversas molas devem ser utilizadas. Ou seja, é estabelecida uma relação entre fundação e solo, por meio da definição de uma constante de mola que simbolizará a rigidez do maciço. Para descrever o comportamento de um solo de Winkler pode-se utilizar a Equação 5: 𝜎=𝑘𝑣.𝜌 ● 𝜎: tensão média aplicada na base da fundação; ● 𝑘𝑣: módulo de reação vertical do solo; ● 𝜌: recalque médio da fundação. As principais vantagens desta hipótese encontra-se na simplicidade do método para o uso do projetista estrutural, e na substituição dos apoios indeslocáveis por molas. No entanto, existem algumas limitações, como exemplo, a independência das constantes de mola (ou recalques) em relação às fundações vizinhas, não havendo a consideração do efeito de grupo no cálculo dos recalques. Outra desvantagem está ligada às dificuldades de obtenção do coeficiente de reação horizontal do solo, o mesmo não é uma propriedade do solo, e depende das dimensões da fundação. Porém, devido à sua simplicidade, pode ser aplicados em diversos problemas práticos na engenharia, diversos trabalhos foram desenvolvidos ao longo do tempo, vários pesquisadores do assunto deixaram suas contribuições para a determinação do coeficiente de reação horizontal do solo, como pode ser visto no excelente trabalho de THERZAGHI (1955). Por se tratar de um modelo discreto, no Modelo de Winkler, a natureza contínua do solo é ignorada, sendo essa uma das grandes desvantagens do modelo. Outra desvantagem se encontra nas dificuldades de obter o coeficiente de reação horizontal do solo. Porém, devido à sua simplicidade de aplicação, uma considerável gama de trabalhos foi desenvolvida ao longo do tempo, e diversos pesquisadores do assunto deixaram suas contribuições e muitas correlações empíricas estão disponíveis para a determinação do coeficiente, como pode ser visto em notável trabalho de THERZAGHI (1955) 6.2 Modelo do Meio contínuo O Método de Winkler considera apenas o deslocamento na região sob fundação, mas na realidade, devido a coesão, a superfície de deslocamento do solo não ocorre apenas na região carregada, mas também em algumas zonas limitadas fora da área carregada. Para atender a tendência de comportamento contínuo, o maciço de solos tem sido idealizado como meio elástico tridimensional. Para solucionar o problema, adota-se o maciço de solo como um meio contínuo. Pode ser dividido em duas categorias: 6.2.1 Elástico ( Teoria da Elasticidade ) O modelo contínuo elástico foi proposto por POULOS , sendo baseado na teoria da elasticidade. Neste modelo, o solo é considerado como um meio ideal, homogêneo e isotrópico, sendo representado por dois parâmetros elásticos, o módulo de elasticidade (𝐸𝑠), e o coeficiente de Poisson (𝑣) (Figura 16). Figura 16 . Modelo contínuo elástico Fonte. Velloso e Lopes (2010) Do ponto de vista teórico a representação do solo como um meio contínuo elástico é bastante convincente, pois leva em conta a natureza contínua do solo. No entanto,não passa de uma aproximação, pois para validar a hipótese de material elástico, os acréscimos de tensão e as deformações devem ser tão pequenas que o estado de tensões esteja muito distante da ruptura. O problema de usar o modelo contínuo, consiste na dificuldade de se obter o módulo de elasticidade do solo em um problema prático, por isso, requer maior experiência de campo. 6.2.2 Elastoplástico Esse modelo necessita de uma solução por aproximação numérica. A distinção básica entre o modelo puramente elástico e o modelo elastoplástico para o comportamento do solo está no fato de que neste as tensões e as forças impostas ao maciço de solo estão limitadas por um critério de ruptura, o que está de acordo com a realidade física. É utilizado em raras aplicações, devido não apresentar um caráter prático, pois requer uma grande quantidade de manuseio de dados com alto custo de processamento, o que inviabiliza a sua aplicação em problemas práticos. Entre os principais métodos numéricos existentes, destacam-se: ● Método das Diferenças Finitas (MDF): ● Método dos Elementos Finitos(MEF); ● Método dos Elementos de Contorno (MEC). O MDF substitui a equação diferencial que comanda o fenômeno por uma equação algébrica que relaciona o valor da variável do problema em um ponto aos valores em 4 pontos vizinhos, situados em 2 linhas ortogonais. Dessa forma, no MDF é preciso utilizar uma malha ortogonal e a solução é obtida para os pontos de intersecção da malha. O MEF divide o problema em elementos, de acordo com a sua geometria e propriedades. Os elementos do MEF são conectados através dos nós que são comuns a eles. Ao contrário do MDF a malha pode assumir qualquer forma e, logo, tem a capacidade de resolver problemas com geometrias complexas. Outra característica importante é que cada elemento por ter características diferentes, permite modelar o solo de maneira heterogênea. Já no MEC, apenas a fronteira do domínio do problema precisa ser discretizada em elementos, o que torna o número de equações bastante reduzido. O MEC é comumente utilizado em problemas lineares e homogêneos, enquanto que o MEF pode ser utilizado em fenômenos não lineares e dependentes do tempo (CAMARGO, 2002). Modelo de Winkler modificado Utiliza uma expansão do modelo de Winkler pois considera o comportamento não linear físico dos solos. Neste tipo de modelagem, as molas lineares dão lugar a molas com comportamento não linear e o comportamento do solo é modelado até a ruptura por um conjunto de molas que representam o comportamento lateral, axial e de ponta do solo. Apresenta uma vasta aplicação na indústria devido a sua facilidade de implementação e pelas exigências de modelagem não linear do solo. 7 REAÇÃO DO SOLO. 7.1 Coeficiente de reação vertical do solo (𝐤𝐯) Representa a rigidez que o solo possui para resistir ao deslocamento mobilizado por uma tensão aplicada. Sendo análogo ao coeficiente de uma mola, mas não relacionado a uma força, e sim a uma pressão (força sobre área). Não é uma constante do solo pois depende de fatores como a forma e dimensão da fundação, que influenciam diretamente no cálculo dos recalques previstos (MORAES, 1976). Podendo ser obtido por diversas maneiras: ● Correlações; ● Ensaio de placa; ● Tabela de valores típicos; ● Recalque real da fundação Ehlers (1962) propõe os valores apresentados na Tabela 1 a fim de obter o módulo de reação vertical de alguns tipos de solo de maneira aproximada. Tabela 1 - Módulo de reação vertical proposto por Ehlers (1962). Fonte: Adaptado de Ehlers (1962). Através do Método de Winkler podemos calcular por meio da Equação (6). ● 𝑘𝑣: módulo de reação vertical do solo; ● 𝜎: tensão média aplicada na base da fundação; ● 𝜌: recalque médio da fundação. Alguns autores estudaram a ISE e propuseram módulos de reação vertical para diferentes tipos de solo. Estes valores devem ser utilizados quando não existirem dados precisos ou quando não forem realizados ensaios com o solo onde será executada a obra. O valor do coeficiente kv pode ser obtido estimando-o por valores típicos encontrados na literatura, como é o caso dos valores mostrados na Tabela 2, fornecida por Terzaghi (1955). Tabela 2 : Valores típicos do coeficiente de reação vertical para areias e argilas Fonte. Terzaghi, 1955 (adaptado de VELLOSO E LOPES, 2010) Há algumas correlações entre o coeficiente de reação vertical e ensaios in-situ, como a que utiliza o SPT, mostrada no gráfico 1. Elaborado por de Mello (1971), faz referência a uma faixa onde se situam os valores encontrados na literatura a curva de Terzaghi e Peck corresponde. Pela amplitude dessa faixa, pode-se concluir que a correlação é fraca. Gráfico 1 - Correlações entre kv e resultados do SPT Fonte. Mello (1971) 7.2 Coeficiente de reação horizontal do solo (𝐤𝐡) De acordo com a Hipótese de Winkler o coeficiente de reação horizontal do solo (𝑘ℎ) pode ser demonstrado pela razão entre a pressão (força por unidade de área) e o deslocamento horizontal associado, de acordo com a equação ( ????). 𝑘ℎ = 𝜎 / y ● 𝑘ℎ: módulo de reação horizontal do solo; ● 𝜎: tensão lateral aplicada na estaca; ● 𝑦: deslocamento horizontal O coeficiente de reação horizontal pode ser constante ou variável com o aumento da profundidade. Sendo assim, ele também pode ser obtido de duas maneiras, mostradas nas Eq. (3) e (4) (VELLOSO E LOPES, 2011). 𝑘ℎ = 𝑚ℎ . 𝑧 𝑘ℎ = 𝑛ℎ . 𝑧 /.B 𝑛ℎ = 𝑚ℎ .B ● kh: coeficiente de reação horizontal (kN/m³); ● mh: constante de reação horizontal em função da profundidade (kN/m4 ); ● z: profundidade (m); ● nh: constante de reação horizontal em função da profundidade, ao incluir a dimensão longitudinal B (kN/m³); ● B: dimensão longitudinal (m). O valor dele pode ser obtido por ensaios de placas, ensaios pressiométricos ou tabelas de valores típicos e correlações empíricas. TERZAGHI (1955) também analisou os coeficientes de reação horizontal, propondo valores típicos para kh segundo o tipo de solo como ilustra a tabela ???? Tabela ????Valores típicos para a taxa de crescimento do coeficiente de reação horizontal para areias. Fonte. TERZAGHI (1955). 8 ENSAIO DE PLACA Além da forma analítica ou teórica para previsão de recalques, também é possível o método experimental, por meio de provas de carga sobre placa. O módulo de reação vertical de um solo pode ser determinado através de um ensaio de placa, onde os resultados obtidos permitem traçar uma curva tensão x recalque que representa o comportamento da deformabilidade do solo. O ensaio de placa é, segundo Décourt e Quaresma Filho (1996), a maneira mais adequada para obter as características carga-recalque das fundações, porém não é utilizada com frequência devido ser de alto custo e longo período de tempo para sua execução, o que acaba limitando a quantidade de repetições. A prova de carga em placa é um ensaio de compressão realizado diretamente na superfície de um terreno, usando uma placa metálica e rígida, com área não inferior a 0,5 m². Nela são aplicadas gradativamente cargas verticais no centro, medindo-se as deformações simultaneamente aos acréscimos de carga. O ensaio visa mostrar o comportamento da fundação sob a ação de cargas oriundas da superestrutura. Os resultados são apresentados em forma de gráficos de pressão versus recalque, como esta ilustrado no gráfico abaixo ???? Gráfico ???? - Determinação do módulo de reação vertical do solo através de um ensaio de placa. Fonte. Leoni (1973). Segundo Mello e Teixeira (1968), este ensaio é realizado em um modelo que procura reproduzir o comportamento de uma fundação em escala quase real, onde as deformações do solo subjacente à sapata podem se dar de duas formas: uma resulta da redução de volume por compressibilidade e a outra é uma deformação do tipo cisalhante, resultando em uma mudança de forma. A soma dessas deformações representa o recalque total sofrido. O ensaio possui maior aplicabilidade em terrenos cuja deformabilidade é praticamente imediata à ação das cargas, logo, sendo primeiramente empregado em terrenos pedregulhosos, arenosos e silto-arenosos (em qualquer grau de saturação), e em segundo lugar, em terrenos argilosos e silto-argilosos (com baixo grau de saturação) (BARATA, 1984). Alonso (1991), afirma que o resultado obtido por uma prova de carga sobre placas só pode ser transferido para a fundação real se os bulbos de pressões de ambos estiverem contidos em solos com as mesmas características de resistência e deformabilidade. Daí a importância de se conhecer o perfil geotécnico do solo e para evitar interpretações equivocadas de seu comportamento. No caso da existência de camadas compressíveismais profundas, não solicitadas pela placa mas sim pela fundação, a prova de carga só terá valor se o tamanho da placa for aumentado de forma que o bulbo de tensões possa englobar esta camada. 9 PROGRAMAS COMERCIAIS 9.1 Eberick É um software, desenvolvido pela empresa AltoQi, para elaboração de projetos estruturais em concreto armado moldado in-loco, pré-moldado, alvenaria estrutural e estruturas mistas, que possui recursos para agilizar etapas de modelagem. Além disso, realiza a análise da estrutura, o dimensionamento das peças estruturais, faz compatibilização de projeto e gera pranchas finais com detalhamentos das armaduras e planta de fôrmas. O programa utiliza modelos de pórtico espacial e realiza os dimensionamento e detalhamento de acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014). Em relação a ISE o Eberick utiliza os coeficientes de recalque vertical e horizontal, considerando o solo como um meio elástico e adotando as hipóteses de Winkler.. Além disso, devem ser fornecidos: a espessura da camada de solo, o coeficiente de Poisson e os coeficientes de reação do solo, tanto vertical, quanto horizontal. Os coeficientes de recalque vertical e horizontal do solo devem ser definidos de acordo com estudos geotécnicos do solo existente no local da obra. O programa recomenda a realização de ensaios de placa onde a estrutura será executada. Ao realizar um ensaio, garante a confiabilidade dos valores usados para simular os efeitos da ISE. Quando não for possível fazer ensaios, opta-se pelo uso de tabelas ou correlações empíricas. 9.2 CAD TQS O programa apresenta uma interface direcionada para a engenharia, onde o projetista define a posição e as dimensões dos elementos estruturais e as ações que atuarão na estrutura. Com base nos dados o sistema gera os modelos matemáticos e faz o dimensionamento e detalhamento dos elementos estruturais. Esse sistema possui uma opção específica para projeto de fundações e a consideração da ISE, chamado Sistema de Interação Solo-Estrutura (SISEs). Este sistema permite que o usuário determine os esforços solicitantes e os recalques da estrutura de forma exata, somente se as características fornecidas do solo estiverem corretas. As informações fluem de forma harmônica entre os engenheiro estrutural e o geotécnico pois permite-se criar modelos com a estrutura de fundação junto à superestrutura. Assim como ocorre no Eberick, o SISEs obtém estes coeficientes através da teoria de Winkler. Para fundações profundas, utiliza-se o método proposto por Aoki-Velloso para a obtenção dos coeficientes de recalque vertical e a capacidade de carga. Devido à grande variabilidade existente entre os solos, o SISEs sempre cria dois modelos estruturais, com os valores máximos e mínimos de módulo de reação que podem ser encontrados para o tipo de solo usado. O SISEs foi criado para trabalhar em junto com os sistemas CAD/TQS para projeto estrutural e devido a esta interação não é possível modelar, dimensionar e detalhar apenas a fundação, sendo necessário projetar a estrutura antes. Após modelar a superestrutura em um sistema CAD/TQS é gerado um arquivo que deve ser importado no SISEs para incorporação da superestrutura nas fundações. Após o processamento desta estrutura é gerado um arquivo com extensão IFE (Interface Fundações Estrutura) para ser exportado novamente para o sistema CAD/TQS a fim de incorporar os efeitos da fundação no modelo da superestrutura. Para as fundações diretas há uma discretização dos elementos de fundação em nós e barras acoplados ao modelo da superestrutura. Após as discretização são calculadas as molas verticais e horizontais para cada um dos nós da fundação. Para as estacas a discretização e obtenção das molas é feita de metro em metro. SAP 2000 O software é completamente geral, permite a modelação do sistema estrutura-fundação- solo. Para o modelo do solo podem ser utilizadas molas (springs) com comportamento linear ou elementos de tipo LINK com comportamento linear ou não-linear, que podem trabalhar somente em compressão. O programa permite modelar e analisar diferentes tipos de fundações e estruturas. Para as fundações superficiais (sapatas, lajes de radier) podem-se definir elementos superficiais apoiados sobre o terreno modelado com molas. O coeficiente elástico da mola pode ser definido diretamente nos nós ou por unidade de área. Esse software distribui automaticamente as molas associadas com a área para os nós localizados nos vértices do elemento de superfície. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Em virtude da complexidade e extensão da área de interação solo-estrutura, alguns aspectos ainda podem ser melhor discutidos em trabalhos futuros, dentre os quais pode se destacar: ● Efeito dinâmico das cargas nos métodos analíticos estudados de Reese e Impe e API para solos arenosos; ● Avaliação da interação solo-estrutura em fundação por tubulões, comparando desempenho em serviço e taxas de armadura dos elementos; ● Estudo da variação da taxa de armadura em fundações por estaca única ou bloco sobre duas estacas, de modo a maximizar o efeito do engaste entre bloco e estaca e, consequentemente, das solicitações nas estacas ou tubulões; ● Estudo a interação solo estrutura envolvendo pontes com mais longarinas ou sistemas estruturais diversos, como pontes curvas, nos quais possa existir maior magnitude de esforços transversais e, consequentemente, forças transversais e momentos fletores nos blocos de fundação; ● Avaliar conjuntamente superestrutura e mesoestrutura considerando a interação solo estrutura na infraestrutura. 10. RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS O trabalho consiste na análise do complexo sistema que envolve o acoplamento entre maciço de solos/subestrutura/infraestrutura/superestrutura, logo apresentará maneiras simples a ISE, por meio de uma vasta revisão bibliográfica aliada a exemplos numéricos, visando ressaltar a importância da teoria. A sequência dos encadeamentos lógicos será disposta de forma prática, para tornar o processo dinâmico. Apresentará recomendações práticas para a avaliação da interação solo-estrutura, de maneira a orientar de modo mais realista o engenheiro de estruturas na concepção de projetos de fundações. Dada a falta de conhecimentos sobre os efeitos da interação solo–estrutura nas edificações, verifica-se a necessidade de pesquisas que abordem o assunto. Elas são importantes para dar embasamento aos profissionais de engenharia, permitindo que seja feito um dimensionamento estrutural mais adequado a realidade física, além de alertá-los para este problema extremamente negligenciado. Vários são os exemplos de edificações que mostram algum tipo de deformidade devido a falta de dedução mecânica. A vida de uma construção está diretamente ligada a sua fundação, logo ao ignorar a análise conjunta, poderá comprometer a segurança, economia e sofrer manifestações patológicas. Com este trabalho espera-se contribuir para o conhecimento da ISE, ampliando a sua importância, além de estimular seu uso em projetos estruturais. Visa incentivar a inter-relação entre os projetistas, para assim trabalharem em harmonia no desenvolvimento de uma edificação. Após todas as análises, espera-se que os resultados a serem encontrados no trabalho serão coerentes e satisfatórios, onde ficará bastante claro a importância na análise da interação solo- estrutura. 11. CONCLUSÕES Infelizmente, na grande maioria das estruturas projetadas, não há cooperação entre os profissionais geotécnicos e estruturais, ocorrendo essa parceria apenas julgados excepcionais (estruturas de grande porte). Logo, muitas estruturas dimensionadas, podem ter a sua durabilidade comprometida pela falta da avaliação conjunta. Desse modo, observa-se que a ISE