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Resiliência 21/09 O termo resiliência vem da física e significa a propriedade de um corpo que foi deformado voltar ao estado original quando cessam as fonte de tensão. Na Psicologia, este conceito tem sido aplicado para estudar a capacidade humana de reorganização depois das adversidades. Capacidade humana de recomposição frente às adversidades Resiliência é um conceito dinâmico e tem sido estudado na Psicologia há pouco mais de 20 anos. Resiliência é definida como a capacidade humana de recomposição, de renascer das adversidades e vir fortalecido, com mais recursos e seguir em um curso de vida saudável. Esta capacidade humana de superação de desafios e adversidades tem chamado a atenção de psicólogos. A resiliência está associada a fatores de risco. Não existirá resiliência sem o risco. Os eventos traumáticos, dramáticos e adversos têm grande potencial para predispor pessoas e grupo a resultados negativos de desenvolvimento. Muitos podem ser os fatores de risco: pobreza extrema, consumo de drogas e outras substâncias, eventos de vida estressantes, ausência de apoio de rede social, baixo nível socioeconômico. Fatores de Risco e Fatores de Proteção Habitualmente os fatores de risco são vistos como predispondo a resultados negativos de desenvolvimento. Na condição de fatores de risco emergem os fatores de proteção. Pode entender como fatores de proteção características que diminuem a probabilidade de um resultado negativo. Fatores de proteção podem ser: coesão do grupo familiar, apoio social, elevada auto-estima, entre outros. Sobrevivência sem vitimização A resiliência é um processo que vai além da capacidade humana de sobreviver a dificuldades na vida. Sobreviver a eventos traumáticos não necessariamente significa ser resiliente. Por exemplo, algumas pessoas sobrevivem a eventos adversos, mas ficam em uma posição de vitimização, alimentam seu sofrimento e vivem cercados de culpa e raiva. A resiliência é um processo diferente do “sobreviver” porque é uma capacidade que permite ir em frente de modo saudável, organizado. É muito importante destacar que resiliência não significa invulnerabilidade, não significa ser auto-suficiente, não significa tampouco não sofrer com a dor e as adversidades. A idéia de invulnerabilidade supõe pessoas “blindadas”, impenetráveis ao estresse ou à dor. A invulnerabilidade é incompatível com a condição humana. As pessoas são sim vulneráveis, mas as que são altamente resilientes têm uma maior capacidade de se reerguer depois das adversidades, de se recompor e viver uma vida plena. As pessoas resilientes não são intocadas pela experiência dolorosa, já que a vivência da dor, da perda, das adversidades é necessária para sua superação. Numa cultura que não tolera a dor e o sofrimento, há uma tendência equivocada de negar o sofrimento e negar a dor. Crise: perigo e oportunidade O processo humano de desenvolvimento é cercado por crises e eventos desafiadores. O símbolo chinês para a palavra crise é composto por dois pictogramas, os símbolos de perigo e oportunidade. Certamente que não desejamos crises ou adversidades, mas nossos momentos de crise podem representar ao mesmo tempo momentos de oportunidade de mudança e crescimento. A Psicologia do Desenvolvimento tem estudado indivíduos resilientes e estes estudos têm levantado discussões sobre a visão típica segundo a qual os fatores de risco familiares, ambientais, sociais tendem a produzir transtornos vida adulta. Muitos estudos tentam entender como crianças filhas de pais perturbados mentalmente, com fatores de risco social, que sofreram abuso e negligência podiam ter vidas saudáveis, plenas, estar emocionalmente preservados. Muitos estudos têm sido realizados para investigar os fatores que poderiam explicar a resiliência. Walsh é uma das grandes autoras nessa área e estuda não só a resiliência individual mas também a resiliência do grupo familiar. Essa autora destaca que a resiliência depende, por exemplo: da forma como a pessoa consegue extrair significado da adversidade, do quanto consegue ter uma perspectiva positiva sobre a vida e da sua transcendência e espiritualidade. Sistemas de Crenças e Resiliência Podemos enxergar o mundo de formas muito diferentes. Nossos sistemas de crenças envolvem nossos valores, convicções, nossa forma de entender a vida e estão na base que explica nossas reações emocionais, decisões e nossas ações e posicionamento diante da vida. Nossos sistemas de crenças são fundamentais para a resiliência em maior ou em menor grau. O temperamento, a inteligência, a auto-estima, a forma como cada um de nós extrai significado da adversidade também fazem diferença para a resiliência. As pessoas mais resilientes tendem a ter uma perspectiva positiva sobre a vida. Isso significa que elas mostram perseverança, coragem, ilusões positivas, confiança compartilhada na superação de dificuldades, entre outros aspectos. A perseverança é entendida como a capacidade de resistir, de persistir diante da adversidade. A coragem pessoal e também o encorajamento recebido por parte da família, dos amigos, do grupo social são elementos interligados e que podem favorecer a resiliência. O encorajamento e as relações de apoio são fundamentais para a coragem pessoal. O otimismo aprendido é um conceito proposto por Seligman e significa o reconhecimento de que os esforços e ações não são em vão. A nível individual, pessoas resilientes tendem a ver o “fracasso” como tendo algo a aprender com ele, não exatamente como derrota. Resiliência, perseverança e esperança Pessoas mais resilientes mostram o que alguns autores chamam de ilusões positivas, ou seja, a capacidade de manter a esperança diante da crise, permitindo que se utilizem todos os recursos para enfrentar as dificuldades. A transcendência e espiritualidade também são importantes. As pessoas com crenças transcendentes tendem a encontrar um significado maior na vida. Isto habitualmente vem associado a alguma fé espiritual, não necessariamente a uma religião. A espiritualidade costuma oferecer conforto nas situações de angústia, tornando eventos inesperados menos ameaçadores e ajudando na aceitação de situações que não podem ser modificadas. Para finalizar deve-se destacar que a resiliência não é uma característica imutável. Isto significa dizer que as pessoas podem mostrar níveis diferenciados de resiliência ao longo da vida, em diferentes momentos ou situações de vida.