Buscar

PORTUGUÊS I_ livro

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 90 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 90 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 90 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 Profa. Me. Gisleuda Gabriel 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 PORTUGUÊS I 
 
 
 
 
 
 
 
 Sobral 
 2017 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
SUMÁRIO 
 
Palavra do professor autor 
Sobre o Autor 
Ambientação 
 
UNIDADE 1 - A Comunicação: Linguagem, Texto e Discurso. 
Linguagem 
Língua 
A origem da Língua Portuguesa 
Códigos 
Variedades Linguísticas 
A língua portuguesa como identidade grupal 
Dialetos e Registros 
Gíria 
Oralidade e Escrita 
Língua falada e a Língua escrita 
 
UNIDADE 2 - A Comunicação e a Intencionalidade Discursiva 
Elementos Essenciais da Comunicação 
O Modelo Comunicativo de Roman Jakobson 
Intencionalidade Discursiva 
Funções da Linguagem 
Informatividade, economia, ruído e redundância. 
 
 
 
 
6 
 
UNIDADE 3 - Texto e Discurso 
Texto e Textualidade 
Coerência Textual 
A coerência e o contexto discursivo 
Coesão Textual 
Procedimentos coesivos 
Conectivos ou Recursos de Coesão 
Relações de coesão 
Intertextualidade, Interdiscursividade e Paródia. 
Tipos de Intertextualidade 
 
UNIDADE 4 – Da teoria à prática: Produção Textual 
Refletindo sobre o texto 
 
Referências Bibliográficas 
 
 
 
7 
 
Palavra do professor autor 
 
Olá estudantes! 
A comunicação é algo intrínseco do ser humano, já nascemos com a 
necessidade de nos comunicar e essa interação sempre se dá em função de 
inúmeras necessidades que nós, por vivermos em sociedade, temos em relação às 
outras pessoas. O processo comunicativo inicia da nossa necessidade de interagir 
com o outro. 
Através da disciplina de Português I, podemos depreender alguns 
elementos que compõem a comunicação verbal humana, sobretudo, conscientes de 
ser o ato comunicativo a “comunhão” de nossas necessidades e envolve inúmeros 
elementos. 
Como afirmou o inglês, John Donne, Se “nenhum homem é uma ilha, 
completo em si mesmo”, é justamente porque ninguém está sozinho, e todos nós 
precisamos uns dos outros para viver. Viver pressupõe isso: interagir com os outros e 
com o mundo, e, para interagir, é preciso saber como fazer isso, pois nossa 
sociedade é complexa e revela inúmeras situações comunicativas e vários propósitos 
comunicativos, com suas próprias regras. 
Em outras palavras, nós nos comunicamos porque participamos de 
relações sociais com outras pessoas e, em determinadas situações, 
necessitamos nos fazer compreendidos por elas. Foi pensando nessas e outras 
questões concernentes ao assunto que este material de estudo foi pensado, não 
somente como mais uma disciplina a ser integrado ao curso, mas uma ferramenta 
indispensável na contribuição do futuro jornalista que fará desses conceitos e técnicas 
a construção de sua prática. É nesse sentido que ninguém consegue viver como uma 
ilha, pois uma ilha não se comunica com nada, senão com ela mesma. 
 
Bons Estudos! 
 
A autora 
 
 
8 
 
Sobre o Autor 
 
 
Mestre em Linguística Aplicada pelo Programa de Pós-
Graduação em LA da Universidade Estadual do Ceará 
(PosLa). Experiência na área de Letras, com ênfase em 
Ensino da língua Francesa (FLE), atuando principalmente 
nos seguintes temas: Ensino de Língua Francesa, Ensino 
de Língua Portuguesa e Ensino de Língua Portuguesa 
para Estrangeiros (PLE). Membro do Grupo de Pesquisa - Literatura: Estudo, Ensino 
e (Re) leitura do mundo (GPLEER) - A Literatura na formação de professores de LE 
na UECE como Objeto de Estudo, Recurso para o Ensino e Formadora de Leitores: 
Diagnóstico e Proposta de Atuação, coordenado pela Professora Doutora Cleudene 
Aragão. Atualmente, aluna de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em 
Linguística Aplicada (PosLa). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Ambientação 
 
Olá estudantes, tudo bem? 
Iniciaremos o estudo da disciplina Português I, cujo propósito consiste em 
contribuir de forma significativa para a ampliação das competências e habilidades 
linguísticas por meio dos usos efetivos da linguagem. 
Partimos da ideia de que a língua não é um sistema fechado, imutável, de 
unidades e de leis combinatórias, mas um processo dinâmico, um meio de realizar 
ações, de agir e atuar sobre o outro. Logo, o seu conhecimento sobre a nossa língua 
materna e as práticas sociais comunicativas serão o ponto de partida fundamental 
para percorremos o caminho da aprendizagem, pois o ato de se comunicar envolve 
interação, conhecimento e transformação. 
O principal objetivo do ensino e aprendizagem de uma língua consiste em 
verificar a competência de ler, compreender, interpretar, relacionar informações, 
produzir textos e não avaliar se o aluno domina as regras da gramática normativa. 
Nesse sentido, queremos que você não apenas reconheça as normas das situações 
comunicativas em que se envolve, mas também avaliar os comportamentos 
linguísticos nos mais diversificados contextos sociais, pois sabemos que empregar 
uma língua de forma apropriada significa adequá-la aos mais variados contextos 
comunicativos. 
No âmbito profissional, consideramos o estudo dos gêneros textuais como 
tarefa primordial para o desenvolvimento do savoir-faire, pois sabemos que o 
jornalista trabalha na procura de informações, produção e divulgação, pois redige 
reportagens, faz entrevistas, escreve artigos, adaptando o tamanho, a abordagem, a 
linguagem dos textos aos diversos veículos de comunicação e ao público a que se 
destinam. Logo, ter o domínio mínimo da língua constitui um aspecto relevante, pois, 
implica ter a possibilidade de modificar nossas percepções, de influenciar no modo de 
pensar e agir de forma mais responsável. 
 
Savoir-faire = > É a experiência prática na realização de uma tarefa. O Savoir-
faire pode ou não pode ser difícil a transferência deste saber prático. 
 
10 
 
Levaremos em consideração o fato de que no mundo atual caracterizado 
pela diversidade de linguagens e pelas comunicações eletrônicas, o uso adequado e 
eficiente da linguagem verbal se torna imprescindível. Para isso, conduziremos a 
aprendizagem por meio de situações reais de uso voltados para a produção de textos 
– sejam eles orais ou escritos – nas mais diversificadas finalidades. 
Desejamos a todos, uma excelente aprendizagem! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
A COMUNICAÇÃO: LINGUAGEM; 
TEXTO E DISCURSO. 
1 
 
Conhecimento 
Conhecer os aspectos linguísticos da Língua Portuguesa 
 
 
 
 
 
Habilidades 
Identificar os elementos básicos da comunicação. 
 
 
 
 
 
Atitudes 
Utilizar as variedades linguísticas, em contextos situacionais de produção e uso. 
 
 
 
 
 
12 
 
Linguagem é a palavra que identifica o ser humano, é ela seu substrato que 
possibilite a convivência humana e a comunicação total entre os seres 
dotados de inteligência; ela é a menor partícula do entendimento das coisas. 
A palavra é o átomo da alma. 
(ZIRALDO, 2007. p.74-75) 
 
Para você, o que é linguagem? 
 
Linguagem é a faculdade inerente ao homem de poder expressar seus 
pensamentos e sentimentos por meio de sons e de sinais. É um processo 
comunicativo pelo qual as pessoas interagem. Logo, quando o homem fala, emite 
sons (utiliza a linguagem falada); quando escreve, emprega os sinais (utiliza a 
linguagem escrita); quando emite gestos (usa a linguagem mímica) assim por diante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para se comunicar, os personagens da tirinha não utilizam apenas as 
palavras, eles sorriem, gesticulam, fazem expressõescorporais e faciais, ou seja, 
várias linguagens. 
Mas por que o ser humano se comunica? 
 
 
 
13 
 
A ciência afirma que, independente de qualquer diferença, ao longo da vida 
as pessoas são movidas por necessidades universais tais como: comer, se proteger, 
se relacionar de forma afetiva com outras pessoas e de se realizar. Tudo isso, se 
torna possível por meio da capacidade inata ao homem: sua capacidade de se 
comunicar. É nesse sentido que o ato de se comunicar está atrelado à sobrevivência 
humana. 
 
O que é comunicação? 
 
Comunicação é uma palavra derivada do termo em latim "communicare", 
que significa partilha troca, entendimento, compreensão, tornar comum. A 
comunicação acontece quando duas pessoas são comuns, ou seja, conseguem trocar 
(enviar, receber e entender) mensagens utilizando códigos e signos conhecidos pelos 
agentes comunicadores. Entre as maneiras de se comunicar e interagir com as 
pessoas estão a comunicação: verbal (a fala); não verbal (duas pessoas gesticulando; 
escrita); comunicação mediada (mensagens via meios de comunicação - mídia). 
Conforme os estudos de Díaz Bordenave (2006, p.17) quando afirma que: 
 
[...] a comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura 
foram transmitidos para cada um de nós, pelo qual aprendemos a ser 
“membro” da sociedade a qual pertencemos de nossa família, do grupo de 
amigos e de nossa nação e, consequentemente, incorporamos nossa cultura, 
ou seja, valores, crenças, hábitos e modos de agir. 
 
Podemos dizer que os componentes elementares da comunicação, ou seja, 
para que a comunicação seja transmitida, é necessária a presença dos seguintes 
elementos: emissor; receptor, mensagem, código, referente e canal da mensagem. 
O fato é que a comunicação sempre existiu, desde os primeiros 
agrupamentos humanos e a modernidade problematizou esse processo e criou novas 
formas e meios de se comunicar. 
 
 
 
 
14 
 
Linguagem Verbal e Linguagem não verbal 
 
A linguagem não é somente um conjunto de palavras faladas ou escritas, 
mas também de gestos e imagens. Afinal, não nos comunicamos apenas pela fala ou 
escrita, não é verdade? 
 
Para nos comunicarmos, utilizamos com frequência a linguagem verbal e 
linguagem não verbal. A unidade básica da linguagem verbal é a palavra (falada ou 
escrita), porém existem também as linguagens não verbais, como: a mímica, a 
música, a dança, a fotografia, a escultura etc., que possuem outros tipos de unidade – 
o gesto, o movimento, a imagem, etc. Existem, ainda, as linguagens mistas, aquelas 
que utilizam simultaneamente linguagem verbal e não verbal: as histórias em 
quadrinhos, o teatro, o cinema, a música, um cartaz publicitário etc. 
 
Como advento da informática e, consequentemente, das novas formas de 
comunicação oferecida pelas tecnologias, podemos afirmar que existe também a 
linguagem digital, que permite armazenar e transmitir informações por meios 
eletrônicos. Vemos que, de fato, o desenvolvimento da civilização acompanha o 
desenvolvimento das tecnologias e diante das novas formas de comunicação, 
surgiram alguns gêneros digitais com outros tipos de linguagens: os chats, os blogs, o 
Facebook, o Twitter etc. 
 
Língua: Além do português, há no Brasil aproximadamente 180 línguas indígenas, 
falada por 225 etnias. Dessas línguas, 110 são consideradas em extinção, pelo fato 
de serem faladas por menos de 500 pessoas. Estima-se que, em 1500,cerca de 6 
milhões de índios falavam 1.078 idiomas. 
 
A língua é uma consequência da evolução da linguagem e no mundo 
existem aproximadamente 2700 línguas e 7 mil dialetos. As três línguas mais faladas 
são o mandarim (falado na China), o hindi (falado na Índia) e o inglês (falado nos 
Estados Unidos, na Inglaterra e em vários outros países). A Língua Portuguesa ocupa 
 
 
15 
 
o 7º lugar e é falado por cerca de 200 milhões de pessoas de quatro continentes e no 
Brasil encontram-se 90% dos seus falantes. 
Um conjunto de sinais (palavras) e de leis combinatórias por meio do qual 
as pessoas de uma comunidade se comunicam e interagem. Trata-se de um 
elemento de comunicação de ideias, sentimentos, percepções da realidade, emoções 
e sua origem decorre de um fato social: a necessidade da comunicação. 
A língua pertence a todos os membros de uma comunidade, por isso faz 
parte do patrimônio social e cultural de cada coletividade; é o resultado histórico de 
uma convenção, um único indivíduo, isoladamente, não é capaz de criá-la ou 
modificá-la. Entretanto, a fala e a escrita são usos sociais individuais da língua, pois 
sempre que falamos e escrevemos, levamos em consideração quem é o interlocutor e 
a situação comunicativa a qual estamos inseridos. 
É importante destacarmos que aquele que produz a linguagem é chamado 
de locutor, aquele que recebe a linguagem é chamado de locutário, no processo de 
comunicação e interação ambos são chamados de interlocutores. 
Nem a língua nem a fala são imutáveis, pois a língua evolui, transforma-se 
historicamente. A fala também se modifica, conforme a história pessoal de cada 
indivíduo, sua formação escolar e cultural, suas vivências e grupo social ao qual 
pertence. 
 
 
 
 
De olho na Mídia /Documentário 
 
Língua: Vidas em português (2001), do diretor Victor Lopes, 
trata-se de um documentário que conta a história da língua 
portuguesa de uma maneira bastante heterogênea. A trajetória 
da língua perpassa por todos os países de língua portuguesa – 
Goa (estado da índia), Moçambique, Portugal, Brasil, Macau 
(China), Angola e Japão (Comunidade brasileira em Tóquio) – 
e é retratada por pessoas de várias profissões (padeiro, 
Interlocutores são as pessoas que participam do processo de interação por meio 
da linguagem. 
 
16 
 
escritores, músicos, vendedor de balas) e classes sociais que se valem desse idioma 
para se comunicarem ou trabalharem. 
Nesse documentário, temos ainda a presença de figuras importantes no 
cenário literário da língua portuguesa, como Saramago, Mia Couto e João Ubaldo 
Ribeiro, que são porta-vozes de toda uma nação, de toda uma comunidade mundial 
de usuários da língua. 
Antes de falarmos sobre os principais elementos da comunicação, 
traçaremos um breve histórico sobre a origem da Língua Portuguesa. 
 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JBmLzbjmhhg>. Acesso em: 27 de fev.2017. 51m. 
 
A origem da Língua Portuguesa 
 
Historicamente, a origem da Língua Portuguesa está relacionada aos 
acontecimentos históricos da Península Ibérica. Conforme os estudos de Bechara 
(2009, p. 23): “a língua portuguesa é a continuação ininterrupta, no tempo e no 
espaço, do latim levado à Península Ibérica pela expansão do império romano, no 
início do séc. III a.c”. 
A consolidação dos idiomas nacionais 
europeus, sobretudo aqueles derivados do latim, 
ocorreu entre os séculos XII e XVI, na passagem 
da Baixa Idade Média para a Idade Moderna. 
Entretanto, a história da formação de cada um 
desses idiomas deve levar em consideração a 
mistura de elementos das línguas bárbaras como o 
latim, pois ao longo de mais de sete séculos de 
ocupação peninsular, povos bárbaros do norte 
europeu tiveram contato com o Império Romano. 
Houve uma forte influência no chamado galaico-
https://www.youtube.com/watch?v=JBmLzbjmhhg
 
 
17 
 
português que, a medida que Portugal expandia suas conquistas absorviam os falares 
dos povos dominados, o galego e o português se consolidavam como línguas 
independentes. 
Com o passar do tempo, a civilização latina se consolidou por meio da 
abertura de escolas, da construção de estradas, templos, pela incrementação do 
comércio e de outros serviços e a partir de então, o Latim tornou-se obrigatório. É 
válido destacar que o chamado “latim vulgar” foi o idioma levado pelos soldados para 
as áreas conquistadas no Império Romano porque era a língua oficial de Roma. Logo, 
o português se constituiucomo resultado das transformações ao longo do tempo do 
latim vulgar (uma das variantes da língua romana, falada por soldados, camponeses e 
camadas populares) e do galego (falado na província da Galícia - hoje em território 
espanhol). 
 
De fato, a evolução da língua portuguesa está relacionada com o domínio 
romano, pois por meio da influência das diversas línguas faladas na região antes do 
domínio romano sobre o latim vulgar, o latim passou por diversas modificações, 
dando origem a dialetos chamados romanço (do latim romanice que significava, falar 
a maneira dos romanos). 
Com as constantes invasões bárbaras, no século V, e a queda do Império 
Romano no Ocidente, surgiram vários dialetos, e numa evolução constituíram-se as 
línguas modernas conhecidas como: neolatinas. 
Na Península Ibérica, várias línguas se formaram entre elas o catalão, o 
castelhano, o galego-português, deste último resultou a língua portuguesa. 
Na entrada do século XIV, percebe-se maior influência dos falares do sul, 
notadamente na região de Lisboa; aumentando assim as diferenças entre o galego e 
o português. O galego apareceu durante os séculos XII e XV, aparecendo tanto em 
documentos oficiais da região de Galiza como em obras poéticas. 
A partir do século XVI, com o domínio de Castela, o castelhano foi 
introduzido como língua oficial e o galego tem sua importância relegada ao plano 
secundário. Entretanto, o português, desde a consolidação da autonomia política e, 
mais tarde, com a dilatação do império luso, consagra-se como língua oficial. 
 
18 
 
Em suma, a evolução da língua portuguesa é dividida em 5 (cinco) 
períodos: 1) Pré-Românico; 2) Românico; 3) Galego-português; 4) Português 
arcaico e 5) Português moderno. 
1) Pré-românico: Surgidas a partir do latim vulgar (sermo vulgaris). 
2) Românico: São as línguas que resultaram da diferenciação ou do latim 
levado pelos colonizadores romanos. Devido às sucessivas mutações, o latim foi 
substituído por dialetos e quatro séculos depois surgiram as demais línguas 
românicas: francês, espanhol, italiano, sardo, provençal, rético, franco-provençal, 
dálmata e romeno. 
3) Galego-português: foi o idioma da Galiza, na atual Espanha, e das 
regiões portuguesas do Douro e Minho. 
4) Português Arcaico: A separação entre o galego e o português se 
iniciará com a independência de Portugal (1185) e se consolidará com a expulsão dos 
mouros em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o 
país. No século XIV surge a prosa literária em português, com a Crônica Geral de 
Espanha (1344) e o Livro de Linhagens, de dom Pedro, conde de Barcelos. 
Entre os séculos XIV e XVI, com a construção do império português de 
ultramar, a língua portuguesa faz-se presente em várias regiões da Ásia, África e 
América, sofrendo influências locais (presentes na língua atual em termos 
como jangada, de origem malaia, e chá, de origem chinesa). Foi nesse período que 
começaram os estudos gramaticais da língua portuguesa. 
5) Português Moderno: No século XVI, com o aparecimento das primeiras 
gramáticas que definem a morfologia e a sintaxe, a língua entra na sua fase moderna: 
em Os Lusíadas, de Luís de Camões (1572), o português já é, tanto na estrutura da 
frase quanto na morfologia, muito próximo do atual. A partir daí, a língua terá 
mudanças menores: Na fase em que Portugal foi governado pelo trono espanhol 
(1580-1640), o português incorpora palavras castelhanas (como bobo e granizo); e a 
influência francesa no século XVIII (sentida principalmente em Portugal) faz o 
português da metrópole afastar-se do falado nas colônias. 
Nos séculos XIX e XX o vocabulário português recebe novas contribuições: 
surgem termos de origem greco-latina para designar os avanços tecnológicos da 
época (como automóvel e televisão) e termos técnicos em inglês em ramos como as 
 
 
19 
 
ciências médicas e a informática (por exemplo, check-up e software). O volume de 
novos termos estimula a criação de uma comissão composta por representantes dos 
países de língua portuguesa, em 1990, para uniformizar o vocabulário técnico e evitar 
o agravamento do fenômeno de introdução de termos diferentes para os mesmos 
objetos. 
O atual quadro das regiões de língua portuguesa se deve às expansões 
territoriais lusitanas ocorridas no século XV a XVI. Logo que a língua portuguesa 
partiu do ocidente lusitano, entrou por todos os continentes: América (com o Brasil), 
África (Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, Moçambique, República Democrática de 
São Tomé e Príncipe), Ásia (Macau, Goa, Damão, Diu), e Oceania (Timor), além das 
ilhas atlânticas próximas da costa africana (Açores e Madeira), que fazem parte do 
estado português. Atualmente, é o idioma falado no Brasil e nos demais países 
lusófonos. 
Em alguns países o português é a língua oficial (República Democrática de 
São Tomé e Príncipe, o Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde), e 
apesar de incorporações de vocábulos nativos de modificações de pronúncia, mantêm 
uma unidade com o português de Portugal. 
Em outros locais, surgiram dialetos originários do português. E também 
regiões em que essa língua é falada apenas por uma pequena parte da população, 
como em Hong Kong e Sri Lanka. 
 
Saiba mais 
 
O que é Flor do Lácio? 
Flor do Lácio é uma expressão usada para nomear a Língua Portuguesa. 
No soneto “Língua Portuguesa”, o poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918) escreve 
no primeiro verso “Última flor do Lácio, inculta e bela”, se referindo ao idioma 
Português como a última língua derivada do Latim Vulgar falado no Lácio, uma região 
da Itália. 
 
 
 
20 
 
Soneto "Língua Portuguesa" 
[Olavo Bilac] 
 
Última flor do Lácio, inculta e bela, 
És, á um tempo, esplendor e 
sepultura: 
Ouro nativo, que na ganga impura 
A bruta mina entre os cascalhos 
vela... 
Amo-te assim, desconhecida e 
obscura. 
Tuba de alto clangor, lira singela, 
Que tens o trom e o silvo da 
procela, 
E o arrolo da saudade e da ternura! 
Amo o teu viço agreste e o teu 
aroma 
De virgens selvas e de oceano 
largo! 
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, 
Em que da voz materna ouvi: "meu 
filho!", 
E em que Camões chorou, no exílio 
amargo, 
O gênio sem ventura e o amor sem 
brilho! 
 
Outra homenagem à língua portuguesa refere-se à música "Língua" 
da autoria de Caetano Veloso e pertencente ao álbum "Velô", lançado em 
1984, onde o músico menciona em um trecho da melodia musical: "Flor do 
Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó". 
 
Língua 
[Caetano Veloso] 
 
Gosto de sentir a minha língua roçar 
a língua de Luís de Camões 
Gosto de ser e de estar 
E quero me dedicar a criar 
confusões de prosódias 
E uma profusão de paródias 
Que encurtem dores 
E furtem cores como camaleões 
Gosto do Pessoa na pessoa 
Da rosa no Rosa 
E sei que a poesia está para a 
prosa 
Assim como o amor está para a 
amizade 
E quem há de negar que esta lhe é 
superior? 
E deixe os Portugais morrerem à 
míngua 
Minha pátria é minha língua 
Fala Mangueira! Fala! 
Flor do Lácio Sambódromo 
Lusamérica latim em pó 
O que quer 
O que pode esta língua? 
Vamos atentar para a sintaxe dos 
paulistas 
E o falso inglês relax dos surfistas 
Sejamos imperialistas! Cadê? 
Sejamos imperialistas! 
Vamos na velô da dicção choo-choo 
 
 
21 
 
de Carmem Miranda 
E que o Chico Buarque de Holanda 
nos resgate 
E (xeque-mate) explique-nos 
Luanda 
Ouçamos com atenção os deles e 
os delas da TV Globo 
Sejamos o lobo do lobo do homem 
Lobo do lobo do lobo do homem 
Adoro nomes 
Nomes em ã 
De coisas como rã e ímã 
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã 
Nomes de nomes 
Como Scarlet, Moon, de Chevalier, 
Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé 
e Maria da Fé 
Flor do Lácio Sambódromo 
Lusamérica latim em pó 
O que quer 
O que pode esta língua? 
Se você tem uma ideia incrível é 
melhor fazer uma cançãoEstá provado que só é possível 
filosofar em alemão 
Blitz quer dizer corisco 
Hollywood quer dizer Azevedo 
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o 
Recôncavo meu medo 
A língua é minha pátria 
E eu não tenho pátria, tenho mátria 
E quero fratria 
Poesia concreta, prosa caótica 
Ótica futura 
Samba-rap, chiclete com banana 
(Será que ele está no Pão de 
Açúcar? 
Tá craude brô 
Você e tu 
Lhe amo 
Qué que eu te faço, nego? 
Bote ligeiro! 
Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio 
vai ficar desesperado! 
Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, 
assim mais pareces um espantalho! 
I like to spend some time in 
Mozambique 
Arigatô, arigatô!) 
Nós canto-falamos como quem 
inveja negros 
Que sofrem horrores no Gueto do 
Harlem 
Livros, discos, vídeos à mancheia 
E deixa que digam, que pensem, 
que falem. 
 
Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=tX7cqBreLUY 
 
Por que estudar a Gramática? 
 
A palavra gramática é originada do grego grammatike, derivada de 
gramma, que significa letra, cujo correspondente no latim é littera. No entanto, 
gregos e romanos tinham uma concepção diferente do termo gramma, pois o 
vincularam ao símbolo escrito ou à letra (= grafema), ao passo que os romanos 
o ligavam ao som, o que nos evidencia a dicotomia entre grafia e som, 
mencionada mais tarde pelo linguista Ferdinand de Saussure. 
https://www.youtube.com/watch?v=tX7cqBreLUY
 
22 
 
Os filósofos de Alexandria viam a Gramática como uma arte: a arte 
da língua escrita. Entretanto, Platão e Aristóteles utilizavam, anteriormente, o 
termo gramma para referir-se às unidades da fala e da escrita. 
Percebe-se que as diretrizes da Gramática portuguesa no campo da 
normatividade tiveram sua origem na Gramática Grega, uma vez que a norma 
é fundamentada nos autores considerados clássicos ou modelos consagrados. 
Dessa forma, surgiu a Gramática Normativa que regula as normas do bem falar 
e do escrever. 
Gramática consiste na descrição sistemática dos fatos da linguagem 
falada e escrita e das leis naturais que a regulam. Como vimos, no século XIV 
foi publicada a primeira Gramática da Língua portuguesa intitulada Grammatica 
da lingoagem portuguesa, escrita por Fernão de Oliveira, que foi frade, 
gramático, construtor bélico-naval renascentista e um dos expoentes 
renascentistas portugueses. 
Editada em Lisboa, em 1536, a Gramática continha cinquenta 
capítulos, nos quais abordavam os assuntos: história da linguagem, noções de 
sintaxe e aspectos sonoros – tema que continha mais destaque. 
A descrição gramatical abrange diversos níveis de organização do 
sistema linguístico, ou seja, ela está dividida nos seguintes campos: 
1) Fonológico e fônico – estuda os fonemas da língua e as possibilidades 
de combinação e da formação de sílabas. 
2) Morfológico – estuda a classificação das palavras de acordo com sua 
estrutura, formação e flexão. 
3) Sintático – estuda as relações estabelecidas entre as palavras nas 
orações ou entre as orações nos períodos. 
4) Semântico – estuda as relações de sentido, ou seja, o significado das 
palavras, isoladamente ou dentro de um contexto. 
Toda língua possui uma estrutura com elementos interligados 
e é por isso que mesmo quem nunca frequentou uma escola, utiliza a 
língua de modo fluente em seus atos de comunicação. Entretanto, a 
língua não é apenas um agrupamento de palavras, mas um conjunto de 
 
 
23 
 
regras que permite aos seus usuários construir e compreender 
enunciados. 
Por esse motivo, ao estudarmos a gramática conseguimos 
associar uma sequência de sons ao seu conceito e construir frases por 
meio da escolha mais adequada. Essas regras nos permitem combinar 
palavras, criar frases e textos complexos por meio de mecanismos como 
a argumentação, a coesão e a coerência textual e é, também, por 
esse motivo que o estudo da Gramática se torna primordial no âmbito 
acadêmico. 
 
 
Códigos 
 
Código é um conjunto de sinais convencionados socialmente por um 
grupo de pessoas ou por uma comunidade para a construção e transmissão de 
mensagens de forma rápida. Além da palavra, oral e escrita, também são 
códigos os sinais de trânsito, os símbolos, o código Morse, as buzinas dos 
automóveis, as indicações de caixas em bancos ou em vagas de 
estacionamentos reservadas para idosos etc. 
 
 
Na reportagem, o escritor interage com o leitor fazendo uso da 
língua portuguesa, considerada um código verbal. Os códigos são muito 
utilizados quando há necessidade de informar e comunicar com rapidez. Por 
essa razão é comum haver códigos na rua, no trânsito, rodoviárias, aeroportos, 
etc. 
Como fruto de uma convenção social, as línguas não deixam de ser 
também, em certo sentido, um código verbal diferenciado, pois resultam de um 
processo social e histórico mais complexo e dinâmico. 
Código é um conjunto de sinais convencionados socialmente para a 
construção e transmissão de mensagens. 
 
24 
 
O “pãozinho francês” e suas variantes 
Um bom exemplo da variação linguística é o 
modo como o pãozinho francês é conhecido em 
diferentes lugares: 
 
“Isso não é um pão francês” 
– Média: Baixada Santista – São Paulo. 
– Filão: Ribeirão Preto - São Paulo. 
– Pãozinho: Capital de São Paulo. 
– Carioquinha – Ceará. 
– Cacetinho: Rio Grande do Sul. 
– Pão Jacó: Sergipe. 
- Pão Aguado – Interior do Nordeste. 
– Carequinha: Região Norte. 
Variedades Linguísticas 
 
Ao iniciarmos a aprendizagem de uma 
língua vamos treinando o nosso aparelho fonador 
(os lábios, a língua, os dentes, os maxilares, as 
cordas vocais) para produzir sons, que se 
transformam em palavras, em frases e em textos 
inteiros. 
A apropriação do vocabulário e das leis 
combinatórias da língua constitui-se como exercício 
contínuo à medida que entramos em contato com o 
mundo e logo percebemos que nem todos falam da 
mesma forma que nós. Isso ocorre por diferentes 
razões: Porque a pessoa vem de outra região; por 
ser mais velha ou mais jovem; por possuir maior ou 
menor grau de escolaridade; por pertencer a grupo ou classe social diferente. 
Essas diferenças no uso da língua constituem as variedades linguísticas. 
Entre as variedades da língua, a que tem mais prestígio é 
a variedade padrão. Também conhecida como língua padrão ou norma 
culta, essa variedade é utilizada na maior parte dos livros, jornais e revistas, 
em alguns programas de televisão, nos livros científicos e didáticos, e é 
ensinada na escola. As demais variedades linguísticas – como a regional, a 
gíria, o jargão de grupos ou profissões – são chamadas genericamente 
de variedades não padrão. 
 
 
 
 
Variedade padrão, língua padrão ou norma culta é a variedade 
linguística de maior prestígio social e está diretamente ligada à linguagem 
escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo geral. Razão pela 
Variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta, de 
acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é 
utilizada. 
 
 
25 
 
qual nunca escrevemos da mesma maneira que falamos e fator determinante 
para exercer total soberania sobre as demais. Utilizada em situações sociais 
que exigem um maior grau de formalidade – uma entrevista de emprego, um 
requerimento, um trabalho acadêmico, uma exposição pública, uma redação 
num concurso público – nesses casos, a variação linguística exigida é quase 
sempre a padrão, razão pela qual devemos dominá-la bem. 
Variedade não padrão ou Língua não padrão são todas as 
variedades linguísticas diferentes do padrão. Apresenta-se no nível informal e 
representa a linguagem do dia a dia, das conversas informais que temos com 
amigos, familiares etc. Compondo o quadro do padrão informal da linguagem, 
estão as chamadas variedades linguísticas, as quais representam as variações 
de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é 
utilizada. 
Apesar de haver muitos preconceitos sociaisem relação a variedades 
não padrão, é importante ressaltar que todas elas são válidas e têm valor nos 
grupos e nas comunidades em que são usadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
A língua portuguesa como identidade grupal 
 
As variações linguísticas no campo social apresenta a língua como 
expressão de uma identidade grupal. Você já observou que as pessoas que 
pertencem ao mesmo grupo social tendem a falar de forma semelhante? É o 
que acontece quando há identificação de pessoas que pertencem ao mesmo 
grupo social: passam a compartilhar o mesmo vocabulário, gírias e expressões 
próprias de mesma tribo. 
 
 
 
 
 
Na tirinha acima, fica clara a ideia de que os personagens Orelha e 
Moska fazem parte de um mesmo grupo social ao utilizarem expressões do 
tipo: “Aí, Orelha”, “Minas da pesada” e “Maior moral”. Outros fatores como as 
roupas, a maneira de andar, os gestos corporais etc., também contribuem para 
os critérios de aceitação ou rejeição em grupos sociais distintos. 
Dialetos e Registros 
 
Há dois tipos básicos de variação linguística: os dialetos e os 
registros. 
Os dialetos estão relacionados às variedades linguísticas próprias 
de uma região ou território, bem como às variações encontradas na fala de 
determinados grupos sociais. São variantes originadas das diferenças de 
região ou território, de idade, de sexo, de classes ou grupos sociais, e da 
própria evolução histórica da língua. 
As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de 
formalismo existente na situação; com o modo de expressão, isto é, se trata de 
 
 
27 
 
um registro oral ou escrito; com a sintonia entre os interlocutores, que envolve 
aspectos como graus de cortesia, tecnicidade (domínio do vocabulário 
específico de algum setor), etc. 
 
Gíria 
 
Gíria é um tipo de linguagem empregada em um determinado grupo 
social, mas que pode se estender à sociedade em razão do grau de aceitação 
como dos fãs de rap, de heavy metal, os surfistas, os skatistas, os forrozeiros, 
os funkeiros etc. Quando a gíria se restringe ao âmbito do trabalho, é chamada 
de jargão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jargão é um tipo de comunicação específica, limitada a um 
determinado grupo de profissionais, cujo objetivo consiste em acelerar a troca 
de informações ou comandos entre esses profissionais, de modo a alcançar 
maior produtividade, é o caso dos jornalistas, dos médicos, dos advogados, 
dos dentistas e outras profissões. 
 
 
 
 
 
28 
 
 Oralidade e Escrita 
 
 
Nas últimas décadas, a 
presença dos estudos linguísticos 
relativos à oralidade e à escrita tem 
sido constantes. Percebemos que a 
escrita não é um mero registro da fala, 
pois surgiu para expressar diferentes 
necessidades comunicativas dos 
seres humanos nas sociedades 
consideradas letradas e iletradas. 
Sabemos que o ser humano se expressa oralmente há mais de um 
milhão de anos, ao passo que a escrita existe apenas alguns milhares de anos. 
Embora saibamos que a fala é anterior à escrita e que alguns pesquisadores 
defendam a ideia de que a língua oral tenha surgido a partir das onomatopeias, 
sua origem ainda é um enigma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
Língua falada e a Língua escrita 
 
Para o estudioso Robson Andrew, “a civilização não pode existir sem 
a língua falada, mas pode sem a língua escrita” (ANDREW, 2016, p.9). De fato, 
a assertiva se confirma ao considerarmos a língua como capacidade inata ao 
homem, atividade social por meio do qual veiculamos informações, expomos 
sentimentos e agimos sobre os outros. 
Além de poder ser reproduzida oralmente, uma mensagem pode 
também efetuar-se de forma gráfica ou escrita. A escrita é um tipo de 
transposição realizada por meios gráficos da língua oral. Apesar de a língua 
oral ser anterior e predominar sobre a escrita, esta tem grande importância, 
uma vez que oferece maiores possibilidades de comunicação. 
É por meio da escrita que o homem registra o seu conhecimento e a 
sua cultura. Mesmo que hoje já haja um avanço notável no âmbito tecnológico, 
a base de qualquer ato comunicativo está na escrita. 
Com base na visão dicotômica, vejamos as principais diferenças 
entre a fala e a escrita, conforme Koch (2014): 
 
Fala Escrita 
Contextualizada Descontextualizada 
Implícita Explícita 
Redundante Condensada 
Não planejada Planejada 
Predominância do modus pragmático Predominância do modus sintático 
Fragmentada Não fragmentada 
Incompleta Completa 
Pouco elaborada Elaborada 
Pouca densidade informacional Densidade informacional 
Predominância de frases curtas, 
simples ou coordenadas 
Predominância de frases complexas, 
com subordinação abundante. 
Pequena frequência de passivas Emprego frequente de passivas 
Poucas nominalizações Abundância de nominalizações 
Menor densidade lexical Maior densidade lexical 
 
30 
 
Leia o poema a seguir: 
Aos poetas clássicos - 
Patativa do Assaré 
 
 
Poetas niversitário, 
Poetas de Cademia, 
De rico vocabularo 
Cheio de mitologia; 
Se a gente canta o que pensa, 
Eu quero pedir licença, 
Pois mesmo sem português 
Neste livrinho apresento 
O prazê e o sofrimento 
De um poeta camponês. 
 
Eu nasci aqui no mato, 
Vivi sempre a trabaiá, 
Neste meu pobre recato, 
Eu não pude estudá 
No verdô de minha idade, 
Só tive a felicidad 
De dá um pequeno insaio 
In dois livro do iscritô, 
O famoso professô 
Filisberto de Carvaio. 
 
No premêro livro havia 
Belas figuras na capa, 
E no começo se lia: 
A pá — O dedo do Papa, 
Papa, pia, dedo, dado, 
Pua, o pote de melado, 
Dá-me o dado, a fera é má 
E tantas coisa bonita, 
Qui o meu coração parpita 
Quando eu pego a rescordá. 
 
Foi os livro de valô 
Mais maió que vi no mundo, 
Apenas daquele autô 
Li o premêro e o segundo; 
Mas, porém, esta leitura, 
Me tirô da treva escura, 
 
Mostrando o caminho certo, 
Bastante me protegeu; 
Eu juro que Jesus deu 
Sarvação a Filisberto. 
 
Depois que os dois livro eu li, 
Fiquei me sintindo bem, 
E ôtras coisinha aprendi 
Sem tê lição de ninguém. 
Na minha pobre linguage, 
A minha lira servage 
Canto o que minha arma sente 
E o meu coração incerra, 
As coisa de minha terra 
E a vida de minha gente. 
 
Poeta niversitaro, 
Poeta de cademia, 
De rico vocabularo 
Cheio de mitologia, 
Tarvez este meu livrinho 
Não vá recebê carinho, 
Nem lugio e nem istima, 
Mas garanto sê fié 
E não istruí papé 
Com poesia sem rima. 
 
Cheio de rima e sintindo 
Quero iscrevê meu volume, 
Pra não ficá parecido 
Com a fulô sem perfume; 
A poesia sem rima, 
Bastante me disanima 
E alegria não me dá; 
Não tem sabô a leitura, 
Parece uma noite iscura 
Sem istrela e sem luá. 
 
Se um dotô me perguntá 
Se o verso sem rima presta, 
Calado eu não vou ficá, 
A minha resposta é esta: 
— Sem a rima, a poesia 
Perde arguma simpatia 
E uma parte do primô; 
Não merece munta parma, 
É como o corpo sem arma 
E o coração sem amô. 
 
Meu caro amigo poeta, 
Qui faz poesia branca, 
Não me chame de pateta 
Por esta opinião franca. 
Nasci entre a natureza, 
Sempre adorando as beleza 
Das obra do Criadô, 
Uvindo o vento na serva 
E vendo no campo a reva 
Pintadinha de fulô. 
 
Sou um caboco rocêro, 
Sem letra e sem istrução; 
O meu verso tem o chêro 
Da poêra do sertão; 
Vivo nesta solidade 
Bem destante da cidade 
Onde a ciença guverna. 
Tudo meu é naturá, 
Não sou capaz de gostá 
Da poesia moderna. 
 
Deste jeito Deus me quis 
E assim eu me sinto bem; 
Me considero feliz 
Sem nunca invejá quem tem 
Profundo conhecimento. 
Ou ligêro como o vento 
Ou divagá como a lesma, 
Tudo sofre a mesma prova, 
Vai batê na fria cova; 
Esta vida é sempre a mesma.
Guia de estudo: O que caracteriza a variedade linguística empregada no poema? 
 Indique os versos nos quais o eu lírico do poeta justifica a variedade 
linguística empregada e comente-as, posicionando-se contra ou a favor. 
 Que sentimento o eu lírico revela nos dois últimos parágrafos? 
 
 
 
31 
 
O poema de Patativa do Assaré representa a realidade de milhares 
de brasileiros que, ainda hoje, não têm a oportunidade de frequentar a escola. 
Essa impossibilidade, além de ser manifestada por meio dos versos do poeta 
cearense, também é percebida pela linguagem escrita que reproduz a fala do 
sertanejo pobre e sem acesso a educação. 
 
A escola, a principal agência de letramento, é responsável pelo 
ensino da norma padrão prescrita na Gramática Normativa e, à medida que o 
falante se apropria dessa norma, a sua fala e a sua escrita modificam-se 
naturalmente. Entretanto, é importante deixar claro que a fala e a escrita 
distante da norma padrão não significam ignorância ou falta de valores 
culturais, pois a variação linguística dependerá do contexto em que o falante 
está inserido. 
Fala e escrita são duas modalidades da língua com características 
próprias que utilizam o mesmo código linguístico. E o texto é o resultado de 
uma coprodução dentro de um processo interacional entre interlocutores e o 
que distingue o texto escrito do texto falado é a forma como a produção é 
realizada. 
 
32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
A COMUNICAÇÃO E A 
INTENCIONALIDADE 
DISCURSIVA 
 
2 
 
Conhecimento 
 
Compreender os elementos da comunicação e a intencionalidade discursiva. 
 
 
 
Habilidades 
Identificar os elementos implícitos dos discursos. 
 
 
 
Atitudes 
Utilizar a comunicação verbal e escrita adequada às normas vigentes em 
contextos variados de produção e uso da língua portuguesa. 
 
 
 
34 
 
Elementos Essenciais da Comunicação 
 
Por meio do processo de comunicação, os seres humanos e os 
animais partilham diferentes informações entre si, tornando o ato de comunicar 
uma atividade essencial. 
Constituindo-se como uma ferramenta de socialização, a 
comunicação foi desde os tempos mais remotos um instrumento indispensável 
para o desenvolvimento entre os povos. 
A mensagem é codificada num sistema de sinais definidos que 
podem ser gestos, sons, indícios, uma língua natural (português, inglês, 
espanhol, etc.), ou outros códigos que possuem um significado (por exemplo, 
as cores do semáforo), é transportada até o destinatário através de um canal 
de comunicação (o meio por onde circula a mensagem, seja por carta, telefone, 
comunicado na televisão, etc.). 
As outras formas de comunicação que recorrem a sistemas de sinais 
não linguísticos, como gestos, expressões faciais, imagens, etc., são 
denominadas comunicação não verbal. Quando a comunicação se realiza por 
meio de uma linguagem falada ou escrita, denomina-se comunicação verbal. É 
uma forma de comunicação exclusiva dos seres humanos e a mais importante 
nas sociedades humanas. 
Nesse processo destacam-se os seguintes elementos: emissor, 
receptor, código (sistema de sinais) e canal de comunicação. É importante 
mencionar que outro elemento presente no processo comunicativo é o ruído, 
caracterizado por tudo aquilo que afeta o canal, perturbando a perfeita 
captação da mensagem. 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
O que é um signo linguístico? 
Talvez você já tenha ouvido 
falar sobre a expressão signo 
linguístico, criada pelo linguista 
Ferdinand de Saussure. Um signo é 
uma entidade formada pelo 
significante (parte material) e pelo 
significado (parte imaterial). É a 
palavra, unidade básica da linguagem 
verbal. No código de trânsito, um 
sinal vermelho é um signo. 
O Modelo Comunicativo de Roman Jakobson 
 
Um dos modelos comunicativos mais utilizados para explicar a 
comunicação humana surgiu da matemática. Tudo começou em 1948 quando o 
matemático e engenheiro elétrico Claude Shannon publicou um artigo chamado 
“Uma teoria matemática da comunicação”. 
O engenheiro Shannon era pesquisador dos Laboratórios Bell e 
buscava maneiras de tornar mais eficientes os telégrafos e aparelhos de 
telefonia da época. Sua grande preocupação era evitar o ruído, ou seja, as 
interferências que prejudicavam as transmissões das mensagens de um 
aparelho para outro. 
No ano seguinte, a teoria de Shannon foi publicada em um livro e 
Weaver, outro matemático e engenheiro, enviou um exemplar para Roman 
Jakobson: um renomado linguista de origem russa que lecionava na 
Universidade de Harvard. Considerando que a teoria também se aplicava à 
comunicação humana, Roman Jakobson produziu, em 1960, a versão clássica 
do modelo comunicativo. 
De acordo com esse modelo, em qualquer ato de comunicação 
humana estão presentes 6 (seis) elementos: 
1) A Mensagem: Conjunto de informações que 
se quer transmitir. É tudo que foi emitido. Pode 
ser visual, auditiva, audiovisual, etc. 
2) O Código: um sistema de signos e regras que 
possibilita a elaboração e a compreensão da 
mensagem. Quando nos comunicamos, 
utilizamos um código verbal, ou seja, uma 
língua. É a convenção que permite 
compreender a mensagem; 
3) O Canal ou Contato: É o meio físico através do qual a mensagem se 
propaga, pelo qual emissor e receptor se comunicam. É a via de circulação 
da mensagem; 
 
36 
 
4) O Referente ou Contexto: o assunto da mensagem, aquilo a que ela se 
refere. 
5) O Emissor ou Remetente (Locutor): aquele de quem parte a mensagem, 
que diz algo a alguém; o assunto da mensagem; 
6) O Receptor ou Destinatário (Locutário): aquela a quem se destina a 
mensagem; aquele que o locutor se comunica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Exemplo: 
Se você enviar um torpedo a um amigo convidando-o para uma festa, a 
mensagem será o conteúdo do torpedo, ou seja, o conjunto de palavras que 
compõem o texto. O emissor (locutor) será você, e o receptor (locutário) seu 
amigo. O código será a língua portuguesa, o canal será o celular e o referente 
será a festa, pois é sobre ela que a mensagem se refere. É importante deixar 
clara a ideia de que em um evento comunicativo dinâmico - como a conversa 
face a face – emissora (locutor) e receptora (locutário) trocam o tempo todo de 
posição, de acordo com aquele que está falando ou ouvindo em cada momento 
de comunicação. 
 
 
 
 
 
Referente 
Mensagem 
Locutor (Emissor) ................................................................ Locutário 
(Receptor) 
Canal 
Código 
 
 
37 
 
Intencionalidade Discursiva 
 
 
Intencionalidade Discursiva diz respeito às intenções (implícitas ou 
explícitas) existentes na linguagem dos interlocutores que participam de uma 
situação comunicativa. A verdadeira mensagem é a intencionalidade discursiva 
dos enunciados, por esse motivo, o sucesso de nossas interações verbais, seja 
na condição de locutor ou de interlocutor, depende da nossa capacidade de 
lidar com a intencionalidade. 
A intencionalidade discursiva não se restringe apenas ao enunciado 
discursivo, mas se define também a partir de outros componentes da situação 
comunicativa, como quem fala e em qual contexto histórico foi produzido o 
enunciado. 
É muito comum nos depararmos com textos que perguntam a 
respeito da intencionalidade discursiva de um determinado texto; impressionar, 
ofender, pedir, solicitar, implorar, reivindicar, persuadir ou informar etc. - essa é 
a natureza da interpretação de texto. 
Funções da Linguagem 
 
 Em todo processo de comunicação, a linguagem é expressa de 
acordo com a função que se deseja enfatizar, de acordo com intenção do 
locutor, pois todos os objetos ou seres úteis possuem uma função definida. O 
fato é que a linguagem também possui suas colocações onde, no momento em 
que se estabelece uma comunicação verbal, um dos elementos prevalece e 
determina uma de suas funções. 
De acordo como linguista russo Roman Jakobson, alinguagem 
exerce seis funções (emotiva, conativa, referencial, metalinguística, fática e 
poética), cada uma correspondendo a um dos elementos do modelo. Em cada 
ato de comunicação, a ênfase recai sobre um dos elementos e, 
consequentemente, a função relacionada a ele prevalece sobre as outras. 
 
 
38 
 
1) A função referencial (ou denotativa) 
É a que prevalece na maioria das mensagens. Ela é a mais 
importante, por exemplo, nas notícias e reportagens dos jornais, nos verbetes 
de uma enciclopédia, nas petições e sentenças preparadas por advogados e 
juízes, na legislação dos países, na comunicação empresarial e na maioria dos 
textos que lemos e escrevemos na faculdade. 
Está centrada no assunto ou referente e por isso, a ênfase recai 
sobre a mensagem. A principal característica da função referencial é informar 
sobre o mundo ao redor com o máximo de objetividade. Para tanto, o emissor 
utiliza a 3ª pessoa do discurso (ele, ela, seu) e pela denotação. Por outro lado, 
tende a evitar palavras com carga subjetiva forte, como: fofo, nojento, brutal. 
 
Denotação (Linguagem denotativa) 
 
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando apresenta seu 
significado original, independentemente do contexto frásico em que aparece. 
Quando se refere ao seu significado mais objetivo e comum, aquele 
imediatamente reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro significado 
que aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da palavra. 
A denotação tem como finalidade informar o receptor da mensagem 
de forma clara e objetiva, assumindo assim um caráter prático e utilitário. 
 
Conotação (Linguagem conotativa) 
 
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando apresenta 
diferentes significados, sujeitos a diferentes interpretações, dependendo do 
contexto frásico em que aparece. Quando se refere a sentidos, associações e 
ideias que vão além do sentido original da palavra, ampliando sua significação 
mediante a circunstância em que a mesma é utilizada, assumindo um sentido 
figurado e simbólico. 
 
 
39 
 
A conotação tem como finalidade provocar sentimentos no receptor 
da mensagem, através da expressividade e afetividade que transmite. É 
utilizada principalmente numa linguagem poética e na literatura, mas também 
ocorre em conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios 
publicitários, entre outros. 
 
2) Função emotiva (ou expressiva) 
Centrada no emissor da mensagem, a função emotiva ou 
expressiva, o emissor deseja fazer exatamente o oposto: Em vez de focalizar o 
exterior, ele quer usar a linguagem para dar vazão (saída) a seu mundo 
interno, seus sentimentos, desejos e sonhos. Nesse caso, a ênfase recai sobre 
o próprio emissor e a linguagem assume função emotiva ou expressiva. 
 
Em consequência, predomina o emprego da 1ª pessoa do discurso 
(eu, meu comigo) das interjeições (ai, puxa, tomara) e de sinais de pontuação 
que conferem subjetividade ao texto, como o ponto de exclamação e as 
reticências (que alegria! Oh, céus...). A função emotiva é comum em poemas, 
letras de canções e diários pessoais. 
 
3) Linguagem conativa (ou apelativa) 
Na linguagem conativa ou apelativa, a ênfase pode recair no 
receptor da mensagem, visa a uma atitude ou tomada de posição por parte do 
interlocutor ou receptor, por isso o texto é geralmente persuasivo, sedutor. 
Nesse caso, dizemos que a linguagem exerce função conativa ou apelativa, já 
que intenção é apelar aos sentimentos ou à razão do destinatário, para que 
este tome determinada atitude. 
 
O exemplo mais típico disso são os anúncios publicitários, pois eles 
sempre pretendem que o receptor faça alguma coisa – em geral, que compre 
o produto anunciado. O uso do verbo no imperativo é a marca registrada na 
função conativa. 
 
40 
 
4) Função fática 
Centrada no contato, no canal, caracteriza-se pelo uso de certas 
expressões, visando a estabelecer e manter contato com o interlocutor. Na 
função fática, a intenção do emissor consiste apenas em estabelecer ou manter 
aberto o canal de comunicação. 
São exemplos disso, frases que dão início a uma conversa, como “E 
aí?” “Tudo bem?”, e aquelas que buscam verificar se o canal está livre de 
ruídos, como “Alô?” Você está me ouvindo? Ou Está dando para enxergar? 
5) Função metalinguística 
Centrada no código, traz sempre uma explicação, procurando definir 
o que não está claro. Utilizada em situações em que a linguagem é usada para 
falar sobre ela mesma: o emissor usa símbolos do código para questionar ou 
comentar o próprio código. A frase “Professora, o que quer dizer conotação?” é 
um exemplo disso, pois as palavras da língua portuguesa estão sendo usadas 
para falar sobre um item da própria língua. 
6) Função poética 
 
Centrada na própria mensagem, valoriza a informação pela forma 
como é veiculada. O ritmo, a sonoridade e a estrutura da mensagem têm 
importância igual à do conteúdo das informações. É a função do estético, mas 
não é exclusiva da poesia, pois também pode ser utilizada na prosa. 
Na função poética da linguagem predominam a conotação e o 
subjetivismo, logo a maneira de dizer é tão importante quanto aquilo que se diz. 
Em resumo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
O principal alvo contra o modelo de Jakobson era a natureza 
excessivamente ‘esquemática’ que ele atribuía à comunicação. Para o 
linguista, a mensagem seria um ‘pacotinho’ de informações que sai da boca do 
emissor e, se não houver ruído, chega intacto ao ouvido de receptor. 
Isso se aplica aos pacotes de dados enviados de uma máquina para 
outra, mas será que se aplica aos seres humanos? As nossas vivências 
influenciam o modo como produzimos e entendemos as mensagens? 
Além de não serem iguais entre si, nem sequer iguais a si mesmos 
ao longo do tempo, os seres humanos, por viverem em uma sociedade 
complexa, exibem outra característica peculiar, que torna sua comunicação 
impossível de comparar à comunicação das máquinas: os seres humanos 
ocupam determinados lugares a sociedade – e isso altera radicalmente a 
maneira como seus textos são produzidos e recebidos. 
Outra fragilidade do modelo de Jakobson, acalcanhado à teoria de 
Shannon, pois diferente dos outros códigos, as línguas naturais são conjuntos 
de signos em que não existe correspondência inequívoca (evidente) entre 
significantes e significados. 
Instruir uma máquina a realizar deduções sobre a língua é um 
trabalho extremamente complexo. Os desenvolvedores de softwares de 
tradução automática tentam recriar, no computador, a capacidade humana de 
compreender a polissemia das palavras. 
Exemplo: Literalmente, a expressão wet blanket significa ‘cobertor 
molhado’, mas, em sentido figurado, ela significa “desmancha-prazeres’”. A 
maioria dos softwares gratuitos de tradução não capta o sentido figurado e 
traduz a frase como: “Não quero ser um cobertor molhado, mas você(s) 
precisa(m) dormir cedo hoje.” 
 
42 
 
 
Aliás, não compreender as sutilezas das línguas naturais não é uma 
exclusividade das máquinas. Frequentemente, o ser humano também deixa de 
compreender metáforas, ironias e outras figuram de linguagem presentes nos 
textos. 
 
Informatividade, economia, ruído e redundância. 
 
 
As teorias de Jakobson foram fundamentais para o desenvolvimento 
das ciências, da linguagem e da comunicação, dentre alguns conceitos e 
princípios da comunicação temos: a informatividade, a economia, o ruído e a 
redundância. 
1) Informatividade 
 
De acordo com a teoria da comunicação, quanto mais inesperada for 
uma mensagem mais informação ela carregará, ou seja, maior será o seu grau 
de informatividade. Em suma, a informatividade se caracteriza como a 
capacidade de atribuir informações novas ao texto. Sendo assim, um texto será 
menos informativo quando apresentar mais informações previsíveis ou 
redundantes. 
Esse princípio fica evidente no mundo da publicidade, pois oconsumidor é bombardeado, cotidianamente, com uma infinidade de 
mensagens novas. Nesse tipo de mensagem, o elemento criatividade se 
constitui como um elemento essencial para chamar atenção do receptor, pois 
somente uma propaganda muito criativa e surpreendente será capaz de atrair 
atenção e comunicar algo novo. 
Usamos uma propaganda informativa quando o produto / serviço é 
técnico ou novo, mas diante de algo já conhecido a informação será mínima ou 
inexistente. Neste caso a informação cede lugar à persuasão, isto é, a todos os 
meios pelos quais procurará tentar, seduzir, fazer desejar e convencer. 
 
 
43 
 
A propaganda tem que ser um processo permanente; nessa área as coisas não 
são conquistadas definitivamente. 
Constantemente, é preciso conservar a reputação de um produto; 
conquistar novos mercados e consumidores; reavivar a memória dos 
consumidores conquistados; manter o desejo; etc. Portanto, a comunicação 
mais eficiente ocorre quando se encontra um meio-termo entre a necessidade 
de ser original e a necessidade de se fazer entender. 
2) Economia, ruído e redundância 
 
O princípio da economia está intimamente relacionado ao conceito 
de informatividade. Segundo tal princípio, nossa mensagem deve comunicar 
apenas dados novos e relevantes. 
Contudo, a economia total, isto é, a eliminação total dos elementos 
supérfluos a mensagem, é impossível. Isso porque existe um fenômeno 
chamado ruído. 
Ruído é tudo aquilo que interfere a comunicação e impede que os 
interlocutores interajam com fluência. Dos seis elementos do modelo de 
Jakobson, o mais sujeito a ruídos é o canal. 
Conforme vimos, boa parte das mensagens que predomina a 
função fática (isto é, função centrada no canal) busca detectar ou eliminar 
ruídos, tal como ocorre na frase: “Alô? Você está me ouvindo?” 
Para evitar esses e outros problemas causados pelos ruídos, 
recorremos aos mecanismos de redundância. 
Redundância é o processo pelo qual se repetem informações em 
uma comunicação, com o objetivo de superar os ruídos e assegurar a clareza. 
Alguns dos vícios mais comuns da linguagem é a redundância, e talvez, 
exatamente por isso, seja difícil perceber quando estamos sendo redundantes. 
Muitas vezes nos deparamos com pessoas dizendo frases com 
muitos sinônimos e isso acaba fazendo com que aos nossos olhos, e ouvidos, 
a frase seja considerada normal, afinal ela é corriqueira. 
 
44 
 
A redundância consiste em repetir uma ideia que já está explícita no 
discurso, fazendo com que ele fique cansativo e comprometa a qualidade da 
mensagem. 
No geral a redundância deve ser evitada, pois pode passar a 
impressão de que o texto está fraco e vazio, por ficar dando voltas na mesma 
conclusão. 
No entanto, esse artifício é permitido em casos onde fica claro que 
seu uso foi proposital, pois quando muito bem utilizado, esse vício de 
linguagem consegue retificar um discurso e enriquecê-lo. Vale ressaltar que 
usar a redundância dessa forma é bastante difícil. 
É comum ver essa utilização em livros, crônicas e poesias, onde há 
a licença poética, que permite essa liberdade, e encontramos autores que 
possuem um vasto conhecimento da língua portuguesa. É mais comum falar de 
maneira redundante do que escrever, uma vez que quando escrevemos 
prestamos mais atenção às palavras e a formação das orações e quando 
falamos não refletimos muito sobre o que está saindo da nossa boca. 
Com certeza você já ouviu alguma sentença com essa frase, mas já 
parou para prestar atenção de que a palavra “conclusão” já nos passa a ideia 
de que é finalizadora? Essa palavra já nos indica que após ela não vem mais 
nada, por isso é completamente desnecessária a utilização de “final” a seguir. 
Esse vício de linguagem, tão comum no português falado, deve ser combatido, 
para não empobrecer o discurso e não aparecer na hora de escrever um 
texto importante. 
Como a redundância surge praticamente de maneira automática, a 
única maneira de coibi-la é policiando a si mesmo e começando a ter um olhar 
mais crítico também sobre a maneira com que os outros falam. 
Exemplos: 
 Antecipar para antes 
 Criar novos empregos 
 Conclusão final 
 Conviver junto 
 Elo de ligação 
 Encarar de frente 
 Ganhar grátis 
 
 
45 
 
 Há “anos atrás”, visto que o 
verbo haver já denota tempo 
decorrido 
 Inaugurar o novo recinto 
 Manter o mesmo 
 Novidade inédita 
 Panorama geral 
 Pequenos detalhes 
 Planos para o futuro 
 Protagonista principal 
 Repetir de novo 
 Sorriso nos lábios 
 Planejar antecipadamente 
 Surpresa inesperada 
 Todos são unânimes 
 Viúva do falecido 
 
 
 Utilizar a comunicação verbal e escrita adequada às normas vigentes 
em contextos variados de produção e uso da língua portuguesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
Texto e Discurso 
 
3 
 
 
Conhecimento 
Compreender os elementos que envolvem a construção dos sentidos. 
 
 
 
Habilidades 
Identificar os sentidos implícitos nos contextos enunciativos. 
 
 
 
Atitudes 
Aplicar os procedimentos de coesão e coerência nas produções textuais. 
 
 
 
 
 
 
47 
 
Texto e Textualidade 
 
Produzimos textos porque pretendemos informar, divertir, explicar, 
convencer, discordar, ordenar etc., ou seja, o texto é uma unidade de sentido 
produzida sempre com uma determinada intenção. 
 
 
 
 
 
 
 
Numa situação comunicativa em que os personagens (locutor e 
locutário) interagem por meio da linguagem (verbal e não verbal), podemos 
dizer que os efeitos de sentidos são criados em situações específicas de uso e 
o conjunto dos enunciados empregados em situação comunicativa concreta 
constitui o texto verbal. 
O enunciado não é uma forma fixa ou um conteúdo imutável, 
portanto, não tem uma unidade material com início e fim, não é exclusivamente 
material, mas é também linguístico. Como função de existência, 
necessariamente o enunciado não existe sozinho, pois precisa ser 
correlacionados com outros enunciados. 
 Texto 1 
 
 
 
 
 
 Armandinho, 2014. 
 O texto é o lugar de interação de sujeitos sociais, os quais, 
dialogicamente, nele se constituem e são constituídos; e que, por 
meio de ações linguísticas e sócio cognitivas, constroem objetos do 
discurso e propostas de sentido, ao operarem escolhas significativas 
entre as múltiplas formas de organização textual e as diversas 
possibilidades de seleção lexical que a língua lhes põe à disposição 
(KOCH, 2014). 
 
48 
 
 Texto 2 Texto 3 
 
 Rir é remédio, 2014. Elson. Cartuns para um salão de humor sobre Redes Sociais, 2012. 
 
 
Comparando a tira (Texto 1) e o cartum (Texto 2), podemos notar 
que os enunciados Rede Social /Redes Sociais não são os únicos elementos 
responsáveis pela construção do sentido. Observamos que dependendo dos 
elementos extraverbais da situação, ou seja, dos papéis sociais que os 
interlocutores desempenham dentro do contexto comunicativo, um mesmo 
enunciado pode assumir sentido diferentes. 
 
Veja como o cartum (Texto 3) abaixo retrata, por meio de um texto 
não verbal, a utilização cada vez mais precoce das Redes Sociais. 
É importante destacar que um texto pode ser formado apenas pela 
linguagem verbal (um poema, uma notícia), apenas pela linguagem visual (um 
desenho, umapintura), como também pelo cruzamento de mais de uma 
linguagem: verbal e visual (uma história em quadrinhos, um cartum), verbal e 
musical (uma canção), verbal, visual, musical etc. (cinema e teatro) e assim por 
diante. 
Não existe apenas uma única concepção sobre o que é um texto, 
vejamos as concepções conforme cada área do conhecimento: 
• Gramatical: frase complexa ou signo linguístico mais alto na hierarquia do sistema 
linguístico; 
• Semiótica: signo complexo; 
• Semântica: expansão de macroestruturas; 
 
 
49 
 
• Pragmática: ato de fala complexo; 
• Discursiva: discurso congelado, produto; 
• Comunicativa: meio de comunicação verbal; 
• Cognitivista: processo que mobiliza operações e processos cognitivos; 
• Sociocognitiva-interacional: lugar de interação. 
 
Delineando os conceitos sobre os estudos sobre as concepções do 
texto como um lugar de interação do sujeito leitor, compreendemos que o 
conjunto de fatores que formam a situação na qual é produzido o texto é 
chamado de contexto discursivo ou situação de produção. E ao conjunto da 
atividade comunicativa, ou seja, o texto e o contexto discursivo chamamos de 
discurso. 
 
 
 
 
 
 
 
Para Costa Val (2006, p.3-4) pode-se definir texto ou discurso como: 
 
[...] ocorrência linguística falada ou escrita, e qualquer 
extensão, datada de unidade sociocomunicativa, semântica e 
formal. Trata-se de uma unidade linguística em uso e seu 
sentido é construído pelo produtor e pelo recebedor que 
precisa deter os conhecimentos essenciais para a 
interpretação. 
 
 
 
 
 
Discurso é toda situação que envolve a comunicação dentro de um 
determinado contexto e envolve interlocutores. Além do enunciado verbal, 
engloba também elementos extraverbais, isto é, elementos que estão 
envolvidos na situação de produção (quem fala com quem fala, com que 
finalidade etc.) e que também participam na construção de sentido do texto. 
 
50 
 
Coerência Textual 
 
 
 Texto 1 
Como se conjuga um empresário 
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se. 
Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou. 
Cumprimentou. Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. 
Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se. Examinou. Leu. Convocou. Leu. 
Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu. Vendeu. Vendeu. Ganhou. 
Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou. 
Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. 
Depositou. Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. 
Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. 
Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. 
Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. 
Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou. 
Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu. 
Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se. Dormiu. 
Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou. 
Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. 
Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dormiu. 
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se ... 
 
MINO. In: PINILLA, A.; RIGONI, C.; INDIANI, M.T. Coesão e coerência como mecanismos para a construção do texto. 
Disponível em: <www.pead.letras.ufrj.br/tema09/conceitodecoesao.html>. Acesso em: 28 fev. 2017. 
 
 
 
 
 
 
http://www.pead.letras.ufrj.br/tema09/conceitodecoesao.html
 
 
51 
 
Texto 2 
 
A eterna imprecisão da linguagem 
– Que pão! 
– Doce? De mel? De açúcar? De ló? De ló de mico? De trigo? De milho? De 
mistura? De rapa? De saruga? De soborralho? Do céu? Dos anjos? Brasileiro? 
Francês? Italiano? Alemão? Do Chile? De forma? De bugio? De porco? De 
galinha? De pássaros? De minuto? Ázimo? Bento? Branco? Dormindo? Duro? 
Sabido? Saloio? Seco? Segundo? Nosso de cada dia? Ganho com o suor do 
rosto? Que o diabo amassou? 
– Uma uva! 
 – Branca? Preta? Tinta? Moscatel? Isabel? Maçã? Japonesa? Ursina? Mijona 
gorda? Brava? Bastarda? Rara? De galo? De cão? De cão menor? Do monte? 
Da serra? Do mato? De mato grosso? De facho? De gentio? De João pais? Do 
nascimento? Do inverno? Do inferno? De praia? De rei? De obó? Da promissão 
roxa? Verde da fábula de La Fontaine? Espim? Do diabo? 
– Ô diabo! 
– Lúcifer? Belzebu? Azazel? Exu? Marinho? Alma? Azul? Coxo? Canhoto? 
Beiçuco? Rabudo? Careca? Tinhoso? Pé-de-pato? Pé-de-cabra? Capa verde? 
Romãozinho? Bute? Cafute? Pedro Botelho? Temba? Tição? Mafarrico? 
Dubá? Louro? A quatro? 
– É uma flor. 
– Da noite? De um dia? Do ar? Da paixão? Do besouro? Da quaresma? Das 
almas? De abril? De maio? Do imperador? Da imperatriz? De cera? De coral? 
De enxofre? De lã? De lis? De pau? De natal? De são Miguel? De são 
Benedito? Da santa cruz? De sapo? Do cardeal? Do general? De noiva? De 
viúva? Da cachoeira? De baile? De vaca? De chagas? De sangue? De Jesus? 
Do espírito santo? Dos formigueiros? Dos amores? Dos macaquinhos? Dos 
rapazinhos? De pelicano? De papagaio? De mel? De merenda? De onze 
horas? De trombeta? De mariposa? De veludo? Do norte? Do paraíso? De 
retórica? Neutra? Macha? Estrelada? Radiada? Santa? Que não se cheira? 
– É uma bomba 
 
52 
 
– De sucção? De roda? De parede? Premente? Aspirante-premente? De 
incêndio? Real? Transvaliana? Vulcânica? Atômica? De hidrogênio? De 
chocolate? Suja? De vestibular de medicina? De anarquista? De são João e 
são Pedro? De fabricação caseira? De aumento do preço do dólar? Enfeitada? 
De zoncho? De efeito psicológico? 
– É um amor. 
– Perfeito? Perfeito da china? Perfeito do mato? Perfeito azul? Perfeito bravo? 
Próprio? Materno? Filial? Incestuoso? Livre? Platônico? Socrático? De 
vaqueiro? De carnaval? De cigano? De perdição? De hortelão? De negro? De 
deus? Do próximo? Sem olho? À pátria? Bruxo? Que não ousa dizer seu 
nome? 
– Vá em paz. 
– Armada? Otaviana? Romana? Podre? Dos pântanos? De Varsóvia? 
De requiescat? E terra? 
– Vá com Deus. 
Qual? 
 
Carlos Drummond de Andrade 
 
 
 
 
 
Guia de estudo: 
Qual é a função dos títulos dos textos na compreensão do texto? 
O que representa a sequência dos verbos no texto 1,? 
No texto 2, a que se refere a sequência de adjetivos e de locuções? Com 
qual objetivo forma empregados no texto? 
 
 
 
 
53 
 
Os dois textos apresentam uma estrutura bem diferente do que 
costumamos ler. O primeiro é formado por apenas verbos no passado e o 
segundo por frases exclamativas e interrogativas que, se não considerarmos os 
títulos dos textos, não fariam sentido. 
 
 Os títulos dos dois textos são responsáveis por dar sentido ou 
coerência ao texto. No texto 1, de autoria do cartunista cearense Mino, 
construído unicamente por verbos, quando associado ao título “Como se 
conjuga em empresário”, mostra com ações o cotidiano de um empresário, o 
repertório leitor reconstrói, no nível de relações e valores toda unidade textual. 
 
No texto 2, de Carlos Drummond de Andrade, o titulo “A eterna 
imprecisão da linguagem” também oferece pistas necessárias às relações e 
valores a serem trabalhados pelo leitor na compreensão da mensagem, 
justificando a imprecisão da linguagem. 
 
A coerência textual refere-se à construção de sentido para o texto e 
permite que o leitor decodifique e entenda a mensagem transmitida. Segundo 
Costa Val (2006, p. 6), “a coerência do texto deriva de sua lógica interna, 
resultantes dos significados de uma rede conceitual e dos conhecimentos de 
mundo de quem processa o discurso”. 
 
Dessa forma, podemos dizer que a coerência textual é um processo 
que inclui dois fatores: 1) O conhecimento que o produtor e que o leitor 
possuem doassunto tratado no texto, determinado pelo seu conhecimento de 
mundo, suas vivências, classe social, profissão etc.; 2) O conhecimento que 
eles têm da língua, como tipos de textos, vocabulários, recursos estilísticos etc. 
 
 
 
 
54 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um dos princípios básicos da coerência textual é a não contradição, 
ou seja, as ideias não podem ser contraditórias entre si, nem apresentar 
incoerência em relação à realidade, a não ser que seja proposital. 
 
A coerência e o contexto discursivo 
Além da não contradição e dos conectores, outro aspecto importante 
para avaliar a coerência de um texto é o contexto discursivo, que diz respeito 
aos fatores que formam a situação na qual é produzido. E o conjunto da 
atividade comunicativa, ou seja, à reunião de texto e contexto discursivo, 
chamamos discurso. 
Imagine as seguintes falas ditas por dois brasileiros aos amigos ao 
final de uma mesma partida de futebol entre a seleção brasileira e a seleção da 
argentina. 
 Adorei a vitória da Seleção Brasileira. Por isso, vamos comemorar com 
champanhe. 
 Adorei o jogo da Seleção Brasileira. Perdemos de 2 a 1. 
Inicialmente, podemos pensar que apenas o primeiro enunciado foi 
bem formulado, pelo fato de apresentar coesão – em razão da presença do 
conectivo por isso e coerência – por estabelecer uma relação lógica entre as 
duas orações, ou seja, tomar champanhe é uma consequência de se ter 
gostado da vitória da seleção. 
Coerência Textual é a estruturação lógico-semântica de um texto, isto é, a 
articulação de ideias que faz com que numa situação discursiva palavras e 
frases componham um todo significativo para os interlocutores. 
 
 
55 
 
O segundo enunciado aparentemente apresenta incoerência, pois 
pressupomos que nenhum brasileiro gostaria de ver a derrota de seu time. No 
entanto, vejamos duas situações em que o enunciado seria coerente: 
1ª) O locutor deseja ser irônico, ou seja, dizer uma coisa querendo dizer 
outra. No caso, a palavra adorei está substituindo odiei. Se os interlocutores 
entenderem essa intenção, dizemos que o texto foi coerente, pois alcançou 
plenamente o sentido pretendido pela aquela situação. 
2ª) Antes do jogo os amigos fizeram uma aposta. O locutor apostou 
sozinho na derrota do Brasil por 2 a 1 e, por isso, está feliz. O enunciado não é 
irônico, e os interlocutores certamente compreenderão o sentido pretendido 
pelo locutor: Ele não adorou a qualidade do futebol do time brasileiro, mas o 
resultado da partida de futebol, pois lhe deu o prêmio. 
Assim, fica clara a ideia de que coerência e coesão são fatores da 
textualidade regulados pelo contexto discursivo. 
 
Coesão Textual 
 
A coesão de um texto, isto é, a conexão entre os vários enunciados, 
não é fruto do acaso, mas das relações de sentido que existem entre eles. 
Essas relações de sentido são manifestadas, sobretudo, por certa categoria de 
palavras, as quais são chamadas de conectivos ou elementos de coesão. 
 
Conforme Costa Val (2006, p.6), “a coesão é a manifestação 
linguística da coerência e sucede da maneira como os conceitos e as relações 
subjacentes são expressos na superfície textual. A coesão pode ser observada 
tanto em enunciados mais simples quanto em enunciados mais complexos”. 
 
 
 
 
Coesão textual são as conexões gramaticais existentes entre as 
palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto. 
 
56 
 
As palavras que realizam articulações gramaticais, também 
chamadas conectores, são substantivos, pronomes, conjunções, preposições 
etc. São comuns nesse papel palavras como: isso, então, aliás, também, isto é, 
entretanto, e, por isso, daí, porém, mas, entre outras. Logo, como os 
conectores são portadores de sentido, eles também contribuem para construir 
a coerência do texto. 
Apesar de construírem dois processos distintos, coesão e coerência 
são complementares na construção do texto. Enquanto a coerência se 
manifesta no plano do conteúdo e do encadeamento de ideias, a coesão se 
manifesta no plano da superfície do texto, isto é, nas relações linguísticas 
(emprego de conectivos, advérbios, pronomes, sinônimos etc.). 
A coesão é a relação das significações existente entre um elemento 
e outro do mesmo texto, isto é, as relações atribuídas a um elemento 
dependem de outros, sem que a estrutura gramatical em que tais termos se 
encontrem possa interferir. Entretanto, as relações coesivas entre orações, 
períodos, parágrafos se destacam, pois nesses segmentos elas são 
responsáveis pelo estabelecimento da tessitura textual. 
No livro Grande sertão: Veredas, uma das grandes obras da 
literatura brasileira do escritor mineiro Guimarães Rosa, o narrador, ex-jagunço 
Robaldo, apesar de ser um homem simples do sertão, faz reflexões filosóficas 
profundas, cheias de poesias e sabedoria. No trecho abaixo, o personagem 
fala sobre contar histórias e sobre saudade: 
Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas 
pela astúcia que têm certas coisas passadas de fazer balancê, de se 
remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos 
diversos; uns com outros acho que nem se misturam […] Contar seguido, 
alinhavado, só mesmo sendo coisas de rasa importância. Tem horas antigas 
que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. Toda 
saudade é uma espécie de velhice. Talvez, então, a melhor coisa seria contar a 
infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa 
depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dá sentido, 
princípio, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em si 
mesmo, cada um contendo o sentido inteiro. Talvez seja esse o jeito de 
 
 
57 
 
escrever sobre a alma em cuja memória se encontra as coisas eternas, que 
permanecem… 
Guimarães Rosa apud Rubem Alves. Na morada das palavras. Campinas: 
Papirus, 2003, p.139. 
 
Um texto não pode ser um punhado de frases soltas, pois precisa 
apresentar conexões, tanto gramaticais quanto de ideias. Observe as três 
primeiras frases do texto e veja que a segunda e a terceira iniciam-se, 
respectivamente, com as palavras “não e mas.” 
 
A ideia de que contar é muito dificultoso é negada pela palavra 
“não”, que se opõe à possibilidade de se pensar que contar seja difícil por 
causa do tempo passado. Já a palavra “mas” cumpre a função de introduzir a 
ideia de oposição ao que foi anteriormente mencionado, porém observamos 
que a ideia anterior é expressa na segunda frase, ou seja, de que contar seja 
difícil por causa dos anos passados. 
 
Além das conexões gramaticais, existem as conexões de ideias. O 
autor deixa clara a ideia de que é difícil contar seguidamente os fatos da 
infância, pois eles se remexem e não aceitam a ordem linear do tempo e diante 
dessa dificuldade, sugere contar os acontecimentos como um álbum de 
retratos, cada um com um sentido completo em si mesmo. 
 
Observa-se que a sequência de pensamento do autor se mostra 
coerente, pois se completa de modo lógico e conexo. Logo, para um texto ter 
unidade de sentido, para ser um todo coerente, é necessário que apresente 
textualidade, isto é, que apresente conexões gramaticais e articulação de 
ideias. Em outras palavras, que apresente coesão e coerência textuais. 
 
 
 
58 
 
Procedimentos coesivos 
Os procedimentos coesivos compreendem as ações a que o autor 
pode recorrer para evitar as repetições de termos que, comumente, impedem a 
progressão das ideias e são utilizados com a finalidade de dar mais clareza à 
mensagem. 
O principal recurso coesivo responsável por essa disposição é a 
Referenciação, que engloba a substituição e a semântica e permite a 
recuperação e termos do texto, evitando que apareçam repetidas vezes, sem 
que o sentido original se perca. Além desse procedimento, o escritor tem à 
disposição alguns recursos que facilitarão o uso de tais procedimentos. São

Continue navegando