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Natália Parduci O Coração – Robbins O aumento do peso do coração ou do ventrículo indica hipertrofia, e o aumento do tamanho de uma câmara indicia uma dilatação. Um aumento do peso ou tamanho do coração ou de ambos é chamado de cardiomegalia. Miocárdio: Algumas células atriais apresentam grânulos elétron-densos no citoplasma, chamados de grânulos atriais específicos; eles constituem o local de armazenamento do peptídeo natriurético atrial. Esse peptídeo pode produzir vasodilatação, natriurese, diurese, hipertensão e ICC. Suprimento Sanguíneo: Para atender as necessidades energéticas, os cardiomiócitos contam quase que exclusivamente com a fosforilação oxidativa, que é executada pela grande quantidade de mitocôndrias encontrada nessas células.5 A fosforilação oxidativa precisa de oxigênio, tornando os cardiomiócitos extremamente vulneráveis à isquemia. Um suprimento constante de sangue oxigenado é, portanto, essencial para o funcionamento cardíaco. As três artérias coronárias epicárdicas principais são: (1) a artéria descendente anterior esquerda (DAE) e (2) a artéria circunflexa esquerda (CE), que surgem de ramos da artéria coronária esquerda (principal) e (3) a artéria coronária direita. O maior fluxo de sangue que segue das artérias coronárias para o miocárdio ocorre durante a diástole ventricular, quando a microcirculação não está comprimida pela contração cardíaca. Alterações Cardiovasculares do Envelhecimento Doença Cardíaca: Visão Geral da Fisiopatologia • Falência da bomba: alterações na contração, no relaxamento e no volume ejetado. • Obstrução do fluxo: lesões podem obstruir o fluxo de um vaso (ex. placa aterosclerótica), impedir a abertura de uma valva ou provocar um aumento da pressão da câmara ventricular (HAS). • Fluxo regurgitante: há sobrecarga de volume. • Fluxo colateral: o sangue pode ser desviado de uma parte do coração para outra, por defeitos que podem ser congênitos ou adquiridos. • Distúrbios da condução cardíaca: decorrem da geração descoordenada de impulsos, que levam a contrações ineficientes e não uniformes. • Ruptura do coração ou de um vaso principal: há sangramento maciço dentro das cavidades corporais ou externamente. A maioria das doenças cardiovasculares resulta de uma interação complexa de fatores ambientais e genéticos que altera as vias de sinalização que controlam a morfogênese, sobrevida do miócito e a resposta à lesão, resposta ao estresse biomecânico, contratilidade ou condução elétrica. Insuficiência Cardíaca Insuficiência cardíaca é, frequentemente, chamada de insuficiência cardíaca congestiva (ICC). É uma condição progressiva e comum com um prognóstico ruim. Ocorre quando o coração é incapaz de bombear o sangue em uma taxa proporcional às necessidades metabólicas ou é capaz disso apenas da presença de uma pressão de enchimento elevada. Pode decorrer de eventos crônicos, como HAS, ou agudas, como IAM. Os mecanismos que buscam manter a pressão arterial e a perfusão dos órgãos vitais normais são: • Mecanismo de Frank- Starling: aumento do volume leva ao aumento da contratilidade; • Adaptações miocárdicas, incluindo hipertrofia com ou sem dilatação das câmaras cardíacas: as alterações moleculares, celulares ou estruturais que decorrem de resposta à lesão são chamas de remodelagem ventricular. São alterações adaptativas e levam ao prejuízo da função cardíaca. IC é precedida por hipertrofia cardíaca, em resposta ao maior trabalho mecânico. • Ativação dos sistemas neuro-humorais, especialmente a liberação de norepinefrina, ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona (SRAA) e a liberação do peptídeo natriurético atrial. Com mais frequência, a insuficiência cardíaca resulta da deterioração progressiva da função contrátil do miocárdio (disfunção sistólica); isso pode ser atribuído à lesão isquêmica, sobrecarga de pressão ou volume devido à doença valvular ou hipertensão, ou cardiomiopatia dilatada. Algumas vezes, entretanto, a insuficiência resulta da incapacidade de a câmara cardíaca expandir-se e ser preenchida de modo suficiente durante a diástole (disfunção diastólica), como ocorre com a hipertrofia maciça do Natália Parduci ventrículo esquerdo, fibrose do miocárdio, deposição de amiloide ou pericardite constritiva. Hipertrofia Cardíaca: a Fisiopatologia e Progressão até a Insuficiência O aumento do trabalho mecânico devido à sobrecarga da pressão ou volume (p. ex., hipertensão sistêmica ou estenose aórtica), ou sinais tróficos (p. ex., aqueles mediados pela ativação dos receptores β-adrenérgicos) levam ao aumento do tamanho dos miócitos (hipertrofia); cumulativamente, isso provoca um aumento no tamanho e peso do coração. A hipertrofia é dependente do aumento da síntese de proteínas, o que possibilita a organização de sarcômeros adicionais. Os miócitos hipertróficos também contêm um maior número de mitocôndrias e núcleo aumentado. Alterações importantes ao nível tecidual e celular ocorrem na hipertrofia cardíaca. O aumento do tamanho do cardiomiócito não é acompanhado por um aumento proporcional do número de capilares. Como resultado, o suprimento de oxigênio e nutrientes para o coração hipertrofiado, particularmente aquele que está com sobrecarga por pressão, é mais tênue do que para o coração normal. No mesmo momento, o consumo de oxigênio pelo coração hipertrofiado está elevado devido ao aumento da carga de trabalho que controla o processo. A hipertrofia também é frequentemente acompanhada pela deposição de tecido fibroso. Alterações importantes ao nível tecidual e celular ocorrem na hipertrofia cardíaca. O aumento do tamanho do cardiomiócito não é acompanhado por um aumento proporcional do número de capilares. Como resultado, o suprimento de oxigênio e nutrientes para o coração hipertrofiado, particularmente aquele que está com sobrecarga por pressão, é mais tênue do que para o coração normal. No mesmo momento, o consumo de oxigênio pelo coração hipertrofiado está elevado devido ao aumento da carga de trabalho que controla o processo. A hipertrofia também é frequentemente acompanhada pela deposição de tecido fibroso. As alterações moleculares e celulares nos corações hipertrofiados que inicialmente regulam o aumento da função podem contribuir para o desenvolvimento da insuficiência cardíaca. Isso pode ocorrer através (1) do metabolismo anormal do miocárdio (2) de alterações na utilização intracelular dos íons cálcio, (3) da apoptose dos miócitos e (4) da reprogramação da expressão gênica. O grau de anormalidade estrutural do coração na ICC nem sempre reflete o nível de disfunção, e a base estrutural, bioquímica e molecular para a insuficiência contrátil do miocárdio pode ser desconhecida. C. Fibras cardíacas normais; D. Miocárdio hipertrofiado. Seja qual for a sua origem, a ICC é caracterizada por graus variáveis de débito cardíaco e perfusão tecidual reduzida (algumas vezes denominada insuficiência anterógrada), ou por um represamento do sangue no sistema venoso (insuficiência retrógrada); a última pode provocar edema pulmonar, edema periférico, ou ambos. Assim, muitas características clínicas significativas e alterações morfológicas observadas na ICC são secundárias às lesões induzidas pela hipóxia e congestão nos tecidos distantes do coração. O sistema cardiovascular é um circuito fechado. Então, embora a insuficiência do lado direito ou esquerdo possa ocorrer de modo independente, a insuficiência de um lado (particularmente do lado esquerdo) frequentemente resulta em esforço excessivo do outro, provocando a insuficiência cardíaca global. Insuficiência Cardíaca Esquerda A insuficiência cardíaca esquerda é com frequência provocada por (1) cardiopatia isquêmica, (2) hipertensão, (3) doença valvular aórtica e mitral e (4) doenças miocárdicas. Os efeitos morfológicos e clínicos da ICC esquerda resultam principalmente da congestãoda circulação pulmonar, estase do sangue nas câmaras esquerdas e hipoperfusão dos tecidos levando à disfunção do órgão. Coração: O ventrículo esquerdo geralmente está hipertrofiado e frequentemente dilatado, algumas vezes de forma muito intensa. As alterações microscópicas não são especificas, consistindo principalmente em miócitos hipertrofiados e níveis variados de fibrose intersticial. A função prejudicada do ventrículo esquerdo geralmente provoca dilatação do átrio esquerdo e aumenta o risco de fibrilação atrial. Como resultado, há estase, particularmente no apêndice atrial, que é uma região comum de formação de trombo. Pulmões. A congestão e o edema pulmonares deixam os pulmões pesados e úmidos, conforme descrito em outros Natália Parduci lugares. As alterações pulmonares incluem, em sequência da mais leve para a mais grave, os seguintes: (1) edema perivascular e intersticial, particularmente no septo interlobular, que é responsável pelas linhas B características de Kerley observadas nas radiografias; (2) o alargamento edematoso progressivo dos septos alveolares e (3) o acúmulo de líquido edematoso nos espaços alveolares. Algumas hemácias extravasam para o fluido do edema dentro dos espaços alveolares onde são fagocitadas e digeridas pelos macrófagos, que estocam o ferro, convertendo a hemoglobina em uma forma de hemossiderina. Esses macrófagos que contêm hemossiderina são sinais indicativos de episódios anteriores de edema pulmonar e com frequência são denominados de células da insuficiência cardíaca. Clinicamente, os sintomas da insuficiência cardíaca esquerda inicial podem ser muito sutis e frequentemente estão relacionados à congestão e ao edema pulmonar. Tosse e dispneia (falta de ar), inicialmente com exercício e depois no repouso, são duas das queixas iniciais. À medida que a insuficiência progride, a piora do edema pulmonar pode provocar a ortopneia (dispneia ao deitar-se que é aliviada ao levantar), obrigando o paciente a dormir em uma posição vertical; ou dispneia paroxística noturna, uma forma de dispneia que geralmente ocorre à noite e que é tão grave que induz a sensação de sufocação. A redução do débito cardíaco provoca uma redução da perfusão renal, a qual leva à ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona. Isso induz a retenção de sal e água e expansão dos volumes dos fluidos intersticial e intravascular, efeitos compensatórios que podem contribuir para exacerbar o edema pulmonar. Se a hipoperfusão do rim se torna grave, o suficiente, a excreção deficiente dos produtos de nitrogênio pode provocar azotemia (chamada de azotemia pré-renal por causa da sua origem vascular. Na ICC bem avançada, a hipóxia cerebral pode dar origem à encefalopatia hipóxica, com irritabilidade, diminuição da atenção e inquietude. No estágio final da ICC, ela até pode progredir para estupor e coma. A insuficiência cardíaca esquerda pode ser dividida, em níveis clínicos, em insuficiência sistólica e diastólica. A insuficiência sistólica é definida pela insuficiência do débito cardíaco (insuficiência da “bomba”) e pode, então, ser causada por qualquer uma das muitas desordens que lesam ou desorganizam a função contrátil do ventrículo esquerdo. Na insuficiência diastólica, o débito cardíaco está relativamente preservado no repouso, mas o ventrículo esquerdo está anormalmente inflexível ou limitado na sua capacidade de relaxar durante a diástole. Como resultado, o coração é incapaz de aumentar seu débito em resposta ao aumento da demanda metabólica dos tecidos periféricos (p. ex., durante o exercício). Além do mais, como o ventrículo esquerdo não consegue expandir-se normalmente, qualquer aumento na pressão de enchimento é imediatamente solicitado a retornar à circulação pulmonar, produzindo rápido início de edema pulmonar (algumas vezes denominado edema pulmonar rápido), que pode ser grave. Insuficiência Cardíaca Direita Comumente, a insuficiência cardíaca direita é provocada pela insuficiência cardíaca esquerda, pois um aumento da pressão da circulação pulmonar decorrente da insuficiência cardíaca esquerda inevitavelmente produz uma carga no lado direito do coração. As causas da insuficiência cardíaca direita incluem todas as que induzem a insuficiência cardíaca esquerda. A insuficiência cardíaca direita pura não é frequente e geralmente ocorre em pacientes com qualquer uma das várias desordens que afetam os pulmões; portanto, é frequentemente denominada de cor pulmonale. O cor pulmonale está comumente associado a doenças parenquimais do pulmão, mas também pode surgir de modo secundário a desordens que afetam a vascularização pulmonar (p. ex., hipertensão pulmonar primária [Cap. 15], tromboembolismo pulmonar recorrente [Cap. 4]), ou que simplesmente produzem hipóxia (p. ex., apneia crônica do sono, doença da altitude), com sua associada vasoconstrição pulmonar. A característica comum dessas diversas desordens é a hipertensão pulmonar (discutida posteriormente), que resulta em hipertrofia e dilatação do lado direito do coração. Coração. na maioria dos casos, os únicos achados são hipertrofia e dilatação do átrio e ventrículo direito. Fígado e Sistema Portal. A congestão dos vasos hepáticos e portais pode produzir alterações patológicas no fígado, baço e intestino. O fígado geralmente está com aumento de tamanho e peso (hepatomegalia congestiva) devido a uma congestão passiva proeminente. aparência característica que é denominada de “fígado em noz moscada”. Em alguns casos, principalmente quando a insuficiência cardíaca esquerda também está presente, a intensa hipóxia central produz necrose centrolobular. Na insuficiência cardíaca direita intensa de longa duração, as áreas centrais podem tornar-se fibróticas, originando a chamada esclerose cardíaca e, em casos extremos, cirrose cardíaca. A hipertensão porta produz aumento do baço (esplenomegalia congestiva). Espaços Pleural, Pericárdico e Peritoneal. A congestão sistêmica venosa pode levar ao acúmulo de fluido nos espaços pleural, pericárdico e peritoneal (derrames). Grandes derrames pleurais (mais de 1 litro) podem causar atelectasia do pulmão correspondente. Além disso, o acúmulo do transudato na cavidade peritoneal pode dar origem à ascite. Tecidos Subcutâneos. O edema periférico das partes mais inferiores do corpo, especialmente o edema no tornozelo (pedioso) e o edema pré-tibial, é uma característica inconfundível da insuficiência cardíaca direita. As características clínicas da insuficiência cardíaca direita isolada são aquelas relacionadas com congestão venosa sistêmica (e portal) e incluem hepatoesplenomegalia, edema periférico, derrames pleurais e ascites. A congestão dos rins é mais pronunciada na insuficiência cardíaca direita do que na esquerda, provocando uma grande retenção de fluido, edema periférico e azotemia mais pronunciada. A congestão venosa e a hipóxia do sistema nervoso central podem produzir déficits da função mental que são essencialmente idênticos àqueles descritos na insuficiência cardíaca Esquerda. Em muitos casos de descompensação cardíaca crônica o paciente apresenta um quadro de ICC biventricular com sintomas que abrangem as síndromes clínicas tanto da insuficiência cardíaca direita quanto da esquerda. Natália Parduci A terapia-padrão para a ICC inclui principalmente abordagens farmacológicas. A drogas que provocam liberação de líquido (p. ex., diuréticos), que bloqueiam o eixo renina-angiotensina-aldosterona (p. ex., inibidores da enzima de conversão da angiotensina) e que diminuem o tônus adrenérgico (p. ex., bloqueadores β1-adrenérgicos) são particularmente úteis. Cardiopatia Isquêmica (CI) A CI é a designação genética para um grupo de síndromes fisiologicamente relacionadas que resultam da isquemia do miocárdio – um desequilíbrio entre o suprimento (perfusão) e a demanda do coração por sangue oxigenado. A isquemia abrange não apenas uma insuficiênciade oxigênio, mas também uma disponibilidade reduzida de substratos nutrientes e uma remoção inadequada de metabólitos. Em mais de 90% dos casos, a causa da isquemia miocárdica é uma redução do fluxo sanguíneo coronariano em razão de uma obstrução aterosclerótica nas artérias coronárias. Assim, a CI é frequentemente denominada de doença arterial coronariana (DAC) ou doença cardíaca coronariana. As síndromes da CI são apenas as manifestações tardias da aterosclerose coronariana que, provavelmente, se iniciou durante a infância ou adolescência. Manifestações clínicas: • Infarto do miocárdio, a forma mais importante de CI, no qual a isquemia provoca a morte do músculo cardíaco. • Angina pectoris, na qual a isquemia não é grave o sufi ciente para provocar infarto, mas pode ser uma ameaça para o infarto do miocárdio. • CI crônica com insufciência cardíaca. • Morte súbita cardíaca. Além da aterosclerose coronariana, a isquemia do miocárdio pode ser causada por embolia coronariana, bloqueio de pequenos vasos sanguíneos do miocárdio e pressão sanguínea sistêmica baixa (p. ex., choque). Além do mais, no cenário de obstrução arterial coronariana, a isquemia também pode ser agravada por um aumento da demanda do coração por energia (p. ex., como ocorre na hipertrofia do miocárdio ou frequência cardíaca aumentada [taquicardia]), pela menor disponibilidade de sangue ou oxigênio devido ao choque, ou por hipoxemia. Epidemiologia. Prevalência tem diminuído por: (1) prevenção realizada por modificação dos fatores de risco; (2) avanços diagnósticos e terapêuticos, que permitem tratamentos mais precoces, mais eficazes e mais seguros. Entretanto o aumento da longevidade associado ao estilo de vida não saudável compromete a continuidade da melhora no futuro. Patogenia. O evento dominante nas síndromes da CI é a perfusão coronariana diminuída com relação à demanda miocárdica, decorrente de um estreitamento aterosclerótico progressivo e crônico das artérias coronárias epicárdicas, e de vários graus de alteração aguda da placa sobreposta, trombose e vasoespasmo. Os elementos individuais e suas interações serão discutidos adiante. Aterosclerose Crônica. As manifestações clínicas são, em geral, resultantes da progressiva invasão do lúmen, que leva a uma estenose ou da ruptura aguda da placa acompanhada de trombose, ambas comprometendo o fluxo de sangue. Ao longo do tempo, a progressão das oclusões pode gerar o aparecimento de vasos colaterais para proteger o coração de isquemias e mitigar os efeitos das estenoses de alto grau. Três artérias coronárias – a descendente anterior lateral (DAL), a circunflexa esquerda (CE) e a artéria coronária direita (ACD) – estão frequentemente envolvidas na aterosclerose. Alteração Aguda da Placa. O risco da CI depende do número, distribuição, estrutura e grau de obstrução das placas ateromatosas. As síndromes coronarianas agudas iniciam-se através de uma conversão súbita e imprevisível da placa aterosclerótica estável em uma lesão aterotrombótica potencialmente fatal com ruptura. Na maioria dos casos, a alteração da placa provoca a formação de trombos sobrepostos que ocluem parcial ou completamente a artéria afetada. Esses eventos agudos estão frequentemente associados à inflamação intralesional, que medeia complicações agudas da aterosclerose. Consequências da Isquemia Miocárdica. A mais importante é a isquemia miocárdica abaixo da região do trombo. A angina estável resulta de aumentos da demanda de oxigênio pelo miocárdio que ultrapassam a capacidade das artérias coronárias acentuadamente estenosadas de elevar a oferta de oxigênio, mas ela geralmente não está associada à ruptura de placas. A angina instável deriva de uma alteração súbita na morfologia da placa, que desencadeia uma agregação plaquetária particularmente oclusiva ou a formação de um trombo mural e, de uma vasoconstrição que provoca reduções intensas, mas transitórias do fluxo sanguíneo coronariano. Em alguns casos, podem ocorrer microinfartos distais, secundários à tromboembolia. No IM, a alteração aguda da placa produz uma oclusão trombótica total e subsequente morte do músculo cardíaco. Por último, a morte súbita cardíaca envolve uma lesão aterosclerótica na qual a placa rompida provoca isquemia miocárdica regional que induz à arritmia ventricular fatal. Natália Parduci ANGINA PECTORIS A angina pectoris (literalmente, dor no peito) é caracterizada por ataques paroxísticos e geralmente recorrentes de desconforto torácico precordial ou subesternal causados por isquemia miocárdica transitória que não chega a provocar a necrose celular que define o infarto. Os três padrões de angina pectoris: 1. Angina estável ou típica: causada por redução da perfusão coronariana (devido a aterosclerose estenosante crônica) com relação à demanda do miocárdio. 2. Angina variante de Prinzmetal: ocorre no paciente em repouso e resulta de espasmo da artéria coronária. 3. Angina instável ou em crescente: padrão de dor que ocorre com uma frequência crescente, de duração prolongada que é precipitada por esforços progressivamente menores ou mesmo em repouso. Também chamada de angina pré-infarto. INFARTO DO MIOCÁRDIO (IM) O IM consiste na morte do músculo cardíaco resultante de isquemia grave prolongada. É a forma mais importante de CI. Incidência e Fatores de Risco. Incidência aumenta com a idade e na presença de fatores predisponentes para aterosclerose. Mulheres, antes da menopausa, contam com a proteção pelo estrogênio. Oclusão Arterial Coronariana. Sequência de eventos: 1. Alteração súbita da morfologia de uma placa ateromatosa. 2. Exposição das plaquetas ao colágeno subepitelial e ao conteúdo necrótico da placa leva ao início de processos inflamatórios, precursores de microtrombo. 3. Vasoespasmo. 4. Fator tecidual ativa a cascata de coagulação, aumentando o volume do trombo. 5. Evolução trombótica e oclusão completa do lúmen do vaso. Também pode ter como causas: vasoespasmo; êmbolos; isquemia sem aterosclerose e trombose coronariana detectáveis. Resposta do Miocárdio. A obstrução da artéria coronariana compromete o suprimento sanguíneo a uma região do miocárdio provocando isquemia, disfunção do miocárdio e potencial morte celular. A região anatômica irrigada por essa artéria é denominada de área de risco. O prognóstico depende predominantemente da gravidade e duração da privação do fluxo. Consequência bioquímica imediata da isquemia do miocárdio é a cessação do metabolismo aeróbico em alguns segundos, levando à produção inadequada de fosfatos de alta energia e ao acúmulo de produtos de degradação potencialmente nocivos (como o ácido lático). Induz à perda de contratilidade em 60 segundos, o que pode precipitar aparecimento de IC aguda bem antes do início da morte dos miócitos. Ademais, tem-se relaxamento miofibrilar, depleção de glicogênio e tumefação mitocondrial e celular. Entretanto, essas alterações iniciais são potencialmente reversíveis e a morte celular não é imediata. Apenas isquemia intensa, com duração entre 20 e 30 minutos leva à dano irreversível. Uma característica importante que marca as fases iniciais da necrose celular é o rompimento da integridade do sarcolema, que permite a saída de macromoléculas das células em direção ao interstício cardíaco e, por último, para o interior dos vasos linfáticos da região infartada. Natália Parduci Na maioria dos casos de IM agudo, o dano permanente ao coração ocorre quando a perfusão do miocárdio está gravemente reduzida por um intervalo extenso (geralmente em 2 a 4 horas). Esse retardo no início da lesão do miocárdio permanente fornece a base para o diagnóstico rápido no IM agudo – para permitir a intervenção coronária precoce, com a proposta de estabelecer a perfusão e salvar o miocárdio “em risco” o máximo que for possível. Localização precisa, tamanho e características morfológicas de um IAMdependem: • Do local, intensidade e taxa de desenvolvimento das obstruções ateroscleróticas coronarianas devido a aterosclerose e trombose. • Do tamanho do leito vascular irrigado pelos vasos obstruídos. • Da duração da oclusão. • Das necessidades metabólicas e de oxigênio do miocárdio em risco. • Da quantidade de vasos sanguíneos colaterais. • Da presença, local e intensidade de espasmo arterial e coronariano. • FC, ritmo cardíaco e oxigenação sanguínea. Normalmente, necrose completa-se em 6 horas após o início da isquemia do miocárdio grave. O conhecimento das áreas do miocárdio perfundidas pelas três artérias coronarianas principais ajuda a correlacionar as regiões de obstrução vascular com as regiões de infarto do miocárdio. Comumente, o ramo descendente anterior esquerdo da artéria coronária esquerda (ACE) irriga a maior parte do ápice do coração, a parede anterior do ventrículo esquerdo e os dois terços do septo ventricular. Na circulação dominante direita, presente em aproximadamente 4/5 dos indivíduos, a ACE geralmente perfunde apenas a parede lateral do ventrículo esquerdo, e a ACD irriga toda a parede livre do ventrículo direito, a parede posterobasal do ventrículo esquerdo e o terço posterior do septo ventricular. Infarto Transmural versus Subendocárdico. A distribuição da necrose do miocárdio está correlacionada com a localização e causa da redução da perfusão. A maioria dos infartos do miocárdio é transmural, no qual a necrose isquêmica envolve toda ou quase toda a espessura da parede ventricular na distribuição de uma única artéria coronária. Esse padrão de infarto geralmente está associado à combinação de aterosclerose coronariana crônica, alteração aguda da placa e trombose superposta. Em contraposição, o infarto subendocárdico (não transmural) constitui uma área de necrose isquêmica limitada ao terço inferior interno à metade da parede ventricular. Como a zona subendocárdica é normalmente a última região perfundida do miocárdio, essa área é a mais vulnerável a qualquer redução do fluxo coronário. Um infarto subendocárdico pode ocorrer como resultado do rompimento de uma placa seguido por um trombo coronário que se torna lisado antes da necrose do miocárdio se estender ao longo de toda espessura da parede; nesse caso, o infarto estará limitado à região irrigada pela artéria coronária que foi atingida pela alteração na placa. (para duas primeiras linhas) As frequências de envolvimento de cada um dos três troncos arteriais principais e as regiões correspondentes às lesões do miocárdio resultantes de infarto são apresentadas a seguir: • Artéria coronária descendente anterior esquerda (40% a 50%): a área de infarto envolve a parede anterior do ventrículo esquerdo, próximo ao ápice; a parte anterior do septo ventricular e o ápice de modo circular. • Artéria coronária direita (30% a 40%): a área de infarto envolve a parede inferior/posterior do ventrículo esquerdo; a parte posterior do septo ventricular; e a parede livre inferior/posterior do ventrículo direito em alguns casos. • Artéria coronária circunflexa esquerda (15% a 20%): a área de infarto envolve a parede lateral do ventrículo esquerdo, com exceção do ápice. As áreas lesadas passam por uma sequência progressiva de alterações morfológicas que consistem em típica necrose isquêmica por coagulação, seguida de inflamação e reparo que se assemelham muito às respostas teciduais à lesão em outros locais. Modificação da Área de Infarto por meio da Reperfusão. Natália Parduci O modo mais eficaz de “salvar” um miocárdio isquêmico ameaçado por um infarto consiste em restaurar a perfusão tecidual o mais rápido possível, um processo conhecido como reperfusão. Contudo, apesar da possibilidade de salvar o miocárdio isquêmico, a reperfusão também pode ativar complicações danosas, incluindo arritmias, hemorragia do miocárdio com faixas de contração, dano celular irreversível na área de lesão isquêmica original (lesão por reperfusão, que deriva de estresse oxidativo, sobrecarga de cálcio e inflamação), lesão microvascular, e disfunção isquêmica prolongada (atordoamento miocárdico, oriundos de alterações bioquímicas. É tipo uma IC reversível). Como a perda da viabilidade do miocárdio no infarto é progressiva, ocorrendo por um período de várias horas, a reperfusão precoce pode salvar o miocárdio e, portanto, limitar o tamanho do infarto, com consequente melhora da função a curto e longo prazo e sobrevida. O benefício potencial da reperfusão está relacionado com (1) a rapidez em que a obstrução coronária é removida (as primeiras 3 a 4 horas iniciais são críticas) e (2) a extensão de correção da oclusão vascular e da lesão subjacente que foi gerada. Vale lembrar que (1) a isquemia intensa não causa morte celular imediata mesmo nas regiões do miocárdio mais intensamente afetadas, e (2) nem todas as regiões do miocárdio tornam- se igualmente isquêmicas. Portanto, o que ocorre após a restauração do fluxo pode variar de região para região. A área de infarto reperfundida geralmente apresenta hemorragia porque a vasculatura que foi lesada durante o período da isquemia vaza quando o fluxo é restaurado. Assim, a reperfusão não apenas salva as células com lesão reversível, mas também altera a morfologia das células que já se encontravam danificadas de modo irreversível no momento do refluxo (pelo aumento da concentração de cálcio no plasma). Aspectos Clínicos. Pacientes apresentam pulso fraco e rápido e transpiração profusa (diaforese). A dispneia decorrente da contratilidade deficiente do miocárdio isquêmico e a congestão e edema pulmonares resultantes são comuns. Entre 10 e 15 dos pacientes há ausência de sintomas, sendo possível a descoberta apenas por alterações no ECG ou testes laboratoriais que evidenciam lesão do miocárdio. Esses IM “silenciosos” são comuns nos pacientes idosos e naqueles com DM. A avaliação laboratorial do IM baseia-se na avaliação dos níveis sanguíneos de proteínas que vazaram dos miócitos que morreram; essas moléculas incluem a mioglobina, troponinas T e I cardíacas e fração MB da creatina-cinase (CK-MB), lactato desidrogenase e muitas outras. O diagnóstico da lesão miocárdica é estabelecido quando os níveis sanguíneos desses biomarcadores cardíacos estão aumentados no curso clínico da isquemia aguda. Os marcadores mais sensíveis e específicos da lesão do miocárdio são proteínas específicas do coração, particularmente as troponinas I e T (proteínas que regulam a contração mediada por cálcio do músculo esquelético cardíaco). De modo geral, os marcadores começam a aumentar cerca de 2 a 4 horas após IM. A ausência de alteração dos níveis de CK-MB e troponina após 2 dias exclui a possibilidade de diagnóstico de IM. OBS: no eixo y, tem-se a % do original. Consequências e Complicações do IM. As terapias administradas de rotina no curso do IM agudo incluem aspirina e heparina (para impedir trombose adicional); oxigênio (para minimizar a isquemia): nitratos (para induzir vasodilatação e reverter o vasoespasmo); inibidores betaadrenérgicos (betabloqueadores, para diminuir a demanda de oxigênio do coração e reduzir o risco de arritmias); inibidores da enzima conversora de angiotensinogênio (ECA) (para limitar a dilatação ventricular); e manobras para abrir os vasos bloqueados, incluindo a administração de agentes fibrinolíticos, angioplastia coronariana com ou sem stent e cirurgia CABG. Em geral, fatores associados ao prognóstico ruim incluem idade avançada, gênero feminino, diabetes melito e como resultado da perda cumulativa da função do miocárdio, história de IM anterior. Complicações do IAM incluem: • Disfunção contrátil. Os infartos do miocárdio produzem anormalidades na função do ventrículo esquerdo aproximadamente proporcional ao seu tamanho. Geralmente, ocorre algum grau de insuficiência ventricular esquerda com hipotensão, congestãovascular pulmonar e transdução para o interior dos espaços pulmonares intersticiais, que podem progredir para edema pulmonar com dificuldade respiratória. • Arritmias. Muitos pacientes apresentam irritabilidade miocárdica e/ou distúrbios de condução após o IM que levam a arritmias potencialmente fatais. As arritmias associadas ao IM incluem a bradicardia sinusal, bloqueio cardíaco (assístole), taquicardia, contrações ventriculares prematuras ou taquicardia ventricular e fibrilação ventricular. Natália Parduci • Ruptura do miocárdio. As síndromes da ruptura cardíaca resultam do enfraquecimento mecânico que ocorre no miocárdio necrosado e subsequentemente inflamado, e compreendem (1) ruptura da parede ventricular livre (mais comum), com hemopericárdio e tamponamento cardíaco; (2) ruptura do septo ventricular (menos comum), que leva a um DSV agudo e a um shunt da esquerda para a direita; e (3) ruptura dos músculos papilares (a menos comum) que resulta em início agudo de intensa regurgitação mitral. Uma aderência pericárdica estrategicamente localizada que interrompe uma ruptura pode levar à formação de um falso aneurisma (hematoma localizado que se comunica com a cavidade ventricular). A parede do falso aneurisma consiste apenas em epicárdio e pericárdio parietal aderente e, assim, muitas podem acabar se rompendo. • Pericardite. Uma pericardite fibrinosa ou fibrino- hemorrágica (síndrome de Dressler) geralmente desenvolve-se por volta do segundo ou terceiro dias após um infarto transmural, como resultado da inflamação do miocárdio subjacente. • Infarto do ventrículo direito. Embora o infarto isolado do ventrículo direito seja incomum, o infarto do miocárdio do ventrículo direito frequentemente acompanha a lesão isquêmica do ventrículo esquerdo posterior adjacente e do septo ventricular. • Extensão da área do infarto. Uma nova necrose pode ocorrer adjacente a uma área de infarto preexistente. • Expansão da área do infarto. Devido ao enfraquecimento do músculo necrosado, pode haver estiramento desproporcional, adelgaçamento e dilatação da região do infarto (especialmente nos casos de áreas de infarto anterosseptais), que frequentemente estão associados a um trombo mural. • Trombo mural. Em qualquer infarto, a combinação entre uma anormalidade na contratilidade miocárdica local (que causa estase) e um dano endocárdico (que produz uma superfície trombogênica) pode estimular a trombose mural e, potencialmente, o tromboembolismo. • Aneurisma ventricular. Ao contrário dos falsos aneurismas mencionados anteriormente, os verdadeiros aneurismas da parede ventricular são limitados pelo miocárdio cicatrizado. Uma complicação tardia, os aneurismas da parede ventricular resultam muitas vezes de uma grande área de infarto anterosseptal transmural (frequentemente uma que sofreu expansão) que cicatriza formando uma grande região de tecido cicatricial delgado, que paradoxalmente se projeta durante a sístole. • Disfunção dos músculos papilares. Conforme mencionado anteriormente, a disfunção de um músculo papilar pode ocorrer após IM. Com maior frequência, a regurgitação mitral após o infarto resulta da disfunção isquêmica inicial de um músculo papilar e do miocárdio subjacente e, mais tarde, da fibrose e do encurtamento dos músculos papilares ou da dilatação ventricular. • A insuficiência cardíaca progressiva tardia. A propensão para complicações específicas e o prognóstico após um IM dependem basicamente do tamanho da área, do local e da espessura do infarto (infarto subendocárdico ou transmural). No geral, contudo, os pacientes com infartos anteriores têm um curso clínico substancialmente pior do que aqueles com infartos inferiores (posteriores). Além da sequência de reparo dos tecidos infartados descrita anteriormente, as áreas do ventrículo que não sofreram infarto sofrem hipertrofia e dilatação; o conjunto dessas alterações é chamado de remodelamento ventricular. A hipertrofia compensatória do miocárdio não infartado é, inicialmente, hemodinamicamente benéfica. Entretanto, o efeito adaptativo do remodelamento pode ser sobrepujado pela dilatação ventricular (com ou sem aneurisma ventricular) e pela maior demanda por oxigênio, que pode exacerbar a isquemia e deprimir a função cardíaca. Também podem existir alterações na forma e espessura do ventrículo devido à formação de cicatriz e hipertrofia que depois reduzem a função cardíaca. O prognóstico a longo prazo após um IM depende de muitos fatores, e os fatores mais importantes são a qualidade da função do ventrículo esquerdo residual e a extensão das obstruções vasculares presentes no interior dos vasos que irrigam o miocárdio viável. A prevenção de infartos e reinfartos é uma medida importante. Cardiopatia Isquêmica Crônica (CIC) A CI crônica geralmente aparece após o infarto devido à descompensação funcional do miocárdio não infartado hipertrofiado. Morfologia. O coração dos pacientes com CIC geralmente está aumentado e pesado em decorrência da hipertrofia e da dilatação do ventrículo esquerdo. Invariavelmente, há um grau de aterosclerose obstrutiva nas artérias coronárias. Pequenas cicatrizes representando áreas de infartos geralmente estão presentes. O endocárdio mural pode apresentar alguns espessamentos fibrosos e trombos murais. Natália Parduci MORTE SÚBITA CARDÍACA (MSC) A MSC geralmente é consequência de uma arritmia letal (p. ex., assístole, fibrilação ventricular). A maioria dos casos frequentemente ocorre em um cenário de CI. A isquemia aguda do miocárdio é o mecanismo desencadeante mais comum para arritmias fatais. Embora a lesão isquêmica possa afetar o sistema de condução e gerar instabilidade cardíaca eletromecânica, na maioria dos casos a arritmia fatal é desencadeada por uma instabilidade elétrica induzida por isquemia do miocárdio que está distante do sistema de condução. Os focos arritmogênicos frequentemente estão localizados adjacentes às cicatrizes deixadas por IM antigos. Condições não ateroscleróticas associadas à MSC incluem: • Anormalidades congênitas estruturais ou coronarianas. • Estenose da valva aórtica. • Prolapso da valva mitral. • Miocardite. • Miocardiopatia dilatada ou hipertrófica. • Hipertensão pulmonar. • Arritmias cardíacas adquirida ou hereditária. • Hipertrofia cardíaca de qualquer origem (p. ex., hipertensão). • Outras causas diversas, tais como alterações metabólicas sistêmicas e hemodinâmicas, catecolaminas e abuso de drogas, particularmente cocaína e metanfetamina. Há associação com aterosclerose em mais de 75% dos casos. Assim, a maioria da MSC não está associada a IM agudo; a maior parte dos casos parecer resultar de irritabilidade induzida por isquemia do miocárdio que inicia arritmias ventriculares malignas. Condições hereditárias são importantes, pois fornecem base para intervenção em membros da família sobreviventes. As anormalidades elétricas primárias do coração incluem síndrome do QT longo, síndrome de Brugada, síndrome de QT curto, taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica, síndrome de Wolf-Parkinson-White, síndrome de seio doente congênita, e doença de condução cardíaca isolada. As mais importantes dessas desordens também são chamadas de canelopatias, que são causadas por mutações em genes que são necessários para a função normal dos canais iônicos. Essas desordens (a maioria de herança autossômica dominante) envolve tanto genes que codificam canais iônicos (incluindo Na+, K+ e Ca+). O prognóstico de muitos pacientes vulneráveis à MSC, incluindo aqueles com IC crônica, é melhorado de modo acentuado com a implantação de marcapasso ou um desfibrilador cardioversor automático, que sente e evita um episódio de fibrilação ventricular. CARDIOPATIA HIPERTENSIVA (CH) É resposta do coração à demanda aumentada induzida pela hipertensão, que provoca sobrecarga de pressão e hipertrofia ventricular.Embora seja mais comumente observada no lado esquerdo do coração como resultado de hipertensão sistêmica, a hipertensão pulmonar pode provocar CH direita ou cor pulmonale. Cardiopatia Hipertensiva Sistêmica (Esquerda) Os critérios mínimos para o diagnóstico de CH sistêmica são: (1) hipertrofia do ventrículo esquerdo (geralmente concêntrica) na ausência de outra patologia cardiovascular e (2) história ou evidências patológicas de hipertensão. A hipertensão leva à hipertrofia do ventrículo esquerdo por sobrecarga de pressão sem que ocorra inicialmente a dilatação do ventrículo. Como resultado, a espessura da parede do ventrículo esquerdo aumenta o peso do coração de modo desproporcionalmente ao aumento do tamanho total do coração. Após algum tempo, o aumento na espessura da parede do ventrículo esquerdo confere a essa câmara uma rigidez que prejudica o enchimento diastólico, levando, com frequência, à dilatação do átrio esquerdo. A CH sistêmica compensada pode ser assintomática, produzindo apenas evidências eletrocardiográficas ou ecocardiográficas de aumento do ventrículo esquerdo. Em muitos pacientes, a CH sistêmica chama atenção devido à nova fibrilação atrial induzida pelo aumento do átrio esquerdo ou ICC. De acordo com a gravidade, duração e causa subjacente da hipertensão e da adequação do controle terapêutico, o paciente pode (1) levar uma vida normal por muitos anos e morrer de causas não relacionadas, (2) desenvolver CI em decorrência dos efeitos colaterais da hipertensão sobre a aterosclerose coronariana, (3) sofrer um dano renal progressivo ou um acidente vascular encefálico, ou (4) desenvolver uma insuficiência cardíaca progressiva ou MSC. O controle eficaz da hipertensão pode impedir o desenvolvimento ou levar à regressão da hipertrofia cardíaca e dos riscos inerentes a ela. Cardiopatia Hipertensiva Pulmonar (Direita) (Cor Pulmonale) Normalmente, como a vascularização pulmonar está na circulação de baixa pressão, o ventrículo direito possui uma parede mais fina e mais complacente do que o ventrículo esquerdo. O cor pulmonale, como uma CH pulmonar isolada é frequentemente chamada, se origina da sobrecarga de Natália Parduci pressão do ventrículo direito e é caracterizado por hipertrofia do ventrículo direito, dilatação e insuficiência do ventrículo direito secundária à hipertensão pulmonar. As causas mais comuns são desordens nos pulmões, especialmente doenças respiratórias crônicas, tais como enfisema ou hipertensão pulmonar primária. Deve- se lembrar que, contudo, a hipertensão pulmonar venosa ocorre tipicamente como uma complicação de cardiopatias do lado esquerdo de etiologias diversas. O cor pulmonale pode ser agudo ou crônico. O cor pulmonale agudo pode surgir após uma embolia pulmonar maciça. O cor pulmonale crônico geralmente resulta de hipertrofia (e dilatação) do ventrículo direito secundária a uma prolongada sobrecarga de pressão, tal como pode ocorrer nas doenças pulmonares crônicas e em uma variedade de outras condições. No cor pulmonale agudo, há acentuada dilatação do ventrículo direito sem hipertrofia. No corte transversal, o ventrículo direito, que possui uma forma normal de crescente, exibe um formato ovoide dilatado. No cor pulmonale crônico, a parede do ventrículo direito espessa- se, às vezes até 1 cm ou mais. Podem ser observadas etapas mais sutis de hipertrofia do ventrículo direito, como o espessamento dos feixes musculares da via de saída, imediatamente abaixo da valva pulmonar, ou do feixe moderador, o feixe muscular que conecta o septo ventricular ao músculo papilar anterior do ventrículo direito. Algumas vezes, o ventrículo direito hipertrofiado comprime a câmara ventricular esquerda, ou leva à regurgitação tricúspide com espessamento fibroso desta valva. Normalmente, os miócitos do ventrículo direito estão dispostos de modo difuso e a parede contém gordura transmural; na hipertrofia do ventrículo direito, a gordura na parede pode desaparecer e os miócitos se alinham de modo circunferencial. CARDIOPATIA VALVULAR ... PG 568 do Adobe