Prévia do material em texto
2 PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Sistema circulatório • Sistema linfático • Sistema respiratório OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Estudar, em relação aos aspectos morfológicos e funcionais, os principais componentes deste sistema: sangue (definição, constituição e importância), coração (características gerais, localização, constituição, câmaras cardíacas, mecanismo valvular, tipos de circulação, ciclo cardíaco, bulhas e sopro cardíaco e inervação do coração), vasos sanguíneos (caracterização, diferenças entre eles e principais vasos do cor- po humano) • Estudar, em relação aos aspectos morfológicos e funcionais, os principais componentes deste sistema: linfa, capilares, vasos e ductos linfáticos, linfonodos, baço, timo, tonsilas, sistema linfáti- co e disseminação do câncer, linfangite, linfadenite e linfedema, sistema linfático e envelhecimento • Estudar a função principal do sistema respiratório; divisões do sistema respiratório; órgãos do sistema respiratório e cavidade torácica e mediastino. SISTEMAS CARDIOVASCULAR e respiratório PROFESSORA Dra. Carmem Patrícia Barbosa INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), a vida depende de todos os sistemas do corpo humano. No entanto os sistemas cardiovascular, respiratório e nervoso têm papel de destaque, uma vez que deles dependem as adequadas oxigenação e nu- trição das células, bem como sua manutenção em homeostasia a partir da retirada dos materiais residuais que elas produzem (como CO2 e resíduos metabólicos, que podem alterar o meio intracelular, causando sua morte). Assim, cérebro, coração e pulmões trabalham juntos. O sistema cardiovascular pode ser chamado de sistema circulatório e é composto pelo sistema cardiovascular sanguíneo (destinado à circulação do sangue) e pelo sistema vascular linfático (destinado à circulação da linfa). O sistema respiratório supre as células com O2 e retira do corpo o CO2 produzido pelo metabolismo celular. Por meio de órgãos condutores e do pulmão enquanto órgão respiratório por excelência, tais gases são cambiados entre as células e o meio externo. Assim, a respiração consiste na absorção de O2 do meio externo para a utilização pelas células e na eliminação do CO2 resultante de oxidações celulares para o meio externo. Este mecanismo é uma das características básicas dos seres vivos e depen- de da eficácia do coração como bomba, do adequado retorno venoso e da qualidade do ar e do sangue como meio de transporte desses gases. O texto a seguir será fundamentado em importantes autores, como Dan- gelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros. A nomenclatura utilizada está de acordo com a nômica atualizada (CFTA, 2001), mas é necessário que você utilize um atlas de anatomia, como Narciso (2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002) ou outros. Nosso objetivo é descrever aspectos relevantes desses sistemas. Não es- queça que você deve ter conhecimento deles, pois, se falharem, não há ação neuronalnem contração muscular. Aproveite para conhecer esses sistemas, pois servirão de base para seu estudo posterior em fisiologia. U N ID A D E 2 102 1 SISTEMA CIRCULATÓRIO FUNÇÕES DO SISTEMA CIRCULATÓRIO O sistema circulatório apresenta várias funções vitais. Ele permite, por exemplo, as adequadas nutrição e oxigenação das células, assim como a drenagem de suas substâncias tóxicas (como as excretas metabólicas e o CO2). Isto é possível devido à atuação das hemácias transportando gases aos pulmões (onde ocorre a hemato- se), e aos órgãos de filtragem (como fígado e rim). Tal função é, de fato, vital, pois se as células não forem nutridas, oxigenadas e purificadas, haverá morte celular (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Além disso, o sangue também contribui para o controle da temperatura cor- pórea, pois sua presença gera aquecimento (por isso, sentimos nossas bochechas “quentes” quando passamos por alguma situação embaraçosa ou constrangedora que gera vasodilatação nos vasos da bochecha). Além disso, o sangue é impres- cindível à defesa imunológica (por meio de suas células brancas), à coagulação sanguínea (por meio das plaquetas), à distribuição de hormônios pelo corpo e à administração de medicamentos por via endovenosa (por isso, quando alguém chega em um pronto-socorro necessitando de medicamentos de ação imediata, a via de escolha para a administração desse medicamento é, quase sempre, a endovenosa). U N IC ES U M A R 103 O sangue sempre foi considerado um poderoso símbolo da vida em qualquer civilização. Por isso foi chamado de “fluido da vida,” e a ele foram atribuídas as funções de dar e sustentar a vida, sendo, inclusive, capaz de salvá-la. Entretanto, muitos séculos de estudo e pesquisa foram necessários para que a ciência descobrisse sua real importância e fizesse adequado uso dele. Neste ínterim, muitos erros e atrocidades foram cometidos. Por exemplo, conta-se que, na Grécia Antiga, os nobres bebiam o sangue dos gladiadores mortos na arena a fim de se curarem de diversos males (como a epilepsia). Outro fato interessante ocorreu em 1492, quando o papa Inocêncio VIII foi convencido a ingerir o sangue de três jovens para se curar de uma grave doença. O interessante é que tais jovens morreram anêmicos, sem conseguir restabelecer a saúde do pontífice. Fonte: Pró-sangue ([2018], on-line)². explorando Ideias COMPONENTES DO SISTEMA CIRCULATÓRIO Sangue O sangue, seus elementos constituintes e suas funções só começaram ser desvendados pela ciência a partir do século XVII, sendo que, atualmente, a hematologia se encarrega de desvendar todos os seus “mistérios”. Sabemos, hoje, que o sangue apresenta uma parte líquida, chamada plasma sanguíneo, e uma parte celular, cujas principais células incluem as hemácias (eritrócitos ou popularmente conhecidas como glóbulos vermelhos), os leucócitos (ou glóbulos brancos) e as plaquetas (ou trombócitos). As hemácias, de coloração avermelhada, apresentam como principal componente a hemoglobina, cuja região central tem átomos de ferro (grupo heme) habilitados ao transporte de gases (como O2 e CO2). Os leucócitos são células que possibilitam a defesa imunológica do indivíduo, pois permitem a fagocitose ou a produção de substâncias (como as citocinas) capazes de destruir células invasoras (como vírus, bactérias, células anômalas). Por sua vez, os trombócitos são células responsáveis pela coagulação do sangue. Doenças que atrapalhem a adequada produção do funcionamento de tais células podem levar o indivíduo a óbito. É o caso, por exemplo, da anemia, da leucemia, da hemofilia, entre outras (FREITAS, 2004). U N ID A D E 2 104 Figura 1 - Posição e forma do coração Grandes vasos da base do coração Ápice do coração Coração Generalidades Ah, o coração! Como as pessoas lhe atribuem funções que não são dele! O amor, o ódio, a amargura, o bem querer e tantas outras. Na verdade, isso sempre acon- teceu, desde a Antiguidade. Até mesmo os primeiros estudiosos em anatomia achavam que o coração era o responsável pelo controle geral do corpo e que os sentimentos de fato advinham dele (acreditavam na teoria cardiocêntrica). Aos poucos, esse equívoco foi corrigido e a função de controle geral do fun- cionamento do corpo foi atribuída ao cérebro. Mesmo assim, ainda hoje, poe- tas, músicos e, principalmente, os apaixonados, associam funções emocionais ao coração. Não é à toa que dizemos que amamos “do fundo do coração” ou que não podemos ter o “coração peludo”, ou seja lá o que mais. Acho tudo isso muito engraçado. Às vezes, até me pergunto se as pessoas realmente conhecem as ver- dadeiras estrutura e função do coração. Na verdade, esse órgão tão simbólico ainda é considerado central em relação ao Sistema Car- diovascular Sanguíneo (SCVS) e é objeto de estudo da cardiologia. Ele é ímpar, muscular, oco, com 12 centímetros de comprimen- to, 9 de largura e 6 de espessura. Pesa 250 gramas nas mulheres e 300 gramasnos homens e ocupa o volume aproximado de uma mão com os dedos fechados. Ele tem forma de pirâmide, com o ápice (uma extremidade pontiaguda) apontando para bai- xo, e a base (uma parte larga opos- ta ao ápice) direcionada para cima e à direita. A base não tem uma localização muito nítida, pois os principais vasos sanguíneos do co- U N IC ES U M A R 105 ração, os vasos da base, entram e saem por ela. Ao contrário, o ápice fica voltado à esquerda de forma que cerca de 2/3 da massa do coração está à esquerda da linha mediana do corpo. Por isto e pelo fato de que, no ápice, as bulhas cardíacas são muito audíveis, a maioria das pessoas acha que o coração fica do lado “esquerdo do peito”, mas não fica. Ele fica no centro da cavidade torácica, mas com o ápice apontando para a esquerda. Assim, o coração fica inclinado, com a base voltada medialmente e o ápice voltado lateralmente. Além disso, seu maior eixo (que vai da base ao ápice) forma 40º com o plano horizontal (DI DIO, 2002). Assim, o coração está localizado entre os dois pulmões (em uma região cha- mada mediastino), posteriormente ao osso esterno e às cartilagens costais, ante- riormente às vértebras torácica (da quinta à oitava vértebra) e superiormente ao músculo diafragma (sobre o qual repousa). Portanto, apresenta face pulmonar (voltada ao pulmão esquerdo), face esternocostal (em contato com o esterno e as costelas) e face diafragmática (em contato com o músculo diafragma). Constituição O coração é constituído por três camadas chamadas paredes ou túnicas: a interna (ou endocárdio), a média (ou miocárdio) e a externa (ou pericárdio). A interna é impermeável ao sangue e forra a superfície interna das cavidades do coração e as válvulas cardíacas (TORTORA et al., 2010). A túnica média é a camada mais espessa, pois é formada de tecido muscular estriado cardíaco (por isso, muitas pessoas comem coração de boi ou de galinha, ele é altamente proteico, pois é muscular). A espessura da túnica média varia conforme a câmara cardíaca avaliada. Por exemplo, nos átrios, as paredes são mais finas, pois esses bombeiam sangue apenas para os ventrículos; já dentre os ventrículos, o esquerdo é o mais espesso devido à sua força contrátil capaz de bombear sangue para todo o corpo. Essa túnica forma, no interior das cavidades cardíacas, saliências irregulares denominadas trabéculas cárneas, as quais dão um aspecto de “rede” à superfície interna do coração. Na parede anterior do átrio direito e da aurícula esquerda, tais trabéculas são chamadas músculos pectíneos; nos ventrículos, algumas têm formato de pequenos pilares chamados músculos papilares (os quais ficam presos às cordas tendíneas). A túnica externa é constituída por lâminas ou folhetos chamados de pericár- dio fibroso e pericárdio seroso. O pericárdio fibroso é mais externo, formado por tecido conjuntivo fibroso ineslático e rico em fibras colágenas muito resistentes. U N ID A D E 2 106 Ele fica parcialmente fixo ao músculo diafragma, ao osso esterno, à traqueia, aos brônquios principais e aos grandes vasos do coração. Assim, ele auxilia na fixação do coração à cavidade torácica, ancorando-o ao mediastino, evita seu estiramento excessivo e o protege. O pericárdio seroso é constituído por duas lâminas de tecido seroso, a lâmi- na parietal e a lâmina visceral. A lâmina parietal é delgada e adere à superfície interna do pericárdio fibroso. A lâmina visceral (também chamada de epicárdio) reveste o coração externamente, ficando em contato com ele. Entre essas lâminas, há um espaço estreito chamado cavidade do pericárdio, o qual é preenchido por líquido pericárdico, que facilita o deslizamento entre essas lâminas durante os movimentos do coração. Pode ter grande quantidade de gordura. Câmaras cardíacas A cavidade do coração é subdividida em quatro câmaras cardíacas: dois átrios e dois ventrículos. Os átrios são superiores, menores e chamados de câmaras de recepção. Em contrapartida, os ventrículos são inferiores, maiores e chamados de câmaras de ejeção. Na face anterior de cada átrio, existe uma estrutura enrugada, a aurícula, a qual aumenta ligeiramente a capacidade de armazenamento de sangue do átrio (DANGELO; FATTINI, 2011). A divisão das câmaras cardíacas é feita por meio de projeções musculomem- branosas do próprio miocárdio, chamadas septos cardíacos. O septo atrioventri- cular tem direção horizontal e divide o coração em parte superior e inferior. O septo interatrial é vertical e divide a porção superior do coração em átrio direito e átrio esquerdo. O septo interventricular também é vertical, mas divide a porção inferior do coração em ventrículo direito e ventrículo esquerdo (ele tem uma parte muscular e outra, membranácea). Além de quantidade variável de gordura, a face externa do coração apresenta sulcos que marcam o limite externo entre essas câmaras cardíacas. O sulco coronário marca os limites entre os átrios e ventrículos e é ocupado pelas artérias coronárias e seus ramos e pelas veias do coração. O sulco interventricular anterior e interventricular posterior marcam a separação entre ventrículos direito e esquerdo e são ocupados pelos ramos interventriculares das artérias coronárias e das veias cardíacas. Por outro lado, o limite externo interatrial é pouco nítido. É importante destacar que, no septo interatrial, existe uma depressão cha- mada fossa oval. Ela é do tamanho de uma impressão digital e é contornada U N IC ES U M A R 107 por um relevo chamado limbo da fossa oval. Nela, a parede interatrial é mui- to delgada e transparente, pois representa o resquício do forame oval, o qual permitia, no feto, quando os pulmões ainda não eram funcionantes, a ampla comunicação entre o átrio direito e o esquerdo. Normalmente, esse forame se fecha logo após o nascimento. Também é interessante salientar que o treinamento físico modifica a espes- sura do miocárdio, enquanto doenças podem modificar sua estrutura, exigindo, inclusive, transplante cardíaco. Figura 2 - Coração em corte coronal Aorta Artéria pulmonar Veias pulmonares esquerdas Átrio esquerdo Valva atrioventricular esquerda Válvulas semilunares da aorta Ventrículo esquerdo Ventrículo direito Veia cava inferior Valva atrioventricular direita Átrio direito Válvulas semilunares do tronco pulmonar Veia cava superior U N ID A D E 2 108 Mecanismo valvular do coração Entre os átrios e os ventrículos existem orifícios chamados óstios atrioventriculares, os quais apresentam dispositivos orientadores da corrente sanguínea, as valvas cardíacas. As principais são as valvas atrioventricular direita, atrioventricular esquerda, valva do tronco pulmonar e valva da aorta. Tais estruturas, por sua vez, são constituídas por lâminas de tecido conjuntivo chamadas válvulas, folhetos ou cúspides (WATANABE, 2000). Na valva atrioventricular, esquerda existem duas válvulas (a anterior e a pos- terior), e na atrioventricular direita, existem três (a válvula anterior, a posterior e a septal). Por isso, elas eram, antigamente, chamadas de bicúspide e tricúspide, respectivamente. Já no tronco pulmonar e na artéria aorta as três válvulas são do tipo semilunares (no tronco pulmonar: direita, esquerda e anterior; na artéria aorta: direita, esquerda e posterior). Você pode estar se perguntando como as valvas e as válvulas funcionam. Pois bem, vamos entender. As valvas atrioventriculares se abrem quando a pressão dos átrios é maior do que a dos ventrículos. Neste momento, os músculos papi- lares estão relaxados, e as cordas tendíneas, frouxas. Quando os ventrículos se contraem, a pressão do sangue empurra as válvulas para cima até o óstio fechar. Ao mesmo tempo, os músculos papilares se contraem e as cordas tendíneas são puxadas para impedir que as válvulas se invertam em direção aos átrios. Além disso, neste momento, as válvulas do tronco pulmonar e da artéria aorta se abrem, pois o aumento da pressão nos ventrículos e nas artérias faz com queo sangue empurre as válvulas contra a parede destes vasos. Em contrapartida, à medida que os ventrículos vão relaxando, o sangue reflui de volta ao coração, preenchendo tais válvulas, fazendo-as se fecharem fortemente. Este mecanismo é muito im- portante, pois assegura que o fluxo do sangue seja unidirecional (sem refluxo). Todas as valvas do coração ficam inseridas no esqueleto fibroso ou esqueleto cardíaco, o qual é formado por quatro anéis de tecido conjuntivo, fundidos uns aos outros (anel fibroso atrioventricular direito, anel fibroso atrioventricular es- querdo, anel pulmonar e anel aórtico). U N IC ES U M A R 109 Durante uma cirurgia para substituir uma ou mais válvulas cardíacas não funcionantes, ocorre a remoção da válvula cardíaca doente e a colocação de uma ou mais válvulas pros- téticas ou artificiais, as quais funcionam de maneira semelhante à válvula normal. Tais válvulas podem ser mecânicas ou de tecido. As mecânicas são feitas de material resistente (como titânio ou carbono) e as de tecido são obtidas de doadores humanos ou de tecido animal. Normalmente, após a cirurgia, o indivíduo apresenta boa recuperação, podendo retomar seu estilo de vida normal. Fonte: Perin et al. (2009). explorando Ideias Figura 3 - Valvas cardíacas, músculos papilares e cordas tendíneas Valva átrioventricular esquerda Valva átrioventricular direita Cordas tendíneas Septo interventricular Músculos papilares U N ID A D E 2 110 Tipos de circulação A passagem do sangue por meio do coração e dos vasos é chamada de circulação. Esta se faz por meio de duas correntes que partem ao mesmo tempo do coração. A primeira sai do ventrículo direito (por meio do tronco pulmonar) e se dirige aos capilares pulmonares, onde ocorre a hematose. O sangue oxigenado é levado ao átrio esquerdo (pelas veias pulmonares direitas e esquerdas) e é lançado no ventrículo esquerdo. Ela é chamada de pequena circulação ou circulação pulmo- nar e tem por objetivo oxigenar o sangue. A segunda corrente sai do ventrículo esquerdo (por meio da artéria aorta) e se dirige a todos os tecidos do corpo, permitindo a troca entre sangue e células. Após tais trocas, o sangue cheio de CO2 e resíduos retorna ao coração por meio das veias cavas superior e inferior. Estas desembocam no átrio direito do cora- ção, de onde o sangue é dirigido ao ventrículo direito. Esta é chamada de grande circulação ou circulação sistêmica e tem por objetivo distribuir o sangue oxige- nado e rico em nutrientes ao corpo e dele remover o CO2 e os produtos residuais (TORTORA et al., 2010). Além da circulação pulmonar e da sistêmica, também existe a circulação colateral e a circulação portal. A colateral ocorre por meio de anastomoses (comunicações) entre artérias ou veias quando há uma obstrução em um vaso mais calibroso que participa desta anastomose. Esse tipo de circula- ção representa um mecanismo de defesa para tentar irrigar ou drenar um território específico. A circulação portal é uma subdivisão da circulação sistêmica que ocorre quando uma veia se interpõe entre duas redes de capilares sem passar por um órgão intermediário. A circulação portal hepática é um importante exemplo, pois permite que o sangue rico em substâncias absorvidas pelo trato gastrintestinal após as refeições, passe pelo fígado que armazena parte delas e modifica outra parte antes de mandar o sangue para a circulação geral. Também há um sistema portal na hipófise. U N IC ES U M A R 111 Figura 4 - Tipos de circulação Ciclo cardíaco Ciclo cardíaco são todos os eventos associados a um batimento cardíaco. Em um ciclo normal, os dois átrios se contraem enquanto os dois ventrículos relaxam e, em seguida, os dois ventrículos se contraem enquanto os dois átrios relaxam. No final dele, ocorre um período de relaxamento caracterizado pelo momento em que os ventrículos começam a distender e todas as câmaras estão em diástole (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Vale lembrar que sístole é um termo que se refere à fase de contração do coração, enquanto diástole é um termo que se refere à sua fase de relaxamento. Em azul, notar a circulação de sangue venoso na pequena circulação ou circulação pulmonar Em rosa, notar a circulação de sangue arterial na grande circulação ou circulação sistêmica U N ID A D E 2 112 Bulhas cardíacas e sopro O famoso “tum-tá, tum-tá, tum-tá” que o coração faz fascina-nos desde o período embrionário, quando a mãe, ansiosa, deseja ouvir os batimentos cardíacos de seu bebê. E de onde vem esse barulho? Como ele é produzido? Por que será que fatores como o exercício físico, o susto ou o estresse podem modificá-lo? Vamos entender como tudo funciona. Durante a sístole, os ventrículos se contraem, comprimindo o sangue que, devido à pressão no ventrículo, tende a refluir do ventrículo para o átrio. Assim, o sangue turbilhona-se contra as valvas atrioventriculares, as quais se fecham for- temente para impedir tal refluxo. O fechamento dessas valvas gera uma vibração, que é convertida em som pela caixa torácica. Este som, o famoso “tum”, é chamado de primeira bulha cardíaca (DANGELO; FATTINI, 2011). Os ventrículos continuam a se contrair até que a pressão em seu interior seja maior do que a pressão dentro do tronco pulmonar e da artéria aorta. Isto faz com que as valvas semilunares pulmonares e aórticas se abram. À medida que o sangue sai dos ventrículos para as artérias, elas se distendem para acomodar o sangue, mas isso aumenta a pressão dentro delas, ao mesmo tempo em que diminui a pressão no ventrículo. Então, para impedir que o sangue refluia das artérias para o ventrículo, ocorre o forte fechamento das valvas semilunares. Este fechamento gera outro som, a segunda bulha cardíaca ou o famoso “tá”. Viu que interessante? De forma bem simplificada, pode-se dizer que o “tum-tá” que o coração faz nada mais é do que os fechamentos consecutivos de suas valvas. Quando elas não se abrem completamente, tem-se uma estenose (estreitamen- to) e, quando não se fecham por completo, tem-se uma insuficiência. Tais distúrbios podem permitir o fluxo retrógrado de sangue, o que causa um som anormal, perce- bido com o auxílio de um estetoscópio. Este som é conhecido como sopro cardíaco. O sopro também pode ser causado por alterações congênitas ou pode surgir após febre reumática, faringite, amigdalite ou contato com estreptococo. Esta bactéria, além de desenvolver infecção, produz uma toxina chamada estreptoli sina, que é lançada na corrente sanguínea e exerce reações inflamatórias locais nas articulações, na pele e no coração. Então, o sistema imune produz anticorpos antiestreptolisina que agem sobre o próprio tecido cardíaco, causando lesões irreversíveis. O tratamento é antibioticoterapia e, por vezes, até cirurgia. U N IC ES U M A R 113 É importante mencionar que, em crianças de até quatro anos, o sopro é cha- mado de inocente ou funcional, pois frequentemente diminui ou desaparece. Se for sistólico e de baixa intensidade, não afeta o desempenho cardíaco e, muitas vezes, só aparece após exercício físico intenso ou hipertermia. Também existe o sopro diastólico, que ocorre por insuficiência de fechamento das valvas semilu- nares. No entanto as valvas podem ser substituídas cirurgicamente por valvas de doadores humanos ou de suínos ou por próteses mecânicas. Inervação do coração Talvez você já tenha participado de uma aula prática de ciências onde o profes- sor tenha removido o coração de um animal (como rato ou rã) e tenha ficado intrigado(a) com o fato de que o coração, mesmo fora da cavidade torácica, é capaz de se contrair por determinado período de tempo (eu mesma, sempre que posso, mostro isso em aula prática, e os alunos gostam muito de ver como isso é possível). No entanto se você nunca participou deste tipo de aula ou nunca tinha ouvido falar nisso, pode acreditar porque é verdade. Agora é possível que você esteja se perguntando: como isso é possível se apren- demos queo sistema nervoso é quem controla todo o funcionamento do corpo, e quando retiramos o coração do tórax, cortamos sua comunicação com esse siste- ma? Para entendermos como isso é possível, em primeiro lugar, você precisa saber que a inervação do coração é diferente de outras regiões do corpo. Isto porque a inervação do músculo cardíaco ocorre de duas formas, a extrínseca e a intrínseca. A inervação extrínseca é feita pelo Sistema Nervoso Autônomo (SNA) por meio de seus componentes simpáticos (nervos cardíacos simpáticos) e paras- simpáticos (nervo vago). Enquanto as fibras simpáticas causam taquicardia, as parassimpáticas causam bradicardia. Ambas formam o plexo nervoso cardíaco, o qual é útil para as demandas do dia a dia, pois as constantes modificações do ambiente são prontamente percebidas pelo SNA, fazendo com que o coração se adapte e capacite o corpo a reagir (WATANABE, 2000). A inervação intrínseca, chamada de sistema de condução do coração ou com- plexo estimulante do coração, não é feita por elementos nervosos, e sim, por fibras musculares estriadas cardíacas especiais, com poucas estrias transversais, poucas miofibrilas, de menor diâmetro, e que formam o tecido nodal. Este tecido, por si só, é capaz de gerar impulsos eletroquímicos que se propagam pelo coração, cau- sando a contração do miocárdio de forma rítmica e repetitiva. Ele só é encontrado U N ID A D E 2 114 no coração, no qual cerca de 1% das fibras musculares são células autorrítmicas capazes de gerar potencial de ação. O sistema de condução do coração compreende o nodo sinoatrial, o nodo atrioventricular, o fascículo atrioventricular e os ramos direito e esquerdo. O nodo sinoatrial localiza-se no átrio direito. Ele envia finas ramificações aos átrios, sendo considerado o “marca-passo” do coração, pois a excitação cardíaca começa nele, e é ele que determina o ritmo e o automatismo cardíaco. Seu mau funcio- namento causa arritmia cardíaca. Várias substâncias (como a noradrenalina) e algumas condições (como hipóxia, drogas, cafeína e nicotina) atuam neste nodo e interferem no ritmo do coração. Assim, pode ser necessário que outra área cardíaca possa funcionar como o marca-passo. O nodo atrioventricular fica acima da valva atrioventricular direita. Ele pode vir a ser o “marca-passo” do coração se o nodo sinoatrial for lesado, mas a frequência cardíaca passa a ser de 40 a 60 batimentos por minuto (bpm). Sua continuação até o septo interventricular é o fascículo atrioventricular (feixe de His). Ele pode vir a ser o “marca-passo” do coração se os nodos sinoatrial e atrio- ventricular forem lesados. Todavia a frequência cardíaca cai de 20 a 35 bpm, o que pode causar lesão neurológica, necessitando implantar um marca-passo artificial (um dispositivo que emite pequenas correntes elétricas que estimulam as contrações ventriculares). O fascículo atrioventricular se bifurca em ramo direito e ramo esquerdo, um para cada ventrículo. Tais ramos penetram as paredes ventriculares, ramifi- cam-se ainda mais e constituem os ramos subendocárdios (que ficam abaixo do endocárdio). Suas fibras são conhecidas como Fibras de Purkinje e permitem a propagação das contrações dos átrios para os ventrículos. Entendeu agora como é possível que o coração continue batendo mesmo fora do corpo? De forma bem simplificada, pode-se afirmar que, quando o coração é retirado da caixa torácica, de fato, ele perde a inervação extrínseca (aquela que vem do sistema nervoso), mas a inervação intrínseca (aquela que existe no pró- prio tecido cardíaco) continua a funcionar. Um detalhe interessante é que a atividade elétrica do coração gera uma corrente elétrica que pode ser detectada na superfície do corpo e registrada por um exame chamado eletrocardiograma (ECG). Alterações no ECG são úteis para diagnosticar e tratar doenças do coração, que também podem ser identificadas por meio de um teste de esforço ao avaliar a resposta do coração ao estresse causado pelo exercício físico. U N IC ES U M A R 115 Figura 5 - Inervação intrínseca do coração Circulação fetal e envelhecimento Os pulmões, rins e órgãos gastrintestinais só começam a funcionar após o nasci- mento. O feto obtém O2 e nutrientes do sangue materno, onde também elimina CO2 e resíduos. Normalmente, não há mistura direta entre o sangue materno e o fetal, pois as trocas ocorrem de maneira indireta por difusão por meio dos capilares da mãe e do feto (MOORE et al., 2014). O sangue passa do feto para a placenta pelas duas artérias umbilicais que ficam dentro do cordão umbilical (são ramos das artérias ilíacas internas). Na placenta, o sangue fetal capta O2 e nutrientes e elimina CO2 e resíduos. O sangue oxigenado retorna da placenta pela veia umbilical, que vai até o fígado do feto. A placenta comunica-se com o sistema circulatório materno por pequenos vasos sanguíneos que emergem da parede do útero. Após o nascimento, muitas mudan- ças vasculares fazem o sistema circulatório fetal ficar como no adulto. Vale lembrar que o envelhecimento causa alterações no sistema circulatório, tais como diminuição da complacência arterial, redução no tamanho das fibras musculares cardíacas, perda progressiva da força muscular cardíaca, diminuição da frequência cardíaca máxima e aumento da pressão sistólica. Tais alterações podem ocasionar maior incidência de doenças neste sistema. Todavia o exercício Coração normal Átrio esquerdo Nó átrioventricular Nó sinoatrial Átrio direito U N ID A D E 2 116 físico é capaz de minimizar todas elas. Por isso, a sua prática é aceita mundialmen- te como uma das melhoras formas de prevenir as doenças cardiocirculatórias. Vasos sanguíneos Como já vimos, os vasos sanguíneos são habilitados ao transporte do sangue, seja ele arterial ou venoso. Os principais são as artérias e veias, mas também incluem as arteríolas, os capilares e as vênulas (FREITAS, 2004). Tanto as artérias quanto as veias possuem paredes formadas por três camadas sobrepostas: a túnica adventícia ou externa (que dá resistência à parede do vaso), a túnica média (mais espessa devido ao músculo liso que permite vasoconstrição e vasodilatação sob o controle do SNA) e a túnica íntima ou endotélio (formada por uma camada de células de revestimento que permitem o deslizamento do sangue). As paredes das artérias e das veias recebem nutrição e inervação por meio dos vasos e nervos dos vasos (vasa vasorum e nervi vasorum). Artérias e veias não são iguais. Você acha que os vasos “esverdeados” que per- cebemos em nosso antebraço ou mesmo nos membros inferiores são artérias ou veias? Quando vamos retirar sangue para fazermos um exame ou mesmo para doá-lo, a coleta é feita em artérias ou veias? Estas e outras perguntas poderão ser respondidas assim que concluirmos o estudo. Em primeiro lugar, é importante que você saiba que as particularidades es- truturais das artérias e das veias estão correlacionadas às funções que estes vasos desempenham na dinâmica circulatória. Por exemplo, de um modo geral, as veias têm paredes menos espessas, porém luz vascular mais ampla do que as artérias (luz vascular é o espaço que existe para o sangue circular dentro do vaso). Isto porque o mesmo volume de sangue que saiu do coração pelas artérias deve retomar ao cora- ção pelas veias, quase sem pressão e passivamente (ou seja, sem um órgão como o coração para mandá-lo de volta). Além do que, o sangue do sistema arterial circula com maior pressão do que o sangue que circula no sistema venoso. Abordaremos as principais diferenças entre os diversos vasos sanguíneos a seguir. Artérias Todas as artérias originam-se, direta ou indiretamente, da artéria aorta ou do tronco pulmonar (ambas são vasos de grande calibre que se ramificam extensiva- mente). Elas são tubos cilíndricos, elásticos, de direção centrífuga (porque saem U N IC ES U M A R 117 do coração), responsáveis pela irrigação sanguínea, pois transportam sangue rico em O2 e nutrientes para as células,os tecidos ou órgãos (exceto as artérias pulmonares, que conduzem sangue venoso aos pulmões) (DI DIO, 2002). Na maioria das vezes, as artérias são menos numerosas, têm paredes mais espessas e com menor luz do que as veias. Como já visto, tais diferenças se devem à pressão com que o sangue circula por elas (assim, artérias têm que ter maior espessura de parede para que resistam à pressão do sangue e não colabam). Outro ponto importante é que as artérias têm pulsação, pois a força de contração do ventrículo gera uma onda de grande pressão, conhecida como pulso, que se pro- paga ao longo delas. Normalmente, a frequência do pulso é a mesma da frequência cardíaca (de 70 a 80 vezes por minuto; no sono, cai para 60; no exercício, na febre,nos distúrbios emocionais, no hipertireoidismo e em outras condições específicas, pode ultrapassar 100; no recém-nascido, gira em torno de 120 a 140 pulsações por minuto). Normalmente, elas são mais profundas do que as veias para ficarem protegidas e evitar que uma ruptura cause um fluxo ininterrupto de sangue ou uma hemor- ragia. Também podem ser acompanhadas por uma ou duas veias satélites, as quais chegam a fazer sulcos nos ossos. No entanto mesmo artérias profundas podem de- senvolver parte do trajeto superficialmente. É o caso da artéria radial, por exemplo. Em geral, artérias comunicam-se entre si por intermédio de anastomoses, fornecendo rotas alternativas para que o sangue chegue a determinado tecido. Todavia também podem se ramificar emitindo ramos terminais (quando a artéria deixa de existir; a artéria braquial emite a artéria radial e a ulnar como ramos terminais) ou ramos colaterais (quando a artéria continua a existir, mas emite um ramo com direção oblíqua ou a 90º; quando o ramo forma um ângulo obtuso, é chamado de ramo recorrente). As artérias, geralmente, começam de grande calibre e vão diminuindo de diâmetro à medida que se ramificam. Artérias de grande calibre têm diâmetro interno de cerca de 7 mm e são chamadas de elásticas ou condutoras. Suas pa- redes acomodam o volume de sangue e ajudam a impulsioná-lo enquanto os ventrículos relaxam. A aorta, o tronco pulmonar, a carótida comum, a subclávia, a vertebral, a pulmonar e a ilíaca comum são exemplos deste tipo de artéria. Elas se ramificam em artérias de médio calibre, as quais têm diâmetro interno de 2,5 a 7 mm e são chamadas de distribuidoras ou musculares. Estas têm paredes espessas e adaptadas à vasoconstrição e à vasodilatação. A artéria braquial e a radial são exemplos deste tipo de artéria. Delas se originam as artérias superficiais que se destinam à pele. Posteriormente, artérias de médio calibre se ramificam em artérias U N ID A D E 2 118 de pequeno calibre, cujo diâmetro interno é de 0,5 a 2,5 mm e das quais surgem as arteríolas, com diâmetro interno menor do que 0,5 mm e cuja função é levar sangue aos capilares arteriais. Assim, as arteríolas têm papel-chave na regulação do fluxo sanguíneo e, por isso, são conhecidas como vasos de resistência. Alterações em seu diâmetro podem causar mudanças na pressão arterial (por nicotina, por exemplo). Capilares sanguíneos Os capilares sanguíneos têm paredes muito delgadas, constituídas, na maioria das vezes, por uma única camada de células endoteliais e uma membrana basal de tecido conjuntivo (não têm camada média e adventícia). Por isto, permitem a passagem de substâncias por meio de suas paredes, ou seja, as trocas entre sangue e tecidos por meio do líquido intersticial e vice-versa. Assim, são conhecidos como vasos de troca (TORTORA et al., 2010). Os capilares têm diâmetro microscópico e ligam as arteríolas às vênulas, per- mitindo a microcirculação. Na maioria das vezes, surgem das ramificações das arteríolas, mas, em alguns casos (como no fígado e na glândula hipófise), origi- nam-se da ramificação de vênulas. Apresentam vasomotricidade (ou seja, fazem vasodilatação e vasoconstrição), a qual é influenciada por substâncias químicas liberadas pelas células endoteliais (por exemplo, o óxido nítrico). São considerados os vasos mais numerosos do corpo e formam redes rami- ficadas que aumentam a área de superfície para a troca de materiais. Todavia embora sejam encontrados próximos a quase todas as células, seu número varia com a atividade metabólica do tecido. Por exemplo, músculos, fígado, rins e SNC que têm alto metabolismo têm muitos capilares; tendões e ligamentos têm menos. Além disso, podem apresentar poros em sua parede (como os capilares fenestra- dos do rim, do intestino delgado e das glândulas endócrinas), podem ter interrupções na parede (como os capilares sinusoides do fígado, do baço, da adenohipófise e das glândulas paratireoides) ou podem ter parede sem poros ou interrupções (como os capilares contínuos dos músculos, do encéfalo, dos pulmões e do tecido conjuntivo). Veias As veias são tubos pelos quais o sangue circula com direção centrípeta (ou seja, chegam ao coração). São responsáveis pela drenagem sanguínea ou retorno venoso, pois coletam o sangue rico em CO2 e metabólitos dos tecidos para o U N IC ES U M A R 119 coração (exceto as veias pulmonares, que conduzem sangue arterial para o coração). Elas se formam pelas sucessivas confluências de vênulas e capilares venosos e aumentam gradativamente de calibre (ao contrário das artérias, lembra?). Assim, podem ser de pequeno, médio ou grande calibre (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Elas não têm pulsação e, normalmente, são menos espessas do que as arté- rias e, por isso, podem colabar (suas paredes podem ficar aderidas). Embora, à semelhança das artérias, possam se dilatar no sentido transversal (para conter maior volume de sangue) e longitudinal (para atender aos deslocamentos dos segmentos corporais), não resistem a pressões muito altas. Em contrapartida, têm maior luz e são mais numerosas do que as artérias (o leito venoso é prati- camente o dobro do leito arterial; entretanto, o pênis e o cordão umbilical são exceções, pois neles há duas artérias acompanhando uma única veia). As veias, geralmente, começam de pequeno calibre e aumentam de diâme- tro à medida que se dirigem ao coração. Além disso, podem ser superficiais ou profundas. As superficiais não acompanham as artérias e são chamadas de solitárias. As profundas podem ou não acompanhar as artérias. As que acom- panham são chamadas de satélites, e as que não acompanham, são chamadas de solitárias. A comunicação entre veias superficiais e profundas é feita por veias comunicantes ou perfurantes. Vale lembrar que veias, artérias e nervos se unem formando um feixe vásculo-nervoso. Além disso, veias podem apresentar válvulas para impedir o refluxo do san- gue. Todavia se estas não funcionam adequadamente, podem aparecer varizes (principalmente nos membros). Tais válvulas podem não existir em algumas veias da cabeça e do pescoço. Agora chegou a hora de você responder, com certeza, as perguntas do início do texto. Então, os vasos “esverdeados” que percebemos em nosso antebraço ou mesmo nos membros inferiores, são artérias ou veias? Certamente são veias, pois estas apresentam trajeto mais superficial do que as artérias. E qual vaso é puncionado na coleta de sangue? Novamente, a resposta é a veia, pois o sangue circula com maior pressão nas artérias e perfurá-las rotineiramente não seria o melhor a fazer. Além do que, artérias têm trajeto mais profundo, lembra? Como é bom adquirir conhecimento, não acha? U N ID A D E 2 120 Figura 6 - Diferenças entre artérias e veias Distribuição do sangue A distribuição do sangue pelo corpo não é simétrica entre os órgãos e depende da demanda funcional a qual o indivíduo está submetido. Assim, a maior parte do volume de sangue em repouso (64%) está nas veias e vênulas sistêmicas. As artérias sistêmicas têm 13%, os capilares sanguíneos, 7%, os vasos pulmonares, 9%, e o coração, 7%. Todavia este estado pode ser totalmente alterado em condições específicas, como exercício físico e estresse (MOOREet al., 2014). Assim, pode-se dizer que as veias e vênulas sistêmicas atuam como reservató- rio de sangue a partir do qual o sangue pode ser rapidamente removido se houver necessidade. Este é o caso, por exemplo, de um quadro de hemorragia ou atividade muscular intensa onde a venoconstrição poderá ajuda a contrabalancear a queda na pressão arterial. As veias e vênulas do fígado, do baço e da pele representam os principais reservatórios de sangue do corpo. Vascularização sistêmica Vascularização do coração O pericárdio e o miocárdio são irrigados pelas artérias coronárias, que são ra- mos da parte ascendente da artéria aorta. Elas correm no sulco coronário e recebem o nome de coronárias porque circundam o coração como uma coroa. O endocárdio é nutrido por microvascularização diretamente das câmaras do coração (WATANABE, 2000). Artéria Artéria Veia Veia U N IC ES U M A R 121 Se as artérias coronárias estiverem comprometidas a ponto de não conseguirem suprir as necessidades de oxigenação e nutrição do miocárdio, pode ser necessária a realização de um procedimento cirúrgico para revascularização do miocárdio, popularmente conhecida como “ponte de safena”. Essa cirurgia consiste na retirada de uma parte da veia safena localizada no membro inferior para criar uma ponte por cima das artérias coronárias comprometidas e tornar possível a passagem sanguínea novamente. Tais artérias podem ser afetadas, principalmente, por acúmulo de gordura (aterosclerose) ou cálcio em suas paredes. Leia mais sobre o tema, pois grande parte das causas de obstrução das artérias coronárias pode ser prevenida por meio da prática regular do exercício físico. Fonte: Tua Saúde (2013, on-line)³. explorando Ideias Geralmente, a artéria coronária esquerda é mais calibrosa e tem maior área de distribuição. Ela passa inferiormente à aurícula esquerda, fornece o ramo in- terventricular anterior e o ramo circunflexo. O ramo interventricular anterior percorre o sulco interventricular anterior, desce até o ápice do coração, irriga os ventrículos e emite ramos interventriculares septais para o septo interventricular. O ramo circunflexo fica no sulco coronário, irriga o átrio e o ventrículo esquerdos, dirige-se posteriormente e se anastomosa com a artéria coronária direita. A artéria coronária direita dirige-se à direita do sulco coronário, emite ramos atriais e se divide em ramo marginal (que irriga o ventrículo direito) e ramo in- terventricular posterior, que percorre o sulco interventricular posterior e irriga os dois ventrículos. Também emite ramos interventriculares septais. O coração é drenado, principalmente, por pequenas veias cardíacas mínimas e por veias que se abrem no seio coronário (seio coronário é a principal veia do coração). Este seio situa-se no sulco coronário e desemboca no átrio direito. Antes, todavia, ele recebe como principais tributárias a veia cardíaca magna (que drena áreas supridas pela artéria coronária esquerda e fica localizada no sulco interventricular anterior), a veia cardíaca média (que drena os ventrículos e fica no sulco interventricular posterior) e a veia cardíaca parva (que drena átrio e ventrículo direitos e se posiciona no sulco coronário). Vascularização da cabeça e do pescoço A vascularização da cabeça e do pescoço depende das artérias carótidas comuns e subclávias, as quais se originam a partir do arco da aorta. À direita desse arco, surge o tronco braquiocefálico, o qual emite a artéria carótida comum direita U N ID A D E 2 122 e a artéria subclávia direita. As artérias carótida comum esquerda e subclávia esquerda surgem do próprio arco da aorta (DANGELO; FATTINI, 2011). As artérias carótidas comuns (direita e esquerda) têm pulsação lateralmente à laringe e, na altura da cartilagem tireoide, ramificam-se em artéria carótida interna (direita e esquerda) e externa (direita e esquerda). A interna passa o canal carótico na base do crânio, emite a artéria oftálmica (que irriga a retina), a artéria cerebral anterior (que irriga a face medial do encéfalo), a artéria cerebral média (que irriga a face superolateral do hemisfério cerebral) e a artéria comunicante posterior. A região posterior do encéfalo é irrigada pelas artérias vertebrais (que são ramos das artérias subclávias). As vertebrais sobem pelos forames transversos das vértebras cervicais, entram no crânio pelo forame magno, unem-se e formam a artéria basilar. A basilar emite as artérias cerebelares e a artéria cerebral posterior. Assim, na face inferior do encéfalo, se forma o círculo arterial do encéfalo, por meio do qual o sistema carotídeo interno se une ao sistema vértebro-basilar como uma anastomose arterial que pode, em situações específicas (como obstruções e aneurismas), prevenir quadros de isquemia cerebral. A artéria carótida externa irriga, por meio de muitos ramos, todas as estru- turas externas da face e do couro cabeludo. Seus principais ramos incluem as artérias tireoidea superior, lingual, facial, occipital, auricular posterior, faríngea ascendente, maxilar e temporal superficial. A drenagem venosa da cabeça e do pescoço é feita pelos seios venosos da dura-máter e por veias superficiais que, após várias confluências, desembocam na veia jugular interna. Esta veia se une à veia subclávia, formando a veia bra- quiocefálica. As veias braquiocefálicas direita e esquerda se unem e formam a veia cava superior, a qual desemboca no átrio direito do coração, levando o sangue venoso da cabeça e do pescoço, além do sangue do membro superior e do tórax. Vascularização do tórax É feita pela parte torácica da artéria aorta a qual, antes de atravessar o múscu- lo diafragma pelo hiato aórtico, emite uma série de ramos viscerais e parietais, como as artérias esofágicas (que irrigam o esôfago), as pericárdicas (que irrigam o pericárdio), as mediastinais (que irrigam as estruturas do mediastino), as bron- quiais (que irrigam os brônquios), as frênicas superiores (que irrigam o músculo diafragma), as subcostais e as intercostais posteriores(que irrigam os músculos intercostais e torácicos). Além da artéria aorta, também participam da irrigação U N IC ES U M A R 123 da parede torácica a artéria subclávia e a artéria axilar (MOORE et al., 2014). O tórax é drenado por várias veias que drenam para a veia ázigo. Por sua vez, a veia ázigo conduz o sangue venoso até a veia cava superior. Ramo frontal Ramo parietal Artéria temporal super�cial Artéria occipital Veia temporal super�cial Veia tireóidea superior Veia profunda da face Veia angular Veia supratroclear Veia supraorbital Veia submental Veia mental Veia facial Veia labial inferior Veia labial superior Veia occipital Veia retromandibular Veia jugular externa Veia jugular interna Artéria carótida externa Artéria carótida interna Artéria tireóidea superior Artéria carótida comum Artéria facial Artéria labial inferior Artéria labial superior Artéria angular Artéria dorsal do nariz Artéria o�álmica Artéria supratroclear Seio carótico Diagrama das principais artérias da cabeça Diagrama das principais veias da Cabeça Figura 7 -Vascularização arterial (a) e venosa (b) da cabeça e do pescoço e drenagem da cabeça e do pescoço / Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 166). A B U N ID A D E 2 124 Vascularização do abdome É feita pela parte abdominal da artéria aorta, em seu trajeto após o hiato aórtico. Ela emite ramos viscerais e parietais. Os principais ramos parietais são a artéria epigástrica superficial, a epigástrica inferior, a musculofrênica, a 10ª e a 11ª ar- térias intercostais, as posteriores, a subcostal, a circunflexa ilíaca profunda e a circunflexa ilíaca superficial (DI DIO, 2002). Os principais ramos viscerais incluem as artérias frênicas inferiores (irrigam o músculo diafragma), o tronco celíaco (irriga esôfago, estômago, baço, pâncreas, fígado e duodeno), a mesentérica superior (irriga intestino delgado, ceco, colo ascendente e transverso e pâncreas),a mesentérica inferior (irriga colo transverso, descendente e sigmoide), as suprarrenais médias (irrigam glândulas suprarre- nais), as renais (irrigam rins), as gonadais (as testiculares irrigam testículos e as ováricas irrigam os ovários) e as ilíacas comuns. Estas últimas se ramificam em ar- térias ilíacas externas (irrigam os membros inferiores) e ilíacas internas (irrigam bexiga urinária, útero e próstata). A drenagem venosa das vísceras abdominais é feita, principalmente, pela veia porta e pela veia cava inferior. Vascularização da pelve Como vimos, a artéria ilíaca comum se bifurca, originando a artéria ilíaca interna e a externa. A interna envia ramos para a parede e as vísceras da pelve; a externa envia ramos para a parede abdominal e continua no membro inferior como artéria femoral (FREITAS, 2004). Dentre as principais artérias da pelve, estão: umbilical, obturatória, sa- cral mediana, retal superior, gonadal (ovárica e testicular), artéria do ducto deferente, ramos prostáticos, vesical superior e inferior (na mulher, é artéria vaginal) e artéria uterina. Os plexos venosos pélvicos são formados por veias que circundam as vís- ceras pélvicas (plexo retal, vesical, prostático, uterino e vaginal). Também são importantes as veias iliolombares, sacral mediana e sacrais laterais. Na pelve, a veia ilíaca interna se une à veia ilíaca externa para formar a veia ilíaca comum. As veias ilíacas comuns (direita e esquerda) se unem para formar a veia cava inferior, a qual segue na cavidade abdominal, paralelamente à aorta, recebendo várias tributárias. Ela passa pelo forame da veia cava (no músculo diafragma) e desemboca no átrio direito do coração. U N IC ES U M A R 125 Vascularização do membro superior Os membros superiores são irrigados pelas artérias subclávias que passam in- feriormente à clavícula. Na região axilar, passam a ser chamadas de artérias axi- lares, e no braço, passam a ser artérias braquiais. Na altura da fossa cubital, elas se ramificam em artéria ulnar e artéria radial, as quais irrigam a mão e os dedos (TORTORA et al., 2010). A artéria radial é a continuação direta da artéria braquial. Ela é superficial na parte distal do antebraço, onde pode ser palpada para verificar suas pul- sações. As veias profundas do membro superior têm os mesmos nomes das artérias e seguem, em última instância, até a veia subclávia. As duas principais veias superficiais do membro superior são a veia cefálica e a basílica, as quais desembocam na veia braquial. Vascularização do membro inferior Recapitulando, a parte abdominal da artéria aorta bifurca-se em artérias ilíacas comuns (direita e esquerda) que se bifurcam em artéria ilíaca interna (que se dirige à pelve) e artéria ilíaca externa. A externa atravessa o ligamento inguinal e passa a ser chamada de artéria femoral. Esta passa, posteriormente, à região do joelho e recebe o nome de artéria poplítea. A poplítea se bifurca em artéria tibial anterior, tibial posterior e fibular (DI DIO, 2002). As veias profundas do membro inferior acompanham as artérias, têm os mesmos nomes delas e seguem, em última instância, até a veia femoral. As duas principais veias superficiais do membro inferior são a safena magna e a safena parva. A veia safena parva drena para a veia poplítea e a safena magna drena para a veia femoral. Outras veias importantes do membro inferior são a safena acessória, a veia cutânea lateral, a veia cutânea anterior e as veias perfurantes. É importante ressaltar que as veias dos membros inferiores drenam o sangue des- favoravelmente em relação à gravidade e, por isso, suas paredes são ricas em fibras musculares lisas e em fibras colágenas. Além disso, possuem numerosas valvas que ajudam no direcionamento do sangue (as profundas têm mais). Outros fatores que ajudam no retorno venoso são a ação de “esponja venosa” das plantas dos pés, a ação massageadora dos músculos do membro inferior sobre os vasos, a pulsação das artérias adjacentes transmitindo o pulso para a parede da veia acompanhante (veia satélite) e o gradiente de pressão entre a cavidade torácica e a abdominal durante a respiração. U N ID A D E 2 126 Em pessoas que permanecem em pé por períodos prolongados, o sangue pode se acumular no interior das veias dos membros inferiores, resultando em elevação da pressão, dilatação, insuficiência valvular e varizes. Isto gera fluxo retrógrado do sangue, estase sanguínea e migração de líquido para o espaço in- tersticial, causando edema. Curiosidades Como o coração se situa entre duas estruturas rígidas (a coluna vertebral e o osso esterno), sua compressão pode ser útil para bombear o sangue dele à circulação sistêmica. Assim, se o coração parar subitamente de bater, a ressuscitação cardiopulmonar (compressão cardíaca associada à ventilação artificial dos pulmões) é útil para manter o sangue oxigenado até que ele volte a bater (FREITAS, 2004). Veia braquiocefálica Veia cava superior Veia renal Veia cava inferior Veia ilíaca comum Veia safena magna Veia femoral Veia poplítea Veia safena parva Veia jugular externa Veia jugular interna Veia subclávia Veia cafálica Veia basílica Veia intermediária do cotovelo Veia intermediária do antebraço Ilustração Esquemática das Principais Veias U N IC ES U M A R 127 Ilustração Esquemática das Principais Artérias Artéria carótida comum Artéria aorta toráxica Tronco celíaco Artéria renal Artéria aorta abdominal Artéria ilíaca comum Artéria femoral Artéria poplítea Tronco braquiocefálico Artéria subclávia Artéria axilar Artéria braquial Artéria radial Artéria ulnar Artéria tibial anterior Artéria �bular Artéria tibial posterior U N ID A D E 2 128 Figura 8 - Vascularização do corpo humano / Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 164-165). U N IC ES U M A R 129 2 SISTEMA LINFÁTICO DEFINIÇÃO DO SISTEMA LINFÁTICO O sistema linfático é considerado um sistema de drenagem que auxilia o sistema venoso a drenar a linfa dos tecidos para a circulação sanguínea. Para tanto, é constituído por uma vasta rede de vasos semelhantes às veias (os vasos linfáticos), que se distribuem por todo o corpo captando líquido tecidual que não retornou aos capilares sanguíneos. Neste contexto, ele dispõe de estruturas que filtram e reconduzem a linfa à circulação sanguínea (MOORE et al., 2014). Ele é constituído pela linfa, vasos que a drenam (capilares linfáticos, vasos linfáti- cos, ductos linfáticos), por tecidos e órgãos linfoides (baço, timo, linfonodos e tonsilas). FUNÇÕES DO SISTEMA LINFÁTICO A mais notável função do sistema linfático é sua habilidade de drenar o excesso de líquido intersticial para os vasos linfáticos mantendo o equilíbrio dos fluidos do corpo. Se ele não atuasse desta forma, o volume sanguíneo poderia ser afetado, já que o sangue é a fonte principal desse líquido. Além disso, ele também drena para os vasos linfáticos parte das proteínas que saem dos vasos sanguíneos. Tal U N ID A D E 2 130 fato é de extrema importância, pois evita que ocorra osmose reversa e, consequentemente, edema tecidual (DANGELO; FATTINI, 2011). O sistema linfático desempenha outras funções, como participar ati- vamente da imunidade corpórea. Por sua ação, bactérias, partículas estranhas e células anômalas podem ser destruídas, uma vez que ele está diretamente relacionado à produção e à maturação de células imunoló- gicas, como macrófagos e linfócitos (tais células participam ativamente da resposta imunológica específica, produzindo anticorpos para destruir substâncias invasoras). Além disso, o sistema linfático está relacionado à absorção e ao transporte das gorduras dos alimentos por meio dos capilares lácteos, os quais recebem todos os lipídios e vitaminas lipossolúveis absorvidos pelo intestino. Após esta absorção, o quilo (linfa drenada do intestino delgado com aparência leitosa) é conduzido pelos vasos linfáticos viscerais para o ducto torácico, e daí para o sistema venoso.Em outros tecidos, a linfa é um líquido amarelo-claro translúcido. COMPONENTES DO SISTEMA LINFÁTICO A linfa, os vasos linfáticos, os tecidos e os órgãos linfoides estão distribuídos por praticamente todo o corpo (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os órgãos linfoides são classificados como primários ou secundários. Os primários são lo- cais nos quais as células-tronco se dividem e se tornam aptas a executar a resposta imune (por exemplo, a medula óssea vermelha e o timo). Figura 9 - Visão geral do sistema linfático U N IC ES U M A R 131 Os órgãos linfoides secundários são locais nos quais a resposta imune ocorre (por exemplo, os linfonodos, o baço e os folículos linfáticos). Enquanto o baço, o timo e os linfonodos são considerados órgãos, pois são revestidos por uma cápsula de tecido conjuntivo, os nódulos linfáticos não são, pois não apresentam tal cápsula. Linfa A linfa é um líquido incolor presente no espaço intersticial, resultante das trocas entre o sangue dos capilares e o tecido. Pode-se dizer que representa o excesso de líquido que saiu do capilar, mas não retornou à circulação sanguínea (TOR- TORA et al., 2010). Sua composição é parecida com a do plasma sanguíneo, uma vez que apre- senta água, eletrólitos e proteínas. Todavia a linfa é mais rica em água, tem menos proteínas do que o plasma e não tem hemácias ou plaquetas. Diferentemente do que ocorre no sistema cardiovascular sanguíneo, onde o coração bombeia o sangue, no sistema linfático, não existe um órgão central bombeador de linfa. Assim, a circulação da linfa é possibilitada pelos mesmos mecanismos que au- xiliam o retorno venoso (vistos anteriormente, lembra?). Por isto, o fluxo da linfa é lento nos períodos de inatividade física, mas aumenta com o exercício, o peris- taltismo e os movimentos respiratórios. Isto explica o fato de que algumas pessoas precisam, inclusive, realizar artificialmente manobras de drenagem linfática. Capilares, vasos e ductos linfáticos A linfa intersticial é recolhida pelas capilares linfáticos, os quais são os de menor calibre do sistema linfático. Tais vasos são importantes porque recolhem, além da linfa, moléculas diversas do líquido intersticial que não retornam aos capilares sanguíneos (como moléculas grandes ou proteínas). Tal habilidade é possível porque os capilares linfáticos apresentam diferenças em relação aos capilares sanguíneos, por exemplo, são mais calibrosos e têm maior permeabilidade. A maior permeabilidade deve-se ao maior espaço que existe entre suas células (são fenestrados), à ausência de membrana basal e à posição das bordas de suas células endoteliais. Estas estão frouxamente unidas e podem ser empurradas pela pressão do líquido intersticial de fora para dentro, fazendo com que o líquido U N ID A D E 2 132 penetre nos capilares linfáticos e, uma vez dentro, não retorne ao meio intersticial devido à pressão que força as bordas das células endoteliais a se juntarem (como uma porta vaivém unidirecional). Além disso, existem filamentos de ancoragem nos capilares linfáticos que fixam suas células endoteliais aos tecidos adjacentes. Quando ocorre edema, esses filamentos são tracionados, aumentando as aberturas entre as células para que mais líquido flua para o capilar linfático (FREITAS, 2004). Adicionalmente, esses pequenos vasos terminam em fundo cego para permi- tir o fluxo unidirecional da linfa em direção ao capilar sanguíneo e apresentam válvulas que ajudam a conduzir a linfa em direção ao coração. Todavia elas os estreitam, dando-lhes aspecto irregular de “rosário” ou “colar de conta”. Os capilares linfáticos estão presentes em quase todos os locais do corpo, sendo abundantes na pele e nas mucosas, mas ausentes nos dentes, nos ossos, na medula óssea vermelha, no sistema nervoso central, nos tecidos avasculares (como cartilagem, epiderme e córnea do bulbo) e nos músculos estriados esque- léticos (embora estejam presentes no tecido conjuntivo que os envolvem). Os capilares se unem para formar os vasos linfáticos, os quais podem ser superficiais ou profundos. Os superficiais anastomosam-se livremente e são mais numerosos do que as veias no tecido subcutâneo. Eles drenam para os vasos linfá- ticos profundos, que também recebem a drenagem dos órgãos internos. Assim, os vasos linfáticos tornam-se progressivamente maiores (sendo chamados de vasos coletores) e atravessam vários linfonodos antes de desembocarem nos troncos linfáticos e permitirem que a linfa retorne à corrente sanguínea. Os cinco principais troncos linfáticos são o intestinal (que recebe a linfa dos órgãos abdominais), o lombar (que drena o membro inferior e alguns órgãos pélvicos), o subclávio (que drena o membro superior, parte do tórax e do dorso), o jugular (que drena cabeça e pescoço) e o broncomediastinal (que drena o tó- rax). Os troncos linfáticos drenam para o ducto linfático direito ou para o ducto torácico. Posteriormente, a linfa é direcionada às veias e passa a circular junto com o plasma sanguíneo. O ducto linfático direito é um pequeno vaso (cerca de 1,0 cm de comprimen- to) formado pela união dos troncos subclávio, jugular e broncomediastinal direi- to. Ele desemboca na junção da veias subclávia direita e jugular interna direita. U N IC ES U M A R 133 O ducto torácico mede 45 cm de comprimento. Ele recebe linfa dos troncos lombares e intestinal, atravessa o músculo diafragma junto com a artéria aorta e recebe vasos linfáticos que drenam a metade esquerda do tórax. Posteriormente, recebe os troncos subclávio esquerdo e jugular esquerdo e desemboca na veia subclávia esquerda. Assim, recolhe a linfa de todo o corpo, menos do membro superior direito e da metade direita da cabeça, do pescoço e do tórax (ela é reco- lhida pelo ducto linfático direito). Linfonodos Os linfonodos são pequenas massas de tecido linfoide dispostas ao longo do trajeto dos vasos linfáticos. Os cerca de 600 linfonodos dispersos pelo corpo reúnem-se nos grupos superficial e profundo e atuam como órgãos filtrantes da linfa antes que ela adentre o sistema venoso. Para tanto, eles destroem microrga- nismos, toxinas, células anômalas e partículas estranhas por meio dos macrófagos e linfócitos existentes em seu interior (WATANABE, 2000). A linfa penetra a face convexa do linfonodo por meio de vasos linfáticos aferentes, os quais têm válvulas que se abrem para o centro do linfonodo e não permitem que a linfa reflua. Então, ela é lentamente filtrada por meio de canais irregulares, denominados seios, onde existem macrófagos, linfócitos e plasmóci- tos. Dos seios, a linfa sai pelos vasos linfáticos eferentes, que deixam o linfonodo pela região do hilo. Ah... É válido mencionar que existem menos vasos linfáticos eferentes do que aferentes, a fim de reduzir a velocidade do fluxo da linfa. Cada linfonodo é envolto por uma cápsula fibrosa, da qual partem projeções de tecido conjuntivo (as trabéculas) para o interior do linfonodo, dividindo-o em vários compartimentos, os quais são, posteriormente, subdivididos por fibras reticulares. Cápsula, trabéculas, fibras reticulares e fibroblastos formam o estroma ou o arcabouço do linfonodo. O parênquima do linfonodo é dividido em uma região externa chamada córtex, e em uma região interna chamada medula. No córtex, os linfócitos são sintetizados, e na medula, as células estão arranjadas em forma de cordões denominados cordões medulares. U N ID A D E 2 134 Ductos linfáticos Linfonodos Válvulas dos capilares linfáticos Capilares linfáticos Figura 10 - Capilares, ductos linfáticos e linfonodos Baço O baço é um órgão que, provavelmente, já te incomodou um dia na vida, principal- mente se você resolveu fazer um exercício físico um pouco mais extenuante sem preparo físico adequado (falo sempre que isso acontece a quem quer “virar atleta” de um dia para o outro). Você deve estar se perguntando por que o baço já o incomodou. É simples. Sabe aquela dorzinha na região lateral do abdome, à esquerda?Pois é ele. Mas por que será que ele dói ao se exercitar com um pouco mais de intensidade? Será que é possível que essa dor pare de incomodar com o treinamento sistematizado? Como se deve proceder? Vamos primeiro entender o que é o baço e quais funções ele desempenha para depois respondermos tais perguntas (DI DIO, 2002). O baço é o maior órgão linfoide (com cerca de 10 cm), localizado à esquerda da cavidade abdominal, logo abaixo do músculo diafragma, sendo quase completa- U N IC ES U M A R 135 mente recoberto pelo estômago. Com forma elíptica e de cor vermelho-escura, ele apresenta a face diafragmática (superior, em contato com o músculo diafragma) e a face visceral (inferior, em contato com as vísceras abdominais). Enquanto a diafrag- mática é convexa e lisa, a visceral apresenta o hilo, por onde passam vasos e nervos. O baço é envolto pelo peritônio visceral e por uma cápsula resistente de tecido conjuntivo fibroso que contém fibras musculares e envia septos (as trabéculas) para seu interior, dividindo-o e dando-lhe sustentação. Cápsula, trabéculas, fi- bras reticulares e fibroblastos constituem o estroma do baço. Seu parênquima é constituído por polpa vermelha e branca. A vermelha é mais abundante e consiste em seios venosos ramificados que armazenam sangue; a branca fica dentro da vermelha e apresenta grande quantidade de linfócitos e macrófagos. Inúmeras funções são desempenhadas pelo baço. Ele produz linfócitos e plas- mócitos, atua na maturação dos linfócitos B, armazena plaquetas, destrói células sanguíneas velhas (hemocaterese) e produz células sanguíneas (hemopoiese). Além disso, atua como reservatório de sangue, sendo capaz de liberar cerca de 200 ml para a corrente sanguínea em situações de emergência (como uma he- morragia). Normalmente, esse sangue fica contido nos seios venosos da polpa vermelha e é liberado pela contração das células musculares lisas de sua cápsula. Figura 11 - Baço U N ID A D E 2 136 Algumas doenças infecciosas podem aumentar seu tamanho, causando es- pleno-megalia. Além disso, um trauma abdominal pode rompê-lo e causar san- gramento intraperitoneal, obrigando sua remoção cirúrgica (esplenectomia) para evitar morte por hemorragia. Neste caso, outras estruturas (como fígado, medula óssea vermelha, linfonodos e tonsilas) podem assumir suas funções, embora as funções imunes possam permanecer debilitadas. Agora, você certamente entende porque ele dói quando faz exercícios mais intensos sem um bom preparo físico. Isso ocorre porque, no exercício, ele faz várias funções ao mesmo tempo. Assim, realiza a hemocatérese, a hemopoiese e a liberação de sangue extra para a circulação periférica a fim de suprir as neces- sidades dos músculos. Para liberar o sangue contido nos seios venosos da polpa vermelha, os músculos lisos de sua cápsula se contraem, gerando um incômodo percebido no local onde ele se localiza. Para ele parar de incomodar, o ideal é prosseguir com o treinamento, pois a continuidade do exercício gera mudanças na constituição do próprio sangue (au- menta, por exemplo, a quantidade de eritrócitos e otimiza o transporte de O2 para os músculos). Ou seja, o jeito é continuar a treinar. Todavia enquanto seu corpo ainda está sendo condicionado, a melhor opção é respirar mais intensamente e, se a dor se tornar muito forte, diminuir a intensidade do exercício. Sabendo de tudo isso, bom treino. Timo A maioria das pessoas não sabe onde se localiza o timo, o que ele faz e, para piorar, algumas, inclusive, não sabem nem se têm, de fato, um timo em seus corpos. Falo sempre que o timo é um órgão injustiçado porque ninguém se lembra dele. Mas por que será que isso ocorre? Será que suas funções não são, de fato, importantes? O timo é formado por uma massa linfoide bilobulada mantida justaposta por uma lâmina de tecido conjuntivo. Uma cápsula de tecido conjuntivo envolve cada lobo separadamente e as extensões dessa cápsula (as trabéculas) penetram os lobos, dividindo-os em lóbulos. Cada lóbulo tem uma camada externa e outra, interna. A externa é chamada de córtex e é constituída por linfócitos T, células dendríticas, células epiteliais e macrófagos. A interna é chamada de medula e apresenta linfócitos T maduros, células dendríticas, macrófagos e células orga- nizadas chamadas de corpúsculos tímicos (FREITAS, 2004). U N IC ES U M A R 137 Linfócitos T necessitam do timo para amadurecer e, quando maduros, deixam o timo por meio do sangue e são transportados até os linfonodos, o baço e outros tecidos linfáticos. O timo também atua como glândula endócrina, produzindo o hormônio timosina, que estimula o crescimento de linfócitos em todos os tecidos linfáticos do corpo. Ele está situado, em parte, na região inferior do pescoço (anterior e lateralmente à traqueia) e, em parte, na cavidade torácica (posteriormente, ao osso esterno, no mediastino). Esse órgão é maior na infância, pois é gradativamente substituído por tecido conjuntivo e gordura. Contudo algumas de suas células continuam a se proliferar durante toda a vida. Esse fato justifica o pouco conhecimento que a maioria das pessoas tem a respeito do timo. Como ele é gradativamente substituído por tecido conjuntivo e gordura, suas funções são assumidas por outros órgãos, por isso, você, provavel- mente, nunca ouviu falar de alguém que morreu de problema no timo. Todavia não podemos desprezar suas funções, porque elas são importantes e essenciais às diversas fases do desenvolvimento humano. Figura 12 - Timo Laringe Glândula tireoide Traqueia Timo Pulmão Coração Pericárdio U N ID A D E 2 138 Nódulos linfáticos Nódulos linfáticos são massas ovais de tecido linfático não envoltas por uma cápsula de tecido conjuntivo. Eles estão espalhados por toda a mucosa que reveste os sistemas genital masculino e feminino, digestório, urinário e respira- tório e, por isso, são chamados de tecido linfático associado à mucosa (MALT) (TORTORA et al., 2010). Enquanto alguns nódulos linfáticos são pequenos e solitários, outros formam grandes agregações (como as tonsilas, os nódulos linfáticos do íleo e do apêndice vermiforme). Nos segmentos gastrointestinais, são conhecidos como placas de Peyer. Tonsilas Tonsilas são pequenas massas de tecido linfoide relacionadas à imunidade, repre- sentando a primeira defesa do organismo. Elas ficam localizadas em várias regiões do corpo, por exemplo, na parte nasal da faringe (tonsila faríngea), próximo ao óstio faríngeo da tuba auditiva (tonsila tubária), na raiz da língua (tonsila lingual), na fossa tonsilar (tonsila palatina) e na laringe (tonsila laríngea). O conjunto delas é conhecido como anel linfático (WATANABE, 2000). Na infância, é normal que as tonsilas fiquem mais volumosas, uma vez que a criança tende a pôr na boca quase tudo o que manipula. Normalmente, os objetos são contaminados, e as tonsilas são ativadas a fim de produzir anticorpos e ficam hipertrofiadas e dolorosas. Outro detalhe interessante que merece ser destacado é que a hipertrofia da tonsila tubária e faríngea recebe o nome de adenoide e pode dificultar o funcio- namento da tuba auditiva, da qualidade da voz e da respiração nasal. Assim, o indivíduo desenvolve respiração bucal e, por isso, os roncos são comuns. De igual modo, a hipertrofia da tonsila palatina (popularmente chamada de amidalite) também dificulta a deglutição. U N IC ES U M A R 139 Tonsila faríngea Tonsila palatina Tonsila lingual Figura 13 - Tonsilas PRINCIPAIS LINFONODOS DO CORPO Cabeça Incluem os linfonodos occipital (drena a parte occipital do escalpo e a parte superior do pescoço), os mastoideos (drena a pele da orelha), os pré-auriculares (drena a orelha externa e a região temporal do escalpo), os parotídeos (drena o nariz, a parte posterior da cavidade nasal e a parte nasal da faringe) e os da face, que incluem os infraorbitais (drena as pálpebras), os mandibulares (drenas as bochechas), os bucinatórios (drena o ângulo da bocae as bochechas) (MOORE et al., 2014). Pescoço Incluem os linfonodos submandibulares (drenam o mento, o ápice da língua e parte do palato), os submentuais (drenam mento, ápice da língua, lábio inferior, assoalho da boca e bochechas), os cervicais superficiais (drenam orelha e região parotídea), os cervicais profundos superiores (que ficam abaixo do músculo U N ID A D E 2 140 esternocleidomastoideo), os cervicais inferiores (que ficam próximos à veia subclávia; drenam a parte posterior do escalpo e pescoço, a região peitoral e parte do braço) e os cervicais superiores (drenam parte posterior da cabeça e do pescoço, orelha, faringe, esôfago, glândula tireoide, palato e tonsilas) (FREITAS, 2004). Tórax Os linfonodos do tórax podem ser parietais ou viscerais. Os parietais incluem os linfonodos paraesternais (que drenam parte da parede torácica, glândula ma- mária e face diafragmática do fígado), entercostais (que drenam parte da parede torácica) e frênicos (que drenam fígado, diafragma e parede abdominal anterior) (MOORE et al., 2014). Os linfonodos viscerais incluem os mediastinais anteriores (que drenam timo e pericárdio), os mediastinais posteriores (que drenam esôfago, pericárdio, dia- fragma e face convexa do fígado) e os traqueobronquiais (que drenam traqueia, esôfago, brônquios e pulmões). Abdome e pelve Os linfonodos do abdome e da pelve também podem ser parietais ou viscerais. Os parietais incluem os linfonodos: a) os ilíacos externos, que drenam vasos lin- fáticos profundos da parede abdominal inferior até o umbigo, região adutora da coxa, bexiga urinária, próstata, ducto deferente, vesícula seminal, parte prostática e membranácea da uretra, tubas uterinas, útero e vagina; b) os ilíacos comuns, que drenam vísceras pélvicas; c) os ilíacos internos, que drenam vísceras pél- vicas, períneo, região glútea e face posterior da coxa; d) os sacrais, que drenam reto, próstata e parede posterior da pelve; e) os lombares, que drenam testículos, ovários, glândula suprarrenal e parede abdominal lateral (FREITAS, 2004). Os linfonodos viscerais incluem: a) os celíacos, que drenam estômago, esô- fago, duodeno, fígado, vesícula biliar, pâncreas e baço; b) os mesentéricos su- periores, que drenam jejuno, íleo, apêndice, ceco, colos ascendente, descendente e sigmoide; c) os mesentéricos inferiores, que drenam colo descendente, sig- moide, reto e canal anal. U N IC ES U M A R 141 Membros superiores Os principais linfonodos dos membros superiores são: a) os supratrocleares, que drenam antebraço, palma e dedos mediais; b) os deltopeitorais, que drenam o lado radial do membro superior; c) os axilares, que drenam a maior parte do membro superior, glândulas mamárias, parede torácica e pescoço (DI DIO, 2002). Figura 14 - Principais linfonodos do corpo Membros inferiores Os principais linfonodos dos membros inferiores são: a) os poplíteos, que dre- nam a região calcanear e o joelho; b) os inguinais superficiais, que drenam a parede abdominal, a região glútea, os órgãos genitais externos e todos os vasos superficiais do membro inferior; c) os inguinais profundos, que drenam os va- sos profundos do membro inferior, pênis e clitóris (DANGELO; FATTINI, 2011). U N ID A D E 2 142 DISSEMINAÇÃO DO CÂNCER Células cancerígenas podem se disseminar pelo corpo por contiguidade (por proximidade) ou por metástase. A propagação por meio de metástase ocorre por disseminação hematogênica (por meio do sangue) ou linfática (por meio da circulação linfática) (MOORE et al., 2014). A disseminação hematogênica do câncer é a via mais comum de propagação de sarcomas (tumores menos comuns, porém, mais malignos). Um fato interes- sante é que as veias disseminam mais do que as artérias (pois têm paredes mais finas, oferecem menos resistência e são mais abundantes), e os locais mais comuns de sarcomas secundários são o fígado e os pulmões. A disseminação linfática do câncer é a via mais comum de dissemina- ção de carcinomas (tipo mais comum de câncer, porém, menos maligno). Quando a metástase ocorre por via linfática, pode-se prever o novo local de instalação do câncer analisando a drenagem linfática do tumor primário. Essa via faz com que linfonodos cancerosos fiquem aumentados, mais firmes, insensíveis e fixos às estruturas subjacentes. Esta caracterização é importante e deve ser avaliada de maneira comparativa em relação às alterações cau- sadas nos linfonodos em decorrência de quadros infecciosos. Neste caso, a infecção faz com que os linfonodos ficam aumentados, no entanto, moles, móveis e muito dolorosos. Como algumas células cancerígenas podem sobreviver e se multiplicar no interior dos linfonodos e, a partir deles, se disseminar pelo corpo, linfonodos in- tumescidos próximos a regiões cancerosas devem ser removidos cirurgicamente. Além disso, a técnica de terapia manual denominada drenagem linfática não é aconselhável a portadores de tumores, pois facilita a disseminação de células cancerígenas de um tumor primário para outras regiões do corpo. Por fim, é importante caracterizar o linfoma. Este é considerado o câncer dos órgãos linfoides, especialmente dos linfonodos. A maioria não tem causa conhecida. Seu tratamento inclui radioterapia, quimioterapia e transplante de medula óssea. Os dois principais tipos de linfomas são a doença de Hodgkin, que acomete pessoas entre 15 e 35 anos ou acima de 60 anos de idade. Ocorre o aumento dos linfonodos que são comuns no pescoço, no tórax e na axila. É mais comum em homens e há cura de 90 a 95% dos casos, e o não-Hodgkin, tipo mais comum, ocorre em qualquer idade e pode estar associado à esplenomegalia, à anemia e ao mal-estar geral. Curam em cerca de 50% dos casos. U N IC ES U M A R 143 Sabia que pessoas com o sistema imunológico comprometido têm maior probabilidade de ter a doença de Hodgkin? O melhor é prevenir se abstendo de fatores de risco evitáveis (como fumo e debilidade imunológica). pensando juntos LINFANGITE, LINFADENITE E LINFEDEMA Algumas estruturas do sistema linfático podem sofrer alterações e modificar o funcionamento deste sistema. São exemplos: a linfangite, a linfadenite e o linfe- dema (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). A linfangite é a inflamação secundária dos vasos linfáticos. Já a linfadenite é a inflamação secundária dos linfonodos. É popularmente conhecido como íngua e ocorre em casos de infecção ou inflamação. Seu aparecimento pode fazer com que grupos de linfonodos fiquem sobrecarregados e aumentem de tamanho, tor- nando-se dolorosos e facilmente palpáveis na superfície do corpo. Por fim, linfedema é um tipo localizado de edema, que ocorre quando a linfa não está sendo adequadamente drenada. Pode ser causada por um linfonodo infec- tado ou um vaso linfático bloqueado. Se não for minimizado, pode aumentar a pressão sanguínea capilar local e agravar ainda mais o quadro clínico. ENVELHECIMENTO E SISTEMA LINFÁTICO O envelhecimento muda a fisiologia do sistema linfático, fazendo com que algu- mas alterações apareçam. É comum, por exemplo, que com o aumento da ida- de, haja diminuição da produção de células imunológicas e maior produção de anticorpos contra o próprio organismo. Tal fato está diretamente relacionado à maior debilidade imunológica que os idosos apresentam e ao aumento da inci- dência de doenças autoimunes nas fases mais tardias da vida (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). U N ID A D E 2 144 3 SISTEMA RESPIRATÓRIO DEFINIÇÃO E FUNÇÃO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO O sistema respiratório é constituído por um conjunto de estruturas anatômicas as quais, em conjunto, são responsáveis pela captação do ar do meio ambiente e seu transporte até o órgão respiratório para que a hematose seja possível (DANGELO; FATTINI, 2011). A hematose é um processo que implica em trocas gasosas entre o ar atmosférico e o meio interno. Neste processo, o CO2 resultante do metabo- lismo celular é trazido pelo sangue aos pulmões e se difunde dos capilares teciduais aos alvéolos