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Semiologia do sistema hematopoiético – cáps. 149, 150, 152 – Porto e Porto. O sangue é um tecido. 45% células: (hemácias, leucócitos e plaquetas). 55% plasma: (92% água, 8% proteínas e outros componentes). Na medula óssea (M.O.) estão as células primitivas que irão compor o sangue. Estas amadurecem até o estágio devido e começam a circular. Portanto, na M.O. estão as células progenitoras da linhagem eritroblástica, leucoblástica e da série plaquetária. No período embrionário até o 4° mês de vida a hematopoese ocorre na área mesodérmica, do 4° ao 6° mês no fígado e no baço. A partir daí na parte esponjosa dos ossos. O fisiológico é o sangue circular de forma laminar e contínua no leito vascular. Quando ocorre alguma lesão vascular o organismo lança mão de estratégias para a manutenção do fluxo sanguíneo HEMOSTASIA. Hemostasia primária, secundaria e fibrinólise. Exame clínico do sistema hematopoético: anamnese, exame físico e uso de aparelhos. As doenças do sistema hematopoético podem se manifestar de forma inespecífica desde a infância. Exemplos: crianças pálidas, indispostas as brincadeiras, hemorragias de mucosas. Ou sugerir quadros neoplásicos: aumento de linfonodos, do fígado, baço. Até mesmo se não manifestarem e serem descobertas em exames de rotina. Anamnese: Importante, responsável por 80% do diagnóstico. Obter informações sobre emagrecimento, dores ósseas, sangramentos. HPP: perguntar sobre o uso de analgésicos e anti-inflamatórios, internações anteriores. HF: questionar sobre hematopatias na família. HS: investigar contato com produtos tóxicos a medula (benzeno). Sinais e sintomas: Astenia ou fraqueza: podem aparecer de início súbito ou lento, geralmente associados a quadros de anemia. Adenomegalia: crescimento de linfonodos. Nas doenças hematopoiéticas não é explicado por causa infecciosa ou inflamatória. Hemorragias: se manifestam por perdas de sangue nas mucosas, manchas cutâneas, hemartroses. Icterícia: na maioria das vezes associada a anemias hemolíticas. Alterações de pele e fâneros: Palidez cutânea está associada a anemias. Manchas hipercrômicas indicando depósito de ferro. Prurido sem lesões de pele (exceto escoriações). Sintomas cardiovasculares anemia. Sintomas gastrointestinais relacionados a hemorragia (melena, hematoquezia, hematêmese). Sintomas genturinários: plaquetopenia pode ser causa de hematúria macroscópica. Sintomas neurológicos: alterações sanguíneas por hipovitaminose ou carência de ferro pode ser causa de déficit cognitivo. Doenças do sangue: Anemias Anemias microcíticas: As anemias microcíticas são caracterizadas pela redução do volume corpuscular médio (VCM). A produção de hemácias com VCM normal depende da correta formação de hemoglobina (heme+globina) que necessita do suprimento adequado de ferro, ácido fólico e vitamina B12. As três principais causas de anemia microcíticas são: I – deficiência de ferro **** ll – as talassemias ( < produção de cadeias globínicas); lll – as anemias sideroblásticas (alteração na síntese do heme e posterior acúmulo de ferro). I – ANEMIA FERROPRIVA: Causas de carência de ferro: Crianças: alta demanda e baixa ingestão. Adultos: perda crônica de sangue. Homens pelo TGI e nas mulheres fluxo menstrual ou hemorragias no TGI. A – Metabolismo do ferro: Ferro corporal: 3 a 5 g. 80% metabolicamente ativo e 20% como depósito (ferritina). O transporte do ferro é realizado por uma proteína denominada transferrina. O ferro é absorvido no duodeno. Ferro heme: elevada absorção (carne vermelha). Ferro não heme: redução (HCl e Ácido Ascórbico), menor absorção. B – Manifestções clínicas da anemia ferropriva: Sintomas: Adinamia. Diminuição da capacidade laboral. Perversão do apetite. Sinais: Quelite angular. Hipertrofia de papilas da língua. Palidez. Cabelos e unhas quebradiços. Laboratório da anemia microcítica ferropriva: Depósito de ferro: ferritina baixa. Transporte de ferro: baixa saturação da transferrina. Hemograma: Hb diminuída, VCM diminuída, RDW alterado, reticulócitos baixos. Il – TALASSEMIAS: Constituem um grupo de doenças devido a um distúrbio genético. Nas talassemias ocorre redução ou ausência da síntese de uma das cadeias da globulina (alfa, beta, gama). Com isso há formação de hemácias microcíticas e hipocrômicas. Portanto, a microcitose ocorre devido a deficiência de hemoglobinização e não por falta de ferro. O comprometimento das cadeias alfa e beta apresentam maior importância clínica. Nas talassemias (alfa talassemia, beta talassemia) a síntese de uma das cadeias de globina está diminuída ou ausente. Isso gera alterações estruturais nas hemácias e diminuição da capacidade de deformação culminando na destruição precoce dessas células (hemólise). A – Laboratório: Hemograma: anemia microcítica e hipocrômica. Reticulócitos normal ou aumentados. Se a anemia é devido hemólise: ferritina normal, saturação de transferrina normal, capacidade de ligação com o ferro normal. Eletroforese de hemoglobina: indica o diagnóstico de talassemias ao determinar as proporções das hemoglobinas: Beta talassemia mostra elevação de Hb A2. Alfa talassemia mostra elevação da Hb H. Ill – ANEMIAS SIDEROBLÁSTICAS: São causadas por alterações no transporte e metabolismo do ferro corporal. Ocorre um defeito na síntese da molécula heme. A molécula heme é essencial para hemoglobinizar as hemácias, com isso as hemácias são formadas microcíticas e hipocrômicas. Na punção de medula dos pacientes com anemia sideroblástica há a presença de sideroblastos em anel (eritroblasto contendo grânulos de ferro arranjados em torno do núcleo). As anemias sideroblásticas podem ser: hereditárias ou adquiridas. As hereditárias ligadas ao cromossomo X. As adquiridas por carência de vitamina B6 ou associadas a drogas que prejudicam o metabolismo do ferro (chumbo, isoniazida, clorafenicol ou álcool). Todas as formas de anemias sideroblásticas levam a formação de sideroblastos em anel. Impoetante: o ferro não utilizado satura a transferrina plasmática e o excesso de ferro liga-se à albumina, aos aminoácidos formando complexos tóxicos que se depositam no fígado, rins, coração, pele ocasionando alterações funcionais. A – Laboratório: Hemograma: Anemia microcítica. Hipocrômica. Podem ser encontrados siderócitos (hemácias com depósito de ferro). A chave para o diagnóstico é a presença na medula óssea de sideroblastos em anel em uma proporção superior a 15%. Presença de sobrecarga de ferro: Elevação de ferro sérico, ferritina, saturação de transferrina. Anemia Normocítica: Constituem um grupo de anemias com o VCM dentro de valor de referência. Podem ocorrer devido: 1. Aumento da destruição das hemácias (hemólise). 2. Sangramentos agudos. 3. Diminuição da eritropoese. Quando avaliamos um hemograma e este mostra anemia normocítica, deve-se pensar em: doença crônica, anemia falciforme ou esferocitose hereditária. 1- Anemia normocítica por aumento da hemólise: A- Esferocitose hereditária: A hemácia vive de 90 a 120 dias e isso depende da sua maleabilidade para passar pelos sinusoides e do seu metabolismo citoplasmático. Ocorrendo alteração na maleabilidade por defeito no citoesqueleto a hemácia está mais susceptível a morte celular. A esferocitose hereditária (EH) ocorre por defeito na membrana celular, caracterizando- se por hemácias esféricas. Manifestações clínicas: São variáveis. Na EH típica há evidência de hemólise, reticulocitose, esplenomegalia e icterícia. Alguns pacientes com EH podem apresentar anemia grave, isso pode gerar retardo no crescimento e úlceras em MMII. Laboratório: Hemograma: anemia normocítica. Pode haver esferócitos no esfregaço. Reticulócitos aumentados. RDW normal, mas pode estar aumentado. LDH aumentada devido lise da hemácia. Bilirrubina Indireta elevada: hemólise heme biliverdina bilirrubina indireta elevada. Haptoglobina diminuída: hemólise globulina se liga a hemoglobina fígado/baço (destruição). Curva de fragilidade osmótica: É o exame útil para o diagnóstico. O resultado normal pode ocorrer em 10 a 20% dos casos. Pode ser negativo na recuperação da crise aplásica quando o número de hemácias jovens é alto. B- Anemia Falciforme: O termo falciforme é genérico, usado para determinar o predomínio de HbS na hemácia. É a doença hereditária mais comum no Brasil. Decorre de uma mutação gerando uma HbS em substituição à HbA. Essa alteração genética muda a forma bicôncava da hemácia para a forma rígida em foice. Manifestações clínicas: A anemia falciforme possui grande variabilidade clínica: Casos graves hospitalizações. Casos com evolução benigna. Relacionados à hemólise: palidez, icterícia, aumento do baço. Pode ocorrer dor óssea, alterações de consciência, priapismo. Laboratório: No Brasil, o diagnóstico de anemia falciforme era realizado pela Eletroforese de hemoglobina. A partir de 1988, instituiu de forma pioneira em MG e a partir daí no Brasil a triagem neonatal para a doença, através do teste do pezinho. Hemograma: Anemia normocítica e normocrômica. No esfregaço de sangue pode revelar hemácias em forma de foice. Os reticulócitos elevados compatíveis com quadro de hemólise. Eletroforese de hemoglobina: possibilita a identificação dos diferentes tipos de hemoglobina. Na anemia falciforme Hb S. LDH aumentada devido lise da hemácia. Bilirrubina Indireta elevada: hemólise heme biliverdina bilirrubina indireta elevada. Haptoglobina diminuída: hemólise globulina se liga a haptoglobina fígado (destruição). 2- Anemia normocítica por doença crônica: Em adultos é a segunda mais prevalente depois da anemia ferropriva. Ocorre secundário a processos inflamatórios, infecciosos ou neoplásicos crônicos. A fisiopatologia é multifatorial, desde a infiltração da medula óssea por tumores e agentes infecciosos até liberação de citocinas inflamatórias que inibem a eritropoese. Entre as citocinas parece que o Interferon é o mais potente inibidor da eritropoese. Manifestações clínicas: Devem principalmente à doença de base. Pode causar palidez em graus variáveis. Não surgem sintomas por ferropenia (perversão do apetite e quelite angular). Laboratório: Hemograma: Anemia normocítica e normocrômica. RDW normal. Reticulócitos baixos. Cinética do ferro: Ferritina que é marcador de depósito de ferro normal ou alto. Dosagem de eritropoietina sérico só estará alterada com Hb menor que 10. Capacidade de ligação do ferro (CTLF): normal ou diminuída. Saturação da transferrina: normal. 3- Anemia normocítica da Insuficiência Renal (anemia por doença crônica): Na insuficiência renal crônica a anemia normalmente está presente e pode ser grave. Acomete até 98% dos pacientes com taxa de filtração glomerular < 30ml/min. Fisiopatologia: A anemia da IRC ocorre pela falência das funções endócrinas e depurativa dos rins. O principal mecanismo da anemia da IRC é a diminuição da produção de eritropoietina pelas células justaglomerulares dos rins. Manifestações clínicas: Palidez, fadiga, dispneia, sinais de descompensação devido à anemia. A anemia no renal crônico piora muito sua qualidade de vida e aumenta o risco de internações. Laboratório: Não há alterações patognomônicas. Na anemia insidiosa normocítica sempre dosar creatinina para avaliar função renal. Hemograma: Anemia normocítica e normocrômica. A hematoscopia é normal. RDW geralmente normal. Reticulócitos poderá ser normal, mas geralmente é baixo. Anemia Macrocítica: A macrocitose é definida quando o VCM está aumentado. As principais causas de macrocitose são: deficiência de vit. B12 e deficiência de ácido fólico. A anemia macrocítica pode ser: Megaloblástica (eritroblasto maiores que o normal com núcleo mais imaturo que o citoplasma). Não megaloblástica (eritroblasto de tamanho normal). Exemplo: anemias hemolíticas com reticulocitose aumentada. 1- Anemias Megaloblásticas: É o subgrupo das anemias macrocíticas de importância na prática clínica. Exibem eritropoese megaloblásticas. As causas mais comuns são deficiência de vit. B12 e ácido fólico. Na deficiência mínima desses pode existir macrocitose sem anemia. Na deficiência de vit. B12 e ácido fólico a macrocitose ocorre por síntese diminuída do DNA, causando uma assincronia entre a maturação do núcleo em relação ao citoplasma. Atualmente é crescente o uso de drogas que causam prejuízo no metabolismo do folato (metotrexato e anticonvulsivantes). Esse fato vem se constituindo uma causa importante de anemia megaloblástica em pacientes com doença autoimune e epilepsia. Causas de deficiência de Ácido Fólico: A deficiência de folato associa-se: A baixa ingestão. Ao aumento da demanda. Má absorção intestinal (duodeno e jejuno proximal). A principal fonte de folato são vegetais folhosos verdes. Causas de deficiência de vit. B12: Absorção: A vit. B12 da dieta vem ligada a proteína, no estomago sob ação do ácido clorídrico e pepsina. Separa-se da proteína e liga-se ao ligante R. No duodeno vit. B12 e ligante são dissociados pela ação do suco pancreático. A vit. B12 liga-se ao fator intrínseco e é levada até o íleo terminal onde é absorvida. A deficiência de vit. B12 normalmente é causada por deficiência na absorção. Raramente por ingestão diminuída. Exceto nos vegetarianos restritos que não ingerem carnes ou compostos de animais. A diminuição de vit. B12 pode ocorrer: Por acloridria. Por deficiência na produção do fator intrínseco. Por deficiência na produção do suco pancreático. Por incapacidade de absorção do íleo. A anemia perniciosa (gastrite autoimune) é a causa mais comum de deficiência de vitamina b12. Na anemia perniciosa há produção de anticorpos contra células parietais e contra o fator intrínseco. Manifestações clínicas da anemia megaloblástica: Glossite. Perda de peso. Infertilidade. Parestesia de extremidades. Fraqueza muscular. Alteração de memória. Laboratório no diagnóstico das anemias megaloblásticas: Hemograma: Anemia com VCM elevado. Anisocitose. Reticulócitos normais ou diminuídos (eritropoese ineficaz). Ao analisar um hemograma e verificar-se VCM aumentado com ou sem anemia, deve-se seguir propedêutica solicitando dosagem sérica de vit. B12 e Ácido Fólico. Se detectada deficiência de vit. B12 a investigação gastrointestinal é mandatória pela alta relação com os distúrbios absortivos.