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Estética - IPEMIG

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ESTÉTICA 
 
BELO HORIZONTE / MG 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO À ESTÉTICA ................................................................................. 3 
1.1 O belo e o feio ................................................................................................. 4 
1.2 O conceito de arte ........................................................................................... 5 
1.3 O desenvolvimento da Estética ....................................................................... 7 
1.4 A estética como ciência ................................................................................. 11 
1.5 Filosofia da arte ............................................................................................. 12 
2 CONTEÚDO E ESTILO ....................................................................................... 12 
2.1 A Forma e o Conteúdo na Música ................................................................. 15 
3 ARTE ................................................................................................................... 18 
3.1 História da Arte ............................................................................................. 20 
3.2 Tipos de Artes ............................................................................................... 22 
4 A ARTE NA VIDA DO HOMEM ........................................................................... 24 
4.1 A função social da arte .................................................................................. 24 
4.2 O papel da arte na sociedade ....................................................................... 26 
4.3 Arte como Formatividade .............................................................................. 27 
4.4 Arte como comunicação e linguagem ........................................................... 32 
4.5 Arte e natureza .............................................................................................. 35 
4.6 A arte como meio de comunicação ............................................................... 38 
5 SOBRE A ARTE E A VIDA .................................................................................. 41 
5.1 A arte e a loucura .......................................................................................... 43 
6 A BELEZA DA GRÉCIA ANTIGA AO SÉCULO XIX ............................................ 45 
6.1 A Grécia e a beleza ideal .............................................................................. 46 
6.2 A mulher grega: submissa e desprezada ...................................................... 47 
6.3 A mulher romana: a matrona reprodutora ..................................................... 48 
6.4 Mulher medieval: entre santa e pecadora ..................................................... 49 
 
 
6.5 O Renascimento e a valorização do homem (no sentido estrito) .................. 51 
6.6 A mulher renascentista: a beleza idealizada e a desejada............................ 52 
6.7 A Revolução Francesa e a exclusão da mulher ............................................ 53 
6.8 A mulher no século XIX: a esposa virtuosa ................................................... 54 
7 O SUBLIME E O BELO ARTÍSTICO EM HEGEL ................................................ 56 
7.1 A Filosofia, o belo e a universalidade ............................................................ 58 
8 A ESTÉTICA NA FILOSOFIA ORTEGUIANA ...................................................... 60 
8.1 Cultura, uma breve introdução ...................................................................... 61 
8.2 O caráter estético na filosofia orteguiana ...................................................... 61 
8.3 Cultura e arte ................................................................................................ 62 
9 A ARTE E A BELEZA .......................................................................................... 64 
9.1 A História da Arte .......................................................................................... 67 
9.2 Diálogos entre Platão e Kant ......................................................................... 68 
10 AS HIPÓTESES DE HEGEL E KANT .............................................................. 71 
10.1 Kant ........................................................................................................... 71 
10.2 Hegel ......................................................................................................... 74 
11 BIBLIOGRAFIA BÁSICA .................................................................................. 80 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................... 80 
 
 
 
 
ESTÉTICA 
3 
 
1 INTRODUÇÃO À ESTÉTICA 
A palavra estética deriva do grego “aisthesis”, significando faculdade de sentir 
ou compreensão pelos sentidos, ou ainda percepção totalizante. 
Neste sentido, a estética é o ramo da filosofia que se ocupa da interpretação 
simbólica do mundo, simultaneamente é uma ciência autônoma que tem por objeto o 
juízo de apreciação que distingue o belo e o feio. 
No entanto, a área é ainda mais ampla, pois possui subdivisões, como a estética 
teórica, a qual procura características comuns na percepção do objeto, o que o torna, 
por exemplo, universalmente agradável. 
 
 
Fonte: esteticandoblog.wordpress.com 
A estética estuda também a arte, estabelecendo uma crítica a estrutura e 
construção do objeto, dentro do âmbito da estética prática ou particular. 
Pensando assim, podemos afirmar que a estética discuti o gosto, um conceito 
ligado ao julgamento dos objetos pela sensibilidade, conhecimento e reconhecimento. 
ESTÉTICA 
4 
 
Concepções categorizadas pelo senso comum como preferência, mas que 
depende de valores, contextos, momentos históricos; estando subordinada igualmente 
à política e ideologia. 
O gosto, por sua vez, remete a questão da definição de belo, uma discussão 
filosófica que se arrasta desde a antiguidade. 
1.1 O belo e o feio 
A questão da beleza, embora envolva uma grande relatividade, com respostas 
diferentes para cada indivíduo, instigou os filósofos ao longo da história, fundando 
algumas tradições que influenciaram a conceituação em torno do belo até hoje. 
Segundo a corrente platônica, o belo existiria em si, a partir de uma essência 
ideal, objetiva, independente do gosto. 
Esta tendência compôs o ideal universal de beleza, dominando a arte da 
antiguidade até o século XVII. 
Em oposição, no século XVII, os empiristas originaram outra tradição, o belo 
tornou-se relativo, subjetivo, circunscrito ao gosto de cada um, a maneira como cada 
sujeito percebe o objeto. 
O que criou uma oposição que seria resolvida parcialmente por Kant, no século 
XVIII, para quem a objetividade está no objeto e a subjetividade no sujeito. 
Portanto, o belo existe em si, no objeto, mas nem sempre é percebido por aquele 
que não foi educado para apreciar a beleza, tal como um crítico de arte. 
No século XIX, Hegel introduziu o contexto histórico na concepção de beleza, 
para o qual o “devir” (as mudanças) se refletem no gosto. 
Este, por sua vez, sofre a interferência da cultura, construindo uma visão de 
mundo. 
A partir destas tradições, uma concepção diferente surgiu no século XX, 
vinculada a fenomenologia, principalmente aplicada à arte, quando o belo passou a 
ser aquilo que possui significado, independentemente de sua correspondência com a 
realidade. 
O belo é mensurado pela sensibilidade, o que, contemporaneamente, remete a 
psicologia, ciência que atribui à beleza uma resposta narcisista ao que gostamos ou 
gostaríamos de ver em nós mesmos. 
ESTÉTICA 
5 
 
Porém, uma resposta mais filosófica diria que apreciamos o que se idêntica com 
nossa visão particular de mundo. 
Definição que atende a questão do belo em linhas gerais, mas que não responde 
porque consideramosdeterminado objeto que não é belo como arte. 
1.2 O conceito de arte 
Nem tudo que é belo pode ser considerado arte, por outro lado, o repugnante 
ou feio pode ser artístico. 
O que demonstra que arte está localizada em uma esfera para além do belo. 
Portanto, cabe perguntar o que é arte? 
Em linhas gerais, várias definições para arte são possíveis, isto dado a própria 
subjetividade de sua conceituação, até porque esta sofreu alterações de acordo com 
a época e contexto. 
A palavra arte foi originada a partir do latim “arx”, cujo significado literal é técnico 
ou habilidade. 
Até o século V a.C, a palavra nem existia, os gregos utilizavam o termo 
“tekné”, com o sentido de domínio da técnica, denotando uma perícia em criar 
significados para um objeto. 
Neste sentido, nos primórdios da humanidade, em sociedades primitivas, a arte 
possuiu significado místico ou religioso, assumindo na antiguidade um caráter político. 
Tendência que, de certa forma, está presente na arte até hoje, visto que 
contemporaneamente existe, inclusive, uma significação ideológica. 
Filosoficamente, a arte pode ser definida pelo menos por três ângulos: a partir 
de sua relação com a realidade, com o sujeito e com a sociedade. 
Pensando a arte no âmbito daquilo que é tido como real, poderia ser definida 
como uma tentativa de imitação da natureza. 
Ao mesmo tempo, entendendo a natureza em sentido amplo e o homem como 
parte desta, a arte pode ser definida como expressão do sujeito, admitindo como 
artístico a manifestação das impressões e sentimentos. 
Pensada a partir de sua relação com o sujeito, a arte pode ser definida como 
meio de expressão da sensibilidade, da faculdade de sentir externalizado em um 
objeto, revelando uma contemplação do mundo, do outro e de si mesmo. 
ESTÉTICA 
6 
 
O que envolve o domínio da técnica e de conhecimentos teóricos, capacitando 
a criar novos significados a um mesmo objeto, configurando uma linguagem que 
possibilita comunicar o que é para o sujeito, através do tempo, para o outro e a 
posteridade. 
O contexto social confere a arte outros significados, ligados a religião, política, 
ideologia, moral, educação e até a funcionalidade prática do objeto. 
A arte pode ser definida como instrumento cultural, educativa e cognoscível de 
manutenção das permanências ou de transformação. 
 
Fonte: empresafone.com.br 
Impondo valores de um grupo sobre o conjunto da sociedade ou rompendo com 
valores estabelecidos. 
Qualquer que seja a definição, todas estão de acordo com o sentido amplo do 
que é a arte: elemento que reorganiza significados, confere sentido ao caos. 
Insere-se neste significado, inclusive, uma definição contemporânea de arte 
como produto cultural, objeto coisificado pelo capitalismo; produto que visa lucro e que 
pode massificar a dita cultura erudita, tornando-a presente na cultura popular; ou fazer 
o inverso, tornar erudito o que antes era popular. 
Assim, a arte comporta múltiplas definições, mas todas dentro de um mesmo 
preceito. 
Igualmente, arte pode ser representa em diferentes manifestações, a despeito 
de até o século XX ser classificada pela estética em sete diferentes tipos. 
As formas de arte clássicas são as seguintes: 
1º. Música. 
2º. Dança. 
3º. Desenho e Pintura. 
4º. Escultura e Arquitetura. 
5º. Teatro. 
6º. Literatura. 
7º. Cinema. 
ESTÉTICA 
7 
 
Entretanto, a evolução do conceito de arte fez surgirem mais quatro tipos: 
8º. Fotografia, antes englobada também pelo cinema. 
9º. História em Quadrinhos. 
10º. Videojogos. 
11º. Computação Gráfica. 
Embora alguns teóricos desmembrem estas artes em outros, incluindo: Poesia, 
Grafite ou a chamada Arte-Educação. 
Seja como for, além do nó representado pela definição de arte, existe ainda o 
problema da resposta a questão: para que serve a arte? 
Pontuar a utilidade da arte é um problema complexo, pois, em primeiro lugar, 
configura expressão cultural, denotando a história de um povo e da humanidade. 
Apesar da arte ser revestida de utilidade prática em alguns casos, como, por 
exemplo, na arquitetura ou fotografia; pode ser também totalmente subjetiva, 
carregada de significado para um sujeito e não servindo para nada para outra pessoa. 
No entanto, a arte possui utilidade que ultrapassa a função meramente 
decorativa, avançando pelo viés inconsciente dentro do âmbito da psicologia; ou ainda 
adentrando a função educativa, ajudando a conservar a memória da humanidade e a 
construir novos conhecimentos. 
Para a filosofia, a arte faz parte do questionamento do mundo, colaborando para 
fomentar questões existenciais em torno do “eu” e do “nós”, levando a pensar e 
questionar o que está oculto por trás das aparências. 
Como no caso do pressuposto filosófico kantiano, que diz que não se ensina 
filosofia, mas sim filosofar; a arte precisa ser vivida para que possamos entendê-la 
plenamente, descobrindo sua utilidade. 
1.3 O desenvolvimento da Estética 
Não é possível falar em estética antes do século VI a.C, uma vez que, nas 
sociedades tribais, embora houvesse manifestações artísticas e parâmetros apara 
definir o belo, não existia uma preocupação em discutir de forma sistematizada as 
chamadas questões estéticas. 
Na pré-história, antes da invenção da escrita, os objetos que poderíamos 
classificar como dentro da amplitude da estética eram produzidos com uma função 
puramente pragmática, tentando reproduzir a realidade, referenciando a transmissão 
do conhecimento e, ao mesmo tempo, significando uma visão particular. 
ESTÉTICA 
8 
 
É quando esta representação da realidade assumiu um significado religioso, 
espiritual, que os objetos estéticos transcenderam ao mitológico, misturando razão e 
tentativas de explicação do mundo através do simbólico e não concreto. 
No mesmo momento em que a passagem do mítico para o racional foi iniciada 
pela filosofia, o teatro grego conduziu a estética para a racionalidade, a despeito do 
termo estética ainda nem existir. 
No século VI a.C, a tragédia começou a retratar a saga dos heróis, discutindo 
os mitos, colocando em primeiro plano a questão envolta do que é a arte e de sua 
relação com o real, fomentando discussões estéticas. 
Seguindo esta tendência, os pré-socráticos iniciaram a sistematização das 
discussões estéticas, estabelecendo um questionamento de ordem lógica e 
especulativa, investigando, por exemplo, a natureza do belo e a definição de arte. 
Para Heráclito; dentro da concepção de fluxo constante, onde nada persiste, 
transformando-se; o belo estaria na harmonia, a qual é alcançada através dos opostos. 
O filosofo afirma que “o contrário é convergente e dos divergentes nasce à 
harmonia”. 
Enquanto para Demócrito, criador do atomismo, a arte se origina da tendência 
humana de imitar a natureza, ou seja, é pura “mimesis”, palavra que me grego significa 
representação ou imitação. 
Um conceito retomado por Platão, para quem a arte, sendo mimesis do mundo 
sensível, visto o inteligível ser o real, não passa de cópia da cópia. 
Portanto, a arte seria desprovida de valor, menos digna de figurar como 
problema do que a ética ou a metafísica, pois representaria uma ilusão. 
Visão oposta à de Aristóteles, que trata da estética na obra Poética, onde a arte 
é definida como “poésis”, palavra que pode ser traduzida do grego como disposição 
para produzir. 
Segundo Aristóteles, embora a arte seja mimesis, imitação do que é possível 
por probabilidade, ela vai além da imitação, cria o que a natureza não foi capaz de 
criar. 
Neste sentido, determinadas artes, como a tragédia, possuem uma finalidade 
elevada: a “catarse”, a purificação dos excessos emocionais, instaurando a harmonia. 
A catarse; termo que em grego significa purificação, evacuação ou purgação; 
corresponderia a uma descarga emocional provocada pela mimesis, libertando o 
ESTÉTICA 
9 
 
homem de substâncias estranhasà sua essência racional, purificando esta essência 
dos elementos que corrompem a racionalidade, tal como o sentimento de medo ou 
piedade. 
 
Fonte: histoblogsu.blogspot.com 
Ao viver através do outro, assistindo uma representação teatral, o homem 
viveria sentimentos nocivos a razão, aprendendo a lidar com eles, fazendo uma 
catarse, expulsando-os de seu ser. 
No período romano, obviamente, a valorização da arte da retórica conduziu a 
inúmeras discussões estéticas, com implicações que explicam o surgimento da palavra 
latina arte. 
Nesta época passou a existir uma grande valorização da poesia, além de um 
resgate de concepções gregas ligadas à arquitetura e escultura, compondo um padrão 
de enaltecimento do belo como reafirmação da dominação política da Roma sobre o 
mundo dito civilizado. 
A discussão fomentada por esta tendência foi colocada de lado na Idade Média, 
quando a visão platônica da arte foi absorvida pela Igreja Católica. 
Porém, a questão do belo ganhou uma concepção religiosa, revelada pelo 
simbolismo da atribuição da beleza divina, suprema, a Deus. 
ESTÉTICA 
10 
 
Em outras palavras, o belo passou a ser aquilo que fosse capaz de aproximar 
de Deus, falar ou significar à espiritualidade. 
A arte passou a servir a esta concepção enaltecendo o culto a Deus através da 
perfeição das proporções e medidas, da busca pela luminosidade, da solidez 
expressando o eterno. 
É a época das catedrais e do estilo gótico, carregado de luz e cores, revelando 
um simbolismo espiritual. 
As discussões estéticas, por isto mesmo, ficaram mescladas à metafísica, 
servindo à exegese, decifração dos textos sagrados. 
A questão central passa a ser como representar entre os homens a beleza divina 
dos céus e de Deus. 
Uma visão que só começou a mudar com o Renascimento, no século XIV, 
quando o progresso da ciência conduziu ao humanismo, deslocando o centro estético 
de Deus para o homem, marcado pelo princípio de resgate dos valores da antiguidade 
e a tentativa de alcançar a perfeição ao imitar a natureza por meio da arte. 
Este princípio fez ressurgir a discussão sobre o belo, considerado fruto da 
harmonia numérica entre o todo e as partes e com a natureza. 
Uma tendência que ganhou prosseguimento no século XVI, influenciada pelo 
racionalismo cartesiano, inaugurando um novo período. 
O classicismo adotou critérios da razão para discutir a estética, ainda chamada 
de poética, momento em que os elementos irracionais presentes nas artes começaram 
a ser questionados como parte da separação entre fé e ciência. 
A palavra estética só surgiu no século XVIII, foi empregada pela primeira vez 
em 1750 por Alexander Baumgarten, como sinônimo do estudo da arte e do belo, 
construída a partir da palavra grega “aisthesis”. 
O alemão Baumgarten foi aluno de Christian Wolff, o sistematizador da filosofia 
de Leibniz, sendo influenciado pela ideia de que existiriam três faculdades da alma: 
razão, vontade e sentidos. 
Embora a discussão estética existisse desde a antiguidade, nomeada como 
poética, somente neste momento surgiu como ramo especifico da filosofia. 
Antes a estética estava dentro da metafísica, da ética, da moral, da política e da 
lógica; a partir do século XVIII, passou a estudar os objetos da faculdade de sentir, 
enquanto a razão ficou restrita a lógica e a vontade circunscrita a ética. 
ESTÉTICA 
11 
 
Portanto, a estética se constituiu como parte especifica da filosofia e, 
gradualmente, tornou-se uma ciência autônoma e independente. 
1.4 A estética como ciência 
Através da conceituação de Baumgarten, a estética foi se constituindo como 
ciência, tendo por objeto a contemplação da beleza, efetuada plenamente na criação 
de obras de arte. 
No entanto, Baumgarten considera a estética como gnosiologia inferior, 
composta por imagens confusas em comparação a gnosiologia superior, circunscrita a 
lógica. 
Foi Kant que notou que a estética vai além da faculdade de julgar ou sentir, 
possibilitando um juízo reflexivo, levando o homem a repensar conceitos através da 
transformação de objetos. 
Portanto, as obras de arte, além de estarem voltados para o prazer, questionam 
o mundo e propõem ao observador um repensar a si mesmo e tudo que o cerca. 
Embora não aparente, o juízo estético reflete sobre tempo e espaço, adentrando 
a capacidade criativa e o desenvolvimento matemático contido no domínio da técnica, 
repleta de relações de quantidade e proporção. 
 
 
Fonte: mundociencia.com.br 
Conceito complementado pelas idéias do holandês Baruch Espinosa, por meio 
da transposição de seu pensamento por Goethe, segundo o qual a arte imita a 
natureza, mas também cria o novo. 
ESTÉTICA 
12 
 
Neste sentido, a estética pode ser definida como ciência, pois sistematiza o 
conhecimento criado a partir do entendimento da realidade contida na arte e em 
discussões conceituais inerentes ao juízo dos sentidos. 
1.5 Filosofia da arte 
Como desdobramento da estética, Friedrich Wilhem Joseph Von Schelling, 
representante do idealismo alemão, no século XIX, originou a filosofia da arte. 
O conhecimento filosófico e seu instrumental foi colocado a serviço da análise 
da arte, entendida como contemplação intelectual interna do universo, externalizado 
de modo simbólico. 
É neste sentido que Hegel pensou a arte como etapa necessária ao 
desenvolvimento da religião e espiritualidade, simbolizando o mundo em sentido lógico 
e histórico, revelando a verdade na forma de imagens nem sempre construídas pela 
razão. 
Porém, a arte ajudaria na racionalização do que a mente humana não consegue 
entender em um primeiro momento. 
Assim, a filosofia da arte decodifica o que o gênio natural do artista intuiu e 
transformou em arte, expressão do entendimento do mundo pelos sentidos.1 
2 CONTEÚDO E ESTILO 
Forma e conteúdo na arte são inseparáveis, uma complementa e produz a outra. 
Quando o artista produz uma obra de arte, coloca nela a sua visão do mundo, sua 
maneira de pensar e de sentir. 
Esta maneira de ver as coisas, a espiritualidade do artista (não somente no 
sentido religioso, mas espiritualidade como a consciência do artista de sua época, de 
sua vida, de seus valores morais e religiosos) é que constitui o conteúdo da obra de 
arte. Isto não significa que a obra de arte necessariamente represente a figura do 
artista, mas sim que a figura do artista está presente no conteúdo, no significado dessa 
obra de arte. 
Cada artista é um ser humano distinto, com seus valores pessoais e seu modo 
de produzir arte é o modo de quem tem este tipo de valores, de maneira que, se seus 
 
1 Texto de: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos. 
ESTÉTICA 
13 
 
valores pessoais fossem outros, produziria de outra forma, talvez até escolheria outros 
temas para abordar. Se algum valor pessoal mudar na vida do artista, esta mudança 
se refletirá na sua arte. 
O próprio fato de fazer arte se incorpora à espiritualidade do artista. A maneira 
como o artista dá forma a obra de arte é a expressão da sua espiritualidade, que por 
sua vez é única e inconfundível. Este traço pessoal único e inconfundível é que é o 
seu estilo. 
Determinados tipos de espiritualidade se identificam com determinados tipos de 
estilo. Tal identificação ocorre não só a nível pessoal no indivíduo do artista, mas 
também se verifica entre vários artistas de um mesmo período histórico. Um estilo 
somente se afirmar como tal quando descobre à sua maneira de formar. A 
espiritualidade constrói o estilo. 
Artistas de uma mesma época, que pensam de uma maneira correlata, formam 
estilos individuais, mas interligados entre si por este modo semelhante de pensar e 
estar no mundo frente ao período histórico em que vivem. 
No artista, a personalidade artística se funde com a sua própria identidade. A 
mesma personalidade que cria é a que enfrenta a vida. Este enfrentara vida vai 
acumulando experiências e estas experiências vão transformando a espiritualidade do 
artista. Neste processo seu estilo, aos poucos vai sendo conquistado. 
Na produção de uma obra de arte, a espiritualidade em primeiro lugar necessita 
de um estilo, bem como vice-versa. Nisso consiste o que o chamamos de expectativa. 
Esta expectativa também se manifesta quando de uma experiência estética, pois o 
nosso gosto procura na obra de arte a satisfação das expectativas criadas pela nossa 
própria espiritualidade. Isso pressupõe um juízo que é pessoal quando que por 
identificação com um determinado estilo se exprime uma ordem de preferência. 
O gosto se forma quando se toma por parâmetro os juízos de outras pessoas 
às quais se considera que tenham bom gosto. Este é o processo de construção sócio 
histórica do gosto. Assim, o gosto se torna algo universal e nos permite emitir juízos 
sobre o que é belo e o que não é. 
Porém, só podemos emitir juízos acerca de um objeto pessoalmente, de modo 
que este gosto universal se subjuga ao nosso gosto pessoal ou, em outros termos, se 
subjuga à nossa identificação com o objeto. Isto pode ser perigoso, pois podemos 
ESTÉTICA 
14 
 
considerar feio o que não corresponde as nossas expectativas. Isto nos obriga a um 
equilíbrio de juízo (bom senso). 
É este bom senso que nos faz ver em obras das quais não gostamos o seu valor 
intrínseco, como também o mudar do gosto pelo passar do tempo, nos abre novos 
horizontes sobre obras às quais não gostávamos anteriormente. 
Sempre buscamos na obra de arte a satisfação de uma expectativa criada pela 
nossa espiritualidade. O variar ao longo do tempo de nossos valores morais, místicos, 
de nossa forma de encarar e ver o mundo explica porque o gosto é histórico e muda 
com as transformações que os tempos trazem. 
Isto é válido a nível pessoal (mudanças de gosto experimentadas por uma 
pessoa durante as diferentes fases de sua vida) e a nível coletivo (a preferência por 
determinadas maneiras de formar características de certos períodos históricos). É 
papel do artista revelar na obra de arte a expectativa criada pelo espírito de seu tempo. 
 
 
Fonte: laparola.com.br 
Estilo é a espiritualidade do artista colocada na obra (ou em todas as suas 
obras) de arte e também pode ser a semelhança entre obras de arte de diferentes 
artistas de uma mesma época ou de épocas distintas. 
Isto pode explicar-se por terem sido as obras produzidas a partir de um modo 
semelhante de espiritualidade embutido no contexto histórico e social da época em 
que foram produzidas. No momento da produção de uma obra de arte, o artista coloca 
à sua maneira de estar no mundo. Na sua visão do mundo está embutido o se 
conhecimento da história humana, bem como da arte. 
ESTÉTICA 
15 
 
Esta sua bagagem de conhecimento da sua arte, não só a nível técnico, mas 
também a nível estético, o leva a identificar-se com certas obras produzidas por artistas 
que o precederam, de modo que o artista se vê consciente e inconscientemente 
propelido a reproduzir em suas obras características do estilo destes artistas explícitas 
ou implicitamente. 
Isto denota a adoção destas características como uma certa escola onde o 
artista busca a base para formar através do processo de tentativas, o seu estilo. 
Também é relevante o fato de que toda realização estimula a produção de 
imitações e que um modo de formar pode ser difundido por este processo, ligando 
vários autores de diversas épocas e procedências. 
Cada modo de formar contém em si um universo de possibilidades que podem 
ser continuadas e interpretadas das mais variadas maneiras. É claro que isto passa 
pelo crivo individual de cada artista que possui seu modo único e singular de formar. 
A única maneira de um artista definir seu estilo é produzindo. As primeiras obras 
de arte produzidas por qualquer artista ainda não são espiritualidade que descobriu e 
definiu um modo de formar, mas sim espiritualidade que se utiliza de um estilo ou modo 
de formar já existente. 
O processo pelo qual um artista define seu estilo é longo e requer muito trabalho. 
Durante este processo o artista vai amadurecendo passo a passo, de tentativa em 
tentativa, e a não ser que por alguma deficiência qualquer, seu modo de formar não 
consiga se estabelecer como estilo e permaneça ele na etapa de tentativa e busca, 
seu modo de formar se estabelecerá como seu próprio estilo único e inconfundível. 
2.1 A Forma e o Conteúdo na Música 
O senso comum difundiu a ideia de que os sentimentos são o conteúdo da 
música e que sua função como arte é despertar estes sentimentos. Portanto, na 
música, o fator sentimento assumiria uma dupla utilidade, pois seria ao mesmo tempo 
conteúdo e função. 
Eduard Hanslick questiona esta ideia a partir de uma análise científica do que é 
o conteúdo da música. Os sentimentos não podem representar o conteúdo da música, 
pois estes são o resultado da contemplação estética desta. 
Os sentimentos são o efeito da forma e do conteúdo da música sobre quem a 
contempla. O conteúdo da música pode ser dado, assim como em qualquer outra arte, 
ESTÉTICA 
16 
 
como sendo a representação da espiritualidade do artista e seu significado, a 
mensagem subjetiva existente no contexto global da obra. A música utiliza-se do meio 
físico sonoro para transmitir sua mensagem. 
Este meio, não sendo constituído de palavras, mas sim de sons abstratos 
organizados no tempo não nos permite uma análise segura do seu conteúdo por não 
apresentar uma linguagem concreta, onde a convenção do significado dos símbolos 
desta linguagem aponte uma sequência lógica de argumentos. 
A música tem o poder de nos remeter a determinados estados de espírito 
derivados da percepção dos sons musicais. Mas isto não é exclusividade da música e 
aplica-se de maneira geral a todas as artes. Também uma pintura nos suscita 
sentimentos ante a sua contemplação ou uma poesia ou uma escultura. 
O sentimento como sendo o conteúdo da música, por muito tempo preencheu o 
vazio de não termos uma resposta concreta acerca do que é conteúdo na música 
instrumental. 
Os formalistas diriam que averiguar sobre a existência ou não de um conteúdo 
social na música não era relevante. O ponto de partida da criação musical para eles 
era a música na sua essência formal. Os efeitos sonoros possíveis em um determinado 
instrumento. A maneira da disposição dos sons na melodia, a riqueza harmônica da 
distribuição dos acordes, segundo seu ponto de vista falariam por si. 
Mas na música, como em qualquer outra arte, forma e conteúdo não são duas 
coisas distintas, mas sim duas faces complementares de uma mesma moeda e assim 
como qualquer outro artista, no momento da criação musical, o músico, além do 
domínio da forma inerente a sua arte, também expressa a sua espiritualidade, não no 
sentido metafísico, mas no sentido adotado por Pareyson de espiritualidade como 
sendo a consciência do artista de sua época, de seus valores religiosos e morais. 
Se então, no momento da criação musical, o artista inclui na sua música a sua 
visão do mundo, subentende-se que queira dizer algo mais do que simplesmente 
expressar o seu conhecimento da técnica musical. Citando o exemplo de Beethoven, 
é acertado o que nos diz Fischer a respeito do caráter político da Eroica. 
A influência do contexto histórico em que foi produzida, se não explica 
totalmente o caráter da obra, é extremamente importante para a compreensão da 
personalidade de Beethoven, de suas posições frente aos acontecimentos de uma 
época revolucionária. Estas atitudes frente aos fatos estão implícitas na obra musical 
ESTÉTICA 
17 
 
por fazerem parte da espiritualidade do artista e é esta, a espiritualidade, o conteúdo 
de qualquer obra de arte, e, por conseguinte, da música. 
Tanto a análise formalista quanto a conteudística da música pecam em não a 
vêscomo um todo composto de forma e de conteúdo. Stravinsky afirma que a música 
suscita não a um sentimento específico, mas sim um sentimento genérico ou em 
abstrato. Mas, retornando ainda ao exemplo de Beethoven, Fischer refuta este 
argumento ressaltando que o sentimento de alegria evocada pelo coral da Nona 
Sinfonia, não é a mesma alegria proveniente da colheita farta, ou do nascimento de 
um filho. É uma alegria carregada da atmosfera da superação das contradições do 
sistema. Não é, portanto, uma alegria genérica. 
 
 
Fonte: escoladefilosofia.org 
O conteúdo da música, por ser expresso de uma maneira abstrata, pode utilizar-
se da forma para dar o seu recado, porém, ainda assim está subjugado a 
espiritualidade do artista. 
Por serem forma e conteúdo, dois fatores interligados na manifestação musical, 
uma inovação da forma só pode subentender uma nova concepção de espírito frente 
aos acontecimentos. Um exemplo claro disto é o da música medieval, que só admitia 
a voz como instrumento sagrado e o seu conteúdo era sempre o mesmo. 
O ser humano como pecador deveria temer a Deus e se renegar a sua 
insignificância perante a obra divina. No renascimento, a música instrumental volta a 
desenvolver-se e até mesmo a ser aceita pela Igreja. 
ESTÉTICA 
18 
 
Esta mudança na forma (vocal para instrumental, monofônica para polifônica), 
se deve a uma mudança de pensamento, e, por conseguinte, de espírito, que foi o 
resgate do humanismo pelos renascentistas. Isto nos leva a concluir que o conteúdo 
da música não é originário da ausência do homem, porque quem produz a música é 
um indivíduo que participa do contexto histórico. 
Ainda, segundo Fischer , é necessário fazer-se uma diferenciação entre a 
música cujo único objetivo é o de criar uma mentalidade ou uma atmosfera uniforme, 
e este é o caso das marchas militares e da música de igreja, seja a da Idade Média ou 
a música Gospel americana do sec. XX, da música dos salões de dança profana da 
idade média ao Dance Music deste final de século, entre outras, e a música cujo 
significado esteja na expressão de sentimentos, idéias, experiências, enfim, expressão 
da espiritualidade do artista, visto que o até agora pressuposto somente é válido à 
segunda espécie de manifestação musical. 
A música sacra da idade média, ou a música militar possuem um caráter objetivo 
que por si só representa o seu conteúdo. Na concepção da música sacra da Idade 
Média, a forma não era tão relevante quanto a sua utilidade. Não se esperava desta 
música que fosse bela, apenas que cumprisse sua função como elemento importante 
na imposição de uma mentalidade submissa coletiva. 
Mas o que representa afinal a música? - Ela, como qualquer outra arte 
representa o belo, na música, explicado por Hanslick como sendo a fantasia do artista 
transformada em sons musicais por este e captada pelo ouvinte, ou contemplador da 
obra como mensagem desta. Em busca da representação ideal desta fantasia, o artista 
busca o aperfeiçoamento da forma e é nela, na forma que está a beleza da música.2 
3 ARTE 
A Arte (do latim “Ars” que significa técnica ou habilidade) é uma manifestação 
humana de ordem comunicativa muito antiga. 
Ela possui um caráter estético e está intimamente relacionada com as 
sensações e emoções, por exemplo, a pintura, a dança, a música, o cinema, a 
literatura, a arquitetura. 
 
2 Texto de: Gilberto André Borges. Extraído: www.musicaeeducacao.mus.br 
ESTÉTICA 
19 
 
Segundo o poeta brasileiro Ferreira Gullar: “ A Arte existe porque a vida não 
basta”. De acordo com sua reflexão, podemos compreender a necessidade humana 
de criar e/ou sentir a arte. 
Note, portanto, que a arte tem uma importante função social na medida que 
expõe características históricas e culturais de determinada sociedade, tornando-se um 
reflexo da essência humana. 
Para o filósofo grego Aristóteles a arte era uma imitação da realidade. Esse 
conceito, mais tarde, foi duramente refutado por diversas correntes artísticas que 
compreendiam que a arte não era somente baseada na imitação da realidade, e sim, 
na criação. 
Para um dos mais proeminentes artistas do período renascentista, Leonardo 
Da Vinci, “A Arte era coisa mental”. 
De tal modo, o conceito de Arte sempre foi muito discutido e durante a Idade 
Média havia duas vertentes sobre ela: 
 
• As artes manuais (ou mecânicas); 
• As artes liberais (ou intelectual). 
A primeira era considerada inferior à segunda, pois para muitos estudiosos, a 
arte somente era criada a partir do intelecto. 
Atualmente, a questão está mais desenvolvida, no entanto, o trabalho manual, 
ainda é, muitas vezes, subjugado pelo trabalho intelectual. 
Vale lembrar que os dois tipos de trabalhos são mentais ao mesmo tempo que 
partilham a criação artística. 
Se pensarmos no artesão e no artista intuímos que ambos fazem arte, 
entretanto, o primeiro é, em grande parte, considerado um indivíduo que produz uma 
“arte menor” em relação ao outro. 
Essa analogia da "arte erudita" e da "arte popular" permanece até os dias de 
hoje, sendo pauta de discussão de muitos estudiosos. 
Por fim, sobre o conceito de "Arte", uma coisa é certa: ela existe em todas as 
culturas, e sua definição foi e continua discutida incansavelmente. 
 
https://www.todamateria.com.br/ferreira-gullar/
https://www.todamateria.com.br/ferreira-gullar/
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ESTÉTICA 
20 
 
 
Fonte: blogartecedvf.blogspot.com 
3.1 História da Arte 
A história da arte é um ramo da ciência que estuda os processos artísticos 
dentro do contexto em que foram realizados. Assim, com o intuito de facilitar os 
estudos, a arte está dividida em períodos, a saber: 
 
• Arte Pré-Histórica: período anterior a 3000 a.C., por exemplo, a arte rupestre. 
• Arte Antiga: de 3000 a.C. até 1000 a.C., por exemplo a arte egípcia. 
• Arte Clássica: de 1000 a.C. a 300 d.C., por exemplo a arte grega e romana. 
• Arte Medieval: de 300 a 1350, por exemplo, a arte gótica. 
• Arte Moderna: 1350 a 1850, por exemplo, a arte neoclássica. 
• Arte Contemporânea: de 1850 aos dias atuais, por exemplo, a arte conceitual. 
Arte Rupestre 
A arte rupestre representa uma das mais antigas manifestações artísticas que 
surgiu a milhões de anos no contexto da pré-história. São desenhos ou pinturas, os 
quais foram produzidos, sobretudo, em cavernas, por diversos povos antigos. 
Nesse sentido, podemos refletir sobre a necessidade humana de se expressar, 
expor suas ideias, uma vez que por meio do fazer artístico o homem libera suas 
emoções. 
Antigamente, o artista era considerado um ser especial, enviado por Deus e que 
possuía grande poder. Representava, assim, um intermediário do mundo espiritual e 
material. 
Arte Sacra 
A Arte Sacra representa o conjunto de obras que possuem como temática 
principal a religião. 
https://www.todamateria.com.br/arte-medieval/
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ESTÉTICA 
21 
 
Foi muito explorada antes do período do Renascimento (na Idade Antiga, 
Clássica e Medieval), sendo umas das principais formas de expressão durante 
séculos, por exemplo, as ilustrações, estátuas de santos e a arquitetura sacra 
encontrada em diversas igrejas ou templos. 
Arte Barroca 
Com o advento do Renascimento e as significativas mudanças que ocorreram 
na Europa no século XV (cientificismo, contrarreforma, surgimento da burguesia, 
antropocentrismo e humanismo), o artista barroco encontra na arte o local necessário 
para expor a confusão causada pela mudança de paradigmas. 
Foi assim que a arte barroca, se distanciou, em partes, da Arte Sacra, criando 
uma arte mais erótica, profana, cotidiana e, portanto, não tanto idealizada. 
Arte Moderna 
A arte moderna surge no contexto da Revolução Industrial a partir do século 
XVIII.Na arte moderna, o conceito sobre arte amplia-se um pouco e chega até a ser 
considerada uma "antiarte", ou seja, ela não se preocupada com o teor estético e sim 
com a mensagem a ser transmitida. 
No Brasil, o marco de introdução da arte moderna foi a “Semana de Arte 
Moderna” de 1922. 
Nesse sentido podemos pensar que a arte tem uma função importante, além da 
catarse (purgação de sensações). Ou seja, uma obra artística pode conter um teor 
ideológico e político envolvido, o que leva o público a refletir sobre o conceito e não 
simplesmente visualizar as obras. 
Arte Abstrata 
Uma das características das artes visuais do período moderno foi o surgimento 
da corrente artística denominada Abstracionismo. 
De tal modo, a arte abstrata propõe uma obra visual não representacional, ou 
seja, ela prioriza as formas abstratas em detrimento de figuras que fazem parte da 
realidade. 
Essa corrente surgiu no contexto do Modernismo, mediante a liberdade de 
expressão e refutação ao academicismo, e está relacionada com os movimentos 
vanguardistas. 
Arte Contemporânea 
ESTÉTICA 
22 
 
A arte contemporânea ou arte pós-moderna surgiu no século XX, embora muitos 
estudiosos preferem indicar sua origem em finais do século XIX. 
A arte contemporânea abrange um conceito de arte mais aberto, sendo pautado, 
portanto, na originalidade, experimentações artísticas e técnicas inovadoras. 
Assim, ela admite diversas modalidades e linguagens artísticas bem como a 
mistura entre elas. Hoje, fala-se em arte performática, arte multimídia, arte étnica, 
dentre outros. 
Da mesma maneira que a arte moderna, a arte contemporânea foca na ideia a 
ser transmitida em detrimento do valor estético da obra. 
Sua principal função é fazer as pessoas pensarem, não somente com obras que 
abrigam conceitos estéticos de harmonia, de beleza, mas a partir de obras que muitas 
vezes extrapolam os limites da consciência humana. A ideia é que pelo choque 
estético, aconteça a fruição das obras de arte, através de processos catárticos. 
Artes Visuais 
Importante conhecer o conceito de Artes Visuais, uma vez que tem gerado muita 
confusão. 
Algumas pessoas acreditam que as artes visuais incluem somente as pinturas. 
No entanto, o conceito de artes visuais é muito mais amplo e está relacionado com o 
próprio nome “visual”. Ou seja, representa aquela arte que conseguimos ver: pintura, 
escultura, arquitetura, teatro, dança, fotografia, dentre outras. 
3.2 Tipos de Artes 
Sabemos, que o conceito de arte foi se expandindo com o passar dos anos, o 
qual acompanhou o desenvolvimento dos homens e da sociedade. 
 
ESTÉTICA 
23 
 
 
Fonte: desenhodg.com 
De tal modo, hoje temos uma infinidade de modalidades artísticas expressas 
por diversas linguagens (visual, auditiva, tátil, dentre outros) que surgiram, por 
exemplo, com o advento da informática. 
Assim, anteriormente, a arte era dividida somente em 6 vertentes: 
 
1. Música 
2. Dança 
3. Pintura 
4. Escultura/Arquitetura 
5. Teatro 
6. Literatura 
No entanto, com o desenvolvimento da sociedade, outros tipos de artes foram 
incluídos à lista: 
• Cinema 
• Fotografia 
• História em Quadrinhos 
• Vídeo-Arte 
ESTÉTICA 
24 
 
• Arte Digital ou Multimídia3 
 
4 A ARTE NA VIDA DO HOMEM 
4.1 A função social da arte 
A arte por meio de suas representações procura compreender as características 
próprias de um momento da sociedade e é uma forma de manifestação social. O artista 
usa a obra para relatar o seu momento. Fischer (1987) apresenta alguns 
questionamentos acerca do tema, como: Será a arte apenas um substituto? Não 
expressará ela também uma relação mais profunda entre o homem e o mundo? E 
naturalmente, poderá a função da arte ser resumida em uma única fórmula? Não 
satisfará ela diversas e variadas necessidades? E, se, observarmos as origens da 
arte, chegarmos a conhecer sua função inicial, não verificaremos também que essa 
função inicial se modificou e que novas funções passaram a existir? 
Percebe-se que a função da arte como também seu modo e os meios de 
representação variam conforme a época, segundo Buoro (2000, p. 23) “Em cada 
momento específico e em cada cultura, o homem tenta satisfazer suas necessidades 
socioculturais também por meio de sua vontade/necessidade de arte”. 
De acordo com Fischer (1987, p.51), “[…] o artista continua sendo o porta voz 
da sociedade. ” Ainda nos dias atuais o artista tem uma função social indiscutível: ser 
um representante da sociedade, relatar em suas obras a realidade pela qual ela passa. 
Fischer (1987, p. 51-52) ainda manifesta “A tarefa do artista é expor ao seu 
público a significação profunda dos acontecimentos, fazendo-o compreender 
claramente a necessidade e as relações essenciais entre o homem e a natureza e 
entre o homem e a sociedade”. 
 
 
3 Texto de: Daniela Diana. Extraído: www.todamateria.com.br 
ESTÉTICA 
25 
 
 
Fonte: funcaosocialdaarte.blogspot.com 
Segundo Coli (1989, p. 27) “Assim, um mesmo criador pode desenvolver em 
sua produção tendências diferentes, que, se sucedem no tempo, constituem as “fases” 
distintas do artista. ” Um mesmo artista pode viver em diversas fases; isso devido à 
rápida transformação pela qual a sociedade passa, frente ao acelerado crescimento 
tecnológico e às transformações sociais. Coli (1989, p. 64) ainda destaca “Ora, é 
importante ter em mente que a ideia de arte não é própria a todas as culturas e que a 
nossa possui uma maneira muito específica de concebê-la. ” Dessa forma, o artista 
não poderá exigir que todos compreendam a sua obra. Esta será mais facilmente 
compreendida no meio social na qual está inserida, já outras culturas poderão ter 
dificuldades em compreendê-la. 
Na atualidade, em meio a inúmeras tecnologias existentes, segundo Fischer 
(1987, p. 231), “[…] uma das grandes funções da arte numa época de imenso poder 
mecânico é a de mostrar que existem decisões livres, que o homem é capaz de criar 
situações de que precisa, as situações para as quais se inclina a sua vontade. ” No 
mundo globalizado, o homem está passando por um processo de transformação, 
mudando hábitos, conceitos, pensamentos, porém é indispensável que aproveite a 
liberdade para se expressar, e o artista, sendo livre, deve usar da liberdade para 
desempenhar o seu papel social. 
Para Fischer (1987), a arte é a própria realidade social, é a representação do 
momento, e ao menos que ela queira ser infiel à sua função social, precisa mostrar o 
mundo como passível de ser mudado, e fazer a sua função para ajudar a mudá-lo A 
sociedade precisa do artista, e ele deve ser fiel e consciente de sua função social. 
ESTÉTICA 
26 
 
Cabe a ele, educar a sociedade para que ela possa fazer um desfrute e uma 
compreensão apropriada da arte.4 
4.2 O papel da arte na sociedade 
Muito pode ser descoberto de um povo ou período pelos artefatos encontrados. 
O fazer artístico expressa muito sobre o indivíduo, que está inserido no coletivo e, 
portanto, influencia e é influenciado pelo meio em que vive. Por ter essa capacidade 
de acessar conhecimentos e sentimentos profundos, a arte pode ser usada de 
diferentes formas na sociedade. 
A arte em diferentes áreas da vida 
Expressão do ser humano 
Talvez essa seja a função mais conhecida da arte, ou a mais aceita. São os 
quadros que expressam as angústias pessoais do autor, as poesias que falam da alma 
do artista, o graffiti no muro que reage a movimentos políticos etc. 
É por meio da arte que o ser humano consegue dividir suas experiências e 
compartilhar sentimentos com todos aqueles que estiverem disponíveis, dispostos e 
sintonizados. Dessa forma, a arte é livre e não pode ser imposta. É preciso estar 
aberto para receber e sentir o seu significado, que também será pessoal e íntimo. 
Tanto o artista que cria a obra quanto a audiência quea aprecia participam do processo 
de expressão do ser humano. A construção dos significados relaciona-se com a 
essência de cada um e, portanto, será exclusiva de cada indivíduo que faz e recebe. 
Esse espaço de criação e experimentação é intrínseco de todos, sendo assim, 
todos são artistas, mesmo que não percebam. Ao escrever uma carta, falar sobre seus 
sentimentos ou presentear um amigo com algo feito por suas próprias mãos, a arte é 
usada como expressão íntima e única. 
 
Arteterapia 
 
A arte também pode ser uma ferramenta de terapia, cura, autoconhecimento e 
análise. Muitos elementos podem ser usados, como desenhos, música, teatro e 
artesanato, para ajudar uma pessoa a acessar sentimentos, memórias e 
 
4 Texto de: Rosane Kloh Biesdorf e Marli Ferreira Wandscheer. Extraído: www.revistas.ufg.br 
ESTÉTICA 
27 
 
conhecimentos, trazendo à tona bloqueios, traumas e questões que precisam ser 
analisadas e trabalhadas. 
 
Comunicação 
 
Transpondo barreiras linguísticas, a arte tem a capacidade de comunicar sem 
palavras. Diferentes grupos e povos podem transmitir uma série de informações por 
meio da arte, criando uma conexão profunda e presente, que muitas vezes não é 
possível por meio apenas das palavras. 
 
Educação com arte 
 
Embora o modelo de formação acadêmico seja ainda o mais reconhecido e 
aceito, outras formas de aprendizado estão ganhando destaque como forma 
complementar e igualmente importante. As pessoas têm perfis e formas de assimilar 
conteúdos diferentes: alguns são mais visuais, outros absorvem mais informações 
pela audição, outros precisam escrever e esquematizar. A arte é uma forma de abrir 
o leque e democratizar a educação, para que pessoas com esses tipos diferentes de 
aprendizados possam ser contemplados também. 
 
Sustentabilidade 
 
A arte tem um papel importante na sociedade como forma de ressignificar e 
reciclar objetos que seriam descartados, reduzindo assim o acúmulo de lixo que temos 
no nosso planeta. O artesanato é a forma mais comum de transformar e criar com 
resíduos descartados. 
A arte está muito ligada à essência humana, à força criadora que move e 
conecta as pessoas. Se a sociedade é feita de pessoas, logo, ela é feita de arte.5 
4.3 Arte como Formatividade 
A teoria da formatividade admite uma concepção dinâmica de recepção e de 
interpretação da obra de arte, na ideia de que tais processos se assemelham a um 
 
5 Texto extraído: www.revolucaoartesanal.com.br 
ESTÉTICA 
28 
 
organismo em transformação. Voltando-se para a ênfase no fazer, esta tendência 
admite que a arte é produção não só manual e fabril, mas também espiritual. 
A essência da arte não se resume a um simples fazer, nem à execução de 
qualquer coisa já idealizada. Ela é produção e invenção, "... é um tal fazer que, 
enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer". 
 
 
Fonte: alissongebrimkrasota.blogspot.com 
A ideia de arte como pura formatividade incorpora ao fazer a noção de formar 
por formar, na perspectiva de que "... o pensamento e o ato se acham subordinados 
ao fim específico [dessa] formação". 
Nesse pressuposto de formar "... obras que são apenas formas ...", mostra-se 
evidente a qualidade de a obra dar-se a aparecer desinteressadamente como 
realidade física e existência material que, de todo jeito, necessita da intenção artística 
para então se transformar. 
Desta maneira, uma obra de arte (como fim em si mesma) evidenciasse como 
uma unidade indivisível que está sempre a redefinir-se pela tensão e adequação entre 
o seu conteúdo, a sua matéria e o seu estilo (como causa formal, material e operativa). 
Se assim pudermos referir, a obra se mostraria por meio da articulação e 
complementaridade entre as atividades do conhecer, do exprimir e do fazer, atividades 
ESTÉTICA 
29 
 
estas inerentes a todo processo artístico, e pressupostas na ideia de arte enquanto 
forma (atividade). 
A obra seria então o "...resultado de um processo, em que a espiritualidade 
procura o próprio estilo e se torna esse estilo, a intenção formativa escolhe a sua 
matéria e a ela se incorpora, e o modo de formar se define formando a matéria". 
Assim, no contexto das funções da linguagem de Jakobson, tal conceito, o de 
arte como forma em atividade, sugere que a obra se mostra como produto da 
articulação entre as funções cognitiva, emotiva e poética. 
Outrossim, ao ser considerada "... não como o fechamento de uma realidade 
estática e imóvel, mas como a abertura de um infinito que se fez inteiro recolhendose 
em uma forma", a obra impõe-se como lei do processo que a produz e do processo 
que a interpreta, pois resume em si mesma os procedimentos que implicam a sua 
completude, mas que ao mesmo tempo distinguem-se como princípio de novas 
transformações. 
A leitura de uma dada obra implica reconstruí-la e recriá-la. O leitor, ao executar, 
interpretar e avaliar a obra, apodera-se do modo como ela foi feita, já que a leitura é 
efetuada pela restituição ou recuperação da poética a ela inerente. O leitor capta o que 
já existe na obra, devendo "... reconhecer, naquilo que ela é, aquilo que ela quis ser". 
O acesso à obra é dado pelo ato de leitura que se efetiva pelas suas execuções, 
interpretações e avaliações. E a partir daí ela pode ser reconstruída na plenitude de 
sua realidade sensível, alcançando-se afinal o momento da contemplação. 
É pela dialética entre forma formada e forma formante que a obra se mantém 
na sua inteireza, a um só tempo em que revela o seu significado espiritual e o seu valor 
artístico, abrindo-se a múltiplas leituras. 
É como objeto físico e perceptual que a obra se destaca como elo entre 
produção e recepção. A sua fruição, que presume o processo de recepção estética, 
desenvolve-se a partir das recodificações da proposta do artista. Tal procedimento 
produtivo e formativo tende a recuperar ou adotar o ritmo da obra, que só se exibe para 
aquele que sabe colhê-la no seu próprio movimento, devendo o leitor "... circular 
através da lei de coerência que a mantém unida numa estrutura perfeita e numa 
totalidade indivisível". 
A noção de arte como formatividade admite a contemplação não como um ato 
passivo. Apesar de a obra manifestar-se como uma forma acabada e "fechada" "...em 
ESTÉTICA 
30 
 
sua perfeição de organismo perfeitamente calibrado", assim decorrente em razão da 
sua produção, ela é também aberta, passível a diferentes interpretações, sem que 
venha a alterar-se em sua irreprodutível singularidade. 
Como acrescentaria Eco, a um só tempo a obra se mostra como uma teia de 
efeitos comunicativos originariamente proposta pelo artista; pode ser infinitamente 
atualizada, incorporando a cultura, os gostos, as tendências individuais de cada 
receptor. 
Assim sendo, a obra como forma formada e acabada pelo seu ato de produção 
só exerce a sua função estética quando percebida pelo receptor, pois a cada nova 
experiência é atualizada em seu potencial singular, mostrando-se também como uma 
forma aberta a variadas interpretações. Ela absorve, então, uma infinidade de leituras, 
decorrentes de diferentes e específicas execuções. 
A noção de arte como formatividade salienta essa condição essencial de toda 
obra de arte, aplicável a qualquer fenômeno artístico, que é ser virtualmente aberta a 
infinitas leituras e, consequentemente, mostrar-se de acordo com as vivências 
pessoais de cada leitor. Cada nova execução é diferente da anterior, e o fundamento 
que a sustenta é determinado tanto pela natureza da obra como pela singularidade da 
pessoa que a interpreta. 
Neste sentido, Pareyson afirma que "a infinidade e a diversidade das execuções 
não comprometem em nada a identidade e a imutabilidade da obra". 
Esta afirmação evidencia a prerrogativa estética de toda obra de arte absorver 
uma multiplicidadede interpretações, disponibilizando-se para o ato de contemplação, 
mesmo que, sob o ponto de vista poético, não exista intencionalmente um programa 
operacional propondo a inclusão do espectador como agente produtivo da execução 
da obra. Neste pressuposto, poderíamos admitir que qualquer que seja a obra, ela se 
mostra aberta ao receptor, pois a meta do executante é justamente "... captar e 
interpretar a obra de sorte que a sua execução seja a própria obra em sua plena 
realidade". 
Dessa maneira, cada nova execução implica uma nova interpretação que, por 
sua vez, "... são, para cada um, a própria obra". Assegura-se, contudo, que as várias 
interpretações não se excluem entre si, e que são definitivas sem se negarem umas 
às outras. 
ESTÉTICA 
31 
 
 
Fonte: repositorio.unesp.br 
Deste modo, a obra vive somente de suas próprias interpretações, mantendose 
igual a si mesma, pois na obra de arte a completude significa infinidade, e infinidade 
significa inexauribilidade. 
Esses processos de interpretação demandam um esforço de penetração na 
obra que se viabiliza pela natureza de ela mostrar-se como forma. É esta sua condição 
que lhe permite, por um lado, estimular e sugerir a interpretação, pois ao mesmo tempo 
em que a obra se põe aberta, comunicativa e interpretável, por outro lado, ela busca 
condição para ser interpretada, abrindo-se somente àquele que consegue captá-la. 
De qualquer sorte, cabe destacar, mesmo que pareça paradoxal, que, sob o 
plano da estética, é o acabamento da obra que assinala o início do trabalho do leitor 
assim como é o caráter definitivo da forma que força e estimula a interpretação. A 
abertura da obra a uma multiplicidade de interpretações - que decorre do caráter de 
definitividade e completeza da obra enquanto forma - não se confunde com a 
problemática do inacabamento da obra em função da poética proposta. 
A ideia de que "cada fruição é, assim, uma interpretação e uma execução, pois 
em cada fruição a obra revive numa perspectiva original", evidencia um ciclo de 
alimentação recíproco entre o polo da produção e o da recepção. Este modo não 
passivo de consumo da obra produz sempre variadas interpretações que, por sua vez, 
fomentam novos insumos, novas descobertas que então realimentam esse processo 
de recepção estética. 
ESTÉTICA 
32 
 
4.4 Arte como comunicação e linguagem 
O fato estético não é exclusivamente efetivado a partir da fonte emissora. As 
possíveis interpretações se concretizam por meio da relação entre artista e receptor, 
mediada por diferentes meios e estabelecida pela própria obra enquanto mensagem. 
Independente da prática artística adotada, o criador, ao utilizar códigos diversos, envia 
uma dada mensagem que, ao ser transmitida por meio de um canal, é decodificada 
pelo receptor. 
Com base nessa dinâmica, evidencia-se um espaço de diálogo entre criador, 
obra e receptor. Ao investigar as possibilidades de produção de sentido no contexto 
desse espaço de troca entre criador e receptor, a estética da comunicação, constituída 
em 1983 por Mario Costa e Fred Forest, propõe-se sobretudo a refletir filosoficamente 
sobre a condição antropológica e as consequentes formas de experiência estética 
inerentes às novas tecnologias da comunicação. 
Ao recuperar a proposta da avant-garde de que novas técnicas transformam o 
regime e as configurações do imaginário, remetendo à elaboração de modelos de 
comportamento adaptados às condições existenciais emergentes, a estética da 
comunicação pretende dar continuidade ao trabalho das vanguardas, no intuito de 
utilizar os instrumentos atuais da comunicação (telefone, televisão, redes telemáticas, 
satélites etc.) para manifestar uma nova sensibilidade e provocar experiências 
estéticas de uma nova espécie. 
Esta teoria pressupõe uma mudança de foco de atuação: passa-se da produção 
de objetos para invenção de modelos e sistemas. O artista propõe seus modelos como 
alternativa, seus próprios valores como ética, perseguindo sua produção simbólica por 
meio de ações transgressoras. 
Estas atividades procuram revelar a mudança emocional a ser liberada pela 
experiência da presença e ação à distância, e também pelo senso de ubiquidade e 
simultaneidade. Ao tomar como objeto a própria comunicação, o artista age sobre o 
espaço da informação utilizando-se da capacidade de metacomunicação, ou seja, de 
"... communiquer à propos de la communication". É um "travail de réflexion sur la 
communication mais aussi pratique d'action à l'intérieur et sur ce camp". 
A estética da comunicação não só propõe a troca de objeto, mas também a 
mudança de meios. O artista reintroduz, dentro de sua função antropológica original, a 
noção de estética como sistemas de signos, de símbolos e de ações. 
ESTÉTICA 
33 
 
De acordo com a estética da comunicação, a busca por uma nova sensibilidade 
estética está baseada em dez princípios, assim explicitados por Costa: 
1) a estética da comunicação é uma estética de eventos; não se identifica com 
as questões formais e o acontecimento mostra-se como fluxo espaço 
temporal, destacando a noção de interactive living process; 
2) tecnicamente, o evento é alcançado por meio de aparelhos que possibilitam 
a comunicação entre locais geograficamente distintos; o evento existe não só 
no aqui e agora, mas se expande sem limites no espaço-tempo; 
3) não importa o conteúdo que está sendo transmitido, mas sim a rede de trocas 
que está sendo ativada e as condições funcionais dessa troca; neste sentido, 
todo evento é um exercício de metacomunicação; 
4) o evento acontece em tempo real; 
5) o evento não é a mobilização de conceitos, é mais uma mobilização de 
energia; 
6) o evento é sempre o resultado de duas noções temporais de interação: o 
presente e a simultaneidade; estas duas noções são postas em circuito 
através da mediação tecnológica que as une e dissolve, criando uma 
experiência fluida do tempo; 
7) o evento utiliza o espaço-tempo para criar novos equilíbrios sensoriais; 
8) o evento ativa uma nova fenomenologia da presença; esta presença é 
puramente qualitativa e está baseada numa extensão planetária tecnológica 
do sistema nervoso; 
9) o evento não pretende evocar o sentimento do belo e sim o do sublime, aquilo 
que é absolutamente grande; 
10) a estética da comunicação oferece padrões culturais que garantem a 
"domesticação do sublime", assegurando possibilidades de produção e 
fruição desse sublime. 
ESTÉTICA 
34 
 
 
Fonte: portugues.com.br 
Na busca por essa nova sensibilidade, rompe-se com categorias estéticas 
tradicionais (o belo, a forma, o gênio criador etc.), cabendo ao artista produzir sentido 
ao propor e potencializar as estratégias de comunicação, ficando com o receptor o 
papel de atualizá-las. 
Com a estética da comunicação, de acordo com Costa, a noção de sublime 
pertence à arte. Ao ser "tornado objeto" (pela disposição que nasce não da forma do 
objeto, mas da relação com a situação-objeto), o sublime passa a ser oferecido à 
contemplação, sendo consumido como uma nova forma de composição do espírito. 
Neste caso, as tecnologias comunicacionais "capturam" o "absolutamente 
grande" da natureza, e o restituem "... ofertando-o como possibilidade de fruição 
socializada e controlada". 
O que se distingue, na esteira de Kant, é justamente a noção de que, aqui, a 
sensível não é apresentada sob o aspecto de formas, mas na ideia do sublime 
matemático (tecnológico), referido como "...aquilo que é constituído pela experiência 
do objeto que não cabe nos parâmetros antropomórficos". 
Em suma, o que se destaca é a presença imediata de alguma coisa que se faz 
acontecimento informe, dado em razão da simultaneidade entre atração e repulsão, e 
assim diferenciado por entre sentimentos contrastantes. 
ESTÉTICA 
35 
 
A proposta dos eventos, que se estruturam com base neste fundamento, 
instaura-sena ideia de perverter, desconstruir parâmetros artísticos tradicionais. 
Efetivados por meio das funções de transmissão e de difusão, estes acontecimentos 
artísticos procuram utilizar a parafernália tecnológica na proposta de construção de um 
novo tipo de realidade sensível. 
O artista, agora como "arquiteto de informação", lança mão de experiências em 
que o receptor inserido em um espaço de comunicação social torna-se agente 
produtivo do processo de leitura. 
Este último efetiva as práticas propostas pelo artista, que se caracterizam pelo 
compartilhamento da informação, por não priorizarem os conteúdos, mas sim as 
possibilidades de estabelecimento de relações. 
Cada receptor passa a ser então o ator (tanto individual quanto coletivo) que 
articula os sistemas de símbolos, signos e ações, mantenedores das trocas possíveis. 
Com base no conceito de arte como comunicação, consolida-se a ideia de a 
obra se firmar na troca entre os distintos sujeitos, e os possíveis sentidos são 
construídos a partir de relações descentralizadas, estabelecidas na supremacia do 
processo e do acontecimento como elementos que asseguram aos receptores a 
possibilidade de recriar imaginários.6 
4.5 Arte e natureza 
A arte contribui com a natureza quando por meio de uma pintura, ilustração 
botânica ou até um objeto de artesanato, tem-se a sensação de que tudo no meio 
ambiente pode ser reutilizado sem que nada seja prejudicado. 
Pintores e ilustradores botânicos procuram retratar a natureza de forma criativa, 
educativa e que possa levar ao público uma visão simples, porém bonita, das riquezas 
do meio ambiente. Já os artistas plásticos que trabalham com produtos recicláveis 
mostram que é possível fazer artesanato utilizando como matéria-prima, produtos 
descartáveis. 
Esse tipo de atitude ecologicamente correta chama a atenção de indústrias e 
fábricas para que se interessem e passem a investir, produzir e distribuir produtos de 
 
6 Texto de: Monica Tavares. Extraído: www.scielo.br 
ESTÉTICA 
36 
 
origem reciclada, o que é muito bom! Nesse ciclo verde, todos ganham: meio ambiente, 
comércio, consumidor e a criatividade artística. 
No artesanato, o material utilizado é quase sempre reciclável, como é o caso do 
trabalho feito pelas sócias Regina M. de Paula Cipriano e Silvana Rondelli, do bar Café 
com Arte, de Fernando de Noronha, que reúnem no mesmo lugar diversão e 
artesanato. Elas utilizam diversos tipos de material que recolhem nas praias, usinas 
de reciclagem e casas dos próprios artesãos. 
Assim, garrafas pet se transformam em flores, cortinas, vasos, bonecas e 
incensários. Dos pratos de isopor criam-se quadros, bandejas e botons. Das tábuas 
de barcos recolhidas nas praias fazem-se cabides e máscaras. De simples caixas de 
papelão nascem porta-guardanapos, e dos vidros surgem os potes descorados. 
Tudo começou há 2 anos com uma oficina de papel mâché, quando Regina, 
idealizadora do projeto, verificou a necessidade de se criar um artesanato com 
características da ilha, porque até então só havia o “industrianato”. As peças mais 
vendidas são as bonecas e os porta-guardanapos. O preço varia de 15 a 25 reais de 
acordo com o trabalho de produção. “A vantagem está no custo zero da matéria-prima 
e na divulgação das coisas naturais da ilha, sem que se estrague ou prejudique a 
natureza, é claro”, conta Silvana. 
No caso da ilustração botânica, a arte está mais para um caráter de estudo 
científico do que para uma simples pintura. Além de ser usada como apoio em livros e 
teses, é também utilizada na divulgação de espécies para o público aprender e 
apreciar. Dulce Nascimento, ilustradora botânica, formada pela Escola de Belas Artes 
– UFRJ, com especialização no Jardim Botânico de Londres, Kew Gardens, orienta, 
desenvolve e ensina técnicas de coleta e improviso de trabalho em campo para seus 
alunos na Oficina de Ilustração Botânica na Casa de Cultura Laura Alvin em Ipanema, 
Rio de Janeiro. 
Dulce que já participou de mais de 49 exposições no Brasil, tem obras em muitos 
países, inclusive duas no Palácio de Buckingham, oferecidas pelo Presidente 
Fernando Henrique Cardoso à Rainha Elizabeth II, em visita à Inglaterra em 1997, e 
também no Palácio Real de Madri, na Espanha. Ela ainda organiza uma vez por ano, 
viagem à Amazônia com alunos, para ensinar desenho de natureza nas condições 
adversas da floresta, observando a ecologia do local. 
 
http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/pernambuco/fernando-de-noronha/
http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/pernambuco/fernando-de-noronha/
ESTÉTICA 
37 
 
 
Fonte: www.olhaqueinteressante.com.br 
Outro exemplo é a pintura naturalista, que consegue transmitir a riqueza de 
plantas e animais da floresta brasileira, além de embelezar muitas paredes. A artista 
Luísa Borges, que pinta há mais de vinte anos, tem como preferência retratar o mar, 
as flores e os animais. 
Segundo ela, esse tipo de arte costuma trazer coisas boas e sensação de paz. 
“Ninguém quer pintar animais e rios mortos ou plantas destruídas. Pinto a 
natureza viva para conscientizar que se a gente não tomar cuidado, essa beleza toda 
pode acabar. Quando você mata o ecossistema, impede que gerações futuras 
desfrutem de toda uma riqueza natural”. 
Outro artista naturalista, o pintor Eduardo Parentoni Brettas, de Juiz de Fora, 
retrata em sua obra pássaros e plantas em extinção. De acordo com ele, 60% do seu 
trabalho tem destino para outros países, e a maior parte dos que são encomendados 
aqui, são pedidos por empresas. “A vantagem desse trabalho, além da beleza, está 
em divulgar e alertar sobre espécies que correm grande perigo no meio ambiente”. Ele 
conta que certa vez pintou um animal em extinção e que o quadro chegou a mão de 
um fazendeiro. “O fazendeiro reconheceu o animal através da minha obra, e me 
ESTÉTICA 
38 
 
mostrou que na fazenda onde vivia existia exemplares vivos das espécies que pintei 
naquele do quadro, o que possibilitou o registro e acompanhamento do animal”. 
Pela técnica que o pintor utiliza, ainda é possível identificar onde cada animal 
vive, o tipo de alimento que come, um pouco da vegetação, a diferença sexual e a 
idade. Para Eduardo, a ideia principal é mostrar a responsabilidade que cada um, 
artista ou não, tem de perpetuar ou pelo menos conservar cada bicho e planta no seu 
lugar. “O Brasil é um país com cerca de 1700 aves diferentes, sem falar nas 
subespécies que somam 2500, e a principal ideia é que elas continuem nesse cenário”, 
completa. 
A criatividade pode ser de grande valia quando se percebe a possibilidade de 
ganhar dinheiro ajudando a natureza. Ser ecologicamente correto não é ser chato, nem 
radical. Há um equilíbrio entre todos seres que vivem no planeta terra. Vale lembrar 
que o meio ambiente pode ajudar não só artistas plásticos interessados em chamar a 
atenção para a preservação ambiental, mas também comunidades carentes que não 
tem de onde tirar seu sustento e que muitas vezes encontram um ramo de atividade 
alternativo para garantir a sobrevivência da família. 
Além do papel da cultura em preservar o meio ambiente, a sociedade também 
pode colaborar quando seleciona produtos que usa em casa, dando preferência aos 
que menos contaminam a natureza e dessa forma privilegiar empresas que investem 
na preservação ambiental. Criar condições para usufruir dos ambientes naturais e 
preserva-los é um ato de consciência, responsabilidade, educação ambiental e cultural 
de cada cidadão.7 
4.6 A arte como meio de comunicação 
A arte é um poderoso meio de comunicação. São as cordas vocais que o artista 
preservou para desgastar todos os seus membros, desde os nervosos até aos 
motores, para dar forma e significado àquilo que produz. 
A partir desta construção, aparente contextualizada ou não, originou uma 
mensagem. O típico ditado que afirma que “uma imagem vale maisdo que mil 
palavras” assenta que nem uma luva naquele que capta a objetividade subjetiva da 
 
7 Texto extraído: www.ecoviagem.com.br 
ESTÉTICA 
39 
 
criação artística. Apresenta-se uma dialética que converge aquele que fomenta o amor 
e o que ama. 
A arte tem o dom de, para além de emitir tanto quanto as palavras, arrecadar o 
sentimento. Leva-o a partir de si para todo o lugar. Ganha asas numa inspiração sem 
discriminação ou opressão. 
A arte chega ao mundo das mais diversas formas. É um distintivo cultural que 
caracteriza e formula aqueles que nascem nesta ou naquela comunidade. 
Influenciados pelas obras dos mais vários artistas, nasce esta forma de chegar ao 
outro. Uma forma mais simples, colorida, mas que, não obstante, dá também origem a 
ambiguidades. 
As interpretações são várias e inconstantes, originando uma paleta de visões 
diferenciadas. Umas mais racionais, outras mais emocionais. É esta variedade que é 
produzida pela arte e que a linguagem muitas vezes não consegue. O discurso escrito 
e falado não consegue chegar lá por si só. Precisa de atrair, de trazer para junto de si 
aquele que é o seu interlocutor. Mesmo que não ouça, vê e sente. O sentimento nunca 
foge. Deixa-se estar e agrada pela experiência que regala a sua vista. 
No entanto, e aquilo que fica para o foro interno, a arte é também meio que se 
expressa para o artista em si. É a forma que ele encontra para desbobinar tudo aquilo 
que sente. É um método que usa para se reencontrar e acertar aquilo que em si milita 
com as contas das representações. Dando contornos e cores às coisas que sente, 
talvez facilite aquilo que é o cruzamento dos mundos em que participa. 
Também o artista precisa de esclarecimento para conferir realidade ao que mais 
lhe lateja na sua personalidade artística. É a forma de dar forma para em si se formar. 
Completa a sua formação pessoal naquilo que consagra no que faz. É o passo final 
que se inicia na carreira do que pinta, do que esculpe, do que engenha, do que 
concebe, do que visualiza. Acima de tudo, naquele que se inspira e que sonha. O 
sentimento é o motor da razão, por muito que o contrário pareça estar confirmado e 
consolidado. 
ESTÉTICA 
40 
 
 
Fonte: nao-palavra.blogspot.com 
O que se repercute daquilo que o artista constrói é a empatia. Há muitos que se 
comovem, compreendendo aquilo que é expresso pela criação. Existe desde logo uma 
associação entre o criador e o apreciador, entre o artista de membros com o artista de 
mentes, dando largas à sua imaginação na construção de uma interpretação e na 
formalização de uma apreciação. Esta ligação nunca se quebra desde que é iniciada 
porque uma obra não se esquece. É das tais que se entranha no sentimento e que de 
lá não sai. É um dos elementos que faz parte de uma autêntica galeria de arte que se 
vai organizando no memorial de cada um. 
A expressão da arte não se limita àquilo que fica na tela ou na figura. A 
expressão artística fica armazenada também em todo o seu amante, em todo aquele 
que se declara sintonizado com a mensagem do artista. 
Tudo isso é comunicação. Um valiosíssimo meio de comunicação. Tudo isso é 
uma forma mais ou menos discreta de fazer passar a mensagem que o criador 
pretende. Também este é um orador, embora recorrendo ao símbolo da imagem na 
arte da sua retorica. A visão é despertada, assim como uma vontade visceral de dar 
uso ao tato. 
Embora nem sempre seja possível este toque, a emoção promovida por ambas 
as partes da criação artística engole por completo a vontade de sentir com a ponta dos 
dedos e a palma das mãos. O coração sente-se realizado. Quando isto acontece, 
pouco mais pode ser exigido. 
ESTÉTICA 
41 
 
É desfrutar de uma mensagem que é enviada num certo dia e que chega sem 
destino, muitas vezes de surpresa. Uma comunicação que fica e que ruma ao conforto 
do eterno.8 
5 SOBRE A ARTE E A VIDA 
Um dos problemas que enfrentamos em relação à arte hoje é que precisamos 
entendê-la, mas isso só pode acontecer de um jeito diferente de como a entendíamos 
em outras épocas. Saber que cada época tem a sua arte, assim como cada tempo e 
cada espaço, não facilita muita coisa. É preciso levar em conta também a 
particularidade de cada pessoa que faz arte; daquela pessoa que, profissionalmente 
ou não, é, de algum modo, artista. 
Talvez a arte de tempos anteriores ao período modernista do século XX, seja 
até hoje evidente como arte para nós. Um quadro de Leonardo da Vinci, para citar um 
italiano muito conhecido e cuja obra ninguém se negaria a chamar de arte, nos oferecia 
referenciais de compreensão com os quais muitas vezes poderíamos pensar que 
tínhamos o mundo da arte nas mãos. 
Com base nesses referenciais entendíamos que a arte era boa se imitava bem 
a realidade em termos técnicos, se além de tudo, emocionava e, até mesmo, se 
agradava e, assim, de algum modo, entretinha. A arte da pintura tinha a função de nos 
iludir sobre a realidade. 
Depois, com o modernismo, as pessoas aprenderam a muito custo a não 
“entender” de arte, a aceitar sua ignorância como observadores. Alguns, mais 
felizes, aceitaram o enlouquecimento das formas. 
Compreenderam que uma figura como Picasso – para citar outro europeu, bem 
menos aceito que Da Vinci, mas a seu modo também reconhecido por sua linguagem 
genial – tinha feito uma revolução estética. Perceber que esta revolução estética é 
também política e ética já é uma ideia mais difícil de se ter, mas muitos também se 
deram conta disso. 
 
Por outro lado, para os menos preocupados, a arte passou a ser apenas uma 
espécie de loucura aceita. Ou um lugar para fazer loucuras sem maiores 
 
8 Texto de: Lucas Brandão. Extraído: www.comunidadeculturaearte.com 
ESTÉTICA 
42 
 
consequências. Estavam enganados, pois a arte nunca é uma experiência banal para 
quem a realiza. 
A loucura da arte sempre foi a mais perigosa, porque ela podia mudar a 
sensibilidade das pessoas e assim ensinar um outro jeito de ver o mundo. Mudando a 
visão das coisas, um outro modo de agir no mundo era possível. Diga-se de passagem, 
que um jeito livre de viver a vida e de expressá-la nunca agrada aos que agem como 
donos de quaisquer poderes. 
Levando em conta estes aspectos. O que é a arte hoje? Arte não é apenas 
expressão, nem só comunicação de uma ideia, nem apenas um problema de qualidade 
estética de uma obra. Arte, tampouco é uma questão conceitual. Arte é, para nós hoje, 
muito mais uma questão de experiência estética. Mas o que é isso? 
Todos nós vivemos experiências estéticas, poucos tem experiência com a arte. 
Experiência estética é a vida da percepção, das sensações que vão do 
sentimento diante de um filme até o uso de drogas. O mundo da estética é vasto e nem 
sempre está povoado de arte. A indústria da cultura, os meios de comunicação de 
massa que administram a experiência sensível das pessoas em geral, ocupam o 
espaço onde poderia acontecer o despertar da sensibilidade ao qual podemos dar o 
nome de arte. 
 Aquilo que chamamos de Indústria Cultural acabar com esta chance de 
despertar da sensibilidade. E ela consegue isso por uma estranha norma estética: a 
que decreta a criatividade deturpada da publicidade enquanto as potências da arte são 
confinadas ao espaço dos especialistas. 
Diante desse quadro, cabe perguntar, como podemos chegar à arte, quando o 
sistema econômico e político organizado esteticamente conspira contra ela? 
Arte se tornou justamente aquilo que se pode realizar fora dessa norma, na 
contramão da mera indústria cultural e até mesmo das regras que, de um modo ou de 
outro, os especialistas vão definindo. E aí voltamos ao problema. 
A norma estética é culturalmente tão forte que muitas vezes não fazemos ideia 
de como chegar à arte. Como produzi-la? É comum que pessoas que desejam 
escrever,

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