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ESTÉTICA BELO HORIZONTE / MG SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO À ESTÉTICA ................................................................................. 3 1.1 O belo e o feio ................................................................................................. 4 1.2 O conceito de arte ........................................................................................... 5 1.3 O desenvolvimento da Estética ....................................................................... 7 1.4 A estética como ciência ................................................................................. 11 1.5 Filosofia da arte ............................................................................................. 12 2 CONTEÚDO E ESTILO ....................................................................................... 12 2.1 A Forma e o Conteúdo na Música ................................................................. 15 3 ARTE ................................................................................................................... 18 3.1 História da Arte ............................................................................................. 20 3.2 Tipos de Artes ............................................................................................... 22 4 A ARTE NA VIDA DO HOMEM ........................................................................... 24 4.1 A função social da arte .................................................................................. 24 4.2 O papel da arte na sociedade ....................................................................... 26 4.3 Arte como Formatividade .............................................................................. 27 4.4 Arte como comunicação e linguagem ........................................................... 32 4.5 Arte e natureza .............................................................................................. 35 4.6 A arte como meio de comunicação ............................................................... 38 5 SOBRE A ARTE E A VIDA .................................................................................. 41 5.1 A arte e a loucura .......................................................................................... 43 6 A BELEZA DA GRÉCIA ANTIGA AO SÉCULO XIX ............................................ 45 6.1 A Grécia e a beleza ideal .............................................................................. 46 6.2 A mulher grega: submissa e desprezada ...................................................... 47 6.3 A mulher romana: a matrona reprodutora ..................................................... 48 6.4 Mulher medieval: entre santa e pecadora ..................................................... 49 6.5 O Renascimento e a valorização do homem (no sentido estrito) .................. 51 6.6 A mulher renascentista: a beleza idealizada e a desejada............................ 52 6.7 A Revolução Francesa e a exclusão da mulher ............................................ 53 6.8 A mulher no século XIX: a esposa virtuosa ................................................... 54 7 O SUBLIME E O BELO ARTÍSTICO EM HEGEL ................................................ 56 7.1 A Filosofia, o belo e a universalidade ............................................................ 58 8 A ESTÉTICA NA FILOSOFIA ORTEGUIANA ...................................................... 60 8.1 Cultura, uma breve introdução ...................................................................... 61 8.2 O caráter estético na filosofia orteguiana ...................................................... 61 8.3 Cultura e arte ................................................................................................ 62 9 A ARTE E A BELEZA .......................................................................................... 64 9.1 A História da Arte .......................................................................................... 67 9.2 Diálogos entre Platão e Kant ......................................................................... 68 10 AS HIPÓTESES DE HEGEL E KANT .............................................................. 71 10.1 Kant ........................................................................................................... 71 10.2 Hegel ......................................................................................................... 74 11 BIBLIOGRAFIA BÁSICA .................................................................................. 80 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................... 80 ESTÉTICA 3 1 INTRODUÇÃO À ESTÉTICA A palavra estética deriva do grego “aisthesis”, significando faculdade de sentir ou compreensão pelos sentidos, ou ainda percepção totalizante. Neste sentido, a estética é o ramo da filosofia que se ocupa da interpretação simbólica do mundo, simultaneamente é uma ciência autônoma que tem por objeto o juízo de apreciação que distingue o belo e o feio. No entanto, a área é ainda mais ampla, pois possui subdivisões, como a estética teórica, a qual procura características comuns na percepção do objeto, o que o torna, por exemplo, universalmente agradável. Fonte: esteticandoblog.wordpress.com A estética estuda também a arte, estabelecendo uma crítica a estrutura e construção do objeto, dentro do âmbito da estética prática ou particular. Pensando assim, podemos afirmar que a estética discuti o gosto, um conceito ligado ao julgamento dos objetos pela sensibilidade, conhecimento e reconhecimento. ESTÉTICA 4 Concepções categorizadas pelo senso comum como preferência, mas que depende de valores, contextos, momentos históricos; estando subordinada igualmente à política e ideologia. O gosto, por sua vez, remete a questão da definição de belo, uma discussão filosófica que se arrasta desde a antiguidade. 1.1 O belo e o feio A questão da beleza, embora envolva uma grande relatividade, com respostas diferentes para cada indivíduo, instigou os filósofos ao longo da história, fundando algumas tradições que influenciaram a conceituação em torno do belo até hoje. Segundo a corrente platônica, o belo existiria em si, a partir de uma essência ideal, objetiva, independente do gosto. Esta tendência compôs o ideal universal de beleza, dominando a arte da antiguidade até o século XVII. Em oposição, no século XVII, os empiristas originaram outra tradição, o belo tornou-se relativo, subjetivo, circunscrito ao gosto de cada um, a maneira como cada sujeito percebe o objeto. O que criou uma oposição que seria resolvida parcialmente por Kant, no século XVIII, para quem a objetividade está no objeto e a subjetividade no sujeito. Portanto, o belo existe em si, no objeto, mas nem sempre é percebido por aquele que não foi educado para apreciar a beleza, tal como um crítico de arte. No século XIX, Hegel introduziu o contexto histórico na concepção de beleza, para o qual o “devir” (as mudanças) se refletem no gosto. Este, por sua vez, sofre a interferência da cultura, construindo uma visão de mundo. A partir destas tradições, uma concepção diferente surgiu no século XX, vinculada a fenomenologia, principalmente aplicada à arte, quando o belo passou a ser aquilo que possui significado, independentemente de sua correspondência com a realidade. O belo é mensurado pela sensibilidade, o que, contemporaneamente, remete a psicologia, ciência que atribui à beleza uma resposta narcisista ao que gostamos ou gostaríamos de ver em nós mesmos. ESTÉTICA 5 Porém, uma resposta mais filosófica diria que apreciamos o que se idêntica com nossa visão particular de mundo. Definição que atende a questão do belo em linhas gerais, mas que não responde porque consideramosdeterminado objeto que não é belo como arte. 1.2 O conceito de arte Nem tudo que é belo pode ser considerado arte, por outro lado, o repugnante ou feio pode ser artístico. O que demonstra que arte está localizada em uma esfera para além do belo. Portanto, cabe perguntar o que é arte? Em linhas gerais, várias definições para arte são possíveis, isto dado a própria subjetividade de sua conceituação, até porque esta sofreu alterações de acordo com a época e contexto. A palavra arte foi originada a partir do latim “arx”, cujo significado literal é técnico ou habilidade. Até o século V a.C, a palavra nem existia, os gregos utilizavam o termo “tekné”, com o sentido de domínio da técnica, denotando uma perícia em criar significados para um objeto. Neste sentido, nos primórdios da humanidade, em sociedades primitivas, a arte possuiu significado místico ou religioso, assumindo na antiguidade um caráter político. Tendência que, de certa forma, está presente na arte até hoje, visto que contemporaneamente existe, inclusive, uma significação ideológica. Filosoficamente, a arte pode ser definida pelo menos por três ângulos: a partir de sua relação com a realidade, com o sujeito e com a sociedade. Pensando a arte no âmbito daquilo que é tido como real, poderia ser definida como uma tentativa de imitação da natureza. Ao mesmo tempo, entendendo a natureza em sentido amplo e o homem como parte desta, a arte pode ser definida como expressão do sujeito, admitindo como artístico a manifestação das impressões e sentimentos. Pensada a partir de sua relação com o sujeito, a arte pode ser definida como meio de expressão da sensibilidade, da faculdade de sentir externalizado em um objeto, revelando uma contemplação do mundo, do outro e de si mesmo. ESTÉTICA 6 O que envolve o domínio da técnica e de conhecimentos teóricos, capacitando a criar novos significados a um mesmo objeto, configurando uma linguagem que possibilita comunicar o que é para o sujeito, através do tempo, para o outro e a posteridade. O contexto social confere a arte outros significados, ligados a religião, política, ideologia, moral, educação e até a funcionalidade prática do objeto. A arte pode ser definida como instrumento cultural, educativa e cognoscível de manutenção das permanências ou de transformação. Fonte: empresafone.com.br Impondo valores de um grupo sobre o conjunto da sociedade ou rompendo com valores estabelecidos. Qualquer que seja a definição, todas estão de acordo com o sentido amplo do que é a arte: elemento que reorganiza significados, confere sentido ao caos. Insere-se neste significado, inclusive, uma definição contemporânea de arte como produto cultural, objeto coisificado pelo capitalismo; produto que visa lucro e que pode massificar a dita cultura erudita, tornando-a presente na cultura popular; ou fazer o inverso, tornar erudito o que antes era popular. Assim, a arte comporta múltiplas definições, mas todas dentro de um mesmo preceito. Igualmente, arte pode ser representa em diferentes manifestações, a despeito de até o século XX ser classificada pela estética em sete diferentes tipos. As formas de arte clássicas são as seguintes: 1º. Música. 2º. Dança. 3º. Desenho e Pintura. 4º. Escultura e Arquitetura. 5º. Teatro. 6º. Literatura. 7º. Cinema. ESTÉTICA 7 Entretanto, a evolução do conceito de arte fez surgirem mais quatro tipos: 8º. Fotografia, antes englobada também pelo cinema. 9º. História em Quadrinhos. 10º. Videojogos. 11º. Computação Gráfica. Embora alguns teóricos desmembrem estas artes em outros, incluindo: Poesia, Grafite ou a chamada Arte-Educação. Seja como for, além do nó representado pela definição de arte, existe ainda o problema da resposta a questão: para que serve a arte? Pontuar a utilidade da arte é um problema complexo, pois, em primeiro lugar, configura expressão cultural, denotando a história de um povo e da humanidade. Apesar da arte ser revestida de utilidade prática em alguns casos, como, por exemplo, na arquitetura ou fotografia; pode ser também totalmente subjetiva, carregada de significado para um sujeito e não servindo para nada para outra pessoa. No entanto, a arte possui utilidade que ultrapassa a função meramente decorativa, avançando pelo viés inconsciente dentro do âmbito da psicologia; ou ainda adentrando a função educativa, ajudando a conservar a memória da humanidade e a construir novos conhecimentos. Para a filosofia, a arte faz parte do questionamento do mundo, colaborando para fomentar questões existenciais em torno do “eu” e do “nós”, levando a pensar e questionar o que está oculto por trás das aparências. Como no caso do pressuposto filosófico kantiano, que diz que não se ensina filosofia, mas sim filosofar; a arte precisa ser vivida para que possamos entendê-la plenamente, descobrindo sua utilidade. 1.3 O desenvolvimento da Estética Não é possível falar em estética antes do século VI a.C, uma vez que, nas sociedades tribais, embora houvesse manifestações artísticas e parâmetros apara definir o belo, não existia uma preocupação em discutir de forma sistematizada as chamadas questões estéticas. Na pré-história, antes da invenção da escrita, os objetos que poderíamos classificar como dentro da amplitude da estética eram produzidos com uma função puramente pragmática, tentando reproduzir a realidade, referenciando a transmissão do conhecimento e, ao mesmo tempo, significando uma visão particular. ESTÉTICA 8 É quando esta representação da realidade assumiu um significado religioso, espiritual, que os objetos estéticos transcenderam ao mitológico, misturando razão e tentativas de explicação do mundo através do simbólico e não concreto. No mesmo momento em que a passagem do mítico para o racional foi iniciada pela filosofia, o teatro grego conduziu a estética para a racionalidade, a despeito do termo estética ainda nem existir. No século VI a.C, a tragédia começou a retratar a saga dos heróis, discutindo os mitos, colocando em primeiro plano a questão envolta do que é a arte e de sua relação com o real, fomentando discussões estéticas. Seguindo esta tendência, os pré-socráticos iniciaram a sistematização das discussões estéticas, estabelecendo um questionamento de ordem lógica e especulativa, investigando, por exemplo, a natureza do belo e a definição de arte. Para Heráclito; dentro da concepção de fluxo constante, onde nada persiste, transformando-se; o belo estaria na harmonia, a qual é alcançada através dos opostos. O filosofo afirma que “o contrário é convergente e dos divergentes nasce à harmonia”. Enquanto para Demócrito, criador do atomismo, a arte se origina da tendência humana de imitar a natureza, ou seja, é pura “mimesis”, palavra que me grego significa representação ou imitação. Um conceito retomado por Platão, para quem a arte, sendo mimesis do mundo sensível, visto o inteligível ser o real, não passa de cópia da cópia. Portanto, a arte seria desprovida de valor, menos digna de figurar como problema do que a ética ou a metafísica, pois representaria uma ilusão. Visão oposta à de Aristóteles, que trata da estética na obra Poética, onde a arte é definida como “poésis”, palavra que pode ser traduzida do grego como disposição para produzir. Segundo Aristóteles, embora a arte seja mimesis, imitação do que é possível por probabilidade, ela vai além da imitação, cria o que a natureza não foi capaz de criar. Neste sentido, determinadas artes, como a tragédia, possuem uma finalidade elevada: a “catarse”, a purificação dos excessos emocionais, instaurando a harmonia. A catarse; termo que em grego significa purificação, evacuação ou purgação; corresponderia a uma descarga emocional provocada pela mimesis, libertando o ESTÉTICA 9 homem de substâncias estranhasà sua essência racional, purificando esta essência dos elementos que corrompem a racionalidade, tal como o sentimento de medo ou piedade. Fonte: histoblogsu.blogspot.com Ao viver através do outro, assistindo uma representação teatral, o homem viveria sentimentos nocivos a razão, aprendendo a lidar com eles, fazendo uma catarse, expulsando-os de seu ser. No período romano, obviamente, a valorização da arte da retórica conduziu a inúmeras discussões estéticas, com implicações que explicam o surgimento da palavra latina arte. Nesta época passou a existir uma grande valorização da poesia, além de um resgate de concepções gregas ligadas à arquitetura e escultura, compondo um padrão de enaltecimento do belo como reafirmação da dominação política da Roma sobre o mundo dito civilizado. A discussão fomentada por esta tendência foi colocada de lado na Idade Média, quando a visão platônica da arte foi absorvida pela Igreja Católica. Porém, a questão do belo ganhou uma concepção religiosa, revelada pelo simbolismo da atribuição da beleza divina, suprema, a Deus. ESTÉTICA 10 Em outras palavras, o belo passou a ser aquilo que fosse capaz de aproximar de Deus, falar ou significar à espiritualidade. A arte passou a servir a esta concepção enaltecendo o culto a Deus através da perfeição das proporções e medidas, da busca pela luminosidade, da solidez expressando o eterno. É a época das catedrais e do estilo gótico, carregado de luz e cores, revelando um simbolismo espiritual. As discussões estéticas, por isto mesmo, ficaram mescladas à metafísica, servindo à exegese, decifração dos textos sagrados. A questão central passa a ser como representar entre os homens a beleza divina dos céus e de Deus. Uma visão que só começou a mudar com o Renascimento, no século XIV, quando o progresso da ciência conduziu ao humanismo, deslocando o centro estético de Deus para o homem, marcado pelo princípio de resgate dos valores da antiguidade e a tentativa de alcançar a perfeição ao imitar a natureza por meio da arte. Este princípio fez ressurgir a discussão sobre o belo, considerado fruto da harmonia numérica entre o todo e as partes e com a natureza. Uma tendência que ganhou prosseguimento no século XVI, influenciada pelo racionalismo cartesiano, inaugurando um novo período. O classicismo adotou critérios da razão para discutir a estética, ainda chamada de poética, momento em que os elementos irracionais presentes nas artes começaram a ser questionados como parte da separação entre fé e ciência. A palavra estética só surgiu no século XVIII, foi empregada pela primeira vez em 1750 por Alexander Baumgarten, como sinônimo do estudo da arte e do belo, construída a partir da palavra grega “aisthesis”. O alemão Baumgarten foi aluno de Christian Wolff, o sistematizador da filosofia de Leibniz, sendo influenciado pela ideia de que existiriam três faculdades da alma: razão, vontade e sentidos. Embora a discussão estética existisse desde a antiguidade, nomeada como poética, somente neste momento surgiu como ramo especifico da filosofia. Antes a estética estava dentro da metafísica, da ética, da moral, da política e da lógica; a partir do século XVIII, passou a estudar os objetos da faculdade de sentir, enquanto a razão ficou restrita a lógica e a vontade circunscrita a ética. ESTÉTICA 11 Portanto, a estética se constituiu como parte especifica da filosofia e, gradualmente, tornou-se uma ciência autônoma e independente. 1.4 A estética como ciência Através da conceituação de Baumgarten, a estética foi se constituindo como ciência, tendo por objeto a contemplação da beleza, efetuada plenamente na criação de obras de arte. No entanto, Baumgarten considera a estética como gnosiologia inferior, composta por imagens confusas em comparação a gnosiologia superior, circunscrita a lógica. Foi Kant que notou que a estética vai além da faculdade de julgar ou sentir, possibilitando um juízo reflexivo, levando o homem a repensar conceitos através da transformação de objetos. Portanto, as obras de arte, além de estarem voltados para o prazer, questionam o mundo e propõem ao observador um repensar a si mesmo e tudo que o cerca. Embora não aparente, o juízo estético reflete sobre tempo e espaço, adentrando a capacidade criativa e o desenvolvimento matemático contido no domínio da técnica, repleta de relações de quantidade e proporção. Fonte: mundociencia.com.br Conceito complementado pelas idéias do holandês Baruch Espinosa, por meio da transposição de seu pensamento por Goethe, segundo o qual a arte imita a natureza, mas também cria o novo. ESTÉTICA 12 Neste sentido, a estética pode ser definida como ciência, pois sistematiza o conhecimento criado a partir do entendimento da realidade contida na arte e em discussões conceituais inerentes ao juízo dos sentidos. 1.5 Filosofia da arte Como desdobramento da estética, Friedrich Wilhem Joseph Von Schelling, representante do idealismo alemão, no século XIX, originou a filosofia da arte. O conhecimento filosófico e seu instrumental foi colocado a serviço da análise da arte, entendida como contemplação intelectual interna do universo, externalizado de modo simbólico. É neste sentido que Hegel pensou a arte como etapa necessária ao desenvolvimento da religião e espiritualidade, simbolizando o mundo em sentido lógico e histórico, revelando a verdade na forma de imagens nem sempre construídas pela razão. Porém, a arte ajudaria na racionalização do que a mente humana não consegue entender em um primeiro momento. Assim, a filosofia da arte decodifica o que o gênio natural do artista intuiu e transformou em arte, expressão do entendimento do mundo pelos sentidos.1 2 CONTEÚDO E ESTILO Forma e conteúdo na arte são inseparáveis, uma complementa e produz a outra. Quando o artista produz uma obra de arte, coloca nela a sua visão do mundo, sua maneira de pensar e de sentir. Esta maneira de ver as coisas, a espiritualidade do artista (não somente no sentido religioso, mas espiritualidade como a consciência do artista de sua época, de sua vida, de seus valores morais e religiosos) é que constitui o conteúdo da obra de arte. Isto não significa que a obra de arte necessariamente represente a figura do artista, mas sim que a figura do artista está presente no conteúdo, no significado dessa obra de arte. Cada artista é um ser humano distinto, com seus valores pessoais e seu modo de produzir arte é o modo de quem tem este tipo de valores, de maneira que, se seus 1 Texto de: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos. ESTÉTICA 13 valores pessoais fossem outros, produziria de outra forma, talvez até escolheria outros temas para abordar. Se algum valor pessoal mudar na vida do artista, esta mudança se refletirá na sua arte. O próprio fato de fazer arte se incorpora à espiritualidade do artista. A maneira como o artista dá forma a obra de arte é a expressão da sua espiritualidade, que por sua vez é única e inconfundível. Este traço pessoal único e inconfundível é que é o seu estilo. Determinados tipos de espiritualidade se identificam com determinados tipos de estilo. Tal identificação ocorre não só a nível pessoal no indivíduo do artista, mas também se verifica entre vários artistas de um mesmo período histórico. Um estilo somente se afirmar como tal quando descobre à sua maneira de formar. A espiritualidade constrói o estilo. Artistas de uma mesma época, que pensam de uma maneira correlata, formam estilos individuais, mas interligados entre si por este modo semelhante de pensar e estar no mundo frente ao período histórico em que vivem. No artista, a personalidade artística se funde com a sua própria identidade. A mesma personalidade que cria é a que enfrenta a vida. Este enfrentara vida vai acumulando experiências e estas experiências vão transformando a espiritualidade do artista. Neste processo seu estilo, aos poucos vai sendo conquistado. Na produção de uma obra de arte, a espiritualidade em primeiro lugar necessita de um estilo, bem como vice-versa. Nisso consiste o que o chamamos de expectativa. Esta expectativa também se manifesta quando de uma experiência estética, pois o nosso gosto procura na obra de arte a satisfação das expectativas criadas pela nossa própria espiritualidade. Isso pressupõe um juízo que é pessoal quando que por identificação com um determinado estilo se exprime uma ordem de preferência. O gosto se forma quando se toma por parâmetro os juízos de outras pessoas às quais se considera que tenham bom gosto. Este é o processo de construção sócio histórica do gosto. Assim, o gosto se torna algo universal e nos permite emitir juízos sobre o que é belo e o que não é. Porém, só podemos emitir juízos acerca de um objeto pessoalmente, de modo que este gosto universal se subjuga ao nosso gosto pessoal ou, em outros termos, se subjuga à nossa identificação com o objeto. Isto pode ser perigoso, pois podemos ESTÉTICA 14 considerar feio o que não corresponde as nossas expectativas. Isto nos obriga a um equilíbrio de juízo (bom senso). É este bom senso que nos faz ver em obras das quais não gostamos o seu valor intrínseco, como também o mudar do gosto pelo passar do tempo, nos abre novos horizontes sobre obras às quais não gostávamos anteriormente. Sempre buscamos na obra de arte a satisfação de uma expectativa criada pela nossa espiritualidade. O variar ao longo do tempo de nossos valores morais, místicos, de nossa forma de encarar e ver o mundo explica porque o gosto é histórico e muda com as transformações que os tempos trazem. Isto é válido a nível pessoal (mudanças de gosto experimentadas por uma pessoa durante as diferentes fases de sua vida) e a nível coletivo (a preferência por determinadas maneiras de formar características de certos períodos históricos). É papel do artista revelar na obra de arte a expectativa criada pelo espírito de seu tempo. Fonte: laparola.com.br Estilo é a espiritualidade do artista colocada na obra (ou em todas as suas obras) de arte e também pode ser a semelhança entre obras de arte de diferentes artistas de uma mesma época ou de épocas distintas. Isto pode explicar-se por terem sido as obras produzidas a partir de um modo semelhante de espiritualidade embutido no contexto histórico e social da época em que foram produzidas. No momento da produção de uma obra de arte, o artista coloca à sua maneira de estar no mundo. Na sua visão do mundo está embutido o se conhecimento da história humana, bem como da arte. ESTÉTICA 15 Esta sua bagagem de conhecimento da sua arte, não só a nível técnico, mas também a nível estético, o leva a identificar-se com certas obras produzidas por artistas que o precederam, de modo que o artista se vê consciente e inconscientemente propelido a reproduzir em suas obras características do estilo destes artistas explícitas ou implicitamente. Isto denota a adoção destas características como uma certa escola onde o artista busca a base para formar através do processo de tentativas, o seu estilo. Também é relevante o fato de que toda realização estimula a produção de imitações e que um modo de formar pode ser difundido por este processo, ligando vários autores de diversas épocas e procedências. Cada modo de formar contém em si um universo de possibilidades que podem ser continuadas e interpretadas das mais variadas maneiras. É claro que isto passa pelo crivo individual de cada artista que possui seu modo único e singular de formar. A única maneira de um artista definir seu estilo é produzindo. As primeiras obras de arte produzidas por qualquer artista ainda não são espiritualidade que descobriu e definiu um modo de formar, mas sim espiritualidade que se utiliza de um estilo ou modo de formar já existente. O processo pelo qual um artista define seu estilo é longo e requer muito trabalho. Durante este processo o artista vai amadurecendo passo a passo, de tentativa em tentativa, e a não ser que por alguma deficiência qualquer, seu modo de formar não consiga se estabelecer como estilo e permaneça ele na etapa de tentativa e busca, seu modo de formar se estabelecerá como seu próprio estilo único e inconfundível. 2.1 A Forma e o Conteúdo na Música O senso comum difundiu a ideia de que os sentimentos são o conteúdo da música e que sua função como arte é despertar estes sentimentos. Portanto, na música, o fator sentimento assumiria uma dupla utilidade, pois seria ao mesmo tempo conteúdo e função. Eduard Hanslick questiona esta ideia a partir de uma análise científica do que é o conteúdo da música. Os sentimentos não podem representar o conteúdo da música, pois estes são o resultado da contemplação estética desta. Os sentimentos são o efeito da forma e do conteúdo da música sobre quem a contempla. O conteúdo da música pode ser dado, assim como em qualquer outra arte, ESTÉTICA 16 como sendo a representação da espiritualidade do artista e seu significado, a mensagem subjetiva existente no contexto global da obra. A música utiliza-se do meio físico sonoro para transmitir sua mensagem. Este meio, não sendo constituído de palavras, mas sim de sons abstratos organizados no tempo não nos permite uma análise segura do seu conteúdo por não apresentar uma linguagem concreta, onde a convenção do significado dos símbolos desta linguagem aponte uma sequência lógica de argumentos. A música tem o poder de nos remeter a determinados estados de espírito derivados da percepção dos sons musicais. Mas isto não é exclusividade da música e aplica-se de maneira geral a todas as artes. Também uma pintura nos suscita sentimentos ante a sua contemplação ou uma poesia ou uma escultura. O sentimento como sendo o conteúdo da música, por muito tempo preencheu o vazio de não termos uma resposta concreta acerca do que é conteúdo na música instrumental. Os formalistas diriam que averiguar sobre a existência ou não de um conteúdo social na música não era relevante. O ponto de partida da criação musical para eles era a música na sua essência formal. Os efeitos sonoros possíveis em um determinado instrumento. A maneira da disposição dos sons na melodia, a riqueza harmônica da distribuição dos acordes, segundo seu ponto de vista falariam por si. Mas na música, como em qualquer outra arte, forma e conteúdo não são duas coisas distintas, mas sim duas faces complementares de uma mesma moeda e assim como qualquer outro artista, no momento da criação musical, o músico, além do domínio da forma inerente a sua arte, também expressa a sua espiritualidade, não no sentido metafísico, mas no sentido adotado por Pareyson de espiritualidade como sendo a consciência do artista de sua época, de seus valores religiosos e morais. Se então, no momento da criação musical, o artista inclui na sua música a sua visão do mundo, subentende-se que queira dizer algo mais do que simplesmente expressar o seu conhecimento da técnica musical. Citando o exemplo de Beethoven, é acertado o que nos diz Fischer a respeito do caráter político da Eroica. A influência do contexto histórico em que foi produzida, se não explica totalmente o caráter da obra, é extremamente importante para a compreensão da personalidade de Beethoven, de suas posições frente aos acontecimentos de uma época revolucionária. Estas atitudes frente aos fatos estão implícitas na obra musical ESTÉTICA 17 por fazerem parte da espiritualidade do artista e é esta, a espiritualidade, o conteúdo de qualquer obra de arte, e, por conseguinte, da música. Tanto a análise formalista quanto a conteudística da música pecam em não a vêscomo um todo composto de forma e de conteúdo. Stravinsky afirma que a música suscita não a um sentimento específico, mas sim um sentimento genérico ou em abstrato. Mas, retornando ainda ao exemplo de Beethoven, Fischer refuta este argumento ressaltando que o sentimento de alegria evocada pelo coral da Nona Sinfonia, não é a mesma alegria proveniente da colheita farta, ou do nascimento de um filho. É uma alegria carregada da atmosfera da superação das contradições do sistema. Não é, portanto, uma alegria genérica. Fonte: escoladefilosofia.org O conteúdo da música, por ser expresso de uma maneira abstrata, pode utilizar- se da forma para dar o seu recado, porém, ainda assim está subjugado a espiritualidade do artista. Por serem forma e conteúdo, dois fatores interligados na manifestação musical, uma inovação da forma só pode subentender uma nova concepção de espírito frente aos acontecimentos. Um exemplo claro disto é o da música medieval, que só admitia a voz como instrumento sagrado e o seu conteúdo era sempre o mesmo. O ser humano como pecador deveria temer a Deus e se renegar a sua insignificância perante a obra divina. No renascimento, a música instrumental volta a desenvolver-se e até mesmo a ser aceita pela Igreja. ESTÉTICA 18 Esta mudança na forma (vocal para instrumental, monofônica para polifônica), se deve a uma mudança de pensamento, e, por conseguinte, de espírito, que foi o resgate do humanismo pelos renascentistas. Isto nos leva a concluir que o conteúdo da música não é originário da ausência do homem, porque quem produz a música é um indivíduo que participa do contexto histórico. Ainda, segundo Fischer , é necessário fazer-se uma diferenciação entre a música cujo único objetivo é o de criar uma mentalidade ou uma atmosfera uniforme, e este é o caso das marchas militares e da música de igreja, seja a da Idade Média ou a música Gospel americana do sec. XX, da música dos salões de dança profana da idade média ao Dance Music deste final de século, entre outras, e a música cujo significado esteja na expressão de sentimentos, idéias, experiências, enfim, expressão da espiritualidade do artista, visto que o até agora pressuposto somente é válido à segunda espécie de manifestação musical. A música sacra da idade média, ou a música militar possuem um caráter objetivo que por si só representa o seu conteúdo. Na concepção da música sacra da Idade Média, a forma não era tão relevante quanto a sua utilidade. Não se esperava desta música que fosse bela, apenas que cumprisse sua função como elemento importante na imposição de uma mentalidade submissa coletiva. Mas o que representa afinal a música? - Ela, como qualquer outra arte representa o belo, na música, explicado por Hanslick como sendo a fantasia do artista transformada em sons musicais por este e captada pelo ouvinte, ou contemplador da obra como mensagem desta. Em busca da representação ideal desta fantasia, o artista busca o aperfeiçoamento da forma e é nela, na forma que está a beleza da música.2 3 ARTE A Arte (do latim “Ars” que significa técnica ou habilidade) é uma manifestação humana de ordem comunicativa muito antiga. Ela possui um caráter estético e está intimamente relacionada com as sensações e emoções, por exemplo, a pintura, a dança, a música, o cinema, a literatura, a arquitetura. 2 Texto de: Gilberto André Borges. Extraído: www.musicaeeducacao.mus.br ESTÉTICA 19 Segundo o poeta brasileiro Ferreira Gullar: “ A Arte existe porque a vida não basta”. De acordo com sua reflexão, podemos compreender a necessidade humana de criar e/ou sentir a arte. Note, portanto, que a arte tem uma importante função social na medida que expõe características históricas e culturais de determinada sociedade, tornando-se um reflexo da essência humana. Para o filósofo grego Aristóteles a arte era uma imitação da realidade. Esse conceito, mais tarde, foi duramente refutado por diversas correntes artísticas que compreendiam que a arte não era somente baseada na imitação da realidade, e sim, na criação. Para um dos mais proeminentes artistas do período renascentista, Leonardo Da Vinci, “A Arte era coisa mental”. De tal modo, o conceito de Arte sempre foi muito discutido e durante a Idade Média havia duas vertentes sobre ela: • As artes manuais (ou mecânicas); • As artes liberais (ou intelectual). A primeira era considerada inferior à segunda, pois para muitos estudiosos, a arte somente era criada a partir do intelecto. Atualmente, a questão está mais desenvolvida, no entanto, o trabalho manual, ainda é, muitas vezes, subjugado pelo trabalho intelectual. Vale lembrar que os dois tipos de trabalhos são mentais ao mesmo tempo que partilham a criação artística. Se pensarmos no artesão e no artista intuímos que ambos fazem arte, entretanto, o primeiro é, em grande parte, considerado um indivíduo que produz uma “arte menor” em relação ao outro. Essa analogia da "arte erudita" e da "arte popular" permanece até os dias de hoje, sendo pauta de discussão de muitos estudiosos. Por fim, sobre o conceito de "Arte", uma coisa é certa: ela existe em todas as culturas, e sua definição foi e continua discutida incansavelmente. https://www.todamateria.com.br/ferreira-gullar/ https://www.todamateria.com.br/ferreira-gullar/ https://www.todamateria.com.br/ferreira-gullar/ ESTÉTICA 20 Fonte: blogartecedvf.blogspot.com 3.1 História da Arte A história da arte é um ramo da ciência que estuda os processos artísticos dentro do contexto em que foram realizados. Assim, com o intuito de facilitar os estudos, a arte está dividida em períodos, a saber: • Arte Pré-Histórica: período anterior a 3000 a.C., por exemplo, a arte rupestre. • Arte Antiga: de 3000 a.C. até 1000 a.C., por exemplo a arte egípcia. • Arte Clássica: de 1000 a.C. a 300 d.C., por exemplo a arte grega e romana. • Arte Medieval: de 300 a 1350, por exemplo, a arte gótica. • Arte Moderna: 1350 a 1850, por exemplo, a arte neoclássica. • Arte Contemporânea: de 1850 aos dias atuais, por exemplo, a arte conceitual. Arte Rupestre A arte rupestre representa uma das mais antigas manifestações artísticas que surgiu a milhões de anos no contexto da pré-história. São desenhos ou pinturas, os quais foram produzidos, sobretudo, em cavernas, por diversos povos antigos. Nesse sentido, podemos refletir sobre a necessidade humana de se expressar, expor suas ideias, uma vez que por meio do fazer artístico o homem libera suas emoções. Antigamente, o artista era considerado um ser especial, enviado por Deus e que possuía grande poder. Representava, assim, um intermediário do mundo espiritual e material. Arte Sacra A Arte Sacra representa o conjunto de obras que possuem como temática principal a religião. https://www.todamateria.com.br/arte-medieval/ https://www.todamateria.com.br/arte-medieval/ https://www.todamateria.com.br/arte-medieval/ ESTÉTICA 21 Foi muito explorada antes do período do Renascimento (na Idade Antiga, Clássica e Medieval), sendo umas das principais formas de expressão durante séculos, por exemplo, as ilustrações, estátuas de santos e a arquitetura sacra encontrada em diversas igrejas ou templos. Arte Barroca Com o advento do Renascimento e as significativas mudanças que ocorreram na Europa no século XV (cientificismo, contrarreforma, surgimento da burguesia, antropocentrismo e humanismo), o artista barroco encontra na arte o local necessário para expor a confusão causada pela mudança de paradigmas. Foi assim que a arte barroca, se distanciou, em partes, da Arte Sacra, criando uma arte mais erótica, profana, cotidiana e, portanto, não tanto idealizada. Arte Moderna A arte moderna surge no contexto da Revolução Industrial a partir do século XVIII.Na arte moderna, o conceito sobre arte amplia-se um pouco e chega até a ser considerada uma "antiarte", ou seja, ela não se preocupada com o teor estético e sim com a mensagem a ser transmitida. No Brasil, o marco de introdução da arte moderna foi a “Semana de Arte Moderna” de 1922. Nesse sentido podemos pensar que a arte tem uma função importante, além da catarse (purgação de sensações). Ou seja, uma obra artística pode conter um teor ideológico e político envolvido, o que leva o público a refletir sobre o conceito e não simplesmente visualizar as obras. Arte Abstrata Uma das características das artes visuais do período moderno foi o surgimento da corrente artística denominada Abstracionismo. De tal modo, a arte abstrata propõe uma obra visual não representacional, ou seja, ela prioriza as formas abstratas em detrimento de figuras que fazem parte da realidade. Essa corrente surgiu no contexto do Modernismo, mediante a liberdade de expressão e refutação ao academicismo, e está relacionada com os movimentos vanguardistas. Arte Contemporânea ESTÉTICA 22 A arte contemporânea ou arte pós-moderna surgiu no século XX, embora muitos estudiosos preferem indicar sua origem em finais do século XIX. A arte contemporânea abrange um conceito de arte mais aberto, sendo pautado, portanto, na originalidade, experimentações artísticas e técnicas inovadoras. Assim, ela admite diversas modalidades e linguagens artísticas bem como a mistura entre elas. Hoje, fala-se em arte performática, arte multimídia, arte étnica, dentre outros. Da mesma maneira que a arte moderna, a arte contemporânea foca na ideia a ser transmitida em detrimento do valor estético da obra. Sua principal função é fazer as pessoas pensarem, não somente com obras que abrigam conceitos estéticos de harmonia, de beleza, mas a partir de obras que muitas vezes extrapolam os limites da consciência humana. A ideia é que pelo choque estético, aconteça a fruição das obras de arte, através de processos catárticos. Artes Visuais Importante conhecer o conceito de Artes Visuais, uma vez que tem gerado muita confusão. Algumas pessoas acreditam que as artes visuais incluem somente as pinturas. No entanto, o conceito de artes visuais é muito mais amplo e está relacionado com o próprio nome “visual”. Ou seja, representa aquela arte que conseguimos ver: pintura, escultura, arquitetura, teatro, dança, fotografia, dentre outras. 3.2 Tipos de Artes Sabemos, que o conceito de arte foi se expandindo com o passar dos anos, o qual acompanhou o desenvolvimento dos homens e da sociedade. ESTÉTICA 23 Fonte: desenhodg.com De tal modo, hoje temos uma infinidade de modalidades artísticas expressas por diversas linguagens (visual, auditiva, tátil, dentre outros) que surgiram, por exemplo, com o advento da informática. Assim, anteriormente, a arte era dividida somente em 6 vertentes: 1. Música 2. Dança 3. Pintura 4. Escultura/Arquitetura 5. Teatro 6. Literatura No entanto, com o desenvolvimento da sociedade, outros tipos de artes foram incluídos à lista: • Cinema • Fotografia • História em Quadrinhos • Vídeo-Arte ESTÉTICA 24 • Arte Digital ou Multimídia3 4 A ARTE NA VIDA DO HOMEM 4.1 A função social da arte A arte por meio de suas representações procura compreender as características próprias de um momento da sociedade e é uma forma de manifestação social. O artista usa a obra para relatar o seu momento. Fischer (1987) apresenta alguns questionamentos acerca do tema, como: Será a arte apenas um substituto? Não expressará ela também uma relação mais profunda entre o homem e o mundo? E naturalmente, poderá a função da arte ser resumida em uma única fórmula? Não satisfará ela diversas e variadas necessidades? E, se, observarmos as origens da arte, chegarmos a conhecer sua função inicial, não verificaremos também que essa função inicial se modificou e que novas funções passaram a existir? Percebe-se que a função da arte como também seu modo e os meios de representação variam conforme a época, segundo Buoro (2000, p. 23) “Em cada momento específico e em cada cultura, o homem tenta satisfazer suas necessidades socioculturais também por meio de sua vontade/necessidade de arte”. De acordo com Fischer (1987, p.51), “[…] o artista continua sendo o porta voz da sociedade. ” Ainda nos dias atuais o artista tem uma função social indiscutível: ser um representante da sociedade, relatar em suas obras a realidade pela qual ela passa. Fischer (1987, p. 51-52) ainda manifesta “A tarefa do artista é expor ao seu público a significação profunda dos acontecimentos, fazendo-o compreender claramente a necessidade e as relações essenciais entre o homem e a natureza e entre o homem e a sociedade”. 3 Texto de: Daniela Diana. Extraído: www.todamateria.com.br ESTÉTICA 25 Fonte: funcaosocialdaarte.blogspot.com Segundo Coli (1989, p. 27) “Assim, um mesmo criador pode desenvolver em sua produção tendências diferentes, que, se sucedem no tempo, constituem as “fases” distintas do artista. ” Um mesmo artista pode viver em diversas fases; isso devido à rápida transformação pela qual a sociedade passa, frente ao acelerado crescimento tecnológico e às transformações sociais. Coli (1989, p. 64) ainda destaca “Ora, é importante ter em mente que a ideia de arte não é própria a todas as culturas e que a nossa possui uma maneira muito específica de concebê-la. ” Dessa forma, o artista não poderá exigir que todos compreendam a sua obra. Esta será mais facilmente compreendida no meio social na qual está inserida, já outras culturas poderão ter dificuldades em compreendê-la. Na atualidade, em meio a inúmeras tecnologias existentes, segundo Fischer (1987, p. 231), “[…] uma das grandes funções da arte numa época de imenso poder mecânico é a de mostrar que existem decisões livres, que o homem é capaz de criar situações de que precisa, as situações para as quais se inclina a sua vontade. ” No mundo globalizado, o homem está passando por um processo de transformação, mudando hábitos, conceitos, pensamentos, porém é indispensável que aproveite a liberdade para se expressar, e o artista, sendo livre, deve usar da liberdade para desempenhar o seu papel social. Para Fischer (1987), a arte é a própria realidade social, é a representação do momento, e ao menos que ela queira ser infiel à sua função social, precisa mostrar o mundo como passível de ser mudado, e fazer a sua função para ajudar a mudá-lo A sociedade precisa do artista, e ele deve ser fiel e consciente de sua função social. ESTÉTICA 26 Cabe a ele, educar a sociedade para que ela possa fazer um desfrute e uma compreensão apropriada da arte.4 4.2 O papel da arte na sociedade Muito pode ser descoberto de um povo ou período pelos artefatos encontrados. O fazer artístico expressa muito sobre o indivíduo, que está inserido no coletivo e, portanto, influencia e é influenciado pelo meio em que vive. Por ter essa capacidade de acessar conhecimentos e sentimentos profundos, a arte pode ser usada de diferentes formas na sociedade. A arte em diferentes áreas da vida Expressão do ser humano Talvez essa seja a função mais conhecida da arte, ou a mais aceita. São os quadros que expressam as angústias pessoais do autor, as poesias que falam da alma do artista, o graffiti no muro que reage a movimentos políticos etc. É por meio da arte que o ser humano consegue dividir suas experiências e compartilhar sentimentos com todos aqueles que estiverem disponíveis, dispostos e sintonizados. Dessa forma, a arte é livre e não pode ser imposta. É preciso estar aberto para receber e sentir o seu significado, que também será pessoal e íntimo. Tanto o artista que cria a obra quanto a audiência quea aprecia participam do processo de expressão do ser humano. A construção dos significados relaciona-se com a essência de cada um e, portanto, será exclusiva de cada indivíduo que faz e recebe. Esse espaço de criação e experimentação é intrínseco de todos, sendo assim, todos são artistas, mesmo que não percebam. Ao escrever uma carta, falar sobre seus sentimentos ou presentear um amigo com algo feito por suas próprias mãos, a arte é usada como expressão íntima e única. Arteterapia A arte também pode ser uma ferramenta de terapia, cura, autoconhecimento e análise. Muitos elementos podem ser usados, como desenhos, música, teatro e artesanato, para ajudar uma pessoa a acessar sentimentos, memórias e 4 Texto de: Rosane Kloh Biesdorf e Marli Ferreira Wandscheer. Extraído: www.revistas.ufg.br ESTÉTICA 27 conhecimentos, trazendo à tona bloqueios, traumas e questões que precisam ser analisadas e trabalhadas. Comunicação Transpondo barreiras linguísticas, a arte tem a capacidade de comunicar sem palavras. Diferentes grupos e povos podem transmitir uma série de informações por meio da arte, criando uma conexão profunda e presente, que muitas vezes não é possível por meio apenas das palavras. Educação com arte Embora o modelo de formação acadêmico seja ainda o mais reconhecido e aceito, outras formas de aprendizado estão ganhando destaque como forma complementar e igualmente importante. As pessoas têm perfis e formas de assimilar conteúdos diferentes: alguns são mais visuais, outros absorvem mais informações pela audição, outros precisam escrever e esquematizar. A arte é uma forma de abrir o leque e democratizar a educação, para que pessoas com esses tipos diferentes de aprendizados possam ser contemplados também. Sustentabilidade A arte tem um papel importante na sociedade como forma de ressignificar e reciclar objetos que seriam descartados, reduzindo assim o acúmulo de lixo que temos no nosso planeta. O artesanato é a forma mais comum de transformar e criar com resíduos descartados. A arte está muito ligada à essência humana, à força criadora que move e conecta as pessoas. Se a sociedade é feita de pessoas, logo, ela é feita de arte.5 4.3 Arte como Formatividade A teoria da formatividade admite uma concepção dinâmica de recepção e de interpretação da obra de arte, na ideia de que tais processos se assemelham a um 5 Texto extraído: www.revolucaoartesanal.com.br ESTÉTICA 28 organismo em transformação. Voltando-se para a ênfase no fazer, esta tendência admite que a arte é produção não só manual e fabril, mas também espiritual. A essência da arte não se resume a um simples fazer, nem à execução de qualquer coisa já idealizada. Ela é produção e invenção, "... é um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer". Fonte: alissongebrimkrasota.blogspot.com A ideia de arte como pura formatividade incorpora ao fazer a noção de formar por formar, na perspectiva de que "... o pensamento e o ato se acham subordinados ao fim específico [dessa] formação". Nesse pressuposto de formar "... obras que são apenas formas ...", mostra-se evidente a qualidade de a obra dar-se a aparecer desinteressadamente como realidade física e existência material que, de todo jeito, necessita da intenção artística para então se transformar. Desta maneira, uma obra de arte (como fim em si mesma) evidenciasse como uma unidade indivisível que está sempre a redefinir-se pela tensão e adequação entre o seu conteúdo, a sua matéria e o seu estilo (como causa formal, material e operativa). Se assim pudermos referir, a obra se mostraria por meio da articulação e complementaridade entre as atividades do conhecer, do exprimir e do fazer, atividades ESTÉTICA 29 estas inerentes a todo processo artístico, e pressupostas na ideia de arte enquanto forma (atividade). A obra seria então o "...resultado de um processo, em que a espiritualidade procura o próprio estilo e se torna esse estilo, a intenção formativa escolhe a sua matéria e a ela se incorpora, e o modo de formar se define formando a matéria". Assim, no contexto das funções da linguagem de Jakobson, tal conceito, o de arte como forma em atividade, sugere que a obra se mostra como produto da articulação entre as funções cognitiva, emotiva e poética. Outrossim, ao ser considerada "... não como o fechamento de uma realidade estática e imóvel, mas como a abertura de um infinito que se fez inteiro recolhendose em uma forma", a obra impõe-se como lei do processo que a produz e do processo que a interpreta, pois resume em si mesma os procedimentos que implicam a sua completude, mas que ao mesmo tempo distinguem-se como princípio de novas transformações. A leitura de uma dada obra implica reconstruí-la e recriá-la. O leitor, ao executar, interpretar e avaliar a obra, apodera-se do modo como ela foi feita, já que a leitura é efetuada pela restituição ou recuperação da poética a ela inerente. O leitor capta o que já existe na obra, devendo "... reconhecer, naquilo que ela é, aquilo que ela quis ser". O acesso à obra é dado pelo ato de leitura que se efetiva pelas suas execuções, interpretações e avaliações. E a partir daí ela pode ser reconstruída na plenitude de sua realidade sensível, alcançando-se afinal o momento da contemplação. É pela dialética entre forma formada e forma formante que a obra se mantém na sua inteireza, a um só tempo em que revela o seu significado espiritual e o seu valor artístico, abrindo-se a múltiplas leituras. É como objeto físico e perceptual que a obra se destaca como elo entre produção e recepção. A sua fruição, que presume o processo de recepção estética, desenvolve-se a partir das recodificações da proposta do artista. Tal procedimento produtivo e formativo tende a recuperar ou adotar o ritmo da obra, que só se exibe para aquele que sabe colhê-la no seu próprio movimento, devendo o leitor "... circular através da lei de coerência que a mantém unida numa estrutura perfeita e numa totalidade indivisível". A noção de arte como formatividade admite a contemplação não como um ato passivo. Apesar de a obra manifestar-se como uma forma acabada e "fechada" "...em ESTÉTICA 30 sua perfeição de organismo perfeitamente calibrado", assim decorrente em razão da sua produção, ela é também aberta, passível a diferentes interpretações, sem que venha a alterar-se em sua irreprodutível singularidade. Como acrescentaria Eco, a um só tempo a obra se mostra como uma teia de efeitos comunicativos originariamente proposta pelo artista; pode ser infinitamente atualizada, incorporando a cultura, os gostos, as tendências individuais de cada receptor. Assim sendo, a obra como forma formada e acabada pelo seu ato de produção só exerce a sua função estética quando percebida pelo receptor, pois a cada nova experiência é atualizada em seu potencial singular, mostrando-se também como uma forma aberta a variadas interpretações. Ela absorve, então, uma infinidade de leituras, decorrentes de diferentes e específicas execuções. A noção de arte como formatividade salienta essa condição essencial de toda obra de arte, aplicável a qualquer fenômeno artístico, que é ser virtualmente aberta a infinitas leituras e, consequentemente, mostrar-se de acordo com as vivências pessoais de cada leitor. Cada nova execução é diferente da anterior, e o fundamento que a sustenta é determinado tanto pela natureza da obra como pela singularidade da pessoa que a interpreta. Neste sentido, Pareyson afirma que "a infinidade e a diversidade das execuções não comprometem em nada a identidade e a imutabilidade da obra". Esta afirmação evidencia a prerrogativa estética de toda obra de arte absorver uma multiplicidadede interpretações, disponibilizando-se para o ato de contemplação, mesmo que, sob o ponto de vista poético, não exista intencionalmente um programa operacional propondo a inclusão do espectador como agente produtivo da execução da obra. Neste pressuposto, poderíamos admitir que qualquer que seja a obra, ela se mostra aberta ao receptor, pois a meta do executante é justamente "... captar e interpretar a obra de sorte que a sua execução seja a própria obra em sua plena realidade". Dessa maneira, cada nova execução implica uma nova interpretação que, por sua vez, "... são, para cada um, a própria obra". Assegura-se, contudo, que as várias interpretações não se excluem entre si, e que são definitivas sem se negarem umas às outras. ESTÉTICA 31 Fonte: repositorio.unesp.br Deste modo, a obra vive somente de suas próprias interpretações, mantendose igual a si mesma, pois na obra de arte a completude significa infinidade, e infinidade significa inexauribilidade. Esses processos de interpretação demandam um esforço de penetração na obra que se viabiliza pela natureza de ela mostrar-se como forma. É esta sua condição que lhe permite, por um lado, estimular e sugerir a interpretação, pois ao mesmo tempo em que a obra se põe aberta, comunicativa e interpretável, por outro lado, ela busca condição para ser interpretada, abrindo-se somente àquele que consegue captá-la. De qualquer sorte, cabe destacar, mesmo que pareça paradoxal, que, sob o plano da estética, é o acabamento da obra que assinala o início do trabalho do leitor assim como é o caráter definitivo da forma que força e estimula a interpretação. A abertura da obra a uma multiplicidade de interpretações - que decorre do caráter de definitividade e completeza da obra enquanto forma - não se confunde com a problemática do inacabamento da obra em função da poética proposta. A ideia de que "cada fruição é, assim, uma interpretação e uma execução, pois em cada fruição a obra revive numa perspectiva original", evidencia um ciclo de alimentação recíproco entre o polo da produção e o da recepção. Este modo não passivo de consumo da obra produz sempre variadas interpretações que, por sua vez, fomentam novos insumos, novas descobertas que então realimentam esse processo de recepção estética. ESTÉTICA 32 4.4 Arte como comunicação e linguagem O fato estético não é exclusivamente efetivado a partir da fonte emissora. As possíveis interpretações se concretizam por meio da relação entre artista e receptor, mediada por diferentes meios e estabelecida pela própria obra enquanto mensagem. Independente da prática artística adotada, o criador, ao utilizar códigos diversos, envia uma dada mensagem que, ao ser transmitida por meio de um canal, é decodificada pelo receptor. Com base nessa dinâmica, evidencia-se um espaço de diálogo entre criador, obra e receptor. Ao investigar as possibilidades de produção de sentido no contexto desse espaço de troca entre criador e receptor, a estética da comunicação, constituída em 1983 por Mario Costa e Fred Forest, propõe-se sobretudo a refletir filosoficamente sobre a condição antropológica e as consequentes formas de experiência estética inerentes às novas tecnologias da comunicação. Ao recuperar a proposta da avant-garde de que novas técnicas transformam o regime e as configurações do imaginário, remetendo à elaboração de modelos de comportamento adaptados às condições existenciais emergentes, a estética da comunicação pretende dar continuidade ao trabalho das vanguardas, no intuito de utilizar os instrumentos atuais da comunicação (telefone, televisão, redes telemáticas, satélites etc.) para manifestar uma nova sensibilidade e provocar experiências estéticas de uma nova espécie. Esta teoria pressupõe uma mudança de foco de atuação: passa-se da produção de objetos para invenção de modelos e sistemas. O artista propõe seus modelos como alternativa, seus próprios valores como ética, perseguindo sua produção simbólica por meio de ações transgressoras. Estas atividades procuram revelar a mudança emocional a ser liberada pela experiência da presença e ação à distância, e também pelo senso de ubiquidade e simultaneidade. Ao tomar como objeto a própria comunicação, o artista age sobre o espaço da informação utilizando-se da capacidade de metacomunicação, ou seja, de "... communiquer à propos de la communication". É um "travail de réflexion sur la communication mais aussi pratique d'action à l'intérieur et sur ce camp". A estética da comunicação não só propõe a troca de objeto, mas também a mudança de meios. O artista reintroduz, dentro de sua função antropológica original, a noção de estética como sistemas de signos, de símbolos e de ações. ESTÉTICA 33 De acordo com a estética da comunicação, a busca por uma nova sensibilidade estética está baseada em dez princípios, assim explicitados por Costa: 1) a estética da comunicação é uma estética de eventos; não se identifica com as questões formais e o acontecimento mostra-se como fluxo espaço temporal, destacando a noção de interactive living process; 2) tecnicamente, o evento é alcançado por meio de aparelhos que possibilitam a comunicação entre locais geograficamente distintos; o evento existe não só no aqui e agora, mas se expande sem limites no espaço-tempo; 3) não importa o conteúdo que está sendo transmitido, mas sim a rede de trocas que está sendo ativada e as condições funcionais dessa troca; neste sentido, todo evento é um exercício de metacomunicação; 4) o evento acontece em tempo real; 5) o evento não é a mobilização de conceitos, é mais uma mobilização de energia; 6) o evento é sempre o resultado de duas noções temporais de interação: o presente e a simultaneidade; estas duas noções são postas em circuito através da mediação tecnológica que as une e dissolve, criando uma experiência fluida do tempo; 7) o evento utiliza o espaço-tempo para criar novos equilíbrios sensoriais; 8) o evento ativa uma nova fenomenologia da presença; esta presença é puramente qualitativa e está baseada numa extensão planetária tecnológica do sistema nervoso; 9) o evento não pretende evocar o sentimento do belo e sim o do sublime, aquilo que é absolutamente grande; 10) a estética da comunicação oferece padrões culturais que garantem a "domesticação do sublime", assegurando possibilidades de produção e fruição desse sublime. ESTÉTICA 34 Fonte: portugues.com.br Na busca por essa nova sensibilidade, rompe-se com categorias estéticas tradicionais (o belo, a forma, o gênio criador etc.), cabendo ao artista produzir sentido ao propor e potencializar as estratégias de comunicação, ficando com o receptor o papel de atualizá-las. Com a estética da comunicação, de acordo com Costa, a noção de sublime pertence à arte. Ao ser "tornado objeto" (pela disposição que nasce não da forma do objeto, mas da relação com a situação-objeto), o sublime passa a ser oferecido à contemplação, sendo consumido como uma nova forma de composição do espírito. Neste caso, as tecnologias comunicacionais "capturam" o "absolutamente grande" da natureza, e o restituem "... ofertando-o como possibilidade de fruição socializada e controlada". O que se distingue, na esteira de Kant, é justamente a noção de que, aqui, a sensível não é apresentada sob o aspecto de formas, mas na ideia do sublime matemático (tecnológico), referido como "...aquilo que é constituído pela experiência do objeto que não cabe nos parâmetros antropomórficos". Em suma, o que se destaca é a presença imediata de alguma coisa que se faz acontecimento informe, dado em razão da simultaneidade entre atração e repulsão, e assim diferenciado por entre sentimentos contrastantes. ESTÉTICA 35 A proposta dos eventos, que se estruturam com base neste fundamento, instaura-sena ideia de perverter, desconstruir parâmetros artísticos tradicionais. Efetivados por meio das funções de transmissão e de difusão, estes acontecimentos artísticos procuram utilizar a parafernália tecnológica na proposta de construção de um novo tipo de realidade sensível. O artista, agora como "arquiteto de informação", lança mão de experiências em que o receptor inserido em um espaço de comunicação social torna-se agente produtivo do processo de leitura. Este último efetiva as práticas propostas pelo artista, que se caracterizam pelo compartilhamento da informação, por não priorizarem os conteúdos, mas sim as possibilidades de estabelecimento de relações. Cada receptor passa a ser então o ator (tanto individual quanto coletivo) que articula os sistemas de símbolos, signos e ações, mantenedores das trocas possíveis. Com base no conceito de arte como comunicação, consolida-se a ideia de a obra se firmar na troca entre os distintos sujeitos, e os possíveis sentidos são construídos a partir de relações descentralizadas, estabelecidas na supremacia do processo e do acontecimento como elementos que asseguram aos receptores a possibilidade de recriar imaginários.6 4.5 Arte e natureza A arte contribui com a natureza quando por meio de uma pintura, ilustração botânica ou até um objeto de artesanato, tem-se a sensação de que tudo no meio ambiente pode ser reutilizado sem que nada seja prejudicado. Pintores e ilustradores botânicos procuram retratar a natureza de forma criativa, educativa e que possa levar ao público uma visão simples, porém bonita, das riquezas do meio ambiente. Já os artistas plásticos que trabalham com produtos recicláveis mostram que é possível fazer artesanato utilizando como matéria-prima, produtos descartáveis. Esse tipo de atitude ecologicamente correta chama a atenção de indústrias e fábricas para que se interessem e passem a investir, produzir e distribuir produtos de 6 Texto de: Monica Tavares. Extraído: www.scielo.br ESTÉTICA 36 origem reciclada, o que é muito bom! Nesse ciclo verde, todos ganham: meio ambiente, comércio, consumidor e a criatividade artística. No artesanato, o material utilizado é quase sempre reciclável, como é o caso do trabalho feito pelas sócias Regina M. de Paula Cipriano e Silvana Rondelli, do bar Café com Arte, de Fernando de Noronha, que reúnem no mesmo lugar diversão e artesanato. Elas utilizam diversos tipos de material que recolhem nas praias, usinas de reciclagem e casas dos próprios artesãos. Assim, garrafas pet se transformam em flores, cortinas, vasos, bonecas e incensários. Dos pratos de isopor criam-se quadros, bandejas e botons. Das tábuas de barcos recolhidas nas praias fazem-se cabides e máscaras. De simples caixas de papelão nascem porta-guardanapos, e dos vidros surgem os potes descorados. Tudo começou há 2 anos com uma oficina de papel mâché, quando Regina, idealizadora do projeto, verificou a necessidade de se criar um artesanato com características da ilha, porque até então só havia o “industrianato”. As peças mais vendidas são as bonecas e os porta-guardanapos. O preço varia de 15 a 25 reais de acordo com o trabalho de produção. “A vantagem está no custo zero da matéria-prima e na divulgação das coisas naturais da ilha, sem que se estrague ou prejudique a natureza, é claro”, conta Silvana. No caso da ilustração botânica, a arte está mais para um caráter de estudo científico do que para uma simples pintura. Além de ser usada como apoio em livros e teses, é também utilizada na divulgação de espécies para o público aprender e apreciar. Dulce Nascimento, ilustradora botânica, formada pela Escola de Belas Artes – UFRJ, com especialização no Jardim Botânico de Londres, Kew Gardens, orienta, desenvolve e ensina técnicas de coleta e improviso de trabalho em campo para seus alunos na Oficina de Ilustração Botânica na Casa de Cultura Laura Alvin em Ipanema, Rio de Janeiro. Dulce que já participou de mais de 49 exposições no Brasil, tem obras em muitos países, inclusive duas no Palácio de Buckingham, oferecidas pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso à Rainha Elizabeth II, em visita à Inglaterra em 1997, e também no Palácio Real de Madri, na Espanha. Ela ainda organiza uma vez por ano, viagem à Amazônia com alunos, para ensinar desenho de natureza nas condições adversas da floresta, observando a ecologia do local. http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/pernambuco/fernando-de-noronha/ http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/pernambuco/fernando-de-noronha/ ESTÉTICA 37 Fonte: www.olhaqueinteressante.com.br Outro exemplo é a pintura naturalista, que consegue transmitir a riqueza de plantas e animais da floresta brasileira, além de embelezar muitas paredes. A artista Luísa Borges, que pinta há mais de vinte anos, tem como preferência retratar o mar, as flores e os animais. Segundo ela, esse tipo de arte costuma trazer coisas boas e sensação de paz. “Ninguém quer pintar animais e rios mortos ou plantas destruídas. Pinto a natureza viva para conscientizar que se a gente não tomar cuidado, essa beleza toda pode acabar. Quando você mata o ecossistema, impede que gerações futuras desfrutem de toda uma riqueza natural”. Outro artista naturalista, o pintor Eduardo Parentoni Brettas, de Juiz de Fora, retrata em sua obra pássaros e plantas em extinção. De acordo com ele, 60% do seu trabalho tem destino para outros países, e a maior parte dos que são encomendados aqui, são pedidos por empresas. “A vantagem desse trabalho, além da beleza, está em divulgar e alertar sobre espécies que correm grande perigo no meio ambiente”. Ele conta que certa vez pintou um animal em extinção e que o quadro chegou a mão de um fazendeiro. “O fazendeiro reconheceu o animal através da minha obra, e me ESTÉTICA 38 mostrou que na fazenda onde vivia existia exemplares vivos das espécies que pintei naquele do quadro, o que possibilitou o registro e acompanhamento do animal”. Pela técnica que o pintor utiliza, ainda é possível identificar onde cada animal vive, o tipo de alimento que come, um pouco da vegetação, a diferença sexual e a idade. Para Eduardo, a ideia principal é mostrar a responsabilidade que cada um, artista ou não, tem de perpetuar ou pelo menos conservar cada bicho e planta no seu lugar. “O Brasil é um país com cerca de 1700 aves diferentes, sem falar nas subespécies que somam 2500, e a principal ideia é que elas continuem nesse cenário”, completa. A criatividade pode ser de grande valia quando se percebe a possibilidade de ganhar dinheiro ajudando a natureza. Ser ecologicamente correto não é ser chato, nem radical. Há um equilíbrio entre todos seres que vivem no planeta terra. Vale lembrar que o meio ambiente pode ajudar não só artistas plásticos interessados em chamar a atenção para a preservação ambiental, mas também comunidades carentes que não tem de onde tirar seu sustento e que muitas vezes encontram um ramo de atividade alternativo para garantir a sobrevivência da família. Além do papel da cultura em preservar o meio ambiente, a sociedade também pode colaborar quando seleciona produtos que usa em casa, dando preferência aos que menos contaminam a natureza e dessa forma privilegiar empresas que investem na preservação ambiental. Criar condições para usufruir dos ambientes naturais e preserva-los é um ato de consciência, responsabilidade, educação ambiental e cultural de cada cidadão.7 4.6 A arte como meio de comunicação A arte é um poderoso meio de comunicação. São as cordas vocais que o artista preservou para desgastar todos os seus membros, desde os nervosos até aos motores, para dar forma e significado àquilo que produz. A partir desta construção, aparente contextualizada ou não, originou uma mensagem. O típico ditado que afirma que “uma imagem vale maisdo que mil palavras” assenta que nem uma luva naquele que capta a objetividade subjetiva da 7 Texto extraído: www.ecoviagem.com.br ESTÉTICA 39 criação artística. Apresenta-se uma dialética que converge aquele que fomenta o amor e o que ama. A arte tem o dom de, para além de emitir tanto quanto as palavras, arrecadar o sentimento. Leva-o a partir de si para todo o lugar. Ganha asas numa inspiração sem discriminação ou opressão. A arte chega ao mundo das mais diversas formas. É um distintivo cultural que caracteriza e formula aqueles que nascem nesta ou naquela comunidade. Influenciados pelas obras dos mais vários artistas, nasce esta forma de chegar ao outro. Uma forma mais simples, colorida, mas que, não obstante, dá também origem a ambiguidades. As interpretações são várias e inconstantes, originando uma paleta de visões diferenciadas. Umas mais racionais, outras mais emocionais. É esta variedade que é produzida pela arte e que a linguagem muitas vezes não consegue. O discurso escrito e falado não consegue chegar lá por si só. Precisa de atrair, de trazer para junto de si aquele que é o seu interlocutor. Mesmo que não ouça, vê e sente. O sentimento nunca foge. Deixa-se estar e agrada pela experiência que regala a sua vista. No entanto, e aquilo que fica para o foro interno, a arte é também meio que se expressa para o artista em si. É a forma que ele encontra para desbobinar tudo aquilo que sente. É um método que usa para se reencontrar e acertar aquilo que em si milita com as contas das representações. Dando contornos e cores às coisas que sente, talvez facilite aquilo que é o cruzamento dos mundos em que participa. Também o artista precisa de esclarecimento para conferir realidade ao que mais lhe lateja na sua personalidade artística. É a forma de dar forma para em si se formar. Completa a sua formação pessoal naquilo que consagra no que faz. É o passo final que se inicia na carreira do que pinta, do que esculpe, do que engenha, do que concebe, do que visualiza. Acima de tudo, naquele que se inspira e que sonha. O sentimento é o motor da razão, por muito que o contrário pareça estar confirmado e consolidado. ESTÉTICA 40 Fonte: nao-palavra.blogspot.com O que se repercute daquilo que o artista constrói é a empatia. Há muitos que se comovem, compreendendo aquilo que é expresso pela criação. Existe desde logo uma associação entre o criador e o apreciador, entre o artista de membros com o artista de mentes, dando largas à sua imaginação na construção de uma interpretação e na formalização de uma apreciação. Esta ligação nunca se quebra desde que é iniciada porque uma obra não se esquece. É das tais que se entranha no sentimento e que de lá não sai. É um dos elementos que faz parte de uma autêntica galeria de arte que se vai organizando no memorial de cada um. A expressão da arte não se limita àquilo que fica na tela ou na figura. A expressão artística fica armazenada também em todo o seu amante, em todo aquele que se declara sintonizado com a mensagem do artista. Tudo isso é comunicação. Um valiosíssimo meio de comunicação. Tudo isso é uma forma mais ou menos discreta de fazer passar a mensagem que o criador pretende. Também este é um orador, embora recorrendo ao símbolo da imagem na arte da sua retorica. A visão é despertada, assim como uma vontade visceral de dar uso ao tato. Embora nem sempre seja possível este toque, a emoção promovida por ambas as partes da criação artística engole por completo a vontade de sentir com a ponta dos dedos e a palma das mãos. O coração sente-se realizado. Quando isto acontece, pouco mais pode ser exigido. ESTÉTICA 41 É desfrutar de uma mensagem que é enviada num certo dia e que chega sem destino, muitas vezes de surpresa. Uma comunicação que fica e que ruma ao conforto do eterno.8 5 SOBRE A ARTE E A VIDA Um dos problemas que enfrentamos em relação à arte hoje é que precisamos entendê-la, mas isso só pode acontecer de um jeito diferente de como a entendíamos em outras épocas. Saber que cada época tem a sua arte, assim como cada tempo e cada espaço, não facilita muita coisa. É preciso levar em conta também a particularidade de cada pessoa que faz arte; daquela pessoa que, profissionalmente ou não, é, de algum modo, artista. Talvez a arte de tempos anteriores ao período modernista do século XX, seja até hoje evidente como arte para nós. Um quadro de Leonardo da Vinci, para citar um italiano muito conhecido e cuja obra ninguém se negaria a chamar de arte, nos oferecia referenciais de compreensão com os quais muitas vezes poderíamos pensar que tínhamos o mundo da arte nas mãos. Com base nesses referenciais entendíamos que a arte era boa se imitava bem a realidade em termos técnicos, se além de tudo, emocionava e, até mesmo, se agradava e, assim, de algum modo, entretinha. A arte da pintura tinha a função de nos iludir sobre a realidade. Depois, com o modernismo, as pessoas aprenderam a muito custo a não “entender” de arte, a aceitar sua ignorância como observadores. Alguns, mais felizes, aceitaram o enlouquecimento das formas. Compreenderam que uma figura como Picasso – para citar outro europeu, bem menos aceito que Da Vinci, mas a seu modo também reconhecido por sua linguagem genial – tinha feito uma revolução estética. Perceber que esta revolução estética é também política e ética já é uma ideia mais difícil de se ter, mas muitos também se deram conta disso. Por outro lado, para os menos preocupados, a arte passou a ser apenas uma espécie de loucura aceita. Ou um lugar para fazer loucuras sem maiores 8 Texto de: Lucas Brandão. Extraído: www.comunidadeculturaearte.com ESTÉTICA 42 consequências. Estavam enganados, pois a arte nunca é uma experiência banal para quem a realiza. A loucura da arte sempre foi a mais perigosa, porque ela podia mudar a sensibilidade das pessoas e assim ensinar um outro jeito de ver o mundo. Mudando a visão das coisas, um outro modo de agir no mundo era possível. Diga-se de passagem, que um jeito livre de viver a vida e de expressá-la nunca agrada aos que agem como donos de quaisquer poderes. Levando em conta estes aspectos. O que é a arte hoje? Arte não é apenas expressão, nem só comunicação de uma ideia, nem apenas um problema de qualidade estética de uma obra. Arte, tampouco é uma questão conceitual. Arte é, para nós hoje, muito mais uma questão de experiência estética. Mas o que é isso? Todos nós vivemos experiências estéticas, poucos tem experiência com a arte. Experiência estética é a vida da percepção, das sensações que vão do sentimento diante de um filme até o uso de drogas. O mundo da estética é vasto e nem sempre está povoado de arte. A indústria da cultura, os meios de comunicação de massa que administram a experiência sensível das pessoas em geral, ocupam o espaço onde poderia acontecer o despertar da sensibilidade ao qual podemos dar o nome de arte. Aquilo que chamamos de Indústria Cultural acabar com esta chance de despertar da sensibilidade. E ela consegue isso por uma estranha norma estética: a que decreta a criatividade deturpada da publicidade enquanto as potências da arte são confinadas ao espaço dos especialistas. Diante desse quadro, cabe perguntar, como podemos chegar à arte, quando o sistema econômico e político organizado esteticamente conspira contra ela? Arte se tornou justamente aquilo que se pode realizar fora dessa norma, na contramão da mera indústria cultural e até mesmo das regras que, de um modo ou de outro, os especialistas vão definindo. E aí voltamos ao problema. A norma estética é culturalmente tão forte que muitas vezes não fazemos ideia de como chegar à arte. Como produzi-la? É comum que pessoas que desejam escrever,
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