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DIREITO PENAL I Patricia Fernandes Fraga A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar as teorias, as características, as formas e os elementos da conduta, bem como as causas de exclusão. Conceituar ilicitude e explicar as causas excludentes de ilicitude. Explorar as teorias acerca da culpabilidade. Introdução Compreender o conceito de crime implica conhecer mais profundamente os elementos que o compõem. Crime, sob uma perspectiva formal, pode ser descrito como qualquer conduta colidente com a lei penal editada pelo Estado. Assim, se a lei proíbe o homicídio, quem cometê- -lo e não estiver amparado por alguma causa de exclusão da ilicitude é considerado criminoso. Sob uma perspectiva material, crime pode ser descrito como a conduta violadora dos bens jurídicos eleitos pelo Estado como os mais relevantes, como a vida, a integridade física, etc. No entanto, sob uma perspectiva mais detalhada, ou seja, do ponto de vista analítico, crime pode ser compreendido como fato típico, ilícito e culpável. Neste capítulo, você vai estudar a tipicidade, a ilicitude e a culpabili- dade, elementos da teoria do crime que são de relevância ímpar para a construção do Direito Penal. C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 1 06/07/2018 08:41:48 O fato típico Fato típico é o fato concreto ou material que se amolda perfeitamente aos elementos constantes na lei penal, como afi rma Capez (2010). O fato típico é composto de quatro elementos: a conduta, o resultado, o nexo de causalidade e a tipicidade, ou adequação típica. a conduta estudará o comportamento humano voluntário, comissivo ou omissivo, dirigido a um fim; o resultado dirá respeito à consequência danosa da conduta humana; o nexo causal será o vínculo, ou o liame, entre a conduta e o resultado prejudicial à vítima; a tipicidade, grosso modo, estudará a subsunção do fato praticado pelo agente à norma penal. Neste capítulo, estudaremos, principalmente, as noções gerais acerca da conduta, elemento essencial à infração penal, e da tipicidade, central à com- preensão do fato típico e do conceito analítico de crime. Na teoria tripartida, reconhecida pela maior parte da doutrina, o conceito analítico de crime comporta a tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade (Figura 1). Todavia, autores como Damásio de Jesus e Fernando Capez, compreendem que a culpabilidade, após a difusão da teoria finalista da ação, esvaziou-se de conteúdo relevante ao conceito de crime. Sendo assim, o conceito analítico de crime estaria composto apenas da tipicidade e da ilicitude (teoria bipartida), pois a culpabilidade não seria elemento do crime, mas pressuposto para a aplicação da pena. Neste estudo, adota-se a teoria tripartida do conceito de crime, com base em Greco (2014). A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade2 C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 2 06/07/2018 08:41:48 Figura 1. Conceito analítico de crime com base na teoria tripartida: tipicidade, ilicitude e culpabilidade. A conduta Na doutrina do Direito Penal, desenvolveram-se várias teorias para explicar a ação humana da qual resulta o crime. Estudaremos quatro teorias, descritas a seguir. Teoria naturalista ou causal: criada para dar cientificidade à teoria do delito, a teoria causal explica que, para haver um fato típico, ele deve estar baseado em uma ação – movimento humano voluntário – produtora de uma modificação no mundo exterior (relação de causa e efeito). Essa teoria foi relevante por colocar limites ao poder de punir do Estado, determinando que, para haver infração penal, deveria haver correspondência com a conduta realizada e a descrição legal do delito. Conforme Colnago (2010), porém, ela não levava em conta, para o enquadramento do fato típico, a ação dolosa ou culposa; o dolo e a culpa deveriam ser examinados apenas quando da avaliação da culpabilidade. Teoria finalista: para a teoria finalista, além da ação – movimento humano produtor de modificação concreta no mundo dos fatos –, sem- pre se deve buscar a intenção perseguida pelo agente, ou seja, a sua finalidade. Passa-se a tipificar infrações e cominar sanções de formas diversas, a depender das intenções do agente (por exemplo, homicídio doloso, homicídio culposo, etc.). Conforme Colnago (2010), segundo 3A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 3 06/07/2018 08:41:48 essa teoria, a avaliação do dolo e da culpa são inseparáveis da conside- ração do fato típico, e sua avaliação não fica limitada apenas quando do exame da culpabilidade. Teoria social: pela teoria social, além da ação humana ser geradora de resultado danoso descrito como crime, realizado conforme a intenção do agente, faz-se necessário, ainda, que o agente tenha objetivado comportar-se de modo socialmente inadequado, produzindo um dano ou perigo de relevância social, como afirma Colnago (2010). Conforme Capez (2010, p. 151), em resumo, “a teoria da ação socialmente adequada arrima-se na consideração de que as ações humanas que não produzirem um dano socialmente relevante e que se mostrarem ajustadas à vida societária, num determinado momento histórico, não podem ser con- sideradas crimes”. Contudo, algumas considerações devem ser feitas. O conceito de adequação social é extremamente impreciso e vago, prestando-se a muitas interpretações, dando margem para a crimina- lização de fatos relevantes socialmente, que não foram eleitos como crimes, ou para a descriminalização de fatos típicos. Tal subjetivismo gera insegurança jurídica, extremamente nefasta ao sistema jurídico penal. É importante frisar que o costume contra legem – contrário a lei – não é fonte de Direito Penal, apenas pode servir de inspiração para futura alteração legislativa. É mais adequado, dessa forma, deixar a valoração da lesividade social para o processo de eleição dos bens jurídicos que devem ser protegidos, não para a avaliação da conduta anteriormente descrita na norma penal. Teoria constitucional: pela teoria constitucional, a ação delituosa deve ser aquela que se integra à norma penal, mediante valoração da intenção do agente e da reprovabilidade social de sua conduta, mas, também, deverá estar conformada com todo o sistema jurídico, respeitando os princípios contidos na Constituição Federal (controle material dos princípios constitucionais), como explica Capez (2010, p. 156): O fato típico será, por conseguinte, resultante da somatória dos seguintes fatores: subsunção formal (era o que bastava para a teoria naturalista ou causal) + dolo ou culpa (a teoria finalista só chegava até esse segundo requisito) + conteúdo material do crime (que é muito mais do que apenas a inadequação social da teoria social da ação, e consiste no seguinte: o fato deve ter uma relevância mínima, ser socialmente inadequado, ter alteridade, ofensividade, a norma precisa ser proporcional ao mal praticado etc.). A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade4 C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 4 06/07/2018 08:41:48 Segundo Jesus (2017, p. 267), a conduta apresenta as seguintes características: Comportamento humano: a ação é a expressão individual da persona- lidade do homem (não se incluem, por conseguinte, fatos da natureza). Obs.: somente em casos excepcionais, especificados em lei, haverá a responsabilização penal da pessoa jurídica (ver Lei nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998). Comportamento exteriorizado ou repercussão externa da vontade do agente (cogitationis poenam nemo patitur): a mera ideação, sem manifestação da vontade, não é objeto do Direito Penal. Não será con- siderada conduta criminosa a mera cogitação, isto é, o pensamento da prática de um crime. Comportamento voluntário: comportamento que envolva uma decisão de agir ou de se omitir do agente. Não significa que a vontade sejalivre; poderá, por exemplo, manifestar-se sob coação moral — vis compulsiva (pois a eventual coação será objeto da análise da culpabilidade, não do fato típico). Comportamento positivo ou negativo: movimento ou abstenção de movimento corpóreo. Segundo Capez (2010, p. 162) e Greco (2014, p. 158), quanto à forma, as condutas podem ser classificadas em: Comissiva: corresponde ao comportamento positivo, à movimentação corpórea, a um fazer. Por exemplo, crime de furto, no CP: “Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.” (BRASIL, 1940, documento on-line). Omissiva: corresponde ao comportamento negativo, à abstenção de movimento, a um não fazer quando deveria fazer algo em virtude de lei. Por exemplo, crime de omissão de socorro, no CP: Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena — detenção, de um a seis meses, ou multa (BRASIL, 1940, documento on-line). 5A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 5 06/07/2018 08:41:48 Já, quanto aos elementos, a conduta penal é composta, segundo Jesus (2017, p. 268): pelo ato de vontade dirigido a uma finalidade; e pela atuação positiva ou negativa – manifestação de vontade por meio de um fazer ou não fazer. O ato de vontade é composto pelo objeto pretendido pelo agente (sua finalidade), pelos meios usados na execução da ação e pelas consequências secundárias dessa ação. A atuação, por sua vez, é a manifestação dessa von- tade e é composta tanto pelo aspecto psíquico – a ação se inicia no campo intelectual – como pelo aspecto mecânico ou neuromuscular – consequência de impulsos psíquicos que, atuando sobre os centros nervosos, resultarão na movimentação muscular, ou na abstenção desses movimentos, como afirma Jesus (2017). CONDUTA ≠ ATO: a conduta abrange o ato. Conduta é a realização da vontade humana dirigida a um fim, pela prática de um ou mais atos (exemplo de conduta: matar alguém). Já o ato, quando comissivo, é parte da conduta e poderá ser único ou múltiplo. É o caso, por exemplo, de uma pessoa que golpeia um desafeto 20 vezes com um punhal, na região do abdômen: a conduta é uma, os atos são plurais. Quanto às causas de exclusão da conduta, pode-se afirmar que, se não houver vontade dirigida a uma finalidade, não houve conduta e, por conse- guinte, não houve prática de crime. Antes de adentrarmos nas causas de exclusão da conduta, faz-se impor- tante compreender a diferença entre dolo e culpa. Segundo Colnago (2010), o agente atua com dolo quando quer diretamente o resultado ou assume o risco de produzi-lo; o agente atua com culpa quando rompe com seu dever de cuidado imposto a todos e dá causa ao resultado, mesmo não o desejando, em razão de sua negligência (deixa de tomar as cautelas devidas – comportamento negativo), imprudência (age sem o cuidado necessário – comportamento positivo) ou imperícia (incompetência profissional, inaptidão técnica em profissão ou atividade). A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade6 C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 6 06/07/2018 08:41:48 Vistos esses conceitos, diz-se que, se o agente não atua dolosamente ou culposamente, não há conduta a lhe ser imputada, nem, portanto, fato típico por ele praticado. O Quadro 1 mostra os aspectos relacionados à ausência de conduta. Fonte: Adaptado de Greco (2014, p. 159) e Jesus (2017, p. 269). Força irresistível A força irresistível pode ser oriunda de fato da natureza ou ato de terceiro. Se um sujeito é arrastado pelo vento ou por uma forte correnteza e vem a chocar-se com outra pessoa e causar- lhe lesões, não poderá lhe ser imputada a conduta danosa, pois vontade não houve. Do mesmo modo, quando houver coação física (coação absoluta ou vis absoluta) por parte de um terceiro (p. ex., o agente é empurrado, por um terceiro, e choca-se com outras pessoas, lesionando-as), não haverá conduta a ser imputada ao agente, que foi mero instrumento da ação alheia, como afirma Greco (2014). Movimentos reflexos O reflexo não pode ser considerado como conduta voluntária e dirigida a uma finalidade. É mera reação automática de ação ou de inibição que ocorre imediatamente após a excitação de um nervo sensitivo, conforme afirma Jesus (2017). Estados de inconsciência Casos de movimentos realizados durante o sono, de sonambulismo, ou quando o agente está sob sugestão ou hipnose, ou em outro estado de inconsciência, por lógico, não poderão configurar conduta a completar o fato típico. Nesses casos, não houve vontade consciente do agente, como explica Jesus (2017). Quadro 1. Aspectos determinantes da ausência de conduta A consequência da exclusão ou ausência da conduta é a atipicidade do fato, pois a conduta é elemento do fato típico: sem ela, o fato não subsiste como crime. 7A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 7 06/07/2018 08:41:48 A teoria da actio libera in causa: se a ação de ingerir bebidas alcoólica ou outras subs- tâncias que turvem a consciência foi voluntária, o agente responde pelos seus atos delitivos, conforme afirma Greco (2014, p. 160), com base no art. 28, CP, in verbis: Não excluem a imputabilidade penal: [...] Embriaguez [...] II — a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos (BRASIL, 1940, documento on-line). Entretanto, se a falta de consciência foi resultado de evento fortuito, não há imputação de crime ao agente, ainda conforme o art. 28, §1º, CP, como segue: § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, pro- veniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (BRASIL, 1940, documento on-line). A tipicidade Inicialmente, cumpre defi nir o que vem a ser tipo penal. De acordo com Greco (2014), tipo penal é o modelo, ou o padrão, de conduta, previsto em lei penal, pelo Estado, com a fi nalidade de impedir que tal conduta seja praticada; é a descrição precisa do comportamento humano, feita pela lei penal; ou ainda, é o instrumento legal que tem como objetivo individualizar as condutas humanas penalmente relevantes. Diante disso, tipicidade é a subsunção do fato da vida à norma jurídica penal, ainda conforme Greco (2014, p. 164): “A adequação da conduta do agente ao modelo abstrato previsto na lei penal (tipo) faz surgir a tipicidade formal ou legal. Essa adequação deve ser perfeita, pois, caso contrário, o fato será considerado formalmente atípico”. Todavia, a tipicidade não deve apenas se fixar na mera subsunção do fato à norma. Com o passar dos anos, com as atrocidades cometidas nas duas Grandes Guerras e, especificamente, no regime nazista, verificou-se a necessidade de valorar o conteúdo da norma, atentando para o bem jurídico a ser tutelado pelo A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade8 C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 8 06/07/2018 08:41:49 Direito Penal. Sendo assim, além da tipicidade formal, é necessária a avaliação da tipicidade material, o que significa dizer que será preciso examinar a lesão ao bem jurídico, ou melhor, a lesividade da ofensa ao bem jurídico no caso concreto, afastando, por exemplo, a tipicidade das condutas insignificantes. Sobre o princípio da insignificância, cumpre colacionar jurisprudência: PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRA- BANDO DE MEDICAMENTO PARA USO PRÓPRIO. PEQUENA QUAN- TIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. RECURSO DESPROVIDO. 1. In casu, as instâncias ordinárias aplicaram o princípio da insignificância ao reconhecerem que “o Auto de Infração lavrado pela Receita Federalaponta que os medicamentos apreendidos foram avaliados em R$ 209,00, incorrendo em ilusão tributária total de R$ 38,64, o que evidencia a pequena dimensão do fato e a fundada dúvida acerca da viabilidade econômica de tal importação para fins comerciais, corroborando a tese defensiva de que os medicamentos se destinariam ao uso próprio.” 2. Esta Corte de Justiça vem entendendo, em regra, que a importação de mercadorias de proibição relativa, como cigarros ou medicamentos, configura crime de contrabando. 3. No entanto, ainda que constatado o dolo do agente, fato que é inerente ao tipo penal descrito no artigo 334-A do Código Penal, a importação de pequena quantidade de medicamento destinada a uso próprio, que não é capaz de causar lesividade suficiente aos bens jurídicos tutelados, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento, bem como a primariedade e os bons antecedentes do réu, como é o caso dos autos, tornam possível autorizar a excepcional aplicação do princípio da insignificância. 4. Agravo regimental desprovido (BRASIL, 2018, documento on-line). Cumpre observar que a avaliação da tipicidade, para ser adequada, deve verificar a tipicidade objetiva e a tipicidade subjetiva. A tipicidade objetiva dirá respeito à descrição do delito, estabelecerá quem pode praticar o crime e se o crime é comissivo ou omissivo, apresentará o verbo que exprime o resultado da conduta e a relação de causalidade entre a conduta e o resultado, dentre outros elementos que farão parte do tipo penal. A tipicidade subjetiva dirá respeito à vontade, à intenção do agente – ao dolo e à culpa. Conforme Capez (2010), caso a culpa seja relevante para ser sancionada, deverá constar expressamente na lei, pois a regra é que o Estado venha a punir crimes em que o agente, deliberadamente, quis violar bem jurídico protegido pelo Direito Penal. 9A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 9 06/07/2018 08:41:49 Crime ou contravenção? O art. 1º do Decreto-Lei nº. 3.914, de 9 de dezembro de 1941, denominado Lei de introdução do Código Penal e da Lei das Contravenções Penais, dispõe que: Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativa- mente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente (BRASIL, 1941, documento on-line). Substancialmente, não há diferença entre crime e contravenção penal. A escolha dos bens que serão protegidos e dos meios de sua exteriorização legal (crime ou contravenção) é política e relaciona-se com a necessidade do Estado de repelir ou de se acautelar de determinadas práticas, conforme Greco (2014). Nas palavras de Jesus (2010, p. 194), conforme a necessidade de prevenção social, “o mesmo fato pode ser considerado crime ou contravenção pelo legislador”, e fatos que hoje são considerados contravenções podem, no futuro, vir a ser definidos como crimes. Ilicitude – conceito e excludentes Antes de passar ao exame da ilicitude e de suas causas excludentes, há que se fazer uma breve ressalva. Embora haja quem faça uma distinção entre a ilicitude e a antijuridicidade, neste capítulo, ilicitude e antijuridicidade serão tratadas como expressões sinônimas, na mesma linha dos autores Fernando Capez, Rodrigo Colnago, Damásio de Jesus e Rogério Greco. Sendo assim, diz-se que ilicitude ou antijuridicidade é a contrariedade da conduta em relação ao ordenamento jurídico, conforme afirma Greco (2014); ou, conforme afirma Capez (2010, p. 293), é “[...] a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual a ação ou omissão típicas tornam-se ilícitas”; ou, ainda, nas palavras de Jesus (2017, p. 398), quanto ao conceito de fato antijurídico, “[...] é todo o fato descrito em lei penal incriminadora e não protegido por causa de justificação” (excludentes de antijuridicidade). Considerando que crime, pelo conceito analítico, é fato típico, ilícito e culpável, pode-se perceber que nessa definição, existe uma sequência lógica a ser seguida: primeiro avalia-se a tipicidade (pois se o fato é atípico, não haverá crime); depois avalia-se a ilicitude (se o fato é típico e ilícito será considerado A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade10 C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 10 06/07/2018 08:41:49 crime; mas, se mesmo típico, o fato não for considerado ilícito, se estará diante de uma das excludentes de ilicitude ou antijuridicidade); e, somente por fim, verifica-se a culpabilidade do agente. Dessa forma, avaliando-se a relação entre tipicidade e ilicitude, conclui- -se que todo fato ilícito será, antes, típico. Todavia, a tipicidade é apenas um elemento indiciário da ilicitude; isto é, se o fato é típico, provavelmente será ilícito, devendo ser analisado no caso concreto; senão, incidirão causas que excluirão a ilicitude da conduta, conforme afirmam Capez (2010) e Greco (2014). Greco (2014, p. 319), citando Heleno Cláudio Fragoso, aponta que as causa de exclusão da ilicitude, ou as justificadoras da conduta do agente, podem ser classificadas em três grupos: a) originadas por situações de necessidade: legítima defesa e estado de necessidade; b) originadas pela atuação do direito: exercício regular de direito e estrito cumprimento de dever legal; c) originadas pela ausência de interesse: consentimento do ofendido. Por outro lado, se a classificação for relacionada somente à existência ou não de previsão legal, pode-se classificar as excludentes em dois grupos: Causas legais: previstas em lei, tais como: legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular de direito e estrito cumprimento de dever legal. Causas supralegais: extraídas do sistema jurídico por meio de analogia (lacunas de normas não incriminadoras podem ser supridas por analogia in bonam partem). Dizem respeito a condutas aceitas pela sociedade, consideradas como justas, mas que não constam nas causas legais de exclusão. Por exemplo, o consentimento do ofendido. A lei penal dispõe sobre as excludentes no art. 23 do CP, in verbis: Exclusão de ilicitude Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito (BRASIL, 1940, documento on-line). 11A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 11 06/07/2018 08:41:49 A Tabela 1 traça um panorama das excludentes de antijuridicidade legais (com base nos arts. 23 e seguintes, do CP) e supralegais (tendo, como exemplo, o consentimento do ofendido). Causas legais Estado de necessidade: “Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.” (BRASIL, 1940, documento on-line). Se há dois bens jurídicos em perigo de lesão, o Estado permite que um deles seja sacrificado em favor do outro, dentro de parâmetros de razoabilidade. Segundo Colnago (2010, p. 111) e Jesus (2017, p. 414), quando o agente que não deu causa, não tendo o dever legal de enfrentar o perigo atual, sacrifica bem jurídico para salvar outro bem, próprio ou alheio, age em estado de necessidade, e não há crime a ser punido. Obs.: o fato de não haver ilícito penal não exclui a possibilidade de reparação de danos por ilícito civil. Requisitos, conforme Jesus (2017, p. 415): situação de perigo (ou necessidade); conduta lesiva e inevitável para salvaguardar outro bem, cujo sacrifício é inexigível; perigo atual; ameaça a direito próprio ou alheio; situação não causada voluntariamente pelo sujeito; inexistência de deverlegal de enfrentar o perigo; conhecimento da situação de fato justificante. Legítima defesa: “Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.” (BRASIL, 1940, documento on-line). A legítima defesa consiste em repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente os meios necessários, conforme afirma Colnago (2010, p. 114). Requisitos, conforme Jesus (2017, p. 427): agressão injusta, atual ou iminente; direitos do agredido ou de terceiro sob ataque ou ameaça de dano pela agressão; repulsa com os meios necessários; uso moderado de tais meios; conhecimento da agressão e da necessidade da defesa (finalidade de defesa). Tabela 1. Panorama das excludentes de antijuridicidade legais e supralegais (Continua) A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade12 C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 12 06/07/2018 08:41:49 Estrito cumprimento de dever legal Consiste na realização de conduta típica por força de dever imposto por lei. Segundo Nucci (2012, p. 173), em determinados casos, atitudes coercitivas poderão ser tomadas em virtude do cumprimento da lei, ainda que possam causar lesões a bens de terceiros. Por exemplo, cumprimento de mandado de prisão – o policial poderá valer-se da força indispensável para vencer a resistência do detido, conforme art. 284 do Código de Processo Penal. Exercício regular de direito Por questão de lógica do sistema jurídico, aquele que estiver no seu exercício regular de direito não pode estar, ao mesmo tempo, cometendo crime. Conforme Nucci (2012, p. 174) e Greco (2014, p. 374), o agente tão somente exercita prerrogativa conferida pelo próprio ordenamento jurídico. São exemplos os castigos moderados aplicados na educação dos filhos pelos pais e as práticas esportivas violentas (MMA, boxe, etc.). Causa supralegal Consentimento do ofendido Consiste na livre concordância do ofendido, obtida sem vício, de forma reconhecível (implícita ou explícita), com a lesão de bem jurídico de sua esfera de disponibilidade, conforme explica Nucci (2012, p. 174). Requisitos: que o ofendido tenha manifestado seu consentimento livremente, sem fraude, coação, ou outro vício de vontade; que o ofendido seja capaz de compreender o alcance (significado, consequências) de sua permissão, ou decisão; que se trata de bem jurídico da esfera de disponibilidade do aceitante; que o consentimento tenha sido dado antes ou simultaneamente à atuação do agente (GRECO, 2014); que o agente tenha ciência do consentimento do ofendido (NUCCI, 2012). Tabela 1. Panorama das excludentes de antijuridicidade legais e supralegais (Continuação) 13A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 13 06/07/2018 08:41:49 O excesso Em todas as excludentes (legais ou supralegais), será observada a forma como se portou o agente. Se ocorrer desajustes na escolha dos meios ou na intensidade da ação empregados, conforme Nucci (2012, p. 175), o agente deverá responder pelo abuso. Consequências das causas excludentes de antijuridicidade: quando estiver presente alguma das excludentes de antijuridicidade, conforme Jesus (2017, p. 402), “[...] o fato permanece típico, mas não há crime: excluindo-se a ilicitude, e sendo ela requisito do crime, fica excluído o próprio delito. Em consequência, o sujeito deve ser absolvido”. Espécies de ilicitude ou antijuridicidade, conforme Jesus (2017, p. 399): antijuridicidade formal: quando a conduta viola a lei penal; antijuridicidade material: quando a conduta fere o interesse social protegido (bem jurídico) pela norma penal. Teorias da culpabilidade Não há como se falar de culpabilidade sem que antes se tenha esclarecido algumas outras defi nições da teoria do crime. A primeira delas vem a ser a imputabilidade. Imputabilidade é a capacidade de compreender o caráter ilícito do fato e determinar-se de acordo com essa compreensão, conforme afi rma Colnago (2010). Essa capacidade é aferida avaliando-se fatores biopsicológicos do agente, como se pode depreender da leitura dos arts. 26 e 27, do CP: Art. 26 — É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvi- mento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. [...] Art. 27 — Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial (BRASIL, 1940, documento on-line). A contrario sensu, são imputáveis os que tenham, no mínimo, 18 anos completos na data do cometimento do fato e que, por ausência de doença mental A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade14 C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 14 06/07/2018 08:41:50 ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado, eram inteiramente capazes de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, quando da realização da conduta ilícita. Outra definição é a de potencial consciência da ilicitude. Como o próprio nome diz, corresponde à possibilidade de o agente, no ato da prática delitiva, ter o conhecimento do caráter injusto do fato. Essa consciência da ilicitude fica prejudicada nas situações de erro (quando descriminantes putativas), conforme explica Colnago (2010). O erro de proibição, por exemplo, existe quando o agente, diante da realidade fática, interpreta mal o disposto na lei e acaba por se achar no direito de praticar determinada conduta, que é, na verdade, ilícita (por exemplo age em legítima defesa, mas excede os limites para estancar a agressão injusta). O erro de tipo, por sua vez, ocorre quando o agente tem uma visão distorcida da realidade e não sobre o que versa o dispositivo legal (por exemplo desfere um tiro no seu desafeto, por ter imaginado que ele iria lhe matar, quando a vítima apenas havia colocado a mão no bolso para pegar um isqueiro). Também é oportuno apresentar o conceito de exigibilidade de conduta diversa. A exigibilidade de conduta diversa está intimamente relacionada com a expectativa social acerca da conduta adequada do agente. Consiste na possibilidade de exigir do agente conduta diversa daquela efetivamente tomada por ele. Contudo, conforme explica Colnago (2010), se o agente estiver sendo coagido (coação moral irresistível) ou ainda encontrar-se em situação de obediência hierárquica, sua vontade estará viciada, podendo alegar que não havia, no caso concreto, como lhe ser exigida conduta diferente da que foi por ele adotada (conforme estabelece o art. 22, do CP: “Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.” (BRASIL, 1940, documento on-line). Por fim, como não poderia deixar de ser, é importante compreender o conceito de culpabilidade. A culpabilidade pode ser entendida como o juízo de reprovação pessoal que recai sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente, conforme afirma Greco (2014). Segundo os professores González e Altamirano (2010, p. 201), a culpabilidade é: [...] a situação em que se encontra uma pessoa imputável e responsável, que, podendo ter se conduzido de uma maneira, não o fez, pelo que o juiz lhe declara merecedor de uma pena. É a situação em que se encontra uma pessoa imputável e responsável. É uma relação de causalidade ética e psicológica entre um sujeito e sua conduta. 15A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 15 06/07/2018 08:41:50 Esclarecidos esses termos, ficará mais compreensível o estudo das teorias da culpabilidade, apresentadas no Quadro 2. Teoria psicológica da culpabilidade (Von Liszt e Beling) A culpabilidadeé liame psicológico entre a conduta e o resultado, que se estabelece por meio do dolo ou da culpa (únicas formas de culpabilidade). Para haver culpabilidade, então, deveria haver: imputabilidade; dolo ou culpa. Críticas, segundo Capez (2010, p. 328): não explicava a isenção de pena nos casos de inexigibilidade de conduta diversa; misturava a noção de dolo ou culpa (elementos da conduta) com a noção de culpabilidade (responder ou não pelo fato delitivo). Teoria normativa ou psicológica- normativa (Reinhard Frank) Acrescenta a exigibilidade de conduta diversa como pressuposto para a culpabilidade do agente. Para haver culpabilidade, deveria haver: imputabilidade; dolo ou culpa; exigibilidade de conduta diversa. Desse modo, haverá culpabilidade quando: o agente for imputável; dele for possível exigir conduta diversa; tiver vontade de praticar o fato típico, tendo consciência de que sua conduta contraria o ordenamento jurídico, ou romper o dever de cuidado por meio de conduta culposa. Crítica, segundo Capez (2010, p. 330): ignorava que dolo e culpa são elementos da conduta, e não da culpabilidade. Teoria normativa pura (Welzel) Dá-se o devido enquadramento do dolo e da culpa como elementos da conduta, sob pena de ter esvaziada a intenção do agente – sua finalidade. A culpabilidade é composta de três elementos: imputabilidade; potencial consciência da ilicitude; exigibilidade de conduta diversa. Crítica, segundo Capez (2010, p. 330): o dolo e a culpa não faziam, ainda, parte do tipo penal, compondo apenas a finalidade do agente. Quadro 2. Teorias da culpabilidade (Continua) A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade16 C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 16 06/07/2018 08:41:50 Adaptado de Colnago (2010, p. 120-121), Capez (2010, p. 328-331) e Jesus (2010, p. 503-510). Teoria estrita ou extremada – derivada da teoria normativa pura A culpabilidade é composta de três elementos: imputabilidade; potencial consciência da ilicitude; exigibilidade de conduta diversa. Por essa teoria, quaisquer das descriminantes putativas (erro de tipo ou de proibição) devem ser tratadas como erro de proibição – evita-se, assim, tratamento diverso para situações análogas, conforme afirma Capez (2010, p. 331). Teoria limitada da culpabilidade –igualmente derivada da teoria normativa pura A culpabilidade é composta de três elementos: imputabilidade; potencial consciência da ilicitude; exigibilidade de conduta diversa. Por essa teoria, se o erro recair sobre situação de fato, considera-se erro de tipo; porém, se o erro recair sobre a existência ou os limites de uma causa de justificação, considera-se erro de proibição. É a teoria adotada pelo CP brasileiro – arts. 20, §1º, e 21 –, conforme afirma Capez (2010). Quadro 2. Teorias da culpabilidade (Continuação) BRASIL. Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 10 maio 2018. BRASIL. Decreto-Lei nº. 3.914, de 9 de dezembro de 1941. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 9 dez. 1941. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/decreto-lei/del3914.htm>. Acesso em: 18 jun. 2018. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1706471/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma. Julgado em: 20 mar. 2018. Disponível em: <https://ww2. stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial= 1689898&num_registro=201702793738&data=20180404&formato=PDF>. Acesso em: 18 jun. 2018. 17A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 17 06/07/2018 08:41:50 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm http://www.planalto.gov/ http://stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial= COLNAGO, R. Direito penal: parte geral. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. CAPEZ, F. Curso de direito penal: parte geral: (arts. 1º a 120). São Paulo: Saraiva, 2010. v. I. GONZÁLES, O. P.; ALTAMIRANO, F. A. Teoría del Delito: manual práctico para su aplica- ción en la teoría del caso. Peru: APECC, 2010. Disponível em: <http://www.derecho. usmp.edu.pe/instituto/libro-teoria-del-delito-oscar-pena.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2018. GRECO, R. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. JESUS, D. Direito penal: parte geral. 36. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 1. NUCCI, G. S. Direito penal: parte geral. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012 Leitura recomendada GOMES, L. F.; BIANCHINI, A.; DAHER, F. Princípios constitucionais penais: à luz da cons- tituição e dos tratados internacionais. LivroeNet, 2015. A tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade18 C08_A_Tipicidade_ilicitude_culpabilidade.indd 18 06/07/2018 08:41:50 http://www.derecho/ http://usmp.edu.pe/instituto/libro-teoria-del-delito-oscar-pena.pdf Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.