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Habilidade Clínicas e Atitudes Médicas I Discussão: Princípios e cuidados na realização de curativos 1. O que é ferida? A pele tem várias funções, como por exemplo: · Proteger o organismo contra a ação de agentes externos (físicos, químicos e biológicos) · Impedir a perda excessiva de líquidos · Manter a temperatura corporal · Sintetizar a vitamina D · Agir como órgão dos sentidos Quando ocorre a descontinuidade do tecido epitelial, das mucosas ou de órgãos, as funções básicas de proteção da pele são comprometidas. A ferida resultante dessa descontinuidade pode ser causada por fatores extrínsecos, como incisão cirúrgica, trauma, e por fatores intrínsecos, como as produzidas por infecção. 2. Quais os tipos de feridas? Quanto à causa, as feridas podem ser: · Cirúrgicas: feridas provocadas intencionalmente, mediante: · Incisão: quando não há perda de tecido e as bordas são geralmente fechadas por sutura; · Excisão: quando há remoção de uma área de pele (por exemplo, área doada de enxerto) · Punção: quando resultam de procedimentos terapêuticos diagnósticos (por exemplo, cateterismo cardíaco, biópsia, ...) · Traumáticas: feridas provocadas acidentalmente por agente: · Mecânico: contenção, perfuração ou corte. · Químico: iodo, cosméticos, ácido sulfúrico, etc. · Físico: frio, calor ou radiação. · Ulcerativas: feridas escavadas, circunscritas na pele (formadas por necrose, sequestração do tecido), resultantes de traumatismo ou doenças relacionadas com o impedimento do suprimento sanguíneo. Quanto ao conteúdo microbiano: · Limpas: feridas em condições assépticas, sem microrganismos. · Limpas contaminadas: feridas com tempo inferior a 6 horas entre o trauma e o atendimento, sem contaminação significativa. · Contaminadas: feridas ocorridas com tempo maior que 6 horas entre o trauma e o atendimento, sem sinal de infecção. · Infectadas: feridas com presença de agente infeccioso no local e com evidência de intensa reação inflamatória e destruição de tecidos, podendo conter pus. Quanto ao tipo de cicatrização: · De cicatrização por primeira intenção: feridas fechadas cirurgicamente com requisitos de assepsia e sutura das bordas; nelas não há perda de tecidos e as bordas da pele e/ou seus componentes ficam justapostos. · De cicatrização por segunda intenção: feridas em que há perda de tecidos e as bordas da pele ficam distantes; nelas a cicatrização é mais lenta do que nas de primeira intenção. · De cicatrização por terceira intenção: feridas corrigidas cirurgicamente após a formação de tecido de granulação, ou para controle da infecção, a fim de que apresentem melhores resultados funcionais e estéticos. Quanto ao grau de abertura: · Abertas: feridas em que as bordas da pele estão afastadas. · Fechadas: feridas em que as bordas da pele estão justapostas. Quanto ao tempo de duração: · Agudas: quando são feridas recente. · Crônicas: feridas que têm um tempo de cicatrização maior que o esperado devido a sua etiologia. São feridas que não apresentam a fase de regeneração no tempo esperado, havendo um retardo na cicatrização. Quanto à profundidade: · Superficiais: quando atingem apenas as camadas mais superficiais da pele (epiderme e derme superficial ou intermediária) · Profundas: quando atingem níveis mais profundos da pele (derme profunda, tecido adiposo, fáscias, tendões, músculos, ossos, cartilagens, ligamentos). Quanto ao comprometimento tecidual: · Estágio I: não há perda tecidual, com comprometimento apenas da epiderme. · Estágio II: há perda tecidual com comprometimento da epiderme, derme ou ambas. · Estágio III: comprometimento total da pele e necrose do tecido subcutâneo. · Estágio IV: há grande destruição de tecido, chegando a correr lesão óssea ou muscular. 3. Qual o significado de um curativo ideal? O curativo é um meio terapêutico que consiste na limpeza e aplicação de uma cobertura estéril em uma ferida com finalidade de promover a rápida cicatrização e prevenir contaminações. O melhor curativo é aquele que imita a pele e mantém um ambiente úmido a fim de favorecer a migração celular. Turner (1982) expressa alguns critérios do curativo ideal: · Manter alta umidade no espaço entre ferida/ curativo · Remover o excesso de exsudato e componente tóxico · Permitir trocas gasosas · Promover isolamento térmico · Dispor de proteção contra infecção secundaria · Estar livre de partículas e contaminantes tóxicos · Permitir sua renovação sem trauma na troca · Dispor de vários tamanhos · Proporcionar conforto ao cliente 4. Qual a relação da umidade, sangue e líquidos em geral com os princípios para realização de um curativo? São vantagens do meio úmido: · Evitar traumas · Reduzir a dor · Manter a temperatura · Remover tecido necrótico · Impedir a formação de esfacelos · Estimular a formação de tecido viável · Promover maior vascularização O meio úmido previne a desidratação e a morte celular, promove uma maior angiogênese e desbridamento autolítico (retém enzimas e água), redução da dor e mantém a temperatura. O sangue transporta substâncias que nutrem os tecidos. O excesso de umidade facilita o crescimento de microrganismos. 5. Quais os cuidados essenciais para a realização de curativos? · Lavar as mãos antes e depois · Explicar ao paciente o que será feito · Preparar o ambiente e posicionar o paciente de forma confortável · Não expor por tempo prolongado a ferida e materiais estéreis · Usar máscara, avental, luvas e óculos de proteção · Quando vários curativos forem trocados, devem ser iniciados por incisões limpas e fechadas, passando para as abertas e não infectadas e por último as infectadas. · Não passar gaze, algodão contaminado em áreas estéreis · Desprezar sempre a primeira porção da solução fisiológica antes de usá-lo · Não usar o mesmo lado da gaze mais de uma vez · Após limpeza da ferida, limpar em torno da ferida (5cm) · Manter as extremidades da pinça para baixo · Restringir o uso de almotolias · Lavar a ferida com soro fisiológico em jato – remover exsudato e corpos estranhos · Secar a pele ao redor da ferida · Quando necessário o uso de pomadas, dispensá-los em gaze estéril · Limpar a ferida da área menos contaminada para a mais contaminada · O curativo deve estender-se pelo menos 3 cm além das bordas da ferida · Utilizar sacos plásticos para desprezar o curativo · Colocar pinças usadas em recipiente adequado e encaminhá-las para a sala de expurgo 6. Qual a importância das medidas de biossegurança nos curativos? Biossegurança é o conjunto de normas e procedimentos considerados seguros e adequados à manutenção da saúde do trabalhador, durante atividades de risco de aquisição de doenças profissionais. 7. Que é sala de expurgo? Ambiente destinado à limpeza, desinfecção e guarda dos materiais e roupas utilizadas na assistência ao paciente e também poderá ser utilizado para a guarda temporária de resíduos. Ambiente destinado para encaminhar material contaminado antes de serem esterilizados. 8. Existem técnicas comuns e especiais para a realização de curativos? As técnicas possuem variações conforme as características de cada ferida: · Ferida suturada ou inserção dos pinos de fixadores e externos: 1. Preparar o ambiente; 1. Avisar ao paciente o que vai ser feito, posiciona-lo e solicitar colaboração; 1. Trazer o material e coloca-lo sobre a mesinha de cabeceira; 1. Forrar a cama com impermeável e descobrir a área a ser tratada; 1. Colocar a cuba forrada e o saco plástico próximos ao local do curativo; 1. Lavar a mão antes e após cada curativo. 1. Abrir o pacote de curativo utilizando a técnica asséptica. 1. Dispor as pinças voltadas para a borda proximal do campo; 1. Montar a gaze na pinça articulada com auxílio da pinça anatômica na parte interna do campo. 1. Umedecer a gaze com éter ou benzina para remover os adesivos. 1. Segurar o penso com a pinça de dissecção com dente e retira-lo com o auxílio da pinça articulada montada com a gaze umedecida. 1. Remover o curativo e segura-lo no saco plástico. 1. Após a retirada, desprezar a pinça de dissecção com dente na cuba-rim(caso precise usa-la para retirar outro curativo, separa-la lateralmente no campo sobre uma gaze). 1. Montar a gaze com as duas pinças restantes, na parte interna do campo. 1. Promover a limpeza do local somente cm soro fisiológico a 0,9%. 1. Proceder à remoção dos resíduos de adesivos. 1. Colocar a proteção da ferida, fixando-a com esparadrapo ou atadura. 1. Deixar o paciente confortável. 1. Deixar o ambiente em ordem. 1. Encaminhar material para sala de serviço e dispensar cuidados necessários. 1. Lavar as mãos. 1. Anotar no prontuário data, hora, aspectos da lesão e condições da pele ao redor da ferida, características e quantidade da secreção, intercorrências, queixas do paciente. · Áreas cruentas: 1. Verificar a prescrição médica, administrado o analgésico prescrito antes de iniciar o curativo, lembrando que essas lesões provocam muita dor. 1. Limpar a ferida com jato de soro fisiológico 0,9%, utilizando-se do recurso que possibilite jato sobre a ferida (seringa e agulha de gosso calibre (40x12) ou cortes/furos no frasco de soro). 1. Utilizar bandeja ou bacia estéril para viabilizar esse procedimento. 1. Evitar a limpeza mecânica com gazes sobre a área cruenta. 1. A limpeza realizada em área de difícil acesso, como por exemplo úlceras de pressão em região sacral, deve ser cuidadosa, para não prejudicar a formação dos tecidos cicatriciais. 1. Após a limpeza da área cruenta, utilizar produto e tipo de cobertura adequada para o estágio de cicatrização da ferida. 1. Fixar a proteção da ferida, dando preferência a enfaixamento com atadura de crepe, evitando-se adesivos. · Drenagem aberta – dreno de Penrose: 1. O curativo do dreno deve ser realizado separado e após o curativo da incisão cirúrgica. 1. A limpeza deve ser realizada, após a mobilização do dreno, primeiro na pele em volta da incisão e por último deve-se proceder a limpeza do dreno. Caso necessário, volta a limpar a pele circundante. 1. Dispor as gazes de forma que o dreno não fique em contato com a pele, o que poderia causar macerações. 1. O curativo do dreno deve ser mantido limpo e seco. Isto significa que o número de trocas está diretamente relacionado com o volume de drenagem. 1. Alfinetes não são indicados como meio de evitar mobilização, pois enferrujam facilmente e propiciam a colonização do local. · Estoma (pequeno orifício, poro ou abertura): 1. A higiene da pele e do estoma deve ser feita cuidadosamente com água e sabão, podendo ser realizada com gazes ou sob o chuveiro. 1. Remover os resíduos de fezes e sabonete tanto da pele quanto da borda do estoma, sem esfregar, enxaguando-os, abundantemente, para evitar a ocorrência de dermatite química. 1. Secar cuidadosamente a pele para uma aderência adequada do sistema coletor. 1. Observar e anotar a cor, forma, protusão, umidade e integridade da mucosa estomal e da pele peri-estomal. 1. Trocar o dispositivo coletor sempre que o conteúdo atingir um terço ou no máximo, a metade de sua capacidade. 1. A remoção do sistema coletor deve ser realizada com movimentos delicados, 1. iniciando pelo deslocamento do adesivo pela lateral. É conveniente segurar a pele do abdome com a outra mão, enquanto se desloca o adesivo da pele. NÃO utilizar produtos químicos como álcool, éter ou benzina para remover os resíduos do dispositivo e/ou limpar a pele. Ferimento limpo: limpa-se de dentro para fora Ferimento sujo: limpa-se de fora para dentro 9. Quando devem ser realizados curativos que utilizam cobertura auto aderente? O curativo auto-aderente absorve o exsudato e promove um ambiente úmido que favorece o processo de cicatrização e auxilia na remoção de tecido desvitalizado da ferida (debridamento autolítico) sem danificar o tecido recém-formado. É indicado para o tratamento de abrasões, lacerações, cortes superficiais, queimaduras de 1º e 2º grau, rachaduras de pele, úlceras de perna, úlceras por pressão, úlceras diabéticas, feridas cirúrgicas, feridas traumáticas e prevenção de lesões de pele. 10. Que é e quando se realiza curativos primários? São curativos usados em contato direto com o tecido lesado, realizando uma cobertura primária a ferida e assim, encontra-se presente em todos os curativos. · Curativos primários: colocados diretamente sobre a ferida · Curativos secundários: colocados sobre o curativo primário. 11. Que é curativo de cateter? O curativo do local de inserção do cateter deve estar com data e quando for utilizado gaze, ser trocado entre 24 e 48 horas. O curativo deve ser do tamanho apropriado para cobrir o sítio de inserção. Utilizar anti-séptico com veículo alcoólico para o curativo, preferencialmente clorexidina alcoólica. É o curativo com a finalidade de prevenir infecções e saída acidental do cateter. Visa diminuir a colonização microbiana da pele adjacente ao orifício de inserção do cateter e sua consequente migração para superfície extraluminal, e dessa forma contribuir para redução dos casos de infecção do cateter e da corrente sanguínea. Devem ser feitos com gaze estéril ou filme transparente, com o objetivo de cobrir o local de inserção. Discente: José Santana Farias Neto