Prévia do material em texto
Arcenio Artur Munguambe Departamento de Ciências de Educação Curso de Licenciatura em Ensino de Administração Pública Direito Administrativo. Tema: O impacto do funcionamento e organização da Administração Pública Moçambicana Xai-Xai, Abril de 2021 Índice 1. Introdução ........................................................................................................................ 1 1.1. Contextualização .......................................................................................................... 1 1.2. Objectivos .................................................................................................................... 1 1.2.1. Geral ..................................................................................................................... 1 1.2.2. Específicos ............................................................................................................ 1 1.3. Metodologia ................................................................................................................. 2 1.3.1. Tipo De Pesquisa .................................................................................................. 2 2. Quadro Teórico ................................................................................................................ 3 2.1. Administração Publica ..................................................................................................... 3 2.1.1. Estado e administração pública ............................................................................ 4 3. Desenvolvimento ............................................................................................................. 9 3.1. Funcionamento e organização da Administração Publica no Moçambique. ............... 9 4. Conclusões ..................................................................................................................... 12 5. Referencias Bibliográficas ............................................................................................. 13 1 1. Introdução O presente trabalho tem como propósito apresentar o impacto do funcionamento da Administração Publica em Moçambique através da analise do funcionamento e organização Administração Publica no país . 1.1. Contextualização Nos dias actuais, com o aumento da complexidade, mudanças e incertezas políticas e econômicas, além de um aumento da globalização e crescimento da escassez de recursos em gerais fica evidente a necessidade de os Estados melhorar a sua Administração Publica. A Administração passou a ser uma das áreas mais importantes da humanidade. Verifique que todos os problemas poderiam ser muito bem resolvidos se tivessem uma gestão responsável e de excelência. A tarefa básica da administração é, de maneira eficiente e eficaz, fazer as coisas por meio das pessoas. Sendo que esta, vem sendo considerada a principal chave para a solução dos mais graves problemas que, atualmente, afligem o mundo moderno. Isso acontece pelo simples fato de não ser suficiente um avanço tecnológico e o desenvolvimento do conhecimento humano, se a qualidade da administração sobre os grupos organizacionais não permitir um investimento efetivo nos recursos humanos e materiais. Pelo que o estudo deste tema se veste de grande importância, na medida em que, uma boa aplicação da Administração Publica em Moçambique poderá melhorar as situação socioeconómica do país através do aumento da produção (crescimento económico) e criação de serviços públicos mais próximos a população (desenvolvimento económico). 1.2. Objectivos 1.2.1. Geral Analisar o impacto do funcionamento da Administração Publica em Moçambique 1.2.2. Específicos Identificar os modelos de administração publica existentes; Descrever a forma como a administração publica esta organizada no país; 2 Descrever a forma como os órgãos administrativos funcionam no exercício das suas actividades. 1.3. Metodologia 1.3.1. Tipo De Pesquisa Para a realização da pesquisa recorreu-se a pesquisa qualitativa, sendo que segundo Richardson (1999), denomina-se por pesquisa qualitativa aos estudos que podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interacção de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais. Por meio desta foi encontrada a solução para o problema. Em relação aos aspectos metodológicos desta pesquisa, acerca da tipologia quanto aos objectivos, esta pode ser classificada como descritiva. Referida modalidade visa, segundo Gil (2006), descrever características de determinada população ou fenómeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Técnicas De Recolha De Dados A escolha do instrumento ou das técnicas de recolha de dados é crucial para o êxito da pesquisa. Para a colecta dos dados basear-nos-emos a pesquisa bibliográfica; a pesquisa documental. Para Gil (2006), a pesquisa bibliográfica é efectuada a partir do material já elaborado (constituído principalmente por livros e artigos científicos). 3 2. Quadro Teórico 2.1. Administração Publica Antes de falarmos da administração publica iremos trazer o conceito de Estado. O Estado emergiu, historicamente, em virtude da natureza social do homem e da necessidade de um mecanismo, consensual, para garantir a satisfação das necessidades colectivas, assim como parra regular a interação entre os indivíduos no contexto social. Nesta ordem de ideias, o Estado é uma unidade politica responsável ou encarregue de organizar as relações sociais (Poulanzas, 2000). Trata-se, neste caso, de uma instancia social que possui um potencial transformador em relação à sociedade, uma vez que ao articular as necessidades dos diferentes actores sociais, ele cria um efeito multiplicador ao longo do processo de interação (Teixeira e Santana, 1994). Segundo Bobbio (1995), o conceito de Estado não ë universal, dai a existência de diferentes acepções. Todavia, serve para referir-se a uma forma de ordenamento politico surgida na Europa a partir do seculo XIII, ate fins do seculo XVIII ou inícios do seculo XIX, tendo em conta pressupostos e motivos específicos inerente aos processos da historia europeia. Posteriormente, se estendeu libertando-se das suas condições originais e concretas de seu nascimento, passando a fazer parte de todo o mundo civilizado. No sentido mais geral, o termo Estado designa o conjunto de cidadoes que vivem politicamente organizados. Todavia, não pode ser confundido com pessoas que exercem o poder politico durante algum tempo e nem com próprio governo. De forma especifica, serve para fazer referencia às instituições governamentais que tendem a ser duradouras, embora se note mudanças na sua disposição institucional (Rego e Peixoto, 1998). Em diferentes concepções teóricas, o Estado é encarado como uma instituição que pode ser definida a partir da sua dimensão sociológica, politica ou jurídica. A maior parte dos conceitos apresentados baseiam-se nas condições necessárias que compõem sua noção, designadamente a população, território e poder politico. Neste sentido, o Estado surge como um termo usado para definir o conjunto de instituições dotadas com mecanismo de articulação entre a população e o poder politico, dentro d uma superfície territorial previamente delimitada (Azambuja, 1989). 4 No entanto, Weber (2004), adverte que, do ponto de vista sociológico, não se pode definir o Estado em função dos fins, mas pelo uso da coação física. De forma semelhante aos agrupamentos políticos que historicamente o procedem, o Estado consiste em uma relação de dominação do homem sobre o homem, fundada no instrumento da violência legitima. Este autor considera o Estado como a instituição social responsávelpelo monopólio desse tipo de violência, baseada no uso da forca impregnada no aparato politico-administrativo. 2.1.1. Estado e administração pública As relações entre o Estado e a administração pública estão cada vez mais revigoradas, por meio da intrínseca complementaridade entre seus órgãos, o que contribui para intensificar a confusão entre os dois aparatos Em meados de 1950 Simon (1947), conceitua a administração publica como sendo as actividades dos ramos executivos dos governos e suas organizações. Oliveira (1975), define administração publica segundo seus sentidos subjectivo, objecto e formal. Sob o aspecto subjectivo, a administração publica é o conjunto de órgãos e pessoas jurídicas; sob o aspecto objectivo, compreende as actividades do Estado destinadas à satisfação concreta e imediata dos interesses públicos; e sob o aspecto formal, é a manifestação do poder publico decomposta em actos jurídico-administrativos dotados da propriedade da auto- executoriedade, ainda que de caracter provisório. No entanto, a partir dos anos 1970, a concepção de que a politica está impregnada à administração publica é consolidada. E no sentido mais amplo, conforme Amato (1971), a administração publica significa politica, sistema politico, sistema de governo. Ou seja, é o conjunto de manifestação de conduta humana que determina a distribuição e o exercício da autoridade publica, bem como no tratamento dos interesses públicos. Ainda na ótica de Amato (1971), administração publica é a gestão dos bens e interesses qualificados da comunidade, nos âmbitos estatal ou municipal, segundo os preceitos do direito e da moral, visando ao bem comum. Em primeira analise, a gestão teria as mesmas características da administração, porem validas para um período de tempo determinado (Santos, 2014) Mayden (2019) apresenta dois os sentidos em que se utilizam na linguagem corrente a expressão Administração Pública: (1) orgânico; (2) material ou funcional. 5 A Administração Pública, em sentido orgânico, é constituída pelo conjunto de órgãos, serviços e agentes do Estado e demais entidades públicas que asseguram, em nome da colectividade, a satisfação disciplinada, regular e contínua das necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar. A administração pública, em sentido material ou funcional, pode ser definida como a actividade típica dos serviços e agentes administrativos desenvolvida no interesse geral da comunidade, com vista a satisfação regular e contínua das necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar, obtendo para o efeito os recursos mais adequados e utilizando as formas mais convenientes. Modelos de Administração Publica O que tem sido denominado de administração pública sofreu, ao longo da evolução das organizações sociais, profundas e importantes mudanças no que concerne ao modelo que estabelece as diretrizes do seu funcionamento. Caiden (1991), revela que existe uma relação intrínseca entre os momentos político paradigmáticos e os modelos de gestão pública. Neste sentido, as reformas, operadas no seio do aparato estatal, pressupõem a reestruturação administrativa com base num determinado paradigma estatal, visto que a administração pública é responsável pelo funcionamento das instituições do Estado na sua globalidade. Assim, em estreita ligação com a modernização das instituições estatais, a administração do Estado evoluiu baseando-se em três modelos: administração pública patrimonial, burocrática e gerencial. Todavia, durante o processo de sucessão destes modelos, nenhum deles foi inteiramente abandonado. Aliás, mesmo com a emergência da administração burocrática, no início do século XX, algumas práticas patrimonialistas mantiveram-se. A partir da segunda metade do século XX, emerge a concepção gerencial da administração pública, mas certos aspectos peculiares à administração do tipo patrimonialista e muitos referentes ao modelo burocrático prevalecem. Modelo Patrimonial Durante o período pré-capitalista, surgiu o primeiro estágio da administração pública, baseado na concepção patrimonial de sociedade. O predomínio de relações de caráter feudal conduziu à instauração de um quadro administrativo, por meio do qual o senhor feudal exercia o poder patriarcal, de forma absoluta e arbitrária. 6 O modelo patrimonial é mais freqüente em sistemas de dominação tradicional, onde a autoridade senhorial, constituída por via da tradição, é legitimada e amparada por um aparato administrativo formado com base em critérios pessoais que são, freqüentemente, dúbios. No âmbito da dominação tradicional, o patrimonialismo e o feudalismo são mantidos por meio de normas provenientes da tradição e da crença na estabilidade de seus princípios. Entretanto, no que tange à concentração do poder discricionário, o patrimonialismo supera o feudalismo. Nas sociedades onde vigoravam estas formas de ordenamento social, os bens e serviços eram tratados como se fossem propriedade pessoal do rei; atitudes que hoje são inseridas no âmbito da corrupção e no nepotismo eram considerados procedimentos normais e aceitos pela comunidade; o quadro administrativo era composto por aliados e indivíduos protegidos pelo rei e sua família; as pessoas que habitavam sob as terras do senhor feudal deviam uma lealdade pessoal e obediência a toda estrutura familiar criada pelo monarca. Para Bresser-Pereira (2003), uma administração pública patrimonialista aproxima-se aos Estados totalitários3 pois, trata-se de uma forma de administração que não apresenta uma clara separação entre o patrimônio do ditador e o do povo. Devido a essa carência de clarificação da linha divisória entre o bem público e a propriedade privada do governante, há uma tendência para a prática de desmandos. O soberano estipula as regras da administração pública de acordo com a própria vontade, ignorando o bem estar da sociedade, deixando o Estado propenso ao clientelismo e ao nepotismo. Neste sentido, o patrimonialismo se confunde com a privatização do setor público e, não se preocupa com a eficiência organizacional para consecução de bens e serviços públicos. Ainda de acordo com o mesmo autor, o modelo patrimonial tem como características predominantes as seguintes: a) falta de distinção entre bens públicos e privados; b) fragilidade das instituições públicas; c) baseia-se em relações de lealdade pessoal; 7 d) dominação tradicional; e) as regras da administração são estipuladas de acordo com a vontade do soberano; f) permite praticas como corrupção, clientelismo e nepotismo; g) o serviço público emprega e favorece os aliados do chefe; h) predisposição subjectiva e difusa de lealdade e obediência ao senhor burocrático. Modelo Burocrático O surgimento da burocracia moderna, no seculo XIX, está ligado, também, à necessidade que o poder estatal teve de se afirmar, em oposição a poderes feudais ou regionais. Neste contexto, processou-se a substituição das formas patrimoniais de administrar o Estado, por meio de uma reorganização do Estado sob prespectiva burocrática. Segundo Pereira (1999), foi em decorrência do crescimento das instituições publicas e das organizações privadas, que atingiu dimensões gigantescas, que a burocracia se tornou uma presença dominante nas cidades modernas. Passam a ser destacados os aspectos regulativos institucionais que definem as bases do comportamento considerado socialmente adequado, regulado por meio de processos formais. o modelo burocrático tem como características predominantes as seguintes: hierarquia funcional – exercício de um cargo ou função explicitamente definida; rotina inflexível; morosidade no desempenho do serviço administrativo; baixo desempenho devido a inflexibilidade e lentidão; prioriza a hierarquia, a especialização, a obediência a regras e procedimentos, a formalização, aimpessoalidade, neutralidade e competência técnica; separação entre o publico e o privado administração preocupada em cumprir em cumprir com regras e regulamentos concebidos para a maquina administrativa; hierarquia rígida, autoritarismo; dominação racional-legal; excesso de formalidade; regras rígidas; padronização e alta divisão do trabalho; especialização e meritocracia. 8 Modelo gerencial Hood (1994) caracteriza o gerencialismo como sendo uma forma de gestão profissional referindo-se à profissionalização da gestão, que consiste na fragmentação das grandes unidades administrativas, tem particularmente de optar pela incorporação de estilos de gestão de caracter empresarial e a tendência em procurar maior eficácia e eficiência. O modelo gerencial tem como características predominantes as seguintes: Menor preocupação com os processos administrativos; as ações da instituições publicas são voltadas aos cidadãos; Orientacao da ação doestado para o cidadão-usuário ou cidadão-cliente; Aplicação de procedimentos do sector privado nas instituições publicas; Terciarização das actividades auxiliares ou apoio, que passam a ser licitadas competitivamente no mercado; Tendência à maior transparência, flexibilidade, qualidade dos serviços, eficácia e eficiência; Enfase no controlo dos resultados através de contratos de gestão; Fortalecimento e aumento da autonomia da burocracia estatal, organizada em carreiras de estado, e valorização do seu trabalho técnico e politico de participar juntamente com os políticos e a sociedade da formulação e gestão das politicas publicas; Adoção cumulativa, para controlar as unidades descentralizadas, dos mecanismos de controle social direto, do controlo de gestão em que os indicadores de desempenho sejam claramente definidos e os resultados medidos, da formação de quase-mercados em que ocorre a competição administrativa Separação entre as secretarias formuladoras de politicas públicas de caracter centralizado e as unidades descentralizadas, executoras dessas mesmas politicas; Distinção de dois tipos de unidades descentralizadas: as agencias executivas, que realizam actividades exclusivas do estado, por definição monopolista, e os serviços sociais e científicos de caracter competitivo, em que o poder do estado não está envolvido. 9 3. Desenvolvimento 3.1. Funcionamento e organização da Administração Publica no Moçambique. Para compreendermos a forma como o estado se organiza e age nos nossos dias, em Moçambique, é necessário realizarmos um percurso histórico, que possa trazer as evidências dos vários modelos adoptados e as influências que as mesmas exercem no quotidiano da actividade pública moçambicana. Neste quadro, importa sublinhar a inevitável coabitação (muitas vezes nada pacífica), entre as diversas formas endógenas de organização e de exercício do poder e o chamado estado moderno. o estado moderno começa historicamente em Moçambique (e similarmente em Angola, tendo em conta a colonização comum) por ser o estado colonial, que haveria de se tornar efectivo como resultado das decisões tomadas pela Conferência de Berlim. Este estado centra a sua atenção particularmente nos sectores e nas actividades contributivas para a "economia moderna" virada para os “interesses externos” consentâneos com a especificidade do estado colonial. Este estado tinha como objectivos essenciais estender para todos os níveis da sociedade o estado moderno (pela sua eficácia, modernidade e abrangência) que pudesse responder às necessidades da população e também aos legítimos interesses - criados pela saga da independência nacional, mormente nos domínios da saúde e da educação que se tornavam os mais prementes. Como se pode depreender a forma de organização do estado – pese embora os esforços realizados, permanece nesta fase fundamentalmente a mesma, centralizado, burocrático, com influências manifestas do patrimonialismo e mais importante ainda, inadequado, porque fundado sob os alicerces anteriores, completamente diferentes dos preconizados. O que se pode concluir, é que o estado moderno, tanto no período pós independência, como actualmente constitui o instrumento existente para a realização das políticas de desenvolvimento e dos objectivos económicos e sociais. Na fase actual o estado em Moçambique, confronta-se por um lado, em desenvolver e consolidar o estado moderno, mas por outro lado associar as formas endógenas de organização, para construir um estado mais enraizado nos interesses da cidadania. 10 O surgimento da designada Nova Gestão Pública (NGP) refletiu análises teóricas e empíricas importantes na literatura da administração pública e influenciou intensamente as profundas reformas administrativas realizadas nas duas últimas décadas do século XX. O despontar dessas reflexões, como explicita Hood (1994), pode ser entendido como resultado das dificuldades enfrentadas pelo modelo de administração pública progressiva, cuja ênfase se centrava na aplicação de controles processuais e regras burocráticas que norteavam o funcionamento do setor público. A administração pública progressiva se mostou ineficaz para lidar com os desafios dessa época, relacionados com a expansão do setor público e do crescimento da taxa de despesas públicas, bem como com a dificuldade para controlar uma administração que se tornara mais dispendiosa e ineficiente. O NGP modifica a ênfase da administração pública tradicional movendo o Estado para novos padrões de gestão pública, que, segundo Thoonen (2010), estão orientados para: a redução de custos e maximização da eficiência da administração pública; redução das hierarquias; o downsizing visando à flexibilidade organizacional e a descentralização com ações como o abandono dos processos de padronização caraterísticos da administração pública weberiana; o controle pelos resultados e elevação do desempenho; e a orientação para a qualidade dos serviços prestados ao cidadão. No início da década de 1990 a revisão da Constituição da República de Moçambique (CRM) em 1990 e a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP) em 1992 impulsionaram a realização de profundas mudanças no Estado e no modelo de administração pública ora vigente. A revisão e aprovação da nova constituição liberal centrou os seus esforços, principalmente, na implantação da democracia política e do multipartidarismo (Abrahamsson e Nilsson, 1995) e nas ideias de criação de um Estado unitário gradualmente descentralizado norteado pela separação tripartida e interdependência de poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Nesses termos, a reforma parcial da Constituição em 1996 permitiu a materialização dessas ideias, pois introduziu um novo título (Título IV) sobre a institucionalização do Poder Local que possibilitou a criação das Autarquias Locais em Moçambique do tipo municípios e povoações como organismos providos de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, inaugurando, dessa forma, uma nova configuração da administração do Estado e das suas instituições e serviços. 11 Sobre os pressupostos da descentralização importa destacar que foram construídos sob a suposição de que formas descentralizadas de prestação de serviços públicos seriam mais eficientes e que, assim, elevariam os níveis reais de bem-estar da população. Portanto, reformas administrativas nesta direção seriam desejáveis, dado que viabilizariam a concretização de ideais progressistas, tais como equidade, justiça social, redução do clientelismo e aumento do controle social sobre o Estado e sua burocracia. Enfim, com a aprovação da Lei no 2/1997, de 18 de fevereiro, sobre o enquadramento jurídico para a criação das autarquias locais, passou-se a falar de descentralização enquanto processo político e administrativo para a democratização do poder, através da ampliaçãodos níveis de participação cidadã e da multiplicação de estruturas de poder, com vistas à melhoria da eficiência da gestão pública. Mas, também, como estratégia de capacitação dos grupos sociais para decidirem sobre problemas de interesse local, seja estruturando formas institucionais capazes de expressar a vontade coletiva nas instâncias de tomada de decisão - através dos conselhos consultivos locais -, seja como forma de exercer funções de fiscalização e controle sobre a gestão dos serviços públicos. Sendo que os órgãos executivos de governação descentralizada na província são: o Governador de província e o conselho executivo provincial (artigo 32 da lei no 4/2019 de 31 de Maio) A Lei no 8/2003, de 19 de maio, possibilitou a atribuição de competências exclusivas para os órgãos locais, eliminando de certa forma os problemas da dupla subordinação). Este último aspecto transformou uma vez mais a tradicional função pública de extrema dependência hierárquica e falta de autonomia das unidades administrativas locais, para uma gestão pública coordenada e interdependente A implementação, do Decreto no 5/2006, de 12 de abril, sobre a desconcentração de competências para o governador provincial e administrador distrital promoveu novas práticas de contratação para os quadros de pessoal em nível local concretizando, assim, a ideia da profissionalização dentro de um sistema de carreiras que obedece a tabelas salariais e a esquemas de promoção próprios. Por sua vez, a implementação do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado (Egfae) em 2009 pela Lei no 14/2009, de 17 de março, permitiu proceder a uma gestão de recursos humanos a partir de mecanismos modernos e de técnicas de avaliação de desempenho. 12 4. Conclusões A evolução histórica da administração pública mostra que ela é exercida com base em três modelos: o modelo Patrimonialista, neste modelo, os governantes consideram o Estado seu patrimônio, dispondo dos bens públicos como sendo de sua propriedade. O aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano; o modelo Burocrático surge Com o objetivo de proteger a coisa pública, idealizado pelo sociólogo alemão Max Weber; o modelo Gerencial surge com o objetivo de corrigir as disfunções da burocracia. Possui um posicionamento que privilegia a inovação, contrariando a Administração Burocrática, com mecanismos de gestão que valorizam o cidadão, objetivando oferecer serviços de qualidade. Em Moçambique a administração pública esta descentralizada, embora, os efeitos da descentralização não sejam visíveis na sua plenitude. Sendo que os Governadores provinciais e o conselho executivo provincial são o exemplo da descentralização na administração publica no país. Podemos então dizer, em jeito de conclusão, que o contexto da administração pública moçambicana actual, sofre de várias influências, nomeadamente: O patrimonialismo (hoje revelado através de formas neo – patrimonialistas, explícitas ou subjectivas) e que resulta por um lado, da discricionariedade organizativa do estado colonial, e por outro da sociedade tradicional (com características patriarcais e paternalistas); A “sociedade carismática” (na qual predominam as características personalísticas e místicas). 13 5. Referencias Bibliográficas 1) Azumbuja, D. (19889). Teoria geral do Estado. (26ª Edição). Rio de Janeiro: Globo 2) Bobbio, N. (1995). Estado governo sociedade: para uma teoria geral da politica. Editora paz e terra 3) Gil, A. C. (2006). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. (5ª Edição). São Paulo: Atlas. 4) Hood, (1994). Christopher. Explaining economic policy reversals. Buckingham: Open University Press. 5) Mayden, Assunção. J L. (2019). Direito Administrativo [Manual]. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). Beira. 6) Olveira, Fernando Andrade. (1975). Conceituação do Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Revista de Direito Administrativo. 7) Poulanzas, N. (2000). O Estado, o poder, o socialismo. Rio de Janeiro: Graal. 8) Santos, Clezio. (2014). Introdução à gestão publica. São Paulo Saraiva. 9) Teixeira, H. J e Santana, S. (1994). Remodelando a gestão publica. São Paulo: E- Blucher.