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ESTUDO DOS EVENTOS DE SECA METEOROLÓGICA NA REGIÃO SUL DO BRASIL Priscila Bogo Pessini Trabalho de Conclusão de Curso Universidade Federal de Santa Catarina Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental Priscila Bogo Pessini ESTUDO DOS EVENTOS DE SECA METEOROLÓGICA NA REGIÃO SUL DO BRASIL Trabalho apresentado à Universidade Federal de Santa Catarina para a conclusão do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Pedro Luiz Borges Chaffe Coorientador: Vinícius Bogo Portal Chagas Florianópolis 2017 Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. Pessini, Priscila Bogo Estudo dos Eventos de Seca Meteorológica na Região Sul do Brasil / Priscila Bogo Pessini ; orientador, Pedro Luiz Borges Chaffe, coorientador, Vinícius Bogo Portal Chagas, 2017. 87 p. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental, Florianópolis, 2017. Inclui referências. 1. Engenharia Sanitária e Ambiental. 2. Seca Meteorológica. 3. Índice de Precipitação Padronizado. 4. região Sul do Brasil. I. Chaffe, Pedro Luiz Borges . II. Chagas, Vinícius Bogo Portal . III. Universidade Federal de Santa Catarina. Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental. IV. Título. AGRADECIMENTOS Durante a minha jornada na vida acadêmica procurei valorizar além dos conhecimentos técnicos e científicos adquiridos, o desenvolvimento pessoal baseado na convivência que pude ter com pessoas que me inspiraram e me ensinaram a ser melhor. Concluindo o ciclo de aprendizados da graduação, agradeço a todos que contribuíram com o meu crescimento profissional e pessoal. Portanto, agradeço primeiramente aos meus pais, Leni Bogo Pessini e Itacir Pessini, os quais sempre me proporcionaram todas as condições para que eu pudesse me dedicar aos estudos, os quais sempre me apoiaram em todas as minhas decisões e foram os responsáveis na formação do meu caráter. Agradeço à minha irmã Pâmela e à Júlia Rohenkohl, que foram companheiras, pacientes e amigas durante esse período de trabalho. Agradeço também à minha grande amiga Martina Alba, quem sempre me acompanhou auxiliando de diversas formas, me dando motivação e agregando positivamente com seus ensinamentos. Agradeço aos meus amigos da turma 10.2, que durante a graduação foram os responsáveis pelos momentos memoráveis de alegria, noites longas de estudos e festas. Amigos da 10.2, que são exemplo de união e empatia, me acolheram como uma família e encheram o meu caminho da graduação de significado e boas lembranças. Em especial, Natalia Rosa, Iáscara Mattes, Maria Joana Allievi e Marina Bortoli, amigas que sempre me incentivaram e quem vou levar para vida toda. Faço um agradecimento especial ao Rodrigo Kern, quem inspirou meu interesse por hidrologia e compartilhou seu conhecimento, me proporcionando a oportunidade de compreender melhor diversos fundamentos dessa ciência. Ao programa Ciência sem Fronteiras e à Professora Nira Jayasurya, agradeço a oportunidade de aprender e realizar o projeto de pesquisa sobre os eventos de seca, motivando a realização do presente trabalho. Ao meu amigo e parceiro de projeto na Austrália, Bruno H. Toná Juliani, pelo companheirismo nas tardes e noites de estudo no "Building 28", e pela troca de conhecimentos durante o intercâmbio. Frente à gratificação de poder realizar esse trabalho, agradeço ao meu coorientador Vinícius B. P. Chagas, que me auxiliou diversas vezes com muita paciência e sabedoria, contribuindo significativamente na conclusão deste trabalho. Por fim, faço um agradecimento ao meu orientador, Professor Pedro Chaffe, pela oportunidade de realizar esse trabalho e pelo incentivo e desafio de expandir meu conhecimento. RESUMO A seca é a deficiência da disponibilidade de água em relação às condições normais, sendo resultado de complexas interações entre variáveis meteorológicas, hidrológicas, físicas e de interferência humana. A ocorrência dos eventos de seca pode causar consequências severas nos ecossistemas e no meio socioeconômico. Dessa forma, é significante a realização de estudos de identificação e caracterização dos eventos de seca que possam subsidiar a avaliação de vulnerabilidade e a adequada gestão dos recursos hídricos. Na região Sul do Brasil, embora o déficit na disponibilidade de água seja o principal fator gerador de prejuízos na produção agrícola, existem poucos estudos sobre eventos de seca. Este trabalho realizou um estudo dos eventos de seca meteorológica na região Sul do Brasil, avaliando-se as séries históricas de 671 estações pluviométricas, para o período de 1975 a 2010. O estudo compreendeu a identificação dos eventos de seca através do cálculo do Índice de Precipitação Padronizado (SPI) aplicado às escalas de tempo de 24, 12, 9, 6 e 3 meses de precipitação acumulada. A partir dos eventos identificados foi possível avaliar a frequência, a intensidade e duração das secas obtidas na série histórica. Os anos que apresentaram período de seca de maior duração foram 1978, 1979, 1988 a 1989 e 2006. A análise da variação regional da frequência dos eventos de seca, conforme os mapas de distribuição espacial, concluiu que a região centro-norte apresentou a maior frequência de ocorrência de seca. Observou-se, ainda, conforme a avaliação do mapa dos valores limiares de SPI = -1, que as regiões com menores precipitações correspondem ao norte do Paraná e ao sul do Rio Grande do Sul. A análise dos eventos de seca utilizando-se o valor limiar de SPI = -1 mostrou-se incoerente para algumas regiões, como a região centro-oeste, pois apresentou valores altos de precipitação correspondente a esse limite. A avaliação da aplicação das diferentes escalas de tempo do SPI indicou que a escolha da melhor escala de tempo para a identificação dos eventos deve estar associada às características climáticas de cada região. A última etapa consistiu em avaliar os resultados do SPI em comparação com os dados do Índice Oceânico Niño (ONI) obtidos da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), constatando-se relações entre os anos mais secos e a ocorrência de La Niña pelas escalas de longo termo (SPI- 12). Palavras-chave: Seca meteorológica; Índice de Precipitação Padronizado (SPI); região Sul do Brasil. ABSTRACT Drought is the deficiency in water availability compared to normal conditions, resulting from a complex iteration between meteorological, hydrological, physical and human variables. Drought events cause severe impacts on hydrological systems, and, consequently on socioeconomic components. Therefore, it is important to carry out studies that approach the identification and the characterization of drought events, aiming to generate subsidies for the evaluation of vulnerability and adequate water resources management. In the Southern region of Brazil, although the deficit in water availability is the main factor generating impacts in agricultural production, there is just a few studies about drought events,. In this context, this work carried out a study of meteorological drought events in the southern region of Brazil, evaluating historical data series of 671 rainfall stations for the period from 1975 to 2010. This study comprised the identification of drought events through Standardised Precipitation Index computation, applied to the time scales of 24 months (SPI-24), 12 months (SPI-12), 9 months (SPI-9), 6 months (SPI-6) and 3 months (SPI-3) of rainfall accumulation period. From the identifiedevents it was possible to evaluate the frequency, intensity and duration of droughts in the historical series. The years that presented the longest drought were 1978, 1979, 1988 to 1989 and 2006. The regional analysis of the frequency of drought events, according to the maps of spatial distribution, concluded that the central- north region presented the highest frequency of occurrence of drought. Furthermore, it was observed, according to the evaluation of the threshold values map (SPI = -1), that the regions with the lowest rainfall correspond to the north of Paraná and to the south of Rio Grande do Sul. The analysis of the drought events using the threshold value of SPI = -1 was incoherent for some regions, such as the central-west region, since it presented high values of precipitation corresponding to this limit. The evaluation of the application of different time scales of SPI indicated that the choice of the best time scale for the drought events identification can be associated to climatic characteristics of each region. The final stage consisted of evaluating the SPI results in comparison to the data from National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) Oceanic Niño Index (ONI), and the results found relationship between most drought periods and La Niña occurrence for long term time scales. Keywords: Meteorological drought; Standardised Precipitation Index (SPI); Southern region of Brazil. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - As diferentes categorias de seca ........................................... 26 Figura 2 - SPI utilizado como ferramenta de monitoramento de seca no Brasil pelo CPTEC/INPE. ..................................................................... 34 Figura 3 - Definições das características da seca de acordo com o SPI. 37 Figura 4 - Área de estudo, região Sul do Brasil, e as Estações Pluviométricas analisadas. .................................................................... 46 Figura 5 - Isoietas Anuais Médias na Região Sul no período de 1977 a 2006. ..................................................................................................... 47 Figura 6 - Porcentagem de falhas (a) e consistência (b) nos dados das estações selecionadas, no período de 1975 a 2010. ............................... 49 Figura 7 - Metodologia de determinação do SPI................................... 53 Figura 8 - Anos que apresentaram eventos de seca em 60% do tempo para SPI-3. ............................................................................................ 59 Figura 9 - Anos que apresentaram eventos de seca em 60% do tempo para SPI-12............................................................................................ 59 Figura 10 - SPI-3, SPI-6, SPI-9, SPI-12 e SPI-24 para a Estação Pluviométrica Deputado José Afonso (02352052) ............................... 60 Figura 11 - SPI-3, SPI-6, SPI-9, SPI-12 e SPI-24 para a Estação Pluviométrica Cacequi (02954001) ...................................................... 61 Figura 12 - Distribuição espacial dos valores limiares (SPI = -1) para SPI-12. .................................................................................................. 63 Figura 13 - Distribuição espacial da frequência de eventos de seca meteorológica para (a) SPI-3, (b) SPI-6, (c) SPI-9 ............................... 65 Figura 14 - Distribuição espacial da frequência de eventos de seca meteorológica para (a) SPI-12 e (b) SPI-24. ......................................... 66 Figura 15 - Distribuição espacial das durações máximas dos eventos de seca meteorológica para (a) SPI-3, (b) SPI-6, (c) SPI-9 ........................ 68 Figura 16 - Distribuição espacial das durações máximas dos eventos de seca meteorológica para (a) SPI-12 e (b) SPI-24. ................................. 69 Figura 17 - Índice Oceânico Niño (ONI) no período de 1975-2010. .... 70 Figura 18 - Comparação dos Resultados entre o ONI e SPI-12. ........... 72 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Índices de Seca mais utilizados .......................................... 32 Quadro 2 – Interpretação para diferentes escalas de tempo do SPI. ..... 36 Quadro 3 – Categorias de intensidade da seca. ..................................... 38 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANA Agência Nacional de Águas CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais CPC Climate Prediction Center CPTEC Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos ENOS El Niño - Oscilação Sul IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change) NDMC National Drought Mitigation Center NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration SPI Índice de Precipitação Padronizado (Standardised Precipitation Index) TSM Temperatura da Superfície do Mar ZCAS Zona de Convergência do Atlântico Sul SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................ 21 1.1 OBJETIVOS ......................................................................................... 22 1.1.1 Objetivo Geral..................................................................................... 22 1.1.2 Objetivos Específicos .......................................................................... 22 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................... 25 2.1 SECA .................................................................................................... 25 2.2 ÍNDICES DE IDENTIFICAÇÃO E MONITORAMENTO DE SECA 29 2.2.1 Índice de Precipitação Padronizado - SPI ........................................ 33 2.3 CARACTERÍSTICAS DOS EVENTOS DE SECA............................. 36 2.3.1 Intensidade ............................................................................................. 37 2.3.2 Duração .................................................................................................. 38 2.3.3 Distribuição Espacial ............................................................................. 39 2.3.4 Frequência .............................................................................................. 40 2.4 FATORES CLIMATOLÓGICOS QUE INFLUENCIAM NA PRECIPITAÇÃO DO SUL DO BRASIL ............................................. 40 2.4.1 Fenômeno El Niño - Oscilação Sul (ENOS) ......................................... 42 3 METODOLOGIA .................................................................... 45 3.1 ÁREA DE ESTUDO ............................................................................ 45 3.2 DADOS PLUVIOMÉTRICOS ............................................................. 48 3.2.1 Preenchimento de falhas nos dados ................................................... 49 3.3 ÍNDICE DE PRECIPITAÇÃO PADRONIZADO (SPI) ...................... 50 3.4.1 Características dos Eventos de Seca .................................................. 52 3.4 ELABORAÇÃO DOS MAPAS DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL .... 54 3.4.1 Krigagem ............................................................................................. 54 3.5 INTERFERÊNCIA DO FENÔMENO ENOS NA PRECIPITAÇÃO .. 55 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................. 57 4.1 IDENTIFICAÇÃO DOS EVENTOS DE SECA .................................. 57 4.1 INTENSIDADE.................................................................................... 62 4.2 FREQUÊNCIA..................................................................................... 63 4.3 DURAÇÃO............................................................................................ 67 4.4 RELAÇÃO DE OCORRÊNCIA DA SECA E OS EVENTOS ENOS .. 70 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .............................. 73 5.1 CONCLUSÕES .................................................................................... 73 5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................ 74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................. 77 APÊNDICE A - ROTINA PARA O CÁLCULO DO SPI ................ 85 APÊNDICE B - ANOS MAIS SECOS NO PERÍODO DE ANÁLISE (1975 - 2010) ......................................................................................... 87 21 1. INTRODUÇÃO Um evento de seca pode ser caracterizado como um período contínuo de deficiência na disponibilidade de água em relação às condições normais esperadas para uma determinada região. A seca é o evento extremo que apresenta um dos maiores impactos negativos e de larga escala socioeconômica, responsável por cerca de um quinto dos prejuízos socioeconômicos causados (WILHITE, 2000) e por 35% das mortes relacionados aos desastres naturais (WMO, 2014). No período de 1970 a 2012, 48 eventos de seca foram responsáveis por 23% das perdas econômicas causadas por desastres na América do Sul, incluindo a seca ocorrida no Brasil em 1978, responsável pela perda de 8 bilhões de dólares (WMO, 2014). No Brasil, a deficiência na disponibilidade de água é um fator particularmente crítico, pois além do abastecimento público, a maior parte da matriz energética (70%) é proveniente da geração de energia hidrelétrica (MELO et al., 2016). A ocorrência de eventos de seca é frequentemente abordada em estudos na região Nordeste do Brasil (MARENGO et al., 2013), cuja vulnerabilidade é refletida nos severos impactos gerados por esse fenômeno. Na região Sul, entretanto, há um menor número de estudos sobre eventos de seca. Embora a periodicidade dos eventos de seca não seja tão explícita quanto em outras regiões do Brasil, a estiagem é o principal fator gerador de prejuízos na produção agrícola da região Sul do país. Além disso, historicamente foram registrados períodos de seca significativos e de grande impacto econômico para região, apresentando uma evolução expressiva na severidade e ocorrência dos eventos nos últimos anos. Considerando a importância de se estabelecer a segurança hídrica, estudos têm sido desenvolvidos com a finalidade de compreender o fenômeno da seca, suas possíveis causas, seus impactos e a variabilidade temporal e espacial (VAN LOON, 2015). Dessa forma, a necessidade de identificar quantitativamente os eventos e analisar suas características, como severidade, duração e frequência, levou ao desenvolvimento dos índices de monitoramento e identificação de seca. Por se tratar de um fenômeno complexo e relacionado a múltiplas variáveis climatológicas e hidrológicas, a seca é geralmente categorizada em quatro diferentes abordagens: meteorológica, hidrológica, agrícola e socioeconômica (WILHITE; GLANTZ, 1985). A seca meteorológica consiste no período no qual o nível de precipitação está abaixo do esperado para condições normais, sendo caracterizada pela deficiência de precipitação. As outras categorias de seca refletem o 22 impacto gerado pela seca meteorológica (OGALLO, 1994), combinado a fatores específicos de cada abordagem. Entre os diversos índices existentes para as diferentes categorias de seca, o Índice de Precipitação Padronizado (SPI) está entre um dos mais amplamente utilizados para a identificação e monitoramento da seca meteorológica (BARKER et al., 2016). A partir da aplicação desse índice sobre os dados observados, é possível avaliar o déficit de precipitação ao longo do tempo e espaço para uma escala de tempo pré- definida. Nesse contexto, o presente trabalho aborda o estudo dos eventos de seca na região Sul do Brasil. O estudo compreende a identificação de eventos de seca meteorológica através do cálculo do Índice de Precipitação Padronizado (SPI), buscando-se analisar as características da ocorrência dos eventos de seca e sua variabilidade temporal e espacial. A avaliação estende-se na interpretação da relação intrínseca entre a ocorrência de eventos de seca e a dinâmica do sistema climático regional. A significância deste trabalho consiste no reconhecimento e na caracterização da ocorrência de eventos de seca. Os resultados poderão subsidiar a gestão de recursos hídricos na região, contribuindo para o planejamento de situações de risco e para a identificação de regiões vulneráveis à ocorrência desses eventos extremos. A análise adequada dos dados compõe uma ferramenta para a tomada de decisões, bem como para a definição de medidas e infraestruturas necessárias à atenuação dos impactos causados pela seca. Dessa forma, esse estudo pretende prover informações que auxiliarão na redução da vulnerabilidade e que proporcionarão o aumento da resiliência frente à ocorrência das anomalias meteorológicas no Sul do Brasil. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral Realizar um estudo dos eventos de seca meteorológica na região Sul do Brasil. 1.1.2 Objetivos Específicos Identificar os eventos de seca aplicando o Índice de Precipitação Padronizado (SPI) para as escalas de tempo de 24, 12, 9, 6 e 3 meses; 23 Analisar a variação espacial e temporal das características de intensidade, duração e frequência dos eventos de seca; Relacionar os resultados do SPI com o sistema climático da região Sul do Brasil. 24 25 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 SECA Um evento de seca consiste em um período contínuo em que a quantidade disponível nos componentes do ciclo hidrológico está abaixo das condições normais. Considerando a complexidade que envolve os fatores relacionados ao fenômeno de seca, de maneira simplificada, a seca pode ser compreendida como a deficiência de disponibilidade de água esperada em um determinado sistema hidrológico (SHEFFIELD; WOOD, 2011). De acordo com Van Loon e Van Lanen (2013), a seca é um fenômeno causado por processos naturais de caráter climatológico e hidrológico. A definição de seca é amplamente discutida na literatura, uma vez que há diferentes abordagens e entendimentos do assunto de acordo com a relação dos aspectos e interesses de cada estudo. Essas distintas abordagens convergem, portanto, para a classificação dos diferentes tipos de seca. Wilhite e Glantz (1985) classificam e identificam quatro diferentes categorias relacionadas aos eventos de seca: hidrológica, meteorológica, agrícola e socioeconômica. A classificação do fenômeno seca em diferentes categorias conecta as definições individuais à análise de determinado componente do sistema hidrológico, direcionando à avaliação e à quantificação das características dos eventos ocorridos. Sendo assim, é importante a compreensão de que a seca é uma condição relativa, e não absoluta, dentro de um sistema hidrológico (VAN LOON, 2015). A seca meteorológica pode ser basicamente definida como o período contínuo em que a quantidade de precipitação está abaixo das condições naturais esperadas para uma determinada região. Assim, a seca meteorológica se refere, especificamente, à deficiência de precipitação, possivelmente combinada ao aumento do potencial de evapotranspiração (VAN LOON, 2015). A seca meteorológica é influenciada diretamente pelas condições climáticas, variando significativamente de uma região para outra. Dessa forma, a deficiência de precipitação de uma determinada região pode ser considerada uma condição normal em outra região. Ademais, a seca meteorológicarepresenta impactos extensivos nos sistemas de utilização de água combinados às variáveis de propagação hidrológica. Portanto, as outras categorias de seca são definidas de acordo com os efeitos gerados pela seca meteorológica (OGALLO, 1994). O fluxograma apresentado na 26 Figura 1 demonstra um esquema representando as diferentes categorias de seca e seu desenvolvimento. Figura 1 - As diferentes categorias de seca Fonte: Adaptado de Van Loon (2015). A seca hidrológica é definida de acordo com os efeitos gerados pelos déficits de precipitação em um determinado sistema hidrológico. Assim, a seca hidrológica ocorre quando há deficiência na disponibilidade de água na superfície ou na subsuperfície (VAN LOON, 2015), relacionada aos níveis de água presente nos cursos d'água, reservatórios e nos aqüíferos. Eventos de seca hidrológica são originados de períodos de ocorrência de secas meteorológicas agregadas às características físicas de uma determinada região hidrográfica. A seca hidrológica refleteem efeitos econômicos, afetando o abastecimento humano, a dessedentação de animais, o fornecimento de energia hidrelétrica, a irrigação, entre outras atividades (GANGULI; REDDY, 2014). A seca agrícola é relacionada aos efeitos gerados pela seca meteorológica na agricultura. Também definida como seca de umidade do solo, trata-se justamente da diminuição da quantidade de água no solo, reduzindo assim o abastecimento de água para a vegetação (VAN LOON, 2015). Embora a seca agrícola esteja relacionada principalmente com a umidade do solo, outros componentes meteorológicos, como a 27 evapotranspiração, devem ser contemplados ao analisar as características ou os impactos dessa categoria de seca (WILHITE; GLANTZ, 1985). A seca agrícola é vastamente abordada nos estudos, uma vez que representa uma problemática onde a agricultura é a principal atividade econômica. A seca socioeconômica pode ser definida como o impacto social e econômico gerado a partir da ocorrência de eventos de seca. Assim, essa categoria de seca está associada aos impactos gerados pelos outros três tipos de seca (Figura 1). Esta se refere, principalmente, à incapacidade do sistema de recursos hídricos em atender à demanda de água, bem como aos relacionados impactos ecológicos e de saúde gerados pelos eventos de seca (VAN LOON, 2015). Dessa forma, uma análise dos eventos de seca envolve diferentes parâmetros agregados à categoria de seca que se pretende estudar. Embora existam mais tipos de impactos gerados pelos eventos de seca que estão relacionados à seca hidrológica (VAN LOON, 2015), é a seca meteorológica que principalmente influencia na ocorrência das demais categorias de seca. De acordo com Van Loon et al. (2016), a seca é geralmente abordada de uma perspectiva meteorológica, dirigida por anomalias meteorológicas que perturbam o balanço hídrico natural em uma região hidrográfica. Assim, Van Loon (2015) define propagação da seca como a transferência de anomalias nas condições meteorológicas para a seca hidrológica. Portanto, a análise e a quantificação das características dos eventos de seca meteorológica consistem em um processo importante para definir o início do processo de propagação dos impactos. Secas prolongadas são eventos críticos para o uso industrial, agrícola, energético e doméstico dos recursos hídricos, podendo afetar amplamente os ecossistemas e o ambiente natural (TALLAKSEN; MADSEN; CLAUSEN, 1997), além de ocasionar sérios impactos sociais. De acordo com World Meteorological Organization - WMO (2014), durante o período de 1970 a 2012, eventos de seca foram responsáveis por 35% das mortes relacionadas com desastres naturais e 200 bilhões de dólares em perdas econômicas. A consequente escassez de recursos hídricos proveniente de secas meteorológicas é agravada pelo crescimento populacional e pelos conflitos socioeconômicos. Além disso, o desperdício, a degradação dos cursos hídricos, e a variabilidade hidrometeorológica causada pelas mudanças climáticas têm ampliado os impactos causados pela seca (MISHRA; SINGH, 2011). A problemática estende-se aos obstáculos de gestão e aplicação de medidas e de tecnologias de monitoramento da seca e atenuação de 28 seus impactos. Embora a seca meteorológica não possa ser evitada, a sociedade e seus gestores podem tomar medidas para mitigar a ocorrência das secas hidrológicas, agrícolas e socioeconômicas (MELO; WENDLAND, 2016). A recorrente inabilidade de analisar adequadamente e gerenciar a seca aponta para lacunas no entendimento e para o uso inadequado dos dados e das ferramentas disponíveis ao monitoramento desses eventos (VAN LOON et al., 2016). Nas últimas décadas, a crescente ocorrência de eventos de seca e as dimensões de seus impactos têm gerado um aumento nas pesquisas voltadas ao estudo dos eventos de seca. No cenário global, em um recente estudo de eventos extremos apresentado em relatório pelo Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas - IPCC, Seneviratne et al. (2012) aponta que existe uma tendência de que, desde a década de 1950, algumas regiões do mundo têm experimentado secas mais severas e longas. Além disso, o mesmo estudo indica que os eventos de seca irão ocorrer de maneira mais intensa no século 21 em algumas estações do ano e para algumas áreas, devido às mudanças na temperatura e no regime de precipitações (SENEVIRATNE et al., 2012). Países como a Austrália, Estados Unidos, Portugal, África do Sul e Brasil tem enfrentado um aumento na incidência dos eventos de seca, o que tem gerado uma crescente demanda de medidas e políticas que atenuem os impactos gerados por este fenômeno (ALBUQUERQUE, 2010). No Brasil, a região Nordeste é conhecida historicamente pela recorrência e severidade de eventos de seca e por ser amplamente estudada na análise deste fenômeno. Recentemente, no período de 2014 a 2015, a região Sudeste do país enfrentou a pior crise hídrica de sua história devido à ocorrência da seca mais severa dos últimos 80 anos, desde o início do registro dos dados pluviométricos (BBC NEWS, 2015), o que comprometeu o abastecimento de 11 milhões de pessoas em São Paulo (MELO et al., 2016). A região Sul do Brasil, embora não apresente, em sua maior parte, estações secas tão bem definidas quando comparada a outras regiões do país, tem experimentado alguns eventos expressivos de ocorrência de seca ao longo da série histórica. De acordo com Grimm, Ferraz e Gomes (1998), os eventos extremos de seca na região Sul são geralmente associados aos fenômenos El Niño e La Niña. O Sul do Brasil é densamente povoado e concentra uma parte significativa da atividade econômica do país, moderna agricultura e intensa geração de energia hidroelétrica. De acordo com Liu e Kogan (1996), entre 1986 e 1987 a região Sul do Brasil mostrou alguns períodos mais expressivos de seca. No meio da estação chuvosa, os chamados "veranicos" durante janeiro e fevereiro tendem a afetar 29 agricultura da região. Lindner (2007) observa que as estiagens, algumas devida ao evento La Niña e outras sem causa identificada, definem o fenômeno meteorológico que causa os maiores impactos negativos na produção agrícola da região Sul do País. Em uma abordagem mais recente, os eventos de seca têm ocorrido com maior frequência na região, como os registros de eventos ocorridos em 2004, 2005 e 2006, período no qual cerca de 450 municípios decretaram situação de emergência (ALBUQUERQUE, 2010). Em 2012, novamente ocorreu um período expressivo de seca na região, o qual foi caracterizado como mais severo do que o ocorrido no período entre 2004 e 2006. No contexto histórico da ocorrência da seca na região Sul, considerando o grande impacto gerado na produção agrícola, traduz-se a relevância de realizar estudos de identificação, caracterização e análiseda ocorrência deste fenômeno. Embora existam programas e medidas emergenciais empregados no Brasil para atenuar os impactos gerados pela seca no formato de ações emergenciais (ALBUQUERQUE, 2010), ainda existe uma deficiência no planejamento e aplicação de ações de gestão de risco dos eventos de seca. 2.2 ÍNDICES DE IDENTIFICAÇÃO E MONITORAMENTO DE SECA O monitoramento e a previsão de eventos de seca são verdadeiros desafios na gestão de recursos hídricos e prevenção de desastres naturais. O estudo dos eventos de seca, importante para os gestores de recursos hídricos, deve abordar a variabilidade dos fatores que influenciam neste fenômeno, a qual está também relacionada às variáveis climatológicas, como a temperatura, a umidade relativa e a velocidade do vento (SUPPIAH; WHETTON; WATTERSON, 2004). Uma análise dos eventos de seca envolve o estudo de séries históricas de chuva, visando estimar a magnitude, a duração e a intensidade de eventos distintos (HEIM et al., 2000). Dessa forma, com o objetivo de identificar quantitativamente e analisar as características dos eventos de seca foram desenvolvidos indicadores ou índices de quantificação e monitoramento de seca. De acordo com Lloyd-Hughes (2014), existe mais de 100 indicadores de seca na literatura, o que evidencia a complexidade da análise desse fenômeno. Os índices de seca constituem em uma série de equações que utilizam variáveis meteorológicas ou hidrológicas, como precipitação, temperatura, escoamento, umidade do solo e evaporação, combinadas a procedimentos estatísticos. O resultado do cálculo dos índices consiste 30 na representação numérica da seca, expressando de maneira mais simples e compreensível as características destes eventos (BARRA et al., 2002). A seleção do adequado índice de quantificação e monitoramento de seca pode ser relacionado com a categoria de seca a qual se deseja avaliar. Van Loon e Van Lanen (2012) observam, por exemplo, que índices meteorológicos não devem ser utilizados isoladamente para caracterizar secas hidrológicas, devido à resposta não-linear às entradas de processos climáticos. Os índices de seca podem ser divididos em duas categorias gerais: índices padronizados e índices baseados em limiares (VAN LOON, 2015). Os índices padronizados representam as anomalias ou os desvios em relação às condições normais através de uma forma padronizada. A severidade avaliada através desses índices é expressa somente em termos relativos, ou seja, indica a distância de um valor ao padrão limiar, não sendo traduzida diretamente em termos de valores absolutos. O grupo de índices padronizados foi originado do Índice de Precipitação Padronizado (SPI), e abrange diversos índices com procedimentos de cálculo similares disponíveis para as outras variáveis do ciclo hidrológico (VAN LOON, 2015). Portanto, consistem em ferramentas de análise da propagação de seca, na qual as secas decorrentes de diferentes componentes do ciclo hidrológico podem ser comparadas (TEN BROEK; TUELING; VAN LOON, 2014). O método baseado no valor limiar fundamenta-se na obtenção das características dos eventos de seca através da utilização de um valor pré-definido na simulação de variáveis hidrometeorológicas (VAN LOON, 2015) ou no processamento e análise de séries históricas. Dessa forma, quando a variável encontra-se abaixo deste valor limar pré- definido, caracteriza-se como seca (VAN LOON, 2015). O valor limiar deve ser definido baseado nos níveis mínimos requeridos de acordo com os impactos da seca nos setores e sistemas de interesse, como na irrigação, no abastecimento da água, na operação de reservatórios, entre outros (LLOYD-HUGHES, 2014; HISDAL et al., 2004). Além da categorização geral, os índices de seca podem ser classificados de acordo com o tipo de seca que estes identificam. Os índices de seca meteorológica utilizam parâmetros como precipitação, temperatura e evaporação. Entre os exemplos de índices de seca meteorológica podem ser citados: índices de anormalidades discretas e acumuladas de precipitação, Índice de Severidade de Seca de Palmer (Palmer Drought Severity Index - PDSI), Deciles, Índice de Precipitação 31 Padronizado (Standardised Precipitation Index - SPI), entre outros (KEYANTASH; DRACUP, 2002). Os índices de seca hidrológica são associados a variáveis referentes aos sistemas de água presente no ciclo hidrológico, como o nível de água em reservatórios, nível de água subterrânea e vazões. Exemplos de índices de seca hidrológica são: Índice Hidrológico de Seca de Palmer (Palmer Hydrological Drought Index - PHDI), Índice de Abastecimento de Água em Superfície (Surface Water Supply Index - SWSI), Índice de Recuperação de Seca (Reconnaissance Drought Index - RDI) e o Índice de Vazão Padronizado (Standardised Runoff Index - SRI), entre outros (KEIYANTASH; DRACUP, 2012; BARKER et al., 2016). Os índices de seca agrícola, ou seca de umidade do solo, estão justamente relacionados aos parâmetros vinculados à agricultura e às propriedades do solo, como umidade do solo, evapotranspiração e temperatura. Exemplos de índices de seca agrícola são: Índice de Umidade de Cultura (CMI), Índice de Anormalidade da Umidade de Palmer (Índice Z), Índice de Aridez (IA), entre outros (KEYANTASH; DRACUP, 2002). Dessa forma, os diversos índices de seca existentes na literatura apresentam suas particularidades, considerando que cada um é aplicado de acordo com sua específica metodologia e parâmetros requeridos (VAN LOON, 2015). No Quadro 1 são apresentados alguns dos índices mais utilizados aplicados ao monitoramento, caracterização e quantificação dos eventos de seca, bem como suas vantagens e desvantagens. Considerando a análise das vantagens e desvantagens de alguns índices de seca existentes na literatura, selecionou-se o Índice de Precipitação Padronizado (SPI) para a identificação dos eventos de seca meteorológica no presente estudo. A seleção do SPI é justificada na utilização de apenas uma variável no cálculo, a precipitação, o que torna a obtenção dos dados e seu processamento simples e viável. Ademais, quando comparado a outras metodologias, em especial ao índice PDSI, o SPI utiliza uma metodologia de cálculo menos complexa, facilitando a aplicação do índice em larga escala. 32 Quadro 1 – Índices de Seca mais utilizados Índice Autor Descrição Variável Vantagens Desvantagens Índice de Precipitação Padronizado (SPI) McKee et al.(1993) Baseado na distribuição de probabilidade da precipitação. Precipitação Pode ser calculado para diferentes escalas de tempo; Possibilita prever eventos de seca; É menos complexo que o PDSI. Necessita de séries históricas longas; Baseado em dados preliminares que podem variar. Índice de Severidade de Seca de Palmer (PDSI) Palmer (1965) Conceitos de balanço entre demanda e suprimento de água. Precipitação, temperatura. Utiliza um algoritmo para calcular o balanço hídrico e a umidade do solo; Útil em aplicações agrícolas. Os valores podem não identificar as secas tão facilmente como outros índices; A metodologia é complexa. Deciles Gibbs e Maher (1967) Dividir os dados de precipitação em 10 escalas, numa ordem ascendente e descendente. Precipitação Fornece uma medida estatística exata da precipitação. Exige no mínimo 30 anos de registro de dados. Fonte: Adaptado de Albuquerque (2010) e Fernandes (2009). 33 2.2.1 Índice de Precipitação Padronizado - SPI O SPI é um dos índices disponíveis usados para a identificação de eventos de seca, bem como para a caracterização da severidade e duração destes (MCKEE; DOESKEN; KLEIST, 1993). O índice foi desenvolvido por McKee (1993) para classificar os dados de precipitação como um valor padronizadode acordo com a probabilidade de ocorrência da chuva. De acordo com Edwards (1997), o propósito do SPI é definir e monitorar eventos de seca, e este tem sido amplamente utilizado no mundo todo, aplicado à identificação dos períodos que apresentam deficiência de precipitação. O SPI compara a precipitação com a média da série histórica. Portanto, a média é definida como zero, sendo os valores acima de zero (variações positivas) indicados como períodos úmidos e os valores abaixo de zero (variações negativas) indicados como períodos secos (ZARGAR et al., 2011). Dessa forma, em um período de seca, o valor de SPI representa quanto a precipitação acumulada desvia da média normalizada. O Centro Nacional de Mitigação de Seca dos Estados Unidos, o Centro Climatológico do Colorado e o Centro Climatológico da Região Oeste (EUA) são exemplos de instituições que utilizam o SPI como uma ferramenta de monitoramento de seca. Segundo Van Loon (2015), especialistas participantes do workshop sobre seca, promovido pela WMO em 2009, recomendaram o SPI como índice a ser utilizado por todos os serviços meteorológicos e hidrológicos nacionais ao redor do mundo com o objetivo de caracterizar a seca meteorológica. No Brasil, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) utiliza o SPI como ferramenta de monitoramento de secas no território nacional (Figura 2). De acordo com o CPTEC/INPE (2017), o SPI foi utilizado com o objetivo de oferecer uma metodologia simplificada e que possibilite a fácil interpretação do monitoramento dos eventos de seca. As categorias de intensidade de um evento de seca adotadas a partir de valores limiares (negativos) do SPI foram baseadas no National Integrated Drought Information System dos Estados Unidos. O SPI fornece resultados que possibilita avaliar a tendência da ocorrência dos eventos de seca ao longo do tempo, o que viabiliza e auxilia a previsão de eventos futuros. Ressalta-se, porém, que o comprimento da série histórica apresenta impacto significativo nos resultados obtidos para os valores do SPI (VAN LOON, 2015). A utilização de diferentes comprimentos de séries históricas gera diferenças numéricas nos valores de SPI (MISHRA; SINGH, 2010). O 34 impacto do comprimento da série histórica na discrepância dos valores de SPI ocorre devido a mudanças nos parâmetros de forma e escala da distribuição gama (MISHRA; SINGH, 2010). De acordo com Guttman (1999), para utilização do SPI são recomendados 30 anos de série histórica. Embora o SPI requeira longas séries históricas para ser computado de maneira precisa, e, não contabilize o parâmetro de evaporação, o índice possibilita uma análise consistente entre tempo e espaço de ocorrência dos eventos (BARKER et al., 2016). Figura 2 - SPI utilizado como ferramenta de monitoramento de seca no Brasil pelo CPTEC/INPE. Fonte: CPTEC/INPE (2017). 35 O cálculo do SPI pode ser computado para diferentes escalas de tempo, fator que proporciona uma análise comparativa para diferentes períodos de acumulação de precipitação que podem ser selecionados de acordo com o interesse do estudo. Dessa forma, a aplicação do SPI às diferentes escalas de tempo considera, indiretamente, os efeitos do déficit de precipitação cumulativo (VAN LOON, 2015). As diferentes escalas de tempo de análise do índice são definidas como meses de acumulação de precipitação. Dessa forma, SPI-1 corresponde ao cálculo do SPI para precipitações acumuladas de 1 mês, SPI-3 corresponde a precipitações acumuladas de 3 meses, e assim sucessivamente. As escalas de tempo devem ser empregadas considerando as variabilidades climáticas de curto e longo termo, e conforme a aplicação a qual o monitoramento estará destinado. Considerando que o déficit de precipitação ao longo do tempo de forma variável e gradual afeta diferentes componentes do ciclo hidrológico (ZARGAR et al., 2011), o múltiplo uso das escalas de tempo do SPI pode ser empregado para refletir a alteração em diferentes processos hidrológicos. O Quadro 2 apresenta a interpretação do SPI para diferentes escalas de tempo. O período cumulativo de curto prazo é aplicado a processos que são rapidamente afetados pelo comportamento climático (1 a 2 meses), como a agricultura de sequeiro e a velocidade de com que as gramíneas e os arbustos secam (CPETEC/INPE, 2017). Processos que tem seu impacto percebido em uma escala de tempo mais longa consistem, por exemplo, na variação de nível de poços rasos, pequenas lagoas e rios menores (CPETEC/INPE, 2017). As escalas de tempo mais longas afetam, por exemplo, flutuação de nível de reservatórios ou aquíferos, ou grandes massas de água (CPTEC/INPE, 2017). O emprego de diferentes escalas de tempo converge na obtenção de diferentes resultados para as características de seca (MCKEE et al., 1993). De acordo com Edwards (1997), aplicando-se as escalas de tempo de 3, 12 e 48 meses, é visto que a porcentagem do tempo com anomalias negativas aumenta com a redução da escala de tempo aplicada. Conforme é observado por Hayes et al. (1999), a seleção da escala de tempo deve estar intrínseca ao conhecimento climatológico. Isso porque para pequenas escalas de tempo como de 1 a 3 meses, o SPI é muito similar à percentagem da representação normal de precipitação, a qual pode ser enganosa para regiões onde baixos totais de precipitação são climatologicamente esperados (HAYES et al., 1999). A escala de tempo de 12 meses de precipitação acumulada é largamente utilizada em estudos de seca, especialmente quando se 36 analisa a propagação da seca meteorológica em seca hidrológica. Segundo Vicente-Serrano e Cuadrat (2002), essa escala evita as variações de frequência intra-anuais e permite identificar a seca hidrológica e detectar os principais períodos secos. Quadro 2 – Interpretação para diferentes escalas de tempo do SPI. SPI Fenômeno refletido Aplicação/Observação SPI-1 Condições de curto prazo Alterações de curto-termo na umidade do solo e na agricultura. Similares à precipitação normal mensal. SPI-3 Condições de umidade de médio e curto prazo Estimativa sazonal de precipitação. Tem grande aplicação na análise de umidade do solo. SPI-6 Condições de médio prazo Estimativa da precipitação ao longo das estações do ano. SPI-9 Padrões de precipitação em uma escala de tempo médio SPI-9 < -1,5 trata-se de um bom indicador de impactos significativos da seca na agricultura. SPI-12 Padrões de precipitação de longo prazo Associado às vazões, níveis de água de reservatórios e níveis de água subterrânea. Fonte: Adaptado de NDMC (2017), Albuquerque (2010) e Zargar et al. (2011). 2.3 CARACTERÍSTICAS DOS EVENTOS DE SECA Eventos de seca diferem entre si conforme as suas características, essencialmente: intensidade, duração e distribuição espacial (WILHITE, 2000). Além dessas, outras características relevantes incluem frequência e magnitude (ZARGAR et al., 2011). 37 A Figura 3 apresenta as definições das características da seca de acordo com o SPI. Como é possível visualizar, a magnitude de um evento de seca está relacionada com as intensidades cumulativas e com a duração do evento. Figura 3 - Definições das características da seca de acordo com o SPI. Fonte: Adaptado de Santos, Portela e Pulido-Calvo (2011). 2.3.1 Intensidade A intensidade de um evento de seca se refere ao grau da anomalia negativa de precipitação em relação às condições normais, e à gravidade associada ao déficit (WILHITE, 2000). A intensidade é medida geralmente a partir de um índice de monitoramento e identificação da seca (WILHITE, 2000). Dentro do contexto da aplicação do SPI, a intensidade é medida através do ajuste à distribuição de probabilidade de um determinado valor de precipitação, posteriormente transformado emdistribuição normal. Sendo assim, a intensidade representa o quanto o valor da precipitação desviou da média normalizada para um determinado período pontual. Ademais, segundo Salas (1993), a intensidade pode ser definida como o raio da magnitude sobre a duração do evento. De acordo com Wilhite (2000), uma das principais dificuldades relacionadas à obtenção de resultados para intensidade da seca consiste na determinação do valor limiar (threshold level) para a definição do início da seca. McKee et al. (1993) define um evento de seca quando o 38 SPI (intensidade) atinge o valor limiar de -1 ou menor. Entretanto, o valor limiar pode ser arbitrariamente selecionado (WILHITE, 2000) de acordo com o impacto de interesse e a região de estudo. A intensidade da seca pode ser definida conforme os valores de SPI em diferentes categorias. Os valores limites que definem cada categoria variam na literatura conforme as características da região e o interesse do estudo. As categorias de intensidade definidas por McKee et al. (1993) são apresentadas no Quadro 3. Quadro 3 – Categorias de intensidade da seca. SPI Categoria 0 a -0,99 Seca fraca -1,00 a -1,49 Seca moderada -1,50 a -1,99 Seca severa -2,00 Seca extrema Fonte: Adaptado de McKee et al. (1993). A intensidade máxima em uma seca pode ser facilmente determinada através do SPI, determinando-se o pico mínimo entre os valores calculados. A severidade, por sua vez, é determinada através da soma de todos os valores absolutos que fazem parte de um evento de seca. Sipioni et al. (2015), calcula a severidade total da seca considerando todos os eventos ocorridos para um determinado período. 2.3.2 Duração A duração da seca consiste no período entre o início e o final de um evento de seca (MCKEE et al., 1993). Dessa forma, a duração da seca é interpretada como o número de intervalos consecutivos, geralmente meses, em que a precipitação permanece abaixo de um valor limiar pré-estabelecido. Dependendo da região, a duração de uma seca pode variar de semanas a anos (SALAS, 1993). A aplicação de diferentes escalas de tempo é um fator que influencia na duração dos eventos. Por conseguinte, quanto maior a escala de tempo empregada, menor a frequência de eventos e maior a duração (MCKEE et al., 1993). 39 Geralmente secas de longa duração são compostas essencialmente de secas de curto prazo que ocorreram consecutivamente ou intermediadas por períodos úmidos não muito significativos (EDWARDS, 1997). A duração de um evento de seca também reflete na propagação da seca meteorológica em outras categorias de seca. Sendo assim, o alastramento da deficiência hídrica e seus impactos são componentes resultantes de um fenômeno cumulativo. Considerando que a magnitude de um evento de seca é definida proporcionalmente à sua duração, secas prolongadas e que ocorrem com baixa frequência representam um risco maior se comparadas a frequentes eventos ocorridos em curtos períodos de tempo intercalados por períodos úmidos (VICENTE-SERRANO et al., 2004). 2.3.3 Distribuição Espacial A distribuição espacial dos eventos de seca e suas características, bem como a extensão espacial desse fenômeno são fatores importantes a serem avaliados na gestão de risco das secas. A distribuição da ocorrência de seca em determinada região tende a revelar padrões espaciais significativos. Além disso, a análise espacial auxilia na investigação de influências do relevo, circulação atmosférica e tipos de clima sobre a ocorrência da seca meteorológica (SANTOS; PORTELA; PULIDO-CALVO, 2011). A intensidade e a duração dos eventos de seca são espacialmente variáveis. Melo et al. (2016), identifica, por exemplo, que a seca ocorrida em 2014 na região Sudeste do Brasil foi mais crítica para a região nordeste da área de estudo, apresentando valores de intensidade menores que as demais regiões. Os mapas de monitoramento de seca através do SPI consistem na avaliação da distribuição e extensão espacial da intensidade das anomalias meteorológicas ocorridas em um determinado período. As áreas afetadas pelas secas evoluem gradualmente (WILHITE, 2000), considerando uma série de fatores climatológicos, físicos e hidrológicos que influenciam na propagação espacial. Países com uma área extensa como Brasil, China, Índia, Estados Unidos e Austrália, dificilmente sofrerão uma seca que afete o país inteiro (WILHITE, 2000). Em países menores, existe a possibilidade de todo o país ser afetado, uma vez que as secas geralmente são fenômenos regionais e resultam de anomalias em larga escala nos padrões de circulação atmosférica que se estabelecem e persistem por períodos (WILHITE, 2000). 40 2.3.4 Frequência A frequência se refere ao tempo médio entre eventos de seca cuja severidade é igual ou maior que o valor limiar, podendo ser representado por período de retorno (ZARGAR et al., 2011). Sipioni et al. (2013) define a frequência de seca como o número de eventos ocorridos em um determinado período. De acordo com Mishra e Singh (2011), a frequência de ocorrência da seca torna-se mais útil quando está relacionada quantitativamente com outros aspectos, como a severidade, duração e área. A partir dessa análise, desenvolveram-se estudos que elaboraram curvas de severidade-área-frequência (SAF) e curvas de severidade- duração-frequência (SDF). Considerando a aplicação do SPI para as diferentes escalas de tempo, constatou-se que conforme aumenta a escala de tempo empregada a frequência diminui de maneira inversamente proporcional (McKee et al., 1993). 2.4 FATORES CLIMATOLÓGICOS QUE INFLUENCIAM NA PRECIPITAÇÃO DO SUL DO BRASIL Na região Sul do Brasil, a precipitação é caracterizada por apresentar heterogeneidade entre a região norte e região sul. Ao norte do Sul do Brasil predomina regime típico de monção, cujas maiores precipitações ocorrem no verão e apresenta um inverno seco (GRIMM, 2009). Ao sul, o regime é característico de latitudes médias, com uma distribuição de precipitação praticamente uniforme ao longo do ano (GRIMM, 2009). A topografia da região é um fator influente, considerando que as maiores precipitações estão relacionadas à ascensão da barreira topográfica (GRIMM, 2009), especialmente devido ao efeito orográfico gerado na costa leste da região Sul. Além da influência de efeitos topográficos na precipitação da região Sul do Brasil, a variabilidade é influenciada significativamente pelo sistema climático que a rege. Entre as principais causas da variabilidade na precipitação, citam-se a variabilidade no oceano Atlântico tropical; na Zona de Convergência do Atlântico Sul; no oceano Pacífico (CAVALCANTI et al., 2009); além dos mecanismos de bloqueios atmosféricos (REBOITA et al., 2010) e Oscilação Madden- Julian (KAYANO; JONES; DIAS, 2009). A temperatura da superfície do mar (TSM) tem sua influência em mecanismos de anomalias de precipitação em escalas interanuais e 41 multidecenais. Ambos os oceanos Atlântico tropical e oceano Pacífico conduzem padrões e anomalias na precipitação do sudeste da América do Sul. A redução da temperatura do Atlântico tropical indica um aumento na umidade e consequente aumento da precipitação média É esperado, portanto, que a condição de temperaturas quentes no oceano Atlântico tropical tende a favorecer a ocorrência de seca na América do Sul (SEAGER et al., 2010). As variações da precipitação também ocorrem devido às alterações da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Essa característica climática consiste na presença de uma faixa de nebulosidade e chuva, que associada a uma zona de convergência na baixa troposfera orienta-se no sentido noroeste-sudeste, frequentemente sobre o oceano Atlântico Subtropical (CARVALHO; JONES, 2009). A atuação da ZCAS na região Sul ocorre a partir de setembro/outubroe se estende até março/abril (NERY, 2005), aumentando os níveis de precipitação nessa região. A ZCAS ocorre mais ao norte da região Sul, o que justifica a chuva de verão mais intensa nessa região (CAVALCANTI et al., 2009). Os bloqueios atmosféricos consistem em mecanismos climáticos que podem causar tanto aumento na precipitação quanto as estiagens na região Sul, dependendo da sua localização (REBOITA et al., 2010). Estes mecanismos são caracterizados pela presença de um anticiclone que permanece quase estacionário por algum tempo e interfere na corrente zonal, impedindo o deslocamento para leste dos sistemas sinóticos, como frentes, ciclones e anticiclone (AMBRIZZI; MARQUES; NASCIMENTO, 2009), e, dividindo o escoamento zonal em dois ramos. De acordo com Knox e Hay (1984), o desvio dos sistemas sinóticos pode causar déficit de precipitação nas regiões bloqueadas e enchentes no lado polar e equatorial. Períodos sem a ocorrência de precipitação em Santa Catarina, geralmente no outono, podem estar associados ao bloqueio de frentes frias, as quais são desviadas para a costa do Rio Grande do Sul (SACCO, 2010). A Oscilação de Madden-Julian (OMJ) consiste em uma célula de circulação sazonal que se propaga para leste em um período de 30 a 60 dias. A OMJ é identificada como uma das principais causas de anomalias extremas na precipitação quando analisada a variabilidade intrassazonal (KAYANO; JONES; DIAS, 2010), sendo intensificada através da relação com as ZCAS. 42 2.4.1 Fenômeno El Niño - Oscilação Sul (ENOS) O fenômeno El Niño - Oscilação Sul (ENOS) consiste em uma variação interligada do sistema oceano-atmosfera, que ocasiona alterações na Temperatura da Superfície do Mar (TSM), na pressão atmosférica, no vento e na convecção tropical no oceano Pacífico (CAVALCANTI et al., 2009). A denominação desse fenômeno refere-se justamente aos componentes de sua formação: variação oceânica (El Niño/ La Niña) e variação da pressão atmosférica representada pela Oscilação Sul (FECHINE, 2015). O evento El Niño está relacionado à redução da diferença de pressão e às anomalias positivas na TSM no oceano Pacífico central e leste tropical (VICENTE-SERRANO et al., 2011). O evento La Niña, por sua vez, está relacionado a anomalias negativas na TSM e ao aumento do gradiente de pressão de oeste a leste no oceano Pacífico (VICENTE-SERRANO et al., 2011). Acredita-se que os fenômenos ENOS compõem a principal causa da variabilidade interanual do clima no Brasil (CAVALCANTI et al., 2009), evidenciado na interferência na TSM e na variabilidade da precipitação anual e sazonal. A ocorrência de El Niño na primavera, especialmente em novembro, tende a gerar fortes anomalias positivas na precipitação da região Sul do Brasil, podendo causar várias ocorrências de enchentes associadas a esses episódios (CAVALCANTI et al., 2009).Durante os eventos de La Niña tendem a ocorrer anomalias negativas, podendo resultar na ocorrência de déficit de chuva na região Sul do Brasil (CAVALCANTI et al., 2009). Estudos analisaram o impacto do ENOS sobre a variabilidade de precipitação da região Sul (GRIMM; FERRAZ; GOMES, 1998) e em outras regiões, incluindo a utilização do SPI para avaliar a resposta da precipitação à ocorrência de eventos El Niño e La Niña (PENALBA; RIVERA, 2016). A abordagem da variabilidade da precipitação utilizando o SPI em comparação aos períodos de ocorrência dos eventos El Niño e La Niña torna-se importante para quantificar com precisão a variedade de impactos relacionados à variabilidade ENOS. Dessa forma, quando são estudados mecanismos atmosféricos de seca devem-se considerar as diferentes escalas de tempo a fim de ter uma perspectiva das implicações de riscos (VICENTE-SERRANO et al., 2011). Nesse contexto, os estudos apontam que ocorre um aumento na probabilidade de ocorrência de seca durante os eventos La Niña (VICENTE- SERRANO et al., 2011). Os eventos La Niña apresentam frequência de 2 a 7 anos, porém têm ocorrido em menor quantidade nas últimas décadas (INPE/CPTEC, 43 2017). A duração de eventos La Niña varia de 9 a 12 meses e apresentam intensidade de desvios de TSM menores que na ocorrência de eventos El Niño (INPE/CPTEC, 2017). As últimas ocorrências do fenômeno La Niña foram: no período de 1988 a 1989, um dos episódios de maior intensidade do fenômeno; anos de 1995 a 1996; anos de 1998 a 2001; e 2007 a 2008 (INPE/CPTEC, 2017). Considerando a influência da conexão entre a atmosfera e o oceano Pacífico no clima global, a variabilidade de ocorrência dos eventos El Niño e La Niña é monitorada. O monitoramento e a caracterização do fenômeno ENOS ocorrem através de índices, como o Índice de Oscilação Sul (IOS), os índices nomeados Niño (Niño 1+2, Niño 3.4 e Niño 4) (INPE/CPTEC, 2017) e o Índice Oceânico Niño (ONI) (PENALBA; RIVERA, 2016), que auxiliam na previsão e análise de padrões na ocorrência de eventos extremos. 44 45 3 METODOLOGIA 3.1 ÁREA DE ESTUDO A área selecionada para realizar o estudo de seca meteorológica compreende a região Sul do Brasil (Figura 4). A região Sul apresenta uma área total de 576.384 km² (IBGE, 2016) e é constituída por três estados: Paraná (PR), Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS). De acordo com o IBGE (2010), a população que reside na região Sul corresponde a 27.386.891 habitantes, sendo considerada uma região densamente povoada. A região Sul concentra grande parte da atividade econômica e é caracterizada por apresentar moderna produção agrícola e intensa geração de energia hidrelétrica. A economia da região Sul é baseada principalmente na atividade agrícola, na pecuária e no setor industrial, apresentando também importante representatividade na geração de energia (SANSIGOLO et al., 2004). Conforme os dados do IBGE referente à safra de 2000 a 2001, cerca de 90% da produção de arroz irrigado foram provenientes da região Sul (ALBUQUERQUE, 2010). Além disso, trata-se de uma região com destaque na produção nacional de soja. O uso do solo é variado, apresentando um uso intensivo agrícola na parte norte da região Sul, com uma produção voltada principalmente ao cultivo de soja e feijão. Na parte sul e sudoeste a atividade agrícola é voltada para a produção de pasto e arroz irrigado. No centro-norte as áreas de uso agrícola são mescladas por fragmentos de mata Atlântica subtropical secundária. A região costeira é fortemente ocupada por áreas urbanas, pastagens e fragmentos de floresta nativa (CHAGAS; CHAFFE, 2016). O clima do Sul do Brasil é predominantemente subtropical, o que caracteriza verões quentes e úmidos e invernos frios e secos. O planalto meridional e as serras são responsáveis por contrastes significativos na distribuição de temperaturas (CAVALCANTI et al., 2009). A localização geográfica da região Sul, na transição entre os trópicos e as latitudes médias, e o relevo acidentado são componentes que corroboram para ocorrência de contrastes no regime de precipitação e temperatura (CAVALCANTI et al., 2009). O regime de precipitação apresenta transição entre a região norte e a região sul. O norte do Paraná é característico de regime de monção, com significativa variação de precipitação em que os verões são mais chuvosos e os invernos mais secos (GRIMM, 2009). O Rio Grande do 46 Sul por sua vez apresenta um regime característico de latitudes médias, com precipitação praticamente uniforme ao longo do ano e chuvas mais fortes no inverno (GRIMM, 2009). Ademais, a influência do relevo também é perceptível, sendo as maiores precipitações associadas à ascensão sobre a barreira topográfica (GRIMM, 2009). As anomalias na precipitação que caracterizam eventos extremos na região geralmente são associadas à influência dos fenômenos El Niño e La Niña (GRIMM; FERRAZ; GOMES, 1998).Figura 4 - Área de estudo, região Sul do Brasil, e as Estações Pluviométricas analisadas. Fonte: Limites políticos (IBGE, 2016); estações pluviométricas (ANA, 2017); altimetria (USGS, 2006). A convergência de umidade horizontal na região Sul é coincide com o regime de precipitação. Dessa forma, no verão a máxima convergência horizontal de umidade se concentra mais ao norte da região Sul, ao passo que no inverno situa-se mais ao sul, fator que # ## ## # # ## # # ###### ## # ### #### ## ##### #### # # ## # ### ## # ## ### ### # # # # # ## # # # ## # # # ## ## # ### ## # # # ## # # # # # # # # ##### # # # # ## # # #### # # ## # # # ## # ###### # # # # # # # # # ## # # # # # ## ## # # # # # # # # ## ## # # # # # ## # # # # # # # # ## ### ## # # # ### ## # # # # ## ### # # # ## # # # ## # ## # ## # # # # # # # # ## # # # # # # ## # ## ## ## ## ## # # # # # # # # # # ## ## ####### # # ### # ### # #### ## ### ## ## ### # # ### ## #### # #### # ## # ## # ## # ## ### # # #### ## #### # # # # # # # ## ## ## # # ### ### # ### #### ## ## # #### # # # # ###### #### # # ## ## # ### ## # # # ## ## # ## # ## # # ######## ##### # ## #### ### ## ### # ### ## ### # # # # # # ### # ## ### # ## ## # ### ## # #### ## # ## # # # ## # ## ####### # ### ## #### # # ## # # ### # ## # # # ## # # # # # ## ## # ### # # ## ## # # #### #### ## # #### # # #### # # ## ## # ## # # ## # ## ## ### # # # # ##### ## ### # # # # # # #### # # # ### ## # ### ## ### ## # # #### ### ## #### ### # ## ## ## ## ## ### # #### # ##### # ## ## # ## -55 -50 -30 -25 0 100 200 km ± -65 -40 -20 0 BRASIL Altitude (m) 1831 0 # Estações Pluviométricas 47 coincide com as regiões que apresentam maiores valores de precipitação nessas estações (CAVALCANTI et al., 2009). A precipitação média anual varia de 1300 mm a 2600 mm, conforme o mapa isoietas anuais médias na região Sul do Brasil (Figura 14), elaborado a partir dos dados do CPRM (2006). As áreas que apresentam menores índices de precipitação correspondem ao centro- norte do Paraná e ao sul do Rio Grande do Sul. Enquanto as áreas referentes aos maiores índices de precipitação correspondem à região centro-oeste da região Sul e ao leste do Paraná. Figura 5 - Isoietas Anuais Médias na Região Sul no período de 1977 a 2006. Nota: A interpolação espacial dos valores de precipitação anual média foi realizada pelo método da krigagem. Fonte: Limites políticos (IBGE, 2016); isoietas anuais médias (CPRM, 2006). 48 3.2 DADOS PLUVIOMÉTRICOS Os dados pluviométricos utilizados no presente estudo foram obtidos das séries históricas das estações pluviométricas monitoradas pela Agência Nacional de Águas (ANA), no portal de informações hidrológicas HidroWeb (ANA, 2015). Inicialmente, analisaram-se um total de 1947 estações pluviométricas presentes no banco de dados da ANA (2015). Considerando a variabilidade do período de dados disponíveis em cada estação e a porcentagem de falhas existente, realizou-se uma pré-seleção dos dados baseada no critério de qualidade dos dados e no tamanho da série histórica necessária para computar o SPI. O período contínuo de análise foi estabelecido observando os anos de início e fim das medições de dados. Sendo assim, constatou-se que grande parte das estações pluviométricas teve início das medições entre os anos de 1974 e 1976. De maneira similar, verificou-se que a maior parte das estações apresenta dados disponíveis até o ano de 2010. Considerando essa avaliação dos dados, determinou-se o período de análise entre 1975 e 2010. O período de 35 anos de análise está em concordância com o intervalo de tempo recomendado na literatura, correspondente a 30 anos de dados para análise consistente de seca meteorológica através da aplicação do SPI (GUTTMAN, 1999). Definido o período de análise, estabeleceu-se um critério de controle de qualidade dos dados de maneira a eliminar possíveis erros referentes a períodos que apresentaram falhas nos dados, ou seja, devido à ausência de medição. Sendo assim, foram selecionadas estações que apresentaram uma porcentagem máxima de falhas de 10% de dados diários na série histórica. Sendo assim, aplicando-se os critérios, restaram 685 estações pluviométricas. Utilizou-se, então, uma análise exploratória dos dados, na qual foram removidas estações com dados incoerentes e duvidosos, como dados de chuva na quarta ordem de grandeza ou que continham zeros no lugar de dados falhados. A análise exploratória foi baseada na observação de gráficos com valores máximos, mínimos e médios anuais. Então, a partir dessa análise eliminaram-se 14 estações que apresentaram essas características, restando 671 estações pluviométricas (Figura 4). As 671 estações selecionadas são distribuídas de maneira heterogênea ao longo dos três estados. Dessa forma, no Paraná foram selecionadas 454 estações, em Santa Catarina 91 estações, e, no Rio Grande do Sul 126 estações pluviométricas. 49 Para o presente estudo não foi aplicado nenhum método de análise de consistência dos dados, sendo utilizados os dados com a consistência definida pela ANA (2015). O processo de análise de consistência trata da verificação da confiabilidade dos dados pelas agências reguladoras, sendo o procedimento de controle de qualidade, correções e eventual preenchimento de falhas (GEINF, 2014). O Paraná é o estado que apresentou maior porcentagem de dados não consistidos, podendo implicar em erros de análise dos resultados obtidos com o cálculo do SPI. Figura 6 - Porcentagem de falhas (a) e consistência (b) nos dados das estações selecionadas, no período de 1975 a 2010. Fonte: Limites políticos (IBGE, 2016); Estações pluviométricas (ANA,2015). 3.2.1 Preenchimento de falhas nos dados Considerando que a seleção das estações foi realizada estabelecendo-se o limite máximo de falhas de até 10% dos dados diários, diversas estações selecionadas apresentaram ausência de dados. Essas falhas implicam em determinada inconsistência no cálculo do !(!( !( !(!( !( !( !(!( !( !( !(!(!(!(!(!( !(!( !(!(!( !(!(!(!( !(!( !(!(!(!(!( !(!(!(!( !( !(!( !( !(!(!( !(!(!( !(!( !(!(!( !(!(!( !( !( !( !( !(!(!(!( !( !( !( !(!( !(!(!( !(!(!( !(!(!( !(!( !( !( !( !(!( !( !( !( !( !( !(!( !(!(!(!(!( !( !( !(!(!( !( !( !( !(!(!(!(!( !( !(!( !(!(!(!(!( !( !(!(!(!(!(!( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !(!( !( !( !( !( !( !(!( !(!( !( !(!( !( !( !( !( !( !(!( !(!( !( !( !( !( !(!( !(!( !( !( !(!( !( !( !( !(!(!(!( !( !(!(!(!( !( !(!(!( !(!( !(!( !( !( !(!( !(!(!( !( !( !( !(!( !( !( !( !(!( !( !(!( !( !(!( !( !(!( !( !(!(!( !( !(!( !( !( !( !( !( !(!(!( !( !(!( !(!( !(!( !(!( !(!(!( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !(!( !(!( !(!(!(!(!(!(!( !( !( !(!(!( !( !(!(!( !( !(!(!(!( !(!( !(!(!( !(!( !(!(!( !(!( !( !( !(!(!( !(!( !(!(!(!( !( !(!(!(!( !( !(!( !(!(!( !( !(!( !( !(!( !(!(!( !( !(!(!(!(!(!( !(!(!(!(!( !(!( !(!( !( !( !(!( !(!( !( !( !( !(!(!( !(!(!( !( !(!(!( !(!(!(!( !(!(!(!( !( !(!(!(!( !( !( !( !( !(!(!(!(!(!( !(!(!(!(!( !(!(!( !(!(!( !(!(!( !(!( !(!(!(!( !(!(!( !(!(!(!( !(!( !( !( !(!(!(!(!(!(!( !(!(!(!(!( !( !(!( !( !(!(!(!( !(!(!(!( !(!( !( !(!(!(!(!( !(!(!( !( !( !( !( !( !( !(!(!( !( !(!( !(!(!( !( !(!( !(!( !(!(!(!(!( !(!(!(!(!( !(!( !( !(!(!( !( !( !(!(!(!( !( !(!(!(!(!(!(!( !(!(!( !(!( !(!(!(!(!( !( !(!( !( !( !(!(!( !( !(!( !( !( !( !(!( !( !(!( !( !( !(!( !(!( !( !(!(!( !( !( !(!( !(!( !(!(!(!(!( !(!(!(!( !(!( !( !(!(!(!(!(!( !(!(!(!(!(!( !(!( !(!( !( !(!( !( !( !(!(!( !(!( !(!( !(!( !( !( !( !( !(!(!(!(!( !(!( !(!(!( !( !( !( !(!(!( !(!(!(!( !( !( !(!(!( !(!(!( !(!( !(!(!(!(!( !(!(!( !( !(!(!(!( !(!(!(!(!( !(!(!(!( !(!(!(!(!( !( !(!( !(!(!( !( !(!(!(!(!( !(!( !(!(!(!(!( !(!(!(!(!(!( !( !(!( !( !(!( (a) 0 400200 km ± !(!(!( !(!( !( !( !(!( !( !( !(!(!(!(!(!( !(!( !(!(!( !(!(!(!( !( !( !(!(!(!(!( !(!(!(!( !( !(!( !( !(!(!( !(!(!( !(!( !(!(!( !(!(!( !( !( !( !( !(!(!(!( !( !( !( !(!( !(!(!( !(!(!( !(!(!( !(!( !( !( !( !(!(!(!( !( !( !( !(!( !(!(!(!(!( !( !( !(!(!( !( !( !( !(!(!(!(!( !( !(!( !(!(!(!(!( !( !(!(!(!(!(!( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !(!( !( !( !( !( !( !(!( !(!( !( !(!( !( !( !( !( !( !(!( !(!( !( !( !( !( !(!( !(!( !( !( !(!( !( !( !( !(!(!(!( !( !(!(!(!( !( !(!(!( !(!( !(!( !( !( !(!( !(!(!( !( !( !( !(!( !( !( !( !(!( !( !(!( !( !(!( !( !(!( !( !(!(!( !( !(!( !( !( !( !( !( !(!(!( !( !(!( !(!( !(!( !(!( !(!(!( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !(!( !(!( !(!(!(!(!(!(!( !( !( !(!(!( !( !(!(!( !( !(!(!(!( !(!( !(!(!( !(!(!(!(!( !(!( !( !( !(!(!( !(!( !(!(!(!( !( !(!(!(!( !( !(!( !( !(!( !( !(!( !( !(!( !(!(!( !( !(!(!(!(!(!( !(!(!(!(!( !(!( !(!( !( !( !(!( !(!( !( !( !(!(!(!( !(!(!( !( !(!(!( !(!(!(!( !(!(!(!( !( !(!(!(!( !( !( !( !( !(!(!(!(!(!( !(!(!(!(!( !(!(!( !(!(!( !(!(!( !(!( !(!(!(!( !(!(!( !(!(!(!( !(!( !( !( !(!(!(!(!(!(!( !(!(!(!(!( !( !(!( !( !(!(!(!( !(!(!(!( !(!( !( !(!(!(!(!( !(!(!( !( !( !( !( !( !( !(!(!( !( !(!( !(!(!( !( !(!( !(!( !(!(!(!(!( !(!(!(!(!( !(!( !( !(!(!( !( !( !(!(!( !(!( !(!(!(!(!(!(!( !(!(!( !(!( !(!(!(!(!( !( !(!( !( !( !(!(!( !( !(!( !( !(!( !(!( !( !(!( !( !( !(!( !(!( !( !(!(!( !( !( !(!( !(!( !(!(!(!(!( !(!(!(!( !(!( !( !(!(!(!(!(!( !(!(!(!(!(!( !(!( !(!( !( !(!( !( !( !(!(!( !(!( !(!( !(!( !( !( !( !( !(!(!(!(!( !(!( !(!(!( !( !( !( !(!(!( !(!(!(!( !( !( !(!(!( !(!(!( !(!( !(!(!(!(!( !(!(!( !( !(!(!(!( !(!(!(!(!( !(!(!(!( !(!(!(!(!( !( !(!( !(!(!( !( !(!(!(!(!( !(!( !(!(!(!(!( !(!(!(!( !(!( !( !(!( !( !(!( Falhas nos dados (%) 0 !( !( !( !( !( 3 6 9 12 15 Dados consistidos (%) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( (b) 50 índice, tendo em vista que são considerados dados pluviométricos cumulativos para um período contínuo (MCKEE et al., 1993). Sendo assim, o preenchimento de falhas foi realizado utilizando-se a média das três estações mais próximas com dados disponíveis. Essa metodologia de preenchimento de falhas é baseada no método da ponderação regional (BERTONI; TUCCI, 2001). 3.3 ÍNDICE DE PRECIPITAÇÃO PADRONIZADO (SPI) O Índice de Precipitação Padronizado (Standardised Precipitation Index – SPI) foi selecionado no presente estudo para identificar e caracterizar os eventos de seca meteorológica da região Sul. O índice foi desenvolvido com o objetivo de classificar os dados de precipitação como um valor padronizado de acordo com a probabilidade de ocorrência da chuva (MCKEE et al., 1993). O SPI é computado para diferentes escalas de tempo, que consistem em um determinado período de precipitação acumulada (BARKER et al., 2016). Sendo assim, uma escala de tempo de 3 meses (SPI-3) consiste no cálculo do índice para a precipitação cumulativa de 3 meses consecutivos através da soma móvel. A escala de tempo é aplicada objetivando-se comparar a precipitação ao longo de determinados períodos, relacionando os resultados com as diferentes características meteorológicas de longo e curto termo e os efeitos de propagação da seca. No presente estudo, as escalas de tempo selecionadas para o cálculo do SPI foram de 24 meses (SPI-24), 12 meses (SPI-12), 9 meses (SPI-9), 6 meses (SPI-6) e 3 meses (SPI-3). O cálculo do SPI consiste no ajuste dos valores da soma móvel, conforme a escala de tempo selecionada (período de precipitação acumulada) a uma distribuição de probabilidade (MCKEE et al., 1993), geralmente Gama. A distribuição Gama foi, portanto, selecionada para o cálculo do SPI no presente trabalho, considerando os diversos estudos que testaram a distribuição de probabilidade mais adequada para computar o índice (GUTTMAN, 1999; STAGGE et al., 2015). A distribuição Gama é computada através da aplicação da função de densidade de probabilidade (THOM, 1966): (1) onde: , é um parâmetro de forma; , é um parâmetro de escala; , é o valor da precipitação; e é a função Gama. 51 Os parâmetros estimados são então utilizados para encontrar a probabilidade cumulativa de um observado evento para cada mês, escala de tempo e estação específica (EDWARDS, 1997). A função de distribuição acumulada Gama é então computada, a qual consiste na integral da função de densidade de probabilidade Gama apresentada anteriormente. Assim, integrando a equação (1), tem-se: (2) onde os parâmetros da função cumulativa são computados de acordo com as equações: (3) (4) (5) onde é o numero de observações de precipitação e é a média da amostra de dados. Os valores resultantes da função de distribuição acumulada Gama são ajustados ao inverso da distribuição normal com media zero e variância igual a um (GUTTMAN, 1998). A aplicação do inverso da distribuição normal padronizada resulta nos valores de SPI, como representado na equação abaixo. (6) Onde é o inverso da função de probabilidade normal com média zero e variância um. A Figura 7, que exemplifica a transformação de equiprobabilidade da distribuição gama ajustada para a distribuição normal padronizada. Para a presente metodologia de análise, um evento de seca é definido como um período consecutivo que inicia quando o valor de SPI atinge -1 ou menos, sendo continuamente negativo, e finaliza quando o SPI retorna a um valor positivo (MCKEE et al., 1993). O valor definido 52 como -1 é denominado valor limiar, e determina o limite abaixo do qual o valor de precipitação é considerado um déficit negativo que caracteriza o início de um evento de seca. Considerando a grande quantidade de dados a serem computados, o cálculo do SPI foi realizado através de um programa desenvolvido no software Matlab (Apêndice A). 3.4.1 Características dos Eventos de Seca As características dos eventos de seca para análise foram obtidas através dos resultados do cálculo do SPI para cada estação pluviométrica selecionada. Sendo assim, foram avaliadas a intensidade, duração e frequência das secas meteorológicas nas escalas de tempo. A intensidade dos eventos, referente ao grau de anomalia negativa da precipitação em relação às condições normais (WILHITE, 2000), foi avaliada quanto à intensidade máxima e os valores de precipitação limiares que definiram os eventos de seca em cada estação. A duração dos eventos foi definida como período contínuo em que o SPI assume valores negativos, iniciando quando SPI atinge o valor de -1 e finaliza quando este retorna a um valor positivo. No presente estudo foram avaliadas as durações máximas de eventos de seca para cada estação. A frequência foi definida como o número de eventos de seca meteorológica ocorridos no período de análise (SIPIONI et al., 2013). 53 Figura 7 - Equiprobabilidade da distribuição gama ajustada para a distribuição normal padronizada. Fonte: Adaptado de Barker et al. (2016) e Edwards (1997). 54 3.4 ELABORAÇÃO DOS MAPAS DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL A representação da extensão espacial da seca e a avaliação da variabilidade das características dos eventos de seca na área de estudo foram realizadas através da elaboração de mapas de distribuição espacial. Sendo assim, as características dos eventos são abordadas em uma análise espacial para as diferentes escalas de tempo de aplicação do SPI pré-determinadas. Por conseguinte, a análise espacial possibilita investigar relações entre padrões de seca identificados e as influências do sistema climático da região Sul. A