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Biologia Celular Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Leandro Francisco do Carmo Revisão Textual: Profa. Esp. Claudio Pereira do Nascimento Diferenciação Celular, Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) • Diferenciação Celular • RNA Transportador • Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (proteínas) · Reconhecer como a célula lê o genoma e como se manifesta nas proteínas; · Conhecer algumas terminologia e símbolos da área. OBJETIVO DE APRENDIZADO Diferenciação Celular, Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar e verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Diferenciação Celular, Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) Diferenciação Celular O processo de diferenciação celular corresponde à expressão física, bioquími- ca e fisiológica da diversidade de informações contidas no genoma total de cada célula. Nos seres pluricelulares como os humanos, isso representa a manifestação nos diferentes órgãos e tecidos de diferentes partes desse genoma, cada qual adaptada às funções dos tecidos e órgãos em que as suas células se encontram. O estudo do desenvolvimento embrionário sempre fascinou os cientistas, justa- mente por tentar entender como o zigoto, uma única célula simples formada pela união de gametas, podia através de divisões seguidas e especializações se transformar em animais tão distintos, mesmo que durante um período, ainda pudessem se identificar com clareza algumas semelhanças em certas fases do crescimento embrionário. Como já sabemos e os testes de DNA nos programas de auditório de televisão ou em séries policiais não nos deixam esquecer, em nos- sas células, mais exatamente no núcleo das células eucariotas, estão armazenadas os cromossomos, unidades formadas pela dupla fita de nucleotídeos do DNA e pelas histonas que são proteínas que ajudam a estabilizar as longas cadeias de milhares de pares de bases nitrogenadas (os nucleotídeos). No estudo dos cro- mossomos das doenças e síndromes hereditárias, ainda nos anos 1960-1980, os cromossomos eram fotografados em amostras de células em meio de cultura cuja divisão era interrompida pela adição de colchicina, permitindo visualizar os cromossomos ‘condensados’, ou seja, enovelados para serem divididos entre as células filhas. As silhuetas dos cromossomos eram recortadas manualmente com uma tesoura, reunidas aos pares e alinhadas da maior para a menor, do primeiro ao último par de cromossomos. Em humanos, além da dupla – X e Y - responsá- vel pelas características sexuais dentre outras como o daltonismo, temos ainda os 22 pares numerados pelo tamanho. Esse conjunto de cromossomos, o genótipo em sua dinâmica com o meio externo, respondem por todas as características físicas e fisiológicas perceptíveis em cada indivíduo, o seu fenótipo. Na formação dos gametas, alguns erros de distribuição implicam em uma série de sintomas, ou seja, o indivíduo que nasceu de uma fecundação com um gameta faltando ou sobrando cromossomos. Assim, é possível identificar a trissomia do 21, a sín- drome de Down, que é causada pela presença de uma terceira unidade extra de cromossomos 21. Entre a informação codificada no genótipo e a sua manifesta- ção visível no fenótipo, através da diferenciação celular, há a mediação através de outra classe de ácidos nucléicos – o RNA. 8 9 Figura 1 – Cariótipo – síndrome de Down ou Trissomia do 21 Fonte: iStock/Getty Images O ácido ribonucleico apresenta uma pequena diferença na composição das bases nitrogenadas, em vez da timina o RNA apresenta a uracila, uma molécula em tudo semelhante a primeira, exceto por lhe faltar a substituição do hidrogênio por um grupo metila na posição 5 do anel. Além da uracila, a outra diferença é uma hidroxila (OH) ligada ao segundo dos cinco carbonos que formam anel da ribose, o açúcar de cinco átomos que interligados ao fosfato formam o esqueleto da cadeia que une os nucleotídeos em polímeros. Essa hidroxila na molécula da ribose está ausente na desoxirribose que constitui o DNA e enquanto a falta da hidroxila na desoxirribose vai contribuir para a estabilização da dupla hélice do DNA, a presença desta na ribose, por sua natureza mais reativa, permite que participe de uma série de ligações que tornam possível uma grande variedade de conformações para o polímero, o que vai conferir uma maior flexibilidade à fita de RNA e, com as suas dobraduras, explicar as suas propriedades únicas, como o papel de ribozima, isto é, a ação enzimática catalisando reações específicas, propriedade essencial ao metabolismo biológico que exceto onde há a atuação de alguns tipos de RNA sempre é desempenhada pelas proteínas conhecidas como enzimas. Figura 2 – O açucar que compões o DNA é a Pentose desoxirribose e o RNA é a Pentose Ribose A diferenciação celular começa pela expressão de diferentes instruções, ou seja, da leitura ou decodificação de genes diferentes nas frações do conjunto de genes em cada célula. Essas instruções, relativas a cada característica, dependem da ação dos catalisadores biológicos, isto é, das enzimas que vão responder pela síntese de cada molécula orgânica, bem como das estruturas das organelas celulares, dos tecidos, etc. 9 UNIDADE Diferenciação Celular, Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) Em procariontes, as instruções para cada enzima ocupam apenas um determi- nado segmento da fita de DNA, incluindo ainda as sequências de pares de base para iniciação, promotores de expressão e término da leitura. Muitas vezes é todo o conjunto de genes necessários a uma das atividades que se encontram codificados em sequência na fita de DNA, o que é chamado de OPERON. É ao trecho de DNA que contém a sequência de aminoácidos formadora da proteína que se entendia como o correspondente ao conceito de gene inicialmente estudado pela genética clássica. A informação do gene, transcrita para uma fita de RNA (m-RNA, mensa- geiro) pela enzima RNA polimerase ao sintetizar uma sequência complementar à fita molde da molécula de DNA: • Adenina para a Timina na fita de DNA (A-T); • Uracila na fitade RNA para a Adenina na fita (U-A); • Citosina para Guanina no DNA (C-G); e • Guanina na fita de RNA para a Citosina do DNA (G-C). O código genético corresponde às combinações de três bases nitrogenadas (trincas de nucleotídeos) que representam os vinte aminoácidos comuns às proteínas mais os sinais de início e parada na transcrição, cada trinca é denominada códon. No caso dos procariontes, a fita de m-RNA vai direto aos ribossomos, organela que vai efetuar a tradução, ou seja, traduzir o código na sequência de aminoácidos correspondente. A mensagem de RNA é decodificada nos ribossomos, isto é, traduzida em proteínas. Os aminoácidos são levados ao ribossomo pelas moléculas específicas de RNA, transportadoras (t-RNA) que entregam os aminoácidos indicados pelos códons do m-RNA. Enzimas reconhecem e acoplam cada aminoácido a sua molécula específica de t-RNA. Os aminoácidos são ligados covalentemente entre si, as ligações peptídicas pelas ação de ribozima do principal constituinte dos ribossomos, as fitas de RNA ribossômico (r-RNA). O RNA ocorre em três categorias principais: o mensageiro – m-RNA; o transportador – t-RNA; e o ribossômico – r-RNA. O ribossomo, formado principalmente por r-RNA, atua como uma ribozima que identifica na fita de m-RNA as trincas sinalizadoras que marcam o início da síntese proteica e os códons que marcam o final da tradução. A U U RNAt Aminoácido 1 Aminoá cido 2 RNAt A C G A C G C U G Figura 3 10 11 Os t-RNA, antes de saírem do núcleo, são modificados por meio de reações químicas que lhes conferem a estrutura tridimensional peculiar. Uma região eucariótica de controle gênico consiste em um promotor e em sequências regulatórias de DNA. As proteínas eucarióticas ativadoras de genes promovem a associação da RNA Polimerase e dos fatores gerais de transcrição no sítio de início da transcrição, enquanto os fatores de repressão gênica inibem a transcrição e são removidos dos trechos chave da fita de DNA por mecanismos de sinalização para atender a demanda das células. Figura 4 Fonte: Wikimedia Commons RNA Transportador Dependendo da demanda da célula, são as proteínas de regulação gênica que reconhecem pequenos setores do DNA de fita dupla de uma sequência definida e assim determinam quais dos milhares de genes em uma célula serão transcritos. Milhares de proteínas de regulação gênica têm sido identificadas em uma grande variedade de organismos. Embora cada uma dessas proteínas tenha características únicas, a maioria liga-se ao DNA como homodímeros ou heterodímeros e reconhece o DNA por meio de um pequeno número de motivos estruturais. 11 UNIDADE Diferenciação Celular, Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) Os motivos comuns incluem o “hélice-volta-hélice”, o homeodomínio, o “zíper de leucina”, a “hélice-alça-hélice” e os dedos de zinco de vários tipos. A sequência precisa de aminoácidos que está dobrada em um determinado “motivo”, determi- nando a sequência de DNA que uma proteína de regulação gênica reconhece. A heterodimerização aumenta a amplitude de sequências de DNA que podem ser reconhecidas. Técnicas eficazes estão agora disponíveis para a identificação e o isolamento dessas proteínas, dos genes que as codificam, das sequências de DNA que elas reconhecem e para o mapeamento de todos os genes que elas regulam em um genoma. A transcrição do DNA em eucariotos segue os mesmos princípios fundamentais de procariotos. Distingue-se por ter várias RNA polimerases e sequências de controle. A organização dos genes é diferente entre procariontes e eucariontes. O modo mais comum nos procariotos é a disposição em OPERON, onde uma série de genes é expresso atuando como uma única unidade de resposta e um único promotor que leva a um m-RNA comum para várias proteínas. Por exemplo, a lactose no meio que dispara a síntese de todas as proteínas necessárias para a metabolização desse açúcar. Em eucariotos cada gene é transcrito a partir de seu próprio promotor. Em geral os m-RNA precursores são processados antes de serem liberados para sair do núcleo pelos poros da membrana dupla que o separa do citoplasma, a carioteca. Dada a ausência da carioteca, nos procariontes a transcrição e a tradução podem acontecer simultaneamente, algo que não ocorre em eucariotos. Como parte do controle de qualidade da expressão de RNA corretamente sintetizado, bem como uma estratégia de defesa da célula contra os riscos de permitir que moléculas de RNA de origem viral sejam processadas em suas próprias instalações, as células eucariotas submetem o próprio m-RNA a uma série de tratamento para protegê-lo da ação de suas próprias enzimas responsáveis pela faxina de fitas já utilizadas ou de RNA invasor. Assim, o pré-mRNA sofre modificações como o “capeamento” cap 5’ que é a adição de 7-metilguanilato a extremidade 5’ do polinucleotídeo e a clivagem na extremidade 3’ com adição de uma cauda de adenina – a poliadenalização – com 100 a 250 A’s pelo complexo da poli A polimerase. Por fim, ocorre o splicing, em que as sequências não expressas (íntrons) presentes no segmento de DNA são removidas e acontece a união dos trechos de éxons, as sequências que efetivamente formam a fita de códons a serem traduzidos. Esse processo também gera diversidade genética, pois permite obter moléculas com diferentes graus de eficiência, de acordo com a sensibilidade e a localização. Um bom exemplo é o caso da alfa-tropomiosina. O gene completo não se encaixa mais na noção da genética clássica. O trecho de íntrons e exóns é o mesmo em todas as células, mas os segmentos de éxons a serem expressos é variável. A expressão de diferentes segmentos leva a distinções marcantes como as proteínas do músculo estriado, os mioblastos e os fibroblastos. 12 13 Figura 5 Fonte: Wikimedia Commons A diferenciação celular possui dois traços distintos: (1) aquele que usualmente associamos à célula totipotente no início do ciclo vital de um organismo, quando a célula formada pela união de dois gametas, o zigoto, inicia o seu crescimento e divisão, multiplicando as células que se diferenciam levando ao organismo multicelular; e (2) dentro do organismo, ao longo das divisões cíclicas de renovação das células, a diferenciação mais limitada, que assegura que as células dos tecidos-estruturas que por definição são constituídas por células com traços semelhantes, conservem uma certa memória do tipo de células que eram antes da divisão, ou seja, que as células filhas de uma divisão celular no fígado permaneçam como células hepáticas e não se diferenciem em células musculares ou neurônios. Algumas ligações nas moléculas do DNA vão assegurar que essa ‘memória’ de diferenciação permaneça ao longo das divisões mitóticas, como processos de adição de grupos metílicos em regiões definidas dos genes, silenciando-os. Alguns processos mais complexos nessa linha, conhecida como epigenética, aparentemente podem silenciar genes mesmo em processos hereditários, ou seja, na formação de gametas quando, via de regra, as células geradas de gametas passam por ‘ondas’ de remoção de qualquer grupo metílico nos seus DNA retomando a propriedade da totipotência, isto é, de poder se diferenciar em qualquer das das células possíveis em seu genoma. Figura 6 13 UNIDADE Diferenciação Celular, Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) A divisão celular usual nos organismos é feita pela mitose que gera duas células filhas idênticas a célula mãe. Isso difere da divisão pela meiose, que gera quatro cé- lulas filhas com cópias simples do material genético, apenas um único cromossomo de cada par existente na célula mãe e que podem ser diferentes dos originais por processos de troca de segmentos, gerando diversidade potencial para os gametas resultantes e confere a vantagem evolutiva da reprodução sexuada. Os gametas só são produzidos em órgãos especializados, as gônadas. O zigoto, que é a célula re-sultante da sua união, na fecundação, é a célula totipotente clássica capaz de reali- zar todas as especializações através da diferenciação. Se no ciclo celular eucariótico é dividido em quatro fases e similar em todos os eucariotos, a INTÉRFASE entre o final da “Fase M” ou mitótica, da divisão celular da mitose e a reorganização das estruturas celulares, quando as membranas do núcleo se formam, os cromossomos se desenovelam e a região do nucléolo se torna visível, demarcando o início da síntese de ribossomos cuja atividade é imprescindível para a produção das enzimas e proteínas que vão expressar as características próprias de cada tipo de célula, ou seja, a sua diferenciação. Dentro do período maior da interfase, esse momento é chamado de “fase G1”, enquanto os períodos em que há multiplicação dos cromos- somos “fase S” e preparação para a divisão, “fase G2”. As células são conhecidas como a ‘unidade fundamental’ da vida, pois apresen- tam todas as características que listamos para classificar um ser como ‘vivo’. Por certo, durante bilhões de anos apenas existiram seres vivos unicelulares. O surgi- mento de organismos pluricelulares conferiu uma vantagem evolutiva ao permitir a especialização das funções em órgãos, o que também deu suporte a seres cada vez maiores, com milhões de células e sistemas próprios, tudo através da diferenciação celular. Isso também levou a especialização de células responsáveis pela reprodução do indivíduo, garantindo a continuidade temporal da população, enquanto que as próprias células do corpo do indivíduo passaram a exibir três principais tipos de pa- drões dependendo do órgão e da espécie: uma renovação constante através da divi- são celular em que uma única célula gera duas células filhas idênticas à célula-mãe, um processo comum aos meristemas vegetais (a parte das plantas onde sempre há crescimento e surgimento de folhas por exemplo) e também as mucosas e epitélios como em seres humanos. O ritmo de divisão pode ser bem lento em células de lon- ga duração, mas que terminam por se dividir ou não ser observado em células que permanecem vivas pelo mesmo tempo de vida do indivíduo, como os neurônios; há ainda as células que devem se transformar em estruturas necessárias, mas sem vida, como as células que formam os vasos condutores de seiva das raízes até as folhas das plantas, as células que formam a casca da árvore, as células epiteliais que acumulam a proteína queratina em seu interior até que morrem e são empurradas para fora pela contínua divisão das células nas camadas mais profundas da pele, passam a constituir a camada mais externa que proporciona a impermeabilidade da epiderme dos animais. Há ainda células que precisam ser reabsorvidas, pois seus órgãos devem desaparecer como no desenvolvimento embrionário ou na meta- morfose dos girinos e, por fim, as células de nosso próprio corpo que sofreram um forte estresse ou foram danificadas e que precisam ser absorvidas. A todos esses processos em que a morte celular resulta de processo controlado e deflagrado pela própria célula em resposta a sinais externos ou internos, denominamos apoptose. Apoptose é a morte celular programada em que elimina células desnecessárias. 14 15 Figura 7 Fonte: Wikimedia Commons Nessa figura observamos diferentes fases do desenvolvimento embrionário com estruturas que são removidas por meio de apoptose e também remoção intracelular de moléculas pelo sistema da ubiquitina-proteossomos. As células podem ativar um programa de morte intracelular e se matarem de uma maneira controlada, o processo conhecido por morte celular programada. Dessa maneira, as células que não são mais úteis são eliminadas de uma forma rápida. A apoptose depende de enzimas proteolíticas chamadas de caspases que clivam espe- cificamente proteínas intracelulares para ajudar a matar a célula. Quadros similares têm sido relatados em plantas e fungos, estando bem caracterizados em células ani- mais em que as caspases existem em forma de precursores inativos denominados procaspases, elas são ativadas por uma sequência de reações em cadeia (processo também chamado de ‘cascata’) que vai aumentando o número de caspases ativas e amplificando a destruição proteolítica de modo irreversível. Proteínas de sinalização extracelular regulam a apoptose para assegurar que as células apenas se mantêm quando isso beneficiar o animal. As enzimas e os sinalizadores são bastante conser- vados entre os animais, a tiroide no sangue deflagra a apoptose da cauda dos giri- nos, já o citocromo c abundante nas mitocôndrias, quando liberado no citoplasma em estresse, danifica as organelas e se liga a precursores que amplificam o sinal e levam a apoptose por causa interna. Há linfócitos ‘matadores’ que enviam sinais para receptores de proteína que provocam a morte das células alvo por apoptose. Veja no artigo abaixo como as Células Veto induzem apoptose de células T efetoras mediante interação FasL: https://goo.gl/vu3ZRiEx pl or 15 UNIDADE Diferenciação Celular, Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (proteínas) Em todos os processos metabólicos, além daqueles como a morte celular programada ou a diferenciação das células com o síntese de novas proteínas que vão proporcionar a mudança da célula e o próprio processo de reciclagem da matéria prima das proteínas, com o desmantelamento de proteínas cuja estabilidade bioquímica ou necessidade metabólica cessou, exigem sempre a atuação de proteínas, principalmente aquelas dotadas de função enzimática, ou seja, capazes de acelerar as reações químicas até a velocidade necessária aos processos metabólicos de todos os seres vivos. Desse modo, não é de se espantar que os RNAs mais abundantes nas células sejam aqueles justamente ligados à fabricação das proteínas, ou seja, os r-RNAs que constituem a “porção” ativa dessas estruturas e chegam a 80% do teor de RNA em células de rápida divisão. Os ribossomos eucariontes são diferentes daqueles das bactérias onde todos os RNAs são sintetizados por uma mesma RNA-polimerase. As células eucariontes possuem enzimas RNA- polimerases especializadas. RNA pol. I – sintetiza a maioria dos r-RNA; a RNA pol. II – sintetiza os precursores do m-RNA; a RNA pol. III – sintetiza os precursores do r-RNA 5S (um dos tipos do RNA ribossômico), t-RNA e outros; cabe mencionar que a existência de RNA pol. mitocondriais e em cloroplastos que são similares às enzimas bacterianas. Como já mencionamos, as fitas de m-RNA recebem modificações para sair do núcleo como o capeamento da extremidade inicial e a adição da cauda de vários resíduos de adenina (poli-A) que são resultado da atividade da polimerase I para edição do m-RNA e da t-RNA. As células humanas contêm cerca de duzentas cópias de genes de r-RNA por genoma haploide distribuídos em 10 grupos de cinco cromossomos diferentes que asseguram a síntese dos r-RNAs para montagem dos ribossomos com quatro tipos de r-RNA eucariotos, cada um representado no ribossomo por uma cópia. Três fitas de r-RNA, nomeadas segundo o seu tamanho, 18 S, 5,8 S e 21 S, mas que são resultados de modificações químicas e clivagens de uma longa fita de RNA precursora com mais de 13 mil nucleotídeos, e a outra fita de r-RNA codificada por um grupo separado de genes e sintetizada sem modificações químicas por uma polimerase diferente, a RNA pol. III. Se devemos indicar as organelas e estruturas relacionados à síntese das macromoléculas, é necessário não só mencionar o próprio ribossomo, mas incluir também onde tal partícula fundamental é produzida. O nucléolo é a região do núcleo celular em que ocorre a fabricação dos ribossomos eucariontes. O nucléolo Figura 9 Fonte: Wikimedia Commons 16 17 caracteriza-se como um grande agregado de macromoléculas com os genes de r-RNA, precursores de r-RNA e os r-RNA maduros além das enzimas que processam as moléculas de RNA. As alçasdo DNA contendo os genes de r-RNA dos 10 pares de cromossomos se encontram desenoveladas para o acesso aos genes, quando a célula entra em divisão, condensando-se nos cromossomos enquanto o nucléolo desaparece. O tamanho do nucléolo também varia com o número de ribossomos que se está produzindo e que se relaciona à demanda de proteína da célula, podendo até chegar a 25% do volume do núcleo. A montagem completa dos ribossomos envolve a síntese de proteínas constituintes fora do núcleo e o seu retorno para se combinar com as fitas de r-RNA e formar as duas subunidades 40 S e 60 S que compõem os ribossomos. Ambas são compostas por aproximadamente dois terços de r-RNA e o restante é proteína cuja função é estabilizar o centro ativo funcional dos ribossomos que é composto dos r-RNAs. As duas subunidades saem do núcleo separadas e terminam de serem montadas já no citoplasma. Nos ribossomos a síntese proteica se inicia com uma sequência padrão nas fitas de m-RNA que saem do núcleo e uma trinca inicial – AUG - que representa o códon do aminoácido metionina, aliás, talvez pelo seu papel fundamental na inicialização da cópia, seja o único aminoácido que no código genético é representado por apenas uma trinca, enquanto outros aminoácidos possuem pelo menos dois ou até seis códons equivalentes. As duas subunidades do ribossomo, ao se unirem, deixam um espaço ‘basal’ pelo qual desliza a fita do m-RNA e em seu interior divide-se em três fendas, ou câmaras, denominadas ‘sítios’. O primeiro em que a fita de m-RNA entra no ribossomo é denominado “A”, é onde entra o t-RNA com a trinca complementar a trinca de nucleotídeos da fita, ou seja, o anticódon do códon do m-RNA. Esse t-RNA tem ligado a ele em outro trecho da sua fita o seu aminoácido específico. Em seguida a fita de m-RNA com o t-RNA e seu aminoácido preso a ele desloca-se para a segunda câmara, ou sítio P. Enquanto isso, à medida que a fita de m-RNA se moveu, inseriu outra trinca de nucleotídeos no sítio A, que por sua vez foi preenchido pelo anticódon do t-RNA correspondente, trazendo ligado o seu aminoácido próprio. Nesse momento, o aminoácido que estava preso ao t-RNA que se encontra no sítio P é transferido e ligado por meio de ribozima ao aminoácido que está no sítio A. A fita de m-RNA se desloca novamente e o t-RNA que estava no sítio P e ainda está ligado pela interação da sua trinca de nucleotídeos ao códon do m-RNA vai para a terceira e última câmara do ribossomo, o sítio E, ali, não mais ligado ao aminoácido, a molécula de t-RNA se dissocia facilmente da fita de m-RNA. Nos sítios P e A, a operação anterior se repete enquanto houver trincas novas na fita de m-RNA sendo inseridas no sítio A. O processo só termina quando as trincas que codificam a interrupção da leitura do m-RNA são inseridas e a tradução, ou seja, a síntese da cadeia primária dos polipeptídios é concluída. A fabricação da sequência primária de uma proteína pode levar de 20 segundos a poucos minutos, mesmo assim elas ocorrem com múltiplas inicializações e o m-RNA sendo lido por vários ribossomos simultaneamente. O códon de terminação da leitura interrompe a adição de aminoácidos nos três sítios do ribossomo. 17 UNIDADE Diferenciação Celular, Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) Sub-unidade pequena m-RNA Crescimento polipeptídeo Sub-unidade grande Figura 10 Fonte: iStock/Getty Images Alguns inibidores de síntese de proteína que servem de antibióticos interferem na entrada dos aminoácidos nos ribossomos. Por exemplo, em procariontes, a tetraciclina bloqueia a ligação dos aminoácidos trazidos pelos t-RNA ao sítio A do ribossomo, enquanto em eucariontes a cicloexamida bloqueia reação de translocação, ou seja, a passagem da fita de m-RNA através dos ribossomos. A síntese de proteína descrita pela passagem do m-RNA no ribossomo de bactérias e eucariontes está relacionada, apesar da diferença nos números e tamanho do r-RNA, contudo, a atividade das proteínas depende sobretudo da sua conformação espacial correta que é alcançada pelo enovelamento das cadeias polipeptídicas. Isso inclui a ação de uma classe de proteínas denominada chaperonas, Hsp70 e chaperoninas, Hsp60 (do francês – “dama de companhia”), que são responsáveis por guiar o dobramento das cadeias polipeptídicas enquanto são sintetizadas (Hsp70). A ação das Hsp70 ocorre sobretudo nas regiões hidrofóbicas, ao envolverem as regiões hidrofóbicas enquanto são sintetizadas, ou seja, à medida que os aminoácidos hidrofóbicos vão sendo ligados à cadeia que se alonga ainda presa ao ribossomo, desse modo, impedindo uma agregação hidrofóbica inespecífica e prejudicial; já a Hsp60 apresenta uma estrutura em barril que proporciona um ambiente hidrofóbico que favorece o enovelamento adequado de uma cadeia que tenha se dobrado de modo impróprio por conta da interação hidrofóbica. As chaperonas ao evitar a agregação de proteínas servem como controle de qualidade do processo. No entanto, as proteínas apresentam um tempo de vida útil na célula; a vida média pode durar alguns segundos ou até anos, mas sempre sujeitas ao ‘envelhecimento’ causado pelo estresse do ambiente, assim, não apenas proteínas inadequadamente dobradas ou desnaturadas, mas também proteínas contendo aminoácidos oxidados ou anormais são reconhecidas e degradadas, pois tendem a apresentar em sua superfície sequências de aminoácidos ou motivos conformacionais reconhecidos como sinais de degradação por um grupo de moléculas no sistema ubiquitina-proteossomo. Essas sequências ficam ocultas na 18 19 proteína normal. Essa degradação controlada permite também a reciclagem dos aminoácidos e o controle da população de determinadas proteínas. O sistema baseia-se na conjugação de ubiquitina que primeiro é preparada por uma enzima ativadora de ubiquitina (E1), depois a ubiquitina é transferida para um grupo de enzimas conjugadoras de ubiquitina (E2) que age em conjunto com proteínas acessórias (E3). No complexo formado por essas proteínas E2-E3, a fração E3 identifica os sinais de degradação nas proteínas (também chamados de “degrons”) enquanto a porção E2 inicia a formação de uma cadeia de poliubiquitina que serve de alvo para um receptor específico do complexo enzimas proteolíticas denominado proteossomos. O proteossomo tem um aspecto de um tubo com uma ‘tampa’ ou “quepe” de proteínas que reconhece a cauda de ubiquitina das proteínas destinadas a remoção, assim remove as ubiquitinas enquanto direciona a proteína para o interior do cilindro formado pelas proteólises que após o desmanche vai liberar aminoácidos pelo lado oposto do proteossomo. Figura Então, podemos resumir que da célula única totipotente resulta a união de gametas no processo reprodutivo do indivíduo maduro pluricelular, nos caminhos sempre celulares da diversidade biológica. Os diferentes tipos celulares de um organismo multicelular contêm o mesmo DNA, mas diferentes tipos celulares sintetizam diferentes conjuntos de proteínas, o que modula a especialização em cada uma. É um sistema de controle do ciclo celular que funciona como uma rede de interruptores bioquímicos. Esse controle da expressão gênica por sinais externos pode induzir uma célula a alterar a expressão de seus genes, em última análise retirando moléculas que bloqueiam a leitura pelas polimerases ou adicionamento de moléculas que estimulam a transcrição de hormônios, substâncias presentes no meio ambiente, ciclos de temperatura ou luminosidade etc. A expressão gênica pode ser regulada em muitas etapas no caminho que vai do DNA ao RNA até a proteína. A variabilidade genética é ampliada através das mutações e das recombinações que permitem a expressão de genes que podem mudar o fenótipo de seus portadores muitas vezes pelo simples aumento da expressão de um gene normal, como é o exemplo de uma raça de gado com maior expressão de miosina, a proteína das fibras musculares. 19 UNIDADE Diferenciação Celular,Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) A diferenciação celular, em resumo, depende da ação dos ribossomos, formados nos nucléolos, da mediação dos reguladores de transcrição e, por fim, a permanência ou remoção de estruturas celulares ou mesmo órgãos dependentes da dinâmica entre os sistemas de ubiquitina-proteossomos e a morte celular programada – a apoptose para manter a vida como a conhecemos. Veja a seguir o artigo a respeito do Super Buff: https://goo.gl/E1VFsH Ex pl or 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Diferenciação Celular e Células Tronco https://youtu.be/AKtNYoQSKlg Animação do Processo de Desenvolvimento Embrionário https://youtu.be/cDW2zZadJaA Morte Celular por Apoptose https://youtu.be/nUDZL5_pNqs Apoptotic Pathways https://youtu.be/SyvOPXeg4ig 21 UNIDADE Diferenciação Celular, Morte Celular, Organelas Envolvidas na Síntese de Macromoléculas (Proteínas) Referências ALBERTS, B. et al. Biologia Molecular da Célula. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. CHAMPE, P. C. Bioquímica ilustrada. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica básica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. STRYER, L. Bioquímica. 4ª ed. 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