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Economia Monetária Economia | 147 Objetivos Ao final desta unidade, você será capaz de: • Conhecer as características básicas da moeda e suas funções na economia; • Acompanhar a evolução histórica da moeda e os tipos que estão em uso; • Entender a atuação do Banco Central visando ao controle monetário; • Conhecer a estrutura do Sistema Financeiro Nacional; • Estudar a natureza da taxa Selic e seus impactos na economia real. Economia | 149 1. As Funções da Moeda Você viu que, no modelo simplificado do fluxo circular da economia, há um fluxo real (de bens e serviços e de fatores de produção) caminhando num sentido e, em sentido oposto, há o fluxo monetário das moedas que são acumuladas por todos os agentes, num ciclo que se repete indefinidamente. Define-se moeda como o estoque de ativos que pode ser prontamente usado nas transações de mercado. Esse estoque de ativos, para que exerça o seu papel de moeda, deve possuir algumas características especiais. Vamos a elas. Funções da moeda Em termos econômicos, moeda é tudo aquilo que, geralmente, é aceito para liquidar as transações, isso é, para pagar pelos bens e serviços e para quitar obrigações. De acordo com essa definição, qualquer coisa pode ser moeda, desde que aceita como forma de pagamento. Basicamente, a moeda tem três funções: • Meio de pagamento ou de troca_ Ser meio de troca garante que a moeda é o ativo utilizado para compra de todos os bens e serviços. • Unidade de conta ou unidade de referência_ A moeda fornece um padrão para expressar o valor monetário de todos os bens e serviços. • Reserva de valor_ A moeda deve possuir a característica de transferir o poder aquisitivo presente para o futuro. 150 | Economia Meio de pagamento33 ou de troca: a moeda é considerada o instrumento básico para que se possa operar no mercado, pois atua como meio de troca, devendo ser aceita na troca por qualquer produto que esteja à venda. Quando você vende seu produto, você recebe moeda pelo produto vendido e, por conseguinte, terá moeda para comprar aquilo que desejar. Ser meio de troca garante que a moeda é o ativo utilizado para a compra de todos os bens e serviços. Unidade de conta ou unidade de referência: a moeda desempenha a função de unidade de conta, também chamada de denominador comum de valor, isso é, ela fornece um padrão para que as demais mercadorias expressem seus valores e forneçam um referencial para que os valores dos demais produtos sejam cotados no mercado, ou para o registro das dívidas, que podem até ser diferidas no tempo. Quando as lojas anunciam os preços de sua mercadoria, o fazem expressando seus valores em reais. Reserva de valor: a moeda deve preservar o seu valor ao longo do tempo. Deve, também, reservar a característica de transferir o poder aquisitivo presente para o futuro. Ou seja, deve-se poder ter a opção de guardar determinada quantia em moeda hoje para gastá-la amanhã, na próxima semana ou no mês que vem. A moeda não é uma reserva de valor perfeita porque, em períodos inflacionários, os preços sobem e o valor real da moeda cai. Mesmo assim, as pessoas guardam moeda porque podem trocá-la por bens e serviços em algum momento futuro. Reserva de valor x Poder de compra Você sabe qual a diferença? Imagine uma nota de R$ 100. Ela vale R$ 100 hoje e também valerá R$ 100 daqui a um ano, por exemplo. Isso porque a moeda possui a função de reserva de valor. Porém, não podemos pensar na função de reserva de valor de uma moeda como sendo o poder de compra dessa moeda, que se mantém no tempo. São conceitos diferentes. 33 Meio de pagamento: isso será detalhado melhor no item 4 desta unidade, e você verá que por trás deste conceito está também presente a questão da liquidez, ou seja, a facilidade para ser prontamente convertida e aceita em uma transação comercial. Economia | 151 Este exemplo vai clarear os dois conceitos: João possui uma nota de R$ 100. Como o preço de um kg de alcatra custa R$ 20, ele pode comprar, hoje, (R$ 100/20) => 5kg de alcatra. Então, o poder desses R$ 100, hoje, é equivalente a 5kg de alcatra, mas, João não compra a carne e guarda a nota de R$ 100 na gaveta. Mas, qual será o poder de compra desses R$ 100 daqui a um ano? Vai depender do preço da alcatra naquela ocasião. Imagine que, daqui, a um ano, João pega a nota de R$ 100 na gaveta e decide gastar todo o dinheiro comprando alcatra. Ele te, em mãos, uma nota de R$ 100. Graças à função de reserva de valor, a nota de R$ vale R$ 100. Se o preço continuar a R$ 20/kg, o poder de compra estará preservado, e João poderá comprar os mesmos 5 kg de alcatra que deixou de comprar um ano antes. Nesse caso, o poder de compra de João não se alterará, e a nota continuará valendo R$ 100. 152 | Economia Se o preço da alcatra diminuir, por exemplo, passando para R$ 16/kg, João poderá comprar (R$ 100/16) => 6,25kg. Nesse caso, o poder de compra de João será aumentado, pois com a mesma quantia ele compra 1,25 kg a mais, mas a nota continua valendo R$ 100. Se o preço da alcatra tiver aumentado, por exemplo, passando para R$ 25/kg, João só poderá comprar (R$100/25) => 4 kg de carne. Nesse caso o poder de compra de João ficará reduzido, pois, com a mesma quantia, ele compra 1 kg a menos, mas a nota continuará valendo R$ 100. Você perceber a diferença? Reserva de valor É constante Poder de compra (em datas diferentes) Depende do comportamento dos preços34 34 A próxima unidade (Unidade 7) vai tratar exclusivamente das causas e efeitos do processo inflacionário. Economia | 153 Para que a moeda possa desempenhar essas funções básicas, ela deve, também, conter algumas características especiais, que são as seguintes: Indestrutibilidade e inalterabilidade: existem técnicas modernas para desenho e impressão de papel-moeda, ou cunhagem de moedas, que devem garantir à moeda maior resistência e vida útil e também proteção contra falsificações. No caso do papel-moeda, é sabido que a vida útil varia inversamente ao valor de face das cédulas: as notas de R$ 2,00 e de R$ 5,00 são as que se deterioram mais rapidamente, ao passo que as notas de R$ 100,00 duram mais porque têm a circulação mais reduzida35. Divisibilidade: a moeda de um país deve possuir múltiplos e submúltiplos, de forma a permitir a realização de todas as transações comerciais. Transferibilidade: a moeda deve circular livremente entre os agentes econômicos, facilitando as trocas comerciais e financeiras, garantida de que está pelo curso legal imposto pelo Estado brasileiro, que emite e garante o papel-moeda em circulação. Facilidade de manuseio e transporte: o papel-moeda deve ser impresso de forma a facilitar o seu manuseio e transporte. agentes econômicos agentes econômicos 35 Curiosidade: como descartar cédulas velhas de dinheiro? No passado, todas as cédulas envelhecidas pelo uso eram recolhidas e incineradas nos fornos da Casa da Moeda, gerando passivos ambientais. Modernamente, porém, as questões de sustentabilidade e proteção ao meio ambiente entraram na pauta econômica, e as cédulas passaram a ser descartadas de forma ambientalmente correta. Um desses meios se dá pela fabricação de tijolos. 154 | Economia 2. Os Tipos de Moedas Você já deve ter reparado que usamos dinheiro em papel ou em moedas metálicas para uma gama de transações comerciais, normalmente as que envolvem pouca quantidade de moeda. Mas também realizamos inúmeras transações sem o uso de moeda, como as transferências bancárias, os pagamentos de faturas pela internet ou nos caixas eletrônicos, as compras no e-commerce etc. Vejamos como podemos tipificar as moedas: Moedas metálicas: emitidas pela Casa da Moeda, por autorização do Banco Central, são as moedas de pequeno valor, que, geralmente, são utilizadas em pequenas compras e para facilitar o troco. Nesse caso, também se enquadram as antigas moedas de metais nobres. No Brasil, estão em uso as moedasde 1, 5, 10, 25 e 50 centavos de real e a de 1 real. Papel-moeda: também emitido pela Casa da Moeda, por autorização do Banco Central, são as cédulas a maior parte do dinheiro em poder do público. É a moeda fiduciária. Ela não tem valor intrínseco, ou seja, não é como um bem ou uma mercadoria que possuem valor próprio. Entretanto, tem seu valor determinado por lei, é um certificado de posse da quantia que representa. Moeda escritural ou bancária: é a soma dos depósitos à vista e dos depósitos em conta-corrente nos bancos comerciais. São movimentadas por cheques ou ordens de pagamento. É chamada de escritural porque diz respeito aos lançamentos a débito e a crédito, realizados nas contas-correntes dos bancos. 3. A Oferta Monetária e os Meios de Pagamento Você demanda moeda quando vai comprar ou quando vai vender um bem ou um serviço. Se há a demanda de oferta, há que se Economia | 155 ter, também, alguém que oferte moeda para os agentes econômicos. Se há um mercado monetário, onde há alguém que oferte moeda de um lado e alguém que demande moeda do outro, é natural que pensemos num mecanismo que leve esse mercado a um equilíbrio entre a oferta e demanda por moeda, que assume, assim, a característica de um bem comercializável como outro qualquer. O Banco Central do Brasil e o Conselho Monetário Nacional Chamados Autoridade monetária Única emissora da moeda nacional Real Principal responsabilidade Zelar pela quantidade de moeda nacional Zelar pela liquidez desta moeda Zelar pelo equilíbrio monetário O Banco Central é o órgão que controla a oferta monetária no país e os assuntos a ela relacionados. São funções do Banco Central: • Controlar a oferta de moeda (possui o monopólio de emissão); • Zelar pelo valor da moeda nacional frente ao mercado interno e externo; 156 | Economia • Regularizar e fiscalizar o sistema financeiro e os agentes que nele atuam. Você sabia que a quantidade de moeda disponível é chamada de oferta monetária? A oferta de moeda é a quantidade de moeda que atende as necessidades da sociedade. É o governo quem controla a oferta de moeda através de restrições legais que lhe dão o monopólio sobre a emissão de moeda. A oferta de moeda é um instrumento de política econômica. Os membros do Banco Central, que são nomeados pelo Presidente da República, decidem sobre a oferta de moeda. O principal meio de controle da oferta monetária pelo Banco Central se dá pelas operações de mercado aberto. Para aumentar a quantidade de dinheiro na economia, o Banco Central compra títulos do governo que estão nas mãos do público. Para reduzir a quantidade de moeda na economia, o Banco Central vende títulos públicos. Para melhor compreensão desse processo, queremos apresentar a você os conceitos de meios de pagamentos, de criação ou destruição de moeda. Meios de pagamento Os meios de pagamento (são quatro, chamados de M1, M2, M3 e M4) são representados pelo volume de moeda em circulação na economia, ou seja, pelo total de moeda disponível no setor privado não bancário, que pode ser utilizada imediatamente pelo público para as transações. Em outras palavras, o Banco Central chama de M1 aos meios de pagamento restritos, constituídos pela moeda que tem Economia | 157 liquidez total36 e que não gera rendimento por si só: estamos nos referindo ao montante de moeda em poder da coletividade (o dinheiro “vivo” que você tem aí no seu bolso ou na sua carteira), somados aos valores que a coletividade tem depositado em conta- corrente nos bancos. São, também, conhecidos como PMPP (Papel-Moeda em Poder do Público) + DV (Depósito à Vista). Existem mais três níveis de Meios de Pagamento, chamados de Meios de Pagamento Ampliados. Vamos a eles37: M2: é composto pela soma do M1 (restrito) com os depósitos de poupança, mais os depósitos especiais remunerados + títulos emitidos por instituições depositárias. M3: é composto pela soma de M2 com cotas de fundos de renda fixa, mais operações compromissadas registradas no Selic – Serviço de Liquidação e Custódia, do Banco Central. M4: constitui a chamada poupança financeira e compreende a soma de M3 com os títulos públicos de alta liquidez. 36 Liquidez da moeda é a capacidade que ela tem de ser um ativo prontamente disponível e aceito para transações. O dinheiro que você tem no bolso, por exemplo, pode ser imediatamente utilizado por você. Mas um imóvel não tem liquidez imediata, pois, normalmente, você vai levar semanas, ou até meses, para comprar ou vender um imóvel. 37 Composição dos meios de pagamento: nos livros de economia podem surgir discrepâncias na descrição dos componentes de cada meio de pagamento. A que aparece neste texto foi obtida em consulta ao site do Banco Central do Brasil <www.bcb.gov.br>. Acessado em 15/01/2014 às 09h30min. 158 | Economia Criação ou destruição de moeda Deve-se entender a criação ou destruição de moeda como o mesmo que a criação ou destruição de meios de pagamento de liquidez imediata (M1), constituído por todos os ativos de liquidez imediata, possuídos pelo setor não bancário da economia, logo, a criação ou destruição de moeda envolve uma transação entre o setor bancário e o setor não bancário da economia. Ocorrerá criação de moeda quando acontecer uma troca entre um ativo não monetário (de liquidez não imediata) do setor não bancário por um ativo monetário do setor bancário. Ocorrerá destruição de moeda se a troca for entre um ativo monetário do setor não bancário por um ativo não monetário do setor bancário. Você vai entender melhor sobre criação ou destruição de moeda através destes três exemplos: a) Indiferença: Imagine que você vá a um banco comercial e efetua um depósito à vista em moeda corrente ou cheque: neste caso, não há criação nem destruição de moeda, pois o depósito à vista (DV) que você está fazendo será compensado pelo decréscimo no papel-moeda em poder do público (PMPP). Como os meios de pagamento M1 equivalem à soma de PMPP + DV, então, quando se faz um depósito à vista não há nem criação nem destruição de moeda. Apenas se transfere de PP (em poder do público) para DV (depósito à vista). Também quando se faz um saque por meio de cheque, cartão ou meio eletrônico não se cria nem se destrói moeda. Apenas se transfere de DV para PP. b) Criação de moeda: Diz-se que há “criação de moeda” quando se aumenta a oferta de moeda disponível na sociedade, ou seja, quando se aumenta o M1. Economia | 159 • Exportadores trocam dólares por reais: os exportadores recebem dólares como pagamento pelas suas vendas ao exterior. Porém, como seus compromissos no Brasil devem ser pagos em reais, eles vão ao Banco Central e vendem dólares, recebendo reais como pagamento => aumenta o M1. • Empréstimos dos bancos comerciais ao setor privado: os bancos tiram dinheiro de suas reservas e emprestam ao público => aumenta o M1. • Desconto de duplicata: troca de um haver não monetário por moeda => aumenta o M1. c) Destruição de moeda: Inversamente ao que ocorre com a criação de moeda, dizemos que há “destruição de moeda” quando se diminui a oferta de moeda na sociedade, ou seja, quando se diminui o M1. • Importadores trocam dólares por reais: os importadores precisam de dólares para pagar compras realizadas no exterior. Eles vão ao Banco Central e compram dólares, entregando reais como pagamento => diminui o M1. • Resgate de um empréstimo bancário: o tomador do empréstimo vai ao banco e quita a dívida, entregando reais ao banco => diminui o M1. • Depósito em caderneta de poupança: o dinheiro estava como PMPP ou como DV, e o montante é transferido para a poupança, o que o BC considera como M2 => reduz o M1. 4. O Sistema Financeiro Nacional Um dos requisitos para se avaliar o grau de desenvolvimento e competitividade de um país é o tamanho e a diversificação de seu sistema financeiro. Você deve concordar que um sistema maduro, forte, bem diversificado ebem regulado é condição necessária para atrair poupança interna e externa e movimentar o lado monetário da economia. 160 | Economia O sistema financeiro pressupõe a existência de agentes superavitários (poupadores) e de agentes deficitários (investidores). Os poupadores aplicam suas economias em ativos financeiros, sujeitando- se ao risco, e esperam obter alguma rentabilidade, alguma remuneração por isso. Do outro lado da mesa estão os investidores, os empresários ou os empreendedores que possuem um fator de produção muito importante: a capacidade empresarial. Eles têm a disposição para empreender, mas necessitam de financiamento para suportar os seus projetos. O sistema financeiro de um país é como um elo que une as duas pontas do mercado: os agentes superavitários depositam recursos no sistema, e os agentes deficitários retiram esses recursos. O sistema financeiro nacional tem três entidades reguladoras e normativas, a saber: CMN BCB CVM Conselho Monetário Nacional: é o órgão máximo do sistema financeiro e o formulador da política de moeda e de crédito, visando ao progresso econômico e social do país; Banco Central do Brasil: regula, fiscaliza e controla a atuação dos agentes financeiros; Comissão de Valores Mobiliários: órgão fiscalizador da Bolsa de Valores e das operações de compra e venda de ações ali realizadas. Vamos, aqui, abrir um parêntesis para destacar o papel relevante do Banco Central dentro do sistema financeiro nacional. O Banco Central do Brasil é o órgão de execução das políticas traçadas pelo Conselho Monetário Nacional. Cabe ao Banco Central do Brasil: • A emissão de papel-moeda e moeda metálica; Economia | 161 • A execução dos serviços do meio circulante; • Os recebimentos e os recolhimentos compulsórios e os depósitos voluntários das instituições financeiras; • As operações de redesconto e empréstimos a instituições financeiras e bancárias; • Exercer o controle do crédito; • Efetuar o controle dos capitais estrangeiros; • Ser depositário das reservas oficiais de ouro e moeda estrangeira; • Ser depositário das receitas tributárias federais; • Exercer a fiscalização das instituições financeiras e aplicar as penalidades previstas; • Conceder autorização para o funcionamento das instituições financeiras. Por essas responsabilidades, você conseguiu perceber o quanto o BCB é importante? Devido a essas atribuições o Banco Central é considerado: • O “banco dos bancos”, pelo fato de receber depósitos compulsórios e voluntários das instituições financeiras e lhes fornecer empréstimos38; • O “banco emissor de papel-moeda”, pelo fato de deter o monopólio de emissão de papel-moeda e moeda metálica; • O “banqueiro do governo”, por financiar o Tesouro Nacional mediante a colocação de títulos públicos e ser seu depositário de recursos. 38 Por esta característica, o Banco Central também é chamado de “emprestador de última instância”, porque tem a capacidade de emprestar a quem atua no mercado, justamente emprestando dinheiro. 162 | Economia O sistema financeiro nacional é formado por instituições públicas e privadas, que atuam no mercado por meio de diversos instrumentos financeiros, seja na captação de recursos, na distribuição, seja na transferência de valores. As operações podem ser agrupadas em cinco grandes mercados: Mercado de Capitais (Mercado de Valores Mobiliários) Mercado Monetário Mercado de Crédito Mercado de Seguros, Capitalização e Previdência Mercado Cambial 1. Mercado Monetário: neste mercado são realizadas as operações de curtíssimo prazo (fundos de curto prazo, open market, hot money, CDI – Certificados de Depósito Bancário etc) para suprir as necessidades de caixa dos agentes econômicos, incluindo as instituições financeiras. 2. Mercado de Crédito: neste mercado são atendidas as necessidade de recursos de curto, médio e longo prazos, principalmente para oferta de crédito para aquisição de bens de consumo duráveis ou capital de giro para as empresas. Economia | 163 3. Mercado de Capitais (Mercado de Valores Mobiliários): atende as necessidades de recursos a médio e longo prazos, com vistas a investimentos de capital. Aqui são negociados títulos como os commercial papers, debêntures, ações etc. 4. Mercado Cambial: atende as necessidades de compra e venda de moeda estrangeira, e as operações são realizadas pelos bancos e casas de câmbio autorizadas pelo Banco Central. 5. Mercado de Seguros, Capitalização e Previdência: atende as necessidades de formação de poupanças para fins específicos, como riscos, capitalização e obtenção de complementação de aposentadorias. Para atender a esses cinco mercados e sob a tutela das três entidades reguladoras e normativas, o sistema financeiro nacional é dividido em dois subsistemas39: o subsistema de intermediação financeira, também chamado de subsistema operacional, e o subsistema normativo. No subsistema de intermediação financeira (ou operacional) estão a instituições financeiras bancárias e não bancárias, como o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), as instituições auxiliares e as instituições não financeiras. Essas instituições atuam na intermediação financeira, e a função delas é operacionalizar a transferência de recursos entre fornecedores de fundos (poupadores) e os tomadores de recursos (investidores). Contempla, ainda, o Sistema Financeiro da Habitação (SFH); as Caixas Econômicas (a Federal e as estaduais); os bancos de desenvolvimento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); e os bancos de investimentos. 39 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional: o detalhamento de toda a estrutura do sistema extrapola os objetivos de nosso curso, mas são informações detalhadas que estão no site do Banco Central <www.bcb.gov.br>. 164 | Economia No subsistema normativo estão os três órgãos máximos do sistema, em termos de regulação, fiscalização e controle, que são o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central (BACEN) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Além desses, ainda podemos contar com o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), composto pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Brasil Resseguros (IRB); e o Conselho de Gestão Previdenciária Complementar (CGPC), formado pela Secretaria de Previdência Complementar. 5. A Taxa Selic Você sabe que no Brasil a chamada taxa básica de juros é a Selic. Mas, o que é mesmo a taxa Selic? A taxa Selic é a taxa de financiamento no mercado interbancário para operações de um dia, ou overnight, que possuem lastro em títulos públicos federais; títulos esses que são listados e negociados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia, ou Selic. Em outras palavras, esta taxa é usada para operações de curtíssimo prazo entre os bancos, que, quando querem tomar recursos emprestados de outros bancos por um dia, oferecem títulos públicos como lastro, visando reduzir o risco e, consequentemente, a remuneração da transação. Assim, como o risco final da transação acaba sendo efetivamente o do governo, pois seus títulos servem de lastro para a operação e o prazo é o mais curto possível, ou de apenas um dia, esta taxa acaba servindo de referência para todas as demais taxas de juros da economia. Ela não é fixa e varia praticamente todos os dias, mas dentro de um intervalo muito pequeno, já que, na grande maioria das vezes, ela tende a se aproximar da meta da Selic, que é determinada, mensalmente, pelo Copom, por ser também o principal mecanismo de controle da inflação. Em junho de 1996, foi instituído o Comitê de Política Economia | 165 Monetária – Copom, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa de juros básica da economia, a taxa Selic. O Copom reúne-se a cada 45 dias para fixar a taxa de juros Selic e indicar a sua tendência, e o faz depois de uma análise completa do cenário econômicointerno e também da economia mundial. Você deve estar se perguntando: • Por que o Copom aumenta a taxa Selic? • Por que diminui? • Quais os efeitos do aumento ou da diminuição da taxa Selic para a sociedade? Vamos ajudá-lo com algumas informações, avaliando as consequências de um aumento ou de uma redução na taxa de juros Selic. O Copom reduz a taxa Selic: imagine que essa foi a decisão do Copom em sua última reunião. Os membros do comitê podem ter tomado essa decisão porque a inflação está sob controle, o que permite aumentar a atividade econômica do país. Mas, como isso funciona? I. Quando o Copom reduz a taxa Selic, ele está sinalizando que vai pagar juros mais baixos para os títulos federais. II. Ocorre que os bancos comerciais são compradores de altíssimos volumes de títulos do governo. Mas, se esses títulos vão render menos, os bancos podem ter mais interesse em emprestar esse dinheiro à sociedade, e faz isso reduzindo as taxas de financiamento. Logo, ocorre uma expansão do crédito. III. Com taxas mais baratas para os empréstimos, há dinheiro farto e barato no mercado, e os consumidores e demais agentes deficitários aproveitam para se endividar e adquirir os bens de que necessitam. Logo, há um aumento na demanda por bens e serviços na sociedade. 166 | Economia IV. Para atender o aumento da demanda, as empresas contratam mais pessoas e mais fatores de produção, realizando maiores investimentos. Assim, dizemos que a economia está “aquecida”, pois tudo começou com a redução da taxa básica de juros, que é uma medida de política monetária expansionista. Vejamos, agora, como se dá o processo inverso: elevação da taxa Selic – Contração da economia. Suponha que, agora, o Copom tenha aumentado a taxa Selic: imagine que essa foi a decisão do Copom em sua última reunião. Os membros do comitê podem ter tomado essa decisão porque a inflação está muito elevada, e surge a necessidade de diminuir a atividade econômica. Mas, como isso funciona? I. Quando o Copom aumenta a taxa Selic, ele está sinalizando que vai pagar juros mais elevados para os títulos federais. II. Como os bancos comerciais são compradores de altíssimos volumes de títulos do governo, e esses títulos vão render mais, os bancos podem ter interesse em direcionar mais recursos para a compra de títulos, em vez de emprestar esse dinheiro à sociedade. Como os bancos terão menos dinheiro para empréstimos ao mercado, o custo do dinheiro sobe, e os bancos aumentam as taxas de financiamento para a sociedade. Logo, ocorre uma contração do crédito. III. Com taxas mais elevadas para os empréstimos, não há mais dinheiro farto e barato no mercado. Pelo contrário, o dinheiro fica escasso e caro. Os consumidores e demais agentes deficitários reduzem a demanda por crédito e também a compra dos bens de que necessitam. Logo, há uma redução na demanda por bens e serviços na sociedade. Economia | 167 Para se ajustar à redução da demanda, as empresas demitem trabalhadores, reduzem a aquisição de fatores de produção e realizam menos investimentos. Assim, dizemos que a economia está contraída e, em casos extremos, pode até estar em recessão, pois tudo começou com o aumento da taxa básica de juros, que é uma medida de política monetária contracionista. Economia | 169 Síntese Nesta unidade, você estudou a economia monetária e viu que a moeda tem três funções básicas (meio de pagamento ou de troca; unidade de conta ou de referência; e reserva de valor), e identificou a diferença conceitual entre reserva de valor e poder de compra. Também viu que: • Há tipos de moedas diferentes, e é o Banco Central o responsável pelo controle da oferta de moeda, além de regularizar e fiscalizar o sistema financeiro e os agentes que nele atuam; • Há um meio de pagamento de liquidez imediata (M1) formado pelo PMPP + DV e mais três outros meios de pagamento ampliados, que compõem a base monetária do país, e todos são controlados pelo Banco Central. No mercado monetário é possível criar ou destruir moeda; • Há dois subsetores (normativo e operacional) que compõem o sistema financeiro nacional, que é regulado, fiscalizado e controlado pelo CMN, pelo BC e pela CVM; • Através da taxa básica de juros (Selic) o Copom aplica política monetária contracionista (elevando a taxa Selic) ou aplica política monetária expansionista (reduzindo a taxa Selic). 170 | Economia Economia | 171 Referências Bibliográficas MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Tradução da 5ª Edição norte-americana. São Paulo: Cengage Learning, 2009. PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS. Marco A. S. de (org.) Manual de Economia. Equipe de professores da USP. 5ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2004. GARCIA, Manuel E.; VASCONCELLOS, Marco A. S. de. Fundamentos de Economia. 3ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2008. NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de Economia. 5ª Edição. São Paulo: Cengage Learning, 2008. ROSSETI, José Paschoal. Introdução à Economia. 20ª Edição. São Paulo: Atlas, 2010. VASCONCELLOS, Marco A. S. de. Economia: micro e macro. 4ª Edição. São Paulo: Atlas, 2009.
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